sábado, 25 de novembro de 2017

O NOVO IMBECIL COLETIVO

Quando entre os anos 80 e 90 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo, os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes, razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como “um grupo de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-se umas às outras”.


Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam sobretudo através da internete que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.

Até os anos 70, os brasileiros recebiam no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse. Só vinham a corromper-se quando chegavam à universidade e, em vez de uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar, de sentir e de ser – na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes mentais.

O trabalho dos professores-doutrinadores era complementado pela grande mídia, que, então já amplamente dominada por ativistas e simpatizantes de esquerda, envolvia os intelectuais e artistas de sua preferência ideológica numa aura de prestígio sublime, ao mesmo tempo que jogava na lata de lixo do esquecimento os escritores e pensadores considerados inconvenientes, exceto quando podia explorá-los como exceções que por sua própria raridade e exotismo confirmavam a regra.

Criada e mantida pelas universidades, pelo movimento editorial e pela mídia impressa, a atmosfera de imbecilização ideológica era, por assim dizer, um produto de luxo, só acessível às classes média e alta, deixando intacta a massa popular.

A partir dos anos 80, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita.

Do ponto de vista do aprendizado, do rendimento escolar dos alunos, e sobretudo da alfabetização, os resultados foram catastróficos.

Não há espaço aqui para explicar a coisa toda, mas, em resumidas contas, é o seguinte. Todo idioma compõe-se de uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica – o alfabeto, a ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da morfologia e da sintaxe — e de uma parte aberta, movente e fluida: o universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das intenções de discurso. A primeira aprende-se eminentemente por memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo auto-enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least, pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar. É exatamente essa inversão que o socioconstrutivismo impõe aos alunos, pretendendo que participem ativamente – e até criativamente – do “universo da cultura” antes de ter os instrumentos de base necessários à articulação verbal de seus pensamentos, percepções e estados interiores.

O socioconstrutivismo mistura a alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades fonético-silábicas elementares sem as quais ninguém pode chegar a um domínio suficiente da linguagem. 

O produto dessa monstruosidade pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de articular experiência e linguagem. Na universidade aprendem a macaquear o jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o senso da “forma”, seja no que lêem, seja no que escrevem.

Aplicado em escala nacional, o socioconstrutivismo resultou numa espetacular democratização da inépcia, que hoje se distribui mais ou menos equitativamente entre todos os jovens brasileiros estudantes ou diplomados, sem distinções de credo ou de ideologia. O novo imbecil coletivo, ao contrário do antigo, não tem carteirinha de partido. Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 30 de outubro de 2012 Do site: http://www.olavodecarvalho.org

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

SALVE GANGA ZUMBA E ZUMBI!


O novo quilombo brasileiro é a educação

Monumento a Zumbi dos Palmares - Bahia


20 de novembro marca do dia em que Zumbi desparece no sangue da batalha contra Domingos Jorge Velho e seus mercenários, contratados pela Corôa Portuguesa para destruir o Quilombo dos Palmares. Zumbi morre para ganhar vida eterna na história. Zumbi é um termo derivado do quimbundo "nzumbi", que significa "duende", "homem morto", com "nzambi" quicongo, que significa "deus". Daí a lenda do homem que reina mesmo depois de morto.

O dia de Zumbi do Palmares, portanto, é o dia de comemorar a irmandade. Dia de celebrar as firmes e profundas raízes africanas na história do Brasil. Dia de meditarmos sobre os milhões de irmãos que aqui chegaram acorrentados, vendidos em praça pública e escravizados... por quatro séculos de regime imperial, cruel e racista.

Os números e datas de nossa história revelam que a vergonha da escravidão combatida por Zumbi, praticamente cessou "ontem"...

De fato, o Brasil chafurdou na ignorância e ignomínia por quase quatrocentos anos, e busca recuperar o tempo perdido, entre idas e vindas, a pouco mais de cem. Em quinhentos e dezessete anos de história, o brasileiro só pôde ler o primeiro jornal e editar o primeiro livro há duzentos e dez anos. O primeiro curso universitário brasileiro foi implementado efetivamente há cento e oitenta e seis e... o país livrou-se da escravidão há cento e trinta. 

O Brasil foi o último país do mundo ocidental a retirar o trabalho escravo do seu modo oficial de produção. Isso significa que há, no Brasil, quem ainda viva para contar uma história de um pai ou mãe que tenha sofrido com a escravidão...

Daí a importância da data, que não deslustra a comemoração da Lei Aurea, mas vai muito adiante dela. Resgata a dignidade que só é auferida na luta, na ação afirmativa.

O quilombo de Zumbi, o quilombo dos Palmares, resgata a busca pela liberdade. Revela que a exploração do homem pelo homem no Brasil não se deu sem resistência e luta pela dignidade.

Ganga Zumba e depois Zumbi, representam a formação de uma organização territorial de resistência em pleno estado colonial português. Sequer os arraiais brancos, ao longo da história, incluso os episódios de resistência bandeirante ou de guararapes, tiveram tamanha expressão econômica, territorial e mesmo militar.

Milhões de irmãos representam essa luta. Expressam a vitória sobre o preconceito e simbolizam superação com mérito pessoal, na construção de uma nação plural e justa.

Mas o quilombo é muito mais que um arraial.

O quilombo substituiu a estrutura familiar no organismo social da sociedade escravagista colonial.

Aos escravos, no Brasil, era negado desenvolver família. Casais eram separados, os filhos vendidos.
O senso de irmandade, de unidade, de proteção familiar e de acumulação de capital, portanto, só pôde firmar-se no quilombo.

O quilombo foi a unidade comunal construída no Brasil pelos que buscavam a liberdade. Por séculos, substituiu a família negada aos negros.

Somente após a Lei Aurea, o quilombo pôde ver-se aos poucos substituído pela unidade familiar, entre e com os afrodescendentes. Essa substituição, que conta com pouco mais de três gerações, só pôde ser obtida ao abrigo da cultura quilombola, transferida às comunidades organizadas nas favelas e mocambos, nos arredores dos centros urbanos brasileiros.

A família é a célula da sociedade e, também, fonte da acumulação do capital. A riqueza se firma com a unidade familiar.

A família, no entanto, foi negada aos negros no Brasil, por decisão do Estado.

Para se ter ideia do que isso representa, nos EUA, graças à formação puritana, as famílias afrodescendentes puderam se organizar ainda no regime escravocrata. 

Aliás, o regime de propriedade privada americana (que não existia no Brasil das sesmarias), permitiu aos negros livres organizarem sua primeira universidade já em 1830, sendo que hoje, nos EUA, há mais de cem campus universitários afroamericanos. Isso torna o histórico de lutas e de afirmação racial norte americano algo totalmente diferenciado.

Não há paralelo entre a escravidão nos EUA e no Brasil. Aqui, a crueldade e a perversão compunham a cultura.

Se os negros americanos já possuiam sua universidade em 1830. Os brancos brasileiros ainda vegetavam na ignorância e no analfabetismo - massacrando negros, que não podiam formar família.

A família foi, portanto, duramente conquistada pelo negro brasileiro.

Quando os imigrantes chegaram, a partir da Lei de 1850, até o regime de terras particulares foi instituído para abrigar suas famílias. Com a imigração, o regime da propriedade privada foi instituído no Brasil.

Aos negros...a família ainda era negada, pois neste mesmo ano se estabeleceu que o filho do negro nasceria livre (mas os pais, continuariam escravos).

A propriedade, "dada" aos imigrantes, por lei, foi negada no mesmo ano, por lei, aos negros.
Mais de trinta anos depois, milhões de escravos viram-se livres...sem família, sem casa, sem terras, sem sobrenome...

Aliás, nunca houve qualquer lei que organizasse uma distribuição de terras ou conferisse indenização de qq espécie aos milhões de escravos libertos e deixados ao abandono.

Pelo contrário. O governo brasileiro QUEIMOU todos os registros. Impedindo até mesmo que os afrodescendentes pudessem conhecer sua origem.

Em meio a tamanha desproporção de tratamento, é criminoso comparar a economia da imigração estrangeira com a deseconomia da escravidão brasileira.

Nesse massacre secular, os negros que se destacaram, superando todas as barreiras, merecem todas as honras de heróis.


Logo da Faculdade Zumbi dos Palmares - 87% de alunos afrodescendentes - 60% de professores-doutores negros

Guardo isso, com muito orgulho, no meu sangue. Meu avô materno, Antenor Alves Pinheiro, é símbolo dessa luta gloriosa. Antenor foi um privilegiado, pois ele e seu irmão Amador já eram fruto de uma família constituída, filhos do Antenor- pai, homem livre que viveu no Espírito Santo, terra dos Rezende, no século XIX.

Enquanto Amador resolveu seguir o comércio no Rio de Janeiro, Antenor partiu para tentar a vida, como padeiro, no interior de Goiás, na passagem do século. Ali, abriu seu próprio estabelecimento, comprou terra, ampliou os negócios e casou com uma moça branca, descendente de um Rezende que havia também partido para Goiás. Com Dona Julieta gerou nove filhos, todos criados com amor e sacrifício.

Antenor não recebeu seu espaço na sociedade de graça. Conquistou-o com luta. Enfrentou o preconceito covarde, que não se revela, mas é infligido em doses mortais e cotidianas. Ganhou o respeito no trabalho, na inteligência e não raro na bala. Enquanto desenvolvia seus negócios, defendia suas ideias e posições e não fugia ao enfrentamento político. Isso, no rude interior do sertão goiano, na primeira metade do século passado.

Com dignidade, Antenor fez seus filhos estudarem nos colégios de primeira linha. Ia visitá-los nos colégios maristas montado em sua motocicleta - detalhe que expressa toda a diferença, nos anos 30.
Antenor era cuidafos com a formação da prole. Embora duro e rigoroso, patrocinava um reforço nas férias, em matemática e...música. Fez todos os filhos diplomados, capazes de criar e formar netos igualmente fortes e cidadãos. Seus netos, hoje, já formam mais de 30 núcleos de familias Pinheiro... todos vitoriosos.

Antenor é um herói. Está presente em nossa vida e ligado ao nosso passado. Ao seu modo, a partir do seu pai, meu bisavô construiu com sucesso a estrutura familiar, permitindo a acumulação de capital.

Isso, no entanto, ainda é exceção. A economia afrodescendente ainda mantém uma base na estrutura quilombola, ainda permanece refém de uma estrutura fundiária dos tempos das sesmarias, concentrada nos mocambos e favelas e assediada pelo Estado.

A classe média brasileira, hoje, já é ocupada em sua maioria por afrodescendentes. É bastante miscigenada, mas ainda guarda no fundo do baú as fotografias e registros dos negros antepassados - um "passado negro" muitas vezes não registrado.

Daí a importância de relembrar Zumbi. O significado do quilombo.



José Vicente - Reitor da Zumbi dos Palmares - o novo Quilombo é a educação





No presente, quero deixar aqui minha homenagem a um irmão de lutas e companheiro de jornadas, Prof. Jose Vicente, o Magnífico Reitor das Faculdades Zumbi dos Palmares.

Como os vários outros heróis negros da história cotidiana, Vicente também enfrentou, e ainda enfrenta, a enorme muralha do preconceito racial, que só cede pelo temor atávico do Estado brasileiro à figura libertadora de Zumbi.

Jose Vicente resgatou, nos anos 90, o projeto dos negros americanos de 1830: fundou a primeira faculdade afrodescendente ao sul do equador, nos moldes americanos. Pôs de pé, no Brasil, sem ajuda (pelo contrário), um projeto diferenciado de educação que permitiu como nunca antes, ampla inserção do negro no mercado de trabalho e na academia.

O novo quilombo brasileiro é a educação.





Por: José Vicente e Pinheiro Pedro

Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View. Pinheiro Pedro é um dos fundadores da Afrobrás, presidida pelo Prof. José Vicente, e mantenedora das Faculdades Zumbi dos Palmeres. Do site: http://www.theeagleview.com.br/

terça-feira, 21 de novembro de 2017

TRÊS VEGAS POR DIA


Fala-se muito por estes dias, e com razão, do horrendo massacre perpetrado por um louco assassino em Las Vegas, nos Estados Unidos. Afinal, em cerca de dez minutos foram assassinadas tantas pessoas quanto as que o são em oito horas no Brasil. A cada dia temos aqui, em média, 170 assassinatos, cerca de três vezes o saldo macabro do massacre americano. Isto não é normal, e isto não é aceitável. É uma situação crítica, em que a cada dia lemos mais e mais notícias de mortes, a cada dia nós mesmos e nossos amigos, familiares e conhecidos defrontam-se com a violência real e cotidiana, perdendo bens ou mesmo a vida para assaltantes, e nada é feito pelas autoridades constituídas.

A população brasileira decidiu em plebiscito, 12 anos atrás, que não concordava com a absurda legislação que retirou do alcance do cidadão as armas de fogo com que poderia, talvez, defender-se. Afinal, ao colocar as armas fora da lei, os políticos brasileiros fizeram com que apenas os fora-da-lei tivessem acesso a elas. Isto só fez aumentar o regime de medo constante e de domínio do crime. Os mesmos políticos, todavia, recusaram-se a aceitar o resultado do plebiscito e vêm se fazendo de mortos desde então, mantendo a legislação absurda que continua garantindo que o Brasil seja o paraíso dos criminosos, em que um revólver enferrujado torna um bandido o rei do mundo, e onde as cadeias parecem ter portas rotatórias de banco, com pelo menos um preso saindo a cada outro que entra. Temos até mesmo a vergonha nacional de vermos estupradores que atacaram centenas de mulheres andando livres, e matricidas saindo da cadeia para comemorar o dia das mães. Assim, senhores, não dá.

Uma situação como a brasileira, em que a criminalidade mata cotidianamente mais que em uma guerra – as estatísticas de mortos por dia do Afeganistão e da Síria são menores que as nossas! –, deveria fazer do combate ao crime a prioridade absoluta daqueles que compõem o governo. O governo, não nos esqueçamos, é feito de pessoas; dois dos poderes (Executivo e Legislativo) são entregues a políticos eleitos, e um a funcionários concursados ou nomeados (Judiciário). Mas todos eles são pessoas, com interesses próprios frequentemente divergentes dos da população como um todo. O combate ao crime não parece interessar aos governantes, eles mesmos protegidos por seguranças armados e com raro contato com a população mais pobre, que é a que mais sofre a criminalidade. Afinal, suas prioridades são outras.

Por exemplo, acaba de ser aprovada uma cláusula de barreira para acesso ao por si já obsceno fundo eleitoral – uma distribuição de dinheiro público diretamente proporcional ao poder dos partidos, criada com o fim evidente de manter no poder quem nele já está e impedir que entre gente nova que não tenha o rabo preso com a corja atualmente dominante. Com a cláusula de barreira, os partidos menores (ou seja, quaisquer partidos que ainda não tenham conseguido, graças aos conchavos e à politicagem da pior espécie que dominam a política brasileira, eleger um número maior de deputados) ficarão de fora da boca livre.

Ora, já não faz sentido algum que, em um momento de crise institucional como este por que ora passamos, os partidos ganhem dinheiro público; faz ainda menos sentido que esse dinheiro seja distribuído de forma a que sirva apenas para manter no poder quem nele já está; finalmente, é obsceno adicionar a este sistema, já votado a impedir a renovação, uma gradual punição dos partidos menores. Se fosse moral dar dinheiro público a partidos, ele deveria ser dado aos que têm menos poder, não aos que têm mais. Parece evidente. Mas o que querem os ratos é simples: não querem largar o queijo. Querem manter-se no poder, e a população, e as vicissitudes por que esta passa, não lhes interessa em nada.

A situação, assim, é de crise institucional: quem está no governo está preocupado, do presidente ao menor dos vereadores, com a própria sobrevida política em primeiro, segundo e terceiro lugar, enquanto a população sofre com a chaga da criminalidade. As próprias Forças Armadas já estão perto de não mais conseguir agir contra a criminalidade quando solicitadas, por simples falta de verbas. Há quartéis que dispensam o soldado sexta de manhã e o recebem novamente na segunda de tarde, para poupar o dinheiro das refeições que lhes teriam de dar.

Os culpados desta crise são aqueles que nos governam desde o fim dos governos militares. Os militares devolveram aos civis (depois de o segurarem muito além do prazo previsto quando de sua intervenção, a pedido do povo, em 1964) um país em relativamente bom estado, com criminalidade baixa, mas com alguma inflação. Os governos civis, contudo, o transformaram no pesadelo em que vivemos agora. Ataram as mãos das polícias militares, retiraram a capacidade investigativa das polícias civis ao ponto de chegarmos hoje a descobrir o autor de apenas 6% dos homicídios – o que é pouquíssimo mais que os homicídios passionais em que o autor é encontrado chorando, arrependido, ao lado do cadáver –, retiraram a capacidade do cidadão de exercer seu direito à autodefesa, desenvolveram uma cultura e prática jurídica garantista em que furto e uso de drogas não dão mais cadeia, o que faz com que o ciclo vicioso de usar droga e furtar para comprá-la não possa mais ser interrompido pela ação policial…

Em suma, foram eles mesmos, os nossos governantes, os membros dos três poderes, que nos colocaram nesta situação. Mas para eles não faltam seguranças armados; a palhaçada que é a “Polícia do Senado”, por exemplo, na verdade nada mais que um pequeno corpo de pouco mais de uma centena de guardinhas de seguranças, dispõe de equipamentos que policiais de verdade apenas sonham em um dia ver, que dirá ter; de salários altíssimos – um novato ganha cerca do dobro do salário de um coronel da PM; e de uma verba mensal da casa dos milhões.

O desarmamentismo delirante que tanto contribuiu para nos colocar nesta situação é fruto de uma campanha internacional, cujo porta-estandarte primeiro é a esquerda americana. Tendo o Brasil uma legislação já muito mais restritiva que a dos EUA, mas ainda aceitável, no fim do período de governos militares, foi a repetição do discurso da esquerda gringa que moveu os legisladores tupiniquins a fazer tanta besteira. Servimos aqui de cobaia para as experiências sociais que eles desejariam fazer lá. Ora, nos EUA a esquerda já está usando o crime de Las Vegas para tentar retirar as armas das mãos dos cidadãos. Como a nossa esquerda segue fielmente a cartilha da esquerda gringa, é certo que repetirá aqui como papagaios as besteiras ditas pelos seus mestres do Hemisfério Norte. É crucial que resistamos. Afinal, ora bolas, já é proibido matar as pessoas, e já eram proibidas as armas usadas pelo assassino. O crime de Las Vegas é uma gota no oceano perto da criminalidade brasileira, e as condições legais e práticas dos dois países simplesmente não têm comparação.

Devemos lembrar sempre que proibições não afetam pessoas que já estão dispostas a violar a lei; se elas já são criminosas, um crime a mais não faz diferença. Quem sai de casa para roubar, estuprar ou matar não se incomoda de usar um instrumento proibido para fazê-lo; vemo-lo claramente a cada dia no Brasil. Já um pai de família, ou uma moça sozinha que volta à noite da faculdade por ruas escuras, não gosta de violar lei alguma e não sairia com uma arma na cintura se isso fizer dele e dela um criminoso ou, pior ainda, puder fazer com que seja conduzido a uma delegacia e talvez até mesmo preso, sem ter cometido crime real algum. É por isso que recomendo sempre a todos que procurem comprar pelo menos uma maquininha de choque ou spray de pimenta para não ser uma vítima totalmente desarmada. Às moças, então, este conselho é ainda mais importante, pois o que o criminoso pode estar buscando ao atacá-las é muito mais valioso que qualquer dinheiro ou joia que pode ser roubado de um homem.

É importante, importantíssimo, que aqui no Brasil não caiamos na armadilha da repetição inane do discurso da esquerda americana, que já nos colocou nesta triste situação. Nosso momento, e nosso movimento, deve ser na direção contrária, buscando fazer valer a voz do povo já manifestada no plebiscito de 2005. Urge que reconquistemos o reconhecimento legal do nosso direito natural de acesso e uso de armas para que possamos fazer a nossa parte na redução da criminalidade e na proteção de nossas famílias. Esta é uma campanha que tem de ser conduzida pelos cidadãos e crescer ao ponto de incomodar os políticos e fazer com que eles percebam que é provável que só aderindo a ela e, por uma vez que seja, servindo à população é que eles poderão manter-se confortavelmente refestelados em suas poltronas, à prova de todo perigo, no ar condicionado, servidos por um garçom e protegidos por seguranças armados. Afinal, da iniciativa dos políticos em prol do povo sabemos que não podemos depender. Por: Carlos Ramalhete  Publicado originalmente em Gazeta do Povo   Foto: Daniel Castellano/Arquivo Gazeta do Povo

sábado, 18 de novembro de 2017

ÓDIO CONCENTRADO


Costumo apontar neste espaço os perigos que corremos ao importar os aspectos mais daninhos da cultura e da política norte-americanas para o Brasil. Por esses dias eu vim a descobrir uma importação cuja maldade chega a me dar calafrios. Na matriz de nossos subdesenvolvidos pseudopensadores, chama-se doxing. Esta prática de ódio consiste em aproveitar a falta de intimidade que as redes sociais e a internet dão para assediar em bando o entorno social, de trabalho e familiar, de qualquer pessoa que manifeste opiniões diversas do pensamento único esquerdista. Sendo este apoiado pelos meios de comunicação em massa e pelo próprio governo, todos envolvidos num frenesi de apologia ao comportamento homossexual, teoria de gêneros, racismo e demais importações do norte selvagem, é comum que os efeitos sejam extremamente daninhos. Um patrão que é assediado por dezenas de mensagens afirmando maldades contra um funcionário seu pode pensar estar fazendo a coisa certa ao demiti-lo, ou ao menos chamar a sua atenção; a vida de parentes da vítima do doxing também pode ser bastante prejudicada por este tipo de comportamento.

Como sempre, a esquerda se quer proprietária exclusiva da acusação de “ódio”, que pespega a toda palavra com que não concordem, mostrando assim a verdade do dito olaviano de que eles acusam do que fazem. Ao mesmo tempo, todavia, é ela que protagoniza as piores cenas de ódio. O ódio concentrado de que os esquerdistas são capazes só encontra parelho histórico nas tropas de assalto de partidos totalitários do século passado. Inventa-se um absurdo qualquer, que passa imediatamente a ter foros de verdade absoluta (por exemplo, que um rapagão com um vestido magicamente se transforma em uma linda mocinha). Não se permite qualquer debate, criminalizando-se e condenando liminarmente qualquer manifestação contrária como sendo – vejam, senhores, que truque curioso – “crime de ódio”, pintando imaginariamente o amor à estabilidade social e de modos de suposto ódio a algo que nem fica muito bem explicado. Daí a invenção de termos pseudomédicos como “homofobia” (etimologicamente, “medo do igual”) para tratar do que na verdade é apenas pensar como sempre se pensou, sem que haja nisso absolutamente ódio algum. Pelo contrário: o alvo da maior parte dos ataques da extrema-esquerda é o amor demonstrado às instituições, à pátria, à família, a Deus… O ódio está todo concentrado do outro lado, do lado dos revolucionários, que odeiam visceralmente o que encontraram pronto ao nascer, e desejam substituir a sociedade por uma outra coisa que via de regra nem mesmo eles sabem direito o que é.

E é aí que entra o tal doxing. É uma maneira de levar ao nível pessoal a ação das hordas fascistas da extrema-esquerda (pois é como hordas fascistas que eles se comportam; deixo de lado o debate sobre se o fascismo era de esquerda ou de direita, contentando-me em afirmar que é do Demônio). Enquanto seus antepassados espirituais apenas pichavam “amigo de judeus” ou “amante de negros” nas portas daqueles com quem não concordavam, os ativistas pós-modernos pesquisam minuciosamente a vida de suas vítimas, de forma a atrapalhar ao máximo a sua vida, causar brigas familiares, levá-lo a ser demitido de seu trabalho e perder o ganha-pão. Ora, a família e o ganha-pão são sagrados. São necessidades universais, e ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado de tê-los. Mesmo os presos na cadeia não deixam de ter família e receber visitas e cartas (deixemos as tais “visitas íntimas” de lado; são um exemplo da sexomania atual), e mesmo eles deveriam poder trabalhar e ganhar o próprio pão com o suor do próprio rosto. Mas nada disso importa aos revolucionários. A vida humana não tem valor para eles, como não tem valor algum a vida social e familiar de quem comete o pecado sem perdão de não concordar plenamente com a última loucura desses grupos (aliás, alguém sabe com quantas letras anda a sigla LGBTFBICIAKGBPTPSOL?).

O tal doxing, como muita coisa na ação revolucionária hodierna, é uma prática motivada e mantida por um nível tão alto de ódio que confesso me ser impossível apreender. Não conseguiria dirigir tamanho nível de ódio a pessoas que não conheço e que nunca me fizeram nada; e não creio, mesmo, que conseguisse dirigi-lo a quem tenha realmente me prejudicado. Eu posso ter desejos sinceros de matar alguém, e mesmo justas razões para tal; não consigo me imaginar, contudo, querendo privar alguém de trabalho e família. Seria menos mau privar de vida. Atacar de tal maneira pessoas cuja opinião simplesmente difere da minha, mais ainda se é a minha a novidade (e tenho, sim, senhores, algumas opiniões bem novidadosas), aí é que não seria mesmo possível. Quem propõe a mudança é quem tem de justificá-la e convencer os demais que, se tiverem a cabeça no lugar, vão demorar bastante para mudar de opinião. Opiniões que o vento leva não valem os bits em que são escritas.

É importante, assim, que aprendamos todos a lidar com isso; quando a lista de imperativos morais categóricos da extrema-esquerda dominante muda a cada dia, como ocorre agora, é fácil, mesmo a quem tenta se manter a par, ficar um pouco atrasado e ver-se objeto de ódio assim intenso e de táticas de ataque à identidade e ao ganha-pão assim odiosas. Qualquer pessoa, por mais inocente e alheia a questões político-sociais, está sujeita a um belo dia ver-se acusada implacavelmente, de maneira praticamente anônima – pois dezenas de mensagens assinadas por desconhecidos perfazem uma denúncia na prática anônima – de serem monstros, malvados quase tão cheios de ódio quanto os agentes revolucionários que fazem isso com eles. Cuidado. Ajamos com hombridade e coragem, e não cedamos jamais à tentação de combater o mal com o mal.
Por: Carlos Ramalhete  Publicado originalmente em Gazeta do Povo 
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr 

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

(oficial) Episódio 3 | A Guilhotina da Igualdade - Série Brasil - A Últi...

FRANÇA: LEI ANTITERRORISMO ENTRA EM VIGOR

- A nova lei autoriza os prefeitos a baixarem portarias determinando o fechamento de mesquitas e outros lugares de culto por um período de até seis meses se os pregadores defenderem "ideias ou teorias" que "incitem violência, ódio ou discriminação, que estimulem a perpetração de atos terroristas ou que enalteçam tais atos."


- A polícia francesa e os serviços de inteligência estão monitorando cerca de 15 mil jihadistas que vivem em solo francês, segundo denuncia do Le Journal du Dimanche de 9 de outubro. Desses 15 mil, cerca de 4.000 estão no "topo da lista", os mais propensos a desfecharem um ataque.

- Dos 1.900 jihadistas franceses que lutam nas fileiras do Estado Islâmico, cerca de um quinto recebeu até US$580.000 em proventos de assistência social do estado francês, segundo denúncia do Le Figaro de 26 de outubro.
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O presidente francês Emmanuel Macron sancionou uma nova lei contra o terrorismo que confere amplos poderes a prefeitos, polícia e forças de segurança de fazerem buscas em domicílios privados, aplicarem prisão domiciliar e fecharem lugares de culto, sem que haja a necessidade de mandado judicial. A medida também autoriza a polícia a realizar checagens de identidade ao longo das fronteiras francesas.

A nova lei, aprovada pelo senado francês em 18 de outubro, torna permanente inúmeras medidas antes excepcionais, impostas pelo estado de emergência de dois anos introduzido após os ataques jihadistas em Paris em novembro de 2015. O estado de emergência estava previsto para terminar em 1º de novembro de 2017.

Na cerimônia de assinatura no Palácio do Eliseu, ocorrida em 30 de outubro, Macron ressaltou que a medida comedida atinge o equilíbrio certo entre segurança e respeito pelas liberdades civis. Defensores da linha dura rebatem que a nova lei não vai longe o suficiente, já os grupos de defesa dos direitos humanos se queixam que a medida deixará a França em permanente estado de emergência.

A nova lei, Lei para Fortalecer a Segurança Interna e o Combate ao Terrorismo (Loi renforçant la sécurité intérieure et la lutte contre le terrorisme) - é formada por sete itens centrais:

Zonas de Segurança. A nova lei confere aos prefeitos e a altos funcionários do governo em cada um dos departamentos ou regiões da França o poder de designar áreas públicas e eventos esportivos ou culturais, incluindo concertos musicais, que estejam correndo o risco de sofrerem ataques terroristas, como zonas de segurança. A lei autoriza a polícia a revistar qualquer pessoa ou veículo que tente entrar nessas áreas ou nesses eventos. Quem se recusar a ser revistado será barrado.

Fechamento de Lugares de Culto. A nova lei autoriza os prefeitos a baixarem portarias determinando o fechamento de mesquitas e outros lugares de culto por um período de até seis meses, se os pregadores defenderem "ideias ou teorias" que "incitem violência, ódio ou discriminação, que estimulem a perpetração de atos terroristas ou que enalteçam tais atos". As violações são puníveis com seis meses de prisão e multa de US$8.750. Os que se opõem à lei argumentam que "ideias" e "teorias" são subjetivas e, portanto, passíveis de abuso.

Prisão Domiciliar. A nova lei autoriza o Ministro do Interior a confinar islamistas suspeitos em sua cidade de domicílio, mesmo os que não estejam sendo acusados de terem cometido um determinado crime. Caso haja "sérios motivos para se acreditar que a sua conduta constitui uma ameaça grave à segurança pública e à ordem pública", poderá ser aplicada a prisão domiciliar, sem necessidade de autorização prévia de um juiz, por um período de três meses, renovável por períodos adicionais de três meses até o máximo de um ano. Os indivíduos sujeitos que forem confinados serão obrigados a se apresentarem à delegacia local todo santo dia. Outra possibilidade é o monitoramento eletrônico móvel. O Ministro do Interior também pode proibir que indivíduos tenham contato direto ou indireto com determinadas pessoas claramente identificadas, se constar que elas representam uma ameaça à segurança pública. O descumprimento poderá resultar em três anos de prisão e multa de US$52.500.

Busca e Apreensão. A nova lei autoriza o prefeito a solicitar a um juiz a emissão de mandado de busca e apreensão domiciliar a qualquer pessoa suspeita de ser uma ameaça à segurança pública. O suspeito pode ser detido por até quatro horas se ele ou ela representar "uma ameaça grave para a segurança e ordem pública" e se tiver "contato habitual com pessoas ou organizações com objetivos terroristas" ou que apoie e abrace ideias que incitem tais atos. A lei também autoriza a polícia a confiscar documentos, objetos ou dados eletrônicos encontrados no local.

Servidores Radicalizados. Um servidor público que trabalhe em áreas relacionadas à segurança ou defesa nacional poderá ser transferido ou mesmo demitido do serviço público se ele ou ela abraçar ideias "incompatíveis com o exercício de sua função". Soldados também podem ser destituídos de suas funções pelos mesmos motivos.

Monitoramento Eletrônico e Coleta de Dados. A nova lei autoriza o Ministro do Interior, o Ministro da Defesa e o Ministro dos Transportes a monitorarem comunicações telefônicas e de email de pessoas suspeitas "para prevenção, detecção, investigação e ação penal contra terroristas e crimes graves". A lei também autoriza que os serviços de segurança acessem informações sobre viagens, inclusive de agências de viagens de passageiros que fazem uso de transportes aéreos e marítimos. A coleta de dados "deverá excluir dados pessoais que possam revelar a origem racial ou étnica do monitorado, crenças religiosas ou filosóficas, opiniões políticas, associação sindical ou dados relacionados à saúde ou à vida sexual".

Controle de Fronteiras. A nova lei autoriza a polícia a realizar checagens de identidade sem mandados em mais de 118 áreas fronteiriças e em 373 aeroportos, portos marítimos e estações de trens, bem como em áreas circunvizinhas até um raio de 20 quilômetros. Isso abrange 28,6% do território francês e 67% da população francesa de acordo com o Le Monde. Analistas dizem que as regiões incluem inúmeros subúrbios principalmente de imigrantes e poderá levar a hostilidades contra minorias étnicas.

Macron insistiu que a nova lei permitirá que as autoridades combatam o terrorismo "sem abandonar nossos valores e princípios" e que consagrará "o pleno e permanente respeito pela ordem constitucional e pelas tradições da liberdade da França". Ele também prometeu revisar a lei em dois anos e fazer as mudanças consideradas necessárias.


Foto: policiais patrulham os Campos Elísios em Paris após um ataque terrorista em 21 de abril de 2017 no qual um policial foi morto e outro ficou ferido. (Foto Jeff J Mitchell/Getty Images)



Marine Le Pen, líder do partido anti-imigração Frente Nacional, criticou a lei por ela ser branda demais:

"A lei é uma farsa, é um subestado de emergência, não votaremos a favor deste texto desastroso. Será ainda menos eficaz do que o estado de emergência porque é menos aplicável. O texto não aborda a especificidade da dimensão islâmica do terrorismo nem a ideologia islâmica que declarou guerra contra nós".

Grupos de direitos civis, em contrapartida reclamam do que eles chamam de "normalização dos poderes de emergência". A Human Rights Watch ressalta:

"A lei se apropria de elementos de práticas de emergência, poderes invasivos de busca, restrições à liberdade individual chegando à prisão domiciliar e fechamento de lugares de culto usados de forma abusiva desde novembro de 2015, tornando-a uma prática criminal e administrativa corriqueira. Tal prática enfraquece o controle do judiciário e a capacidade de checar o abuso praticado pelos novos poderes antiterrorismo usados pelos prefeitos e delegados designados pelo Ministério do Interior em cada região".

A Anistia Internacional ecoou estas apreensões:

"Em vez de inaugurar um período de liberdades restauradas e liberdades civis, a legislação ameaça fazer o contrário, incorporando uma série de medidas repressivas à lei ordinária".

A nova lei teve pouca resistência da população. Uma pesquisa de opinião realizada em 26 de setembro encomendada pelo Le Fígaro constatou que 57% dos entrevistados responderam que eram a favor da nova lei, 62% disseram que a medida infringirá as liberdades civis, 85% disseram que melhorará a segurança.

Mais de 230 pessoas foram assassinadas em ataques jihadistas na França desde janeiro de 2015 quando radicais islâmicos atacaram a redação da revista satírica Charlie Hebdo no centro de Paris.

Os assassinatos mais recentes ocorreram em 1º de outubro, quando um imigrante ilegal de 29 anos da Tunísia esfaqueou duas mulheres até a morte na estação central de trens de Marselha. O homem, identificado como Ahmed A., usava sete identidades diferentes e tinha um longo histórico de pequenos delitos. Ele tinha sido preso poucos dias antes do ataque, foi acusado de furto em lojas, mas a acusação foi retirada por falta de provas. Ainda não está claro porque ele nunca foi deportado.

A polícia francesa e os serviços de inteligência estão monitorando cerca de 15 mil jihadistas que vivem em solo francês, segundo denuncia do Le Journal du Dimanche de 9 de outubro. Desses 15 mil, cerca de 4.000 estão no "topo da lista", os mais propensos a desfecharem um ataque.

Dos 1.900 jihadistas franceses que lutam nas fileiras do Estado Islâmico, cerca de um quinto recebeu até US$580.000 em proventos de assistência social do estado francês, segundo denúncia do Le Figaro de 26 de outubro.
Por: Soeren Kern, membro sênior do Instituto Gatestone sediado em Nova Iorque.Original em inglês: France: New Anti-Terrorism Law Takes Effect
Tradução: Joseph Skilnik  Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

CHE GUEVARA É VENERADO PORQUE TEM SANGUE VERDADEIRO PARA MOSTRAR


Che Guevara morreu há 50 anos e ainda há quem lhe conceda o benefício da dúvida. Na semana passada, recebi um convite para um "debate" sobre Guevara e o seu legado. Pensei que era piada. Ainda perguntei: "Vocês querem saber se ele matou muito ou pouco?".

Ninguém riu. A ideia era mesmo "debater". Eu estaria entre os "críticos" (muito obrigado) e, do outro lado da mesa, estariam os apologistas. Recusei.

Aliás, quando o assunto são psicopatas, eu recuso sempre —uma questão de respeito pela minha própria sanidade. Nunca me passaria pela cabeça debater seriamente o Holocausto com um negacionista. Por que motivo o comunismo seria diferente? Escutar alguém a defender a União Soviética é tão grotesco como estar na presença de um neonazi a defender Hitler e o Terceiro Reich.

De igual forma, também nunca me passaria pela cabeça convencer terceiros sobre a monstruosidade do nazismo —ou a do comunismo. Como se ainda houvesse dúvidas.

Não há -e, no caso de Guevara, o próprio deixou amplos testemunhos a comprovar a sua excelência. O culto do ódio; a excitação do cheiro a sangue; a necessidade de um revolucionário ser uma "máquina de matar" -o Che não enganava.

E os fuzilamentos, que ele executou ou mandou executar, são ostentados pelo nosso Ernesto como se fossem medalhas na farda de um general. A criminalidade de Che Guevara não é questão de opinião. Isso seria um insulto ao próprio.

Mas há um ponto que me interessa sobre o Che: a sua sobrevivência como símbolo. Atenção: não falo de adolescentes retardados que desconhecem o verdadeiro Che e ostentam na camiseta o retrato que Alberto Korda lhe tirou. A adolescência é uma fase inimputável que, nos piores casos, pode durar uma vida inteira.

Não. Falo dos intelectuais que, conhecendo Che Guevara e o seu "curriculum vitae", o canonizam sem hesitar. O que leva pessoas inteligentes a aplaudir um criminoso?

O sociólogo Paul Hollander dá uma ajuda no seu "From Benito Mussolini to Hugo Chávez - Intellectuals and a Century of Political Hero Worship". O título, apesar de longo, é importante.

Em primeiro lugar, porque Hollander não discrimina entre "direita" ou "esquerda". O totalitarismo só tem um sentido —a sepultura.

Em segundo lugar, porque não é a natureza dos regimes que interessa ao sociólogo; é a devoção dos intelectuais pelos "heróis" revolucionários do século.

No caso de Che, existem explicações históricas —e psicológicas.

As históricas lidam com a Revolução Cubana de 1959, ou seja, três anos depois de Nikita Khrushchev ter denunciado os crimes do camarada Stálin.

A desilusão foi profunda —e, para a "nova esquerda", a União Soviética deixava de ser o farol da humanidade. Era apenas mais um estado opressor (como os Estados Unidos, claro) que atraiçoara a beleza do ideal marxista.

A partir da década de 1960, os "peregrinos políticos" (expressão de outro livro famoso de Hollander) passaram a ver o Terceiro Mundo —Cuba, China, Vietnã, Nicarágua— como o paladino virginal da libertação do homem. Fidel Castro e o seu ajudante Che Guevara ocuparam os papéis principais como "bons selvagens".

Mas existe um motivo suplementar para Che palpitar no peito dos intelectuais, escreve Hollander: o fato de ele não ser um intelectual "defeituoso".

Uma história ajuda a compreender o adjetivo: em 1960, Sartre visitou Cuba e comoveu-se com as confissões de Fidel. "Nunca suportei a injustiça", disse o Comandante. Sartre concluiu que Fidel entendeu como ninguém "a inanidade das palavras".

Tradução: não basta falar contra o imperialismo/capitalismo/colonialismo; é preciso agir. Che Guevara, que Sartre batizou como "o mais completo ser humano do nosso tempo", simboliza essa totalidade. Alguém que não se fica pelas palavras —e passa aos atos. Che Guevara é venerado porque tem sangue verdadeiro para mostrar.

É um erro afirmar que os "intelectuais revolucionários" que admiram Che Guevara continuam a prestar-lhe homenagem apesar da violência e do crime. Pelo contrário: a violência e o crime estão no centro dessa homenagem.
Che sobrevive porque foi capaz de ser o "anjo exterminador" que todos eles sonharam e não conseguiram. 
Por: João Pereira Coutinho Escritor português, é doutor em ciência política. Do site: http://www1.folha.uol.com.br   Angelo Abu/Folhapress 

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

COMO É BOM VIVER NA SUÍÇA!

A CPI do Senado brasileiro concluiu: a Previdência não tem déficit, e sim superávit. Concluiu também que nós somos mais ricos que os suecos, que nunca houve corrupção no país e que, com a vitória na Copa de 2014, o Brasil é o único hexacampeão mundial.

É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isso não é novidade. Eu já tinha alertado aqui sobre o uso disso pelos políticos antes das eleições de 2014. No ano que vem, com o justificadíssimo desejo de renovação política que toma conta do país, as propostas de soluções simplistas de falsos salvadores da pátria vão bater recordes.

Pensando bem, não será fácil bater o recorde desta CPI. Temos os senadores mais geniais do mundo! Pode haver forma melhor de resolver um problema do que decretar que ele não existe?!

A CPI concluiu que não só não há déficit, como o teto dos benefícios do INSS pode ser elevado em quase 70%, dos atuais R$ 5.531 para R$ 9.370. O número de aposentados cresce mais de 3% a.a. devido ao envelhecimento da população? Irrelevante. O Brasil já gasta mais com aposentados do que a Alemanha e o Japão, que têm proporcionalmente o triplo de idosos do que nós? Quem se importa?

A contabilidade criativa da CPI faz as pedaladas fiscais da Dilma parecerem fichinha. Segundo ela, os números que importam não são os da Previdência, mas os da Seguridade Social, que engloba Previdência, Saúde e Assistência Social. Quer dizer que somando os três temos superávit? Não. No ano passado, só no âmbito federal tivemos um déficit de R$ 257 bilhões, sem nem contar um déficit adicional de cerca de R$ 100 bilhões em estados e municípios.
É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isso não é novidade. 

Qual a mágica da CPI, então? Comece desconsiderando o déficit de R$ 77 bilhões da Previdência dos servidores da União, embora seja coberto pelos mesmos impostos que cobrem o rombo do INSS. Em seguida, desconsidere as desvinculações de receitas da Seguridade – que, entre outras coisas, tiram recursos da Saúde para bancar o déficit da Previdência. Por fim, faça de conta que os benefícios podem ser pagos com recursos que nunca foram arrecadados, como as receitas das desonerações sociais e a sonegação de mais de R$ 400 bilhões que o INSS tem a receber, mas que nunca receberá integralmente porque a maior parte é de empresas que nem existem mais, como Varig, Transbrasil e Vasp, para citar só o setor aéreo.

Fazendo tudo isso, a Seguridade Social é superavitária? Ainda não. Segundo a própria CPI, mesmo com esta contabilidade de araque, a Seguridade Social teve um déficit de R$ 57 bilhões no ano passado.É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isto não é novidade. 

Aí, a CPI dá o golpe final. Apesar do resultado desta contabilidade maluca piorar todo ano desde 2013 - ainda antes da recessão começar - os números vão melhorar significativamente a partir deste ano, eliminando o déficit. A mágica? Crescimento econômico acelerado que vai inflar as receitas acima do crescimento das despesas.

Em resumo, a CPI, presidida por Paulo Paim (PT) e relatada por Hélio José (PROS), está convencida de que, por conta das reformas de Temer e seu governo, o Brasil vai começar a crescer mais rapidamente do que a China.

É muito bom viver aqui na Suíça! Melhor que isto, só ser senador no Brasil.

Por: Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner e ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças. Do site: https://www.linkedin.com

sábado, 28 de outubro de 2017

O MULTICULTURALISMO ESTÁ DIVIDINDO O OCIDENTE

- O multiculturalismo está gerando a "partilha", a ruptura das sociedades europeias. – Alexandre Mendel, autor do novo livro Partilha: Crônica da Secessão Islamista na França.


- À luz do multiculturalismo europeu, as mulheres muçulmanas perderam inúmeros direitos que deveriam ter na Europa. O multiculturalismo está, a bem da verdade, calcado na legalização de uma sociedade paralela, fundamentada na sharia, que se baseia na rejeição dos valores ocidentais, acima de tudo no tocante à igualdade e à liberdade.

- O establishment europeu fechou os olhos enquanto os supremacistas muçulmanos violavam os direitos de seu próprio povo.
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As estatísticas oficiais da União Europeia sobre o terrorismo são impressionantes:

"Em 2016 foram registrados um total de 142 ataques terroristas, entre fracassados, frustrados e finalizados em oito Estados Membros da UE. Mais da metade (76) deles foram registrados pelo Reino Unido. A França registrou 23, Itália 17, Espanha 10, Grécia 6, Alemanha 5, Bélgica 4 e Holanda 1. Nos ataques morreram 142 pessoas e 379 ficaram feridas na UE. No mesmo ano 1.002 pessoas foram presas por crimes relacionados ao terrorismo".

Todos esses países procuraram integrar as comunidades muçulmanas e todos se viram num beco sem saída. "Enquanto este estado de coisas continuar, o fracasso da integração representará uma ameaça letal para a Europa", salientou o Wall Street Journal na esteira de um atentado suicida que matou 22 pessoas em Manchester. Segundo o novo livro Partition: Chronique de la sécession islamiste en France ("Partilha: Crônica da Secessão Islamista na França") de autoria do repórter francês Alexandre Mendel, o multiculturalismo está gerando rupturas nas sociedades europeias.

Essa conjuntura também está criando infindáveis ondas de ataques terroristas. Em agosto passado, em um único dia, os islamistas assassinaram 20 europeus em Barcelona e na Finlândia. Um mês depois eles massacraram duas meninas em Marselha e em Birmingham um menino xiita foi espancado com requintes de crueldade. Esses são os frutos fatais do multiculturalismo da Europa. É a ideologia europeia mais romântica e sedutora desde o comunismo.

Há uma "cadeia cada vez mais constante de 'comunidades suspensas' aninhadas dentro das nações ocidentais", salientou recentemente o historiador americano Andrew Michta .

"O surgimento desses enclaves, reforçado pelas políticas da elite do multiculturalismo, políticas de identidade de grupos e a desconstrução da tradição ocidental, contribuíram para a ruptura das nações da Europa Ocidental".

Apenas vinte minutos separam Marais, o elegante bairro de Paris, onde estava localizada a redação da revista Charlie Hebdo e Gennevilliers, um subúrbio que abriga 10 mil muçulmanos, onde os irmãos Kouachi, que assassinaram a tiros os cartunistas da Charlie Hebdo, nasceram e foram criados. Em Birmingham há um subúrbio chamado Sparkbrook, de onde sai um décimo dos jihadistas da Inglaterra. Todas as cidades de maior importância da Europa abrigam enclaves onde proliferam o apartheid islâmico.

Lá burcas e barbas têm um significado. A maneira de se vestir sempre simbolizou lealdade a um estilo de vida, uma civilização. Quando Mustafa Kemal Atatürk aboliu o califado na Turquia, ele proibiu que os homens deixassem crescer as barbas e que as mulheres usassem véus. A proliferação de símbolos islâmicos nos guetos da Europa demarcam a separação desses subúrbios. O novo líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Henry Bolton, disse recentemente que a Grã-Bretanha encontra-se "enterrada" pelo Islã e "inundada" pelo multiculturalismo.



(Imagem: Yann Caradec, Coco0612/Wikimedia Commons)


De acordo com o ex-arcebispo de Canterbury, Lord Carey of Clifton o "multiculturalismo", "desencadeou assassinatos em nome da honra, circuncisão genital feminina e o estabelecimento da Lei Islâmica (Sharia) em bolsões das cidades em todo o Reino Unido". À luz do multiculturalismo europeu, as mulheres muçulmanas perderam inúmeros direitos que deveriam ter na Europa. Elas se defrontam com "crimes em nome da honra" por se recusarem a usar o véu islâmico, por se vestirem com roupas ocidentais, por se encontrarem com amigos cristãos, por se converterem para uma outra religião, por pedirem o divórcio, por se recusarem a serem espancadas e por serem demasiadamente "independentes".

É uma das grandes ironias do multiculturalismo: cinco membros europeus da OTAN estão lutando no Afeganistão contra os talibãs que escravizam as mulheres, ao mesmo tempo em que elas são escravizadas em nossos próprios guetos na Europa.

Sob o regime do multiculturalismo, a poligamia avançou juntamente com a mutilação genital feminina (500 mil casos em toda a Europa). O multiculturalismo está, a bem da verdade, calcado na legalização de uma sociedade paralela, fundamentada na sharia, que se baseia na rejeição dos valores ocidentais, acima de tudo no tocante à igualdade e à liberdade.

Além disso, o medo de "ofender" as minorias islâmicas acabou criando uma espécie de cegueira autoimposta. Foi o que aconteceu em Rotherham, uma cidade de 117 mil habitantes situada no norte da Inglaterra, onde o estupro em massa e o aliciamento de pelo menos 1.400 crianças por "gangues de estupradores de origem paquistanesa" correu solto por anos a fio.

Sob o multiculturalismo, o antissemitismo também disparou, principalmente na França. O semanário francês L'Express acaba de dedicar uma edição especial exclusiva ao "novo mal-estar dos judeus franceses".

Todos os recentes terremotos políticos ocorridos na Europa representam as consequências do fracasso do multiculturalismo. Conforme salienta o historiador britânico Niall Ferguson: a principal razão da vitória do Brexit foi a imigração.

"Muitos no Reino Unido olhavam para a crise dos refugiados na Europa e pensavam: se eles adquirirem um passaporte alemão, virão para a Grã-Bretanha e não teremos condições de fazer nada para detê-los. Esta foi a motivação central dos votantes e, legitimamente, porque os alemães abriram as portas a um enorme influxo do mundo muçulmano. Visto a partir do Reino Unido, a reação foi: pera aí, e se eles vierem para cá?"

Na Holanda, a ascensão de Geert Wilders é a consequência direta do assassinato do cineasta Theo van Gogh por um islamista holandês e a reação ao multiculturalismo que se seguiu. Na França, a ascensão política de Marine Le Pen coincidiu com dois anos de ataques terroristas de grandes proporções nos quais 230 cidadãos franceses foram assassinados.

Além disso, o extraordinário sucesso do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) nas recentes eleições gerais é consequência da decisão fatal da chanceler Angela Merkel de abrir as portas para mais de um milhão de refugiados e migrantes. Beatrix von Storch, uma das líderes do AfD, ressaltou à BBC que "não há lugar para o Islã na Alemanha". Ela explicou que uma coisa é permitir que os muçulmanos pratiquem a fé islâmica em recintos fechados, outra é acomodar o Islã político, que almeja mudar a democracia e a sociedade alemã.

O establishment europeu fechou os olhos enquanto os supremacistas muçulmanos violavam os direitos de seu próprio povo. Muitos islamistas então bateram às portas da Europa cada vez com mais determinação. O multiculturalismo mata e desestabiliza a Europa somente como o nazismo e o comunismo foram capazes fazê-lo.
Por: Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
Tradução: Joseph Skilnik  Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

terça-feira, 24 de outubro de 2017

PADRE PAULO RICARDO DENUNCIA A IDEOLOGIA DE GÊNERO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

IMPORTAÇÃO DE BESTEIRA


O grande escritor britânico G. K. Chesterton, comentando o que passa por moralidade nos Estados Unidos, afirmou, com razão, que o que lá faz suas vezes na verdade não é um padrão de certo e errado, mas sua substituição por alguns gostos e desgostos paroquiais. E é verdade. Isto se deve, antes de mais nada, à acomodação de um padrão de (pseudo)moralidade kantiana em uma matriz de pensamento dualista de base calvinista com que se formou aquele estranho território tão pobre espiritualmente quanto cheio de riqueza material. Do calvinismo veio a certeza de que as pessoas são monstruosas ou santas, salvas ou perdidas, vencedoras ou perdedoras, sem meios-termos e sem possibilidade de conversão ou perversão de um ou de outro. Da moral kantiana, a substituição de um sistema moral verdadeiro por um par de listinhas de coisas proibidas e de coisas obrigatórias. Evidentemente, é pela adesão comportamental às listinhas de imperativos morais categóricos que se pode reconhecer os mocinhos e os vilões. E, mais evidentemente ainda, quando a listinha do próximo não for igual àquela que usamos, o próximo é vilão para nós e nós somos vilões para ele.

Isso é especialmente claro na política americana, em que a divisão entre a esquerda e a direita vem se aprofundando, com cada vez menos pontos em comum nas listinhas pseudomorais dos dois partidos opostos. Como o que lhes falta em civilização sobra em dinheiro, logo, em influência político-cultural, as briguinhas intestinas da política americana vêm se repetir aqui como farsa. Por exemplo, a esquerda americana acusa (com razão) o sistema judicial americano de prender demais. Afinal, não apenas os EUA têm a maior população carcerária do mundo, tanto em termos absolutos quanto relativos, como condenam habitualmente a longuíssimas penas de prisão, ou mesmo à prisão perpétua, criminosos culpados de menor potencial ofensivo. Em alguns estados do Grande Irmão do Norte, uma terceira condenação por fumar maconha ou roubar galinha pode levar ao encarceramento perpétuo.

Ora, isso é o oposto da situação brasileira, em que o furto simplesmente não é mais punido, na prática, e raríssimos são os casos de condenados que cumprem mais que um sexto da pena em regime fechado. Ah, sim: aqui a pena máxima é de 30 anos. Em outras palavras, monstros assassinos aqui podem passar cinco anos atrás das grades; os demais criminosos passam muito menos ou – a maioria – se livram soltos. Mas a nossa esquerda copia sem tirar nem pôr a bandeira da esquerda americana, e faz de tudo para que se prenda ainda menos aqui, onde o problema, lembro novamente, é o oposto. O mesmo vale para outras péssimas importações, estando as cotas e outras políticas racistas entre elas.

Para que não se diga que estou de implicância com os sinistros canhotos, aponto que a recentemente ressuscitada direita brasileira tem o mesmo hábito pacóvio de importar pacotes prontos de sua homóloga anglo-saxã. Entre vários, poderíamos citar a visão de mundo segundo a qual tudo está aí para ser consumido, que faz com que, macaqueando a direita gringa, vários dentre os poucos direitistas brasileiros lancem frases de efeito afirmando que a Amazônia deveria ser transformada em estacionamento, por exemplo. No original, trata-se de uma inversão do discurso ambientalista radical: se uns dizem que nem uma folha de grama pode ser cortada, os outros têm de dizer que todas devem sê-lo. Aqui é só besteira, mesmo.

Igualmente importado é o horror ao imigrante, compreensível (ainda que não justificável) no caso da direita americana por estar lá havendo um grande influxo dos descendentes latino-americanos de sobreviventes das populações indígenas dizimadas pela colonização anglo-saxã. Tanta gente chegando ao mesmo tempo com a mesma língua e cultura estranhas leva-os a temer pela própria, que efetivamente corre o risco de sofrer a influência civilizatória dos imigrantes latino-americanos. Afinal, estes levam consigo uma cultura muito mais rica, nuançada e profunda, e é muito mais provável que a cultura mais rica influencie a mais pobre que o oposto, a despeito de a distribuição de riquezas materiais ser oposta à da riqueza cultural.

Já aqui, igualmente por questões culturais, a segunda geração de uma família de imigrantes em geral já está completamente brasileira; nossa cultura é muito inclusiva e tolerante, o que faz com que seja quase impossível a imigrantes manter-se à parte de nossa sociedade. Mesmo os japoneses, no século passado, um dos povos mais culturalmente coesos e fechados do mundo, integraram-se plenamente nas populações que os acolheram em uma ou duas gerações. Além disso, não há nenhum grupo de imigrantes suficientemente numeroso para fazer a diferença. Os americanos, aliás, são uma das nacionalidades mais presentes entre os imigrantes para o Brasil, com praticamente um americano para cada dois bolivianos. Mas mesmo assim os pafúncios importadores de besteira adoram rasgar as vestes e ulular de desespero diante de uma suposta invasão de imigrantes, ou mesmo de imigrantes islâmicos. Ora, bolas, entre Paris e Botucatu, com Paris sendo muito mais perto, acho pouco provável que a hégira atual se dirija às nossas plagas. E, se vierem, eu garanto: em menos de duas gerações estão saindo de porta-bandeira e mestre-sala numa escola de samba, alimentando-se de feijão com arroz e implicando com os argentinos.

Além destes fenômenos que descrevi acima, contudo, há outro mais grave ora ocorrendo: a importação direta (e, na prática, inevitável) de algumas das piores manias e práticas pouco civilizadas dos Estados Unidos, por intermédio do Facebook e, em menor escala, do Google. Como todos os meus três leitores sabem, o Facebook e o Google são os dois gigantes da internet mundial, dividindo a imensíssima maior parte do fluxo de dados não pornográficos da rede. Dentro do Facebook há um sistema de troca de mensagens instantâneas, o Messenger. Fora dele, mas igualmente pertencente à mesma companhia, há o WhatsApp. O Google é o proprietário do Gmail, o maior provedor de e-mails do mundo. Pois o Facebook, por conta dos ânimos cada vez mais acirrados da política americana, decidiu tomar partido e censurar ativamente postagens de seus usuários. Isso, se não examinássemos a situação, poderia parecer aceitável: afinal de contas, trata-se de uma companhia particular. Mas será que se pode assim definir um conglomerado que detém mais informações e movimenta mais dinheiro que a maior parte dos governos, inclusive de países ricos? Este é um primeiro ponto importante. Corremos o risco de, em algumas décadas, sermos literalmente governados pelas corporações; assim como hoje as identidades digitais fornecidas pelo Google e pelo Facebook servem para inscrever-se em um sem-número de páginas, e mesmo em lojas e serviços de todos os tipos, não é um pulo muito grande unir a CNH digital a essas identidades. Daí, poder-se-ia partir para unir o CPF e o título de eleitor, e quem sabe estaremos votando no sucessor do próximo presidente usando o login do Facebook ou do Google? A cada dia os Estados nacionais perdem importância e as corporações aumentam em poder. É importante que conquistemos algum direito de cidadania virtual nelas, para que elas não venham a ser ditaduras abertas, como cada vez mais parece estar acontecendo. Foi muito difícil recuperarmos nosso direito de livre expressão no Brasil; não podemos nem queremos perdê-lo de novo, menos ainda nas mãos de uma entidade que não responde a ninguém e cuja cultura nos é estranha.

O desprezo do Facebook pelos que evidentemente vê como seus inferiores é tornado claro em atos como a flagrante desobediência aos tribunais brasileiros; no momento, em apenas uma ação no Paraná, o Facebook está sofrendo multa de R$ 70 mil ao dia por se negar a dar informações não pessoais sobre investigados; mas o que são R$ 70 mil para eles? Troco de pinga.

E eis que esses poderosíssimos novos senhores consideram sumamente importante preservar os tabus e gostos provincianos peculiares que fazem as vezes de moral nas terras do Norte. Assim, por exemplo, é absolutamente proibido postar fotos de mulheres com pouca roupa, mas não há problema algum em publicar fotos e mesmo filmes de decapitações, atropelamentos e outras formas de violência brutal. Do mesmo modo, há uma lista de palavras proibidas. Escrevê-las significa ser punido com bloqueios que podem variar de dias a semanas, ou mesmo com a expulsão da rede. Não importa se a vítima dos desmandos do Facebook usa o Messenger para trabalho: no momento em que sofra o bloqueio – que normalmente ocorre de forma súbita, dias após a postagem em que se tenha violado algum tabu americano desconhecido –, passa a ser impossível comunicar-se. O busílis da questão, todavia, é que a lista de palavras proibidas é secreta! O único jeito de descobrir quais são elas é sendo bloqueado, com a ameaça sempre presente de ser expulso subitamente da rede e do meio de comunicação pessoal que ela inclui. Ora, isso é, hoje em dia, equivalente ao que seria, poucas décadas atrás, cortar o telefone e o correio, ou mesmo fechar o acesso à porta da casa ou da loja de alguém. E mesmo assim a coisa não é perfeitamente clara, na medida em que eles simplesmente apresentam o texto completo da postagem como razão para a punição, sem precisar qual teria sido a palavra-tabu. Provavelmente para um nativo ela seria relativamente evidente, dada a sua familiaridade com os sistemas tabuísticos tribais de sua cultura, mas para um brasileiro em geral a coisa simplesmente não faz qualquer sentido. O contexto tampouco importa, por se tratar de um tabu e não de uma questão moral: um amigo foi bloqueado por um longo período, sem aviso prévio, por ter escrito a um amigo íntimo seu algo nas linhas de “fala, viado, amanhã eu passo aí”. Típica grosseria carinhosa masculina, que em absolutamente nada se assemelharia, nem nos sonhos mais delirantes do mais famigerado entusiasta LGBT, a uma violação do tabu igualmente importado da “homofobia” (literalmente, “medo do igual”; na prática trata-se, no mais das vezes, de tolerar atos que sempre foram considerados moralmente condenáveis, em vez de bater palmas entusiasmadas para eles).

Mais do que as importações culturais, que sempre sofrem alguma mediação no Brasil, a implantação direta de um sistema de tabuísmos estrangeiros é uma questão séria, com que o Brasil terá de lidar mais cedo ou mais tarde. Afinal, são muito poucos os bobos que engolem completamente o pensamento racista que justifica cotas e outras barbaridades, por exemplo, e em geral quem as defende aqui o faz por uma visão moral um pouco confusa, não por observância de tabuísmos exóticos. O mesmo vale para o temor ao imigrante e outras tristes importações. A importação de besteiras indireta sofre a mediação da cultura nacional na medida em que é inserida no dia a dia e nas práticas da nossa cultura.

A partir, contudo, do momento em que o WhatsApp e o Facebook se tornaram os meios de comunicação preferenciais da população, é absurdo e criminoso que regras secretas como as listinhas de palavras-tabu do Facebook possam fazer com que sejam punidas pessoas inocentes e ignorantes, com razão, dos sistemas de tabuísmo de outra cultura. São importações diretas, que poderiam ser equiparadas, mutatis mutandis, a uma intervenção estrangeira. A polícia interna do Facebook está para os seus usuários brasileiros como as tropas brasileiras estavam para os cidadãos haitianos. E a ação dessa polícia que não trata os usuários do sistema como cidadãos é brutal. Como já escrevi, hoje em dia cortar o Facebook ou o WhatsApp de muita gente equivale a forçar o fechamento da loja ou mesmo murar a porta da casa. Não é algo que possa ser feito por questões comezinhas ou por posicionamentos políticos, que dirá por tabuísmos de povos exóticos. Esta é uma questão urgente.

As pessoas não se dão conta, em geral, de que no Facebook os usuários são a mercadoria. A rede social é a minhoca no anzol. O negócio na verdade é um sistema de coleta de informações pessoais para revenda a anunciantes, não um sistema de comunicação. A comunicação é permitida e até, em certa medida, incentivada apenas para que através dela o Facebook consiga saber mais sobre o usuário e assim direcionar melhor os anúncios que publica. Os fregueses reais, os anunciantes, podem pela primeira vez na história da humanidade anunciar apenas para mulheres solteiras entre 38 e 45 anos de idade que gostem de chocolate, não possam usar saltos altos por problemas de coluna e prefiram o vermelho ao verde. Ah, sim: e que morem neste ou naquele bairro, ou a menos de tantos metros de uma franquia de uma determinada companhia, que tenham tantos filhos de tal idade, que ouçam tal tipo de música… O céu é o limite. Mas nós, mercadorias nas prateleiras, por menos que pareçamos importantes para a corporação que dirige o meio, somos seres humanos, cidadãos não apenas da comunidade física brasileira quanto da virtual, com direitos e deveres, e quem assume a responsabilidade de prover serviços de comunicação vê-se obrigado moralmente (moral de verdade faz uma falta a eles!…) a mantê-los em funcionamento, a não ser que haja razões graves para interrompê-los. Não precisamos, com todos os problemas que já temos, importar uma polícia dedicada a fazer vigorar tabus exóticos nas nossas comunicações.

Se esta questão não for resolvida, em breve podemos esperar que o mesmo passe a ocorrer em outras áreas da vida; podemos ter a luz cortada porque dissemos algo inocente, porém proibido por um tabu estrangeiro, ao falarmos com nossos botões na solidão de nosso automóvel. Afinal, o reconhecimento de voz do telefone celular pode transmitir a informação a uma central que determine automaticamente a nossa punição. E talvez o tal sistema tenha entendido errado o que dissemos, o que na prática não faria diferença alguma: uma vez punido, punido se está. Não há nenhum impedimento, legal ou prático, para que isso ocorra no momento atual. A tecnologia está aí, assim como a prática da censura punitiva; basta juntar as coisas já existentes, o que fatalmente ocorrerá assim que isso fizer sentido financeiro para as corporações envolvidas. Tudo está cada vez mais entremeado, e não há mais qualquer expectativa de privacidade. A maior parte dos telefones atuais já mantém o microfone perpetuamente ligado, esperando identificar uma expressão que indique que ele deva agir em função de um comando de voz (“OK, Google”, por exemplo). Se o nosso direito a serviços de que dependemos progressivamente mais não for garantido, se pudermos ser punidos por desobediência a códigos secretos de culturas exóticas, neste contexto de completa impossibilidade de intimidade e politização do discurso, corremos o sério risco de vermos muitos dentre nós efetivamente ostracizados, cortados do mercado de trabalho e mesmo das amizades sem que haja absolutamente razão alguma para tal.

Importar besteira é muito perigoso. 
Por: Carlos Ramalhete Publicado originalmente em Gazeta do Povo  
Foto: Josh Edelson/AFP