terça-feira, 6 de agosto de 2013

BOTÃO DE DESCARGA


Poucos jornalistas brasileiros têm denunciado a fraude geral do governo petista com a constância, o brilho e a bravura de Diogo Mainardi, mas isso não quer dizer que ele compreenda claramente o que está acontecendo neste país, nem que se abstenha de sugerir remédios capazes de agravar consideravelmente a situação.

Numa recente mensagem postada no seu Facebook, ele exclama: “Falta uma mudança total, de tudo. Falta uma greve geral que tenha a força de liquidar essa quadrilha do PT, incrustada no poder. Falta o impeachment da Dilma... O impeachment, na minha visão, funciona como o botão que se aperta para dar descarga na privada.”

Isso não seria grave se Mainardi fosse o único a pensar dessa forma, mas sua visão do cenário político é a mesma de grande parte da sociedade brasileira.

O primeiro erro dessa perspectiva é ignorar que às vezes o centro vivo do poder, portanto a fonte geradora do mal, nem sempre reside no ocupante do mais alto posto da hierarquia constitucional; e, quando está em curso um processo revolucionário comunista sob camuflagem democrática, não reside quase nunca. É da natureza mesma do movimento comunista, sobretudo nas épocas de incerteza, não queimar jamais os seus quadros melhores expondo-os aos riscos de um cargo público demasiado visível.

O comando do processo está hoje nas mãos do Foro de São Paulo, e quando digo isso não me refiro nem mesmo às suas assembléias gerais, porém mais aos círculos de conversações discretas, ou até secretas, em que se fazem e desfazem governos e se decidem os destinos de nações inteiras sem que as respectivas populações tenham disso a menor notícia, ou, como confessou o sr. Lula, “sem que pareça”. O discurso que esse ex-presidente fez no XV aniversário do Foro, em 2005 – documento que ninguém na grande mídia publicou ou leu –, contém informações essenciais onde se pode obter uma idéia do poder avassalador da organização que por quase duas décadas se fingiu de inexistente ou inofensiva com a ajuda do silêncio obsequioso da classe jornalística em peso (Link A). Igualmente significativas, sob esse aspecto, foram as declarações do sr. José Dirceu em entrevista ao sr. Antonio Abujamra à qual ninguém prestou alguma atenção inteligente (Link B).

Há anos o Foro decidiu que o término do mandato de Lula assinalaria o fim da “etapa de transição” e o começo da conquista abrangente e definitiva do poder, ou, em outras palavras, o upgrade decisivo, a passagem do socialismo meia-bomba ao socialismo-bomba (Link C). A recente onda de protestos, planejada e incitada por agentes do Foro, inclusive com treinamento de guerrilheiros urbanos para dar à coisa um aspecto devidamente atemorizante (Link D) e justificar medidas mais drásticas contra o bode expiatório de sempre, a “direita fascista” (Link E), mostra claramente que o comando revolucionário não hesitou em espremer a sra. Dilma Rousseff contra a parede, para que se definisse, isto é, assumisse a liderança do processo ou fosse passada para trás pelas facções mais ousadas da esquerda nacional.

Os resultados do teste, porém, apareceram embaralhados pela intromissão de um fator inesperado: espontaneamente, numa desorganização majestosa, massas de liberais, conservadores e cidadãos sem cor política revoltados contra a esbórnia federal saíram também às ruas em quantidades oceânicas e, em certos pontos, acabaram ocupando o espaço e os megafones destinados inicialmente à agitação esquerdista.

Embora atônita e desorientada – prova inequívoca de não ter passado no exame --, a presidenta foi salva in extremis pela decisão do comando revolucionário, ele próprio a essa altura também atônito e desorientado, de dar marcha-a-ré na sucessão de badernas e fechar-se em copas para fins de autocrítica e remanejamento estratégico. Se não fosse por esses imprevistos, o fracasso da presidenta em dirigir os acontecimentos teria marcado o fim da sua carreira política e a ascensão de novas estrelas de esquerda, longamente preparadas para isso na escolinha maternal do próprio Foro de São Paulo (Link F).


Dito de outro modo: Se só Dilma Rousseff tivesse se mostrado perplexa e o próprio Foro não tivesse perdido o controle da situação, a cabeça da presidenta já teria rolado, e o sonho do sr. Diogo Mainardi teria se realizado, mas não em proveito do povo brasileiro e sim da parte mais furiosa da esquerda nacional, com a subseqüente instauração de um regime francamente revolucionário. E este, por força da centralização abrupta e descarada do poder, não hesitaria em apelar, sob o pretexto de saneamento e até sob os aplausos da massa ingênua, não só à violência repressiva tipicamente comunista como também a formas de corrupção de tipo soviético, ainda mais requintadas e perversas do que aquelas a que nos habituou a mixórdia petista. 

No rumo que as coisas tomaram, ficou tudo em suspenso até melhores análises estratégicas, mas, qualquer que seja o caso, o que está provado e bem provado é que livrar-nos de Dilma não é a mesma coisa que livrar-nos do mal. Se o fosse, o próprio Foro não teria chegado tão perto de apertar o botão de descarga.

Mais sobre isso no próximo artigo.
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Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

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