quinta-feira, 12 de setembro de 2013

CHARUTOS CUBANOS

O intelectual romeno Andrei Plesu descobriu que o regime comunista havia acabado em seu país quando uma vizinha saiu no quintal e gritou: “No armazém da esquina há azeitonas! E não há fila!” Para quem vivia na Romênia de Ceausescu, era um autêntico grito revolucionário. As menores comodidades da economia de mercado – como, por exemplo, comprar azeitonas sem ter de enfrentar filas – tornam-se alegrias raras sob o comunismo. Bem o sabem os cubanos que, na falta de papel higiênico, são obrigados a utilizar as páginas do jornal Granma.


A vizinha de Plesu soltou aquele grito em 1989. No ano seguinte, líderes esquerdistas se reuniram em São Paulo com o objetivo de recuperar na América Latina aquilo que haviam perdido no Leste Europeu: o poder político. Vinte e três anos depois, a maioria dos países latino-americanos é governada pelo Foro de São Paulo.

A ineficiência econômica e a baixa produtividade são características inseparáveis do socialismo; Lenin sabia disso já em 1921. Os governantes do Foro de São Paulo, conhecedores do fato, realizam uma espécie de “acordo” com a iniciativa privada, da mesma forma que Lenin fez com a Nova Política Econômica (NEP) na União Soviética.

No socialismo do Foro de São Paulo, os empresários continuam sendo controlados por meio da carga tributária, da burocracia, da perseguição. Podem produzir azeitonas, mas precisam pagar a parte do leão. A verdadeira “luta de classes” se dá entre os que produzem riquezas e os que expropriam a sociedade com impostos, taxas, multas e sabe-se mais o quê. Pensando bem, eis uma boa definição do socialismo: a guerra do Estado contra as pessoas comuns.

Que os empresários não se iludam: entre uma facada nas costas e um prejuízo ao Partido, os companheiros governantes sempre vão optar pela facada nas costas. Era assim no Leste Europeu, está sendo assim na América Latina. E tende a piorar – como demonstram os recentes episódios dos médicos cubanos, da multa do FGTS e da crise após o resgate do senador boliviano.

Tenho um amigo que começou a deixar a esquerda ao presenciar uma cena simbólica. Ele trabalhava em um instituto vinculado ao PT e chegou bem cedo para escrever um relatório. Na noite anterior, havia acontecido uma festa de políticos e sindicalistas. O imenso salão do instituto parecia um campo de batalha com restos de charutos cubanos espalhados pelo chão. Antes de ligar o computador, meu amigo contemplou aquela imagem devastadora – e fechou os olhos.

Abram os olhos: o Brasil está se tornando aquele salão.

Por: Paulo Briguet é jornalista e edita o blog Com o Perdão da Palavra, no qual o presente artigo foi publicado originalmente.

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