quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

PERSPECTIVAS PARA 2016

Depois de um 2015 bastante difícil, o ano vem terminando com muitas mudanças, tais como o aumento dos juros nos EUA, a redução do crescimento chinês, a troca do ministro da Fazenda no Brasil e a perda do grau de investimento pela Fitch. Isto fez as estimativas de indicadores econômicos para o próximo ano mudarem consideravelmente. Muitos executivos, empresários, investidores e analistas têm se perguntado o que esperar de 2016 que, até aqui, tem tantas variáveis ainda indefinidas.​​

Em ambientes nos quais o passado não é um bom preditor do futuro, a boa técnica recomenda o uso de cenários. Para montar uma análise de cenários, vamos recorrer ao processo de duas variáveis descrito pela Gill Ringland. Selecionamos, assim, duas variáveis externas às empresas e as dicotomizamos. Selecionei uma variável interna do governo brasileiro e uma variável externa. 

A variável interna é a política econômica do próprio governo, e ela tem que ser dicotomizada entre a manutenção do ajuste fiscal com uma política ortodoxa, o que prevaleceu em 2015, e uma política de gastos governamentais e heterodoxia, o que prevaleceu até 2014, para a qual se ensaia um retorno com a troca do ministro da Fazenda.

A variável externa é o ambiente econômico internacional, que não chega a ser de crescimento mas, também, ainda não é de crise. Dicotomizei entre Estável e Crise. Um ambiente estável é o atual, no qual as commodities continuam baixas e os juros também, e com crescimento econômico fraco no mundo inteiro mas, ainda, sem configurar uma crise. Entretanto, existem indícios que apontam para a possibilidade de uma crise internacional, tais como a diminuição do crescimento da China, a guerra cada vez mais complexa na Síria, uma baixa cada vez mais acentuada dos preços do petróleo e, no caso particular do Brasil e de outros países emergentes, a determinação de os EUA de começarem a subir novamente os juros.

Assim sendo, podemos montar um quadro de cenário resultante desta combinação 2x2, que é mostrado na figura 1. Os nomes dos cenários são pictóricos.

Figura 1 – Quadro de cenários econômicos para 2016


​O cenário atual é o de TORMENTA, no qual o ambiente externo é estável e se mantém um ajuste fiscal com ortodoxia econômica. Embora duro, este cenário é o que demonstra alguma chance de levar a uma estabilidade em 2017 e recuperação em 2018. Aqui, o governo contém seus gastos e controla a inflação via juros, impostos e sua própria austeridade, reduzindo a pressão de demanda por dinheiro, permitindo aos juros não explodirem e não tendo de recorrer à impressão de moeda. Este cenário leva o governo a ter uma popularidade muito baixa, que só poderá ser recuperada em 2018.

O cenário de FURACÃO acontece se o ambiente externo piorar, o que parece altamente provável no momento. Aqui, embora o governo continue fazendo o “dever de casa”, apesar da impopularidade, há uma piora do clima econômico no mundo, com os juros nos EUA aumentando, e o preço das commodities caindo ainda mais. O governo é forçado a socorrer a Petrobras e a subir os juros para compensar o aumento dos juros nos EUA. O agronegócio e a mineração brasileiras aprofundam suas crises, pedindo alívio para um governo já muito pressionado, mas o governo resiste à tentação de imprimir dinheiro apesar da alta impopularidade.

O cenário de PÂNICO ocorre se o governo decidir mudar o rumo da política econômica e voltar aos gastos excessivos e à adoção de política heterodoxas, mas isto ainda ocorre em um ambiente internacional estável. Aqui, o governo decide aumentar impostos e imprimir mais dinheiro para lastrear “políticas anticíclicas”, ou seja, gastos para dinamizar a economia, o que pode funcionar no curtíssimo prazo, mas não se sustenta. A popularidade do governo melhora, mas os indicares econômicos deterioram rápido.

No cenário de HORROR, ocorre a “tempestade perfeita”. O governo não resiste ao apelo de gastar mais e decide por políticas “anticíclicas” para recuperar sua popularidade mas, ainda por cima, isto ocorre no meio de uma crise internacional, quando as commodities caem de preço e os EUA sobem os juros. A popularidade do governo melhora marginalmente enquanto os indicadores econômicos deterioram rapidamente. O governo entra em desespero e toma decisões desesperadas.

É difícil prever com precisão os indicares econômicos em cada um dos cenários, mas eles nos ajudam a ter um a panorama das possibilidades. A tabela 1 mostra alguns indicadores selecionados e as probabilidades estimadas de ocorrência de cada cenário. O leitor deve entender tal tabela como uma estimativa contendo erro, ou variação não explicada, ao invés de valores exatos.


As probabilidades foram calculadas estimando que existe 60% de chance ocorrer uma crise no mundo, e 60% para uma mudança de política do governo atual. O leitor que discordar destas estimativas pode fazer suas próprias e recalcular as probabilidades de cada cenário ocorrer. Uma das vantagens desta técnica é sua flexibilidade na análise.

Precisamos torcer para que o mundo não entre em uma crise tão rápido, e que o governo, apesar da impopularidade e da pressão, resista e permaneça firme no propósito de fazer um ajuste fiscal, mantendo políticas ortodoxas. 

Infelizmente, as probabilidades parecem estar contra o Brasil.
Por: Paulo Vicente dos Santos Alves, professor da FDC em 21/12/2015 01:59
Categoria: Estratégia
Do site: http://www.fdc.org.br/blogespacodialogo/Lists/Postagens/Post.aspx?ID=474

Nenhum comentário: