terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PEQUENOS AJUSTES NÃO SÃO SUFUCIENTES

O socialismo parece reger-se pela “lei do pêndulo”: é o “ciclo econômico” descrito pelos economistas da Escola Austríaca, só que no plano político. Há duas fases.

Primeiro, o populismo desenfreado. Abre-se a fase expansiva na economia, com alta nos gastos estatais, e emissão de toneladas de papel-moeda. Protege-se a “indústria nacional”, por meio da concessão de subsídios e monopólios; desse modo criam-se empresas antieconômicas, e empregos artificiais. Aumenta o emprego estatal, e se decretam “planos sociais” para comprar votos. Além disso, relaxam-se as exigências para empréstimos, a fim de “estimular a demanda”, ou seja, o consumo, estilo Keynes.

Porém, se não há economia ou capitalização, não há desenvolvimento, nem crescimento. A economia fechada se torna ineficiente. E a bebedeira “social” termina em grande ressaca: estagflação (inflação com estagnação), desinvestimentos, com quebra ou fechamento de empresas, e desemprego em massa.

Então chegam os “neoliberais”, para a segunda fase, a “contenção”.

Tomam medidas radicais, como deve ser feito, para acabar com o estatismo? Não! “Não temos respaldo político”, dizem. “Não é viável”. Não é “politicamente factível”. Portanto, se limitam a corrigir alguns dos excessos mais grosseiros e aberrantes do socialismo. Nada mais. “Estabilização” é seu mantra favorito.

Como os bombeiros, apagam o fogo; porém, sem reformas profundas. Há abertura ao exterior, porém “não muita, não vamos chegar ao outro extremo!”, explicam.

Contudo, os “ajustes” não perduram, porque não vão à raiz do problema: não se revogam as leis más; por isso não há mudanças estruturais nem melhorias sustentáveis. Cedo ou tarde há descontentamento, que aumenta até que, na garupa da “crise”, a esquerda radical retorna ao poder com sua demagogia, mais cedo ou mais tarde. O pêndulo muda de curso. E o ciclo recomeça.

Exemplo: Argentina. Terminou agora outra fase de populismo selvagem, e chegou a cavalaria ao resgate. Já vimos esse filme, muitas vezes.

Quantas ao todo? O economista José Luis Espert nos lembra “cinco crises em meio século”. Porém, ocorreram outras, anteriores:
A primeira década peronista (1945-55) destruiu grande parte da economia argentina, ainda que muitos dos fundamentos do estatismo, como por exemplo o Banco Central, tenham sido postos pelos conservadores na década anterior. E com o presidente Aramburu, foi Raúl Prebisch, ex-funcionário de Perón, e economista não liberal, mas keynesiano, quem propôs o Plano Prebisch para “corrigir o caos”. Quase todo o país se opôs ao Plano, que embora fosse bastante intervencionista, foi qualificado de “ultra-liberal”, e nem sequer foi aplicado totalmente. Aquela “Revolução Libertadora” terminou sem cumprir a tarefa.

Porém, na prática os militares governavam em conjunto com o radical Arturo Frondizi (1958-62), através do engenheiro Álvaro Alsogaray, economista liberal encarregado de “conter” o super-ministro Rogelio Frigerio, que era partidário de uma economia nazi-stalinista.

Após a queda de Frondizi, o estica e puxa entre populismo e “ortodoxia” continuou com seu sucessor José M. Guido. Em seu breve governo interino, de 1962-63, houve até uma miniguerra civil: “azuis” versus “colorados”.

O radical Arturo Illía (1963-66) representou uma fase populista bastante moderada. E com o general Onganía, a consequente fase “neoliberal” foi encabeçada pelo ministro Krieger Vasena, e foi tão desastrosa que a crise arrastou o presidente, que foi deposto, como aconteceu nos casos anteriormente vistos; e em outros que se seguiram.

Após os descalabros nazi-socialistas de Galtieri e Cámpora, o populismo “montonero” seguiu com Ber Gelbard, já sob Juan Perón (1973-74). Até que María Estela Martínez chamou aos mais ortodoxos (?) Alfredo Gómez Morales e Celestino Rodrigo, para clean up the mess (limpar a sujeira). Não conseguiram.

O general Videla trouxe, em 1976, a José A. Martínez de Hoz, um “ultraliberal” que estatizou uma companhia elétrica, a CIAE. Outro fracasso, que terminou na crise financeira de 1980, a qual também levou consigo o presidente, em março de 1981. Nada puderam seus sucessores “liberais”, Lorenzo Sigaut, Roberto Alemann e Jorge Wehbe. Mesmo filme, atores diferentes.

Como era de se esperar, “o retorno da democracia” trouxe consigo uma fase populista muito aguda, ao ponto do radical Raúl Alfonsín ter de entregar o cargo antecipadamente a Carlos Menem em 1989, em meio à hiperinflação. Com Domingo Cavallo, o peronista Menem realizou a experiência “neoliberal” mais estável e comparativamente exitosa: toda uma década, os anos 1990.

Por isso o radical Fernando de la Rúa (1999-2001) quis reeditar o menemismo, incluindo Cavallo. Porém, não o pôde, e como Frondizi, a crise explodiu em seu colo: não terminou seu mandato. A “estabilização” chegou com o presidente Eduardo Duhalde e seu ministro “ortodoxo”, Roberto Lavagna (2002-03). E logo outra vez a louca economia montonera: os Kirchner. Até agora.

Oito antecedentes, todos muito similares, que o senhor Macri deveria revisar, não acham?
Por: Alberto Mansueti, advogado e cientista político.
Tradução: Márcio Santana Sobrinho

Nenhum comentário: