sexta-feira, 15 de setembro de 2017

E O VENTO LEVOU "E O VENTO LEVOU"...


No vendaval dos imbecis a onda é revisar a história suprimindo da paisagem símbolos inconformes com a estética do politicamente correto...

Vivian Leigh e Clark Gable, como Scarlett O'Hara e Rhett Butler.
O filme que ensinou norte coreanos sobre o amor é alvo dos racialistas que o acusam de insensibilidade racial...


Cria corvos... e eles comerão seus olhos.

O Orpheum, tradicional sala de teatro e cinema de Memphis, nos EUA, resolveu interromper a exibição anual de "Gone With the Wind" ("E o Vento Levou"), motivado pelo "vendaval de protestos" articulado pelos revisionistas politicamente corretos, que classificaram o filme como "insensível à questão racial". 

O teatro Orpheum mostrou o filme nos últimos 34 anos, como parte de sua série clássica. 

O filme é considerado uma obra prima cinematográfica, e uma fonte histórica para o entendimento da Guerra Civil Americana. 

Produzido pela Metro, o filme mostra a vida da uma jovem sulista, aristocrática, bela e petulante, Scarlett O'Hara, começando por ambientá-la em plena expansão do plantation, passando por sua sobrevivência na trágica história do sul durante a Guerra da Secessão e a luta pela reconstrução em sua propriedade. Mostra, ainda, seus casos de amor com Ashley Wilkes e Rhett Butler. Expõe o escravagismo, a exploração econômica da guerra e perda da inocência da elite sulista. 

Com mais de três horas de duração o filme consagrou Viven Leigh e Clark Gable. A obra ganhou 10 Oscars, incluindo o de Hattie McDaniel como melhor atriz coadjuvante, no personagem da escrava Mammy, tornando-se a primeira afrodescendente a ganhar um Oscar na história do cinema. 

A ação dos revisionistas não foi gratuita. O "enxame" ocorreu logo após a exibição do filme, em 11 de agosto, a mesma noite em que supremacistas marcharam com tochas em Charlottesville, Virginia. No dia seguinte, 12, enquanto ocorria a reunião "Unite the Right", o teatro recebeu o ataque de reclamações em linha, de clientes, jornalistas e cibermanifestantes nas redes sociais. 

O vendaval de denúncias versava sobre o fato do filme retratar os negros "sob uma visão romantizada do Velho Sul", o que identificaria a obra com o conflito da derrubada da estátua do General Lee. Não foi apenas um protesto. Foi uma provocação com consequências funestas para a arte cinematográfica - ainda que restrita (por enquanto) a uma sala de cinema.

Brett Batterson, presidente do Orpheum Theatre Group, temeroso das consequências e temendo atos violentos, resolveu ceder ao enxame articulado de protestos e fez um comunicado à imprensa, no qual informou que "o Orpheum revisou cuidadosamente todos os filmes do festival" e, "como uma organização cuja missão declarada é entreter, educar e iluminar as comunidades que serve", não mais mostraria "um filme insensível a um grande segmento de sua população local ".

Não faltaram, no entanto, protestos contra a atitude de auto-censura. Vários foram os comentários nas redes sociais e na imprensa classificando a atitude de vergonhosa, de representar um insulto ao elenco e equipe que produziu o filme, de considerar uma atitude de submissão à intolerância e de quebra de uma tradição de oitenta anos do próprio cinema. 

O fato é que um dos filmes mais importantes da história mundial foi "censurado" na sua própria terra de origem, em pleno século XXI e no seio de uma das mais democráticas nações do mundo. Tornou-se alvo de "banimento", pela ação coordenada de intolerantes "politicamente corretos".

A patrulha da chatura rancorosa e da infelicidade militante conseguiu, com o banimento, algo similar a outros "grandes feitos" da história, como a "queima de livros" dos nazistas, nos anos 30 ou a "limpeza de retratos", efetuada pelos stalinistas e maoistas,nos registros fotográficos das revoluções, retirando personagens que se tornavam politicamente inconvenientes da paisagem e da história.

Conseguiram, também, produzir um paradoxo contemporâneo. 

Em recente entrevista, uma refugiada norte coreana informou ter compreendido o que era o amor graças à oportunidade de assistir ao filme "E o Vento Levou", gravado em um pendrive e clandestinamente despejado naquele país pela organização "Flash Drives for Freedom", entidade de direitos humanos que, via balões, despeja centenas desses minúsculos dispositivos avidamente consumidos pela população, clandestinamente, sob pena de incorrer em crime com punições severas, determinadas pelo ditador Kim Jong-un. 

Com certeza, Kim Jong-un terá lugar reservado no panteão dos heróis politicamente corretos...

Os donos e monopolistas da verdade histórica, ao articularem o "enxame virtual", fizeram o mesmo que o "Ministério da Verdade" faria na ficção "1984", de George Orwell.

Os revisionistas provocaram a direita racista americana no episódio da derrubada de uma estátua do General Lee e atuaram contra a apresentação de um filme em um cinema. Assim, de "um em um", não tardará implodirem a estátua de George Washington em Boston ou a estatua do bandeirante escravagista Borba-Gato, na Avenida Santo Amaro, em São Paulo... 

No que tange ao Borba-Gato, aliás, os revisionistas já o fizeram - picharam vergonhosamente a estátua do bandeirante, bem como a das bandeiras, no Parque do Ibirapuera... e não faz muito tempo. O mesmo ocorreu com a obra do "racista" Monteiro Lobato, que os próceres do politicamente correto ousaram sugerir banimento das escolas...

O objetivo cristalino desta gente é revisar a história suprimindo da paisagem os símbolos inconformes com a nova estética do politicamente correto. Fazem o que fizeram os bárbaros, os nazistas, os stalinistas, o talibã... e ainda fazem o Estado Islâmico, os bolivarianos da Venezuela e o grande líder politicamente correto Kim Jong-un...

Com certeza, os racialistas militantes classificarão como supremacista e racista todo aquele que ousar protestar contra a censura ao "E o Vento Levou". 

Amanhã, quem saberá o que ou quem sobrará para protestar...

Será que permitiremos todos a vitória do duplipensar orwelliano sobre a cultura e a democracia?

Uma coisa é certa. O conflito é resultado do apoio dos imbecis ao discurso idiota do "politicamente correto", professado pelos cultivadores do rancor racialista que vegeta por aí...

Perde a cultura, a história a humanidade e a inteligência...



Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.


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