domingo, 15 de outubro de 2017

O MUNDO DOS IDIOTAS TRANSVIADOS


Transvalorar para mutilar o tecido social...

Francisco de Goya - Saturno devorando um filho. Museu do Prado 


A perda dos valores , a destruição da sociedade e o niilismo que nos contamina.

No mundo dos idiotas transviados, o politicamente correto, o ativismo judicial, o supremacismo vitimizador, o biocentrismo fascista, a ideologia de gênero e tantas outras "bandeiras de luta", contribuem para o progressivo esgarçamento da ordem e a perda de valores que esteiam nossa civilização. Não constituem, porém, ações diversas. Configuram partes de uma mesma postura, niilista, destruidora e letal. 

A praga do Niilismo

A "transvaloração de todos os valores", para Nietzsche, é o derradeiro objetivo do niilismo. 

Niilista é aquele que considera infundados todos os valores e crenças, não havendo qualquer sentido ou utilidade na sua existência. 

Assim, para Nietzsche, a missão da nova moral consistiria na “transvaloração de todos os valores, em um desprender-se de todos os valores morais, e um confiar e dizer sim a tudo o que até aqui foi proibido, desprezado, maldito”(1). 

Nietzsche propunha a transvaloração por entender que não se podia confiar nos conceitos de moral tradicionalmente recebidos, uma vez impostos pela "ordem dominante" (judaico-cristã). Assim, a transvaloração seria o questionamento dos valores supondo-os transmitidos como absolutos.

Em “Genealogia da Moral: Uma Polêmica”, o filósofo alemão afirma: “não vejo ninguém que tenha ousado fazer uma crítica dos juízos de valores morais" (...). "Até o momento ninguém examinou o valor da mais famosa das medicinas chamada moral". (...). "Esse é justamente nosso projeto”(2).

Pura pretensão... Nietzsche imaginava diferir, mas não diferia em nada dos demais filósofos vanguardistas, contestatários de sua época e dos "reféns da vanguarda" que a ele se seguiram. 

Do Anarquismo ao Nazifascismo, da Comuna de Paris à Escola de Frankfurt, Marx, Nietzsche, Schumpeter, Sartre e Marcuse, tudo ganha a mesma coloração parda, indefinida, em prol da "destruição criativa", como condição para se alcançar o paraíso platônico.

"Eis o que devemos almejar: a crítica implacável de tudo quanto existe. Digo implacável em dois sentidos: a crítica não deve temer suas próprias conclusões, nem o conflito com os poderes a que se dirige", escrevera Karl Marx a um amigo em 1843, cinco anos antes do "Manifesto Comunista".*

Marx também não era original. Copiava (e mal) o que pregava a maçonaria italiana em 1822, no auge de sua batalha revolucionária contra a igreja católica, em prol do Estado Laico: "Para propagar a luz, é conveniente e útil dar impulso a tudo aquilo que proporciona a mudança. O essencial é isolar o homem de sua família, fazê-lo perder sua moral."(3) 

Na ebulição de novas ideias e constatações revolucionárias que marcaram o Século XIX, o vanguardismo terminou por condicionar a mudança das estruturas econômicas, sociais e políticas à adoção de uma postura niilista. Foi assim que o vanguardismo niilista contaminou a filosofia no Século XIX, orientou o radicalismo político no Século XX e parece estar formatando o caráter cínico e hipócrita das relações de Estado no Século XXI. 

O niilismo, definitivamente, é a praga na formação do homem moderno. 

O niilismo e os transviados

Graças ao bom Deus, essa doença vanguardista-niilista da transvaloração de todos os valores não contaminou cabeças iluminadas que, ao fim e ao cabo, em vários momentos dos últimos duzentos anos, trataram de "por a casa em ordem". 

É o caso do maior filósofo do Século XX, Karl Popper, que observou, em primeiro lugar, o fato de a instauração de regimes “salvadores” sempre exigir a selvageria de um movimento revolucionário para reformar toda a ordem existente “sem deixar pedra por virar”. 

Popper identificou a origem enviesada deste vanguardismo destruidor "de tudo o que está aí": Platão, sua engenharia social utópica de República - um convite ao totalitarismo. 

Essa engenharia social platônica em prol da utopia, visando "recriar" o ser humano, gerou todas as aberrações que custaram milhões de vidas no Século XX. Platão, reformatado, influenciou a formulação das visões niilistas que inspiraram os regimes totalitários e marcaram os conflitos mundiais. 

“Tanto Platão quanto Marx sonharam com uma revolução apocalíptica que transfiguraria radicalmente todo o mundo social”, afirmou Popper em "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos".(4)

Utopias à parte, a experiência de vida e o inafastável conhecimento da história revelam: Sem valores a personalidade desaba. 

Não por acaso, a mutilação da personalidade propicia a destruição e o totalitarismo. É apanágio dos cínicos, dos homicidas, dos suicidas, dos totalitários. É atributo, também, dos militantes sem causa e do ativismo sem conteúdo.

Daí porque a transvaloração niilista traduz fielmente o momento atual por que passamos, de completa imbecilização das performances contestatárias que nos assaltam diuturnamente.

A transvaloração niilista está inoculada no nosso cotidiano nacional. Ela gera transvias comportamentais pretensamente contestatárias e reproduz agentes transviados. Motiva a agressão programada dos idiotas inoculados nas grandes mídias contra os "valores burgueses" da sociedade - valores que passam a ser taxados como "fobias sociais" e "moralismo repressor". 

Essa transvaloração de transidiotias se reflete na performance dos cuspidores de imagens, postados em frente ao MASP, que conspurcavam fotografias de políticos "golpistas" durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Ela estána raiz das manifestações transgressivas da ideologia de gênero. Compõem também, o horizonte do pretensamente "asseptico" do "ativismo judicial", que desconstrói a Ordem a pretexto de reordená-la.

Não é fenômeno tupiniquim. Ocorre por certo no mundo todo. Das reações separatistas dos boquirrotos sem causa, passando pelo atirador a esmo da janelas do hotel em Las Vegas, até os supremacistas brancos, negros, gays, transgêneros, feministas e, também, feminicidas radicais terroristas, que massacram vítimas com requinte de crueldade em nome da paz e da harmonia do iluminado profeta de Alah...

Recentemente, nas redes sociais a professora e pedagoga Marilene Nunes vaticinou:

"Está tomando forma amplo processo de IDEOLOGIZAÇÃO da vida como nunca se viu antes em toda a história da humanidade. Seu objetivo é o de transformar a maneira como encaramos a vida e a vivemos. Suas pautas e agendas são: ecologismo, sexualidade, trabalho, educação e cultura. Sua tática, o uso da democracia pra impor privilégios como direitos, com base na demanda do DESEJO e, assim, detonar com os sistemas jurídicos das sociedades modernas."

Essa transvaloração de todos os valores, segundo a professora, pretende "a despersonalização do individuo pela rejeição da sua identidade sexual e bioemocional. Saturno está comendo seus filhos."(5)

Transidiotas exterminam nascituros para consolidar a liberdade

O efeito global dessa ação niilista destrutiva desconstrói a figura da autoridade, corrói a organização política da sociedade, deforma cognitivamente o caráter das novas gerações, fulmina a família como núcleo institucional, desacredita o regime democrático e transforma o pluralismo em condomínio de rancores, supremacismos de minorias barulhentas.

É nesse ambiente pulverizado, que operadores niilistas do direito ascendem à categoria de "aiatolás" da nova ordem "politicamente correta". Senão vejamos: 

Um exemplo definitivo é o voto do transvalorado ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso, em defesa do "direito ao aborto", sem causa, de nascituros com três meses de gestação : 

“A criminalização é incompatível com os seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria”. (6)

O entendimento é totalmente manipulado. Basta ler o que diz o art. 4º, 1. da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (“Pacto de São José da Costa Rica”):

“Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”.

Como salienta o jurista Francisco Ilídio Ferreira Rocha:

“Reconhecendo o caráter constitucional dos textos convencionais que versam sobre Direitos Humanos, o Pacto de San José da Costa Rica é categórico ao dizer que ninguém poderá ser privado arbitrariamente da própria vida e a proteção da existência vital tem como marco inicial, em regra, a concepção.” (...) “Sendo assim, não só existe um critério adequado para firmar uma solução jurídica sobre o início da proteção da vida humana, mas também ele é decorrente de um texto convencional de elevada importância do qual o Brasil é signatário.”

Tal qual apontou o jornalista Felipe Moura Brasil (7), como todo niilista de esquerda, Barroso, quando não concorda com uma solução jurídica, diz que ela não existe.

Quem vai pagar por isso?

O exemplo acima, é demonstração cabal do potencial homicida da transvaloração de todos os valores, hoje travestida pelo manto do "politicamente correto". 

Como já apontado por mim em vários outros artigos, o ativismo judicial, o supremacismo vitimizador, o biocentrismo fascista, a ideologia de gênero e tantas outras "bandeiras de luta", não apenas contribuem para o progressivo esgarçamento da ordem de valores que esteia nossa civilização como, com certeza, matam... até mesmo quem não possui qualquer chance de se defender...

Ante essa perspectiva, a obra prima do compositor Lobão serve como mantra para os que ainda pretendem manter a sanidade nesse mundo de idiotas transviados: 

"Eu sei que já faz muito tempo que a gente volta aos princípios,
Tentando acertar o passo, usando mil artifícios. 
Mas sempre alguém tenta um salto, e a gente é que paga por isso. 
Fugimos para as grandes cidades, bichos do mato em busca do mito 
De uma nova sociedade, escravos de um novo rito.
Mas se tudo deu errado, quem é que vai pagar por isso? 
Eu não quero mais nenhuma chance, eu não quero mais revanche."

Os idiotas passam. Sempre passaram nos últimos dois séculos. Deixam, no entanto, um rastro de destruição, injustiça e morte. Terminam vencidos pela ordem natural da coisas.

A ordem natural das coisas não se deixa confundir pelo niilismo e não se altera pelas utopias. 

Fora do mundo dos idiotas transviados, a vida é plena de razão. Ela é plural, sofre mudanças e experimenta uma contínua evolução. Exige porém, sobretudo valores, e não dispensa o vetusto exercício didático da paciência.

Notas: 

1- NIETZSCHE, Friedrich. "Ecce Homo", in “Aurora”, § 1.
2- NIETZSCHE, Friedrich. No prefácio de "Genealogia da moral", § 2.
3- Carta de 18 de janeiro de 1822, citada por Crétineau-Joly, em L’Eglise romaine en face de la Révolution, t. II, pág. 104
4- POPPER, Karl. "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos", p.180
5- NUNES, Marilene. Em https://www.facebook.com/marilene.nunes.7311/posts/1133248630143958
6- STF - HC 124306, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Relator p/ Acórdão Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 09/08/2016, publ. 17-03-2017
7- MOURA BRASIL, Felipe. "Os truques de Barroso e PSOL para legalizar o aborto", Revista Veja
*- LASSUS, Arnaud de. "A Escola de Frankfurt e a Revolução Cultural", in http://permanencia.org.br/drupal/node/5194

Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, das Comissões de Política Criminal e de Infraestrutura e Sustentabilidade da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É membro do Conselho Consultivo da União Brasileira de Advocacia Ambiental, Vice-Presidente Jurídico da Associação Paulista de Imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.

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