quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O RADAR DO FUTURO DA DEMOCRACIA


A sociedade do futuro será uma derivação do sistema de multas de trânsito atual


Não acredito em evolução social. Suspeito que andamos em círculos, indo pra lugar nenhum. Com isso não quero negar que “ganhamos algum terreno” em relação a situações desagradáveis aqui e ali (aumento de longevidade, eliminação em grande escala da escravidão e coisas semelhantes) nem que sejamos absolutamente dominados pela contingência cega.

Conseguimos controlar várias dimensões da vida. E são exatamente estas formas de controle que apontam para o “futuro da democracia”. A condição humana é tal que combatemos constantemente a contingência e a nós mesmos, em nossa infinita capacidade de criar sofrimentos. Mas a democracia, evidentemente, pode acabar um dia, inclusive pelas mãos de gente que a “defende”, principalmente porque o termo “democracia” pode significar coisas opostas.

Esta contradição é inerente ao processo modernizador 

Quer ver um exemplo banal dessa “instabilidade semântica” do termo “democracia”? Tem partidos políticos por aí que pretendem, em nome da democracia, intervir na mídia para garantir igualdade de oportunidades, por exemplo, destruir pessoas e grupos na mídia para colocar seus parceiros ideológicos no lugar dessas pessoas e grupos. O argumento é “democratizar a mídia”.

Por outro lado, deixar a mídia inteiramente livre (portanto, democrática) pode significar, por exemplo, a geração de discursos de ódio e a exclusão social de quem não conseguiu alcançar a posição de trabalho num desses grandes grupos de mídia.

Independente dessa questão “escolástica” (se não conhecer o termo, olhe no Google), de onde está a verdadeira democracia na mídia e em outros níveis, acho que o futuro nos reserva a sociedade mais controladora que o mundo já viu e, portanto, num sentido comum do termo, menos democrática.

Dito de forma direta: marchamos para um mundo totalitário, com controle cada vez mais maior dos comportamentos, mesmo que pessoas trans possam ser o que quiserem (dou esse exemplo como mero clichê de “liberdade individual”) ou você possa ter o perfil que quiser no Face ou odiar livremente quem você quiser nas redes.
Por: Luiz Felipe Pondé  Do site: http://www.gazetadopovo.com.br

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