"Minha religião é mais importante para mim do que as leis do país onde eu vivo."
Sete por cento dos entrevistados concordam que se "justifica o uso da violência para difundir o Islã". Muito embora estas cifras possam parecer inócuas, 7% dos três milhões de turcos que vivem na Alemanha equivalem a 210.000 pessoas que acreditam que a jihad é um método aceitável para difundir o Islã.
O levantamento também constatou que a migração de mão de obra já não é mais a principal razão dos turcos imigrarem para a Alemanha: a razão mais importante é se casar com um(a) parceiro(a) que resida no país.
Um novo levantamento estatístico sobre a Alemanha — Datenreport 2016: Balanço Social da República Federal da Alemanha — mostra que os turcos étnicos têm menos sucesso econômico e educacional do que outros grupos de imigrantes e que mais de um terço (36%) dos turcos étnicos vivem abaixo da linha de pobreza, em comparação com 25% dos migrantes dos Bálcãs e do sudoeste da Europa.
"Em nosso volumoso estudo perguntamos aos muçulmanos o quão discriminados eles se sentem e procuramos correlações que levassem à evolução de uma visão de mundo fundamentalista. Não encontramos nenhuma correlação. O ódio muçulmano em relação aos não muçulmanos não é um fenômeno especial da imigração muçulmana, na realidade ele é pior nos países de origem. A radicalização não foi primeiramente criada aqui na Europa, melhor dizendo: ela vem do mundo muçulmano". — Sociólogo Ruud Koopmans.
De acordo com um novo estudo, cerca de três milhões de turcos étnicos residentes na Alemanha acreditam ser mais importante seguir a Lei Islâmica (Sharia) do que a lei alemã caso haja conflito entre as duas.
Um terço dos entrevistados também anseia por uma sociedade alemã que "retorne" ao modo que era nos tempos de Maomé, o fundador do Islã, na Arábia do século VII.
O levantamento — realizado com turcos que residem na Alemanha há muitos anos, não raramente por décadas — refuta as alegações das autoridades alemãs, segundo as quais os muçulmanos estão bem integrados na sociedade alemã.
O estudo de 22 páginas: "Integração e Religião do Ponto de Vista da Etnia Turca na Alemanha" (Integration und Religion aus der Sicht von Türkeistämmigen in Deutschland), foi elaborado pelo departamento de Religião e Política da Universidade de Münster. Principais revelações:
47% dos entrevistados concordaram com a seguinte premissa: "seguir os princípios da minha religião é mais importante do que respeitar as leis do país onde eu vivo". Essa é a maneira de pensar de 57% da primeira geração de imigrantes turcos e de 36% da segunda e terceira gerações de turcos. (O estudo define como primeira geração de turcos aqueles que chegaram na Alemanha como adultos; como segunda e terceira gerações aqueles que nasceram na Alemanha ou que chegaram no país ainda crianças.)
32% dos entrevistados concordaram que "os muçulmanos deveriam se empenhar em retornar a uma ordem social como a da época de Maomé". Essa visão é abraçada por 36% da primeira geração e por 27% da segunda e terceira gerações.
50% dos entrevistados concordaram que "há apenas uma religião verdadeira". Esse ponto de vista é abraçado por 54% da primeira geração e 46% da segunda e terceira gerações.
36% dos entrevistados concordaram que "somente o Islã é capaz de resolver os problemas dos nossos tempos". Esta é a maneira de pensar de 40% da primeira geração e 33% da segunda e terceira gerações.
20% dos entrevistados concordaram que "a ameaça que o Ocidente expõe ao Islã justifica a violência". Esse ponto de vista é mantido por 25% da primeira geração e 15% da segunda e terceira gerações.
7% dos entrevistados concordaram que "a violência se justifica se for para difundir o Islã". Esse ponto de vista é mantido por 7% da primeira geração e 6% da segunda e terceira gerações. Muito embora estas cifras possam parecer inócuas, 7% dos três milhões de turcos que vivem na Alemanha equivalem a 210.000 pessoas que acreditam que a jihad é um método aceitável para difundir o Islã.
23% dos entrevistados concordaram que "os muçulmanos não devem apertar a mão de alguém do sexo oposto." Esta maneira de ver as coisas é aceita por 27% da primeira geração e 18% da segunda e terceira gerações.
33% dos entrevistados concordaram que "as mulheres muçulmanas devem se cobrir com um véu". Esta maneira de pensar é abraçada por 39% da primeira geração e 27% da segunda e terceira gerações.
31% das entrevistadas disseram que usam o véu em público. Isso significa 41% da primeira geração e 21% da segunda e terceira gerações.
73% dos entrevistados concordaram que "livros e filmes que atacam a religião e ofendem as suscetibilidades de pessoas profundamente religiosas devem ser proibidos por lei."
83% dos entrevistados concordaram com a seguinte frase: "eu fico furioso quando os muçulmanos são os primeiros a serem acusados sempre que há um ataque terrorista."
61% dos entrevistados concordaram que "o Islã se encaixa perfeitamente no mundo ocidental."
51% dos entrevistados concordaram que "como turco étnico, eu me sinto como cidadão de segunda categoria."
54% dos entrevistados concordaram que "independentemente do quanto eu me esforce, não sou aceito como membro da sociedade alemã."
O estudo também constatou que os turcos e alemães autóctones veem o Islã de maneira totalmente diferente: ao passo que 57% dos alemães turcos associam o Islã aos direitos humanos, somente 6% dos alemães fazem a mesma associação.
ao passo que 56% dos alemães turcos associam o Islã à tolerância, somente 5% dos alemães fazem a mesma associação.
ao passo que 65% dos alemães turcos associam o Islã à paz, somente 7% dos alemães fazem a mesma associação.
Com base nas respostas acima, os autores da pesquisa concluíram que 13% dos entrevistados são "fundamentalistas religiosos", (18% da primeira geração e 9% da segunda e terceira gerações). Muito embora estas cifras possam parecer insignificantes, 13% dos três milhões de turcos que vivem na Alemanha equivalem a cerca de 400.000 fundamentalistas islâmicos, muitos dos quais acreditam que a violência é um meio aceitável de difundir o Islã.
As constatações do levantamento espelham as constatações de outros estudos que mostram que migrantes turcos estão pouco integrados na sociedade alemã.
Em 2012 o estudo de 103 páginas: "Vida e Valores Turco/Alemães" (Deutsch-Türkische Lebens- und Wertewelten), constatou que somente 15% dos turcos étnicos que residem na Alemanha consideram o país a sua casa. Outras revelações importantes:
praticamente a metade (46%) dos turcos concordou com a afirmação: "espero que no futuro haja mais muçulmanos do que cristãos vivendo na Alemanha"; mais da metade (55%) disseram que a Alemanha deveria construir mais mesquitas.
72% dos entrevistados disseram que o Islã é a única religião verdadeira; 18% disseram que os judeus são inferiores aos muçulmanos e 10% disseram que os cristãos são inferiores.
63% dos turcos com idades entre 15 e 29 anos disseram que aprovam a campanha salafista de distribuir o Alcorão a todos os lares da Alemanha; 36% disseram que estariam dispostos a apoiar financeiramente a campanha.
95% dos entrevistados disseram que é totalmente necessário preservar a sua identidade turca; 87% disseram que eles acreditam que os alemães deveriam se esforçar mais em ter mais consideração para com as tradições e costumes turcos.
62% dos entrevistados disseram que preferem a companhia de turcos do que de alemães; apenas 39% dos turcos disseram que os alemães eram confiáveis.
O levantamento também constatou que a migração de mão de obra já não é mais a principal razão dos turcos imigrarem para a Alemanha: a razão mais importante é se casar com um(a) parceiro(a) que resida no país.
Enquanto isso, um novo levantamento estatístico da Alemanha — Datenreport 2016: Balanço Social da República Federal da Alemanha (Datenreport 2016: Sozial-bericht für die Bundesrepublik Deutschland) — mostra que os turcos étnicos têm menos sucesso econômico e educacional do que outros grupos de imigrantes.
O relatório, produzido pela Destatis, agência de estatísticas oficiais da Alemanha, em cooperação com vários institutos interdisciplinares alemães, mostra que mais de um terço (36%) dos turcos étnicos vivem abaixo da linha de pobreza, em comparação com 25% dos migrantes dos Bálcãs e do sudoeste da Europa (Espanha e Portugal). A renda média das famílias de etnia turca é de €1.242 (US$1.400) por mês, em comparação com €1.486 (US$1.700) de migrantes não turcos e €1.730 (US$1.950) das famílias alemãs.
Apenas 5% dos turcos étnicos ganham mais de 150% da média da renda alemã, em comparação com 21% dos migrantes da Europa Oriental, 18% dos migrantes do sudoeste da Europa e 11% dos Bálcãs.
Um mercado ao ar livre no bairro Kreuzberg de maioria turca em Berlim. (Imagem: captura de tela de vídeo do Berlin Project)
O relatório também mostra que os turcos têm menos escolaridade do que outros grupos de migrantes na Alemanha. Somente 60% dos turcos étnicos completam o ensino médio (Hauptschulabschluss), em comparação com 85% dos migrantes da Europa Oriental. Além disso, apenas 8% dos turcos étnicos entre as idades de 17 e 45 anos se formam em algum tipo de bacharelado, em comparação com 30% dos migrantes da mesma distribuição etária da Europa Oriental. De acordo com o relatório a educação é um fator crucial para que a integração tenha sucesso.
Os multiculturalistas alemães culpam frequentemente a si mesmos pela falta de integração dos turcos. Ao escrever para o jornal Die Welt, o economista Thomas Straubhaar assinala que a maioria dos alemães veem os turcos como hóspedes, não como cidadãos iguais a eles, uma atitude que desestimula os turcos a se integrarem:
"Essencialmente os turcos étnicos são tratados como hóspedes — daí a polêmica se a sua lealdade é com a Alemanha ou não. A imigração deles é vista como temporária. A contribuição deles para a cultura alemã é vista sob uma ótica negativa.
"Aqueles que tratam os migrantes como hóspedes não devem ficar surpresos quando eles se comportam como se o fossem. Não se espera que hóspedes tenham uma devoção emocional em relação ao anfitrião, nem que o anfitrião sinta alguma obrigação de mostrar lealdade irrevogável para com o hóspede".
"Os hóspedes não aceitarão por todas as cartas na mesa no país que os acolheu e ainda assumir total responsabilidade pelo êxito da integração. Os hóspedes supõem que mais cedo ou mais tarde eles terão que voltar para casa. Em qualquer atividade na qual se engajem, eles sempre levarão em conta seu status de hóspede e não se engajarão com tanta garra. Isto se aplica aos investimentos na língua, cultura, amizades, contatos sociais e carreira profissional."
Outros no entanto rebatem argumentando que aqueles que agem como estrangeiros não se surpreenderão ao serem tratados como estrangeiros. O sociólogo Ruud Koopmans argumenta que um dos fatores mais determinantes no tocante à integração bem sucedida envolve o abismo cultural entre o anfitrião e o hóspede. Quanto maior o abismo maior o desafio da integração.
Em uma entrevista recente concedida à revista WirtschaftsWoche, Koopmans criticou os multiculturalistas que, por razões normativas, insistem que a cultura e religião não devem ser levadas em conta no debate sobre a integração:
"Em todos os países europeus os imigrantes muçulmanos estão na rabeira dos demais grupos de imigrantes, em quase todos os aspectos da integração. Isto se aplica ao mercado de trabalho, mas também no desempenho educacional, no contato com outras etnias, ou seja: contato com a população local e a identificação com o país no qual se reside.
"Três fatores decisivos determinam o abismo cultural: habilidades linguísticas, contato com outras etnias — especialmente aqueles que envolvem matrimônio — e valores no tocante ao papel das mulheres. Os três têm algo a ver com a religião. Isso obviamente se aplica, em especial, ao conceito quanto ao papel das mulheres, conceito que se deriva diretamente da religião islâmica. Quanto maior for o abismo cultural entre grupos — principalmente quando há tabus culturais — mais complicados se tornarão os casamentos entre as etnias. Esses tabus tornam praticamente impossível para um muçulmano, especialmente para as muçulmanas, casarem com um não muçulmano. Estatísticas de vários países europeus mostram que menos de 10% dos casamentos muçulmanos são contraídos com outras etnias."
Detlef Pollack, autor do estudo da Universidade de Münster citado acima, culpa a discriminação pela falta de integração turca: "a mensagem para a maioria da população alemã é que devemos nos sensibilizar mais com os problemas enfrentados por aqueles que são de origem turca," ressaltou ele à Deutsche Welle. "Nossa opinião é que o sentimento de não aceitação é manifestado na veemente defesa do Islã".
Koopmans rejeita a ligação entre discriminação e radicalização:
"Esta é uma afirmação comum. Mas é equivocada. Em nosso volumoso estudo perguntamos aos muçulmanos o quão discriminados eles se sentem e procuramos correlações que levassem à evolução de uma visão de mundo fundamentalista. Não encontramos nenhuma correlação. O ódio muçulmano em relação aos não muçulmanos não é um fenômeno especial da imigração muçulmana, na realidade ele é pior nos países de origem. A radicalização não foi primeiramente criada aqui na Europa, melhor dizendo: ela vem do mundo muçulmano".
Por: Soeren Kern, colaborador sênior sediado em Nova Iorque do Gatestone Institute. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter. Seu primeiro livro, Global Fire, estará nas livrarias em 2016.
Original em inglês: Germany's Turkish-Muslim Integration Problem
Tradução: Joseph Skilnik Do site: http://pt.gatestoneinstitute.org/