A crise financeira que devastou o mundo a partir de 2008, cujas consequências perduram até hoje, trouxe à tona a necessidade de rever atitudes e procedimentos para que o capitalismo continue sendo o melhor sistema econômico disponível, privilegiando a produção e não a especulação financeira, prestando melhores serviços à sociedade.
A disputa entre os defensores de ações do Estado para superá-la e os que se batem pela redução da ação do Estado nesses anos pós-crise atualizou uma disputa mais antiga, entre o austríaco liberal Hayek e o inglês intervencionista John Maynard Keynes, a tal ponto que diversas simulações de um debate entre os dois foram promovidas em várias partes do mundo, inclusive aqui no Brasil, em novembro do ano passado patrocinado pelo Ibmec.
A estudante Virginia Barbosa teve a ideia de replicar um debate realizado meses antes pela BBC de Londres. Desta vez, para discutir os novos rumos do capitalismo, a mesma Virginia, com o apoio do Ibmec e do Instituto Millenium, promoveu um debate realizado na quarta-feira passada no auditório da Academia Brasileira de Letras, que eu intermediei, entre os economistas André Lara Resende e Gustavo Franco, dois dos criadores do Plano Real.
Ambos valeram-se não de Hayeck ou Keynes para analisar a crise econômica global, mas de Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, autor da teoria da “destruição criativa” do capitalismo.
Lara Resende lembrou que evitando um grande colapso à custa de um aumento expressivo da dívida pública e do passivo dos bancos centrais, “ao se controlar artificialmente as forças cíclicas naturais do capitalismo, pode-se ter esclerosado grande parte de suas virtudes, de sua força criativa e renovadora”.
Foi aí que lembrou Schumpeter, “defensor entusiasmado do capitalismo e da fecundidade do espírito empresarial”, enfatizou a importância da “destruição criadora” do capitalismo, “como mola propulsora dos avanços em todas as esferas da sociedade”.
Já Gustavo Franco começou sua fala afirmando que tinha otimismo “sobre o capitalismo e sobre Brasil, e também, sobretudo, sobre o casamento entre um e outro, essencialmente um empreendimento de destruição criadora”.
Para ele, destruição criadora, instabilidade, “são partes necessárias dessa paisagem; não existe capitalismo sem isso”. Talvez por que, analisou, “o capitalismo é uma sistema de arquitetura aberta, por isso se adaptará, emergirá mais forte” da crise.
André Lara Resende acha, no entanto, que “a possibilidade de que estejamos próximos de duas restrições, que eram ainda distantes nos anos 30, exige efetivamente repensar os rumos do capitalismo”.
A primeira seria “o limite do tolerável - no sentido de não vir a se tornar disfuncional - da participação do Estado na economia”. Ele lembrou que em toda parte, “até mesmo onde o capitalismo nunca foi seriamente questionado, como nos EUA”, houve ao longo de todo o século 20, “sistemático aumento da carga fiscal e da participação do Estado na renda nacional”.
As respostas, tanto para a crítica econômica - da instabilidade intrínseca - quanto para a critica social - da desigualdade crônica - ao capitalismo, levaram ao aumento da participação do Estado na economia.
A segunda nova restrição seria “a proximidade dos limites físicos do planeta”, assunto que ele vem abordando ultimamente em vários artigos. “É evidente que não será possível continuar indefinidamente com a série de ciclos de expansão do consumo material, alimentado pela turbina do crédito, até uma nova crise, que só se resolve com mais crescimento”, analisou Lara Resende, para ressalvar: “A menos que haja uma radical mudança tecnológica, será preciso encontrar a fórmula do aumento do bem estar numa economia estacionária”.
Para ele, a mudança tecnológica “não parece provável”, pois a questão do meio ambiente seria um caso clássico “de bens públicos, que o mercado não precifica de forma correta”.
Uma crítica à esquerda ao capitalismo, quanto ao risco do consumismo, está sendo retomada depois da crise econômica de 2008, lembra Lara Resende: “A tese da alienação consumista permeia a crítica cultural do capitalismo de massas, desde a Escola de Frankfurt, até os novos teóricos da sociedade do espetáculo”.
Para ele, “ao transformar todas as esferas da vida numa questão de cálculo financeiro, ganhamos capacidade de criar riqueza, mas em contrapartida nos tornamos insaciáveis”.
André Lara Resende diz, ecoando vários autores, que “a busca desenfreada por crescimento econômico, por mais consumo material, nos levou a esquecer de porque queremos mais. Mais consumo material tornou-se um objetivo em si mesmo”.
Para ele, “será preciso superar o fosso profundo do preconceito ideológico” para encontrar respostas para “ as duas grandes questões de nosso tempo”: como reduzir a disparidade dos padrões de vida, sem aumentar a intermediação do Estado e restringir as liberdades individuais. E como reverter o consumismo, a insaciabilidade material, sem reduzir a percepção de bem estar.
“São grandes desafios, sem dúvida”, admite André Lara Resende, para quem a competição capitalista parece “imprescindível” para que seja possível encontrar as respostas aos problemas criados pelo sucesso do capitalismo.
“Só a pluralidade das ideias, que foi capaz de desmistificar todo tipo de autoritarismo, seja o religioso, o fundamentalista ou o ideológico, e criar a cultura da autonomia do indivíduo, será capaz de fazer revisão cultural que a circunstâncias exigem, sem sacrificar as conquistas do Iluminismo”.Por: Merval Pereira
QUANDO TUDO O QUE SE ESCREVE TIVER SE DESFEITO EM FARRAPOS, QUANDO ATÉ MESMO OS MELHORES TIVEREM SE TORNADO APENAS VERBETES DE ENCICLOPÉDIA JAMAIS CONSULTADA, AS PALAVRAS DE UM PENSADOR AINDA ESTARÃO VIVAS PARA MOSTRAR, SOBRE RUÍNAS DOS TEMPOS, A PERENIDADE DO ESPÍRITO HUMANO.
domingo, 17 de junho de 2012
sábado, 16 de junho de 2012
O QUE É O DINHEIRO, COMO SURGE E COMO DEVE SER GERENCIADO
Nos tempos atuais, fomos doutrinados a crer que pequenos pedaços retangulares de papel são a exata definição de dinheiro, e que o governo — mais especificamente seu banco central — é sua única fonte possível. Para se discutir honestamente como é possível obter uma moeda forte, é necessário antes entender como surgiu o dinheiro e como se estabeleceu nosso atual costume monetário.
No início, era cada um por si. Cada indivíduo comia ou vestia apenas aquilo que ele fosse capaz de coletar ou caçar.
E então surgiu o escambo, que foi o primeiro avanço. Se você estivesse em posse de alguns quilos extras de carne, e o seu vizinho possuísse uma quantidade excedente de pele de animal, vocês dois poderiam incorrer em uma troca direta. Se alimentos, água, roupas e ferramentas simples são os únicos bens disponíveis no mercado, o escambo acaba sendo um meio relativamente eficiente de troca — você sempre poderá encontrar alguém que possui aquilo que você quer e que quer aquilo que você possui.
Porém, tão logo surgiu um esquema básico de produção e manufatura, e a prosperidade começou a aumentar, o escambo se tornou uma prática inadequada. Imagine que você é um caçador e quer adquirir uma cama, mas o único produtor de camas da cidade é um vegetariano. O que você pode fazer neste caso? Você primeiro teria de descobrir o que o produtor de camas aceitaria em troca da cama (talvez tofu), e então teria de encontrar alguém que possuísse tofu e estivesse disposto a trocar por carne. Se você não conseguisse encontrar tal pessoa (o produtor de tofu quer um chapéu em troca), você teria de procurar por uma quarta pessoa (alguém que quisesse carne e que possuísse o chapéu que o produtor de tofu quisesse), ou tentar convencer o produtor de camas vegetariano a aceitar sua carne para, algum tempo depois, tentar trocá-la por algum outro bem.
A carne, no entanto, estraga com o tempo, de modo que o produtor de camas teria de se livrar dela rapidamente. Consequentemente, sendo você incapaz de conseguir arrumar algum bem que o produtor de camas queira consumir, você decide trocar sua carne por um pouco de sal. Ato contínuo, você se aproxima do produtor de camas e diz: "Olha só, eu sei que você não quer sal, mas pense em todas as outras pessoas que querem. Elas utilizam sal para preservar suas carnes e para dar mais sabor às suas sopas. E o sal é imperecível, de modo que você pode armazená-lo pelo tempo que quiser. E se, quando o vendedor de tofu vier à cidade, ele não quiser sal, você poderá explicar a ele exatamente isso que acabei de explicar para você — que ele poderá utilizar o sal para comprar algo que ele queira futuramente."
Se você e o produtor de camas chegarem a um acordo, você acabou de inventar o dinheiro. Organicamente, mais pessoas na sua comunidade começarão a utilizar o sal como meio de pagamento, mesmo que elas não tenham a intenção de consumi-lo, pois sabem que outras pessoas irão aceitá-lo como meio de troca.
Porém — e isso é muito importante —, o valor do sal-dinheiro não depende exclusivamente de as outras pessoas aceitarem-no como meio de pagamento. Se, por algum motivo, as pessoas pararem de aceitar sal como meio de pagamento, você ainda assim poderá utilizar o sal como... sal. O sal não perdeu suas funções originais.
O sal já foi utilizado como dinheiro e mostrou ser uma ótima moeda, especialmente antes da invenção da refrigeração, pois era amplamente demandado, divisível até o nível granular, muito portátil e transportável, fácil de ser pesado, e podia ser facilmente testado contra falsificações: bastava prová-lo com seu paladar. Os romanos utilizaram o sal como dinheiro.
No entanto, o fato de o sal ter passado a servir como dinheiro não significava que não poderiam surgir outras formas de dinheiro em circulação. Folhas de tabaco também poderiam ser amplamente aceitas como meios de pagamento, assim como o ouro ou a prata.
A maior invenção da história?
A questão é que o dinheiro surgiu naturalmente na sociedade, e surgiu como uma maneira de auxiliar as transações econômicas voluntárias. Foi uma das maiores invenções da humanidade. O dinheiro não apenas facilitou às pessoas adquirirem o que queriam, como também tornou o ato de poupar muito mais possível — você podia agora acumular o dinheiro excedente para gastá-lo em um momento posterior.
Embora poupar seja hoje um ato vilipendiado pelas elites políticas, trata-se de um elemento essencial para o progresso econômico. Ao facilitar às pessoas o ato de poupar, o dinheiro efetuou duas medidas cruciais. Primeiro, ele inspirou mais diligência e empreendedorismo: havia agora um incentivo para se trabalhar mais duro para se auferir em um dia mais do que você poderia gastar em um dia. Segundo, a poupança possibilitou a empreendedores ambiciosos fazer grandes investimentos em capital: máquinas que economizavam trabalho humano, armazéns e transportes.
Se o poupador não tivesse grandes planos em mente para o seu dinheiro, ele ainda assim poderia fazer com que ele fosse produtivo: bastaria emprestá-lo para terceiros. Financiamento era algo praticamente impossível sem dinheiro. É claro que você poderia dar um porco para o seu vizinho este ano em troca de um porco e de uma galinha no ano seguinte, mas haveria muito mais espaço para contendas. "Este porco não é tão saudável quanto o porco que dei a você ano passado."
Já um dinheiro-commodity utiliza medidas universais e objetivas, como peso, para mensurar sua qualidade. Logo, não havendo espaço para variações de qualidade, você pode emprestar seu dinheiro tendo a confiança de que, o que você receberá em troca no futuro, terá a mesma qualidade que você emprestou.
O dinheiro também tornou a especialização algo mais fácil. Se você fosse realmente bom em algo — por exemplo, fabricar pregos (utilizando o famoso exemplo da Adam Smith) —, você poderia agora ganhar a vida apenas fabricando pregos. Sem o dinheiro, alguém que passou o dia inteiro fabricando pregos teria de encontrar (a) alguém com comida em excesso que quisesse pregos, (b) alguém com abrigo sobrando que quisesse pregos, (c) alguém com excesso de roupas que também quisesse pregos naquele momento, e por aí vai.
Porém, quando o dinheiro é introduzido, o vendedor de pregos necessita encontrar apenas (a) pessoas com dinheiro que queiram pregos, e (b) diferentes pessoas que possuam os bens que o vendedor de pregos queira comprar e que queiram dinheiro em troca. Facilitar a especialização cria eficiências. A especialização permite a divisão do trabalho, de modo que as pessoas passam a agir de acordo com suas habilidades e seus interesses. A produtividade aumenta. De incontáveis maneiras, o dinheiro aperfeiçoa a sociedade.
Moedas concorrenciais
No passado, diferentes tipos de dinheiro-commodity concorriam entre si. O sal possuía suas vantagens, mas também apresentava desvantagens — além de você ter de mantê-lo seco, era fácil perder alguma porção. Em Roma, a elevação do nível dos oceanos foi tornando muito mais difícil a obtenção de sal ao longo dos anos.
Enquanto isso, o ouro ia continuamente apresentando várias vantagens. Era fácil de ser armazenado. Não deteriorava. Assim como o sal, era de fácil divisibilidade, e também fácil de ser modelado em formatos diferente: você podia criar blocos ou moedas de diferentes pesos ou denominações, os quais podiam ser padronizados. Ele não enferrujava, não sujava e não sofria outras reações indesejadas ao entrar em contato com produtos químicos.
Como qualquer dinheiro verdadeiro, surgido no mercado, o ouro possui utilidade própria, o que sempre irá lhe garantir algum valor. Majoritariamente, pensamos em seu valor decorativo — em praticamente qualquer cultura, o ouro é considerado algo bonito. As mulheres adoram ouro, e satisfazer as fantasias femininas é universalmente considerado algo bom. O ouro possui uso industrial devido à sua resistência à corrosão e à facilidade com que pode ser reduzido a placas extremamente finas.
O ouro também é raro o suficiente para ser valioso, mas ao mesmo tempo abundante o suficiente para ser de ampla circulação. Sua oferta cresce, mas nunca a taxas altas.
Nenhuma autoridade teve de declarar que o ouro era dinheiro. Ele surgiu espontaneamente como meio de troca, e em vários casos venceu a concorrência contra outras moedas. Ele nem sempre venceu à custa da exclusão de todos os outros tipos de dinheiro, mas foi provavelmente o mais bem-sucedido dinheiro que já existiu, graças não a algum decreto superior, mas sim aos seus próprios atributos.
E isso é extremamente importante: o dinheiro não vem do governo; ele surge na própria sociedade.
Peter Schiff
é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear Markets, Crash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes. Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico. Veja o vídeo. Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português
Tradução de Leandro Roque
DOM SEBASTIÃO VOLTOU
Luiz Inácio Lula da Silva tem como princípio não ter princípio, tanto moral, ético ou político.
O importante, para ele, é obter algum tipo de vantagem. Construiu a sua carreira sindical e política dessa forma. E, pior, deu certo. Claro que isso só foi possível porque o Brasil não teve - e não tem - uma cultura política democrática. Somente quem não conhece a carreira do ex-presidente pode ter ficado surpreso com suas últimas ações. Ele é, ao longo dos últimos 40 anos, useiro e vezeiro destas formas, vamos dizer, pouco republicanas de fazer política.
Quando apareceu para a vida sindical, em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, desprezou todo o passado de lutas operárias do ABC. Nos discursos e nas entrevistas, reforçou a falácia de que tudo tinha começado com ele. Antes dele, nada havia. E, se algo existiu, não teve importância. Ignorou (e humilhou) a memória dos operários que corajosamente enfrentaram - só para ficar na Primeira República - os patrões e a violência arbitrária do Estado em 1905, 1906, 1917 e 1919, entre tantas greves, e que tiveram muitos dos seus líderes deportados do País.
No campo propriamente da política, a eleição, em 1947, de Armando Mazzo, comunista, prefeito de Santo André, foi irrelevante. Isso porque teria sido Lula o primeiro dirigente autêntico dos trabalhadores e o seu partido também seria o que genuinamente representava os trabalhadores, sem nenhum predecessor. Transformou a si próprio - com o precioso auxílio de intelectuais que reforçaram a construção e divulgação das bazófias - em elemento divisor da História do Brasil. A nossa história passaria a ser datada tendo como ponto inicial sua posse no sindicato. 1975 seria o ano 1.
Durante décadas isso foi propagado nas universidades, nos debates políticos, na imprensa, e a repetição acabou dando graus de verossimilhança às falácias. Tudo nele era perfeito. Lula via o que nós não víamos, pensava muito à frente do que qualquer cidadão e tinha a solução para os problemas nacionais - graças não à reflexão, ao estudo exaustivo e ao exercício de cargos administrativos, mas à sua história de vida.
Num país marcado pelo sebastianismo, sempre à espera de um salvador, Lula foi a sua mais perfeita criação. Um dos seus "apóstolos", Frei Betto, chegou a escrever, em 2002, uma pequena biografia de Lula. No prólogo, fez uma homenagem à mãe do futuro presidente. Concluiu dizendo que - vejam a semelhança com a Ave Maria - "o Brasil merece este fruto de seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva". Era um bendito fruto, era o Messias! E ele adorou desempenhar durante décadas esse papel.
Como um sebastianista, sempre desprezou a política. Se ele era o salvador, para que política? Seus áulicos - quase todos egressos de pequenos e politicamente inexpressivos grupos de esquerda -, diversamente dele, eram politizados e aproveitaram a carona histórica para chegar ao poder, pois quem detinha os votos populares era Lula. Tiveram de cortejá-lo, adulá-lo, elogiar suas falas desconexas, suas alianças e escolhas políticas. Os mais altivos, para o padrão dos seus seguidores, no máximo ruminaram baixinho suas críticas. E a vida foi seguindo.
Ele cresceu de importância não pelas suas qualidades. Não, absolutamente não. Mas pela decadência da política e do debate. Se aplica a ele o que Euclides da Cunha escreveu sobre Floriano Peixoto: "Subiu, sem se elevar - porque se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou-se à frente de um país sem avançar - porque era o Brasil quem recuava, abandonando o traçado superior das suas tradições...".
Levou para o seu governo os mesmos - e eficazes - instrumentos de propaganda usados durante um quarto de século. Assim como no sindicalismo e na política partidária, também o seu governo seria o marco inicial de um novo momento da nossa história. E, por incrível que possa parecer, deu certo. Claro que desta vez contando com a preciosa ajuda da oposição, que, medrosa, sem ideias e sem disposição de luta, deixou o campo aberto para o fanfarrão.
Sabedor do seu poder, desqualificou todo o passado recente, considerado pelo salvador, claro, como impuro. Pouco ou nada fez de original. Retrabalhou o passado, negando-o somente no discurso.
Sonhou em permanecer no poder. Namorou o terceiro mandato. Mas o custo político seria alto e ele nunca foi de enfrentar uma disputa acirrada. Buscou um caminho mais fácil. Um terceiro mandato oculto, típica criação macunaímica. Dessa forma teria as mãos livres e longe, muito longe, da odiosa - para ele - rotina administrativa, que estaria atribuída a sua disciplinada discípula. É um tipo de presidência dual, um "milagre" do salvador. Assim, ele poderia dispor de todo o seu tempo para fazer política do seu jeito, sempre usando a primeira pessoa do singular, como manda a tradição sebastianista.
Coagir ministros da Suprema Corte, atacar de forma vil seus adversários, desprezar a legislação eleitoral, tudo isso, como seria dito num botequim de São Bernardo, é "troco de pinga".
Ele continua achando que tudo pode. E vai seguir avançando e pisando na Constituição - que ele e seus companheiros do PT, é bom lembrar, votaram contra. E o delírio sebastianista segue crescendo, alimentado pelos salamaleques do grande capital (de olho sempre nos generosos empréstimos do BNDES), pelos títulos de doutor honoris causa (?) e, agora, até por um museu a ser construído na cracolândia paulistana louvando seus feitos.
E Ele (logo teremos de nos referir a Lula dessa forma) já disse que não admite que a oposição chegue ao poder em 2014. Falou que não vai deixar. Como se o Brasil fosse um brinquedo nas suas mãos. Mas não será?
MARCO ANTONIO VILLA, HISTORIADOR, É PROFESSOR DA , UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)
sexta-feira, 15 de junho de 2012
OS IDIOTAS DA OBVIEDADE
Nelson Rodrigues costumava falar dos idiotas da obviedade ululante. Lembrei disso hoje ao ler os jornais em busca do tema para este comentário.
Logo de cara deparo com a constatação feita por estudo encomendado pelo próprio governo federal sobre o programa Bolsa Família. A mesada mensal estimularia, segundo a pesquisa, a permanência na informalidade.
Wau, como escreveria Paulo Francis. Quer dizer que pessoas reagem a incentivos? Quer dizer que os pobres preferem seguir trabalhando na informalidade para acumular o salário por fora e a mesada estatal? Não diga!
Em seguida, parto para o caderno de economia e vejo que a Petrossauro, como a Petrobras era chamada por Roberto Campos, anunciou seu novo plano de investimentos para o período de 2012 a 2016. Mais de R$ 400 bilhões serão investidos, sendo que a empresa tem valor de mercado menor que R$ 250 bilhões.
Quase 30% destes investimentos serão na área de refino, com baixa rentabilidade. Além disso, há a cláusula nacionalista na compra dos fornecedores, limitando a eficiência e prejudicando o cronograma. Por fim, a empresa é instrumento de política monetária do governo, e não aumenta os preços, mesmo com a alta do câmbio.
Resultado: queda de quase 4% das ações no dia do anúncio do programa de investimentos. A estatal já perdeu metade de seu valor desde 2009. Mais investimentos para gerar menor crescimento. Os investidores estão cansados e desanimados com a gestão estatal? Não diga!
Por fim, vejo no caderno de política que o PT e o PMDB blindaram Fernando Cavendish, o dono da Delta, na CPMI do Cachoeira. O dono da empresa que está no epicentro dos escândalos, considerada inidônea pelo próprio governo, simplesmente não será convocado para a CPMI. O deputado Miro Teixeira falou de uma “tropa de cheque” para impedir a ida do empresário, insinuando que há rabo preso por parte dos deputados e senadores.
A CPMI é uma farsa, montada por iniciativa do próprio PT e de Lula, para focar somente no governador do PSDB, na imprensa, no Procurador Geral da República e para desviar a atenção do julgamento do mensalão? A revista Veja estava certa, afinal? Não diga!
O Brasil é mesmo o país dos idiotas da obviedade. Para fechar com Nelson Rodrigues também, como é antigo nosso passado recente! Por:
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
AMOR À HUMANIDADE
A bandeira é diferente, a letra é diferente, mas a melodia é a mesma.
A bandeira agora é verde, em vez de vermelha. A letra da música também é outra. Mas a melodia continua exatamente a mesma.
Quando os vermelhos cantavam, a letra dizia que o indivíduo não podia ter liberdade porque o resultado seria "exploração", "monopólio" e depressões. Agora, quando são os verdes cantando, a letra diz que o indivíduo não pode ter liberdade porque o resultado será a destruição da camada de ozônio, chuva ácida, aquecimento global e, finalmente, para não dar margem para erros, mudanças climáticas. (Acrescente um coro extra para 'mudanças climáticas').
A melodia continua dizendo que o indivíduo não pode ser deixado livre, e complementa dizendo que ele não pode ser deixado livre porque sua busca pacífica pelo interesse próprio e por prosperidade irá, de alguma maneira, infligir danos a terceiros, e que apenas o governo, apontando armas para a cabeça destes ganaciosos, irá salvar o resto da humanidade de alguma apavorante calamidade.
Os criminosos vermelhos queriam controlar o sistema econômico para refrear os ímpetos individuais e, com isso, deixar as coisas da maneira que eles consideravam corretas. Os criminosos verdes querem controlar o ambiente, especialmente o clima, para refrear os ímpetos individuais e, com isso, deixar as coisas da maneira que eles consideram corretas.
Seguindo uma prática semelhante à dos feiticeiros que exortavam povos primitivos a sacrificar suas ovelhas e bodes com o intuito de aplacar a ira dos deuses, os ambientalistas de hoje e seus protetores na mídia e no meio acadêmico exortam os povos do mundo a sacrificar seu uso de energia e seu padrão de vida com o intuito de evitar a ira da deusa Terra e sua atmosfera. Esta ira supostamente virá em uma destas duas formas: uma nova era glacial (quem viveu a década de 1970 sabe o quão original é esta previsão) ou, caso esta não se concretize, um aquecimento global e um subsequente aumento no nível dos oceanos. E se aquecimento global e uma elevação de 30 a 90 centímetros no nível dos oceanos durante os próximos 100 ou 150 anos não se mostrar uma previsão suficientemente aterradora, então uma elevação de 4 a 6 metros no nível dos oceanos durante os vários séculos vindouros se torna a nova projeção, a qual, espera-se, irá finalmente apavorar os mais céticos. Ambas estas elevações nos níveis dos oceanos supostamente advirão de um aumento estimado de 4 graus na temperatura média global, e especificamente de 5 a 8 graus na temperatura média no Ártico.
Assim como os criminosos vermelhos não tinham a mínima ideia do que estavam fazendo, o mesmo se aplica aos criminosos verdes. Veja uma mensagem que recebi de um cavalheiro que defende a total proibição da emissão de dióxido de carbono com o objetivo de evitar o aquecimento global:
Uma das ironias do derretimento do Ártico é que tal fenômeno pode inverter a circulação termoalina oceânica e, com isso, interromper a corrente do Atlântico — o que pode levar a um acentuado resfriamento na Europa (que está mais ao norte do que os EUA), algo que parece já ter ocorrido no passado.
Eis aí um sujeito que nem sequer sabe se o aquecimento global que ele quer evitar a todo custo irá na realidade se revelar um resfriamento continental. Mas tal contradição, pelo visto, não faz com que ele tenha nenhuma dúvida em sua crença. Ele ainda jura saber o suficiente para mandar a polícia impedir as pessoas de agirem de acordo com o conhecimento que elas possuem acerca das melhorias que podem obter para si próprias ao produzirem e comprarem bens que por acaso emitam algum dióxido de carbono no ar. O conhecimento destas pessoas não vale de absolutamente nada. O supostamente superior conhecimento dos "cientistas" deve prevalecer — sempre apontando uma arma para os dissidentes.[1]
Nenhuma das previsões dos ambientalistas se baseia em qualquer tipo de experimento científico. E nem poderia. Um experimento científico iria requerer um laboratório contendo dois planetas idênticos, Terra 1 e Terra 2. Haveria apenas uma diferença entre eles: a população humana da Terra 1 efetua uma Revolução Industrial e ascende para o nível de padrão de vida e uso de energia do nosso mundo atual e seu provável nível de uso de energia para o próximo século. Em contraste, a população humana da Terra 2 não consegue avançar para além do uso de energia da Idade Média ou da era pré-industrial. Após serem criadas estas duas condições, os cientistas no laboratório observam que a temperatura média da Terra 1 excede a temperatura média da Terra 2 em 4 graus, e sua região Ártica, em 5 a 8 graus; e que o nível de seus oceanos sobe o número de metros acima especificado, ao passo que o nível dos oceanos na Terra 2 permanece inalterado.
Obviamente, não é assim que as projeções para a temperatura global e para o futuro nível dos oceanos são feitas hoje. As projeções atuais são obtidas combinando-se vários fragmentos de conhecimento científico com várias suposições arbitrárias, de modo que estas combinações são então jogadas em computadores que irão gerar resultados que nada mais são do que "modelagens computacionais". Suposições diferentes produzem resultados diferentes. A escolha de quais fragmentos de conhecimento científico serão incluídos nos modelos gera resultados diferentes. [Lembra-se do climatologista britânico Phil Jones admitindo fazer "truques" para obter os resultados desejados?] O processo é muito similar ao de um indivíduo com uma planilha eletrônica combinando várias fórmulas financeiras com várias suposições sobre taxas de lucro, períodos de tempo, alíquotas de impostos etc., e então gerando várias e diferentes projeções a sua renda quando estiver aposentado.
Imagine você sendo membro de um júri, com a responsabilidade de decidir a culpa ou a inocência de um réu, e recorrendo a modelos computacionais para chegar a um veredito. Você realmente crê que seria minimamente possível apresentar um veredito que cumpra o critério de "culpado sem qualquer sombra de dúvida"?
No entanto, este é justamente o calibre das evidências utilizadas pelos promotores ambientalistas para julgar a Civilização Industrial, declará-la culpada e condená-la à morte. Sim, a morte da Revolução Industrial e da Civilização Industrial. É exatamente esta a intenção de pessoas que dizem coisas como "temos de nos comprometer a um grande esforço para interromper boa parte das emissões de carbono para a atmosfera" — isto é, interromper o consumo de boa parte do, ou de todo o, petróleo, carvão e gás natural, desta forma jogando o mundo de volta à era pré-industrial.
'Civilização Industrial' não é um conceito solto e desincorporado. Trata-se do alicerce não apenas do bem-estar material, como também da própria vida da grande maioria das mais de 6 bilhões de pessoas que vive hoje no planeta. Sua destruição significaria o colapso da produção de alimentos e de remédios, e resultaria em fome e epidemias em escala literalmente global. Tal resultado geraria grande satisfação para aqueles ambientalistas que acreditam que reduzir a população atual para o mesmo número de indivíduos que viviam no mundo pré-industrial seria um arranjo mais desejável do que tolerar o atual número de habitantes do planeta.[2] Mas isso não traria nenhum conforto ou alegria para todos aqueles que terão de sofrer e morrer durante este processo, e que também terão de ver seus entes queridos igualmente sofrendo e morrendo. Tampouco traria conforto e alegria para os sobreviventes, que terão de viver suas vidas na mais abjeta pobreza e miséria.
Há júris que chegam a vereditos que desafiam toda e qualquer razão. A questão é: seria o júri formado pela opinião pública contemporânea mundial tão ignorante, tacanho e irracional a ponto de pedir uma totalmente injustificável pena de morte não apenas para a moderna Civilização Industrial, mas também, e inevitavelmente, para a esmagadora fatia da raça humana?
Esta é, afinal, a maneira como esta gente e seus defensores operam: apontando armas para pessoas em nome de algum bem coletivo mais elevado, proibindo o resto da humanidade de alcançar seus próprios desejos e aprimorar seu padrão de vida. Os rebeldes não poderão passar. Isto é socialismo. Isto é ambientalismo.
[1] Um ótimo e extremamente recente exemplo desta confusão mental foi-nos fornecido ainda ontem pelo indefectível Arnaldo Jabor, que opina sobre absolutamente tudo, sempre com elegância e desenvoltura. Veja este seu "editorial" e observe que, além de pedir explicitamente uma super-ONU para controlar a economia, ele ainda consegue o feito de apresentar uma conclusão que está em total disparidade com todo o seu raciocínio até então apresentado. E ele não parece se dar a mais mínima conta disso.
[2] Alusão esta explicitamente feita por Jabor no vídeo acima.
George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: http://www.capitalism.net/. Seu blog www.georgereisman.com/blog/.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
ENTRE O MEDO E A BAJULAÇÃO
Conta-se que Juscelino Kubitschek, no fim do seu governo, começou a distribuir cartórios, naquele tempo vitalícios e transmissíveis para os filhos, e, como sempre, máquinas de fazer dinheiro. No Congresso, parlamentares da velha UDN denunciavam essa farta distribuição aos amigos, quando um líder do PSD de JK respondeu: mas queriam o quê? Que distribuísse para os inimigos?
Capitalismo de amigos não é novidade, portanto. Mas temos outro tipo hoje, o do medo. Dia desses, o executivo de uma grande empresa brasileira, embora enraivecido com confusões feitas pelo Ministério da Fazenda com alíquotas de impostos, explicava por que não pretendia reclamar, muito menos brigar: os caras vão ficar muitos anos por aí.
Os caras são os do PT, claro. É verdade que o governo federal tem caras de muitos partidos, mas não há dúvida sobre quem manda. Precisa de mais uma prova?
Aqui, em dados divulgados nesta semana pela Justiça Eleitoral: no ano passado, sem eleições, o PT arrecadou nada menos que R$ 50,7 milhões com doações de empresas. Isso é 21 vezes superior à arrecadação do PSDB, o principal partido da oposição e que ainda pode ter alguma competitividade em eleições presidenciais. E mais: o PSDB detém governos em estados tão economicamente poderosos como São Paulo e Minas.
Conclusão: o federal vale 20 vezes mais que o estadual.
Normal, dizem. Algo assim: queriam o quê? Que os empresários dessem dinheiro para a oposição, abertamente, registrado na Justiça Eleitoral?
Por que não? Nos EUA, por exemplo, Obama, quando candidato da oposição, em 2008, arrecadou mais que seu adversário governista. Neste momento da campanha americana, Obama, agora presidente, ainda arrecada mais, mas o republicano Romney chega bem perto.
E não é só por aí que acontecem coisas anormais no Brasil. O governo federal e suas estatais contratam serviços de empresas, compram produtos e ainda emprestam dinheiro a juros favorecidos, sem contar a função tradicional do Estado de arrecadar impostos, aqui travestida do poder de escolher quem vai pagar mais ou menos.
Ter boas conexões com Brasília pode ser mais eficiente para uma empresa do que buscar competitividade no mercado. Entre os principais doadores do PT, estão companhias amplamente beneficiadas por contratos, regimes tributários especiais e empréstimos do governo.
Por outro lado, uma canetada da Fazenda, mudando impostos, pode eliminar ganhos de produtividade obtidos com investimentos em tecnologia e métodos.
Ou seja, é conveniente ser amigo dos caras. Se não der, convém ao menos não ser visto como adversário.
Reparem: não se trata de uma negociata do tipo "ou passa lá no balcão do PT (ou do PMDB ou do PP) ou não leva nada". Ninguém pode dizer que acontece assim no BNDES, no Banco do Brasil, nas compras da Petrobras ou nos gabinetes da Fazenda, para citar apenas os locais de decisões governamentais mais importantes.
Também não se pode dizer que a forte participação da administração federal e suas estatais seja uma novidade. O que é diferente é a mão pesada e o ativismo dos governos do PT. Isso vem especialmente desde o segundo mandato e está em franca escalada.
O governo Dilma intervém em todos os setores. Muda constantemente alíquotas de impostos, para diminuir e aumentar, altera regras do comércio externo, age sobre a taxa de câmbio e empresta mais dinheiro a juros favorecidos a grupos favorecidos. É um modelo oficial: o Estado manda, escolhe e indica onde as empresas devem trabalhar. A presidente dá lições a todos.
Cria-se uma teia de interesses, mas não de todos. São claramente favorecidos alguns setores, considerados pelo governo como os mais importantes para o país.
Daí os vícios. Primeiro, as escolhas de Brasília podem estar erradas, e frequentemente estão, como prova a História do Brasil recente, dos anos 70, no governo Geisel.
Segundo, o modelo distorce o comportamento dos agentes econômicos, que ficam entre o temor e a bajulação ao governo. Repararam na propaganda dos grandes bancos privados depois que levaram a bronca da presidente Dilma? Agradar o governo, fazer favores a seus membros, torna-se comportamento quase de sobrevivência.
Terceiro, mais importante, o modelo gera corrupção. Reparem: se a maior doadora para o PT é uma companhia amplamente favorecida pelo governo (a JBS), ainda que seja tudo legal, por que o diretor do terceiro escalão de um ministério não pode pedir dinheiro para seus projetos políticos e negócios pessoais?
Não é verdade que sempre foi assim no Brasil e que é assim pelo mundo afora. Acontece em muitos países, certo, mas não podem ser o exemplo que queremos. Nas democracias, o governo é submetido a regras que limitam o poder do governante de plantão - e, inversamente, garantem a liberdade e a autonomia dos cidadãos, em qualquer atividade, além da igualdade de oportunidades.Por: Carlos Alberto Sardenberg, O GLOBO
quarta-feira, 13 de junho de 2012
ESTAMOS FICANDO SEM COMIDA?
Paul Krugman escreveu no The New York Times, de 7 de abril, que há uma escassez de comida no mundo, acompanhada de preços galopantes. Por causa disso, as pessoas pobres da África e de outros lugares estão famintas. Ele sugere que isso aconteceu principalmente pelas seguintes razões:
nova demanda por comida por parte da China
alta do preço do petróleo
tempo ruim em importantes áreas agrícolas (principalmente na Austrália)
redução de terras cultiváveis disponíveis para o plantio de alimentos - em prol do cultivo de biocombustíveis, com o propósito de fornecer fontes alternativas e (dizem) ambientalmente limpas, como o etanol
A solução que Krugman aponta para esses problemas é que entreguemos mais do nosso dinheiro para o governo, para que assim ele possa resolver o problema que o mercado é aparentemente incapaz de solucionar.
Agora, vamos ver o verdadeiro cenário:
Independente de alguém achar que os fatores listados acima têm um papel importante na escassez mundial de alimentos, existem de fato dois fatores de primordial importância relacionados aos custos e à escassez de alimentos, e Krugman não os menciona e talvez nem saiba deles.
Primeiro: a causa essencial de qualquer escassez é a ausência de um livre mercado, já que uma verdadeira escassez não tem como surgir em um ambiente de genuíno livre mercado. Ao contrário, mesmo que os preços dos bens aumentassem quando a oferta começasse a se reduzir, ainda assim esses bens em questão estariam sempre disponíveis a algum preço - e quanto mais alto fosse esse preço, mais a oferta aumentaria para se igualar à demanda, o que iria obviamente reduzir os preços. Se tivéssemos um livre mercado mundial, os alimentos seriam exportados de alguns países, como os EUA e a Europa, onde a comida é abundante, para os países onde ela está em falta. Isso aconteceria porque seria lucrativo enviar bens para áreas necessitadas como a África, onde escassezes estariam fazendo os preços subir.
O fato de isso não estar acontecendo agora só pode ser resultado de controles de preços feitos pelo governo (o que impede os preços de subirem nos países necessitados), de restrições comerciais, ou de alguma outra barreira governamental que impede as pessoas de conseguir o que elas querem. O Banco Mundial citou uma lista de 21 países que adotam controle de preços sobre artigos básicos. Todos nós nos lembramos das histórias sobre pessoas famintas na Etiópia na década de 1980, quando 3 milhões de pessoas estavam sofrendo de inanição. O que ninguém falou era que havia 60 milhões de pessoas na Etiópia na mesma época que não foram afetadas pela fome. O transporte de comida de uma parte do país, onde ela era abundante, para outra parte, afetada pela seca, foi impedida por um conflito entre o governo e grupos rebeldes perto da área castigada pela seca. Os incentivos econômicos foram inibidos por várias ações governamentais, como a retenção forçada de suprimentos de comida (para que os soldados rebeldes não tivessem acesso aos suprimentos), o controle de preços, o banimento em grande parte do país da venda de grãos por atacado, e a proibição da venda privada de produtos ou maquinarias agrícolas. Uma situação similar ocorreu no Zimbábue no início da década de 2000. O economista indiano Amartya Sen ganhou o Prêmio Nobel ao demonstrar que a maioria dos casos de fome é causada não pela escassez de comida, mas pelas intromissões imprudentes dos governos no funcionamento dos mercados.
O segundo fator que Krugman não menciona é que os altos preços dos alimentos são uma manifestação da atual inflação mundial de preços. Os governos de todos os países vêm imprimindo dinheiro a taxas muito altas nessa década. Enquanto que os EUA vêm expandindo sua oferta monetária a "apenas" 10-15% ao ano, muitos países têm impresso dinheiro a taxas que excedem 50 por cento ao ano. Esse dinheiro criado do nada, que até então estava em grande parte contido no mercado de ações, agora se espalhou para o mercado de commodities, de onde se derivam os preços dos alimentos. Dessa forma, como o dinheiro está agora sendo criado mais rapidamente do que alguns bens, os preços estão subindo.
Como outro exemplo desse fenômeno do aumento de dinheiro exceder o aumento da oferta de bens, podemos citar o aumento do preço do petróleo. Apesar de a imprensa e outros fóruns públicos atribuírem esse fenômeno à especulação, à ganância das empresas petrolíferas e ao aumento da demanda por petróleo por parte da China, a verdadeira causa é a crescente disparidade entre o dinheiro disponível e o petróleo disponível. Seguindo esse raciocínio, o aumento abrupto e generalizado dos preços - como o aumento dos preços dos imóveis, das ações e títulos, do petróleo, do ouro, das commodities, dos alimentos, etc. que vimos nessa década - seria matematicamente impossível caso não tivesse havido um aumento da oferta de dinheiro circulando na economia mundial. De fato, se a oferta de bens estivesse aumentando, como de fato está, e se ao mesmo tempo a quantidade de dinheiro tivesse permanecido estável, os preços obrigatoriamente iriam cair.
Mas não tenha dúvidas: por várias razões fundamentais ligadas à produção, à oferta e à demanda, há uma carência na oferta de algumas commodities em relação ao aumento da demanda real por elas. Ainda assim, essa carência de oferta não é a causa nem da ocorrência de escassezes nem do aumento extremado do preço mundial dos alimentos (mais de 80 por cento em três anos). Ademais, apesar de a produção de muitas commodities, como o trigo, estar estagnada ou mesmo declinante ao longo dos últimos anos, outras commodities tiveram aumentos contínuos em sua produção; outros grupos alimentícios como cereais, frutas, semoventes, peixes e frutos do mar tiveram sua oferta aumentada. Dados da The Food and Agriculture Organization, órgão da ONU, mostram que tanto a produção agrícola como a produção alimentícia per capita aumentaram continuamente desde 1990, e permaneceram estáveis desde 2000.[1] Em comparação, os preços das commodities estão subindo desde 1999.
Agora, de volta ao artigo de Krugman, podemos ver que as razões que ele cita para a escassez de alimentos e para o aumento de preços são ilógicas. Por exemplo, "nova demanda" por comida por parte da China teria necessariamente resultado não apenas nos próprios chineses produzindo mais comida para satisfazer esta demanda, mas também no resto do mundo fazendo o mesmo. (Na realidade, a China aumentou sua produção agrícola per capita em 22 por cento desde 2000). Dá realmente para imaginar que produtores mundiais de comida não teriam percebido essa demanda e tentado obter lucros satisfazendo-a? De fato, eles perceberam essa demanda e, desde então, vêm produzindo mais comida. A população chinesa está aumentando em apenas meio por cento ao ano. Como, então, poderiam os chineses repentinamente passar a necessitar 30 por cento a mais de comida por ano, em anos recentes? Mais ainda: como eles poderiam pagar por ela, mesmo se eles de fato tivessem esse desejo de mais comida?
Como um conceito, a palavra "demanda" é propensa a uma má interpretação porque usamo-la de várias maneiras diferentes. Eu posso ter uma demanda (desejo) por uma casa no sul da França para poder ter um lugar para ancorar o iate que eu também demando (desejo). Nesse caso, "demanda" é algo sem conseqüência porque eu não tenho os meios pelos quais pagar por esses itens. Uma demanda real pode afetar os preços apenas se houver um verdadeiro poder de compra, na forma de dinheiro, para apoiar essa demanda. Os consumidores chineses não podem demandar e, logo, pagar por um aumento do consumo de comida se não tiverem mais dinheiro, que só pode chegar ao bolso deles após ter sido impresso pelo seu banco central. Eles podem, de fato, ter um aumento efetivo da demanda real se produzirem mais bens e utilizá-los para pagar por mais comida, mas isso faria reduzir os preços, não aumentá-los.
Para ser claro, não são as empresas para as quais as pessoas trabalham que estão produzindo o dinheiro, pois as empresas não produzem o dinheiro com o qual elas pagam os salários de seus funcionários; elas produzem apenas bens. Para que as empresas tenham mais dinheiro (isto é, vender seus bens a preços maiores do que os do último ano) e possam, assim, pagar mais em termos salariais para seus funcionários, mais dinheiro deve ser criado pelo seu governo na forma de expansão creditícia.
Portanto, se houvesse de fato toda essa nova demanda por comida na China, como Krugman alega - e supondo-se que a quantidade de dinheiro circulando na economia fosse constante -, teria de haver necessariamente uma redução na demanda e nos preços de outros bens. Portanto, os chineses poderiam muito bem estar consumindo mais comida, mas esse aumento do consumo não seria o responsável pelo aumento (absoluto) dos preços e da escassez.
O que falar, então, sobre o tempo ruim? Não há dúvidas que condições meteorológicas adversas podem ter um papel importante no curto prazo. Mas, no longo prazo, se a Austrália sofre com um tempo ruim, mesmo que por cinco anos seguidos, outros países poderiam e iriam acelerar sua produção e aumentar a oferta. Como um exemplo, mais terra nos EUA seria convertida em plantações agrícolas. Uma escassez de comida em um país iria causar um aumento mundial nos preços temporariamente; mas o resultado disso, em uma situação de livre comércio, seria um aumento na produção e na oferta em outros países, o que iria derrubar novamente os preços. É possível que a ausência de um livre mercado tenha impedido isso de acontecer, mas é certo que a livre oferta e demanda iria impedir a possibilidade de uma emergência global.
Se houvesse condições meteorológicas ruins na maioria das regiões do mundo ao mesmo tempo, a oferta de comida iria de fato declinar, e os preços aumentariam. Mas em um livre mercado ainda assim não haveria escassez. E em um mundo onde a oferta de dinheiro é imutável, esse efeito seria temporário, já que os preços cairiam quando a oferta posteriormente aumentasse. Novamente, assim que o preço dos alimentos subisse, o preço de outros bens teria de cair. Um aumento sustentável dos preços de todos os bens só é possível quando há dinheiro novo sendo injetado na economia mundial.[2]
Quanto ao último argumento de Krugman, o de que as terras cultiváveis estão agora sendo usadas para o cultivo de matéria-prima para os biocombustíveis, trata-se de um ponto de interrogação. Em um livre mercado, se houvesse uma escassez de alimentos e se os inerentemente altos preços desses alimentos escassos enviassem um sinal ao mercado, a terra que estivesse sendo usada para qualquer outro item - biocombustíveis, estacionamentos, salas de cinema, casas, ou o que seja - seria convertida para usos agrícolas.
Se tivéssemos uma escassez sustentada de alimentos nos EUA, por exemplo, isso é o que iria ocorrer. De fato, a agricultura costumava representar 50 por cento do PIB no início do último século, mas hoje ela representa menos de um por cento. O uso da terra foi alterado para poder satisfazer mudanças na demanda. Mas se precisássemos de comida, poderíamos e iríamos expandir a agricultura novamente para aquele nível de 50 por cento. Em uma escala mundial, à medida que os preços dos alimentos subissem, a terra seria convertida para o uso mais lucrativo do plantio de alimentos ao invés do menos lucrativo cultivo de matéria-prima para biocombustíveis.
Apenas se os subsídios governamentais fossem altos o bastante para obscurecer esses sinais de mercado, ou se o governo obrigasse as companhias de energia a comprar matéria-prima (sendo que ambos esses casos ocorrem nos EUA), apenas assim a estrutura da produção agrícola poderia ser deformada de tal modo que não pudesse haver essa resposta de mercado. Similarmente, se o desenvolvimento de áreas agrícolas se tornou difícil por causa de regulamentações governamentais - como, por exemplo, para se proteger os atuais agricultores, que têm um lobby poderoso -, um aumento da produção torna-se algo bem mais problemático.
Em suma, a real causa do contínuo aumento dos preços dos alimentos é a impressão de dinheiro por parte dos governos por todo o mundo. E a real causa da atual escassez de alimentos é o impedimento do lucrativo comércio global de alimentos por causa das imprudentes políticas governamentais dos governos dessas mesmas pessoas que hoje estão famintas. Quaisquer outros motivos que expliquem uma redução da oferta a um nível maior do que o temporário só existem porque os governos impedem os mercados de funcionar.
Ignorar esses principais determinantes da atual escassez alimentícia do mundo significa propositadamente repudiar a lógica econômica - ou simplesmente ser ignorante em relação a ela.
______________________________
Notas
[1] Os dados vão até 2006.
[2] Alguém poderia argumentar que o fato de os preços dos alimentos estarem subindo mais rapidamente do que os preços de outros bens é uma revelação dessa exata ocorrência nesse nosso mundo de quantidades crescentes de dinheiro. Ou seja, isso refletiria diferenças relativas de preços. Esse efeito da diferença relativa de preços provavelmente está lá, mas este autor argumentaria que esse efeito explicaria apenas uma pequena porção da diferença relativa de preços. O efeito de um boom creditício ser canalizado para os mercados de commodities em geral será provavelmente o efeito predominante das diferenças de preço. Dizer que o efeito da diferença de preços relativos explica grande parte, ou toda a diferença de preços, requereria uma explicação de como os preços das ações e os preços imobiliários podem aumentar tão desproporcionalmente mais rápido do que outros bens normais por causa de uma redução na oferta, quando na verdade os preços aumentaram e a oferta sempre foi abundante. Em outras palavras, um aumento de preços acontece a todo o momento em outras áreas onde a oferta não é limitada.
Kel Kelly foi, durante 13 anos, corretor de Wall Street, analista de finanças e diretor de pesquisa para uma empresa de consultoria de organização listada na Fortune 500. Os resultados de suas análises financeiras já foram apresentados na CNBC Europa e nas edições online da CNN, Forbes, BusinessWeek e Wall Street Journal. Kel é formado em economia pela Universidade do Tennessee, possui MBA pela Universidade de Hartford e mestrado em economia pela Florida State University. Mora em Atlanta e é autor do livro The Case for Legalizing Capitalism.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
DESCUBRA SE VOCÊ É UM PROTECIONISTA MERCANTILISTA
No século XVIII, a maioria dos países recorria a tarifas de importação como sua principal fonte de receita. Sendo a maior fonte de receita em uma época em que não havia imposto de renda — ou cuja coleta era muito difícil e complicada —, tarifas de importação faziam sentido do ponto de vista puramente tributário.
Mas os tempos passaram e vivemos hoje em uma época totalmente diferente. Tarifas de importação não mais são vistas como um mero instrumento de arrecadação. Hoje, sua função é bastante diferente. Tarifas sobre bens importados são ferramentas eficazes para se subsidiar aliados políticos, proteger empresários favoritos e, com isso, se praticar o capitalismo de estado — ou o mercantilismo.
Tarifas são impostos sobre a venda de bens importados. O protecionista mercantilista sabe que impostos mais altos sobre a venda de bens importados representam um subsídio às empresas nacionais. Por quê? Porque eles impedem que os estrangeiros possam utilizar preços baixos para concorrer contra a indústria nacional.
O protecionista, como todo mercantilista, quer reduzir a variedade de opções disponíveis para os consumidores nacionais. Ele quer subsidiar a indústria nacional permitindo que ela cobre preços mais altos do que aqueles praticados por produtores estrangeiros sem que isso acarrete consequências negativas para ela. A justificativa é que tal política irá enriquecer a nação.
Um mercantilista é o filósofo supremo do capitalismo de estado. O protecionismo é o filho bastardo do estado do estado intervencionista keynesiano. O keynesianismo é uma filosofia sobre gastos estatais criativos e mágicos e sobre endividamento público infinito. Assim como o mercantilismo.
Enriquecer uma nação por meio do aumento da tributação de seus consumidores é uma ideia estranha: "Tribute mais e enriqueça". Se você acha que isso soa a keynesianismo é porque é keynesianismo.
Aprovar leis contra pessoas que querem apenas fazer uma transação voluntária de bens é um ato de restrição ao comércio. Por que uma nação enriqueceria restringindo o comércio? Qual é a lógica de dizer que enviar um sujeito com uma arma e um distintivo com a tarefa de impedir que as pessoas voluntariamente comercializem com quem elas quiserem — por crerem que isso irá melhorar suas vidas — é uma atitude que aumentará a riqueza da nação? A ideia de maior riqueza não pressupõe a ideia de maiores oportunidades de comprar mais coisas do que antes? Sendo assim, como as pessoas estariam mais ricas com o governo deliberadamente restringindo o número de bens que elas podem comprar?
Protecionistas mercantilistas negam que a maior riqueza de um país esteja diretamente ligada à sua maior liberdade comercial. Eles argumentam o contrário: "Oportunidades reduzidas são as bases da riqueza. Quanto menos oportunidade você tiver para comercializar, mais rico você estará."
Se isso parece idiotice é porque é uma idiotice. Mas trata-se de uma idiotice amplamente disseminada e defendida, especialmente por intelectuais e membros da academia.
Estes mesmos também argumentam que, quanto mais impostos o governo coletar, mais rico o país ficará. De novo, você pode pensar que isso soa a keynesianismo. E é keynesianismo.
Combatendo a tirania com mais tirania
O mais incrível sobre os protecionistas mercantilistas é que eles são completamente impermeáveis à lógica econômica. Eles amam burocratas com armas e distintivos. Eles estão convencidos de que armas e distintivos são a base do crescimento econômico e da riqueza para todos. Eles realmente creem que, se o governo enviar um número razoável de burocratas com armas e distintivos para confiscar a riqueza alheia via impostos sobre bens importados, a nação ficará mais forte, mais rica e mais livre. Eles acreditam que mais impostos e menos liberdade de escolha tornam um país mais próspero.
Recentemente, recebi um email de um leitor que, embora não conheça, posso afirmar ser um protecionista mercantilista inveterado. Seu argumento é o preferido — aliás, o único — de todos os protecionistas ao redor do mundo. Eis um trecho:
Parece-me que o senhor, ao defender o livre comércio, ignora por completo o "conceito de nação" ou o nacionalismo. A questão não é que nossas indústrias sejam menos eficientes do que as indústrias estrangeiras; elas não são. O problema é que o governo impõe a elas uma carga tributária tão grande que faz com que elas passem a ser "ineficientes" contra a concorrência estrangeira. É o governo quem impõe "ineficiência" à indústria nacional. Portanto, para deixar as coisas com um maior nível de igualdade, o governo teria de remover estes fardos artificiais que ele criou. Mas enquanto isso não for possível, ele tem sim de impor tarifas iguais sobre os produtos estrangeiros para poder reequilibrar a situação.
Permita-me resumir o argumento do cavalheiro. (1) A indústria nacional não é ineficiente. (2) Ela é oprimida pelo governo, que a sobrecarrega de impostos. (3) Portanto, precisamos de um governo ainda maior, ainda mais intrusivo e com ainda maiores poderes tributários para retirar o fardo do governo sobre as indústrias.
Faz sentido? Ele é um protecionista mercantilista. Como todos os protecionistas mercantilistas, ele não consegue pensar direito. Ele adotou a ideia de que, ao se dar ainda mais poderes para o governo federal, os cidadãos poderão, magicamente, sobrepujar os efeitos de um governo federal muito poderoso. E ele defende tudo isso em nome do nacionalismo ou do "conceito de nação". (Clique aqui apenas se o seu estômago for resistente).
A seguir, apresentarei a você, leitor, um teste. Veja se você é um protecionista mercantilista. Se você não for capaz de seguir o raciocínio abaixo, você é um protecionista mercantilista.
Este Lado e Aquele Lado
Você mora de um lado da rua. No outro lado da rua mora João. João quer vender para você um item que você quer comprar.
Silva, seu vizinho de porta — e que, portanto, mora no mesmo lado da rua que você —, também vende um item parecido com este que João vende. Mas este item de Silva custa 20% mais caro.
Silva se aproxima de você e lhe diz que, pelo bem do "lado de cá" ou em nome do "conceito Deste Lado", temos de impor um imposto sobre vendas de pelo menos 25% sobre o item vendido por João. Afinal, não queremos perder a riqueza que há Deste Lado da Rua. Sem um imposto sobre a mercadoria de João, Aquele Lado irá ampliar sua presença Neste Lado.
Você rejeita a sugestão de Silva como sendo totalmente absurda e sem sentido. Você gosta do produto sendo vendido por João. É elegante. É barato. É um bom negócio. "Sai da minha frente, Silva." (Sempre que você compra algum bem, você está na realidade falando para todos os outros vendedores saírem da sua frente).
Silva, ao constatar que você é teimoso, irá atrás de Bruno, seu outro vizinho de porta, e irá alertá-lo sobre a terrível ameaça representada por Aquele Lado sobre o estilo de vida aqui Deste Lado. Ele não irá mencionar você, é claro. Ele está apenas defendendo Este Lado em nome da verdade, da justiça e do modo de vida Deste Lado.
Após isso, Silva vai para outra casa mais ao lado e destila a mesma cantilena para Pedro. Ele sugere que Pedro e Bruno se juntem a ele para aprovar uma lei impondo um imposto de 25% sobre a venda do produto de João. Se esta lei for aprovada, promete Silva, Este Lado será mais rico. Este Lado será mais forte. Este Lado será mais livre.
E a lei, então, é democraticamente aprovada. Ato contínuo, eles nomeiam um sujeito chamado Peçanha para impingir esta nova lei. Peçanha tem um distintivo. Peçanha tem uma arma. Peçanha se aproxima de você e o alerta que, se você comprar o item de João sem pagar uma tarifa de 25% para Este Lado, ele irá multá-lo em bem mais do que 25%. Ele defende Este Lado com grande entusiasmo, dado que a alternativa a este emprego tranquilo e poderoso seria a iniciativa privada. E ele jamais se saiu bem no setor privado — característica esta que ele compartilha com Silva.
Bruno irá agora comprar de Silva. Pedro também irá comprar de Silva. E Peçanha, que não tinha um emprego em tempo integral há anos, também está muito contente em comprar de Silva.
Como é que Este Lado está mais rico?
Por que as palavras "Este Lado" tornam você mais rico? Como é que o "conceito Deste Lado" faz de você alguém mais rico?
Qual é a mágica que a linha invisível que divide Este Lado e Aquele Lado faz, em termos econômicos?
Se você é um protecionista mercantilista, linhas invisíveis têm total sentido econômico. Elas representam uma oportunidade de se subsidiar seus agentes econômicos favoritos. Elas são uma desculpa perfeita para se praticar o capitalismo de estado, algo muito eficaz em uma democracia.
Os protecionistas mercantilistas protestam
"Olha só", diz o protecionista mercantilista. "Você está apenas tentando me ridicularizar com toda esta conversa sobre Este Lado e Aquele Lado".
E eu retruco: "Estou ridicularizando a lógica da sua posição. Você crê que uma linha invisível passando no meio da rua é algo economicamente relevante. Eu não."
Ele responde: "Eu não estou dizendo que uma linha invisível passando no meio da rua é economicamente relevante."
Eu respondo: "Você está dizendo que a linha invisível que contorna as bordas do país é economicamente relevante".
Ele responde: "Mas esta linha é sim economicamente relevante!"
Eu pergunto: "Por quê?"
Ele responde: "Porque as pessoas do outro lado daquela linha devem ficar do lado de lá da linha."
"Ok", eu respondo. "Mas e se eu contratar um intermediário daqui para ir até o outro lado da linha e me trazer alguns itens pelos quais estou pagando? O cara do outro lado da linha invisível continua do lado de lá, sem lhe incomodar."
"Não, não, não", se irrita o protecionista. "Aquela linha invisível é diferente. Ela defende a soberania e o Conceito de Nação".
Eu pergunto: "O que é 'Conceito de Nação'?"
Ele responde: "Este Lado — em grande estilo e escala."
Portanto, estamos discutindo sobre o tamanho da linha e a posição geográfica da linha. Mas o que o comprimento da linha e sua posição geográfica têm a ver com eu ter de pagar um imposto sobre a compra de uma mercadoria?
O protecionista, um pouco mais exasperado, diz: "Não entendo aonde você quer chegar. Enquanto você fica aí falando um monte de teoria incompreensível, tudo o que estou fazendo é defender o Conceito de Nação."
Protecionistas mercantilistas criam um termo em maiúsculas e pensam que apresentaram um argumento econômico lógico: "Conceito de Nação". Porém, quando eu também crio um termo em maiúsculas — "Este Lado da Rua" —, o protecionista mercantilista imagina que estou tentando confundi-lo.
Protecionistas se confundem facilmente.
O livre comércio nos deixa mais pobres
O remetente do email não se contentou apenas em invocar o conceito de nação. Ele veio destruindo. Ele invocou o antiquíssimo argumento mercantilista: "A liberdade de escolha nos deixa mais pobres; impostos sobre vendas nos tornam mais ricos". É óbvio que eles nunca utilizam o termo "liberdade de escolha". Isso explicitaria aquilo que eles querem aniquilar. Sendo assim, eles utilizam o termo "livre comércio". Ele escreveu:
O "livre comércio" gera, como efeito de longo prazo, a redução do nosso padrão de vida, de modo que, com o tempo, ficamos iguais a todo o resto do mundo. Não seria um objetivo nacional válido manter um elevado padrão de vida para nosso povo enquanto isso for possível?
Ele é o Silva. Ele olha para o outro lado da rua e vê João. Ele treme de medo. Ele vai até Bruno e diz isso:
O "livre comércio" gera, como efeito de longo prazo, a redução do nosso padrão de vida, de modo que, com o tempo, ficamos iguais a todo o resto do mundo. Não seria um objetivo válido para Este Lado da Rua manter um elevado padrão de vida para nosso povo enquanto isso for possível?
Bruno não está muito convencido. Ele olha para João e pensa: "Eu não ligo se João é rico ou pobre. Eu realmente gostaria de adquirir um daqueles produtos que ele vende. O preço é bom." Ato contínuo, Silva aumenta a pressão:
João explora os pobres. Os trabalhadores Daquele Lado são escravos. Eles não conseguem empregos que paguem salários decentes. É por isso que João consegue vender seus produtos a preços baixos. Você não quer ficar igual àqueles trabalhadores explorados, quer?
Bruno pensa um pouco mais a respeito deste raciocínio. E então tem uma ideia:
Temos de dar a todos aqueles trabalhadores escravizados uma chance de melhorarem suas vidas. João precisa de um pouco de concorrência. Por que não investimos algum dinheiro nos concorrentes de João? Desta forma, o concorrente poderá oferecer melhores salários.
Silva fica horrorizado com esta ideia. Ele já tem problemas demais apenas lidando com João.
Não, não, não. Isso faria com que todos aqueles trabalhadores vislumbrassem, ainda que de leve, uma vida melhor. E isso pioraria ainda mais a vida deles: o desapontamento. Eles não estão preparados para aumentos salariais. Eles precisam de mais tempo. A melhor coisa que podemos fazer é não nos tornarmos iguais a eles. Temos de fechar as fronteiras para todos os bens produzidos por escravos. Nosso objetivo não é reduzir a escravidão Daquele Lado. Nosso objetivo é preservar nossa liberdade Neste Lado.
Bruno fica pensativo. "Como você define liberdade?"
Silva responde:
Liberdade é o direito de cada homem Deste Lado se juntar ao vizinho e impor aumento de tarifas sobre bens produzidos Daquele Lado. Esta é a única maneira de continuarmos sendo prósperos.
Bruno pensa um pouco mais a respeito. "Então a melhor maneira de preservarmos nossa riqueza é limitando nossas escolhas." Silva diz que é isso aí.
Bruno tenta se aprofundar em seu raciocínio. "Então o caminho para a liberdade é reduzir as escolhas." Silva o assegura de que é exatamente isso.
"Sendo assim", diz Bruno, "a melhor maneira de não nos tornarmos escravos com poucas escolhas é criando leis que reduzam nossas escolhas."
Silva tem sérios problemas em seguir argumentos lógicos, mas até mesmo ele é capaz de sentir que a coisa está desandando e indo perigosamente para o lugar errado, muito embora ele não consiga saber exatamente para onde. Ele apenas sente que não quer prosseguir neste caminho. Sendo assim, ele muda sua linha de raciocínio. "Você tem de defender sua renda como trabalhador."
Bruno completa: "Restringindo minhas escolhas como consumidor."
Silva diz: "É isso aí, exatamente. E você também deve limitar as escolhas de todos os outros cidadãos consumidores."
Bruno diz: "Então, a melhor maneira de manter minha renda como produtor é reduzindo o número de vendas que as pessoas Daquele Lado podem me fazer, e também reduzindo o número de vendas que eu posso fazer para as pessoas Daquele Lado."
Silva responde: "Não se preocupe quanto à redução de vendas para Aquele Lado. Eles são todos um bando de escravos."
Bruno pergunta: "E por que eles são escravos?"
Silva tem a resposta certa: "Porque eles passaram a vida toda seguindo ordens dadas por pessoas com armas e distintivos."
Conclusão
O leitor seguiu meu raciocínio? Se sim, você provavelmente não é um protecionista mercantilista.
O leitor concorda com meu raciocínio? Se sim, então você definitivamente não é um protecionista mercantilista.
Protecionistas mercantilistas não gostam de argumentos econômicos que sejam claros. Eles consideram a clareza argumentativa um truque para confundir incautos. Eles creem que qualquer argumento que evolua passo a passo até uma conclusão é inerentemente inconfiável.
Eles preferem termos populares e de fácil apelo, os quais os levam a clamar por tarifas em nome da defesa destes termos por eles inventados. Tudo se resume a "Este Lado" e "Aquele Lado". Eles temem que o comércio com pessoas Daquele Lado irá nos empobrecer.
Um protecionista acredita que, se alguém na China descobrisse a cura para o câncer, a única maneira de proteger os cidadãos de seu país contra a concorrência desleal e a inevitável pobreza que isso geraria seria impondo uma tarifa de pelo menos 50% sobre a importação deste remédio. "Temos de dar ao nosso povo a chance de concorrer", diz ele. Não aos compradores da cura do câncer, é claro. Aos vendedores.
Se você acha que isso é um argumento ignaro, você não é um protecionista mercantilista. Você não crê que armas, distintivos e tarifas sobre importações tornam as pessoas de um dos Lados da linha invisível mais ricas. Mas tais coisas de fato tornam algumas pessoas mais ricas: (1) produtores ineficientes que podem agora vender a preços mais altos e não ir à falência em decorrência da perda de consumidores, e (2) pessoas que usam distintivos e carregam armas como meio de vida. Se você acha que estes dois grupos são devotos do "capitalismo de estado" e nada mais são do que "extorsores assalariados", você acertou a classificação das categorias.
Se você quer uma imagem visual, pense nas palavras de Don Corleone: "Fiz uma proposta que ele não podia recusar". Pense também no sujeito que acordou em sua cama ao lado de uma cabeça de cavalo decepada. Isso é o protecionismo mercantilista.
Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website.
UM ATO DE DESESPERO
A partir de 1.º de agosto, o ex-presidente do PT, ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e corrupção ativa. Pelo primeiro delito, poderá ser condenado a até três anos de prisão. Pelo segundo, a até 12. O então procurador-geral da República que o denunciou ao Supremo em 2005, Antonio Fernando de Souza, apontou Dirceu como "chefe da quadrilha" ou da "sofisticada organização criminosa" que produziu o mensalão, a compra sistemática de apoio de deputados federais ao governo Lula. A denúncia ao STF foi aceita por unanimidade. No ano passado, o atual procurador, Roberto Gurgel, ratificou o pedido de condenação de Dirceu e de 35 outros réus (dos 40 citados da primeira vez, 1 faleceu e outro fez acordo para ser excluído do processo; para 2 outros, um dos quais, Luiz Gushiken, colega de Dirceu no Ministério, Gurgel pediu a absolvição.
Dirceu alega inocência e se diz alvo histórico do "monopólio da mídia". A imprensa desejaria vê-lo destruído não pelos seus atos no governo Lula, mas pelo que decerto ele considera ser o conjunto da sua obra como o maior líder revolucionário socialista do Brasil contemporâneo, uma espécie atípica de Che Guevara que não fez guerrilha, escapou de ser eliminado e chegou ao poder graças à democracia burguesa. O julgamento que o aguarda, disse dias atrás aos cerca de mil estudantes presentes ao 16.º Congresso Nacional da União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B, no Rio, será a "batalha final". Desde os tempos da militância estudantil, ele sempre se teve em alta conta. "Batalha final" é não só uma expressão encharcada de heroísmo, que pode ser usada da extrema direita à extrema esquerda, mas é consanguínea da "luta final" dos "famélicos da terra", nas estrofes da Internacional, o célebre hino revolucionário francês de 1871.
Do alto de sua autoestima e na vestimenta de vítima que enverga, até que faria sentido ele propagar que o julgamento no STF representará o momento culminante do confronto de proporções épicas que nunca se furtou a travar em defesa de seus ideais. Mas a arena que ele tem em mente é outra - e outros também os combatentes. "Essa batalha deve ser travada nas ruas também", conclamou, "se não a gente só vai ouvir uma voz pedindo a condenação, mesmo sem provas (a dos veículos de comunicação)." Em outras palavras, se a Justiça está sob pressão da mídia para condená-lo, que fique também sob pressão do que seria a vanguarda dos movimentos sociais para absolvê-lo. Se der certo, a voz do povo falou mais alto. Se não der, o veredicto da Corte está desde logo coberto de ilegitimidade, como se emanasse de um tribunal de exceção.
Em 2000, dois anos antes da primeira eleição de Lula, Dirceu conclamou o professorado paulista a "mais e mais mobilização, mais e mais greve, mais e mais movimento de rua", porque eles - os tucanos como o governador Mário Covas - "têm de apanhar nas ruas e nas urnas". Pouco depois, no dia 1.º de junho, o governador, já debilitado pelo câncer que o mataria no ano seguinte, foi covardemente agredido por manifestantes diante da Secretaria da Educação, no centro de São Paulo. Depois, Dirceu quis fazer crer que não incentivara o ataque: foi tudo "força de expressão". Não há, portanto, motivo para surpresa quando ele torna a invocar "as ruas". Na sua mentalidade ditatorial - em privado, desafetos petistas já o qualificaram de "stalinista irrecuperável" -, ele se esquece até do dito marxista de que a história se repete como farsa.
Como já se lembrou, o então presidente Collor conclamou a população a protestar contra a tentativa de destituí-lo. A população, especialmente os jovens, aproveitou para pedir o seu impeachment. Como também já se lembrou, hoje em dia os jovens nem sequer saem de casa em defesa de bandeiras mais nobres, a começar pelo repúdio à impunidade dos corruptos, que dirá para assediar o STF no caso do principal réu de um caso de corrupção comparável apenas, talvez, aos dos escândalos da República de Alagoas. Mas é óbvio que a tentativa rudimentar de intimidação repercutirá no tribunal. Se Dirceu não se deu conta disso é porque, como Lula já disse, ele está mesmo "desesperado".O Estado de S.Paulo - 13/06 Editorial
terça-feira, 12 de junho de 2012
CRISE DA GRÉCIA
Entenda a Crise da Grécia do Ponto de Vista da Administração Financeira
O problema da Grécia não é sair ou não do Euro.
O problema da Grécia, Espanha, Itália etc. é que as dívidas são todas governamentais.
Quando as dívidas são privadas, de empresas por exemplo, existem três níveis de garantias e proteção para banqueiros e investidores.
1. O empréstimo é contraído especificamente para uma atividade produtiva, exemplo, compra de uma máquina. Vide exemplo em www.debentures.com.br
2. A máquina e mais o prédio, talvez, são dados em garantia do empréstimo. Se não pagarem, toma-se a máquina e o prédio onde ela se alojava. Ou toma-se a empresa toda, que sob nova gerência poderá se tornar lucrativa novamente.
3. Toda a empresa tem Capital Social, digamos EU 100 milhões, que é o capital oferecido pelos capitalistas para a sociedade como um todo, e para garantir a estabilidade dos negócios. Mais um nível de proteção.
Se os empréstimos tivessem sido dados às empresas gregas, as empresas teriam se tornado mais produtivas, ou os banqueiros estariam agora colocando pessoas competentes para administrar estas empresas.
Em vez de ficar tudo parado esperando não se sabe o quê.
Só que os empréstimos foram dados para o Governo Grego, que gastou em aposentadorias de todos os tipos, gastos eleitorais de todos os tipos, e juros de empréstimos anteriores.
Neste caso não há máquinas que possam ser tomadas, nem gerentes ineficientes que possam ser substituídos.
Os Bancos não podem destituir o Governo Grego e colocar pessoas competentes no lugar, a "democracia" não permite isto. Os mesmos políticos que arruinaram a Grécia serão reconduzidos ao poder.
A Grécia e nenhum outro governo, diga-se de passagem, possui o conceito de Capital Social, ou um fundo Garantidor, ou um valor fixo de proteção.
Nas empresas, administradores deixam um claro aviso no Balanço.
"Nosso Capital Social é de EU 100 milhões, se houver algum problema aqui na empresa não pensem em recuperar mais do que isto, porque não tem."
Os EU 100 milhões seriam um colchão de segurança.
Se um Banco quiser emprestar EU 200 milhões, ele fica sabendo que se nós administradores fizermos bobagens e perdermos mais do que 50%, o Banco vai entrar com a diferença, não o Banco Central Europeu ou o povo Grego.
Administradores Econômicos, aqueles que administram países e não empresas, fariam tudo diferente.
1. Empréstimos tomados seriam sempre investidos em infraestrutura, tecnologia, financiamento a empresas, computadores, equipamentos, cujas taxas de retorno fossem maiores, bem maiores, do que as taxas de juros cobradas.
2. Todo ano faríamos um Demonstrativo listando o Total dos Empréstimos, e o Total dos Ativos comprados e dados em garantia.
Entre na internet e veja se o Governo Grego, Espanhol ou Italiano tem este demonstrativo.
3. Todo ano faríamos um Demonstrativo do Retorno dos Investimentos que nós fizemos, comparados com as taxas de juros que pagamos, mostrando se os investimentos foram rentáveis.
Como fazemos nas empresas para que vocês decidam nos manter no comando ou não, ou se deveríamos parar de tomar empréstimos.
4. Teríamos um Fundo Garantidor de montante fixo e pré determinado, avisando aos Banqueiros o nosso limite de comprometimento se tudo der errado.
Nenhum plano de austeridade teria de ser efetuado, nem haveria um compromisso ilimitado de pagar pelos erros de governos passados e atuais. Perderíamos o que colocamos no Fundo Garantidor, afetaria o passado, mas não o futuro.
Tudo isto é o Beabá da Administração, minha gente, que poderia ser muito mais aprofundado, se pudéssemos colocar em prática este mínimo.
A decisão é de vocês. Por Stephen kanitz
JURO SUBIU EM 54% NO MÊS DE MAIO
No mês de maio, os juros estabelecidos pelo Banco Central do Brasil aumentaram em 43% e ninguém noticiou.
Estão fazendo ainda matérias sobre a queda dos juros. Inacreditável!
Saber que os juros subiram 43% é muito importante para todos tomarem decisões corretas quanto aos planos de investimentos e aplicações financeiras.
Flutuações, para cima de 43% ou para baixo, são preocupantes porque mudam rapidamente o cenário econômico financeiro e geram instabilidade. O gráfico acima mostra a maluquice da nossa política monetária nominalista.
Um mês atrás, os juros oferecidos pelo Banco Central, depois do IR, era de 1,6%. (8,5% - 20% IR - 5,1% de inflação projetada)
Hoje está em 2,3%. Um aumento de 43% na taxa de juros em menos de um mês.
O que ocorreu foi a queda da estimativa da inflação de 5,1% para 4,5%, e a manutenção do "juro nominal" neste período.
Este é o problema do Nominalismo Econômico, nunca se sabe ao certo qual é o juro de um país.
Esta maluquice toda decorre do fato de que no Brasil estabelecemos o preço do dinheiro em termos nominais, e não em termos reais.
Usamos um sistema de coordenadas nominais e não reais.
A ciência econômica ainda não descobriu o que os contadores descobriram 500 anos atrás, a diferença entre regime de caixa e regime de competência.
"Juro" nominal é de fato o que entra (ou sai) do caixa, mas isto não significa que seja o "custo" do dinheiro.
Realistas usam o regime de competência, o que exclui a inflação que não é custo. É uma receita, mostra quanto sua dívida será mais fácil de ser paga no futuro.
Estou preparando um curso de 19 aulas para o KanitzVideo do YouTube, Finanças Para O Século XXI, onde mostro os grandes erros financeiros do século XX, e proponho algumas soluções, entre elas o Realismo Econômico. Aguardem. Por: Stephen Kanitz
segunda-feira, 11 de junho de 2012
O MAL ESSENCIAL DO BRASIL É O TAMANHO DO ESTADO
O MAL ESSENCIAL DO BRASIL É O TAMANHO DO ESTADO! OU: ATÉ O LIBERALISMO FOI ESTATIZADO NO BRASIL!
O Brasil precisa de mais transparência?
O Brasil precisa de mais democracia?
O Brasil precisa de menos corrupção?
O Brasil precisa de menos impunidade?
O Brasil precisa de mais vergonha na cara?
Então não tem jeito: o estado tem de diminuir! Dado o seu tamanho, é ingovernável segundo patrões mínimos de moralidade e decência. Temos a combinação do capeta, que nos coloca entre os países mais corruptos do mundo: um estado-empresário gigantesco, com cargos distribuídos segundo a conveniência do governo de turno. Aí alguém objeta: “E a China?” O que tem a China? Também disputa o topo no ranking da corrupção. Se, por aqui, a ascensão a cargos de comando se dá segundo a conveniência dos vários partidos que se associam para disputar o poder, por lá se dá segundo a lógica de ascensão no seio do partido único.
Analisem o noticiário. Não há um só escândalo no país que não nasça da organização mafiosa de entes privados para negociar com organizações mafiosas de entes estatais. Por que há menos casos de corrupção nos EUA? Não é só por causa da legislação e da mecânica processual, que pune com mais celeridade os vagabundos. É porque a chance de fazer negócios — e, portanto, negociatas — com o estado é muito menor. Inexistem estatais por lá. Não há uma PetroUSA ou uma EletroUSA a serem extorquidas ou a extorquir. Obama tem menos poderes imperiais do que Dilma Rousseff, é fato. O sistema político, que é, na prática, bipartidário, impede a fisiologia. Não há horário eleitoral gratuito a determinar alianças políticas (santo Deus!!!). Há quase 30 mil cargos federais de livre provimento no Brasil — nos EUA, não chegam a 9 mil; no Reino Unido, são apenas 300!!! Tudo isso, é verdade, diminui enormemente a chance de, como direi?, a má natureza humana se manifestar. Mas nenhum fato é tão importante quanto a existência de empresas estatais gigantescas que podem fazer a sua própria política — sob a inspiração do loteamento de cargos entre os partidos. Aí é o pior dos mundos.
Vejam o caso do financiamento do subjornalismo pistoleiro, um aspecto para o qual tenho chamado a atenção já faz alguns anos. Em que pais do mundo democrático bancos públicos financiariam páginas, eletrônicas ou de papel, cujo objetivo declarado é atacar aqueles que o partido do poder considera “inimigos”? Imaginem se órgãos federais nos EUA poderiam financiar a rede de difamação dos adversários de Obama… É um troço absolutamente impensável. Aqui, essa prática é escancarada.
Infelizmente, nos nove anos de governo petista, a cultura do estatismo se agigantou. E contra os fatos. Foi a privatização da Telebras que permitiu, por exemplo, o desenvolvimento acelerado da economia da informação. Não obstante, foi justamente a privatização da Telebrás o cavalo de batalha cavalgado pelo PT para satanizar o governo FHC. Nesse tempo, por intermédio da forte atuação do BNDES na fusão de grupos empresariais, sob o pretexto de criar players globais, o estado aumentou seus tentáculos também no setor privado. Dados os poderes imperiais do Executivo para regular a economia, a legislação tributária e fiscal pode eleger setores que serão beneficiados por incentivos e isenções fiscais.
O resultado desse modelo é um só: déficit de democracia. Por quê? Porque o aparelho estatal e o setor privado passam a orbitar, necessariamente, em torno do governo, dependentes de suas vontades. Volto aos EUA. Ainda que Obama quisesse, sei lá eu, punir empresas que financiam think tanks republicanos, ele não teria como fazê-lo porque não dispõe de instrumentos para tanto. O mesmo valia para Bush com as que financiavam os democratas. No Brasil, bastaria um telefonema — o preço da rebeldia pode ser a suspensão ou não-concessão de um financiamento.
Há um setor que escapa desse massacre estatal: a imprensa independente, que se financia no mercado. Não é de oposição; não é se situação. Não é de esquerda; não é de direita. Atenção! Poderia, sim, fazer as suas opções — a exemplo do que ocorre em todo o mundo democrático. Mas não tem sido essa a prática por aqui. Busca-se, de forma obsessiva, a neutralidade — avalio, vocês sabem, que, na média, os valores à esquerda triunfam (mas deixo isso para outro momento).
Não por acaso, o principal alvo do partido do poder, o PT, hoje em dia, é justamente essa imprensa independente, que consegue escapar ao controle estatal e não cede à chantagem do poder. Os petistas não se conformam com essa independência e falam de modo obsessivo em “controle social da mídia” — que é, na verdade, “controle partidário da informação”. Não conseguem aceitar uma forma de diálogo com a opinião pública que escape ao controle do estado — que, no caso, se confunde com o controle do próprio partido.
Então aparecem os Dirceus e os Bastos da vida para acuar a imprensa de ser “parcial”, de tentar impor a sua visão de mundo, de ser “opressiva” etc. Ou temos, a exemplo do que fez Eduardo Paes no encontro da Juventude Socialista, autoridades que empenham solidariedade justamente àqueles que, flagrados em falta, devem explicações à sociedade. Trata-se, em suma, de ações que buscam silenciar as poucas vozes que se fazem ouvir contra as imposições dos tais “donos do poder”.
Não há reforma política, eleitoral ou administrativa que nos conduza a um bom lugar enquanto o estado tiver esse tamanho e seus mandatários de turno puderem impor a sua vontade. Uma simples lei de acesso à informação vai para o brejo porque as estatais dizem que se trata de segredos empresariais. E onde estão, afinal de contas, os nossos liberais? Alguns deles estão lá, acafofados no Palácio, prestando vassalagem ao Poder Executivo.
Ou por outra: até o liberalismo foi estatizado no Brasil!
Por Reinaldo Azevedo
QUEM GOVERNA ESTE PAÍS?
As nações do Ocidente há muito temem a contaminação da ‘doença Americana’ – a invasão por parte dos juízes da autoridade que pertence ao povo e seus representantes eleitos. Estas nações estão aprendendo, talvez tarde demais, que este imperialismo não é uma doença Americana: é uma doença judicial que não conhece fronteiras. A moléstia aparece sempre que são dados aos juízes, ou estes se apossam do poder de reformar as decisões de outros ramos do governo – o chamado poder de revisão legal.
ROBERT H BORK
Coercing Virtue: The Worldwide Rule of Judges
O Brasil se encontra numa encruzilhada que costuma ser fatal às liberdades individuais: a total confusão entre as respectivas funções dos três poderes. Além disto, existe a anarquia gerada pelo poder da chamada ‘sociedade civil’, as minorias organizadas, em influenciar os poderes da República, inclusive o Judiciário, que deveria ser isento de influência popular para julgar conforme as Leis, e não sob o clamor e aplauso de parte mínima do povo.
A raiz desta situação se encontra no atabalhoado processo de ‘redemocratização’ que culminou numa Constituição fajuta – chamada cidadã! – uma colcha de retalhos que só poderia tornar o país ingovernável, como foi na República de Weimar, no breve intervalo republicano russo de fevereiro a outubro de 1917 e na Áustria na década de 30 até as ditaduras Dolfuss e Schuchnigg e o inevitável Anschluss.
Já no início da ‘democracia’ uma mentira que teve conseqüências trágicas: a oposição aos militares prometia eleições diretas, mobilizou milhões de idiotas úteis em passeatas e ‘atos públicos’ pelas ‘Diretas Já’ quando tudo já estava combinado no recesso dos gabinetes para a eleição indireta. Não se mente impunemente para o povo. Já se demonstrava que a democracia que se iniciava era de mentira, uma falsidade para ser aproveitada pelos demagogos e corruptos que se aboletavam nos palanques.
A constituição fajuta – e impunemente fraudada por Nelson Jobim - que hoje nos rege criou mecanismos incompatíveis entre si, além de um quarto poder: o nefasto ministério público, totalmente controlado pela única associação profissional com existência constitucional, a Ordem dos Advogados do Brasil. É um absurdo uma associação de profissionais ter existência na própria Constituição Federal, é o renascimento do Estado Corporativo de Mussolini, só que, na imitação brasileira, como sói, é de uma corporação só, a dos onipotentes advogados. É desta excrescência que nasceu o enorme poder dos Juízes. E, paradoxalmente, dos demais poderes e da luta entre eles.
Segundo a coluna ‘Panorama Político’ (Globo, 10/06/12) os dirigentes da OAB estão em pânico com a votação do projeto que acaba com o exame da ordem. Alegam que o mercado de 700 mil advogados será inundado com milhões de novos profissionais. Certamente seu temor é que estes milhões não se submetam à corriola do seu Ophir et caterva, que dirigiu recentemente um mimo aos Congressistas ao dizer que ‘o Congresso transformou-se num pântano’. Pode ser que seja, mas a sua OAB, seu Ophir, é um exemplo de moralidade?
A constituição de 1988 consagrou também o Estado Democrático de Direito. A introdução desta palavrinha deturpou totalmente o antigo e valioso conceito de Rule of Law, o império das leis, o Estado de Direito, onde governam as Leis, e não os homens.
Já Aristóteles apontava que a democracia tende a degenerar em olocracia, termo proposto por Políbio, que significa ditadura das massas controladas por demagogos. O termo indica o jugo imposto pelas multidões ao poder legítimo e à lei, fazendo valer os seus intentos acima de quaisquer determinações de Direito Positivo. Não creio que o Brasil corra este risco, Aristóteles não conseguiria prever a invenção gramsciana da ‘sociedade civil organizada’ e é esta que manda e desmanda no País, não as massas que sequer sabem bem o que está acontecendo. Um exemplo: o Brasil prepara-se para a pantomima chamada Rio+20. Só 22% têm uma vaga idéia do que seja esta palhaçada e só 16% já ouviram falar em ‘sustentabilidade’ ou ‘desenvolvimento sustentável’ e não sabem o que seja.
Alexander Tyler, já antes da Independência Americana advertia, se referindo à queda da democracia ateniense mil anos antes: Uma democracia não pode existir como uma forma permanente de governo. Só pode existir até que os eleitores descubram que podem votar por mais dinheiro do tesouro público para si mesmos. Deste momento em diante a maioria sempre votará nos candidatos que prometem a distribuição de mais dinheiro do tesouro público, tendo como resultado que uma democracia sempre acaba em razão de políticas fiscais frouxas, liberais e irresponsáveis e são seguidas por uma ditadura. O tempo médio de duração das grandes civilizações da história tem sido de duzentos anos. Estas nações evoluíram através da seqüência seguinte: da escravidão à fé espiritual, da fé espiritual para uma grande coragem, da coragem para a liberdade, da liberdade para a abundância, da abundância para o egoísmo, do egoísmo para a satisfação pessoal, desta para a apatia, da apatia para a dependência e desta de volta à escravidão.
Thomas Jefferson já advertia: não foi para criarmos uma tirania da maioria que fizemos uma revolução. Por esta razão os framers da Constituição Americana impuseram checks and balances para impedir a tirania: o Bill of Rights, a eleição indireta do Presidente, o Federalismo, concedendo aos Estados e ao povo, todas as prerrogativas que não fossem definidas na Constituição como sendo do Congresso, a necessidade das Emendas à Constituição serem aprovadas por no mínimo 35 legislativos Estaduais antes de adquirirem poder legal, etc.
Se a democracia é um risco na política, na Justiça é catastrófica! Quando um ex Presidente tenta chantagear um membro do STF, algo anda mal não só com o chantagista, mas também com a Suprema Corte.
Em primeiro lugar o STF vem se arrogando poderes legislativos que não são seus, como correu no casamento gay, nas cotas – com a ridícula atitude de um de seus Membros deixando sua cadeira para um falecido abolicionista - e principalmente no caso do aborto de anencéfalos, rasgando a Constituição que juraram defender. Mas julgar de acordo com o clamor popular tornou-se a regra nas Cortes brasileiras.
A lei seca inclui uma inconstitucionalidade retumbante: se ninguém pode ser obrigado a fazer prova contra si mesmo, por que se o sujeito que se recusa exatamente a isto, negando-se a usar o bafômetro, é punido com multa de quase mil reais, retenção da CNH e apreensão do veículo? Usar um privilégio legal reconhecido há dois mil anos é crime ou contravenção no Brasil?
O mesmo ocorre com a tal ‘ficha suja’: se ninguém pode ser julgado culpado sem processo transitado em julgado, por que uma simples suspeita sobre as contas, levantada por um Tribunal que, convenhamos, não é muito confiável, impede alguém de se candidatar?
Tudo isto acontece porque assim pede o que chamam clamor popular, que não passa de campanhas coordenadas por associações tipo OAB e ONGs fundadas às pressas e assinadas por menos do que 2% da população brasileira (no melhor dos casos).
Em segundo lugar um Ministro do Supremo jamais deveria aceitar convites para reuniões com ex Presidentes no escritório de um advogado fraudador da Constituição e que foi brindado com o cargo que Ministro da Justiça por FHC e da Defesa pelo ex Presidente em questão.
Ora, se as coisas estão assim, por que o Executivo também não se arrogaria direitos judiciários, como a Comissão da Verdade?
Bagunçou geral! Mas a situação é gravíssima! José Dirceu já está mobilizando contra o julgamento do mensalão a tropa de choque petista, o tal ‘levante popular da juventude’, o equivalente às Sturmabteilung (foto 1) ou talvez se assemelhem mais ao Heiwwehr (Guarda Nacional) austríaca (foto 2), país onde, segundo Carroll Quigley (Trajedy and Hope: a History of the World in Our Time) toda a moral política foi destruída, a integridade pública corrompida (...) e o campo foi deixado livre para slogans sem significado, vantagens materiais grosseiras, criticadas por piedosas expressões de falso moralismo, onde ninguém conhecia os verdadeiros pensamentos dos outros e ninguém podia confiar em ninguém.
Será este o legado da redemocratização? Será por isto que querem tucanos e petistas, condenar os militares por terem conduzido os negócios públicos de forma bem diferente? Será preciso satanizá-los para evitar a comparação?
Como se dizia antigamente: os tempos estão bicudos! Por: HEITOR DE PAOLA
CONTAR OS REFUGIADOS PALESTINOS?
A solução do conflito árabe-israelense requer o fim da farsa absurda e danosa da proliferação de refugiados palestinos fantasmas.
O âmago fétido e tenebroso da guerra árabe contra Israel, como já venho afirmando há muito tempo, não consiste nos conflitos sobre Jerusalém, postos de controle ou "assentamentos". Melhor dizendo, consiste nos assim chamados, refugiados palestinos.
Assim chamados pelo fato dos cerca de 5 milhões de refugiados legalmente reconhecidos, assistidos pela UNRWA ("Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina"), apenas 1 porcento serem realmente refugiados que se enquadram na definição da agência como "pessoas cujo local normal de residência era a Palestina entre junho de 1946 e maio de 1948, que perderam tanto seus lares como seus meios de sobrevivência em consequência do conflito árabe-israelense de 1948". Os outros 99% são descendentes daqueles refugiados ou o que eu chamo de refugiados fantasmas.
Pior: aqueles que estavam vivos em 1948 estão gradualmente morrendo e em cerca de cinquenta anos nenhum refugiado verdadeiro estará vivo, enquanto (extrapolando a partir de uma estimativa confiável do Refugee Survey Quarterly por Mike Dumper) os descendentes, refugiados fantasmas, já estarão na casa dos 20 milhões. Sem controle, sua população irá inchar como um balão até o final dos tempos.
Consequentemente esta questão é muito importante pelo fato do status de refugiado ter efeitos negativos: destrói a vida dos milhões de não refugiados, marginalizando-os e ao mesmo tempo incutindo um sonho irredentista, ilusório e vergonhoso, pior que isso, o status de refugiado eterniza-os como uma lança permanentemente apontada para o coração de Israel, ameaçando o estado judeu e desestruturando o Oriente Médio.
Em suma, a solução do conflito árabe-israelense requer o fim da farsa absurda e danosa da proliferação de refugiados palestinos fantasmas e assentá-los de forma permanente. 1948 já passou, está na hora de cair na real.
Tenho a satisfação de informar que, baseado em parte no trabalho realizado por Steven J. Rosen e por mim, do Middle East Forum no último ano, em 24 de maio o U.S. Senate Appropriations Committee aprovou por unanimidade uma emenda, potencialmente decisiva, embora limitada, no que tange os US$52,1 bilhões do orçamento fiscal de 2013 do Departamento de Estado e operações externas.
A emenda proposta por Mark Kirk (Republicano de Illinois) determina que o Departamento de Estado informe o Congresso sobre o uso dos fundos anuais do contribuinte americano no valor de US$240 milhões doados aos refugiados palestinos via UNRWA. Kirk questiona, quantos dos recebedores fazem jus à definição da UNRWA citada acima, para que sejam considerados verdadeiros refugiados? E quantos não fazem jus, sendo na realidade descendentes dos refugiados?
A emenda de Kirk não exige a eliminação, nem mesmo a redução dos benefícios fornecidos aos refugiados fantasmas. Apesar de sua natureza limitada, Kirk chama o requisito de informe um "divisor de águas". De fato, ele provocou o que um alto assistente do Partido Republicano no Senado classificou de "enorme oposição" do governo jordaniano e da própria UNRWA, causando o que Josh Rogin da revista Foreign Policy chamou de incontrolável batalha.
Por que a fúria? Porque se o Departamento de Estado fosse obrigado a diferenciar entre os verdadeiros refugiados palestinos e os refugiados palestinos fantasmas, os Estados Unidos e outros governos ocidentais (que juntos cobrem mais de 80 porcento do orçamento da UNRWA), poderiam acabar por decidir pelo corte dos fantasmas e com isso solapar a reivindicação deles ao "direito de retorno" a Israel.
Lamentavelmente, a administração Obama meteu os pés pelas mãos nessa questão. A carta do Subsecretário de Estado Thomas R. Nides se opondo a uma versão anterior da emenda de Kirk mostra total incoerência. De um lado, Nides declara que Kirk iria, ao obrigar o governo dos Estados Unidos "a apresentar um parecer público sobre o número e status dos refugiados palestinos … prejulgar e determinar o resultado desta delicada questão". Do outro, o próprio Nides atribui "algo em torno de cinco milhões de refugiados [palestinos]", juntando assim refugiados verdadeiros e refugiados fantasmas – prejudicando precisamente a questão que ele insiste em manter aberta. A declaração dos 5 milhões de refugiados não foi mero acaso, ao ser indagado, o porta-voz do Departamento de Estado Patrick Ventrell, confirmou que "o governo dos E.U.A. apóia" o princípio que nos norteia a "reconhecer os descendentes de refugiados como refugiados".
Além disso, prevendo uma "reação muito negativa [à emenda] dos palestinos e dos aliados na região, especialmente da Jordânia", Nides solicitou aos árabes que pressionem o Senado dos Estados Unidos, uma manobra barata, indigna do Departamento de Estado.
Através dos 64 anos da existência de Israel, um presidente americano após o outro resolveram solucionar o conflito árabe-israelense, no entanto, todos ignoraram o aspecto mais desagradável desse confronto – a propositada exploração da questão dos refugiados a fim de minar a própria existência do estado judeu. Bravo ao Senador Kirk e a sua equipe pela sabedoria e coragem de iniciar o esforço em abordar realidades desagradáveis, começando uma mudança que finalmente vai direto ao âmago do conflito.
ESCRITO POR DANIEL PIPES | 10 JUNHO 2012
INTERNACIONAL - ORIENTE MÉDIO
Publicado na National Review Online.
Original em inglês: Count Palestine Refugees?
Tradução: Joseph Skilnik
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