O que se faz por 90 segundos na televisão? Chamam de propaganda gratuita, mas já saiu caro o minuto e meio que Lula ganhou na telinha, em sua luta pragmática pelo poder em São Paulo. O preço alto nada tem a ver com a aliança explícita entre o PT e o PP, mas com a figura do aliado. Haddad o Novo apareceu com sua carinha de lebre entre duas raposas, Lula e Maluf. Saiu amassado da história.
Conta assim Esopo: uma lebre encontrou com a raposa da qual só conhecia a fama. Perguntou: "Na verdade ganhas mesmo muitas coisas ou tu as tens porque teu nome é raposa?". Responde esta: "Para tirar as dúvidas vem à minha casa onde vou servir um almoço". Quando entrou na toca da raposa, verificou tarde demais que ela, lebre, era o almoço! A própria lebre conclui: "Na minha desgraça, finalmente descobri que a fama da raposa não vem do mérito, mas da astúcia".
Como na fábula, assim se deu o encontro, cuja foto não aparece no site do Instituto Lula, mas será explorada por adversários na campanha pela prefeitura em São Paulo. Maluf, "símbolo da pouca-vergonha nacional" segundo o Lula barbudo de 1984, condicionou a aliança a uma feijoada com refrigerantes e pudim em sua casa, com direito a foto nos jardins (leia mais na reportagem da página 42).
Em 1993, Maluf comparou Lula a uma "ave de rapina que não trabalha há 15 anos e não explica como vive".
Mas, "por amor a São Paulo", decidiu lular e passou a mão na cabeça de Haddad o Novo para que todos os fotógrafos registrassem o gesto do padrinho. Levantou o dedo polegar e sorriu seu sorriso de raposa procurada pela Interpol.
Quem comeu quem afinal? Quem vai rir por último? A indigestão tirou de cena a vice socialista Erundina, que achou "abominável" o encontro com o inimigo. Maluf destruiu o slogan criado por João Santana para Haddad: "Um homem novo para um tempo novo". Lembrei-me de O bebê de Rosemary, de Roman Polanski. Não parece?
A operação abafa foi intensa. O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, afirmou que houve apenas "uma troca de cargos" no acordo com o PP de Maluf. "Não houve dinheiro", disse Carvalho.Ah,bom. O esclarecimento se faz necessário diante do personagem.
O verbo malufar, associado a roubar, ultrapassou fronteiras e ganhou o mundo. "De tanto malufar, os Maluf foram presos", escreveu o jornal Le Monde em 2005, quando o ex-prefeito e seu filho foram detidos pela Polícia Federal. Segundo a PF, coagiram uma testemunha que os acusou de chefiar empresas offshores e contas bancárias em seis países.
O apoio de Maluf era disputado tanto pelo PSDB de Serra quanto pelo PT de Haddad até uma semana atrás. Ambos os candidatos queriam mais "inserções" na TV. Que se lixassem os princípios, as siglas, as histórias dos partidos, os programas de governo. Serra já tinha como aliado o PR, maior parceiro do governo Lula no escândalo do mensalão. Uma promiscuidade de fazer inveja ao Bataclan da Ilhéus de Nacib e Gabriela.
Lula prometeu a Maluf mais do que Serra. Prometeu um cargo no Ministério das Cidades. Lula malufou porque, nas palavras serenas do sociólogo petista Emir Sader, citado no jornal Folha de S.Paulo, "o fundamental é derrotar a tucanalha". É vergonhoso que, mesmo fora da Presidência e convalescendo de um câncer agressivo, Lula continue a rasgar todas as bandeiras éticas de um partido que chegou a ser visto como a esperança para renovar a política no Brasil.
Os mais calejados perguntam. Por que a surpresa? Ao lado de Sarney, Collor, Jader e Renan, ou abraçado ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad, Lula reescreveu sua história em oito anos de governo. Confessou-se metamorfose ambulante. É viciado na falta de regras do jogo político brasileiro.
Seria interessante saber como Dilma engole os afagos entre Lula e Maluf - o homem que, quando governava São Paulo em 1979, a poucos dias da Lei da Anistia, formalizou a instalação do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações) num terreno do governo de São Paulo. "As marcas da tortura sou eu", disse Dilma. "Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu." O novo amigo de Lula é um soco no estômago de petistas históricos. Mais um.
Maluf diz que Lula não impôs restrição a que ele apareça na propaganda de TV: "O tempo é meu e sou proibido de aparecer?" Faz sentido. Haddad já chama malufistas de "companheiros". E assim o PT faz mesuras e ouve calado as lições de Maluf: "Não tem mais no mundo esquerda e direita. O que tem hoje é "efficacité" (eficácia em francês)". Argh.
Se a Rio+20 pecou por falta de ambição, o Lula+90 peca por excesso. A foto já histórica dessa aliança simboliza a política do ferro-velho. Ela polui e contamina mais o ambiente no Brasil do que muitos esgotos a céu aberto. Saneamento já.Por: RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
QUANDO TUDO O QUE SE ESCREVE TIVER SE DESFEITO EM FARRAPOS, QUANDO ATÉ MESMO OS MELHORES TIVEREM SE TORNADO APENAS VERBETES DE ENCICLOPÉDIA JAMAIS CONSULTADA, AS PALAVRAS DE UM PENSADOR AINDA ESTARÃO VIVAS PARA MOSTRAR, SOBRE RUÍNAS DOS TEMPOS, A PERENIDADE DO ESPÍRITO HUMANO.
terça-feira, 26 de junho de 2012
A TEORIA AUSTRÍACA DO CAPITAL E DOS JUROS
O tempo é um elemento inseparável da condição humana. Tudo o que fazemos envolve o tempo. Tudo é restringido pelo tempo. Só o fato de você parar para ler este artigo já requer que você saiba alocar um período de tempo para tal tarefa. E o período de tempo que você gastar para ler este artigo não mais estará disponível para outros afazeres.
A importância do tempo nos processos de produção econômica e na avaliação das escolhas a serem feitas é algo que foi especialmente enfatizado por vários seguidores da Escola Austríaca de pensamento econômico, começando por Carl Menger, o fundador da escola.
Porém, entre os primeiros membros da Escola Austríaca, foi Eugen von Böhm-Bawerk quem desenvolveu a primeira análise detalhada do papel do tempo nos processos de produção e no processo da escolha humana. Os primeiros dois volumes de sua obra-prima sobre esse tema, Capital and Interest, foram publicados nos anos 1880. O terceiro volume, predominantemente respostas aos seus críticos, apareceu em seu formato final no ano de 1914, pouco antes de sua morte.
Outro grande contribuinte para a teoria austríaca do tempo, já nos primórdios do século XX, foi o economista americano Frank A. Fetter. Sua análise do processo de "avaliação temporal" foi apresentada em dois tratados: The Principles of Economics (1904) e Economic Principles (1915).
Durante os anos 1930 e 1940, contribuições adicionais foram feitas pelos seguintes economistas austríacos: Friedrich A. Hayek em Prices and Production (1931) e The Pure Theory of Capital (1941); Richard von Strigl em Capital and Production (1934); e Ludwig von Mises em Nationalökonomie (1940) e Ação Humana (1949).
Cada uma de nossas ações requer que levemos em consideração o tempo e que saibamos como iremos agir ao longo do tempo. Seja fritar um ovo ou construir uma nave espacial que irá às estrelas, estamos sempre sendo confrontados com a necessidade de esperar pela consumação do resultado desejado. Utilizamos os meios à nossa disposição que parecem ser os mais apropriados para as tarefas que almejamos, e tentamos atingir os fins desejados que temos em mente.
Porém, a causa (a utilização dos meios) sempre precede o efeito (o objetivo ou o fim resultante); e entre o começo da causa e o seu efeito resultante, sempre há um período de tempo, seja um período de alguns meros minutos ou de vários anos. Cada um de nossos planos, portanto, contém dentro de si um período de produção.
Raramente, no entanto, podem os nossos planos de produção ser completados em uma única etapa. Geralmente, os recursos à nossa disposição têm de passar por várias transformações, por vários estágios de produção. Somente após isso é que os bens de consumo que desejamos estarão prontos para ser utilizados em sua forma final desejada. Uma árvore tem de ser derrubada na floresta. A madeira tem de ser transportada e cortada na serraria. Essa madeira cortada tem de ser levada para a fábrica de polpa e transformada em papel. O papel deve ser encaixotado e enviado para a empresa que irá utilizá-lo. Lá, o papel deve ser cortado em um tamanho adequado para o fim desejado, e a impressora irá jogar tinta em várias páginas, as quais serão finalmente enviadas por correio para vários endereços diferentes.
Isso que foi ilustrado no simples exemplo acima é equivalente ao que ocorre em todas as linhas de produção de todos os bens imagináveis de uma economia.
No entanto, a realização destes processos de produção requer uma determinada quantia de poupança. Isto é, os recursos que serão utilizados nesse processo não podem ter sido consumidos em outros setores da economia. Logo, eles precisam ter sido poupados. Recursos e matérias-primas que de outra forma poderiam ter sido utilizados para satisfazer alguns de nossos desejos no presente mais imediato devem ser liberados para atividades produtivas que consomem mais tempo.
Primeiro, alguns desses recursos devem estar disponíveis para serem transformados em bens de capital — ferramentas, maquinários e equipamentos —, os quais posteriormente serão utilizados pelos trabalhadores que estão empregados na produção mais direta de bens de consumo. Esses trabalhadores irão combinar sua mão-de-obra a esses bens de capital e, por meio de processos de produção mais "alongados", mais complexos ou que demandam mais tempo, irão produzir bens de consumo. Segundo, recursos e bens de consumo devem estar disponíveis para serem utilizados por esses trabalhadores empregados no processo de produção.
Quanto maior for a poupança, maior poderá ser a quantidade de processos de produção que poderão ser empreendidos na sociedade — e mais alongados eles poderão ser. Quanto mais alongado for um processo de produção, maior tende a ser a qualidade do produto final. Consequentemente, quantos mais processos de produção alongados puderem ser implementados, maiores serão as quantidades e a qualidade dos bens que estarão disponíveis para ser consumidos no futuro. Por quê? Porque, tudo o mais constante, quanto mais indireto ou quanto mais demorado for um processo de produção, mais produtivos (geralmente) são os métodos de produção dele resultantes.
No entanto, quanto mais longos forem os períodos de produção que utilizamos, mais tempo teremos de esperar pelos bens finais que desejamos consumir. As pessoas, portanto, têm avaliar o sacrifício exigido, em termos de espera, que estão dispostas a fazer a fim de obter um efeito potencialmente maior e mais desejado, o qual somente poderá ser obtido se o processo de produção se estender por um período mais longo de tempo.
Os sacrifícios de tempo que as pessoas estão dispostas a fazer normalmente são diferentes para cada indivíduo. E estas distintas avaliações de tempo criam oportunidades para ganhos comerciais. Aquelas pessoas que estão dispostas a adiar seu consumo — e, consequentemente, o uso de recursos no presente — poderão encontrar indivíduos que desejam ter acesso a uma quantidade de bens e recursos maior do que aquela que sua renda e riqueza lhes permitem adquirir no presente. E esses segundo grupo de pessoas pode estar disposto a, no futuro, pagar um preço pelo uso desses recursos no presente mais imediato.
Assim, um preço intertemporal irá surgir no mercado à medida que os indivíduos avaliam e "fazem propostas" quanto ao valor do tempo e do uso de recursos. Esse preço é a taxa de juros. A taxa de juros reflete as preferências temporais dos agentes de mercado no que diz respeito ao valor dos recursos e das mercadorias no presente em comparação ao valor delas no futuro.
Sendo o preço do tempo, a taxa de juros equilibra a propensão a poupar de uns com o desejo de pegar emprestado de outros. Mas a taxa de juros não apenas coordena os planos de poupadores e investidores; ela também funciona como um "freio" ou um "regulador" da duração dos períodos de produção empreendidos com a poupança disponível na sociedade.
Por exemplo, quais seriam os respectivos valores presentes de um investimento que retornasse $100 daqui a um ano, daqui a dois ou daqui a três anos, com uma taxa de juros de mercado de, digamos, 10%? Eles seriam, respectivamente, $90,91, $82,64 e $75,13. Isso significa que $100 daqui a um ano vale subjetivamente o mesmo que $90,91 hoje; que $100 daqui a dois anos vale subjetivamente o mesmo que $82,64 hoje, e que $100 daqui a três anos vale subjetivamente o mesmo tanto que $75,13 hoje.
Agora, suponha que a preferência temporal das pessoas dessa sociedade tenha mudado, de modo que elas agora optaram por poupar mais. Consequentemente, haverá uma maior oferta de poupança disponível para ser emprestada. Isso derruba a taxa de juros para, digamos, 7%. Quais serão agora os valores presentes daquele investimento que retorna $100 daqui a um, dois e três anos? Os valores presentes seriam, respectivamente, $93.46, $87.34 e $81.63.
Observe que o valor presente aumentou para todos os três potenciais investimentos, cada qual com um horizonte temporal diferente. Porém, os aumentos percentuais dos valores presentes desses três possíveis horizontes de investimento não seriam os mesmos. Para o investimento de um ano, seu valor presente aumentou 2,8%. Para o investimento de dois anos, seu valor presente aumentou 5,7%. E para o investimento de três anos, seu valor presente aumentou 8,6%. Claramente, a tendência de uma queda na taxa de juros é estimular um aumento nos investimentos com períodos mais longos de produção.
Se, ao contrário, as preferências temporais se movessem na direção oposta, com as pessoas optando por poupar menos, o que consequentemente geraria um aumento na taxa de juros, os investimentos de longo prazo ficariam relativamente menos atraentes. Se a taxa de juros aumentasse de 7 para 10%, os valores presentes de um investimento que retornasse $100 daqui a um, dois e três anos diminuiriam, respectivamente, em 2,7%, 5,4% e 8%. Isso faria com que investimentos com períodos de produção mais curtos se tornassem relativamente mais atraentes.
Em uma economia que está vivenciando um aumento na renda real, a decisão dos assalariados de poupar uma proporção maior de sua renda não requer uma redução absoluta no consumo. Suponha que as preferências temporais dos assalariados fossem tais que eles normalmente poupassem 25% de sua renda. Para uma renda de, digamos, $1.000, eles poupariam $250. Se sua propensão a poupar aumentasse para, digamos, 30%, para uma dada renda de $1.000, seu consumo diminuiria de $750 para $700, e sua poupança aumentaria de $250 para $300. Entretanto, se a renda dos assalariados aumentasse para, suponhamos, $1.100, e sua propensão a poupar também aumentasse para aqueles 30%, então agora eles estariam poupando $330 dessa renda aumentada. Porém, o consumo também aumentaria para $770.
Essa é a razão pela qual, em uma economia que está enriquecendo, a poupança pode aumentar — permitindo um novo processo de formação de capital e, consequentemente, investimentos com períodos mais longos — sem qualquer sacrifício absoluto do consumo. O consumo aumenta em decorrência da renda real maior, embora aumente menos do que poderia aumentar caso os assalariados não tivessem optado por poupar um maior percentual de sua renda.
Mas se houver uma redução na demanda por bens de consumo e um aumento na poupança, quais seriam os incentivos para os produtores investirem em mais capital e em um aumento da capacidade produtiva? Esta foi a crítica levantada contra Böhm-Bawerk no início do século XX por um economista chamado L.G. Bostedo. Ele argumentou que, uma vez que é a demanda de mercado que estimula os fabricantes a produzir e levar bens ao mercado, a decisão dos assalariados de poupar mais e consumir menos destrói exatamente esse incentivo de se empreender novos projetos, os quais a maior poupança supostamente deveria facilitar. Bostedo concluiu então que uma maior poupança, em vez de ser um motor para o aumento dos investimentos, servia na verdade para retardar o investimento e a formação de capital.
Em 1901, em um artigo intitulado "A Função da Poupança", Böhm-Bawerk retrucou essa crítica. "Em sua premissa está faltando uma única, porém muito importante, palavra", apontou Böhm-Bawerk. "O senhor Bostedo assume . . . que a poupança significa necessariamente uma redução na demanda por bens de consumo." Porém, continuou Böhm-Bawerk,
Ele omitiu a pequena palavra 'presente'. O homem que poupa reduz a sua demanda por bens presentes, mas de maneira alguma ele reduz seu desejo geral por bens que lhe deem prazer. . . . Pois o motivo principal daqueles que poupam é precisamente preparar-se para o consumo futuro; ter meios com os quais suprir suas demandas futuras ou as de seus herdeiros. Isso significa, nada mais nada menos, que eles desejam garantir que terão controle sobre os meios que permitirão a satisfação de seus desejos futuros, isto é, sobre o consumo de bens em um período futuro. Em outras palavras, aqueles que poupam reduzem sua demanda por bens de consumo no presente justamente para poderem aumentar proporcionalmente sua demanda por bens de consumo no futuro.
Porém, mesmo se houver uma potencial demanda futura por bens de consumo, como os empreendedores irão saber quais tipos de investimentos em capital deverão fazer? E quais tipos de bens, e em quais quantidades, devem planejar ofertar no mercado em preparação para esta maior demanda futura?
A resposta de Böhm-Bawerk foi mostrar que a produção é sempre voltada para o futuro — um processo no qual se utiliza meios produtivos hoje com o intuito de se ter bens de consumo para serem vendidos amanhã. O exato propósito da competição empreendedorial é testar constantemente o mercado, de modo a antecipar da melhor forma as demandas do consumidor, corrigir as existentes e perceber as que estão mudando. A concorrência é o método de mercado que faz com que a oferta seja sempre correspondente às demandas dos consumidores. E se erros forem cometidos — e eles serão —, os prejuízos resultantes desse prognóstico errôneo dos lucros funcionam como estímulo para que se faça ajustes apropriados na estrutura de produção, ou para que se realoque mão-de-obra e recursos para outras linhas de produção.
Quando deixado funcionando livremente, argumentou Böhm-Bawerk, o mercado exitosamente garante que as demandas tenderão a igualar a oferta, e que os horizontes temporais dos investimentos serão compatíveis com a poupança disponível necessária para manter e expandir a estrutura do capital no longo prazo.
E qualquer tentativa de manipular esse arranjo — por exemplo, por meio da redução artificial das taxas de juros — inevitavelmente gerará ciclos econômicos.
Richard Ebeling
leciona economia no Hillsdale College em Michigan, é um scholar adjunto do Mises Institute e trabalha no departamento de pesquisa do American Institute for Economic Research.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
O GOVERNO DILMA PARECE VELHO
O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.Por: MARCO ANTONIO VILLA
O GLOBO - 26/06/2012
PARAGUAI DÁ UMA CACETADA NO FORO DE SÃO PAULO
PARAGUAI DÁ UMA CACETADA NO FORO DE SÃO PAULO. É POR ISSO QUE OS COMUNISTAS ESTÃO ENLOUQUECIDOS!
O grande assunto político continua sendo a destituição do ex-bispo comunista Fernando Lugo. Todos os demais assuntos referentes à política interna brasileira ou a decantada crise européia têm suas estaturas diminuídas face aos acontecimentos no país vizinho.
Por que? Esta indagação tenho certeza é formulada pela maioria dos brasileiros. Quem acompanha a política tanto nacional como internacional e, sobretudo latino-americana, entenderá as razões que fundamentam a minha assertiva.
É que desde a criação do Foro de São Paulo, a organização esquerdista fundada em reunião na capital paulista no inicio dos anos 90 por Lula, Chávez e outros comunistas e os ditos "movimentos sociais", implementa um plano continental que visa à implantação de regimes socialistas em todos os países latino-americanos.
É por isso que a destituição de Lugo, como foi a destituição de Zelaya em Honduras, soou como um um petardo de grades proporções entre os comunistas do Foro de São Paulo.
A designação de comunista sempre acaba sendo aparentemente descabida depois da dèbacle do comunismo no final dos anos 80. Todavia o movimento comunista, embora tenha levado um baque significativo, rearticulou-se e continua tão vivo como nos tempos de Lenin. O que houve foi uma mudança de estratégia, mas o objetivo continua o mesmo.
Como não teria mais sentido a violência pura e simples que o comunismo sempre utilizou para conquistar o poder, até porque seria rechaçada, mudaram a estratégia para "paz e amor", ambientalismo e a utilização dos conceitos politicamente corretos. Valeram-se por exemplo, da questão dos direitos humanos consagrada na Carta da Onu e a primeira coisa que fizeram foi transformar comunistas em vítimas, embora sejam protagonistas de uma história pregressa de horror e assassinatos brutais como ocorreu na ex-URSS e continua ocorrendo em Cuba e na Coréia do Norte, que são ditaduras comunistas.
Até hoje nenhum país comunista foi democrático. Todos foram ditaduras e são ditaduras, como a cubana que já tem mais de 50 anos.
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Mídia cala sobre o Foro de S. Paulo |
Os comunistas então passaram a aceitar - entre aspas - as regras democráticas e começaram uma luta para alcançar o poder dentro da lei. Todavia, uma vez no poder passaram à uma segunda fase, que constitui no aparelhamento de todas as instâncias do Estado. O avanço desse projeto diabólico, até que seja consolidado, obedece a etapas. Basta que observem como era agia o PT no início do governo Lula ou como agia Chávez nos primeiros tempos de seu governo e até mesmo o tiranete da Bolívia.
Em mais de uma década de poder em vários países, os comunistas já estão aprofundando o seu processo de conquista total do Estado e, mais ainda, dos corações e mentes, através da lavagem cerebral que começa no jardim de infância e segue até as universidades. Quem conhece Antonio Gramsci, o italiano vagabundo e mentiroso metido a intelectual, verá que os comunistas do século XXI seguem sua cartilha.
Já conseguiram êxito no domínio de todos os sindicatos de trabalhadores, bem como das redações dos veículos de comunicação, já que os cursos de jornalismo formam a cada ano um grupo mais ou menos homogêneo que vai para o mercado de trabalho de cabeça feita.
Em linhas muito gerais é isso que vem ocorrendo. No entanto a palavra "comunismo", quando falada ou escrita, é repudiada pelos próprios comunistas que se apressam em ridicularizá-la e afirmam que "comunismo não existe mais". (Todo comunista é um doente mental e o sintoma dessa moléstia é a mentira). Todavia isso é um embuste, porque a palavra comunismo passou a ser odiada justamente porque todas as ditaduras comunistas liquidaram a liberdade e a democracia e prenderam ou assassinaram seus oponentes. Imaginem se vão admitir que são comunistas esses vadios, vagabundos e mentirosos?
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Gramsci: o embusteiro italiano |
Infelizmente a grande imprensa nacional e internacional já está em boa parte controlada pelos comunistas. E isto faz com que o noticiário do Paraguai seja completamente distorcido, como foi o de Honduras. A mídia dá relevo não para a questão principal, que é a ameaça comunista. Sim, porque os jornalistas militantes cuidam zelozamente para que este aspecto ideológico seja escamoteado. É como se os fatos sofressem uma "lavagem" depurando-os do conteúdo eminentemente político. O foco é dirigido no interesse dos comunistas e a palavra de ordem desde o início foi "golpe". Os comunistas como vítimas!, mais uma vez. A sordidez não tem limite. Invocam instituições democráticas para depois destruí-las.
Então, o que houve no Paraguai foi uma reação notável não só à figura de Fernando Lugo e seus bate-paus, mas cravou um dardo certeiro no coração do Foro de São Paulo, razão pela qual em uníssono todos os tiranetes vagabundos e mentirosos do continente latino-americano gritaram: "é golpe". Mas não colou. Pegaram o bonde errado justamente num país em que davam como favas contadas o seu domínio absoluto. Nenhum tanque na rua. Forças Armadas nos quartéis. Nenhuma prisão, nenhum ato de violência por parte do novo governo. Nada. Os paraguaios seguem a vida normalmente.
Esta é, acreditem prezados leitores, a verdade absoluta sobre o episódio paraguai; uma leitura honesta do ponto de vista político e jornalístico.
Conclusão: o sonho democrático latino-americano voltado para a paz, a liberdade e o desenvolvimento ainda prevalece e com ele a ajeriza ao arreganho de qualquer tipo de ditadura.
Os paraguaios surpreenderam o mundo! E, sobretudo, a canalha comunista do Foro de São Paulo.
Pena que as oposições aos velhacos aqui no Brasil, na Venezuela, no Uruguai, no Chile, na Argentina, no Peru, no Equador e demais países do continente sul-americano, ficaram mudas!
Em troca, líderes como Fernando Henrique Cardoso preferem sair por aí defendendo a liberação da maconha ou dando discursos idiotas sobre desenvolvimento sustentável.
Até agora não ouvi e nem li pronunciamento de qualquer liderança de nível internacional importante fazendo uma crítica leal e justa sobre o evento político paraguaio e seus reflexos sobre a América Latina. O continente faz pouco que saiu de ditaduras de despotas cucarachas e corre o risco de ser dominado por ditaduras comunistas. Em pleno século XXI!Hora de reagir. O Paraguai já está fazendo a sua parte.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
PARAGUAI - CUBA: DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS
Os governos de esquerda, radicais e moderados, ao mesmo tempo em que pressionam o Paraguai, abrem as portas dos máximos organismos regionais como a OEA, o Mercosul e a Unasul à Cuba comunista.
1. O Poder Legislativo do Paraguai destituiu o esquerdista presidente Lugo em uma rápida e quase unânime votação na Câmara dos Deputados e no Senado. 76 deputados, de um total de 80, e 39 senadores, de um total de 45, votaram a favor da destituição. Os legisladores paraguaios alegam que se basearam estritamente na Constituição, a qual permitiria processos rápidos de destituição. Os governos mais radicalmente esquerdistas e anti-democráticos da região, Venezuela, Bolívia e Equador, começaram a rasgar as roupas e falam de golpe. Governos da esquerda mais moderada estudam a possibilidade de suspender o Paraguai de organismos regionais como o Mercosul e a Unasul, alegando que violaram-se as denominadas "cláusulas democráticas" que constam dos estatutos de ambas as entidades internacionais, das quais o Paraguai é membro.
2. O concreto é que tanto os governos da esquerda radical quanto os governos da esquerda moderada, ao mesmo tempo em que agora começam a pressionar o Paraguai, abrem as portas dos máximos organismos regionais como a OEA, o Mercosul e a Unasul à Cuba comunista. O "eixo" de governantes de esquerda, radicais e moderados, abrem portas, braços e cofres aos ditadores comunistas, apesar de que em Cuba violam-se desde há mais de meio século todos e cada um dos princípios democráticos que hoje se alegam para condenar a complexa situação política paraguaia.
O governo brasileiro, por exemplo, que trata de justificar seu silêncio em relação à violação dos direitos humanos na Cuba comunista, alegando o princípio da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados, na hora de pressionar o Paraguai parece se esquecer desse mesmo princípio de não-intervenção.
Dessa maneira, em relação ao Paraguai e a Cuba usam-se dois pesos e duas medidas.
3. A recente visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, à América Latina, passou para um segundo plano por causa da crise institucional no Paraguai, mas não conseguiu diminuir a importância intrínseca desse giro, o segundo em seis meses.
4. Na Venezuela, Ahmadinejad fortaleceu os vínculos econômicos e estratégicos com o governo de Chávez, que incluem a fabricação de equipamentos militares para o Exército venezuelano e a colaboração no plano da energia nuclear.
5. Na Bolívia, o presidente iraniano também estreitou laços militares com o governo do esquerdista Evo Morales, incluindo a área da inteligência militar, estabeleceu acordos para a exploração das ricas jazidas de urânio dessa nação andina e fortaleceu o "eixo" anti-norte-americano no continente.
6. Tanto na Venezuela quanto na Bolívia, dirigentes opositores, personalidades da sociedade e especialistas alertaram sobre o perigo que representava essa aliança com o Irã para as soberanias dos respectivos países. Também ficou claro o objetivo de fortalecer as Forças Armadas, na medida em que vão se transformando em fatores potencialmente revolucionários e de suporte para a continuidade de regimes esquerdistas.
7. No Uruguai, no mesmo sentido, tiveram ampla repercussão as declarações da senadora Lucía Topolansky, esposa do presidente José Mujica, ambos ex-guerrilheiros tupamaros, manifestando seu objetivo de "fazer um trabalho nas cabeças" dos membros das Forças Armadas uruguaias, para pô-los do lado da Frente Ampla e assegurar a continuidade do projeto hegemônico da esquerda uruguaia. A senadora Topolansky, passando por cima de preceitos constitucionais que determinam a neutralidade política dos militares em atividade, chegou a estabelecer uma meta para a primeira etapa da infiltração ideológica nas Forças Armadas uruguaias: contar com "um terço da oficialidade" e com "a metade da tropa".
8. O plano Ahmadinejad e o plano Topolansky parecem coincidir, cada um à sua maneira e em seus respectivos âmbitos de influência, em um mesmo objetivo de captação das Forças Armadas para eventuais aventuras revolucionárias. Para alcançar esse objetivo hegemônico, se deverá obter uma conseqüente desconstrução de princípios e mentalidades dos membros das Forças Armadas que ainda possam oferecer resistência a essas aventuras.
9. Diante de ambos os planos impulsionados pelo presidente Ahmadinejad e pela senadora Topolansky, nenhum dos governantes regionais fez a menor advertência ou manifestou o menor sinal de inquietação. São os mesmos governantes que hoje clamam aos céus pela crise institucional paraguaia, alegando cláusulas democráticas estabelecidas em pactos continentais. São os mesmos governantes que alegam o princípio da não-intervenção nos assuntos internos de outros países para abrir os braços aos ditadores cubanos e para abrir as portas à Cuba nos mais importantes organismos continentais.
São dois pesos e duas medidas injustas, arbitrárias e inaceitáveis.
Destaque Internacional - Ano XIV - nº 349 - Madri - São José da Costa Rica - Santiago. Domingo, 24 de junho de 2012. Editorial interativo. São bem-vindas as sugestões, opiniões e críticas. Pode-se difundir livremente, inclusive sem citar a fonte.
Tradução: Graça Salgueiro
A SINGULARIDADE DA ECONOMIA
O que confere à economia sua posição única e peculiar, tanto na órbita do conhecimento puro quanto na da aplicação prática do saber, é o fato de que os seus teoremas não são passíveis de comprovação ou de refutação com base em experiências. Certamente, uma medida proposta por um raciocínio econômico correto produz os efeitos desejados, e uma medida proposta por um raciocínio econômico equivocado não atinge os objetivos pretendidos. Porém, ainda assim, esses resultados são sempre uma experiência histórica, ou seja, experiência de fenômenos complexos. Não servem para provar ou refutar qualquer teorema econômico.
A adoção de medidas econômicas erradas resulta em consequências não desejadas. Mas esses efeitos não possuem jamais aquele poder de convencimento que nos é propiciado pelos "fatos experimentais" no campo das ciências naturais. Só a razão, sem qualquer ajuda da comprovação experimental, pode demonstrar a procedência ou a improcedência de um teorema econômico.
A consequência nefasta deste estado de coisas é impedir que as mentes menos preparadas possam perceber a realidade dos fatos com que lida a economia. Para o homem comum, "real" é tudo aquilo que ele não pode alterar e a cuja existência tem que ajustar suas ações, se deseja atingir seus objetivos. A constatação da realidade é uma experiência dura. Ensina os limites impostos à satisfação dos desejos. É a contragosto que o homem reconhece que existem coisas — todas aquelas que decorrem de relações causais entre eventos — que não podem ser alterados com base em crenças que decorrem de seus desejos e não de fatos. Não obstante, a experiência sensorial fala uma linguagem facilmente compreensível. Não se pode argumentar contra uma experiência feita corretamente. A realidade de fatos estabelecidos experimentalmente não pode ser contestada.
Mas, no campo do conhecimento praxeológico, nem o sucesso e nem o fracasso falam uma linguagem clara que todos compreendam. A experiência decorrente exclusivamente de fenômenos complexos não consegue evitar interpretações em que os desejos substituem a realidade. A propensão, existente nos homens menos preparados, de atribuir uma onipotência aos seus pensamentos, por mais confusos e contraditórios que sejam, nunca é desmentida pela experiência de forma clara e sem ambiguidade. O economista jamais tem condições de refutar os impostores da mesma maneira que o médico pode refutar os curandeiros e os charlatães. A história só ensina àqueles que sabem como interpretá-la com base em teorias corretas.
A economia e a opinião pública
O significado desta diferença epistemológica fundamental fica mais evidente se nos dermos conta de que a utilização prática dos ensinamentos da ciência econômica pressupõe que eles sejam aceitos e apoiados pela opinião pública. Na economia de mercado, a implantação de inovações tecnológicas necessita apenas de que algum ou alguns indivíduos mais esclarecidos percebam a sua utilidade. Os pioneiros do progresso não podem ser detidos pela obtusidade e pela inépcia das massas; não precisam obter de antemão o apoio das pessoas para os seus projetos; realizam-nos, em que pese serem às vezes motivo de escárnio. Mais tarde, quando produtos novos, melhores e mais baratos surgirem no mercado, esses zombadores correrão atrás deles. O homem, por mais limitado que seja, sabe distinguir a diferença entre um sapato mais caro e um mais barato e apreciar a utilidade de um novo produto.
Mas, no campo da organização social e das políticas econômicas, as coisas se passam de maneira diferente. Nesse terreno, as melhores teorias são inúteis se não tiverem o apoio da opinião pública. Não podem funcionar se não tiverem o apoio da maioria da população.
Qualquer que seja o sistema de governo, não há possibilidade de se governar uma nação de forma duradoura com base em doutrinas rejeitadas pela opinião pública. No final, prevalece sempre a filosofia que tem o apoio da maioria. A longo prazo, um governo impopular não pode subsistir. A diferença entre democracia e despotismo não afeta o resultado final. Afeta apenas a maneira pela qual se processará o ajuste entre o sistema de governo e a ideologia defendida pela opinião pública. Os autocratas impopulares só podem ser destronados por levantes revolucionários, enquanto que governantes democráticos impopulares são pacificamente substituídos na eleição seguinte.
A supremacia da opinião pública determina não apenas o caráter peculiar que a economia ocupa no conjunto do pensamento e do conhecimento; determina o próprio curso da história. As costumeiras discussões quanto ao papel que o indivíduo representa na história são superficiais. É sempre o indivíduo que pensa, age e realiza. As novas ideias e as inovações decorrem sempre de homens excepcionais. Mas esses grandes homens não podem conseguir ajustar a ordem social segundo suas ideias, se não conseguirem convencer a opinião pública.
O florescimento da sociedade humana depende de dois fatores: da capacidade intelectual de homens excepcionalmente dotados e da habilidade desses ou de outros homens para tornar essas ideologias aceitáveis pela maioria.
Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".
DOIS BLOCOS DISTINTOS

A América Latina caminha para ficar dividida em dois blocos muito distintos. De um lado, o Mercosul, com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, sendo que a Venezuela aguarda aprovação do Parlamento paraguaio. Do outro, a Aliança do Pacífico, que foi assinada recentemente entre México, Colômbia, Peru e Chile, com Costa Rica e Panamá na fila de espera.
A intenção da Aliança do Pacífico é criar uma zona de livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas. Os quatro países membros representam 40% do PIB da América Latina e 55% das exportações da região ao resto do mundo. O bloco pretende buscar formas mais rápidas e pragmáticas de avançar nos temas comerciais e de integração, sem impedimentos ideológicos.
Se o Mercosul sofre cada vez mais influência do “socialismo bolivariano”, encabeçado por Hugo Chávez, a Aliança do Pacífico promete ser uma alternativa bem mais interessante. O Chile, afinal, representa o país latino-americano mais desenvolvido em termos econômicos e políticos, com uma renda per capita bem acima da média e a primeira colocação no ranking de IDH na vizinhança.
O grupo que o Brasil faz parte aponta para Cuba com crescente admiração. O grupo do Chile prefere apontar na direção do livre comércio, incluindo acordo bilateral com o próprio “Satã”, os Estados Unidos. A Argentina tem ignorado inúmeras cláusulas comerciais. Até mesmo confiscar propriedade estrangeira o governo Kirchner fez recentemente. O Brasil é um dos países que mais tem apelado para medidas protecionistas nos últimos meses.
Se a Venezuela finalmente entrar no Mercosul, isso será sua pá de cal definitiva, rasgando a cláusula que exige instituições democráticas para ser membro. Brasil, Argentina e Uruguai já ratificaram a adesão, restando apenas a aprovação final do Paraguai. Talvez isso explique a reação dos líderes da Unasul e Mercosul, sob a liderança de Hugo Chávez, ao impeachment do presidente Fernando Lugo nos últimos dias.
Não resta dúvida de que o processo foi acelerado demais, mas tudo leva a crer que foi feito dentro das regras constitucionais. Ou seja, não faz sentido falar em golpe. Além disso, a forma com a qual o presidente Lugo lidou com a questão agrária mostrou extrema incompetência, para dizer o mínimo. Há claros indícios de que ele foi até conivente com o bando de criminosos invasores de terra, que matou seis policiais em confronto sangrento.
Sempre que figuras como Chávez, Evo Morales e Rafael Correa falam em democracia, pode estar certo de que planejam alguma ação autoritária. É lamentável ver o Brasil liderando este tipo de movimento. O Paraguai foi suspenso do Mercosul, o que acende sinais de alerta quanto ao respeito do bloco às leis internas dos países-membros.
A postura do Itamaraty desde o governo Lula tem se mostrado invariavelmente incorreta, sempre mergulhada em ranço ideológico. A subserviência ao ditador iraniano é prova disso, assim como a negligência no caso da Síria. A aproximação aos ditadores africanos foi outra bola fora, sempre com a meta de conseguir o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O então presidente Lula até chegou a perdoar a dívida destes países em busca deste objetivo, sacrificando os pagadores de impostos brasileiros.
Um estudo feito pelo Instituto Acende Brasil, examinando 11 incidentes em que intervenções ou pleitos de nossos parceiros alteraram as condições originalmente pactuadas em contratos ou tratados, calculou em R$ 6,7 bilhões as perdas para o Brasil só no setor energético. Olhando para o futuro, as intervenções já realizadas poderiam elevar esta cifra para mais de R$ 21 bilhões.
Bolívia, Argentina, Venezuela e Paraguai, todos com governantes aliados ideologicamente ao PT, tomaram decisões unilaterais que representaram, de alguma forma, quebra de contrato com empresas brasileiras do setor de energia. Conforme diz o relatório do instituto:
“O Brasil tem sistematicamente ignorado ou menosprezado – com base numa postura de baixa transparência – os prejuízos ocasionados pelos seus acordos para os próprios brasileiros. Tais prejuízos têm sido causados pelo rompimento ou alteração de contratos por ações voluntaristas de governos.”
Traduzindo: o populismo dos camaradas tem sido pago pelos brasileiros. O ex-presidente Lula expressou a mentalidade por trás desta atitude passiva e negligente: “O Brasil é a maior economia e tem que ser generoso, aquele que ajuda o avanço dos outros”. É o PT usando o governo, ou seja, o dinheiro da “viúva”, para fazer “caridade” aos companheiros de ideologia.
Ao julgar pela tendência até aqui, a América Latina acabará dividida em dois blocos muito diferentes. Um deles será pragmático e deverá contribuir para o progresso de seus membros. O outro acabará como um palco para discursos populistas e demagógicos dos governantes mais autoritários da região. É uma pena que o governo brasileiro, sob a liderança do PT, tenha optado pelo lado fracassado. Por: Rodrigo Constantino
DEBATE E PRECONCEITO
ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 24 JUNHO 2012
ARTIGOS - CULTURA
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É ilusório esperar que a racionalidade científica prevaleça num confronto que envolve muitos interesses e paixões; mas não é demais desejar que algumas pessoas capacitadas acompanhem e julguem o debate desde um ponto de vista menos enviesado e mais compatível com o estado atual dos conhecimentos.
O número dessas pessoas é, com certeza, mínimo. O que se observa nas disputas correntes é que cada facção, no empenho de conquistar a adesão do povo inculto e distraído, procure ideias e propostas, comprimindo-as nuns quantos slogans e chavões que possam ser repetidos até impregnar-se no subconsciente da multidão como imperativos categóricos, porém busca simplificar ainda mais as do partido contrário, reduzindo-as a um esquema caricatural próprio a despertar incompreensão e repugnância.
Para os fins práticos da disputa legislativa, é importante que tanto a adesão quanto a repulsa sejam alcançadas da maneira mais rápida possível, contornando discussões aprofundadas que poderiam amortecer as convicções da plateia ou adiar perigosamente a sua tomada de posição. Isso implica que as ideias do adversário não possam nunca ser examinadas objetivamente nos seus próprios termos e segundo suas próprias intenções, mas tenham de ser sempre deformadas para parecer tão repulsivas que a mera tentação de lhes conceder um exame benevolente soe ela própria como repulsiva, inaceitável, indecente.
O debate assim conduzido é, portanto, sempre e necessariamente uma confrontação de preconceitos, no sentido mais literale etimológico do termo. Esse sentido contrasta de maneira chocante com o uso polêmico que no curso do próprio debate se faça desse termo como rótulo infamante.
Carimbar as ideias do adversário como “preconceitos”, dando a entender que não passam de tomadas de posição irracionais e sem fundamento é, na maior parte dos casos, nada mais que um pretexto para não ter de examinar as razões que as fundamentam, muito menos a possibilidade de haverem nascido de boas intenções. Aquilo que aí se chama "debate" não é portanto nenhuma confrontação de ideias, mas uma mera disputa de impressões positivas e negativas, um jogo de cena.
É também natural que, justamente por isso, os debatedores procurem abrigar-se sob a proteção da "ciência", mas nenhuma acumulação de dados estatísticos, nenhuma carga de citações acadêmicas ou mesmo de alegações cientificamente válidas em si mesmas dará qualquer legitimidade científica a um argumento, se este não inclui a reprodução fiel e a discussão científica dos argumentos antagônicos.
Ciência é, por definição, a confrontação de hipóteses: se, em vez deexaminadas extensivamente, as opiniões adversas são escamoteadas, caricaturadas, deformadas ou expulsas "in limine" da discussão, sob algum pretexto, de pouco vale você adornar a sua própria com as mais belas razões científicas. Não se faz ciência acumulando opiniões convergentes, mas buscando laboriosamente a verdade entre visões divergentes.
O teste da dignidade científica de um argumento reside precisamente na objetividade paciente com que ele examina os argumentos adversos. Quem logo de cara os impugna como "preconceitos" nada mais faz do que tentar criar contra eles um preconceito, dissuadindo a plateia de examiná-los.
Que as pessoas mais inclinadas a usar desse expediente sejam em geral justamente aquelas que mais apregoam a "diversidade", a "tolerância" e o "respeito às opiniões divergentes", não deve ser necessariamente interpretado como uma hipocrisia consciente, mas muitas vezes como sintoma de uma deformidade cognitiva bastante grave; deformidade que, por afetar pessoas influentes e formadores de opinião, arrisca trazer danos para toda a sociedade.
Quando digo "deformidade cognitiva", isso não deve ser compreendido no sentido de mera deficiência intelectual moralmente inofensiva. A recusa de examinar as opiniões alheias nos seus próprios termos e segundo suas intenções originárias equivale à recusa de enxergar no adversário um rosto humano, à compulsão de reduzi-lo ao estado de coisa, de umobstáculo material a ser removido.
Essa compulsão é de índole propriamente psicopática (veja-se a ótima entrevista da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva em http://www.youtube.com/watch?v=m_wUDsshdvk. Quando legitimada em nome de belos pretextos humanitários, torna-se uma força ainda mais desumanizante, pois remove a conduta moral do campo da vida psíquica concreta para o da simplesadesão a um grupo político ou programa ideológico. O ser humano,então , deixa de ser julgado bom ou mau por seus atos e sentimentos pessoais, mas por aderir à facção previamente autodefinida como detentora monopolística das boas intenções – facção dispensada, por isso mesmo, de conceder ao adversário a dignidade da atenção compreensiva.
A percepção direta das motivações humanas é aí substituída por um sistema mecânico de reações estereotípicas, altamente previsíveis e controláveis. E quando o programa já se tornou tão disseminado na mídia, no sistema de ensino e no vocabulário corrente ao ponto de já não precisar apresentar-se explicitamente como tal, mas passa a soar como a voz impessoal e neutra do senso comum, então a desumanização preventiva do adversário torna-se o procedimento usual e dominante nos debates públicos.
Não é preciso dizer que esse estado de coisas já vigora no Brasil desde há pelo menos uma década. Estamos em pleno império da manipulação psicopática da opinião pública.
Publicado no Diário do Comércio.
EGITO
Ao vencedor, o Egito (uma batata quente)
Mohammed Morsi não é uma figura faraônica, mas o poder simbólico de sua vitória eleitoral é indiscutível. No Egito que já foi governado por faraós, reis e ditadores, ele é o primeiro presidente eleito democraticamente. Funcionário da Irmandade Muçulmana (o termo técnico é apparatchik), Morsi também é o primeiro presidente de um partido islamista que chega ao poder no mundo árabe.
Morsi tem um mandato popular e legitimidade democrática, mas seus poderes são restritos. Os militares que capitaneam a transição pós-ditadura Mubarak foram astutos para não melar sua vitória eleitoral. No entanto, eles manietaram o poder do futuro presidente. Têm poder de veto nas decisões do Executivo e assumiram poderes legislativos com a dissolução do Parlamento eleito democraticamente e que era controlado por partido islâmicos.
E os militares estão aferrados ao que se conhece como “estado profundo”, com seus tentáculos no aparato de segurança, no judiciário e nos negócios (por alguns cálculos controlam 40% da economia). Eles são um estado dentro do estado. Entramos em uma segunda fase da transição no Egito. A Irmandade Muçulmana e os militares são agora parceiros relutantes no poder e o grupo islâmico tem uma tradição de duplicidade.
Ele confronta e faz conluio com os militares. Na época dos protestos pela derrubada de Hosni Mubarak, se dizia que a Irmandade tinha um pé na praça Tahrir e o outro nos quartéis. Agora é a questão de saber até que ponto o grupo irá confrontar os militares para ampliar o seu poder. É um jogo delicado, pois ele precisa de aliados que a tratam com suspeita, como setores liberais e esquerdistas.
Ademais, a Irmandade precisa agir com pragmatismo para atrair investidores estrangeiros e trazer de volta os turistas, vitais para a economia local (como proibir álcool e biquini?). E não podemos esquecer que, embora a vitória eleitoral tenha sido legítima, este é um país polarizado, pois quase metade dos eleitores votaram em Ahmed Shaifk, um resquício da ditadura Mubarak, com sua promessa de restaurar lei e ordem e botar um frei no avanço islâmico. A Irmandade Muçulmana foi eleita pelo voto e resultados serão cobrados. Os militares foram astutos para aceitar a vitória e o primeiro discurso do vencedor Morsi foi conciliatório. O que mais eles poderiam fazer?
Na política externa, apesar da hostilidade a Israel e o desprezo pelo modo de vida ocidental, não há como visualizar rupturas imediatas, a destacar no acordo de paz com os israelenses. Ademais, lá está o poder de veto dos militares, que recebem ajuda dos EUA, o grande aliado de israel. Existe uma história de virulento antiamericanismo e antissemitismo na Irmandade Muçulmana. Com os EUA, o grupo buscou muitos contatos nos últimos meses para diminuir as preocupações. No entanto, não respondeu aos acenos de Israel para abrir canais de comunicação. Natural a apreensão israelense com a fluidez do cenário.
De novo, nenhuma supresa com o prontuário de duplicidade da Irmandade Muçulmana, capaz de um pragmatismo venal em algumas situações e e de rigidez fanática em outras. A vitória de Morsi foi bem recebida em algumas partes do Oriente Médio, como no pequeno, riquíssimo e autocrata Catar, que já se envolveu na queda de Muamar Kadafi no Líbia e apóia ativamente rebeldes da Irmandade Muçulmana que tentam derrubar a ditadura secular de Bashar Assad na Síria. No entanto, o grupo não conta com a mesma simpatia da ditadura fundamentalista sunita da Arábia Saudita, que o considera uma ameaça apenas menor do que o Irã xiita.
Com sua vitória democrática no mais populoso país do mundo árabe, a Irmandade Muçulmana significa uma redobrada injeção de ânimo para as rebeliões na região, mas será o seu desempenho como parceira no poder no Egito que dará uma medida mais precisa sobre as perspectivas da Primavera Árabe. A Irmandade Muçulmana venceu, o Egito é outra história.Por: Caio Blinder
domingo, 24 de junho de 2012
O HOMEM QUE DESMORALIZOU A PATIFARIA
Tão logo começaram a circular pelo mundo as imagens de Lula e Maluf selando aliança política para beneficiar Haddad no pleito paulistano, a mídia disciplinada pelo PT começou a reprovar o comportamento de Lula. Não o fazer seria escandaloso. Mas era preciso reprovar como quem estivesse surpreso. Como se aquilo fosse uma grande novidade e uma nódoa incompatível com a alva túnica do seráfico ex-presidente.
Do lado oposicionista, surgiram comentários no sentido de que se tratava de uma aliança entre iguais. Dizia-se que ambos se mereciam. Que seriam parceiros na escassez de escrúpulos. Que os dois seriam dotados de uma consciência maleável como massinha de moldar. Também essa foi minha primeira opinião, até assistir a um debate em que tal afirmação foi feita, recebendo a seguinte contestação de um representante do PT: "Não dá para comparar Lula com Maluf. Lula não é procurado pela Interpol!". Essa frase me levou a colocar os dois personagens nos pratos de uma balança mental das iniquidades. Instalei-os ali, enquanto sopesava as respectivas biografias, que, a essas alturas, enchiam as páginas dos blogs e sites da rede.
Resultado do teste: Maluf foi catapultado para cima enquanto Lula se estatelava embaixo. De fato, Lula não tem condenação criminal. Mas até mesmo na balança de um juízo moral tolerante, é infinitamente mais danoso do que seu parceiro. O que ele fez com a política, com a democracia, com os critérios de juízo dos eleitores e com as próprias instituições nacionais é pior, muito pior do que o prontuário criminal do seu parceiro na eleição paulistana. Os estragos de Maluf se indenizam em São Paulo, com dinheiro, e se punem com cadeia. Os de Lula levarão décadas para serem retificados na consciência nacional e nas instituições do país.
A sociedade, em algum momento, emergirá da letargia produzida pelo carisma do ex-presidente e pela rede de mistificações em que se envolve. Compreenderá, então, que o modo de fazer política introduzido por Lula conseguiu desmoralizar a patifaria. Antes dele havia um certo recato na imoralidade. As vilanias eram executadas com algum escrúpulo. Quando alguém gritava que o rei estava nu, as pessoas olhavam para as partes polpudas do rei e se escandalizavam. Com Lula, as pessoas olham para o lado. Não querem ver. São como os julgadores de Galileu que se recusavam a olhar pelo telescópio com que ele lhes queria mostrar o universo: "Noi non vogliamo guardare perché se lo facciamo potremmo cambiare". Não olham porque mudar de opinião pode custar caro.
Então, o rei aparece no jardim, nu como uma donzela de Botticelli, e as pessoas olham para o Maluf, de terno e gravata com ar de escândalo. Se isso não é a desmoralização da moral, se a influência de Lula nos costumes políticos não nos submete, como cidadãos, aos padrões próprios de um covil de velhacos, então é porque - ai de mim! - em algum lugar do passado recente, perdi a visão e a razão.
Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.
OS TROPEÇOS NA AMÉRICA LATINA
No Paraguai o presidente tem seu mandato cassado, na Argentina uma greve de caminhoneiros paralisa o país, na Venezuela o presidente some para tratar de um câncer e deixa a nação desgovernada, no Brasil a classe política não dá trégua - manipula uma CPI, aumenta sem limites seus próprios salários, um ex-presidente tenta interferir no Judiciário e ressuscita um político acusado de corrupção que os brasileiros querem é esquecer. Na América Latina morre-se de tudo menos de tédio. A instabilidade política e econômica interfere no presente, prejudica o futuro, domina a cena e atrasa o desenvolvimento.
A pesquisa Panorama Global dos Negócios, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), comprovou isso em consulta feita a 811 executivos de empresas na América Latina. A boa reação à crise global de 2008 e a recuperação econômica do continente entre 2009 e 2011 estão gravemente ameaçadas em 2012. Na pesquisa, 43% dos executivos financeiros mostraram pessimismo em relação ao futuro enquanto só 27% estão otimistas. Um pouco melhor do que nos EUA e Europa, centros nervosos da crise, onde o otimismo convence só 25,1% dos norte-americanos e 20,8% dos europeus. Mas por aqui a esperança já foi mais robusta.
A corrupção - sempre ela - é apontada na pesquisa como o problema maior a atrapalhar o desenvolvimento dos negócios. Para 71% dos executivos, as práticas corruptas têm poderoso efeito sobre a evolução das economias latino-americanas. "É um índice muito alto comparado com outras regiões. Aqui a corrupção é muito mais endêmica", analisa Antonio Carvalho, que comandou a pesquisa da FGV. Nos EUA, por exemplo, só 8% consideram que a corrupção prejudica os negócios.
No Brasil, de 7,5% de crescimento registrado em 2010, o PIB desabou para 2,7% em 2011, e em 2012 as previsões têm caído continuamente - hoje oscilam entre 2% e 2,5%. O banco Credit Suisse baixou a sua para o raquítico índice de 1,5%, o que deixou irritado o ministro Mantega. Se, em vez de fazer apostas irreais, que nunca se confirmam, o ministro trabalhasse para remover os entraves estruturais ao crescimento, com certeza colheria melhores resultados.
Mas vem da Argentina outro abalo tão rápido e surpreendente como a queda de Lugo. Em dezembro passado, na euforia da posse da presidente Cristina Kirchner, 38% dos argentinos consideravam a situação econômica do país boa e apenas 17% a viam como ruim, segundo o Índice Geral de Expectativas, da Universidade Católica Argentina. Em apenas cinco meses a euforia murchou, os pessimistas dobraram para 34% e os otimistas desabaram para 24%. No meio disso, a inflação cresceu e o governo continuou manipulando o índice, o ritmo dos investimentos caiu 21% entre março de 2011 e 2012, os investidores se retraíram diante da tentativa da presidente de usar a nacionalização da petrolífera espanhola Repsol para recuperar popularidade política, a economia desacelerou e estagnou desde abril e as projeções de crescimento do PIB (o FMI, por exemplo, estimava em 4,6%) são revistas para baixo. Para completar, na quarta-feira, uma greve de caminhoneiros paralisou os transportes e deixou o país sem combustível, enfraquecendo ainda mais a pálida popularidade de Cristina.
O que impressiona (e alimenta esperanças) é a manutenção do emprego em índices elevados em uma conjuntura de desaceleração econômica. E não é só no Brasil. Na pesquisa, simultaneamente ao crescente pessimismo, executivos das empresas latino-americanas apostam em expansão na contratação da mão de obra em 2012. No Brasil, economistas tentam explicar que a dispensa de trabalhadores é a última das medidas de prevenção contra conjunturas de desaquecimento da economia. Não foi bem assim na crise de 2008, quando, assustadas em relação ao futuro, grandes empresas logo trataram de demitir empregados. E assim caminha a América Latina, instável, em tropeços, altos e baixos. De repente acontece o inesperado, como esse impeachment de Lugo. Uma reforma política, a mãe de todas as outras, faria bem ao Continente.
JORNALISTA, É PROFESSORA DA PUC-RI O Estado de S paulo
O SONHO DA BLINDAGEM PRÓPRIA
Texto irônico sobre o politicamente correto e a segurança pública ou a falta dela no Brasil.
Aloysio Tiscoski
Antigamente, desde os bons tempos do Banco Nacional da Habitação, no século passado, falava-se muito no sonho da casa própria, todo mundo tinha o sonho da casa própria. Hoje, quase não se escuta mais a expressão. Imagino que é porque, como verificamos todos os dias em comerciais de televisão e pronunciamentos oficiais, o governo já resolveu o problema da moradia. Os brasileiros (e brasileiras, vivo esquecendo a nova regra; atualmente, falou no macho, tem que falar na fêmea e, portanto, acostumemo-nos: alunos e alunas das escolas públicas, passageiros e passageiras do voo tal, cavalos e éguas do Jockey Club, cachorros e cadelas do Kennel Club, motoristos e motoristas, fisioterapeutos e fisioterapeutas, governantes e governantas, delinquentes e delinquentas, etc.), os brasileiros e brasileiras, dizia eu, agora são mostrados em filmetes radiosos, cheios de dentes, envergando trajes impecáveis e estampando nos rostos a felicidade. Como os demais compatriotas e compatriotos seus, já moram em espaçosas casas próprias, com área de lazer, esgoto tratado, água encanada, transporte acessível, assistência médica e tudo mais que os governos fazem pelo bem público, com os quatro ou cinco meses de nossos salários que na marra afanam. Abate-se o porcentual normal de ladroagem, de desperdício e de propaganda e o que sobra, embora por vezes não muito, é rigorosamente aplicado em investimentos e serviços públicos.
O sonho da casa própria chega perto da obsolescência (perdão por estes novos parênteses, sei que são chatos e sinal de má escrita, mas é somente uma coisinha rápida: alguma entidade malévola me sugeriu escrever "obsoletibilizado", mas segurei a mão a tempo - deve ser porque, não faz muito, ouvi entrevistados na televisão dizendo "proporcionabiliza" e "originalizou", esse negócio pega), mas outro vem ocupar seu lugar, ditado pela eterna insatisfação do brasileiro, que, depois de conseguir uma casa, ainda quer ter o direito de que ninguém a invada para furtar, violentar ou matar. Por essa razão, meu palpite, também baseado em diversas notícias e reportagens que vêm circulando, é que abraçaremos um novo sonho, bem mais moderno, qual seja o sonho da blindagem própria. O Brasil está assumindo a liderança mundial, não só na fabricação e utilização de blindagens de todos os tipos, como no desenvolvimento de tecnologias avançadas, já se prevendo a formação de uma vastíssima cadeia produtiva e comercial.
Creio que a novidade começou em São Paulo, que é onde mora o dinheiro, mas está se espalhando por todo o País. Primeiro vieram os automóveis, cujos fabricantes, em breve, certamente oferecerão (perdão mais uma vez, mas aproveito para conclamar a solidariedade dos amigos, admiradores e usuários do operoso verbo "oferecer", ora vivendo seus últimos dias esquecido e abandonado, pois que ninguém mais oferece nada e, sim, disponibiliza) modelos blindados, diretamente da linha de montagem. E algum empreendedor pode estar pensando em fechar um convênio com o Exército, para produzir a versão civil do Urutu. Blindam-se vitrines, vidraças, guichês, portarias, bilheterias, portas, paredes e, enfim, praticamente tudo. O número de firmas especializadas aumenta, o de técnicos também, declara-se um boom do blindado.
E, diz aqui um jornal, a novidade mais palpitante, no panorama geral da blindagem, é o cada vez mais cobiçado quarto do pânico. Não basta que o edifício tenha garagem, portaria e elevador blindados e que as portas e janelas do apartamento também sejam blindadas. O indispensável agora é o quarto do pânico, bastante inspirado nos abrigos contra armas nucleares que os americanos construíam no quintal, na época da Guerra Fria. No caso dos apartamentos brasileiros, é facilmente previsível uma, digamos, mudança de paradigma. As antigas dependências de empregadas, cada vez mais inúteis, agora terão seu espaço reservado para o quarto de pânico.
Nunca vi um quarto de pânico, mas sei que o essencial, evidentemente, é total blindagem contra ataques de fora. Podem atirar, tocar fogo, meter o pé de cabra à vontade, que não entram. E, lá dentro, tudo depende da imaginação e, principalmente, do dinheiro do dono. Água encanada e banheiro, claro, geladeira, alimentos para alguns dias, equipamento de comunicação com o exterior, ar condicionado, televisão e o que mais se queira. A ideia, me parece, é, ao acontecer no edifício um arrastão, ninguém ficar nervoso por causa de uma ameaça afinal tão corriqueira quanto um jacaré no Pantanal. Os moradores ganham tempo com suas portas blindadas e se socam no quarto do pânico durante dias, se for necessário, até se assegurarem de que podem sair em segurança.
Para os e as que têm muito medo de assaltos ou já passaram por um, as perspectivas não deixam de ser alvissareiras. A classe média deverá contentar-se com apenas um quarto de pânico básico, modelo econômico, mas capaz de enfrentar comodamente um arrastão de até uma semana. Já os ricos e ricas poderão ter, não quartos, mas apartamentos de pânico. Ou edifícios de pânico, ou condomínios de luxo de pânico, quarteirões de pânico, bairros de pânico. O sujeito ou a sujeita que bolar e patentear um restaurante de pânico fica milionário ou milionária, porque é meio estressante o que está acontecendo com quem vai jantar fora, sabendo que vai, mas não sabendo se volta, como os que embarcavam numa caravela do tempo de Pedro Álvares. Melhor dizendo, quem souber aproveitar as oportunidades vai dar-se bem. As perspectivas são bastante mais promissoras do que se houvesse um plano nacional de segurança pública, como muitos e muitas reclamam, sem enxergar que a blindagem gera emprego e renda, de longe superando as ações de segurança pública. E quem quiser segurança terá toda a liberdade para nunca sair do seu quarto de pânico.Por: João Ubaldo Ribeiro
O Estado de S.Paulo
É O FIM DA SIMBIOSE?
Nos últimos três meses aumentaram as indicações de forte desaceleração da atividade econômica da China, hoje a segunda maior economia do mundo. Há boas razões para entender que esse movimento não reflete apenas o ajuste da economia chinesa à crise global. Pode ser mais do que isso; pode ser o início do rompimento da relação simbiótica mantida entre China e Estados Unidos nos últimos 20 anos.
A simbiose consistiu numa troca recíproca de papéis que configurou uma dependência recíproca. Os Estados Unidos passaram a ser grande mercado consumidor de produtos industrializados chineses e a China, por sua vez, amontoou grandes sobras em receitas (superávits comerciais) que foram imediatamente transformadas em reservas externas e, em seguida, trocadas por títulos do Tesouro dos Estados Unidos (veja o Confira). Ou seja, nessa simbiose, a China atuou como financiadora dos rombos orçamentários (e do consumo) dos Estados Unidos.
Esta não foi apenas uma valsa dançada por um único casal. Outros protagonistas atuaram direta ou indiretamente neste salão. Outros emergentes, como Brasil, Rússia e Índia, também formaram grande volume de reservas depois aplicadas em títulos dos Estados Unidos.
Uma das consequências desse mega- arranjo foi o forte achatamento dos juros internacionais de longo prazo, pela simples razão pela qual se formou vasto mercado tomador de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Juros rastejantes, por sua vez, concorreram decisivamente para a grande expansão do crédito, para a formação das bolhas imobiliárias e para o afundamento na crise.
Agora, a China não pode mais tirar proveito, como antes, do enorme dinamismo do mercado dos Estados Unidos e dos demais países ricos, que perderam capacidade de importar e de se endividar. Em contrapartida, estes países também não podem mais contar com a mesma capacidade que tinham os chineses (e demais emergentes) de seguir amontoando reservas.
Como não podem exportar como antes, os chineses já não conseguem crescer aos ritmos alucinantes de há alguns anos (veja o gráfico). Sua estratégia de política econômica não pode mais concentrar-se no crescimento econômico baseado na expansão do mercado externo (export led growth), mas terá de induzir o crescimento do consumo no mercado interno (domestic led growth).
O problema dessa mudança de modelo é que a China consome pouco. Não mais do que 49% da renda. (Apenas para comparar, o Brasil consome cerca de 73% e os Estados Unidos, quase 100%.) Achatar a poupança na China (de 51%) e transformá-la em consumo interno seria tarefa hercúlea que levaria anos, talvez dezenas.
Até agora, os analistas imaginavam que, uma vez superada a crise, tudo voltaria a ser como antes. Mas as evidências são de que esse retorno à valsa antiga já não seria mais possível. Se não por outras razões, pelo menos por duas: porque a economia dos Estados Unidos já esbarrou no teto de sua capacidade de endividamento (emissão de títulos do Tesouro); e porque parece muito próximo o limite de formação de reservas pela China. Por: CELSO MING
- O Estado de S.Paulo
ESTÁ O PLANETA AQUECENDO?
Uma síntese de porte sobre toda a polêmica do ambientalismo e da necessidade do crescimento sustentável. Excelente crônica. Vale a leitura.
Aloysio Tiscoski
O crescimento sustentável tornou-se fundamental; porém, muitas das teses são destituídas de fundamentos.
Escrevo esta crônica bem antes que a conferência Rio+20 tenha chegado a suas conclusões. Por isso mesmo, me limitarei a algumas considerações acerca de problemas que foram levantados e discutidos neste dias.
Confesso que há 40 anos ou mais, quando tomei conhecimentos da questão ecológica, achei que havia muito exagero em tudo aquilo, ainda que me faltassem maiores informações sobre o assunto.
Mas eu não estava de todo errado. Tanto que, com o passar dos anos, as teses ecológicas tornaram-se menos radicais, e eu, de minha parte, admiti que a defesa do meio ambiente é uma necessidade vital, para a qual todos devemos contribuir, de uma maneira ou de outra.
Quanto a isso, minha adesão é total. Como gosto de bichos, de gato a passarinho, onça, anta, macaco, jacaré, não poderia assistir indiferente à destruição das florestas, nem ao corte de árvores centenárias como as que têm sido postas abaixo por traficantes de madeira.
Tampouco podemos ser tolerantes com a queima de combustíveis altamente poluidores, que envenenam a atmosfera das cidades, especialmente de metrópoles como São Paulo e Rio. Não resta dúvida de que essa quantidade excessiva de carbono, lançada por milhares de veículos, altera as condições atmosféricas locais.
O caminho certo é, evidentemente, reduzir ao máximo a emissão desses gases poluentes, substituindo os motores movidos a petróleo por outros, movidos a eletricidade. Não acredito que alguém, em sã consciência, se oponha a isso. A dificuldade, portanto, não está aí e, sim, na concretização de tais objetivos.
São problemas complexos, que envolvem dificuldades efetivas e interesses de tudo quanto é ordem, a começar pelos econômicos, que, por sua vez, têm implicações sociais nacionais e internacionais.
Para mover os trens e os metrôs, é necessário dispor de energia elétrica, que por sua vez implica na queima de combustíveis poluentes ou na construção de usinas hidrelétricas, que levam à inundação de vastas áreas de florestas.
Outras energias não poluentes, como a eólica e a solar, não terão tão cedo condições de suprir essas necessidades. A solução não é desistir delas, mas tampouco será a pregação alarmista, que ignora as dificuldades reais.
O crescimento sustentável tornou-se um tema fundamental da atualidade, como o demonstra, por exemplo, a realização da Rio+20, com a participação de representantes de mais de cem países. Não obstante, muitas das teses defendidas pelos ambientalistas são classificadas por especialistas no assunto como destituídas de fundamentos científicos.
Agora mesmo, 18 cientistas brasileiros, entre os quais estão físicos, geólogos e climatologistas, dirigiram à presidente Dilma uma carta afirmando que "as mudanças climáticas têm sido pautadas por motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas".
Tal atitude contraria "os princípios basilares da prática científica como também os interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira".
Diz ainda o documento que não há evidências físicas da influência humana no clima do planeta, sendo portanto destituída de fundamento a afirmação de que a atividade industrial tem provocado o seu aquecimento.
Segundo a carta, "o relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de mudanças climáticas registra que, no período de 1850-2000, as temperaturas aumentaram 0,74º C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m".
Acrescenta que, nos últimos 12 mil anos, houve diversos períodos com temperaturas mais altas do que as de hoje e que o nível do mar chegou a subir três metros acima do atual.
Não se verifica, afirma o documento, qualquer aceleração anormal desses indicadores nos últimos 20 mil anos, uma vez que as variações observadas no período da industrialização se enquadram na faixa de oscilações naturais do clima, não podendo ser atribuídas ao uso de combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano.
Acrescenta que, embora milhares de estudos científicos sobre o assunto tenham sido feitos e publicados, nenhuma repercussão tiveram na mídia.
Essa carta, por sua vez, tampouco teve a repercussão esperada.FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 24/06
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