segunda-feira, 25 de junho de 2012

EGITO



Ao vencedor, o Egito (uma batata quente)

Morsi, vitorioso, mas não faraônico
Mohammed Morsi não é uma figura faraônica, mas o poder simbólico de sua vitória eleitoral é indiscutível. No Egito que já foi governado por faraós, reis e ditadores, ele é o primeiro presidente eleito democraticamente. Funcionário da Irmandade Muçulmana (o termo técnico é apparatchik), Morsi também é o primeiro presidente de um partido islamista que chega ao poder no mundo árabe.
Morsi tem um mandato popular e legitimidade democrática, mas seus poderes são restritos. Os militares que capitaneam a transição pós-ditadura Mubarak foram astutos para não melar sua vitória eleitoral. No entanto, eles manietaram o poder do futuro presidente. Têm poder de veto nas decisões do Executivo e assumiram poderes legislativos com a dissolução do Parlamento eleito democraticamente e que era controlado por partido islâmicos.
E os militares estão aferrados ao que se conhece como “estado profundo”, com seus tentáculos no aparato de segurança, no judiciário e nos negócios (por alguns cálculos controlam 40% da economia). Eles são um estado dentro do estado. Entramos em uma segunda fase da transição no Egito. A Irmandade Muçulmana e os militares são agora parceiros relutantes no poder e o grupo islâmico tem uma tradição de duplicidade.
Ele confronta e faz conluio com os militares. Na época dos protestos pela derrubada de Hosni Mubarak, se dizia que a Irmandade tinha um pé na praça Tahrir e o outro nos quartéis. Agora é a questão de saber até que ponto o grupo irá confrontar os militares para ampliar o seu poder. É um jogo delicado, pois ele precisa de aliados que a tratam com suspeita, como setores liberais e esquerdistas.
Ademais, a Irmandade precisa agir com pragmatismo para atrair investidores estrangeiros e trazer de volta os turistas, vitais para a economia local (como proibir álcool e biquini?). E não podemos esquecer que, embora a vitória eleitoral tenha sido legítima, este é um país polarizado, pois quase metade dos eleitores votaram em Ahmed Shaifk, um resquício da ditadura Mubarak, com sua promessa de restaurar lei e ordem e botar um frei no avanço islâmico. A Irmandade Muçulmana foi eleita pelo voto e resultados serão cobrados. Os militares foram astutos para aceitar a vitória e o primeiro discurso do vencedor Morsi foi conciliatório. O que mais eles poderiam fazer?
Na política externa, apesar da hostilidade a Israel e o desprezo pelo modo de vida ocidental, não há como visualizar rupturas imediatas, a destacar no acordo de paz com os israelenses. Ademais, lá está o poder de veto dos militares, que recebem ajuda dos EUA, o grande aliado de israel. Existe uma história de virulento antiamericanismo e antissemitismo na Irmandade Muçulmana. Com os EUA, o grupo buscou muitos contatos nos últimos meses para diminuir as preocupações. No entanto, não respondeu aos acenos de Israel para abrir canais de comunicação. Natural a apreensão israelense com a fluidez do cenário.
De novo, nenhuma supresa com o prontuário de duplicidade da Irmandade Muçulmana, capaz de um pragmatismo venal em algumas situações e e de rigidez fanática em outras. A vitória de Morsi foi bem recebida em algumas partes do Oriente Médio, como no pequeno, riquíssimo e autocrata Catar, que já se envolveu na queda de Muamar Kadafi no Líbia e apóia ativamente rebeldes da Irmandade Muçulmana que tentam derrubar a ditadura secular de Bashar Assad na Síria. No entanto, o grupo não conta com a mesma simpatia da ditadura fundamentalista sunita da Arábia Saudita, que o considera uma ameaça apenas menor do que o Irã xiita.
Com sua vitória democrática no mais populoso país do mundo árabe, a Irmandade Muçulmana significa uma redobrada injeção de ânimo para as rebeliões na região, mas será o seu desempenho como parceira no poder no Egito que dará uma medida mais precisa sobre as perspectivas da Primavera Árabe.  A Irmandade Muçulmana venceu, o Egito é outra história.Por: Caio Blinder

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