segunda-feira, 11 de junho de 2012

40 ANOS DEPOIS DE WATERGATE, AS SUBVERSÕES DE NIXON

 O adeus de Nixon na Casa Branca 

No escândalo Watergate, vimos os baixos e altos da democracia americana. O presidente republicano Richard Nixon era o subversivo, mas o sistema democrático (imprensa, Judiciário e Congresso) fez a necessária faxina. Será uma semana para relembrar, pois em 17 de junho próximo serão os 40 anos do arrrombamento da sede do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington. Dois anos mais tarde, Nixon renunciou (para escapar do impeachment), por seu papel na conspiração criminosa para obstruir a justiça. Vamos dar a palavra para Bob Woodward e Carl Bernstein, que eram os jovens repórteres de primeira hora que investigaram o “caso policial e local” para o jornal The Washington Post e que ao longo do tempo tiveram papel-chave na queda de Nixon. Domingo, eles publicaram artigão num tiro de largada para a maratona dos 40 anos. A dupla enfatiza que hoje se sabe que foi muito pior do que pensava em 1972, graças à documentação que se acumulou nas últimas décadas. Os jovens Woodward e Bernstein (no telefone) Watergate, claro, foi apenas uma fatia da campanha de Nixon de espionagem política, sabotagem e outras atividades ilegais contra seus adversários reais e imaginários. Nas palavras de Woodward e Bernstein, o desrespeito à lei e a busca de segredos e sujeiras sobre os oponentes eram “princípios organizativos” que guiavam a presidência Nixon, mesmo antes de Watergate. Woodward e Bernstein perguntam: o que foi Watergate? Foram as cinco guerras de Nixon. As guerras foram contra o movimento pacifista (Vietnã), a imprensa, o Partido Democrata, o sistema judicial e, finalmente, contra a história. Depois da renúncia em 8 de agosto de 1974, Nixon passou os últimos 20 anos de sua vida trabalhando de forma incansável para minimizar o escândalo (e seu papel nele) e assumir a respeitabilidade de estadista. Com seu ódio, paranóia e autocomiseração, Nixon era autodestrutivo, algo que ele mesmo captou e advertiu no discurso de despedida para sua equipe e amigos na Casa Branca, quando refletiu sobre o perigo de odiar mais aqueles que te odeiam. Nixon tinha, vamos admitir, rasgos de estadista, mas a história não será caridosa. No seu verbete, o termo mais forte será escândalo Watergate e não sua visão geopolítica sobre como fazer o jogo de triangulação dos EUA com a Rússia e China, com a assistência do seu lugar-tenente Henry Kissinger. Muitos conservadores não perdoam a traição do anticomunista Nixon por costurar a distensão com a Rússia de Brezhenev e reconhecer a China de Mao na Guerra Fria. Imagine, hoje em dia, o candidato presidencial republicano Mitt Romney ainda acha que a Rússia seja o maior inimigo geopolítico dos EUA. No final da vida, um consolo para Nixon era receber telefonemas do presidente democrata Bill Clinton, pedindo conselhos em política externa. Nixon seria persona non grata no Partido Republicano de agora e não apenas pelos motivos suspeitos habituais. Em política doméstica, ele era parte de um consenso liberal no pós-guerra americano. Nixon não tinha problemas com um governo instrusivo e não só para espionar adversários, mas também por seu papel expansivo. Nixon apoiou ou acatou uma agenda doméstica bem à esquerda do Partido Republicano de agora e em muitos aspectos até do Partido Democrata. Embora racista e antissemita, Nixon lutou por várias legislações por igualdade de direitos, fez de cotas raciais um arma potente contra a discriminação, aprovou maciços projetos de gastos públicos em infra-estrutura, recorreu ao controle de preços e salários contra inflação e assinou lei atrás de lei de proteção do meio-ambiente. Em oito anos (com o segundo mandato finalizado por Gerald Ford), os gastos sociais do governo cresceram anualmente, em termos percentuais, mais do que nos oito anos do período democrata de John Kennedy e Lyndon Jonhson. Richard Nixon foi um presidente subversivo para uns e subversivo para outros. Por Caio Blinder