domingo, 1 de julho de 2012

AS CLASSES MÉDIAS NA BERLINDA

Desde abril até agora viajei bastante, saindo e voltando ao Brasil. Fui aos Emirados Árabes, ao México, ao Japão, à China e, na semana passada, ainda fui a Buenos Aires. Sempre participando de seminários ou fazendo conferências. Lia, naturalmente, os jornais locais que tinham edição em inglês. Por toda parte, um assunto dominante: a crise econômica. Em alguns países, mesmo com regimes políticos muito diferentes, como China e Brasil ou Argentina, alguma preocupação com a corrupção. Nessa mesmice, li com prazer em Buenos Aires, no La Nación, um artigo de Marcos Aguines, O orgulho da classe média, reproduzido no dia seguinte em O Globo. 

Aguines desacredita da visão, que predominava nos círculos de esquerda, de que a classe média - a pequena burguesia, como era chamada - seria a Geni da História. Fascinados pelo papel revolucionário e liberador da revolução proletária e, mais tarde, pelo ímpeto das massas ascendentes, os ideólogos de esquerda - e não só eles, pois a moda pegou - não viam mais do que atraso e mesquinhez na classe média, os "desvios" pequeno-burgueses e a tibiez que lhe tiravam o ímpeto para transformar a sociedade. Provavelmente, em certas conjunturas históricas, especialmente na velha Europa, era assim que as classes médias agiam. Basta ler os romances de Balzac como Eugénie Grandet ou O Pai Goriot para sentir que essas camadas ficavam apequenadas, mesquinhas, diante da burguesia vitoriosa ou da nobreza decadente aliada à mesma. Entretanto, terá sido essa a posição das classes médias nas Américas e nos países de imigração? 

Dou a palavra a Aguines: na Argentina, tanto no campo como nas cidades, as classes médias se expandiram e começaram a construir valores que deram suporte para três culturas, "a cultura do trabalho, a cultura do esforço e a cultura da honestidade". O mesmo, acrescento, terá ocorrido na Austrália ou no Canadá e, de outra maneira, nos Estados Unidos. E no caso brasileiro, terá sido distinto? Esmagadas entre a escravidão e o senhorio rural, agraciadas aqui e ali com algum título não hereditário durante o Império, as classes médias urbanas, compostas por profissionais liberais, funcionários públicos, militares, professores e poucas categorias urbanas mais, no que se iriam apoiar para manter as distinções e realizar algo na vida? Basicamente, na escola e nos valores familiares que levam ao trabalho. Tudo com muito esforço. 

Com a chegada dos imigrantes, à medida que estes, motivados pelas necessidades de trabalhar, "faziam a América", do mesmo modo se incorporaram às classes médias trilhando os caminhos do estudo e buscando ostentar a "boa moral". No percurso dessa camada de imigrantes se viu a formação de algo que poderia se aproximar de uma "burguesia pequena", ou pequena burguesia: sua base econômica, em maior número do que no caso das populações brasileiras mais antigas, provinha de um pequeno negócio. Ainda assim sua inserção na sociedade e sua gradação social eram dadas pelas mesmas virtudes das antigas classes médias, a valorização do trabalho, o estudo "para subir na vida", a honestidade. 

A própria base operária brasileira, a camada dos trabalhadores, usando outros instrumentos de ascensão social, como os sindicatos, e mantendo o ideal de trabalhar por conta própria, não fugiu deste padrão: escola-trabalho-decência. Obviamente, quando a sociedade se massifica, quando os meios de comunicação, TV à frente e, agora, a internet, dão os compassos da dança, o quadro é menos nítido. Já não se vê com clareza que valores guiam as chamadas classes médias emergentes. Mesmo que haja exagero na insistência com que se repete que milhões e milhões de brasileiros estão ingressando nas "novas classes médias", pois por enquanto se trata de novas categorias de renda, mais do que propriamente de uma nova "classe social", a transformação da renda em classe é questão de tempo: esta vai se formando. Seus membros pouco a pouco irão frequentar escolas razoáveis, criar uma teia de relações com acesso aos mesmos clubes e gozar das mesmas facilidades de recreação, trajar-se mais ou menos de modo igual (o que já ocorre), desenvolver uma cultura de trabalho qualificado e, de novo, comportar-se valorizando a decência e a honestidade. 

Como se comportarão essas classes emergentes na política, quando se transformarem numa categoria social com características, anseios e valores próprios? É provável que se juntem, nas formas de comportamento e nos valores, às classes médias preexistentes. Estas, no momento, se sentem um tanto desconectadas da instituição que, sem ser a única, lhes abrigou e deu influência: o governo, o Estado. Justamente porque a política vem sendo percebida cada vez mais como um jogo de vale-tudo, onde a moral conta menos do que o resultado. 

É hora, por isso mesmo, de reforçar, e não de menosprezar, os valores fundamentais ditos "de classe média" - estudo, trabalho, honestidade. Valores culturais não se impõem por lei, são modelos de conduta aos quais se juntam sentimentos positivos. Só a exemplaridade e a repetição enaltecida deles (na escola, na família, na mídia e na vida pública) vão aos poucos inculcando na mentalidade geral as formas que definem o que é bom, o que é ruim. Minha aposta é a de acreditar, como crê Aguines, que a velha e boa classe média, que já contribuiu para a formação da nação, ainda pode ter papel relevante e será capaz de contagiar com seus valores as camadas emergentes, pois estas a eles já são predispostas: melhoraram a renda com esforço e trabalho. 

É certo que o descaso em nossa vida pública pelos valores básicos das classes médias diminui as chances de que eles venham a prevalecer. Há oportunidades, entretanto, para reforçá-los. O julgamento do mensalão é uma delas. Seja qual for o resultado, se o Supremo Tribunal Federal se comportar institucionalmente, sem medo de condenar ou de absolver, desde que explicando o porquê e sendo transparente, pode ajudar a demarcar os limites do inaceitável. Nem só de pão vive o homem. A decência e a honestidade são partes da vida. Convém reforçar os comportamentos que se inspiram nelas.Por: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO O Estado de S.Paulo

DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL

Dívida pública federal cresce 2,2% em maio e atinge R$ 1,92 trilhão

A dívida pública federal, que inclui os endividamentos interno e externo, cresceu 2,21% em maio, na comparação com abril, ficando em R$ 1,92 trilhão (ante R$ 1,88 trilhão no mês anterior). Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (25) pela Secretaria do Tesouro Nacional.
A dívida interna registrou um aumento de 2,14% em maio, para R$ 1,83 trilhão, ante R$ 1,79 trilhão, em abril. Já a dívida externa registrou crescimento de 3,7%, para R$ 88,91 bilhões, em maio. A dívida externa é o resultado da emissão de bônus do tesouro no mercado mundial.
Segundo relatório do Tesouro, a participação da dívida interna subiu de 95,44%, em abril, para 95,37%, em maio. Em contrapartida, a dívida externa teve sua participação ampliada de 4,56% para 4,63%.
No dia 12 deste mês, o Tesouro Nacional promoveu uma troca de títulos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), para reduzir a parcela dos títulos públicos atrelados à taxa básica de juros (Selic) em poder do mercado.
Em maio, caiu a participação dos títulos que são remunerados pela taxa básica de juros (Selic), de 26,12% para 25,77%. Já os títulos com rendimento pré-fixado tiveram sua fatia aumentada de 37,59% para 38,13%. Os remunerados por índice de preços foi de 31,99% para 31,62%.
A operação, informou o Tesouro, faz parte de uma estratégia para diminuir a participação da Selic na dívida, que prejudica a atuação da política monetária, já que, ao aumentar juros para controlar a inflação, o Banco Central tem que avaliar o impacto desse aumento nas despesas do governo com a remuneração dos investidores.
Além disso, essa redução dá mais previsibilidade à gestão da dívida, já que aumenta a participação de papéis com rendimento prefixado ou baseado na inflação, para a qual existe uma meta oficial.
A valorização do dólar também influencia na alta da dívida porque o governo tem títulos atrelados à moeda americana.


ENTENDA


A dívida pública federal representa o quanto o governo deve para outros governos, instituições nacionais ou internacionais e a sociedade. Ela é composta pela dívida pública mobiliária federal interna (credores nacionais) e dívida pública federal externa (credores internacionais).
Parte da dívida pública federal, chamada mobiliária, está em poder de investidores. Esses investidores compram títulos do governo, como o Tesouro Direto, por exemplo. Essa é a maneira encontrada pelo Estado de financiar suas operações sem ter de pegar dinheiro emprestado no mercado, a juros altos.
Grosso modo, o governo vende sua dívida à vista e paga em prazos predeterminados, com juros variáveis, mas também preestabelecidos. Os títulos brasileiros mais recorrentes são atrelados a taxa Selic e à inflação oficial.Por:

LORENNA RODRIGUES DE BRASÍLIA


MÁIRA TEIXEIRA DE SÃO PAULO

sábado, 30 de junho de 2012

O EXAGERO DO CRÉDITO PESSOAL

O maior endividamento de muitos brasileiros levou a inadimplência mais grave do que previam os analistas 

Tenho chamado a atenção do leitor da Folha sobre as mudanças estruturais que vêm ocorrendo no Brasil nos últimos seis anos. São alterações importantes no metabolismo de nossa economia de mercado, criadas por um longo período de estabilidade e de crescimento. 

Reportei também os efeitos positivos que ocorrem em países emergentes quando a gestão macroeconômica correta por vários anos acaba afetando as expectativas dos consumidores e de empresas produtoras de bens e de serviços. 

Em outras palavras, quando o futuro passa a ser previsível e confiável, o chamado "espírito animal" do homem é liberado e entra-se em um período econômico virtuoso. Vivemos no Brasil esse cenário, principalmente no segundo mandato de Lula. 

Mas, como o grande Keynes nos ensinou há muito tempo, o "espírito animal" leva também a exageros e a desequilíbrios negativos que passam a ocorrer devido aos riscos excessivos assumidos pelos agentes econômicos. Vivemos nestes dois primeiros anos do mandato da presidenta Dilma Rousseff, no caso do consumidor, um exemplo clássico dessa situação. 

O crescimento vertiginoso do crédito ao consumo fez com que, em curto período de tempo, o endividamento do brasileiro com o sistema bancário passasse de 6% do PIB para mais de 16%. Esse aumento do endividamento de parcela importante dos brasileiros, tanto na chamada nova classe média como nos segmentos de renda mais baixa, criou uma situação de inadimplência mais grave do que previram os analistas mais atentos às questões microeconômicas. 

Os pagamentos de dívidas chegaram a superar 40% da renda de muitos brasileiros, levando a uma parada súbita no ritmo do consumo, principalmente de bens de consumo. 

O impacto sobre o crescimento foi imediato. Neste primeiro semestre, o PIB praticamente não cresceu, o que provocou revisão generalizada das previsões para o ano. Antes dessa freada do consumidor -agravada pelo recuo dos bancos na oferta de crédito-, as previsões apontavam para crescimento entre 3% e 3,5%. Hoje, os números mais realistas estão no intervalo entre 1,5% e 2% para o ano inteiro. 

Mas é preciso olhar para a frente com cuidado. A massa total de salários está crescendo no Brasil há alguns meses a taxas reais próximas de 12% ao ano, o que vai facilitar os ajustes dos devedores mais ousados. 

No segundo semestre, a inadimplência do consumidor vai se reduzir e, na virada para 2013, os gastos vão voltar a crescer. Apenas uma situação de colapso na Europa -cenário no qual não acredito- pode mudar esse curso das coisas. Os economistas da Quest projetam crescimento do PIB da ordem de 4,5% a 5% entre o quarto trimestre deste ano e o primeiro de 2013, o que deve acalmar os mercados e fazer com que os empresários normalizem seus planos de investimento. 

Na volta do consumidor às compras, a queda dos juros, que vem ocorrendo há alguns meses, vai servir como estímulo adicional, reforçando esse cenário de recuperação. Por outro lado, os juros reais, da ordem de 3% ao ano nas aplicações financeiras, devem alterar o equilíbrio entre poupança e consumo nas classes de renda mais elevada. Mas só o tempo pode nos levar a essa situação mais favorável. 

Nessas condições, aconselho a equipe econômica a ter paciência e a evitar sinais de desespero que aparecem com os chamados "pacotes de estímulos" em cascata. A economia brasileira é hoje muito maior do que o valor desses estímulos, e apenas setores específicos podem reagir a eles. Mas, no agregado e com capacidade de mudar o crescimento do PIB, apenas mudanças estruturais no gasto e no investimento podem ter alguma influência. 

Redução do risco sistêmico com a Europa, normalização do crescimento chinês depois de um longo período de ajustes e estabilização da vida financeira dos consumidores são eventos que não dependem do ativismo do governo brasileiro. E sem eles as ações do governo serão sempre de pouco efeito sobre a economia. Por: LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS FOLHA DE SP - 29/06

NÃO EXISTE LEGÍTIMA DEFESA?

O anacronismo da legislação penal e processual penal do País vem gerando situações absurdas, levando cidadãos inocentes, que reagiram a criminosos que os assaltavam à mão armada, a serem processados por crime de homicídio doloso triplamente qualificado. 

Só este mês, ocorreram três casos semelhantes. Um aconteceu numa joalheria de Porto Alegre, onde o proprietário, reagindo a um assalto no momento em que abria o estabelecimento, baleou um dos criminosos, que acabou morrendo. 

Outro caso aconteceu numa tarde de sábado no centro da cidade de Caxias do Sul. Surpreendida em seu apartamento por um ladrão que a ameaçava com uma faca de cozinha, uma senhora de 86 anos tirou da gaveta um revólver calibre 32 que pertencera a seu marido e que estava sem uso há mais de 30 anos e o matou com três disparos. 

O terceiro caso aconteceu na região de Cidade Dutra, na zona sul de São Paulo. Rendido em sua loja por dois assaltantes e levado até um banheiro, um comerciante de produtos de informática aproveitou um momento de distração dos bandidos, sacou uma pistola Glock 380 que guardava na mochila e disparou contra os bandidos. Um deles também disparou um revólver calibre 32. Os bandidos foram feridos e morreram logo após dar entrada no Pronto-Socorro do Grajaú. A loja já havia sido assaltada oito vezes nos últimos três anos. 

Apesar de terem agido em legítima defesa, nos três casos as vítimas dos assaltantes podem se converter em réus de ações criminais, correndo o risco de serem condenadas a penas privativas de liberdade a serem cumpridas em prisões de segurança máxima, o que representa uma absurda inversão de valores. 

Por não ter registro de arma, por exemplo, a idosa de Caxias do Sul está sendo indiciada por crime de homicídio doloso - quando há intenção de matar. Pela legislação processual penal em vigor, explicou o delegado responsável pelo caso, sua tarefa é apenas elaborar o inquérito criminal e enviá-lo para a Justiça. A propositura de uma ação penal cabe ao Ministério Público e o acolhimento do pedido e a posterior condenação ou absolvição da acusada são de responsabilidade de um juiz criminal. 

Já os proprietários da joalheira de Porto Alegre e da loja de informática de São Paulo tinham suas armas registradas pela polícia, como manda a Lei do Desarmamento. Apesar disso, os delegados responsáveis pelo inquérito criminal deixaram-se levar por um formalismo que parece exagerado. 

No caso do comerciante paulista, por exemplo, o delegado colocou em dúvida a tese de legítima defesa e, alegando indícios de "reação excessiva" e "excesso doloso", pois um dos assaltantes era menor de idade, prendeu o comerciante na carceragem da delegacia. As testemunhas relataram que os assaltantes agiram com violência e que, após o tiroteio, o comerciante esperou a chegada da polícia, apresentou a arma e prestou depoimento. "Quanto à possibilidade do reconhecimento da legítima defesa, submeto à apreciação do Poder Judiciário, ouvindo representantes do Ministério Público", disse o delegado responsável pelo inquérito. 

Ficou evidente que a idosa e os comerciantes apenas reagiram, defendendo seu patrimônio e sua vida. Como imputar exagero na reação que tiveram ao ter a vida ameaçada? Por que indiciá-los e convertê-los em réus, obrigando-os a gastar a poupança de uma vida para contratar advogados de defesa, uma vez que eram pessoas honestas colocadas sob risco em suas residências e locais de trabalho? Apesar de serem obrigados a observar a legislação processual penal, que tem mais de 70 anos, por que os delegados de polícia se deixaram levar por tanto formalismo? 

A falta de bom senso na interpretação das leis propicia, assim, um cenário surrealista, no qual têm direitos os bandidos, devendo as vítimas de atos criminosos curvar-se à vontade de seus algozes. E quem se defende dentro de sua própria casa vai para a cadeia por ter ferido um criminoso. Não existe mais legítima defesa?EDITORIAL O ESTADÃO O Estado de S.Paulo - 30/06

O GOLPE DO MERCOSUL E DO FORO DE SÃO PAULO


Articulistas de opinião brasileiros que só reconheciam o Paraguai como o país da muamba e da falsificação, hoje falam como grandes conhecedores do que se passa no país vizinho com uma intimidade e um respeito hipócrita que só merecem desprezo.

Como era previsível, o ex-bispo Fernando Lugo, conhecido como “pai da pátria” por seus incontáveis filhos ilegítimos ainda quando era bispo, foi defenestrado do cargo de presidente da República do Paraguai, após um legítimo e constitucional julgamento político.
Fernando Lugo foi o candidato do Foro de São Paulo (FSP) e, como tal, tinha uma plataforma política estabelecida pelos ditames dos encontros anuais. Em seu mandato, a primeira providência foi romper o acordo sobre Itaipú obrigando o Brasil a pagar pela energia consumida, ferindo de morte o contrato feito na época de sua criação. Como todo comunista apátrida, o então presidente Lula advogou pelo seu camarada do FSP em detrimento dos direitos legais e prejuízos brasileiros.

Lugo-destitudo
Após conhecer o resultado do julgamento, Lugo faz uma declaração pública aceitando sua destituição. Dias depois, insuflado pelos camaradas do FSP, alega não ter tido direito à defesa, afirma ter sido "vítima de um golpe de Estado" e cria um ministério paralelo.
Adepto da malfadada “teologia da libertação”, Lugo levou esses quatro anos de mandato governando apenas para seus camaradas de ideologia, os “Carperos” (Acampados - similares ao MST brasileiro) e os terroristas do Exército do Povo Paraguaio (EPP). O EPP surgiu na década dos 70-80 e se havia extinguido, porém não totalmente. Seus cabeças vivem hoje como anistiados políticos no Brasil, e daqui do território nacional brasileiro coordenaram, junto com as FARC, o seqüestro e assassinato de Cecilia Cubas, filha do ex-presidente Raúl Cubas. Com Lugo na presidência esses bandos terroristas se fortaleceram pois, em vez de combatê-los, oferecia-lhes total apoio, impunidade e apadrinhamento, levando a população ao caos e à insegurança com seus novos atos de terrorismo e bandidagem.
No último dia 15 de junho, as Forças de Segurança foram vítimas de uma emboscada, quando Lugo as enviou para resolver um conflito com ditos “carperos” totalmente desarmadas. Ao tentar uma negociação, os policiais foram atacados com tiros deixando de imediato 6 deles mortos. O restante pediu reforço e no confronto 11 agressores foram mortos, deixando ao final mais 30 feridos. Lugo não foi ao velório de nenhum deles mas imediatamente determinou que se desse assistência às famílias dos que assassinaram os policiais. O encarregado de cumprir fielmente a traiçoeira operação, determinada por Lugo, ascendeu ao posto de Comandante da Polícia Nacional.
E isto foi a gota d’água para causar revolta na população paraguaia que, respeitando o que reza a Carta Magna, o Congresso realizou uma sessão ordinária, garantindo-lhe o devido processo (Leiam aqui o “Libelo Acusatório” na íntegra), onde por maioria absoluta Lugo foi destituído do cargo por “mal desempenho de suas funções”, sentença que ele aceitou de imediato mas, insuflado pelos camaradas do Foro de São Paulo da Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai e Brasil, passou a chamar de “golpe de Estado”.
Os países-membros do Mercosul reuniram-se na Argentina entre os dias 25 e 29 de junho e, ferindo os procedimentos legais e o devido processo (sem dar direito de ampla defesa), decidiram não permitir a participação do Paraguai no encontro, uma vez que não reconhecem o novo governo. Entretanto, esta decisão foi tomada em conjunto com países “convidados” que não têm direito a voz nem voto, como Chile e Venezuela. E qual era o objetivo que jazia por trás desta decisão? Como se sabe, o Paraguai era, até o momento, o único país a se opor ao ingresso da Venezuela no bloco pois, com sobradas razões, alegava que lá não existe democracia. Pois bem, sem o Paraguai nesse encontro a Venezuela foi admitida oficialmente e passou a fazer parte do Mercosul! Era isso o que desejava esta organização desde sempre e eles sim, acabam de dar um golpe na democracia!
Sinto em relação a este caso a mesma repugnância que senti no caso de Honduras, pois articulistas de opinião brasileiros que só reconheciam o Paraguai como o país da muamba e da falsificação, hoje falam como grandes conhecedores do que se passa no país vizinho com uma intimidade e um respeito hipócrita que só merecem desprezo. O Paraguai é um país pequeno e pobre mas sua gente é patriota e majoritariamente católica, como o novo presidente Federico Franco. Seus parlamentares sabem o que é honra, dignidade e respeito às leis, daí terem tomado esta atitude absolutamente constitucional. Ademais, os que hoje clamam para que se faça o mesmo no Brasil esquecem - ou desconhecem - que em nossa Carta Magna não existe um artigo dizendo que se poderá destituir o presidente por “mal desempenho de suas funções”. Reforme-se a Constituição, aprenda-se a votar em gente decente antes de ficar invejando aqueles que antes eram vistos como escória da região.

Escrito originalmente para o Jornal Inconfidência de Minas Gerais

A FALSA PROMESSA DA DEMOCRACIA

Pessoas ao redor do mundo estão lutando contra regimes autocráticos em nome da liberdade e da democracia. Elas estão certas em lutar pela liberdade, mas estão erradas em lutar pela democracia. Os libertários deveriam tentar esclarecer a estas pessoas que o caminho democrático não os levará a mais liberdade, mas sim a mais escravidão. Não há dúvidas de que a maioria dos libertários simpatiza com os protestos corajosos feitos por pessoas comuns contra os regimes autoritários ao redor do mundo. Ao contrário dos neoconservadores ou liberais, os libertários não ficam preocupados quando os manifestantes ameaçam a "estabilidade" de um país que é um mero protetorado dos EUA no Oriente Médio. Eles sempre advertiram que o apoio a ditaduras sempre gera um efeito contrário ao desejado, o tiro sempre sai pela culatra, uma vez que geralmente os povos oprimidos se revoltam não apenas contra os seus opressores, mas também contra os seus apoiadores ocidentais. A história do pós-Segunda Guerra Mundial está cheia de exemplos disso. Mas o que os libertários deveriam pensar sobre o fato de que os manifestantes estão geralmente lutando por (mais) democracia? Afinal, não se pode negar que os dissidentes em países autoritários, como a Rússia, a China, o Egito, a Tunísia e os países do Golfo Pérsico exigem democracia ("eleições livres") acima de tudo. Para os libertários, isto representa um dilema. Por certo, desde que Hans-Hermann Hoppe publicou seu famoso livro Democracy — The God That Failed, em 2001, muitos libertários tornaram-se cada vez mais críticos de toda a idéia de democracia. Você poderia dizer que, graças a Hoppe, muitos libertários têm redescoberto o fato de que a democracia é, em um certo sentido muito básico, totalmente incompatível com a liberdade. Como Hoppe e outros demonstraram, democracia ("governo pelo povo") não é de modo algum o mesmo que liberdade ("liberdade do indivíduo"). Em um sistema em que "o povo" governa, todas as decisões importantes sobre todos os aspectos da sociedade são tomadas pelo "povo", ou seja, pelo governo democraticamente eleito que supostamente representa o povo, isto é, pelo estado. Em tal sistema, as pessoas naturalmente recorrem ao estado para resolver os seus problemas ou para lidar com todos os males da sociedade. Como consequência — e dado que uma intervenção sempre leva novas intervenções — o poder do estado está em constante expansão. Isto é exatamente o que aconteceu, na prática, em países democráticos. O advento da democracia, em vez de fortalecer, subverteu as liberdades e os direitos que as pessoas até então desfrutavam nos países ocidentais. O poder do estado tem crescido constantemente nos últimos 100—150 anos, sempre em linha com o crescimento contínuo dos princípios democráticos do governo. Como demonstrado neste artigo, desde o século XIX até ao início da Primeira Guerra Mundial, os gastos dos governos ocidentais em relação ao seu PIB eram ínfimos comparados a hoje, exceto em épocas de guerra. Imposto de renda não existia. Mas à medida que a democracia foi se aprofundando, o poder dos governos foi aumentando de forma constante. Os gastos dos governos passaram de cerca de 10% do PIB em 1870 para 47% em 2010, segundo dados do "The Economist" (ver tabela do artigo). O endividamento está totalmente fora de controle na maioria dos países ocidentais, pois, para sustentar estes gastos maciços, apenas a arrecadação de impostos não é suficiente. O número de leis com as quais os governos ocidentais controlam seus cidadãos tem crescido assustadoramente, para além de qualquer nível que teria sido tolerável no início do século XX. As regulamentações atuais estipulam regras para tudo que seja imaginável, desde como uma pulseira de relógio deve ser construída até como os anéis de cebola devem ser preparados nos restaurantes. Milhões de pessoas apodrecem nas penitenciárias ao redor do mundo, tendo suas vidas destruídas pelo simples fato de terem comercializado substâncias que os governos consideram impróprias para consumo. Ninguém está a salvo dos agentes da lei nos dias de hoje, e não apenas no que tange à questão das drogas: qualquer indivíduo pode hoje ser preso por qualquer pretexto, pois ele sempre estará, inevitavelmente, violando um dos milhares de regulamentos e leis criados irrefreavelmente pelos governos, sobre os quais o cidadão comum não possui o mínimo controle. Nenhum "direito" é sacrossanto, nem o direito à liberdade de expressão, nem o direito à propriedade privada. E não há nenhum sinal de que as coisas estejam melhorando. A cada dia que passa, nossos mercados estão menos livres, nossa propriedade está menos segura, nossas leis ficam mais arbitrárias e nossos "representantes" se tornam mais corruptos. E o ideal de liberdade se torna, cada vez mais, apenas uma memória distante. Rebelião e revolução No entanto, este não é o modo como esses manifestantes olham para a democracia. Eles associam a democracia à liberdade. Não é difícil entender por quê. Mesmo em estados ditatoriais, o que as pessoas provavelmente querem acima de tudo são duas coisas: um padrão de vida decente e o controle sobre suas próprias vidas — sobre seu ambiente, suas carreiras, sua vida social. Atualmente, elas não têm nenhuma influência sobre as leis que regem suas vidas. Elas não têm controle sobre seus bens ou sobre o ambiente que as cerca. Elas não podem abrir uma empresa sem permissão de burocratas corruptos. Elas não têm nenhum poder de decisão sobre se a represa que será construída na sua vizinhança e que irá varrer sua aldeia do mapa poderá ou não ser construída, ou sobre se a construção de uma fábrica poluente que irá destruir as suas culturas poderá ser impedida. Elas simplesmente não têm seus direitos de propriedade reconhecidos. E elas não têm nenhuma maneira de remover os seus governantes que violam diariamente suas propriedades, exceto por meio da rebelião e revolução. A democracia, portanto, se torna uma maneira por meio da qual elas imaginam poder remediar todos esses males. Elas acreditam que a democracia irá lhes conceder os meios para escolher seus próprios governantes, para ajudar a formular as leis que os regem, e para que possam recorrer a tribunais independentes quando seus direitos são violados. E elas acreditam sinceramente que a democracia irá torná-las mais prósperas. Estas crenças são perfeitamente compreensíveis. Afinal, nos países democráticos ocidentais, as pessoas ainda têm algum controle sobre suas vidas. Elas são capazes, em certa medida, de eleger seus governantes ou de se desfazer deles por meio do voto. Elas têm tribunais relativamente independentes aos quais podem recorrer se acreditarem que seus direitos estão sendo violados. Elas são, até certo ponto, livres para se movimentar, procurar um outro emprego ou tentar uma vida melhor em outro lugar se assim o desejarem (pelo menos dentro de seus próprios países). E elas tendem a ter um nível de vida relativamente elevado. Estas são as promessas que a democracia oferece aos povos oprimidos ao redor do mundo. No entanto, o que essas pessoas oprimidas não conseguem entender é que a liberdade e a riqueza que as pessoas usufruem nos países mais ricos do Ocidente não se devem ao fato de esses países serem democracias, mas sim ao fato de que seus sistemas democráticos foram construídos sobre fundamentos liberal-clássicos. Por exemplo, todas as liberdades que os americanos modernos usufruem (ou usufruíam) — propriedade privada, liberdade de circulação, liberdade de expressão, tribunais independentes, poderes limitados dos governantes — foram estabelecidas pelos Pais Fundadores após a revolução americana (em parte tendo por base as tradições clássico-liberais inglesas). Isso ocorreu antes do advento da democracia tal como a conhecemos hoje. E o mesmo ocorreu em outros países ocidentais. Primeiro veio a liberdade individual; só mais tarde é que veio o estado nacional democrático. Em países que estão em vias de adotar a democracia, como o Egito, a Tunísia, a Líbia, e até mesmo, quem sabe, a China, onde não há nenhuma tradição de liberalismo clássico, não há motivos para crer que o advento da democracia levará a (mais) liberdade. Ao contrário: o "povo" dessas novas democracias irá exigir que o estado tome medidas para satisfazer seus desejos. Isso provavelmente levará à criação de ditaduras socialistas, nacionalistas ou religiosas. Nas primeiras eleições livres no Egito, os partidos liberais-seculares que instigaram a revolta da Praça Tahrir conseguiram apenas 7% dos votos. A Irmandade Muçulmana e outros partidos islâmicos radicais foram os partidos mais votados. Ocorreu o mesmo fenômeno na Tunísia. No que diz respeito aos islâmicos, parece ser algo completamente fora de suas tradições falar sobre uma sociedade genuinamente livre. O mais provável é que elas façam exatamente o oposto e sujeitem toda a sociedade à lei da sharia. E este não é um problema exclusivamente árabe ou islâmico. Em países como a Venezuela, a Tailândia e a Hungria, os líderes eleitos têm pouca intenção de estabelecer sociedades libertárias. Também na China, se este país alguma dia se tornar democrático, partidos altamente nacionalistas poderão chegar ao poder. Portanto, embora os defensores ocidentais da democracia estejam corretamente saudando o movimento Primavera Árabe como sendo uma vitória da democracia, é muito provável que tal movimento (talvez com algumas exceções) não se transforme em uma vitória da liberdade. É claro que alguém pode perguntar: pessoas como a Irmandade Muçulmana não teriam o direito de controlar suas próprias vidas? De viver de acordo com a lei sharia, por exemplo, se assim o desejarem? É claro que sim. O problema é que, em uma democracia — em um estado-nação democrático —, essas pessoas não governam apenas suas próprias vidas; elas também estendem seu domínio sobre todas as outras pessoas que vivem em sua sociedade. Afinal, é exatamente assim que o sistema democrático funciona. O que, então, deveríamos dizer, como libertários, a essas pessoas corajosas que enfrentam armas e tanques em sua luta para serem mais livres? Não os estaríamos desencorajando se lhes disséssemos que não devem lutar pela democracia? Não. Não estaríamos os desencorajando se lhes explicássemos que eles devem lutar não por democracia, mas sim por liberdade. E que isso significa que elas não deveriam tentar substituir seu estado autoritário por um estado nacional democrático, mas sim tentar romper completamente com o estado. Elas deveriam tentar criar a sua própria sociedade descentralizada e livre. É claro que a maioria não iria deixá-las criar esta sociedade, pois a maioria sempre depende de uma minoria para ser explorada. Mas, dependendo das circunstâncias, quem sabe? Por que não tentar? Pensando bem, não é exatamente isso que nós também deveríamos estar tentando fazer aqui no mundo ocidental? Tradução de Fernando Manaças Ferreira Karel Beckman é coautor, com Frank Karsten, de uma nova e fulminante análise libertária sobre a democracia. No livro Beyond Democracy: Why democracy does not lead to solidarity, prosperity and liberty but to social conflict, runaway spending and a tyrannical government (Além da democracia: por que a democracia não conduz à solidariedade, à prosperidade e à liberdade, mas sim a conflitos sociais, gastos exagerados e tirania governamental), eles mostram, em termos simples e por meio de 13 mitos, o que há de errado com o sistema democrático e por que a democracia é fundamentalmente oposta à liberdade. Beyond Democracy pode ser encomendado na Amazon em formato papel e Kindle, em inglês. Edições em alemão, polaco e italiano estão programadas para 2012.

'CUSTO LULA"

Há menos de três anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal Valor Econômico. Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a Petrobrás não queria construir refinarias e ainda apresentara um plano pífio de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho” da empresa, contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de previsões fantásticas para a produção de óleo. 

Em 25 de junho último, a Petrobrás informa oficialmente aos investidores que, das quatro, apenas uma refinaria, Abreu e Lima, de Pernambuco, continua no plano com data para terminar. E ainda assim, com atraso, aumento de custo e sem o dinheiro e óleo da PDVSA de Chávez. Todas as metas de produção foram reduzidas. As anteriores eras “irrealistas”, disse a presidente da companhia, Graça Foster, acrescentando que faria uma revisão de processos e métodos. Entre outros equívocos, revelou que equipamentos eram comprados antes dos projetos estarem prontos e aprovados. 

Nada se disse ainda sobre os custos disso tudo para a Petrobrás. Graça Foster informou que a refinaria de Pernambuco começará a funcionar em novembro de 2014, com 14 meses de atraso em relação à meta anterior, e custará US$ 17 bilhões, três bi a mais. Na verdade, as metas agora revistas já haviam sido alteradas. O equívoco é muito maior. 

Quando anunciada por Lula, a refinaria custaria US$ 4 bilhões e ficaria pronta antes de 2010. Como uma empresa como a Petrobrás pode cometer um erro de planejamento desse tamanho? A resposta é simples: a estatal não tinha projeto algum para isso, Lula decidiu, mandou fazer e a diretoria da estatal improvisou umas plantas. Anunciaram e os presidentes fizeram várias inaugurações. 

O nome disso é populismo. E custo Lula. Sim, porque o resultado é um prejuízo para os acionistas da Petrobrás, do governo e do setor privado, de responsabilidade do ex-presidente e da diretoria que topou a montagem. 

Tem mais na conta. Na mesma entrevista, Lula disse que mandou o Banco do Brasil comprar o Votorantim, porque este tinha uma boa carteira de financiamento de carros usados e era preciso incentivar esse setor. O BB comprou, salvou o Votorantim e engoliu prejuízo de mais de bilhão de reais, pois a inadimplência ultrapassou todos os padrões. Ou seja, um péssimo negócio, conforme muita gente alertava. Mas como o próprio Lula explicou: “Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação”. 

Quem escapou de prejuízo maior foi a Vale. Na mesma entrevista, Lula confirmou que estava, digamos, convencendo a Vale a investir em siderúrgicas e fábricas de latas de alumínio. Quando os jornalistas comentam que a empresa talvez não topasse esses investimentos por causa do custo, Lula argumentou que a empresa privada tem seu primeiro compromisso com o nacionalismo. 

A Vale topou muita coisa vinda de Lula, inclusive a troca do presidente da companhia, mas se tivesse feito as siderúrgicas estaria quebrada ou perto disso. Idem para o alumínio, cuja produção exige muita energia elétrica, que continua a mais cara do mundo. Ou seja, não era momento, nem havia condições de fazer refinarias e siderúrgicas. Os técnicos estavam certos. Lula estava errado. As empresas privadas foram se virando, mas as estatais se curvaram. 

Ressalva: o BNDES, apesar das pressões de Brasília, não emprestou dinheiro para a PDVSA colocar na refinaria de Pernambuco. Ponto para seu corpo técnico. 

Quantos outros projetos e metas do governo Lula são equivocados? As obras de transposição do rio São Francisco estão igualmente atrasadas e muito mais caras. O projeto do trem bala começou custando R$ 10 bilhões e já passa dos 35 bi. 

Assim como se fez a revisão dos planos da Petrobrás, é urgente uma análise de todas as demais grandes obras. Mas há um outro ponto, político. A presidente Dilma estava no governo Lula, em posições de mando na área da Petrobrás. Graça Foster era diretoria da estatal. Não é possível imaginar que Graça Foster tenha feito essa incrível autocrítica sem autorização de Dilma. 

Ora, será que as duas só tomaram consciência dos problemas agora? Ou sabiam perfeitamente dos erros então cometidos, mas tiveram que calar diante da força e do autoritarismo de Lula? 

De todo modo, o custo Lula está aparecendo mais cedo do que se imaginava. Inclusive na política.por Carlos Alberto Sardenberg

sexta-feira, 29 de junho de 2012

NOTÍCIAS DE SEXTA FEIRA

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem nova regra liberando a candidatura dos “contas-sujas”. A mudança se deu no julgamento de um recurso apresentado pelo PT. O ministro Dias Toffoli, o mais próximo ao partido, desempatou a votação. É o partido de Lula ajudando a sujar a democracia brasileira, seu “esporte” preferido. 

Mas como nem tudo é notícia ruim, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães decidiu renunciar ao cargo de alto representante-geral do Mercosul. Ele alegou falta de apoio político para tal decisão. Se for isso mesmo, trata-se de um ótimo sinal. Afinal de contas, Pinheiro Guimarães é o grande ideólogo “bolivariano” infiltrado no bloco, representando o “chavismo” no lado brasileiro. 

A postura do Itamaraty na questão paraguaia foi vergonhosa, e espera-se que os interesses da nação fiquem acima dos interesses ideológicos da turma alinhada ao Chávez. O Barão do Rio Branco, ao assumir em 1902 o ministério das Relações Exteriores, declarou: "Não venho servir a um partido político: venho servir ao Brasil, que todos desejam ver unido íntegro, forte e respeitado". Que falta faz um Barão do Rio Branco na diplomacia brasileira! 

De volta às notícias ruins, o “Obamacare” foi considerado constitucional ontem pela Suprema Corte. O governo poderá obrigar o cidadão a comprar seguro de saúde. Isso foi aprovado porque os juízes encararam tal seguro como um imposto. Logo, trata-se de uma vitória de Pirro para Obama. Ele consegue manter sua reforma no setor de saúde, mas somente evidenciando que o seguro representa um novo imposto para a classe média, algo que o presidente negava veementemente. 

Foi Thomas Sowell quem resumiu de forma brilhante a mentalidade esquerdista no caso: “É incrível como algumas pessoas acham que nós não podemos pagar médicos, hospitais e medicamentos, mas pensam que nós podemos pagar por médicos, hospitais, medicamentos e toda a burocracia governamental para administrar isso”. Se a saúde já é cara, espere até ela ficar “gratuita”! 

Para fechar esta rodada de notícias de sexta-feira, nada como comparar FHC e Lula. FHC disse que vota em Serra, mas não faz campanha. Ele argumentou que pedir votos é um papel “indevido” a um ex-mandatário. E ainda alfinetou Lula: “Eu não sei morder canela. Não acho que seja apropriado ao ser humano”. Já Lula foi multado por fazer campanha antecipada para Fernando Haddad. Que abismo que separa a postura de FHC da de Lula!Por: Rodrigo Constantino

quinta-feira, 28 de junho de 2012

USO DE AGROTÓXICOS SEGUE DESCONTROLADO

As políticas públicas de fiscalização do comércio e uso consciente de agrotóxicos não estão atingindo o resultado desejado na agricultura brasileira. Apesar dos programas federal e estaduais para o controle do produto nas lavouras, o Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do mundo. De acordo com informações da Associação Nacional de Defesa de Vegetal (Andef), que representa os fabricantes, o setor movimentou US$ 8,4 bilhões em 2011, crescimento de 16,3% em relação a 2010 – US$ 7,3 bilhões. O fator preocupante é que parte do comércio é inadequado e indiscriminado. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os índices de monitoramento do uso do agroquímico no país se mantiveram constante nos últimos anos. Cerca de 30% dos alimentos analisados apresentam indicações de que o produto foi utilizado fora das normas da bula. Além disso, em média, cinco mil pessoas apresentam intoxicação anualmente. Resultados que provam que as políticas públicas não estão atingindo os resultados desejados. Referência Paraná exporta software que controla emissão de receitas O Paraná, um dos estados que mais utiliza o produto, é exemplo nacional no controle na comercialização de agrotóxicos. O Sistema de Monitoramente do Controle e Uso de Agrotóxicos (Siagro) está sendo “exportado”, de forma gratuíta, para outros estados como Rondônia, Brasília e Ceará. O Mapa paga os custos de viagem, hospedagem e alimentação dos técnicos . “O software do Paraná é um exemplo e está sendo levado para outras partes do país”, afirma Luis Eduardo Pacifici Rangel, coordenador geral de agrotóxicos do Ministério. Implantado em janeiro de 2010, o programa permite que os fiscais da Seab façam o rastreamento do uso do produto nas 370 mil propriedades rurais do estado. “Se um produtor comprar agrotóxico para a soja fora da época saberemos e vamos mandar o fiscal para verificar se ele não vai usar o produto no alface”, adverte o fiscal João Miguel Tosato, da Seab. “As coisas não mudaram muito nos últimos anos. Durante o monitoramento, nós encontramos agrotóxicos não autorizados e acima da média nos alimentos”, lamenta Luis Eduardo Pacifici Rangel, coordenador geral de agrotóxicos do Mapa. “Estamos construindo novos programas com participação dos estados para punir o agricultor que utilizar de forma incorreta.” O coordenador aponta a enorme quantidade de propriedades rurais no país – oito milhões - como um dos principais desafios da fiscalização. “Nós não temos pessoal suficiente. Então, contamos com o processo de denúncia da sociedade”, aponta. Para o fiscal do Departa­men­­­to de Fiscalização Sa­­nitária (Defis) da Secretaria da Agricultura e do Abas­­tecimento (Seab) do Paraná João Miguel Tosato existe a necessidade imediata da padronização do sistema de fiscalização. Atualmente, cada um dos 27 estados tem uma forma distinta de realizar o controle da venda e uso do produto. “A discrepância é muito grande e os estados estão em descompasso”, diz o fiscal. Uso familiar 
 Apesar do grande número de propriedades rurais no Brasil, o problema do uso indevido dos agrotóxicos está concentrado nas pequenas lavouras, principalmente as familiares. De acordo com o coordenador do Mapa, os grandes agricultores, que consomem 80% do produto colocado no mercado, fazem de forma correta e consciente, até porque contam com a assessoria de profissionais e técnicos capacitados. “Cerca de 20% do mercado [pequenas propriedades] causam 70% do problema”, aponta Rangel.Por: CARLOS GUIMARÃES FILHO

quarta-feira, 27 de junho de 2012

CETICISMO SAUDÁVEL

Rótulos como “direita” e “esquerda” são sempre limitados e perigosos. Não é possível enquadrar todo o arcabouço de idéias políticas, sociais e econômicas em um único termo. Feita esta ressalva, há uma direita que eu considero digna de todo meu apreço e respeito. Ela está (muito bem) representada por pensadores como João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield.
Por isso recomendo a leitura do novo livro que os três lançaram em conjunto, explicando em curtos ensaios porque viraram à direita. A marca característica desta direita seria o ceticismo diante de toda utopia racionalista, de todo projeto revolucionário que oferece “um mundo melhor”, um sistema “justo” e acabado. Ser conservador, para eles, significa adotar postura cautelosa frente a esta arrogância.
Rousseau seria o pai do totalitarismo moderno de esquerda, ao adotar postura canalha e sentimentalista que falsifica a realidade. Incapaz de amar o próximo, incluindo seus filhos que foram abandonados, Rousseau se declarou um amante da Humanidade, abstração que não nos obriga a encarar as imperfeições e desencontros em qualquer relacionamento com outro ser humano de carne e osso. Com base nesta farsa, Rousseau passou a pregar um estado totalitário, retirando a responsabilidade dos indivíduos.
Coutinho lembra que há direitas e direitas, ou seja, uma ala da dita direita pretende igualmente desqualificar o presente imperfeito em prol de um passado idealizado. Conservador, para ele, não pode ser o mesmo que reacionário. Se este quer fugir da realidade, aquele aceita o mundo como ele é, de forma realista frente a toda complexidade que o define. Mentalidades radicais, de direita ou esquerda, preferem modelos simplistas e dogmáticos como rota de fuga.
A linhagem de céticos vem de longa data, com pensadores como Edmund Burke, David Hume, Michael Oakeshott, Isaiah Berlin, entre outros. O principal alerta deles seria contra modelos que pretendem redesenhar o mundo de uma hora para outra. Normalmente paridos em torres de marfim acadêmicas, tais modelos ignoram toda a complexidade da realidade, mascaram a natureza humana e depositam fé onipotente na razão.
Já os conservadores preferiam o caminho da cautela, do respeito às tradições sobreviventes por tentativa e erro em um processo muito maior do que cada um de nós pode compreender com sua limitada inteligência. Criticar os hábitos e costumes dos antigos que chegaram até nós, sim, mas com humildade, com ímpeto reformista e não revolucionário.
A vida em sociedade pressupõe limites, um convívio civilizado com pessoas que possuem valores diferentes dos nossos, muitas vezes incomensuráveis. Há que se ter o cuidado de não cair no extremo oposto, qual seja, o relativismo moral e cultural exacerbado, incapaz de julgar com qualquer objetividade os costumes de um povo. A esquerda que faz vista grossa aos atos bárbaros de regimes totalitários islâmicos cai nesta armadilha, por exemplo.
Mas adotar postura de tolerância diante da pluralidade de valores, eis uma bandeira conservadora respeitável. O ser humano é frágil perante um mundo muitas vezes sem sentido, e esta visão trágica da vida, presente em Pondé, por exemplo, faz com que devamos ficar alertas contra utopias que nada mais são do que máscaras para nossa vaidade e nosso orgulho.
Denis Rosenfield resgata sua experiência com o PT em Porto Alegre, para nos lembrar como estes impulsos totalitários podem vir embalados por nomes nobres e mentirosos. Quando o estado se torna o ente que vai realizar a busca desta perfeição terrena, o indivíduo sempre acaba sacrificado no altar da causa impossível.
O livrinho, que tem 110 páginas apenas, merece ser lido por todos. O investimento de alguns minutos será altamente recompensado.Por: Rodrigo Constantino

GUERRA CIBERNÉTICA E ROBÔS DE DEFESA

Os avanços tecnológicos vêm colocando enormes desafios para a paz e a segurança internacional. Quando Clausewitz, há quase 200 anos, fez a observação de que a guerra é a continuação da política por outros meios, não poderia imaginar que ela seria hoje tão atual. Estamos vivendo um período em que a guerra começa a operar por outros meios, não o convencional, como entendido até aqui, mas por instrumentos eletrônicos cada dia mais sofisticados. A guerra cibernética com objetivos militares ofensivos, com vírus nos computadores iranianos e a utilização de veículos aéreos não tripulados (Vants ou “drones”) na eliminação de líderes da Al-Qaeda, desafia as normas internacionais vigentes e coloca questões morais e políticas que deverão ser enfrentadas pela comunidade internacional. Os EUA e Israel, por meios cada vez mais sofisticados, atacaram os sistemas de computadores que administram as instalações iranianas de enriquecimento de urânio, ampliando significativamente o primeiro uso contínuo de armas cibernéticas. No contexto de uma operação denominada Jogos Olímpicos, um vírus, Stuxnet, desenvolvido nos EUA e em Israel, atacou as instalações em Natanz e depois desativou temporariamente quase mil das 5 mil centrífugas usadas pelo Irã para a purificação do urânio. Outra arma cibernética, o vírus Flame, teria atacado computadores de funcionários do governo iraniano, subtraindo informações estratégicas. Pouco mencionadas são as ações cibernéticas da China contra os EUA, e vice-versa. Os serviços de inteligência norte-americanos identificaram 20 grupos associados ao Exército e às universidades chinesas responsáveis pelos ataques ao Google, à RSA e a outros alvos americanos. Além dessa espionagem industrial, foram registradas invasões na rede de geração e transmissão de energia e em outras áreas de infraestrutura. Os EUA foram os primeiros a criar um Comando para a cibernética, o que, segundo os chineses, contribuiu para a militarização do sistema. A Agência de Segurança Nacional americana transfere informação reservada para mais de 20 empresas de defesa, para que sejam desenvolvidas formas ofensivas e defensivas para o resguardo dos interesses nacionais de Washington. EUA e China, no contexto do Diálogo Estratégico e Econômico e de contatos militares regulares, começaram em 2011 a discutir formas para impedir a escalada dos ataques cibernéticos e meios para a rápida comunicação entre suas capitais. EUA e Rússia mantêm esses contatos há algum tempo e estabeleceram uma linha vermelha para evitar incidentes graves, o que talvez possa se repetir com a China. Contatos regulares com Israel e com os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão se intensificando. A utilização de arma cibernética tenderá a se acentuar, podendo causar enormes problemas para a população civil, caso energia, transporte e comunicações venham a ser afetados pela ação antagônica entre governos. A utilização de arma cibernética tenderá a se acentuar, podendo causar enormes problemas para a população civil Os robôs militares operam, atualmente, no mar, na terra e no ar. Os países que desenvolvem robôs para fins de defesa estão se equipando com todo tipo de forças de combate e serviços de inteligência cuja capacidade operacional está aumentando continuamente. As regras de conduta militar no teatro de operações determinam que a decisão do disparo de uma arma deve ser humana. Essa restrição começa a ser questionada com a multiplicação do uso militar dos robôs, porque já existe a possibilidade de os Vants de inteligência artificial aperfeiçoada, por exemplo, tomarem decisões letais de combate autônomas, baseadas nas informações de que dispõem. À medida que a tecnologia se desenvolve e permite maior autonomia dos robôs, a ideia de máquinas controladas a distância por computadores tomando decisões que põem o mundo diante questões morais é cada vez mais real e representa um grande desafio para a comunidade internacional. Essa questão desperta o debate sobre o que foi chamado pela revista “The Economist” de “a moral e a máquina”. A capacidade dos robôs de decidir entre o certo e o errado coloca dilemas como, por exemplo, o de aceitar ou não que um Vant deva disparar um míssil para eliminar um militante terrorista escondido em local onde se encontram também civis. Além do problema moral, o uso regular dos robôs está também desafiando as regras internacionais estabelecidas pelas Nações Unidas e o princípio da soberania dos Estados. Uma alta funcionária da ONU, recentemente, levantou sérias dúvidas sobre a legitimidade dos Vants perante a lei internacional e a violação dos direitos humanos, em vista dos assassinatos e ferimentos infringidos a civis indiscriminadamente. O secretário de Defesa dos EUA, em visita recente à Índia e ao Afeganistão, não se cansou de repetir que, apesar das reclamações do Paquistão pela violação do seu espaço aéreo, as operações com os Vants vão continuar a eliminar suspeitos de terrorismo em nome da defesa dos interesses dos EUA. A guerra ao terrorismo, iniciada por George W. Bush e continuada por Barack Obama, está, na prática, restrita hoje aos ataques dos Vants, que, segundo os últimos números, eliminaram 269 militantes no Paquistão e 38 no Iêmen, todos alegadamente da alta hierarquia da Al-Qaeda, com danos colaterais – um eufemismo para mortes não desprezíveis na população civil. E consta que Obama toma pessoalmente para si a última decisão sobre os membros da Al-Qaeda que devem ser eliminados. A comunidade internacional vai ter de responder ao desafio dessas questões morais, políticas e de soberania introduzidas pela utilização dos robôs e das armas cibernéticas de defesa ou de ataque. O Brasil não deveria ficar ausente do debate. Cabe participar das iniciativas que já surgiram para enfrentar o problema, como o Comitê Internacional para o Controle de Armas Robóticas, criado nos EUA. Por: Rubens Barbosa Fonte: O Estado de S. Paulo, 26/06/2012

O QUE É REALMENTE O FASCISMO?

Todo mundo sabe que o termo fascista é hoje pejorativo; um adjetivo frequentemente utilizado para se descrever qualquer posição política da qual o orador não goste. Não há ninguém no mundo atual propenso a bater no peito e dizer "Sou um fascista; considero o fascismo um grande sistema econômico e social." Porém, afirmo que, caso fossem honestos, a vasta maioria dos políticos, intelectuais e ativistas do mundo atual teria de dizer exatamente isto a respeito de si mesmos. O fascismo é o sistema de governo que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade. Tente imaginar algum país cujo governo não siga nenhuma destas características acima. Tal arranjo se tornou tão corriqueiro, tão trivial, que praticamente deixou de ser notado pelas pessoas. Praticamente ninguém conhece este sistema pelo seu verdadeiro nome. É verdade que o fascismo não possui um aparato teórico abrangente. Ele não possui um teórico famoso e influente como Marx. Mas isso não faz com que ele seja um sistema político, econômico e social menos nítido e real. O fascismo também prospera como sendo um estilo diferenciado de controle social e econômico. E ele é hoje uma ameaça ainda maior para a civilização do que o socialismo completo. Suas características estão tão arraigadas em nossas vidas — e já é assim há um bom tempo — que se tornaram praticamente invisíveis para nós. E se o fascismo é invisível para nós, então ele é um assassino verdadeiramente silencioso. Assim como um parasita suga seu hospedeiro, o fascismo impõe um estado tão enorme, pesado e violento sobre o livre mercado, que o capital e a produtividade da economia são completamente exauridos. O estado fascista é como um vampiro que suga a vida econômica de toda uma nação, causando a morte lenta e dolorosa de uma economia que outrora foi vibrante e dinâmica. As origens do fascismo A última vez em que as pessoas realmente se preocuparam com o fascismo foi durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela época, dizia-se ser imperativo que todos lutassem contra este mal. Os governos fascistas foram derrotados pelos aliados, mas a filosofia de governo que o fascismo representa não foi derrotada. Imediatamente após aquela guerra mundial, uma outra guerra começou, esta agora chamada de Guerra Fria, a qual opôs o capitalismo ao comunismo. O socialismo, já nesta época, passou a ser considerado uma forma mais branda e suave de comunismo, tolerável e até mesmo louvável, mas desde que recorresse à democracia, que é justamente o sistema que legaliza e legitima a contínua pilhagem da população. Enquanto isso, praticamente todo o mundo havia esquecido que existem várias outras cores de socialismo, e que nem todas elas são explicitamente de esquerda. O fascismo é uma dessas cores. Não há dúvidas quanto às origens do fascismo. Ele está ligado à história da política italiana pós-Primeira Guerra Mundial. Em 1922, Benito Mussolini venceu uma eleição democrática e estabeleceu o fascismo como sua filosofia. Mussolini havia sido membro do Partido Socialista Italiano. Todos os maiores e mais importantes nomes do movimento fascista vieram dos socialistas. O fascismo representava uma ameaça aos socialistas simplesmente porque era uma forma mais atraente e cativante de se aplicar no mundo real as principais teorias socialistas. Exatamente por isso, os socialistas abandonaram seu partido, atravessaram o parlamento e se juntaram em massa aos fascistas. Foi também por isso que o próprio Mussolini usufruiu uma ampla e extremamente favorável cobertura na imprensa durante mais de dez anos após o início de seu governo. Ele era recorrentemente celebrado pelo The New York Times, que publicou inúmeros artigos louvando seu estilo de governo. Ele foi louvado em coletâneas eruditas como sendo o exemplo de líder de que o mundo necessitava na era da sociedade planejada. Matérias pomposas sobre o fanfarrão eram extremamente comuns na imprensa americana desde o final da década de 1920 até meados da década de 1930. Qual o principal elo entre o fascismo e o socialismo? Ambos são etapas de um continuum que visa ao controle econômico total, um continuum que começa com a intervenção no livre mercado, avança até a arregimentação dos sindicatos e dos empresários, cria leis e regulamentações cada vez mais rígidas, marcha rumo ao socialismo à medida que as intervenções econômicas vão se revelando desastrosas e, no final, termina em ditadura. O que distingue a variedade fascista de intervencionismo é a sua recorrência à ideia de estabilidade para justificar a ampliação do poder do estado. Sob o fascismo, grandes empresários e poderosos sindicatos se aliam entusiasticamente ao estado para obter estabilidade contra as flutuações econômicas, isto é, as expansões e contrações de determinados setores do mercado em decorrência das constantes alterações de demanda por parte dos consumidores. A crença é a de que o poder estatal pode suplantar a soberania do consumidor e substituí-la pela soberania dos produtores e sindicalistas, mantendo ao mesmo tempo a maior produtividade gerada pela divisão do trabalho. Os adeptos do fascismo encontraram a perfeita justificativa teórica para suas políticas na obra de John Maynard Keynes. Keynes alegava que a instabilidade do capitalismo advinha da liberdade que o sistema garantia ao "espírito animal" dos investidores. Ora guiados por rompantes de otimismo excessivo e ora derrubados por arroubos de pessimismo irreversível, os investidores estariam continuamente alternando entre gastos estimuladores e entesouramentos depressivos, fazendo com que a economia avançasse de maneira intermitente, apresentando uma sequência de expansões e contrações. Keynes propôs eliminar esta instabilidade por meio de um controle estatal mais rígido sobre a economia, com o estado controlando os dois lados do mercado de capitais. De um lado, um banco central com o poder de inflacionar a oferta monetária por meio da expansão do crédito iria determinar a oferta de capital para financiamento, e, do outro, uma ativa política fiscal e regulatória iria socializar os investimentos deste capital. Em uma carta aberta ao presidente Franklin Delano Roosevelt, publicado no The New York Times em 31 de dezembro de 1933, Keynes aconselhava seu plano: Na área da política doméstica, coloco em primeiro plano um grande volume de gastos sob os auspícios do governo. Em segundo lugar, coloco a necessidade de se manter um crédito abundante e barato. ... Com estas sugestões . . . posso apenas esperar com grande confiança por um resultado exitoso. Imagine o quanto isto significaria não apenas para a prosperidade material dos Estados Unidos e de todo o mundo, mas também em termos de conforto para a mente dos homens em decorrência de uma restauração de sua fé na sensatez e no poder do governo. (John Maynard Keynes, "An Open Letter to President Roosevelt," New York Times, December 31, 1933 in ed. Herman Krooss, Documentary History of Banking and Currency in the United States, Vol. 4 (New York: McGraw Hill, 1969), p. 2788.) Keynes se mostrou ainda mais entusiasmado com a difusão de suas ideias na Alemanha. No prefácio da edição alemã da Teoria Geral, publicada em 1936, Keynes escreveu: A teoria da produção agregada, que é o que este livro tenciona oferecer, pode ser adaptada às condições de um estado totalitário com muito mais facilidade do que a teoria da produção e da distribuição sob um regime de livre concorrência e laissez-faire. (John Maynard Keynes, "Prefácio" da edição alemã de 1936 da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, traduzido e reproduzido in James J. Martin, Revisionist Viewpoints (Colorado Springs: Ralph Myles, 1971), pp. 203?05.) Controle estatal do dinheiro, do crédito, do sistema bancário e dos investimentos é a base exata de uma política fascista. Historicamente, a expansão do controle estatal sob o fascismo seguiu um padrão previsível. O endividamento e a inflação monetária pagaram pelos gastos estatais. A resultante expansão do crédito levou a um ciclo de expansão e recessão econômica. O colapso financeiro gerado pela recessão resultou na socialização dos investimentos e em regulamentações mais estritas sobre o sistema bancário, ambos os quais permitiram mais inflação monetária, mais expansão do crédito, mais endividamento e mais gastos. O subsequente declínio no poder de compra do dinheiro justificou um controle de preços e salários, o qual se tornou o ponto central do controle estatal generalizado. Em alguns casos, tudo isso aconteceu rapidamente; em outros, o processo se deu de maneira mais lenta. Porém, em todos os casos, o fascismo sempre seguiu este caminho e sempre descambou no total planejamento centralizado. Na Itália, local de nascimento do fascismo, a esquerda percebeu que sua agenda anticapitalista poderia ser alcançada com muito mais sucesso dentro do arcabouço de um estado autoritário e planejador. Keynes teve um papel-chave ao fornecer uma argumentação pseudo-científica contra o laissez-faire do velho mundo e em prol de uma nova apreciação da sociedade planejada. Keynes não era um socialista da velha guarda. Como ele próprio admitiu na introdução da edição nazista da Teoria Geral, o nacional-socialismo era muito mais favorável às suas ideias do que uma economia de mercado. Características Examinando a história da ascensão do fascismo, John T. Flynn, em seu magistral livro As We Go Marching, de 1944, escreveu: Um dos mais desconcertantes fenômenos do fascismo é a quase inacreditável colaboração entre homens da extrema-direita e da extrema-esquerda para a sua criação. Mas a explicação para este fenômeno aparentemente contraditório jaz na seguinte questão: tanto a direita quanto a esquerda juntaram forças em sua ânsia por mais regulamentação. As motivações, os argumentos, e as formas de expressão eram diferentes, mas todos possuíam um mesmo objetivo, a saber: o sistema econômico tinha de ser controlado em suas funções essenciais, e este controle teria de ser exercido pelos grupos produtores. Flynn escreveu que a direita e a esquerda discordavam apenas quanto a quem seria este 'grupo de produtores'. A esquerda celebrava os trabalhadores como sendo os produtores. Já a direita afirmava que os produtores eram os grandes grupos empresariais. A solução política de meio-termo — a qual prossegue até hoje, e cada vez mais forte — foi cartelizar ambos. Sob o fascismo, o governo se torna o instrumento de cartelização tanto dos trabalhadores (desde que sindicalizados) quanto dos grandes proprietários de capital. A concorrência entre trabalhadores e entre grandes empresas é tida como algo destrutivo e sem sentido; as elites políticas determinam que os membros destes grupos têm de atuar em conjunto e agir cooperativamente, sempre sob a supervisão do governo, de modo a construírem uma poderosa nação. Os fascistas sempre foram obcecados com a ideia de grandeza nacional. Para eles, grandeza nacional não consiste em uma nação cujas pessoas estão se tornando mais prósperas, com um padrão de vida mais alto e de maior qualidade. Não. Grandeza nacional ocorre quando o estado incorre em empreendimentos grandiosos, faz obras faraônicas, sedia grandes eventos esportivos e planeja novos e dispendiosos sistemas de transporte. Em outras palavras, grandeza nacional não é a mesma coisa que a sua grandeza ou a grandeza da sua família ou a grandeza da sua profissão ou do seu empreendimento. Muito pelo contrário. Você tem de ser tributado, o valor do seu dinheiro tem de ser depreciado, sua privacidade tem de ser invadida e seu bem-estar tem de ser diminuído para que este objetivo seja alcançado. De acordo com esta visão, é o governo quem tem de nos tornar grandes. Tragicamente, tal programa possui uma chance de sucesso político muito maior do que a do antigo socialismo. O fascismo não estatiza a propriedade privada como faz o socialismo. Isto significa que a economia não entra em colapso quase que imediatamente. Tampouco o fascismo impõe a igualdade de renda. Não se fala abertamente sobre a abolição do casamento e da família ou sobre a estatização das crianças. A religião não é proibida. Sob o fascismo, a sociedade como a conhecemos é deixada intacta, embora tudo seja supervisionado por um poderoso aparato estatal. Ao passo que o socialismo tradicional defendia uma perspectiva globalista, o fascismo é explicitamente nacionalista ou regionalista. Ele abraça e exalta a ideia de estado-nação. Quanto à burguesia, o fascismo não busca a sua expropriação. Em vez disso, a classe média é agradada com previdência social, educação gratuita, benefícios médicos e, é claro, com doses maciças de propaganda estatal estimulando o orgulho nacional. O fascismo utiliza o apoio conseguido democraticamente para fazer uma arregimentação nacional e, com isso, controlar mais rigidamente a economia, impor a censura, cartelizar empresas e vários setores da economia, repreender dissidentes e controlar a liberdade dos cidadãos. Tudo isso exige um contínuo agigantamento do estado policial. Sob o fascismo, a divisão entre esquerda e direita se torna amorfa. Um partido de esquerda que defende programas socialistas não tem dificuldade alguma em se adaptar e adotar políticas fascistas. Sua agenda política sofre alterações ínfimas, a principal delas sendo a sua maneira de fazer marketing. O próprio Mussolini explicou seu princípio da seguinte maneira: "Tudo dentro do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado". Ele também disse: "O princípio básico da doutrina Fascista é sua concepção do Estado, de sua essência, de suas funções e de seus objetivos. Para o Fascismo, o Estado é absoluto; indivíduos e grupos, relativos." O futuro Não consigo imaginar qual seria hoje uma prioridade maior do que uma séria e efetiva aliança anti-fascista. De certa maneira, ainda que muito desconcertada, uma resistência já está sendo formada. Não se trata de uma aliança formal. Seus integrantes sequer sabem que fazem parte dela. Tal aliança é formada por todos aqueles que não toleram políticos e politicagens, que se recusam a obedecer leis fascistas convencionais, que querem mais descentralização, que querem menos impostos, que querem poder importar bens sem ter de pagar tarifas escorchantes, que protestam contra a inflação e seu criador, o Banco Central, que querem ter a liberdade de se associar com quem quiserem e de comprar e vender de acordo com termos que eles próprios decidirem, por aqueles que insistem em educar seus filhos por conta própria, por aqueles investidores, poupadores e empreendedores que realmente tornam possível qualquer crescimento econômico e por aqueles que resistem ao máximo a divulgar dados pessoais para o governo e para o estado policial. Tal aliança é também formada por milhões de pequenos e independentes empreendedores que estão descobrindo que a ameaça número um à sua capacidade de servir aos outros por meio do mercado é exatamente aquela instituição que alega ser nossa maior benfeitora: o governo. Quantas pessoas podem ser classificadas nesta categoria? Mais do que imaginamos. O movimento é intelectual. É cultural. É tecnológico. Ele vem de todas as classes, raças, países e profissões. Não se trata de um movimento meramente nacional; ele é genuinamente global. Não mais podemos prever se os membros se consideram de esquerda, de direita, independentes, libertários, anarquistas ou qualquer outra denominação. O movimento inclui pessoas tão diversas como pais adeptos do ensino domiciliar em pequenas cidades e pais em áreas urbanas cujos filhos estão encarcerados por tempo indeterminado e sem nenhuma boa razão. E o que este movimento quer? Nada mais e nada menos do que a doce liberdade. Ele não está pedindo que a liberdade seja concedida ou dada. Ele apenas pede a liberdade que foi prometida pela própria vida, e que existiria na ausência do estado leviatã que nos extorque, escraviza, intimida, ameaça, encarcera e mata. Este movimento não é efêmero. Somos diariamente rodeados de evidências que demonstram que ele está absolutamente correto em suas exigências. A cada dia, torna-se cada vez mais óbvio que o estado não contribui em absolutamente nada para o nosso bem-estar. Ao contrário, ele maciçamente subtrai nosso padrão de vida. Nos anos 1930, os defensores do estado transbordavam de ideias grandiosas. Eles possuíam teorias e programas de governo que gozavam o apoio de vários intelectuais sérios. Eles estavam emocionados e excitados com o mundo que iriam criar. Eles iriam abolir os ciclos econômicos, criar desenvolvimento social, construir a classe média, curar todas as doenças, implantar a seguridade universal, acabar com a escassez e fazer vários outros milagres. O fascismo acreditava em si próprio. Hoje o cenário é totalmente distinto. O fascismo não possui nenhuma ideia nova, nenhum projeto grandioso — nem mesmo seus partidários realmente acreditam que podem alcançar os objetivos almejados. O mundo criado pelo setor privado é tão mais útil e benevolente do que qualquer coisa que o estado já tenha feito, que os próprios fascistas se tornaram desmoralizados e cientes de que sua agenda não possui nenhuma base intelectual real. É algo cada vez mais amplamente reconhecido que o estatismo não funciona e nem tem como funcionar. O estatismo é e continua sendo a maior mentira do milênio. O estatismo nos dá o exato oposto daquilo que promete. Ele nos promete segurança, prosperidade e paz. E o que ele nos dá é medo, pobreza, conflitos, guerra e morte. Se queremos um futuro, teremos nós mesmos de construí-lo. O estado fascista não pode nos dar nada. Ao contrário, ele pode apenas atrapalhar. Por outro lado, também parece óbvio que o antigo romance dos liberais clássicos com a ideia de um estado limitado já se esvaneceu. É muito mais provável que os jovens de hoje abracem uma ideia que 50 anos atrás era tida como inimaginável: a ideia de que a sociedade está em melhor situação sem a existência de qualquer tipo de estado. Eu diria que a ascensão da teoria anarcocapitalista foi a mais dramática mudança intelectual ocorrida em minha vida adulta. Extinta está a ideia de que o estado pode se manter limitado exclusivamente à função de vigilante noturno, mantendo-se como uma entidade pequena que irá se limitar a apenas garantir direitos essenciais, adjudicar conflitos, e proteger a liberdade. Esta visão é calamitosamente ingênua. O vigia noturno é sujeito que detém as armas, que possui o direito legal de utilizar de violência, que controla todas as movimentações das pessoas, que possui um posto de comando no alto da torre e que pode ver absolutamente tudo. E quem vigia este vigia? Quem limita seu poder? Ninguém, e é exatamente por isso que ele é a fonte dos maiores males da sociedade. Nenhuma lei, nenhuma constituição bem fundamentada, nenhuma eleição, nenhum contrato social irá limitar seu poder. Com efeito, o vigia noturno adquiriu poderes totais. É ele quem, como descreveu Flynn, "possui o poder de promulgar qualquer lei ou tomar qualquer medida que lhe seja mais apropriada". Enquanto o governo, continua Flynn, "estiver investido do poder de fazer qualquer coisa sem nenhuma limitação prática às suas ações, ele será um governo totalitário. Ele possui o poder total". Este é um ponto que não mais pode ser ignorado. O vigia noturno tem de ser removido e seus poderes têm de ser distribuídos entre toda a população, e esta tem de ser governada pelas mesmas forças que nos trazem todas as bênçãos possibilitadas pelo mundo material. No final, esta é a escolha que temos de fazer: o estado total ou a liberdade total. O meio termo é insustentável no longo prazo. Qual iremos escolher? Se escolhermos o estado, continuaremos afundando cada vez mais, e no final iremos perder tudo aquilo que apreciamos enquanto civilização. Se escolhermos a liberdade, poderemos aproveitar todo o notório poder da cooperação humana, o que irá nos permitir continuar criando um mundo melhor. Na luta contra o fascismo, não há motivos para se desesperar. Temos de continuar lutando sempre com a total confiança de que o futuro será nosso, e não deles. O mundo deles está se desmoronando. O nosso está apenas começando a ser construído. O mundo deles é baseado em ideologias falidas. O nosso é arraigado na verdade, na liberdade e na realidade. O mundo deles pode apenas olhar para o passado e ter nostalgias daqueles dias gloriosos. O nosso olha para frente e contempla todo o futuro que estamos construindo para nós mesmos. O mundo deles se baseia no cadáver do estado-nação. O nosso se baseia na energia e na criatividade de todas as pessoas do mundo, unidas em torno do grande e nobre projeto da criação de uma civilização próspera por meio da cooperação humana pacífica. É verdade que eles possuem armas grandes e poderosas. Mas armas grandes e poderosas nunca foram garantia de vitória em guerras. Já nós possuímos a única arma que é genuinamente imortal: a ideia certa. E é isso que nos levará à vitória. Como disse Mises, No longo prazo, até mesmo o mais tirânico dos governos, com toda a sua brutalidade e crueldade, não é páreo para um combate contra ideias. No final, a ideologia que obtiver o apoio da maioria irá prevalecer e retirar o sustento de sob os pés do tirano. E então os vários oprimidos irão se elevar em uma rebelião e destronar seus senhores. Lew Rockwell é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State. Tradução de Leandro Roque

AQUECIMENTO GLOBAL É UMA FARSA?

Cientistas denunciam: ecoterrorismo barra estudos que comprovam que aquecimento global é uma farsa. 

Em meio às preparações para a recepção de 45 mil pessoas para a Rio+20, um grupo de cientistas pediu que a presidente Dilma Rousseff revertesse em saneamento básico o que estava gastando com o aquecimento global. De acordo com os 18 pesquisadores que assinaram uma carta enviada à presidência em maio, pouco antes da cúpula da ONU, o aquecimento global não é causado pelo homem. Eles estão no grupo dos "céticos do clima". A Folha conversou com um dos responsáveis pelo documento, o físico e meteorologista Luiz Carlos Baldicero Molion, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas). Há décadas, Molion nada contra a corrente dos pesquisadores que revisam os relatórios do IPCC (o painel do clima da ONU) e que publicam nas principais revistas científicas. São os "aquecimentistas", como diz Molion. Acompanhe a entrevista. 

- Folha - Como o senhor começou a trabalhar para mostrar que aquecimento global não é resultado da ação do homem? 
Luiz Carlos Baldicero Molion - Eu estou nessa desde a década de 1970, quando começaram a falar que o aquecimento do planeta era resultado da queima de combustíveis fósseis. Isso não era verdade. Quando o IPCC lançou seu primeiro relatório [em 1990], nós começamos a comprovar que o aquecimento era causado pelo aumento da atividade solar e pela falta de erupção vulcânica dentre 1912 a 1960 [as erupções reduzem a temperatura da Terra]. Mas, desde então, o terrorismo climático aumentou. 

- Os cientistas "céticos" reclamam de dificuldades para obter recursos para pesquisas. O senhor já viveu isso? 
Eu tenho hoje cerca de R$ 3,2 milhões em projetos de pesquisa sobre eventos extremos, monitoramento de vazão de rio e desenvolvimento regional. Mas não posso usar a palavra "aquecimento global", senão o projeto não é aprovado. Na área de aquecimento global, eu nem me arrisco a tentar publicar os meus trabalhos. Os artigos têm de ser "revestidos" por outras temáticas. 

- Mas, se o senhor submeter um artigo científico questionando o aquecimento global pelo homem, ele será negado? 
Sim. A maioria dos pareceristas é a favor do aquecimento global. Então, será negado. Revistas como a "Science" só publicam artigos sobre a ação do homem no clima. Mas se um trabalho em outra área, como o monitoramento de eventos extremos, cair nas mãos de um "aquecimentista", será aprovado. 

- Por que decidiram escrever uma carta para a Dilma? 
Existia na pauta [no documento base] da Rio+20 coisas esdrúxulas como "a temperatura do planeta não pode aumentar mais de 2 graus". Então nós tivemos a ideia de escrever essa carta. Temos informações de que ela leu e disse "interessante, porém muito tarde". É uma pessoa que tem acesso a ela, mas não podemos revelar quem é. A carta afirma que não é preciso descarbonizar. 

- O que precisaria ser feito então? 
Há registros geológicos ou paleoclimáticos que mostram que quando as plantas surgiram havia uma concentração muito maior de CO2 do que existe agora. Já mostramos que com mais CO2 as plantas aumentam a sua produtividade. Então falar em descarbonização é absolutamente ridículo. Isso não quer dizer que os combustíveis fósseis não tenham problemas. O enxofre que está no carvão mineral e no petróleo é altamente tóxico. 

- Mas a crise ambiental trata também da escassez de recursos, como a água... 
O petróleo não vai acabar. Há reservatórios de petróleo como o pré-sal em todo o planeta. Mas extrair será caro. E a água não será um problema do século 21 porque 71% do planeta é formado por água. O que vai acontecer é que, se poluirmos a água, ela ficará mais cara. Mas não vai faltar. 

- O que estaria por trás do IPCC? 
Há quem diga que a ideia da ONU é ter uma governança global. Não duvido. 

- O que o senhor achou dos resultados da Rio+20? 
Os artigos sobre compromissos, metas e definições foram todos retirados. Ficamos com os parágrafos que repetem as mesmas coisas desde o relatório de Estocolmo, de 1972. Porém, houve coisas interessantes. A tentativa de transformar o Pnuma [programa ambiental da ONU] em uma agência foi vetada. Se passasse, os países perderiam a sua soberania. Se você resolve fazer uma hidrelétrica como Belo Monte, a agência da ONU poderia vetar. Seria um problema sério para os países em desenvolvimento. Mas a ONU não desistirá.

UMA NOVA POLÍTICA

Eu queria escrever sobre Rousseau. Nesta quinta completam-se três séculos de seu nascimento. Atacaria o coletivismo do filósofo, que jurava falar em nome da “vontade geral”, na prática, a tirania de poucos. Condenaria ainda o seu romantismo ingênuo, com a visão idílica do “bom selvagem”, que transforma em vítima a escória da humanidade. Mas os acontecimentos da política nacional atropelaram minha intenção. As novas peripécias de Lula, melhor dizendo. Aquela foto do ex-presidente sorrindo enquanto aperta a mão de Paulo Maluf é tão sintomática que não pode passar em branco. Rousseau pode esperar. Ao contrário de alguns, eu não padeço de romantismo. Política é a “arte do possível”. Concessões serão inevitáveis. Quem almeja pureza moral deve se ater ao campo das idéias. Meter as mãos no jogo sujo da política e sair totalmente limpo é utopia. Concordo com tudo isso. Mas não posso conceber que exista somente esta forma de se fazer política! Se é ingenuidade cobrar pureza dos políticos, também é abjeto pensar que todos estarão sempre dispostos a tudo pelo poder. É fundamental separar o joio do trigo. Não podemos aceitar bovinamente que tudo isso é parte inevitável da política, e ponto final. O melhor argumento de defesa dos petistas é que seu partido é “apenas” tão ruim quanto os outros. Mesmo se isso fosse verdade, seria patético para quem já tentou monopolizar a bandeira da ética no passado. Mas é mentira: o PT é pior! Nunca antes na história deste país vimos um partido com tanta sede pelo poder, disposto aos mais nefastos meios para tanto. Aloprados, “mensalão”, dinheiro na cueca, amizade com os piores ditadores, isso é o PT. Quem acompanhou sua trajetória não pode ficar surpreso com a aliança entre Lula e Maluf. Este já tinha até apoiado Marta Suplicy em 2008. O único “princípio” de Lula é o vale-tudo pelo poder. Todos os seus velhos desafetos da política, antes atacados com virulência, tornaram-se aliados. Jader Barbalho teve direito até a um beija-mão, uma “aula” de política, segundo o próprio Lula. Sarney, o eterno, virou um dos mais fiéis aliados. Collor foi outro que mereceu a aproximação de Lula. Podemos não esperar a moralidade plena na política. Mas Lula vai muito além: ele representa o que há de mais imoral na vida pública brasileira. Para conseguir mais um minuto de TV na campanha pela prefeitura paulista, sua obsessão do momento, Lula seria capaz até de beijar Carlinhos Cachoeira. Ou alguém duvida disso? Quando se trata de Lula, não há limites morais, não há um freio que diz “basta”. Fosse ele somente mais um político na cena nacional, isso mereceria uma atenção menor. O problema é que Lula não é apenas mais um, e sim o ex-presidente da República, com grande popularidade. Sua conduta deplorável tem efeitos secundários em toda a política. O fato de ele ter sido reeleito mesmo com o “mensalão” representou um duro golpe nas frágeis instituições republicanas. Foi aberta a caixa de Pandora. Uma das conseqüências disso é o desprezo cada vez maior pela política das pessoas decentes. O círculo vicioso vai tomando proporções assustadoras, e boa parte da população já aceita de forma negligente que as coisas são assim mesmo. Só que, como alertava Platão, a punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus. Longe de mim responsabilizar um único indivíduo por toda a podridão em nossa política. O modelo é ruim, as instituições são capengas, a mentalidade predominante é autoritária e antiliberal, dezenas de partidos não passam de legendas de aluguel, e a enorme concentração de poder e recursos no governo federal cria incentivos para esta pouca vergonha. Mas é inegável que a postura de Lula serve para piorar o que já era ruim, para jogar mais lenha na fogueira da imoralidade de nossa política. Para agravar o quadro, temos uma oposição medíocre, acovardada, sem um programa alternativo de governo. Luiz Felipe D’Ávila, em “Os Virtuosos”, mostra como o nascimento de nossa República dependeu de estadistas, indivíduos que entraram na vida pública “por uma questão de princípio, por um senso de missão e por um sentimento de dever”. Será que ainda somos capazes de produzir estadistas como Prudente de Moraes? Ou estaria nossa política condenada a abrigar tipos como Lula e Maluf, este procurado pela Interpol? Volto a Rousseau para fechar. Ele dizia amar a Humanidade, esta linda abstração, mas abandonou todos os cinco filhos no orfanato. Voltaire o considerava um “poço de vileza”. O que ele diria sobre Lula?Por: Rodrigo Constantino, O GLOBO