quinta-feira, 12 de julho de 2012

BURRICE AMERICANA


                        

Tudo aquilo que no Ocidente se vendeu, se louvou e se criticou sob o nome de “anticomunismo” nunca passou da resposta fraca e tardia de vítimas atônitas a uma estratégia abrangente e de longo prazo, cujo alcance mal chegavam a vislumbrar.

Se há uma coisa óbvia, é que a narrativa predominante na mídia, no show business e nos meios intelectuais, quando não determina desde já o curso dos acontecimentos políticos, terminará por determiná-lo mais dia menos dia.

Nos EUA, há pelo menos três décadas essa narrativa reproduz ponto por ponto, sem citar a fonte nem, é claro, imitar-lhe o estilo, o discurso da propaganda anti-americana posta em circulação desde o fim da II Guerra pelo governo da URSS.
Não há acusação, não há mito depreciativo, não há estereótipo difamatório comprovadamente comunista que não tenha sido absorvido pelas grandes agências formadoras de opinião na América e repassado à população como autêntico produto made in USA, dado do senso comum ou crença espontânea das pessoas de bem. Dos episódios McCarthy, Alger Hiss e Rosenberg em diante, não houve mentira soviética que não fosse alegremente subscrita pelo establishment, só para acabar sendo desmentida por provas documentais irrefutáveis trinta ou quarenta anos depois, tarde demais para que seus efeitos políticos pudessem ser revertidos (v. Ronald Radosh, The Rosenberg File, 1997; E. Stanton Evans, Blacklisted by History, 2007; Christina Shelton, Alger Hiss: Why He Chose Treason, 2012).
Como a matéria-prima desses engodos aparece sempre remodelada em linguagem local e adaptada aos sentimentos usuais do público americano, ninguém ou quase ninguém se lembra de rastrear-lhe a origem. Quem o fizesse teria de acabar concordando com aquilo que disse Malachi Martin: que ao longo do último século só houve uma força agente no cenário internacional – a URSS. Os personagens em torno não tiveram iniciativa própria: limitaram-se a adaptar-se, às pressas e desastradamente, a situações criadas pelos diretores de cena soviéticos, cujos cálculos antecipavam suas reações e tiravam proveito delas.
Tudo aquilo que no Ocidente se vendeu, se louvou e se criticou sob o nome de “anticomunismo” nunca passou da resposta fraca e tardia de vítimas atônitas a uma estratégia abrangente e de longo prazo, cujo alcance mal chegavam a vislumbrar.
Poucas coisas ilustram a noção de “resposta passiva” tão claramente quanto a política americana de “contenção”, que pretendeu traçar limites à expansão do Império soviético, política que na época a caipirice ocidental enalteceu como um primor de genialidade estratégica e a hipocrisia comunista, mal contendo o riso, condenou como o suprassumo da intrusão imperial ianque. Tudo o que ela conseguiu fazer foi limitar a ação do próprio Ocidente, enquanto a URSS espalhava livremente seus tentáculos pela Ásia, pela África, pela America Latina e, é claro, pelas altas esferas intelectuais e midiáticas dos EUA.
Mas talvez a obra-prima da impotência patética tenha sido a insistência dos governos ocidentais na falsa esperteza de jogar contra a URSS os “anticomunistas de esquerda”. Faziam isso na alegada esperança de dividir as hostes comunistas, quando na verdade tudo o que aqueles esquerdistas democráticos propunham já estava antecipadamente integrado nos planos soviéticos para a grande farsa da “queda da URSS”, que em menos de uma década viria a transfigurar a morte aparente do movimento comunista numa ressurreição triunfal e numa sucessão de vitórias espetaculares (v. Jean-François Revel, La Grande Parade: Essai sur la Survie de l’Utopie Socialiste, 2000), aí incluída, logo depois, a eleição de um de seus mais fiéis servidores para a presidência dos EUA.
Até os mais legítimos conservadores insistem em enxergar as transformações esquerdizantes da sociedade e da política americanas como resultados de processos autóctones, da ação dos seus execrados liberals, sem querer admitir que estes últimos nunca, nunca tiveram a iniciativa intelectual desses processos, limitando-se a ecoar e repassar, na linguagem tradicional da democracia, os slogans e chavões da propaganda comunista internacional. Hipnotizada por uma espécie de patriotismo cognitivo, a nata do conservadorismo americano imagina residir no seu país a fonte criadora de tudo o que de bom e de mau acontece no mundo, e assim acaba por lançar sobre os genuínos autores do enredo um manto de invisibilidade protetora. Obsessivamente empenhados, sobretudo, em escapar à pecha de “teóricos da conspiração”, aqueles devotos guardiões do americanismo apegam-se às explicações que pareçam mais verossímeis ao público geral, isto é, precisamente aos menos qualificados para opinar em matérias tão complexas e labirínticas. Por medo de tornar-se objeto de riso dos ignorantes, rebaixam-se propositadamente ao nível da estupidez mediana, sacrificando sua inteligência num ritual de autocastração ante o altar das aparências respeitáveis.
Querem outro exemplo? Depoimentos e mais depoimentos, documentos e mais documentos comprovam que o radicalismo muçulmano não brotou espontaneamente da sociedade islâmica, da cultura islâmica, mas foi criado pelos serviços de inteligência soviéticos e é ainda alimentado e monitorado por agentes russos (leiam Ion Mihai Pacepa em http://www.nationalreview.com/articles/218533/ russian-footprints/ion-mihai-pacepa e Claire Berlinski em http://www.tabletmag.com/ jewish-news-and-politics/103576/the-cold-wars-arab-spring). Apesar disso, o governo americano continua tratando Vladimir Putin como parceiro confiabilíssimo, enquanto os intelectuais conservadores produzem toneladas de retórica piedosamente cristã para lançar a culpa do terrorismo em tradições corânicas de quatorze séculos, ajudando a ação da KGB-FSB a recobrir-se da camuflagem islâmica que, precisamente, estava nos seus planos desde o início.
 ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 11 JULHO 2012
 INTERNACIONAL - ESTADOS UNIDOS

O BUFÃO DA AMÉRICA


Entrevista: Marco Antonio Villa
O bufão da américa
Historiador diz que Hugo Chávez, presidente da
Venezuela, é perigoso por ser ambicioso e imprevisível

Duda Teixeira
Roberto Setton
"Se Lula tivesse sido presidente
na República Velha, o Acre seria
dos bolivianos e Santa Catarina,
dos argentinos"
O historiador Marco Antonio Villa já escreveu 21 livros, com temas que variam da Idade Média à Revolução Mexicana. Ao investir contra mitos da história nacional em suas obras e artigos, esse professor da Universidade Federal de São Carlos colecionou polêmicas e fez dezenas de inimigos. Sete anos atrás, tornou-se persona non grata no estado de Minas Gerais ao sustentar que Tiradentes foi um herói construído pelos republicanos. Mais tarde, causou comoção ao escrever que o presidente João Goulart, deposto pelos militares em 1964, preparava o próprio golpe de estado para obter a reeleição. "Os historiadores costumam ter receio de polêmicas, mas é com elas que se transforma a visão de mundo de uma sociedade", diz Villa, que tem 52 anos. Estudioso da diplomacia brasileira, ele vê com preocupação o sumiço da linha de diplomacia cunhada pelo barão do Rio Branco. "O barão profissionalizou o Itamaraty, que passou a atuar em busca dos interesses do país, e não de um governo ou partido." Em sua casa na Zona Norte de São Paulo, o historiador deu a seguinte entrevista a VEJA.
Veja – Como o senhor avalia a atual diplomacia brasileira?
Villa – Nossa diplomacia se esquiva de defender os interesses nacionais na América Latina. Teima sempre em chegar a um acordo e, como não consegue, acaba cedendo aos vizinhos. Se Lula tivesse sido presidente na República Velha, o Acre seria hoje dos bolivianos e Santa Catarina, dos argentinos. Por aqui se pensa que o Brasil não pode ter interesses nacionais ou econômicos na América do Sul, uma vez que estamos em busca de uma integração regional. É um equívoco. Os interesses do Brasil não são os mesmos da Argentina. Os objetivos do Paraguai não são os do Brasil. A linguagem amena, educada, usada pelos nossos diplomatas apenas tem fortalecido os caudilhos da região, como o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales, que se acham com autoridade para falar ainda mais grosso e aumentar as exigências.
Veja – A diplomacia brasileira não era assim no passado?
Villa – Não. No fim do século XIX, a Argentina reivindicou o oeste do Paraná e de Santa Catarina. Não fazia o menor sentido. O presidente Prudente de Moraes, com a ajuda do barão do Rio Branco, resolveu a questão e evitou a doação da área. Não perdemos um hectare de terra. O barão sabia quais eram os interesses nacionais e os defendia. Além disso, profissionalizou o Itamaraty, que passou a coordenar uma política em nome do país, e não de um governo ou partido. Hoje, precisamos urgentemente que o barão do Rio Branco se incorpore no ministro das Relações Exteriores.
Veja – O Brasil cede sempre?
Villa – Só não o fazemos quando é impossível. Em negociações recentes com a argentina Cristina Kirchner e com Evo Morales, a Petrobras recusou-se a fornecer gás para a Argentina, que vive sob ameaça de um apagão. Se cedesse, o Brasil teria um grave desabastecimento. Nos outros casos, somos sempre fregueses. O Brasil já sofreu no passado uma invasão de produtos argentinos e ninguém reclamou. Quando a situação se inverteu e a balança comercial tornou-se superavitária para o Brasil, os argentinos chiaram e conseguiram o que queriam. Com a Bolívia, aceitamos uma indenização simbólica pelas refinarias nacionalizadas, a um valor muito aquém do que foi investido pela Petrobras. Com Hugo Chávez, falamos sempre "não" na primeira hora, depois dizemos "sim". Éramos contra o Banco do Sul. Hoje somos a favor. Fazemos o oposto do que recomendava Vladimir Lenin, para quem era preciso dar um passo atrás e depois dois para a frente. A diplomacia nacional dá um para a frente e dois para trás.
Veja – Deportar turistas espanhóis é uma resposta inteligente à repatriação de brasileiros que tentavam ir para a Espanha?
Villa – Foi um exagero. A política externa não é para ficar a cargo de um funcionário da Polícia Federal. As cenas dos espanhóis sendo deportados no aeroporto de Fortaleza são absurdas. Uma coisa é um turista que vai para Jericoacoara, outra é um brasileiro que, supostamente ou não, deseja trabalhar na Espanha. Quando faz diplomacia com a Europa, os Estados Unidos ou a Ásia, o Brasil tem sido muito agressivo. É como se o esforço para se afirmar como país, uma vez que não se realiza na América Latina, fosse todo desviado para os fóruns em outros continentes. Ser duro com um turista espanhol é fácil. Quero ver ser duro com Hugo Chávez.
Veja – Chávez é o grande líder da América Latina?
Villa – Quando se olha o que ocorre com os mais de vinte países da região, não há dúvida disso. Com a alta do preço do petróleo, Chávez construiu uma sólida rede de alianças. Foi uma sucessão de vitórias. Tem o apoio de Cuba, Nicarágua, Equador, Bolívia, Argentina. Quem está do lado do Brasil? Ninguém. Chávez é um ator que faz um monólogo. Eventualmente alguém da platéia sobe no palco e participa. O show é dele. Ele determina o que vai ser discutido e como. Os outros só correm atrás. Os países que estão se aproximando do Brasil, como Paraguai e Peru, fazem isso apenas porque não tiveram ainda um estabelecimento de relações com a Venezuela. A história talvez comece a mudar agora. Não por obra de Lula, evidentemente, e sim de Álvaro Uribe, o presidente colombiano. Graças a ele, Chávez teve sua primeira derrota em política externa. A reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), que colocou panos quentes na discussão que se seguiu à morte do terrorista Raúl Reyes, pode sinalizar um futuro diferente.
Veja – Por que o senhor considera que Chávez perdeu?
Villa – Chávez é um caudilho e, como tal, precisa de um palanque para discursar. Quando reagiu com firmeza à morte de Raúl Reyes no Equador, ganhou um palco considerável. Só que durou pouquíssimo tempo. A solução rápida e eficaz do problema pela OEA, que estava sumida do mapa, tirou essa oportunidade dele. Chávez resignou-se porque a maioria dos países apoiou a resolução final, que condenava a invasão territorial no Equador e ao mesmo tempo acusava a presença das Farc naquele país. Uribe, ao pautar as negociações que esfriaram o conflito, mostrou que é possível dar um basta a Chávez. Sua atitude terá um impacto pedagógico até mesmo dentro da Venezuela, onde o povo tem aceitado as precárias condições internas do país ao ver que, externamente, seu presidente só obtém vitórias. Chávez teve sua primeira grande derrota no referendo constitucional. Agora, teve a segunda derrota, dessa vez em política externa.
Veja – Por que o discurso é tão importante para um caudilho?
Villa – Um caudilho não vive sem a oratória. O programa dominical Aló Presidente é o que vitamina Chávez. Fidel Castro adora discursar por horas. O mexicano Antonio López de Santa Anna foi ditador várias vezes, afundou seu país e, ferido e pensando que ia morrer, ditou suas últimas palavras. Foram quinze páginas. No fim, sobreviveu com uma perna amputada, que sepultou com honras militares. A oratória é uma tradição latino-americana, que ocorre paralelamente à dissociação entre discurso e prática. Para esses homens e para as suas platéias, é como se as palavras, sozinhas, tivessem um poder de mudar a realidade. Pura bobagem. Não existe tal mágica. Lula também aposta nesse artifício. Acha que ao divulgar o programa do PAC pode transformar o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em um bairro residencial em seis meses. Para os sucessores, a herança desse tipo de comportamento é terrível.
Veja – Por que os latino-americanos possuem o vício da oratória? 
Villa – Em parte, há na América Latina uma forte tradição do bacharelismo. Muitos dos presidentes passaram por faculdades de direito. No Brasil, Getúlio Vargas e Jânio Quadros são exemplos. Epitácio Pessoa era chamado de "A Patativa do Norte", em referência a uma ave cantora. Fidel Castro foi advogado. O argentino Juan Domingo Perón não era, mas a maioria dos seus auxiliares, sim. Para um advogado, o que importa não é a legitimidade da causa, mas o nível de retórica do advogado para defender seu acusado. Somos muito marcados por isso.
Veja – Qual é o maior perigo de Chávez para o resto da América Latina? 
Villa – Ele está armando seu Exército e sua população. Compra fuzis, caças e faz acordos com o Irã. Ninguém parece levar isso a sério. A diplomacia brasileira sabe disso e vai contornando a situação. Uma hora Chávez vai invadir a Guiana. Ele reivindica quase dois terços do território desse país. Para Chávez, a Guiana é uma aventura fácil. E quem vai defendê-la? O que a Guiana conta na América do Sul? Nada.
Veja – Chávez reagiu ao ataque colombiano às Farc no Equador com um discurso em defesa da soberania nacional. Ele invadiria a Guiana?
Villa – Chávez é um bufão. Ele construiu um personagem. É um militar de boina vermelha que se emociona, chora e canta em público. Em um momento é simpático. No minuto seguinte, aparece totalmente irado. O bufão é isso. Nunca se podem prever suas atitudes. Pode abraçar um crítico ou mandá-lo para a prisão. Suas atitudes não se regem pelo mundo racional. O bufão trabalha em outro universo.
Veja – Por que Chávez defende as Farc?
Villa – Seu objetivo é enfraquecer Álvaro Uribe. Chávez vê de forma simplista a conjuntura latino-americana. O mundo para ele se divide de uma maneira muito primária: os que estão com ele e os que estão com os Estados Unidos. Considera que o presidente da Colômbia é um agente imperialista na América do Sul. O combate às Farc tem sido uma das mais fortes bandeiras de Uribe.
Veja – É legítimo usar grupos armados ou políticos de outros países para causar instabilidade?
Villa – Há uma incompatibilidade em defender a soberania e apoiar materialmente um movimento terrorista em um país vizinho. No Brasil, tivemos uma história parecida. No governo de João Goulart, as Ligas Camponesas tinham meia dúzia de campos guerrilheiros e contavam com o apoio financeiro cubano. Quando se descobriram os campos, foi um escândalo. Vivíamos um regime democrático e o governo brasileiro manifestava-se contrário à expulsão de Cuba da OEA, enquanto Cuba violava a soberania brasileira apoiando um movimento guerrilheiro que rompia com a legalidade constitucional. A defesa da soberania só valia para os cubanos. Eu imaginava que essa prática de violação da soberania fosse página virada da história latino-americana. Ledo engano.
Veja – Chávez foi o grande pacificador do conflito entre Colômbia e Equador, como disse Lula?
Villa – Não há nenhum fato que comprove isso. Os documentos que estavam no computador do guerrilheiro Raúl Reyes ainda mostram que Chávez apoiava financeiramente as Farc e também recebia ajuda dos narcoterroristas. Isso não tem nada a ver com paz. Lula não tinha por que falar isso. Diz essas asneiras porque está em um momento especial. A economia vai muito bem, o que levou Lula a entender que ganhou um salvo-conduto para reescrever a história do Brasil. Discursou homenageando Severino Cavalcanti, que renunciou quando se comprovou que ele recebia um mensalinho de 10 000 reais para deixar um restaurante funcionando na Câmara dos Deputados. Dois dias depois, defendeu sua amizade com Renan Calheiros, que teve suas contas pessoais pagas por um lobista. Quando falou de Chávez, Lula disse que ele era um ex-guerrilheiro. Lula sabe que essas coisas não são verdade. Não é ingênuo e é bem assessorado. Mas fala como se fosse um iluminado. É um líder messiânico em plena campanha eleitoral. Os professores de história devem estar arrepiados.
Veja – Qual é a importância do Foro de São Paulo na condução da política externa brasileira?
Villa – O Foro de São Paulo é um clube da terceira idade. Basta ver as fotos. São senhores em idade provecta, como se dizia antigamente. São provectos também no sentido ideológico. Suas idéias pertencem ao passado. Não creio que tenham uma estratégia revolucionária para a América Latina tal como foi a Internacional Comunista. Durante o período da União Soviética, os partidos comunistas espalhados pelo mundo eram braços da política externa soviética. O Foro de São Paulo não tem esse poder. Sua maior influência se dá pela pessoa de Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, que tem grande participação no Foro.
Veja – Qual é a relevância de Marco Aurélio Garcia nas relações externas?
Villa – Desde o início da República, não há registro de um assessor com tanto poder como ele. Garcia aparece nas fotos quase sempre atrás de Lula. Dá pronunciamentos em pé de igualdade com o ministro das Relações Exteriores ou o secretário-geral do Itamaraty. Marco Aurélio Garcia é considerado um grande acadêmico, um gênio, uma referência para qualquer estudo sobre relações internacionais na América Latina. Curioso é que não se conhece nenhuma nota de rodapé que ele tenha escrito sobre o tema. Fui procurar seu currículo na plataforma Lattes, do CNPq. Não há nada sobre ele. Marco Aurélio Garcia é o Pacheco das relações internacionais.
Veja – Quem é o Pacheco?
Villa – É um personagem de Eça de Queiroz que aparece no livro A Correspondência de Fradique Mendes. Pacheco era um sujeito tido como brilhante. No primeiro ano de Coimbra, as pessoas achavam estranho um estudante andar pela universidade carregando grossos volumes. No segundo ano, ele começou a ficar mais calvo e se sentava na primeira carteira. Começaram a achar que ele era muito inteligente, porque fazia uma cara muito pensativa durante as aulas e, vez por outra, folheava os tais volumes. No quarto ano, Portugal todo já sabia que havia um grande talento em Coimbra. Era o Pacheco. Virou deputado, ministro e primeiro-ministro. Quando morreu, a pátria toda chorou. Os jornalistas foram estudar sua biografia e viram que ele não tinha feito nada. Era uma fraude.
Veja – Que conseqüências a política externa do Brasil pode ter no futuro?
Villa – Pela primeira vez na história do país existe a possibilidade de a política externa tornar-se tema de eleição. Seria algo realmente inédito que, para acontecer, só depende de como Chávez vai agir nos próximos anos. As concessões dadas à Bolívia, os diversos acordos com Chávez e a recusa em classificar as Farc como um grupo terrorista estão provocando muita crítica dentro do Brasil e podem juntar-se em um único e potente tema central na próxima campanha presidencial.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

PARA A FIFA, SOMOS TODOS CORRUPTOS


Para a Fifa, população da América do Sul é corrupta como seus dirigentes





Eu, você, minha avó e mesmo um recem formado cheio de sonhos ainda. Para a Fifa, não há diferença. Somos todos corruptos e equivalentes a “Teixeiras” e “Havelanges”. Hoje, o Tribunal da cidade suíça de Zug publicou seu processo contra os cartolas brasileiros. R$ 45 milhões em subornos passaram por suas contas em oito anos. Mas o que mais surpreende no documento não são os valores ou a constatação da obviedade da corrupção que envolvia Havelange em seu reinado. Em um dos trechos, o tribunal relata como os advogados da Fifa tentavam convencer os juizes em uma audiência de que não viam problemas com a atitude de Teixeira e Havelange e alegavam que a proposta da Justiça de que os cartolas devolvessem US$ 2,5 milhões para os cofres da organização seria impossível de ser implementada. Entre os vários motivos para não pedir o dinheiro de volta, os advogados da Fifa apresentaram um argumento surpreendente: o de que a “maioria da população” de países da América do Sul e África tem nos subornos e propinas parte de sua renda “normal” Cito o trecho completo do argumento dos advogados da Fifa para não ficar dúvida: “Os representantes legais da Fifa são da opinião ainda de que implementar a devolução do dinheiro seria quase impossivel. Eles justificam isso, inter alia, com o argumento de que uma queixa da Fifa na América do Sul ou África dificilmente seria aplicada, já que pagamentos de subornos pertencem ao salário recorrente da maioria da população”. Ou seja, Teixeira não devolveria o dinheiro porque, em nossa suposta “cultura”, todos temos parte da renda completada por subornos. Não vamos confundir as coisas. A corrupção existe e é endêmica em nossa região e no Brasil, assim como na África. Mas também existe na civilizada Suíça, na gigante Siemens da Alemanha ou nos EUA. O que une a muitos hoje em nossa região não é o fato de que recebemos um pedaço de nosso salário em forma de subornos, como insinua a Fifa. O que nos une é hoje a indignação diante dessa realidade e o fato de estarmos exaustos de ver dinheiro público enriquecendo certas pessoas. Querer agora justificar a dificuldade em receber o dinheiro de volta alegando que somos todos assim não é apenas surpreendente como argumento legal, mas uma ousadia que o tribunal simplesmente não aceitou e chegou a ironizar. A entidade sempre soube da corrupção e mesmo Joseph Blatter era o braço direito de Havelange. E a única atitude que tomou foi a de abafar os casos cada vez que surgiam. Quando Jerome Valcke sugeriu que o Brasil recebesse um “chute no traseiro” pelos atrasos na Copa, ele tinha razão no conteúdo, mas não nas palavras usadas. Um vice-presidente do COI chegou a me dizer que a Fifa havia sido “racista” ao fazer o comentário do “chute no traseiro”, adotando um ar de superioridade. Na época, achei que ele exagerava e que não havia lugar para racismo escancarado assim. Mas lendo agora o comentário dos advogados diante de um tribunal, começo a pensar que ele poderia ter razão.

terça-feira, 10 de julho de 2012

INFRAESTRUTURA RUIM E CARA

Insuficientes, e em boa parte mal aplicados, os investimentos públicos em infraestrutura de transportes não estão conseguindo evitar o agravamento dos problemas enfrentados pelo setor produtivo para escoar suas mercadorias, o que impõe perdas cada vez maiores à economia brasileira e reduz ainda mais sua competitividade. 

Recente estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estimou que as más condições das estradas, a pequena capacidade das ferrovias, a burocracia e o sucateamento dos portos e o custo de armazenagem impõem à indústria paulista gastos adicionais de R$ 17 bilhões por ano. Estudo mais amplo da Fundação Dom Cabral, abrangendo todo o País e todos os setores econômicos, concluiu que a falta de investimentos públicos em logística (transporte e armazenagem) provoca perdas anuais de US$ 80 bilhões para as empresas brasileiras. 

O valor, como lembrou o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, em entrevista ao jornal Brasil Econômico (5/7), corresponde a 4% do PIB e, coincidentemente, ao volume de recursos que o Brasil precisa investir para eliminar os gargalos logísticos. Mas, como lembrou Resende, nos últimos 30 anos a média de investimentos ficou em apenas 1,5% do PIB. 

Outros países investem muito mais. Há algum tempo, o Estado mostrou - com base em estudo do economista Claudio Frischtak, de uma empresa privada de consultoria - que, entre 2003 e 2010, a China ampliou os investimentos em infraestrutura do equivalente a 7,3% do PIB para 13,4%. A Índia investe 6% do PIB, a Tailândia aplica cerca de 15% do PIB em logística há oito anos e o Vietnã investe 11%. 

Os investimentos no Brasil não são apenas inferiores às necessidades do País. São também mal aplicados. Uma de suas características é a forte concentração no setor rodoviário, que absorve mais da metade do total destinado pelo governo a transportes, e, assim mesmo, as estradas federais continuam muito ruins. Os outros modais, como ferrovias, metrô, aeroportos, portos e hidrovias, ficam com o que sobra. Mercadorias que poderiam ser transportadas a custos bem inferiores por ferrovias ou hidrovias circulam pelo País sobre caminhões. 

Além disso, a utilização dos recursos, sobretudo na esfera federal, tem sido marcada por frequentes denúncias de desvios, irregularidades ou corrupção. E, quando as normas da correta administração financeira são observadas com rigor, verifica-se, como lembrou Resende, que faltam projetos, o planejamento é ruim e as obras demoram para começar e, sobretudo, para terminar. O resultado é o atraso sistemático na execução dos projetos de infraestrutura. 

Uma simples comparação dá ideia de como os projetos são executados no Brasil e na China, que em pouquíssimo tempo ampliou sua infraestrutura logística para atender ao vertiginoso crescimento da sua economia nos últimos anos. Em três anos, o gigante asiático construiu uma ferrovia de 2 mil quilômetros em região montanhosa; no Brasil, a Ferrovia Norte-Sul, de 2,3 mil quilômetros (com a inclusão da Transnordestina e da Ferronorte), iniciada em 1987 e prometida pelo governo Lula para 2010, não tem data para conclusão. 

A Fundação Dom Cabral estima que, no Brasil, os gastos das empresas com transporte de cargas alcançam 12% do PIB, mais do que se gasta na China (8%) e na África do Sul (9%). Com os investimentos que estão sendo feitos nesses países, o custo deve cair para cerca de 7% do PIB. No Brasil, por causa da escassez de investimentos, há o risco de o custo chegar a 20% do PIB nos próximos anos. 

Por causa da falta de investimentos, a infraestrutura de transportes não evoluiu na mesma velocidade que a economia. Em termos relativos, é como se ela estivesse submetida a um processo ininterrupto de deterioração. Nessa área, o Brasil caminha para trás. 

Se a esses custos logísticos crescentes se somarem outros - como o da burocracia, dos impostos, de insumos como energia elétrica e os financeiros -, será possível entender melhor por que o Brasil vem perdendo competitividade e por que é cada vez mais difícil produzir no País. EDITORIAL O ESTADÃO O Estado de S.Paulo - 10/07

segunda-feira, 9 de julho de 2012

FIM DE UMA ERA

Retirada das incandescentes do mercado marca o fim de uma era



No último dia 30 de junho teve início a primeira etapa do processo que proibirá definitivamente a fabricação, importação e comercialização de lâmpadas incandescentes no Brasil, com conclusão prevista para 2016. É o fim de uma era. Os algozes do seu banimento atendem pelos nomes de sustentabilidade, economia e eficiência energética. A primeira lâmpada de incandescência foi patenteada em 1880 pelo americano Thomas Edison, com o mesmo desenho bojudo que apresenta até hoje. Ao longo de todo esse período, a única mudança significativa foi no seu filamento, o fio interno que emana luz e calor -, que no início era de carbono e, atualmente, de tungstênio.

Mas, depois de atravessar incólume todo o século XX, a lâmpada incandescente adentrou o XXI como o exemplo acabado de desperdício e ineficiência, uma vez que seu filamento emite apenas 10% de luz e gera 90% de calor. O Brasil não é o pioneiro nesse cuidado com a sustentabilidade, suspendendo as incandescentes como gastonas de energia elétrica. Outros países já aboliram ou estão em vias de acabar 100% com essas lâmpadas já neste ano, ao mesmo tempo em que o nosso país dá o seu pontapé inicial no processo. Cuba, por exemplo, vem restringindo as incandescentes desde 2007, e a União Europeia encerra o processo em setembro de 2012 (embora tenha iniciado em 2009 com a proibição da 100W). 

Na Austrália, quase todos os modelos de incandescentes estão proibidos desde 2009, restando apenas as lâmpadas decorativas maiores de 40W e halógenas, cujo suspiro final deve acontecer em outubro de 2012. E até nossos vizinhos argentinos iniciaram o programa com mais antecedência, em 2008. A China, responsável pela fabricação de 70% das lâmpadas incandescentes de todo o mundo, anunciou no final do ano passado seu programa, propondo a extinção dos modelos iguais ou superiores a 100W a partir de outubro de 2012, chegando à de 60W no final de 2014 e à de 15W em 2016. Com isso, extinguirá o desperdício de energia gerado por cerca de 1 bilhão de incandescentes utilizadas no país. 

Datas marcadasDesde o dia 30, portanto, a lâmpada incandescente de 150W não pode mais ser fabricada nacionalmente ou importada. Todavia, os fabricantes e importadores que ainda tiverem estoques deste modelo têm autorização para comercializá-lo até o dia 30 de dezembro de 2012. E os lojistas, por sua vez, poderão vendê-lo para os consumidores até 30 de junho de 2013, quando o mesmo estará definitivamente banido. No Brasil, não existe lei determinando a proibição da fabricação ou importação e comercialização das incandescentes, como muitos acreditam.

O que existe é uma Portaria Interministerial de n° 1007, de 31/12/2010, na qual o Inmetro - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - estabelece a eficiência luminosa mínima para as lâmpadas incandescentes, em patamares muito altos, que inviabilizam sua fabricação. Estima-se que 350 milhões de incandescentes estejam em uso, hoje, no país, sendo responsáveis pela iluminação de 80% das residências. O principal modelo comercializado é o de 60W, que será proibido totalmente somente em junho de 2015. Com a saída gradual das incandescentes de tetos e abajures, a aposta é que o consumidor migrará para as lâmpadas chamadas de econômicas, ou seja, as compactas fluorescentes que consomem 80% menos energia elétrica.

Todavia, uma parte desse mercado irá também para a incandescente halógena – modelo de lâmpada com bulbo igual a atual incandescente de tungstênio, porém 30% mais eficiente. Mas ambas não devem fazer história pois, ao que tudo indica, serão rapidamente substituídas pelas lâmpadas com tecnologia LED (light emitting diode), as grandes vedetes da atualidade e que deverão representar 50% da iluminação mundial até 2015 e, segundo expectativas internacionais, ao redor de 80% em 2020.

A única certeza é que essa transição aumentará, e muito, a comercialização das 190 milhões de compactas fluorescentes que se estimam consumir anualmente, hoje, no Brasil, além dos outros tipos de lâmpadas. É uma oportunidade para as empresas sérias em iluminação e com marcas consagradas há anos no país, mas também uma porta aberta para aventureiros que imaginam que vão ganhar dinheiro fácil importando produtos de qualidade duvidosa. Sobre isso, fica a lembrança de 2007, época do “apagão”, quando proliferaram dezenas de marcas de lâmpadas completamente desconhecidas, que sumiram com a mesma rapidez com que se lançaram no mercado. Não sem antes, porém, deixar um rastro de consumidores enganados e frustrados com o desempenho dos produtos que compraram “baratinho, baratinho”.

Por: Gilberto Grosso é Lighting Professional, possui ampla experiência na área de iluminação e é atualmente Diretor Comercial da Avant, referência nacional em soluções para iluminação.

O PESO DE UMA PARTÍCULA


A descoberta do que os cientistas acreditam ser o bóson [partícula portadora de força] de Higgs – ou, como é popularmente chamado, a "partícula de Deus" –, mal foi anunciada e já começou a alvoroçar o mundo da ciência. Além de impactar inúmeras pesquisas e projetos científicos em andamento no mundo, na atualidade, a descoberta criou um dilema: quem levará o crédito histórico e o principal reconhecimento sobre a descoberta, isto é, o Prêmio Nobel de Física?

Segundo o jornal britânico The Guardian, a Academia Real das Ciências da Suécia, responsável por conceder o prêmio Nobel, deve premiar os cientistas que, há mais de 50 anos, trabalharam na elaboração da teoria sobre a existência da partícula. O problema é que a escolha desses nomes não é tão simples. Tradicionalmente, o Nobel de Física é concedido a, no máximo, três pessoas que contribuíram para um determinado estudo.

No caso do bóson de Higgs, um total de seis cientistas, de três grupos diferentes, se dedicaram à teoria. Todos apresentaram suas conclusões em artigos divulgados em 1964, com apenas alguns meses de intervalo entre cada publicação.

O primeiro grupo foi liderado por Robert Brout e François Englert, da Universidade Livre de Bruxelas. Como Brout morreu em 2011 e a regra da academia sueca é não conceder prêmios póstumos, Brout está excluído da premiação.

O segundo artigo é de Peter Higgs, primeiro físico a cogitar a existência de uma partícula que teria transferido sua massa para toda a matéria existente no universo. O terceiro trabalho é de três físicos, Dick Hagen, Gerry Guralnik e Tom Kribble. Peter Higgs certamente deve ser homenageado. O dilema agora é: quem serão os outros dois premiados?

Por que 'partícula de Deus'?

O nome oficial é bóson de Higgs, mas a partícula subatômica que os pesquisadores do CERN dizem ter detectado ganhou um apelido muito mais simpático: "partícula de Deus". Mas por que Deus? A explicação oficial é simples: concebida como uma partícula que transferiu sua massa para todas as outras existentes no universo, ela estaria em todos os lugares e em todas as coisas, como Deus. Mas, segundo a versão não oficial, o motivo é outro. Em 1993, o prêmio Nobel de Física Leon Lederman pretendia publicar um livro sobre o bóson de Higgs chamado A Partícula Maldita, pela dificuldade em provar sua existência. Mas o editor da obra temia que o título fosse ofensivo e o trocou para A Partícula de Deus.

50 anos de pesquisas

O alvoroço provocado pela descoberta da partícula que tem quase 100% de chance de ser o bóson de Higgs se explica por uma série de fatores. O primeiro: há pelo menos 50 anos, físicos e engenheiros buscam essa partícula. O trabalho envolveu milhares de cientistas e custou US$ 10 bilhões apenas para criar e manter, sob a fronteira da Suíça e da França, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês). Foi ali, no maior acelerador de partículas do mundo [foto à dir.], que, ao longo de três anos, os cientistas geraram 500 trilhões de colisões de partículas subatômicas em altíssima velocidade até conseguir detectar o bóson, com massa de 125 gigaelétrons-volts (GeV) e compatível com o Modelo Padrão descrito em 1964 por Peter Higgs. A descoberta da partícula é a chave para entender como a matéria de todas as coisas existentes funciona e, quem sabe, um dia, ajudar a responder por que estamos aqui.

CERN quer a adesão do Brasil

O Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear (CERN), responsável pelas descobertas sobre o bóson de Higgs, quer ter o Brasil entre seus membros. A adesão só não aconteceu ainda, segundo o diretor-geral da instituição, Rolf Heuer, por lentidão das autoridades brasileiras. Em 2010, o País iniciou formalmente sua adesão ao centro. O Cern estipulou que o Brasil deve pagar US$ 10 milhões anuais pela adesão, 10% do que pagam os membros europeus. Mas diante do corte orçamentário do centro, devido à crise econômica na Europa, a quantia é relevante. Segundo Heuer, sem a adesão, empresas brasileiras não poderão participar das licitações que o centro abrirá nos próximos anos para a aquisição de tecnologia e peças para a atualização do LHC, o acelerador de partículas que possibilita as pesquisas. O Ministério de Ciência e Tecnologia formou uma comissão para estudar como obter os recursos para a adesão. Em Diário do Comércio


PRÉ-SAL SUCUMBE À REALIDADE

Euforia do pré-sal 'sucumbe à realidade', diz 'Wall Street Journal' 

Investidores brasileiros têm descoberto que os recursos naturais do pré-sal não significam exatamente dinheiro na mão" e que a "euforia (do petróleo) sucumbiu à realidade", diz uma reportagem publicada nesta segunda-feira pelo jornal norte-americano "Wall Street Journal". 

Com o título "Por que o petróleo brasileiro demora a pegar fogo", o artigo faz uma análise do preço das ações do setor petroleiro no Brasil, dizendo que os papéis da Petrobras estão hoje no mesmo patamar do que em outubro de 2006 e que as ações da empresa OGX perderam dois terços do seu valor de mercado desde 2008. 

De acordo com a reportagem, as duas empresas brasileiras diminuíram suas estimativas de produção e estão tendo que investir mais do que o previsto. 

O consultor de energia especialista em América Latina Roger Tissot diz no artigo acreditar que o Brasil foi superestimado quanto ao seu potencial petrolífero. Tissot culpa o governo brasileiro: "a política do governo limita a implantação de capital estrangeiro e a especialização, retardando o desenvolvimento e aumentando os custos". 

O "Wall Street Journal" culpa exigências feitas pelo governo, de que investimentos tenham aproveitamento local, por ineficiências nos gastos. 

Com isso, segundo o diário, o custo de produção por barril da estatal brasileira aumentou. 

 De acordo com Matt Portillo, analista do banco de investimentos Tudor, Pickering, Holt & Co., ouvido pelo jornal, empresas estrangeiras envolvidas na descoberta das reservas do pré-sal têm sido um melhor investimento e conseguiram se beneficiar do entusiasmo criado, inclusive com a venda de participações no negócio para outras empresas. 

O jornal diz que ações de empresas colombianas do setor tiveram um desempenho "bem melhor que os rivais brasileiros". 

A indústria do petróleo do país vizinho cresceu 6,5% por ano desde 2003. Esse aumento coincidiria com novas políticas para encorajar o investimento estrangeiro em petróleo e gás.DA BBC BRASIL

ENCONTRADO O BÓSON DE DEUS

Na física de partículas, uma "descoberta" é tão rara que a chance de outra explicação é de uma em 3,5 milhões 

Como não poderia deixar de ser, nesta semana escrevo sobre a descoberta sensacional do bóson de Higgs, anunciada na última quarta feira, 4 de julho, pelos cientistas do laboratório Cern, em Genebra, na Suíça. Começo repetindo a história de como o bóson de Higgs ficou conhecido como "partícula de Deus". Obviamente, uma partícula elementar não tem nada a ver com Deus. O apelido vem do título do livro de Leon Lederman, o prêmio Nobel que durante anos caçou a partícula (a busca pelo bóson de Higgs durou ao todo 45 anos!). 

Lederman conta que originalmente queria dar ao livro o título em inglês "The Goddamn Particle" ("A partícula Amaldiçoada por Deus" ou simplesmente "A Desgraçada da Partícula"). A ideia era demonstrar sua frustração em não tê-la encontrado. Porém, o editor do livro achou que, com a exclusão de "desgraçada" do título, o livro venderia bem mais. A coisa vingou -para o livro de Lederman e para a partícula. Mas por que tanta empolgação com o bóson de Higgs, que inclui bilhões de dólares gastos na busca por uma mera partícula? Essencialmente, o bóson de Higgs era a peça que faltava no chamado Modelo Padrão, que descreve tudo sobre as partículas que conhecemos no Universo. Achá-lo significa completar esse modelo com enorme sucesso. 

O papel do Higgs é único entre as partículas: ele é responsável por "dar massa" a todas as outras. Vale lembrar que, na física moderna, as entidades essenciais são os campos. Partículas são excitações desses campos, como pequenas ondas na superfície de um lago. O campo de Higgs estaria por toda a parte, como o ar na nossa atmosfera. Ele interage com os campos de outras partículas: por exemplo, o campo dos elétrons ou o dos fótons (o campo eletromagnético), as partículas de luz. Essa interação tem uma intensidade que varia de campo para campo. É essa intensidade variável que determina a massa das partículas e as suas diferenças. Por que, então, o nome de "bóson"? As partículas que conhecemos podem ser divididas em dois grupos, chamados genericamente de bósons e férmions. "Bóson" homenageia o físico indiano Jagadish Chandra Bose, que desenvolveu, junto com Einstein, as propriedades dessas partículas. Elas gostam de existir em grupos com muitas delas. O Higgs e os fótons são bósons. 

Já os férmions (em homenagem ao físico italiano Enrico Fermi) são mais exclusivos e no máximo aparecem em pares. Os elétrons e os prótons são férmions. Ninguém "viu" um bóson de Higgs, pois eles se desintegram em outras partículas em minúsculas frações de segundo. O que se "observa" são os vários produtos dessas desintegrações. Os resultados são estatísticos, devido aos bilhões de colisões e desintegrações que ocorrem. Na física de partículas, uma "descoberta" é um evento tão raro que a chance de surgir outra nova explicação é de uma em 3,5 milhões. O interessante é o que está por vir. Sabemos que a partícula é um bóson. Mas não sabemos se corresponde à previsão mais simples do Modelo Padrão ou se é algo mais exótico. Todos torcem pelo exótico, pois terão abertas portas para uma nova física. Depois de 45 anos, seria uma pena encontrar só o Higgs. 

Por: MARCELO GLEISER

A MAIORIDADE DO REAL E OS PRÓXIMOS 18 ANOS


Há exatamente uma semana o Real completou os primeiros 18 anos do que espero seja a longa vida de uma moeda que veio para ficar como um dos símbolos do avanço institucional do País. Os brasileiros que tinham 18 anos em 1994 - e, portanto, todos os que estão hoje na faixa dos 36-40 anos - provavelmente não têm nenhuma lembrança pessoal significativa, isto é, vivida, da marcha da insensatez que foi a evolução do processo inflacionário no Brasil pré-Real. 

Vale lembrar: no meio século que vai de meados dos anos 40 a meados dos anos 90, o Brasil só teve três anos de inflação inferior a 10% (nos anos 40). Entre 1950 e 1980 a taxa média de inflação foi da ordem de 25%-30% ao ano. Do início dos anos 80 (quando chegou a 100%) até o Real, a taxa média anual foi superior a 600%, passando dos 1.000% em 1989 e chegando a quase 2.500% em 1993. Na literatura econômica há uma palavra para isso: hiperinflação. 

Ainda era muito precária, à época, a percepção, que hoje felizmente existe, de que a inflação é um imposto. E o mais injusto de todos, porque incide principalmente sobre os mais pobres. Não é por acaso que os indicadores de concentração de renda e riqueza no Brasil nas últimas décadas - sejam os índices de Gini, sejam as parcelas de renda apropriadas pelo 1% mais rico e pelos 20% mais pobres - mostram que os piores anos de desigualdade na concentração de renda no Brasil foram ao final dos anos 80 e início dos anos 90. 

O povo brasileiro entendeu, muito rapidamente, que o controle da inflação propiciado pelo Real era algo que redundava em seu benefício. E hoje a inflação baixa é vista como um objetivo da sociedade e como obrigação de qualquer governo minimamente responsável. Não é um fim em si mesmo, como sempre afirmamos, mas uma condição indispensável para que outros objetivos econômicos e sociais possam ser alcançados. Afinal, com inflação alta, crônica e crescente não há possibilidade alguma de verdadeira inclusão social, tampouco de crescimento sustentado. 

O que quero dizer com isso? Que a importância e o significado do Real, que ora atinge sua maioridade, transcende de muito a derrota da hiperinflação em 1994. E que a agenda do Brasil pós-hiperinflação se confundia com a própria agenda do desenvolvimento econômico e social do País, que pôde, sem a zoeira da inflação, começar a alargar seus horizontes e procurar tornar-se um país mais normal, mais previsível, mais confiável, mais competitivo. Um país talvez capaz de crescer de forma sustentada, com inflação sob controle, com maior justiça social, menos pobreza, com as finanças públicas em ordem, infraestrutura decente, melhor educação e maior eficiência nos setores público e privado. 

Como sabemos, 18 anos são pouco para a magnitude dessa empreitada. Mas o Brasil não começou com o Real e já havia avançado muito em períodos anteriores, apesar de aparências em contrário. Agora é preciso contemplar os próximos 18 anos. Afinal, 2030 está logo ali adiante, quando os que chegaram à sua maioridade com o Real - como meu filho mais moço - terão dobrada sua idade. 

Quem viver até lá acompanhará as tentativas do governo atual, e os labores dos governos que se lhe seguirão, de lidar com as urgências constantemente postas e repostas pelo sempre fugidio "momento presente" - que exigem respostas no curto prazo da parte dos responsáveis por políticas públicas. Respostas que serão tão mais adequadas quanto mais levem em conta objetivos de longo prazo: políticas de Estado, e não apenas do governo de turno; para a próxima geração, e não somente para a próxima eleição. 

Como procurou fazer o governo FHC, nessa área de respostas a problemas que precisavam ser encarados com firmeza - e o foram. Exemplos: a resolução de problemas de liquidez e solvência no sistema bancário nacional, privado e público; a reestruturação das dívidas de Estados e municípios então insolventes do ponto de vista fiscal e desde então sem problemas mais sérios nessa área; a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000, marco de mudança histórica nas finanças públicas brasileiras; o reconhecimento de que as necessidades de investimentos do País (não do governo) superavam de muito a capacidade do setor público e de suas empresas, exigindo mudanças, até mesmo constitucionais, que abrissem espaço ao investimento privado, doméstico e internacional. 

É verdade que o ex-presidente Lula nunca reconheceu de público o quanto seu governo se beneficiou desses avanços. Ao contrario, preferiu caracterizá-los como herança maldita, algo que não o engrandece. Mas não importa, a presidente Dilma fez tal reconhecimento de público de maneira muito explícita em mais de uma ocasião, desde seu relevante discurso de posse. Como antes haviam feito importantes ministros de Lula, como Antônio Palocci e Paulo Bernardo. 

A propósito, é importante reconhecer que o governo Dilma, à diferença de seu antecessor, que nem sequer tentou (ou porque não quis, ou porque não pôde, ou talvez porque o extraordinário vento a favor que pegou da economia mundial lhe permitiu evitar incorrer em custos políticos domésticos), está procurando enfrentar certas "urgências do gradualismo", para as quais deveria ter apoio de quem pensa no longo prazo, como a mudança do insustentável regime de previdência do setor público e as "inexoráveis" concessões ao setor privado em áreas de infraestrutura, por exemplo. Para não falar nas necessárias resistências do Executivo às insaciáveis demandas de sua vastíssima "base de apoio" por contínua expansão dos gastos públicos no curto, no médio e no longo prazos. 

Debates desse tipo são fundamentais quando se olha à frente. Afinal, teremos nada menos que cinco eleições presidenciais nos próximos 18 anos. 

 Por: PEDRO MALAN O Estado de S.Paulo - 08/07

DILMA COMPRA RETROESCAVADEIRAS

No caso deste oitavo pacote, quem compra não é o cidadão, mas o governo. É ele quem se endivida Como não me cabe fazer a análise técnica da política econômica do governo, limito-me a tecer comentários acerca desta ou daquela medida, quando é o caso. 

Esse é o caso do último pacote anunciado por Dilma Rousseff e Guido Mantega, com pompa e circunstância, no Palácio do Planalto. É o oitavo pacote, emergencial como os outros, tentando conter a tendência da economia brasileira à estagnação. 

Como disse outro dia, a festa acabou, o banquete que Lula encontrou pronto tratou de usufruir dele politicamente o mais que pôde, distribuindo benesses a torto e a direito, sem se preocupar com o futuro. 

Garantiu desse modo a própria popularidade e elegeu Dilma, que recebeu como herança, além de ministros corruptos, o encargo de continuar a festa. 

Mas, embora não tivessem percebido, a festa acabara e nenhuma medida havia sido tomada para manter a mesa farta. É que, para isso, seria necessário que o país crescesse e, para crescer, seria preciso investir nos setores estruturais. Sucede que isso não é próprio de governos populistas, uma vez que investimentos, cujos resultados custam a aparecer, não interessam. 

Acontece que o processo econômico não obedece à vontade de Lula, pois tem suas próprias leis e exigências. Disso resulta que, esgotado o potencial contido nas medidas do governo anterior, a economia começou a ratear, quase parando. Dilma acordou e começou a produzir pacotes. 

Como se sabe, os partidos revolucionários não têm programa de governo, pois acreditam que, como o mal da sociedade é a burguesia, basta eliminá-la para chegar-se à sociedade perfeita. 

Os exemplos não faltam. O PT, embora não fosse revolucionário de fato, trouxe deles essa herança e, assim, ao assumir o governo do país, adotou o programa do governo anterior, que havia combatido ferozmente. Mas ficou nisso: esgotadas as possibilidades do programa herdado, não tem o que pôr no lugar, a não ser os pacotes emergenciais que se sucedem. 

Outra característica do governo petista, afora não ter programa, e por isso mesmo, é valer-se da propaganda para ganhar a opinião pública. Esse é um recurso muito usado pelos governos populistas, já que, para o povo em geral, quer o pacote dê resultado ou não, fica a notícia de que o governo está trabalhando, resolvendo os problemas. 

O PAC é exemplo disso: para o grande público (o eleitor), o governo está "acelerando" o crescimento do país, mas, na realidade, dos R$ 80 bilhões aprovados no Orçamento deste ano, só gastou até agora menos de ¼ dele. Sabem por quê? 

Porque lhe falta competência técnica para realizar os projetos. E, se lhe falta, é porque o preenchimento dos cargos executivos não é determinado por critério técnico, mas político. Não por acaso, o governo espantosamente admite que cada ministério pertence a determinado partido, que o usa politicamente. 

E, por falar em acaso, foi exatamente agora, a poucos meses das eleições, que Dilma decidiu lançar seu oitavo pacote. Mas não foi só por isso. Foi também porque o pacote anterior, reduzindo os juros para estimular o consumo, não deu certo, porque as famílias já estão demasiado endividadas. Por isso mesmo, no caso deste oitavo pacote, quem compra não é o cidadão, mas o governo. É ele quem se endivida. É que alguém tem que comprar, do contrário o país para. 

Aliás, para dizer a verdade, em todos os países, quem mais compra é mesmo o governo; no nosso, também. Daí que me pareceu estranho o modo solene como foi anunciado o pacote, em palácio e com a presença de empresários e prefeitos. 

Fiquei sinceramente surpreso ao ouvir da boca do ministro Guido Mantega que o pacote consistia em comprar coisas como retroescavadeiras, tratores, caminhões, ambulâncias, que devem ser compras normais em qualquer governo, por meio de seus ministérios. 

Mas quem comprará retroescavadeiras, desta vez, não será o ministro, mas a própria presidente da República. Estranho, não? Devo entender, então, que aquilo que deveria ser um procedimento corriqueiro é agora anunciado como uma extraordinária decisão presidencial. É isso mesmo ou sou eu que estou entendendo mal? 

Por: FERREIRA GULLAR FOLHA DE SP - 08/07

O RESGATE DA PETROBRÁS

Nas últimas três campanhas para a Presidência da República, um dos temas principais foi a política do petróleo e a Petrobrás. De um lado, o PT acusando os candidatos do PSDB de entregar as reservas brasileiras de petróleo para empresas privadas estrangeiras e privatizar a Petrobrás. Essa tese se acentuou na última campanha presidencial, com a descoberta da camada do pré-sal. De outro lado, o PSDB refém dos argumentos populistas e nacionalistas petistas e fugindo do debate em torno do setor de petróleo e da Petrobrás. 

O que chama a atenção é como o PSDB nunca teve coragem de defender a política que o seu governo elaborou e implantou para o setor de petróleo, bem como a gestão da Petrobrás. Isso porque, se houve uma política no governo do PSDB que só apresentou resultados positivos e diríamos até mesmo espetaculares, essa foi no setor de petróleo. Durante o governo Fernando Henrique assistimos à abertura do mercado de petróleo, que levou a um aumento nas reservas provadas de 82%, entre 1995 e 2002, e de 118%, na produção de petróleo. Em quatro anos, a ANP promoveu quatro leilões de concessão de áreas exploratórias de petróleo e gás. Isso proporcionou a entrada das principais empresas internacionais do setor, como BG, Shell, Statoil, Repsol, etc., e possibilitou a criação de empresas privadas nacionais como OGX, QGEP e HRT. A Petrobrás elevou seus lucros, modernizou-se e internacionalizou-se, atingindo um nível de governança que permitiu que suas ações passassem a ser negociadas na Bolsa de Nova York. Como resultado das práticas de mercado e da melhora da governança, as ações da empresa apresentaram valorização de 386% no governo FHC. 

Nos oito anos de governo do presidente Lula, os resultados obtidos no setor de petróleo, bem como os da Petrobrás, foram decepcionantes. A ANP realizou apenas cinco leilões e a área exploratória, que alcançou um máximo de 341 mil km², em 2009, será reduzida para 114 mil km², no final de 2012, devido a não ocorrência de leilões desde 2008. Os preços dos combustíveis voltaram a ser administrados pelo governo e promoveu-se a política do "falta tudo". Hoje, importamos gasolina, diesel, querosene de aviação e até etanol. O uso e abuso da Petrobrás levou ao não cumprimento das metas de produção de petróleo e a atrasos no plano de investimentos. Após a descoberta das reservas do pré-sal, foi realizada uma operação de capitalização da estatal, que se mostrou desastrosa para o acionista minoritário, desvalorizando em 44% as ações da empresa desde então. Ante a má performance da Petrobrás nos últimos anos, chama novamente a atenção como os partidos de oposição, em particular o PSDB, não denunciaram o que estava ocorrendo na gestão da Petrobrás. Ao contrário, tiveram uma participação tímida quando o governo mudou, em 2010, o marco regulatório do setor de petróleo, mais uma vez, perdendo a oportunidade de mostrar para a sociedade os êxitos do governo FHC e fazer ver que o que estava atrás das alterações propostas eram questões mais de cunho político do que técnico. 

Para a surpresa da maioria, é no governo da presidente Dilma, com a nomeação de Graça Foster para a presidência da Petrobrás, que se estão explicitando as mazelas da estatal e tentando reencontrar o caminho da excelência. A primeira boa notícia foi a nomeação da nova diretoria, sem qualquer interferência política. O anúncio do novo Plano de Negócios também mostrou metas mais realistas. A priorização dos investimentos em exploração e produção e o adiamento dos de refino demonstram que prevaleceu a racionalidade econômica. 

Falta superar uma série de obstáculos para que a gestão da Petrobrás volte a olhar mais os interesses dos acionistas e menos os dos políticos. Os dois principais desafios seriam a empresa ter autonomia para propor e executar a sua política de preços de combustíveis e deixar de ser utilizada pelo governo como instrumento de política industrial no que se refere ao conteúdo local. É preciso voltar a cuidar e resgatar a Petrobrás. Por: ADRIANO PIRES O Estado de S.Paulo - 07/07

CORRUPÇÃO E POLÍTICA

Muitas vezes já observei, embora poucas vezes tenha sido entendido, que uma ação política pode atravessar uma zona cinzenta, passar pelo purgatório, antes de se determinar como moral ou imoral. Por isso se torna imoral o partido que se apresenta como encarnação da pureza política. Engana ao esconder a possibilidade de que suas atuações se tornem imorais, se no fim do processo alguns de seus efeitos não forem corrigidos. E engana ainda mais quando, no poder, mostrar-se tão corrupto como seu adversário. Aumenta o risco de transformar a política numa possível guerra civil, pois, ao acusar o adversário de essencialmente corrupto, admite a possibilidade de que ele seja eliminado do espaço público. Compreende-se por que os partidos políticos ideologicamente mais consistentes deveriam cortar na carne quando seus partidários são apanhados com a boca na botija. Cuidariam de sua imagem para não se tornarem alvo de uma acusação destrutiva. 

É bem verdade que nem sempre se pode julgar se uma determinada ação política vem a ser moral ou imoral. No caos urbano de São Paulo, por exemplo, a instalação do monotrilho, benefício para toda a população que viaja, valoriza certas propriedades e desvaloriza outras. A injustiça que afeta estas últimas pode ser compensada por outros meios, como a redução no pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ou benefícios de outra ordem. Mas enquanto essas compensações não forem feitas a ação permanece indeterminada de seu ponto de vista moral. 

A corrupção não sofre dessa ambiguidade. Embora cada ação política sempre vise a tornar-se coletiva, depende essencialmente de esforços individuais. Mas estes não podem perder de vista o alvo coletivo, reunindo companheiros e criando adversários. E quando a ação chega ao limite do conflito cria amigos e inimigos, um passando a visar a eliminação do outro, tanto na guerra civil como na guerra entre Estados. E nesse momento ela se torna totalitária, sem fissuras, impedindo que o outro exista ou se manifeste. 

A ação política só vem a ser democrática se aceitar a existência do adversário. O outro faz parte de sua sociabilidade. Funciona naquela linguagem que se desenvolve entre o eu e o tu, mas sempre tendo no horizonte um ele que convive no espaço de nosso discurso. Por isso a ação política no limite corre o risco da guerra civil, quando uma parte tenta anular a outra, obrigada então a se defender. A institucionalização da democracia se dá na prática institucionalizante de sua história. 

A decisão arma as ações num projeto político e desenha os limites além dos quais o inimigo é posto. As teorias decisionistas lidam com a oposição eu e tu e por isso têm servido para justificar toda sorte de autoritarismo. Se o eu e o tu se constituem num povo contra um inimigo comum, como admitir uma parte, um partido, que o negaria sem pretender destruí-lo? Mas a relação eu e tu já circula no meio de uma linguagem peculiar, de modo que a decisão se faz tendo um ele no horizonte, como parte do povo potencialmente amiga ou adversária. O decisionismo necessariamente não promove o totalitarismo. 

Já que toda ação convive com sua negação, a ação política sempre permite que algum companheiro atue desrespeitando a meta coletiva. No entanto, não pode aceitar a corrupção como parte de seu projeto, como se fosse meio legítimo de alcançar seus fins. Isso a impediria de se tornar verdadeiramente coletiva, pois assim aceita uma diferença que não visa ao bem comum. Se muitos políticos fazem caixa 2 para assegurar suas campanhas, não é por isso que o partido como tal poderia abonar essa prática, muito menos adotá-la para seu próprio financiamento. A corrupção privatiza uma ação que sempre haveria de ser coletiva. 

Quando um partido se imbui de uma missão histórica, acreditando que somente ele pode cumpri-la, termina fomentando a corrupção de seus membros. Pode até mesmo transformá-la em condição de governabilidade. Na posição sobranceira que lhe investe o projeto transformador, aceita que os fins justificariam os meios. Mas com isso se torna autoritário, pois o outro, ao denunciar sua imoralidade, se transforma num empecilho para que a revolução se realize, conforma-se num obstáculo a ser removido por inteiro. A revolução é uma das ações políticas mais intensas, ela acua o inimigo e abala seu poder, mas se torna autoritária tão logo pretenda eliminá-lo fisicamente, abrindo assim a fenda por onde se infiltra o terror. A guerra civil torna-se inevitável quando o outro passa a ser sistematicamente negado. Lembremos que em geral não há guerra sem limitação de certas liberdades democráticas. 

A ação política tem efeitos muito peculiares no seu próprio modo de ser. Depois de eu ter pintado uma parede de uma cor, que mais tarde se mostra inadequada, nada me impede de repintá-la, pois a parede continua lá. Isso não acontece quando preparo um alimento que, passando de seu ponto de cozimento, não pode mais ser comido. A ação política é uma espécie de cozimento do coletivo, que, passando do ponto, destrói a unidade social. A corrupção política assumida não apodrece o Estado? 

Há intelectuais que fazem política como se pintassem paredes. Constatam que a ação política vem sempre acompanhada de corrupção e, deixando de lado as peculiaridades de cada uma de suas formas, simplesmente aderem a esta ou àquela posição política, sem levar em conta a dinâmica da corrupção nela inscrita. Atuam como se fossem cozinheiros que pouco se importam quando servem alimentos ultracozidos. Por: JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI O Estado de S.Paulo - 08/07

domingo, 8 de julho de 2012

AQUECIMENTO GLOBAL?


Cientista americano contesta aquecimento provocado pelo CO2 

Para Don Easterbrook, Terra passa por ciclos de calor e frio não relacionados à ação humana 

RIO - A Humanidade e suas crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa na atmosfera não têm nada a ver com o aquecimento global. Assim acredita Don Easterbrook, professor emérito de Geologia Glacial da Western Washington University, nos EUA, e apontado como um dos principais cientistas que contestam o consenso em torno do tema. Segundo Easterbrook, suas pesquisas, com base na análise de amostras de gelo retiradas das geleiras da Groenlândia, indicam que a Terra passa por constantes ciclos de aquecimento e resfriamento, com duração aproximada de 30 anos cada.  

Não acredito no aquecimento global primeiro porque não há dados físicos que comprovem que isso está acontecendo afirma. - Tudo que os arautos das mudanças climáticas têm são modelos computacionais fundamentalmente errôneos. Basta ver que se alimentássemos um dos modelos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) com dados de 1980, suas previsões para o clima em 2010 não chegariam nem perto dos dados reais coletados naquele ano. 

De acordo com Easterbrook, todo aquecimento das últimas décadas é fruto de um processo natural que já terminou, com evidências de que desde o ano 2000 a Terra entrou em uma tendência de resfriamento. Ele conta que seus estudos identificaram 40 ciclos de calor e frio nos últimos 500 anos e desde a última Idade do Gelo, há entre 10 e 15 mil anos, pelo menos uma dúzia de episódios em que a elevação da temperatura média do planeta atingiu 15 graus Celsius, mais de 15 vezes maior do que do que a alta atual, calculada entre 0,7 e 0,8 grau nos último século, sendo que nenhum deles estaria diretamente associado a aumentos na concentração de dióxido de carbono na atmosfera. - 

O CO2 é incapaz de causar uma mudança climática significativa e não pode ser usado para explicar o pequeno aumento de temperatura atual defende. - Basta ver que a partir dos anos 40, quando as emissões tiveram uma forte alta, a temperatura média da Terra caiu durante 30 anos enquanto a concentração de CO2 na atmosfera aumentava. Só a partir dos anos 70 a temperatura começou a subir e, mesmo assim, décimos de grau, o que não tem nenhuma relevância estatística. 

Ainda segundo Easterbrook, todas as emissões de CO2 da Humanidade desde o início da Revolução Industrial mudaram em apenas 0,008% a composição da atmosfera, mais uma amostra de que o gás não pode ser o causador do último ciclo de aquecimento, que teria terminado por volta de 1999. Sua teoria é de que estes ciclos estão associados a variações na temperatura da superfície dos oceanos. Esta, por sua vez, seria afetada pela cobertura de nuvens do planeta, que mudaria de acordo com oscilações no campo magnético do Sol. 

Quanto mais fraco este campo magnético, maior é a formação de nuvens, o que tem um efeito de resfriamento, já que elas refletem a radiação solar antes dela alcançar a superfície da Terra diz. 

Para Easterbrook, o fato de o vapor d'água que forma as nuvens ser o gás mais atuante do efeito estufa no planeta, responsável por mais de 95% do aquecimento que faz dele habitável (se não houvesse o efeito estufa, a temperatura média da Terra seria da ordem de -18 graus Celsius), não contrabalança o efeito de resfriamento da maior reflexão de radiação. O cientista também rechaça argumentos de que a partir de 2000, quando acredita que o planeta começou a esfriar, foram registrados alguns dos anos mais quentes da História. - 

Ocasionalmente podemos ter anos mais quentes ou mais frios, mas se calcularmos a média da temperatura na década veremos que não há um aumento, e sim uma tendência de queda relativa ao período entre 1961 e 1990, usado como base de comparação para a dita anomalia do aquecimento global alega Easterbrook. - Temos que atentar que padrões de tempo são diferentes de padrões de clima. Falar de anos individualmente não faz sentido. O que temos que observar são tendências de longo prazo. 

Na opinião do professor americano, todo discurso alarmista em torno do aquecimento global e das mudanças climáticas é uma estratégia de grupos interessados em obter dinheiro e poder dentro do sistema multilateral das Nações Unidas. 

É uma agenda que pretende controlar a população mundial, especialmente a dos Estados Unidos e outros países desenvolvidos, tanto que, diante da falta de evidências físicas do aquecimento, estão mudando o discurso para a questão da sustentabilidade considera. 

Embora diga ser totalmente a favor de um desenvolvimento sustentável que leve em consideração o uso racional dos recursos do planeta, com proteção da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida da população mundial, Easterbrook não acredita que as decisões em torno do tema devam ficar concentradas no âmbito da ONU. 

A grande questão é quem vai decidir sobre como usar os recursos que estão pedindo nestas negociações, US$ 100 bilhões, US$ 200 bilhões por ano diz. - Se estes recursos forem usados para combater fantasmas como o aquecimento global, é um desperdício de dinheiro. Devíamos gastá-los para ajudar de maneira prática a melhorar a qualidade de vida das pessoas, para tirar elas e seus países da pobreza. Meu problema não é com os objetivos, mas com a forma de atingi-los. Dentro da ONU, não haverá fiscalização externa de como esses recursos serão gastos e em quê.