sexta-feira, 27 de julho de 2012

A TEORIA MARXISTA DA EXPLORAÇÃO E A REALIDADE


mais_valia.jpg
Dentre todas as vituperações e calúnias proferidas contra o capitalismo, a 'teoria da exploração' permanece sendo a mais popular — tanto nos círculos acadêmicos quanto entre os desinformados em geral.  O mais famoso defensor da teoria da exploração foi Karl Marx.
De acordo com a teoria da exploração, os lucros — na verdade, quaisquer outras receitas que não sejam convertidas em salário — representam uma dedução injusta daquilo que deveria ser, naturalmente e por direito, o salário do trabalhador.
Segundo Marx, o que possibilita a um capitalista obter uma renda superior ao salário que ele paga ao seu empregado é exatamente o mesmo fenômeno que torna possível a um dono de escravo auferir ganhos em decorrência do trabalho do seu escravo.  Mais especificamente, um trabalhador é capaz de produzir, em menos de um dia inteiro de trabalho, os bens de que ele necessita para ter a força e a energia necessárias para labutar um dia inteiro de trabalho.
Para utilizar um dos exemplos fornecidos pelo próprio Marx, um trabalhador é capaz de produzir em 6 horas todos os alimentos e todas as necessidades de que ele precisa para ser capaz de trabalhar 12 horas.  Estas 6 horas — ou qualquer que seja o número de horas necessárias para o trabalhador produzir essas suas necessidades — são rotuladas por Marx de "tempo de trabalho necessário".  Já as horas que o trabalhador trabalha além do tempo de trabalho necessário são rotuladas por Marx de "tempo de trabalho excedente."
Assim como o 'tempo de trabalho excedente' representa a fonte de ganho do dono de um escravo, ele também representa, de acordo com Marx, a fonte de lucro do capitalista.
Quando o trabalhador trabalha 12 horas para um capitalista, seu trabalho, de acordo com Marx, acrescenta aos materiais e aos outros meios de produção consumidos na manufatura do produto final um valor intrínseco correspondente a 12 horas de trabalho.  E, por sua vez, se estes materiais e outros meios de produção demandaram 48 horas de trabalho para serem produzidos, então o produto final conterá estas 48 horas de trabalho mais as 12 horas adicionais de trabalho desempenhado pelo trabalhador.  O produto final, portanto, terá um valor total correspondente a 60 horas de trabalho.
Sendo assim, o processo de produção, de acordo com Marx, resultou em um acréscimo de valor igual às 12 horas de trabalho do trabalhador.  Este valor adicionado pelo trabalho do trabalhador será dividido entre o trabalhador e o capitalista na forma de um salário para o primeiro e de um lucro para o último.  O valor que o capitalista deve pagar como salário, diz Marx, é determinado pela aplicação de um princípio supostamente universal de valoração da mercadoria — a saber, a teoria do valor-trabalho. 
O capitalista irá pagar ao trabalhador um salário correspondente às horas de trabalho necessárias para produzir suas necessidades — em nosso exemplo, 6 horas — e irá embolsar o valor acrescentado pelas 12 horas de trabalho do trabalhador.  Seu lucro será aquilo que sobrar após deduzir o salário do trabalhador, e irá corresponder exatamente ao 'tempo de trabalho excedente' do trabalhador.
Este exemplo pode ser facilmente expressado em termos monetários ao simplesmente assumirmos que cada hora de trabalho efetuado na produção de um produto corresponde a $1 acrescentado ao valor do produto.  Assim, os materiais e os outros meios de produção utilizados valiam $48, e o produto resultante da aplicação de 12 horas de trabalho do trabalhador vale $60.  As 12 horas de trabalho do trabalhador acrescentaram $12 ao valor do produto.
O lucro do capitalista supostamente advém do fato de que, para as 12 horas de trabalho efetuadas pelo trabalhador, com seu correspondente acréscimo de $12 ao valor do produto, o capitalista paga um salário de apenas $6.  Este valor corresponde ao tempo de trabalho necessário para produzir as necessidades de que o trabalhador precisa para desempenhar suas 12 horas de trabalho.  O lucro do capitalista, portanto, representa a "mais-valia", que corresponde ao "tempo de trabalho excedente".
A razão entre a mais-valia e o salário, ou entre o 'tempo de trabalho excedente' e o 'tempo de trabalho necessário', é rotulada por Marx de "taxa de exploração".  Nesta nossa ilustração ela é de 100% — ou seja, $6/$6 ou 6 hrs./6 hrs.
Ainda segundo Marx, uma combinação entre a ganância dos capitalistas e as forças que tendem a reduzir o lucro em relação ao capital investido faz com que os capitalistas aumentem a taxa de exploração.  Se os trabalhadores são capazes de trabalhar 18 horas por dia utilizando as necessidades produzidas em apenas 6 horas por dia, então a jornada de trabalho será elevada para 18 horas por dia.  Se os salários que os capitalistas pagam para seus empregados homens for o suficiente para permitir que estes sustentem uma esposa e duas crianças, então os capitalistas irão reduzir os salários para forçar mulheres e crianças a irem trabalhar nas fábricas, dando assim aos capitalistas o benefício de auferir mais 'tempo de trabalho excedente' e mais mais-valia. 
Os capitalistas também supostamente irão se esforçar para baratear a dieta do trabalhador, substituindo trigo por, digamos, arroz ou batatas, desta forma reduzindo o 'tempo de trabalho necessário' e aumentando a fatia do dia de trabalho que passa a ser 'tempo de trabalho excedente'.  As condições de trabalho, desnecessário dizer, serão sempre horríveis, uma vez que seu aprimoramento geralmente viria à custa de uma redução na mais-valia.
Esta suposta situação de salários de subsistência — aliás, de salários abaixo da subsistência —, jornada de trabalho desumana e condições precárias, além de crianças trabalhando em carvoarias, seria o resultado do funcionamento do capitalismo e da busca pelo lucro, diz Marx, tendo por base sua teoria da exploração.
À luz da teoria da exploração, os capitalistas devem ser considerados inimigos mortais da esmagadora maioria de humanidade, merecendo ser colocados contra paredões e fuzilados — exatamente o que aconteceu sempre que os marxistas tomaram o poder em algum país.
Os capitalistas, e não os trabalhadores, são os produtores principais
Ao contrário do que diz a teoria da exploração, e ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, os assalariados que os supostos exploradores capitalistas empregam não são os produtores principais dos produtos manufaturados por uma empresa.  Assim como Cristóvão Colombo foi o descobridor da América, e não os marujos que tripulavam os navios e que foram seus auxiliares na realização de seus (de Colombo) planos e projetos, os capitalistas é que são os produtores principais dos produtos produzidos por suas empresas. 
Os empregados do capitalista podem ser mais corretamente descritos como "os auxiliares" na produção dos produtos do capitalista.  Os lucros do capitalista não representam uma dedução daquele valor que, segundo Marx, pertence por direito aos trabalhadores na forma de salários.  Os lucros representam aquilo que o capitalista ganhou em decorrência principalmente de seu trabalho intelectual, de seu planejamento e de suas decisões.  O capitalista produz um produto próprio, embora utilize a ajuda de terceiros cuja mão-de-obra ele emprega com o propósito de implementar seus planos e consequentemente produzir seus produtos.
Sendo assim, por exemplo, Henry Ford era o produtor principal na Ford Motor Company; John D. Rockefeller, na Standard Oil; Bill Gates, na Microsoft; Jeff Bezos, na Amazon; e Warren Buffet, na Berkshire Hathaway.
Marx teve sim uma grande ideia, a qual era em si totalmente correta, e que pode jogar mais luz sobre esta discussão.  Esta sua ideia foi fazer uma distinção entre aquilo que ele chamou de "circulação capitalista" e aquilo que ele chamou de "circulação simples".  Mas Marx, infelizmente, ignorou por completo e contradisse totalmente as reais implicações desta sua ideia.   
Aquilo que todos os "capitalistas exploradores" praticam é a circulação capitalista.  A circulação capitalista, como Marx a descreveu, é o gasto de dinheiro, D, para a compra de materiais, M, que serão utilizados na produção de produtos que serão vendidos por uma quantia maior de dinheiro, D'.  A circulação capitalista, em suma, é D-M-D'.  Se os capitalistas exploradores deixassem de existir, e a circulação capitalista desaparecesse do mundo, os sobreviventes entre aqueles que hoje trabalham como assalariados estariam vivendo em um mundo de circulação simples, isto é, M-D-M.  Ou seja, sem ter com o que gastar inicialmente seu dinheiro, eles tentariam imediatamente produzir materiais, M, os quais eles venderiam em troca de dinheiro, D, o qual, por sua vez, eles usariam para comprar outros materiais, M.
Os capitalistas não são os responsáveis pelo fenômeno do lucro, mas sim pelo surgimento dos salários e dos custos
Tanto Marx quanto Adam Smith, que veio antes de Marx, presumiram erroneamente que, em um mundo de circulação simples — o qual Smith chamou de "o estado rude e primitivo da sociedade" —, todas as rendas obtidas eram salários.  Para eles, não havia lucro neste modelo.  O lucro, segundo eles, só passou a existir quando surgiu a circulação capitalista.  Mais ainda: o lucro seria uma dedução daquilo que originalmente era salário.
Mas a verdade é que, em um mundo de circulação simples, o que está ausente não é o lucro, mas sim os gastos monetários — o D inicial — com o pagamento de salários e com a aquisição de bens de capital, e que são computados como custos de produção.
Um mundo de circulação simples seria um mundo em que não há custos de produção mensurados em termos monetários.  Seria um mundo em que os gastos com materiais — utilizando-se dinheiro obtido com a venda de outros materiais — constituiriam receitas para os vendedores destes materiais.  E estes vendedores, dado que eles não tiveram nenhum gasto anterior para obter os materiais que estão vendendo, não teriam de computar nenhum custo de produção em termos monetários.  Eles teriam apenas receitas de venda. Seria, portanto, um mundo em que o trabalho é a única fonte de renda.  Mas um mundo no qual toda a receita auferida pelos indivíduos é um lucro, e não um salário.  Seria um mundo de trabalhadores produzindo produtos primitivos e escassos, pelos quais eles receberiam receitas de venda das quais eles não teriam custos para deduzir.  Sendo assim, estas receitas representariam o lucro total.
O surgimento da circulação capitalista, portanto, não é responsável nem pela dedução dos salários e nem pelo surgimento do lucro.  Ao contrário: ela é responsável pela criação dos salários, pelo surgimento dos gastos com bens de capital e pelo surgimento dos custos de produção mensurados em termos monetários.  Estes custos serão deduzidos das receitas, produzindo então o lucro.  As receitas de venda, no cenário anterior, representavam o lucro total.  Não havia custos a serem deduzidos das receitas.  Agora, com o surgimento da circulação capitalista, surgiu o salário dos trabalhadores, os quais são deduzidos dos lucros dos capitalistas.  Portanto, primeiro surgiu o lucro; só depois é que surgiu o salário.  É o salário que é deduzido do lucro dos capitalistas, e não o lucro que é deduzido do salário dos trabalhadores.
Quanto mais economicamente capitalista for o sistema econômico, no sentido de um maior grau de circulação capitalista — isto é, uma maior proporção de D em relação a D' —, maiores serão os salários e os outros custos em relação às receitas, e menores serão os lucros em relação às receitas.  Ao mesmo tempo, se o sistema econômico permitir que os capitalistas se concentrem mais na compra e, consequentemente, na produção e na oferta de bens de capital, este aumento na oferta de bens de capital levará a um aumento na produtividade da mão-de-obra e a um aumento generalizado na capacidade de produção.  A oferta de produtos crescerá em relação à oferta de mão-de-obra e, com isso, os preços cairão em relação aos salários.  O resultado é que os salários reaisaumentarão e continuarão aumentando enquanto a produtividade da mão-de-obra continuar crescendo.
Portanto, no que concerne à relação entre capitalistas e assalariados, a verdade é exatamente o inverso daquilo que é alegado pela teoria da exploração.  Os capitalistas não deduzem seus lucros dos salários dos trabalhadores; os capitalistas são os responsáveis pelo surgimento dos salários.  Sendo um custo de produção, os salários são deduzidos das receitas, as quais, na ausência de capitalistas, representariam o lucro total.  Logo, pode-se dizer que os capitalistas são os responsáveis pelo aumento dos salários em relação aos lucros e pela redução dos lucros em relação aos salários.  Ao mesmo tempo, por meio do aumento na produção e na oferta de produtos, o que leva à redução de seus preços, os capitalistas aumentam o poder de compra dos salários que eles pagam.
Isto não é nenhuma exploração dos trabalhadores assalariados.  É, isto sim, a maciça e progressiva melhoria de seu bem-estar econômico.

George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: http://www.capitalism.net/. Seu blogwww.georgereisman.com/blog/.

O "NÓS" É UMA FALÁCIA



Antwerp1920Olympics.jpgQuando assistimos às Olimpíadas ou a qualquer competição esportiva internacional, temos a tendência a torcer de acordo com as nacionalidades.  Torcemos para os atletas de nosso país contra os do resto do mundo.  Embora não haja nada de errado com esse tipo de diversão, o conceito do indivíduo nunca deve ser perdido em meio ao ideal coletivista — a crença de que os membros do coletivo (a nação, nesse exemplo) são robôs sem personalidade dedicados a servir ao todo.
Antes de continuar, deixe-me introduzir um termo matemático que irá ajudar a expor a falácia do coletivo: o fractal.  Resumidamente, um fractal é uma forma geométrica que pode ser dividida em partes que são, cada uma, tão complexas quanto o formato original da figura.  Ou seja: após essa divisão, cada parte terá sempre o mesmo formato da figura original.
Considere uma árvore: os principais galhos são tão complexos quanto a árvore em si.  Em essência, o galho é "uma cópia em escala reduzida do todo".  Um galho plantado no chão seria indistinguível de uma árvore.  Iterativamente, os galhos dos galhos são eles próprios cópias em escala reduzida da árvore, e assim por diante.
Adicionalmente, considere imagens geradas por computador que tenham qualidades fractais.  Nesse caso, desenha-se uma estrutura complexa que aparentemente possui bordas irregulares, conquanto bem definidas.  Uma análise mais detalhada de uma borda vai revelar uma estrutura que é tão complexa quanto a imagem original.  Mantendo-se esse procedimento iterativamente, uma análise mais detalhada da borda dessa borda irá revelar novas e igualmente complexas estruturas, ad infinitum.
fractal.jpgA ideia básica é que cada observação revela uma nova complexidade e singularidade.  Essencialmente, quanto mais conhecemos, menos sabemos.
Agora voltemos nossa atenção para a estrutura da sociedade.
A topologia da sociedade possui qualidades fractais.  Partindo-se de um ponto de vista global, tendemos a ver os países como agregados homogêneos.  Pressupomos que cada país possui certos atributos que automaticamente se reproduzem em todos os seus habitantes — existem chineses, existem americanos, existem indianos, existem russos e existem brasileiros.
De acordo com essa visão, o cidadão A do país X nada mais é do que uma personificação ideal das características agregadas que são atribuídas a X.  Imediatamente alegamos saber tudo sobre A simplesmente porque sabemos que A é um cidadão de X.  "Eles agem dessa forma porque ele é francês e ela é russa".  Essa é uma maneira perigosa e excessivamente simplista de classificar homens e mulheres que agem, como veremos.
Agora, vamos aplicar o conceito de fractais e centrar nossa atenção apenas no país X.  Olhando-se exclusivamente para X, percebemos variações dentre suas várias regiões.  Ao invés de um grupo homogêneo, descobrimos uma complexidade que é similar à complexidade observada em relação aos outros países do mundo.  Pegando-se os Estados Unidos como exemplo, é possível perceber diferenças entre os residentes de Ohio e os da Califórnia, por exemplo.  Repentinamente, o americano que até então víamos como um ser homogêneo passa a ser o agregado de vários agrupamentos singulares.
Seríamos arrojados a ponto de criar o tipo ideal do nativo de Ohio?  É óbvio que não, uma vez que uma análise mais detalhada de Ohio vai revelar variações dentro do estado que são tão complexas quanto aquelas entre os estados.  À medida que vamos aprofundando essa análise iterativa, acabamos por chegar ao pior dos agregados: a comunidade.
Escolhi a comunidade porque ela é o conceito que permite que todas as análises mais amplas tenham significado.
Todas as ideias coletivistas começam pela comunidade.  Desde os primeiros dias no jardim de infância, as escolas martelam o conceito de comunidade na mente das crianças.  As escolas instruem as crianças a se verem a si próprias como componentes similares e indistinguíveis de suas comunidades, independente de se a comunidade é a escola, um distrito escolar ou alguma outra agregação.
Com esse fim, as escolas se definem a si próprias como "comunidades de aprendizes" — não como uma comunidade de indivíduos, mas como uma comunidade cujos membros anônimos esforçam-se pelo bem coletivo.
Questões que afetam uma comunidade afetam cada membro (ou criança) igualmente.  As crianças devem agir de maneira que deixem orgulhosas suas escolas.  Elas são encorajadas a propor projetos comunitários e são obrigadas a se voluntariar para serviços comunitários.  A mensagem implícita é a de que morrer — de modo figurado, nesse caso — pelo coletivo é o destino a ser aspirado durante a vida.  Como disse Mises,
O universalismo e o coletivismo não podem aceitar a solução democrática para o problema do poder. Na sua opinião, o indivíduo, ao sujeitar-se ao código ético vigente, não o faz em benefício direto de seus interesses particulares; ao contrário, ele está abstendo-se de realizar seus próprios objetivos em benefício dos desígnios da Divindade ou da comunidade.
Entretanto, a comunidade sempre é mal definida.  A sua comunidade é a sua vizinhança ou uma das várias e sobrepostas subdivisões políticas?  Ou a sua comunidade é formada por aqueles cuja companhia você aprecia?
Quem pretende iniciar o estudo da ação humana a partir de entidades coletivas esbarra num obstáculo insuperável, qual seja, o fato de que um indivíduo pode pertencer ao mesmo tempo, e na realidade pertence — com exceção das tribos mais primitivas —, a várias entidades coletivas.  Os problemas suscitados pela coexistência de um grande número de entidades sociais e seus antagonismos recíprocos só podem ser resolvidos pelo individualismo metodológico.
Uma vez que a ideia de comunidade cria raízes, as crianças passam a ter dificuldades em se ver como qualquer outra coisa que não seja parte do coletivo.  Lamentavelmente, isso vai seguir na criança por toda a sua vida adulta.  Assuntos tributários, por exemplo, são propostos para o bem da comunidade.  E os bons membros da comunidade devem sempre apoiar as finalidades coletivas.
Portanto, partindo-se da ideia de comunidade coletiva, é fácil ampliar o escopo de atuação (ou tirar o zoom, se preferir) e incorporar maiores horizontes, até que, finalmente, a nação coletiva e o seu governo são abordados.  Se você deve se sacrificar para ser um membro de sua comunidade local, você também deve se sacrificar para ser um membro da sua nação, independentemente de suas políticas e ações.
Se a sociedade, ou o Estado, é uma entidade dotada de vontade e intenção e de todas as outras qualidades que lhe são atribuídas pela doutrina coletivista, então é simplesmente absurdo confrontar as aspirações triviais do pobre indivíduo com seus majestosos desígnios.
Entretanto, homens e mulheres dotados da capacidade de agir não são abelhas que trabalham para o bem da colméia.  Quando humanos são controlados pela autoridade central, eles não mais estão agindo; eles estão reagindo.  E, como Mises demonstrou há muito tempo, humanos que reagem aos comandos do ditador não estão construindo uma colméia, eles estão simplesmente consumindo o mel remanescente — o capital — e esperando passivamente períodos inevitavelmente mais difíceis à frente.
Porém mesmo a comunidade é em si um agregado de vários agrupamentos singulares.  Uma análise mais detalhada vai revelar a existência de famílias.  E mesmo as famílias são o produto de várias entidades singulares: homens, mulheres e crianças que agem individualmente.  É essa complexidade — a complexidade essencial do indivíduo — que explica por que discutir política e assuntos paternais entre membros de família é algo tão delicado.  Ela também explica por que assistir a um jogo de futebol é mais seguro do que conversar informalmente à mesa durante uma tarde de reunião familiar.  Mas é essa complexidade que permite o crescimento da divisão do trabalho, que faz aprimorar e prosperar as economias.
Há duas visões da estrutura da sociedade.  Há a visão coletivista, que falsamente cria agregações características e pressupõe que todos os membros são personificações ideais dessas características agregadas.  E há a visão austríaca, que enxerga apenas o indivíduo e não tenta criar qualquer tipo de agregação.
Todas as variantes de credos coletivistas estão unidas na sua implacável hostilidade às instituições políticas fundamentais do sistema liberal: governo da maioria, tolerância para com as opiniões divergentes, liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa, igualdade de todos perante a lei.
O coletivista mancha a face do indivíduo, fazendo com que o caminho para os maléficos "ismos" do nosso mundo seja relativamente fácil e desejável.
Os austríacos, por outro lado, veem o indivíduo independentemente da geopolítica em voga, e é o foco no indivíduo que leva cada vez mais à liberdade.
Torça para seu time.  E alegre-se com os fractais que são seus vizinhos, amigos e colegas.  Não os perca em uma neblina coletiva.

Jim Fedako  vive em Ohio, EUA, é pai de seis crianças que ele próprio educou em casa e mantém o blog Anti-Positivist.

Tradução de Leandro Roque

MAIS UMA DOSE



Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que que a gente é assim?


A música de Cazuza expressa bem a sensação predominante nos mercados financeiros do mundo todo atualmente. A apreensão dos investidores é grande, pois há riscos enormes de crise em todo lugar. A China está desacelerando rapidamente, os Estados Unidos não conseguem crescer mesmo com tanto estímulo e a Europa pode ir para a UTI a qualquer momento (ruptura do euro). Os fundamentos econômicos são ruins, o clima é de pessimismo generalizado.

Todos os olhares se voltam neste momento para os donos das impressoras de moeda fiduciária. Como Santo Agostinho, os investidores sabem que a castidade (austeridade) é fundamental, pois há excessos no organismo (endividamento insustentável), mas eles pedem em coro: não agora! Os ajustes seriam dolorosos demais. Deixem-nos curtir um pouco mais o aqui e agora como se não houvesse amanhã. A noite nunca tem fim...

E, como viciados em heroína, todos lançam olhares suplicantes ao fornecedor da droga, implorando por mais uma dose. Sim, cada rodada produz efeito eufórico menor, e mais estragos no organismo. Sim, a ressaca pela manhã será braba. Sim, há o risco de que, em algum momento, o organismo acuse o golpe e a overdose seja fatal. Mas entre o sofrimento certo da abstinência hoje, e o risco de morte amanhã, o viciado “escolhe” jogar todas as fichas na sorte.

Isso explica as reações dos mercados ontem, após a firme declaração de Mario Draghi, presidente do BCE, de que faria “o que for preciso” para salvar o euro (e seu emprego, diriam os mais cínicos). É música para o ouvido dos dependentes “químicos”. O fornecedor deu o sinal: nova rodada de droga a caminho! Hora de celebrar. Até porque a euforia dura pouco. Cada vez menos. Por que que a gente é assim? Por: Rodrigo Constantino


quarta-feira, 25 de julho de 2012

NÚMEROS DA SEGURANÇA NO BRASIL


Abaixo quadro demonstrativo de assassinatos por 100 mil habitantes por estado.
Santa Catarina aparece com o menor índice, 12,9 porém com crescimento.
A média Brasil está em 26,2. São 50 mil mortes ao ano. Mata-se mais que muitas guerras. Uma verdadeira carnificina. 


A FARSA DO AQUECIMENTO GLOBAL COMPROVADA


Quarta-feira, Julho 25, 2012

DESCOBERTA CIENTÍFICA COMPROVA QUE DERRETIMENTO DE GELO NOS POLOS TEM CAUSA NATURAL E NADA A VER COM AQUECIMENTO GLOBAL ALARDEADO PELOS ECOCHATOS

CLIQUE AQUI PARA VER O VÍDEO EXPLICATIVO DO FENÔMENO NATURAL (em inglês)
O movimento ambientalista ecochato muito tem falado sobre a ocorrência do degelo nos polos. Há no Youtube vídeos mostrando esses fenômenos, como sempre, de forma alarmista e afirmando que ocorrem por causa do "aquecimento global".
 
Agora, no entanto os cientistas do Britsh Antarctic Survey (BAS) descobriram que sob a imensa capa de gelo na Antártica Ocidental existe um vale profundo como uma depressão comparável ao Grande Cânion do Colorado (EUA) que canaliza o calor do oceado promovendo naturalmente o despreendimento de gigantescas camadas de gelo. Só este fenômeno absolutamente natural e que não tem nada a ver com aquecimento global é o responsável por 10% do aumento do nível dos oceanos.


A reportagem e o vídeo acima estão na edição desta quarta-feira do site do diário espanhol ABC.
Em tradução livre do espanhol, este é o lead e a parte inicial da matéria. Abaixo faço transcrição integral do texto em espanhol. Leiam:

Mais de 1.500 metros de desnível escondidos sob uma imensa capa de gelo. Cientistas do British Antarctic Survey (BAS) encontram um profundo vale na Antática Ocidental tão fundo como o Grande Cânion do Colorado.

O descobrimento ocorreu sob a Corrente de gelo Ferrigno, numa região considerada remota inclusive para os standards antárticos. Antes da visita os cientistas do BAS, só há meio século o local foi visitado. As correntes de gelo são regiões geladas que se despreendem com maior velocidade do que aquelas ao seu redor. O caso mais típico são as línguas glaciais.
Segundo o grupo de cientista, que publicou seu trabalho na revista Nature, este vale sob o gelo está concectado como mar. O oceano transmite através deste seu potencial calorífico terra adentro, e favorece a fusão do gelo. Posto que esta é a região da Antártida que mais gelo perde a cada ano - e é responsável somente ela sozinha por 10% de aumento do nível dos oceanos - compreender sua geomorfologia é de vital importância científica.

Transcrevo, como segue a matéria completa em espanhol contendo os links, inlcusive aquele que leva ao trabalho dos cientistas britânicos no site da revista Nature.

EN ESPAÑOL - 
Más de 1.500 metros de desnivel escondidos bajo una inmensa capa de hielo. Científicos del British Antarctic Survey (BAS)han encontrado un profundo valle en Antártida Occidental tan hondo como el Gran Cañón del Colorado.
El descubrimiento se ha realizado bajo la Corriente de hielo Ferrigno, en una región considerada remota incluso para los estándares antárticos. Antes de la visita de los científicos del BAS, sólo se había ido una vez, hace medio siglo. Las corrientes de hielo son regiones heladas que se desplazan a mayor velocidad que las de su alrededor. El caso más típico es el de las lenguas glaciares.
Según el grupo de científicos, que ha publicado su trabajo en la revista Nature, este valle bajo el hielo está conectado con el mar. El océano transmite a través de éste su potencial calorífico tierra adentro, y favorece la fusión del hielo. Puesto que ésta es la región de la Antártida que más hielo pierde cada año —y es responsable ella sola del 10% del aumento del nivel de los óceanos—, comprender su geomorfología es de vital importancia científica.

Fusión del hielo

«Durante los últimos 20 años hemos usado satélites para monitorizar laspérdidas de hielo de la Antártida. Y hemos sido testigos de un deterioro del mismo en prácticamente toda su costa», afirma Robert Bingham, glaciólogo y coautor del trabajo. «En algunos glaciares, incluyendo la Corriente de hielo Ferrigno, esta pérdida ha sido especialmente pronunciada. Para entender los motivos necesitábamos saber qué había bajo la superficie helada».
«Lo importante es que este espectacular valle cuadra a la perfección con los registros de descenso de hielo superficial de los que se tenía constancia gracias a las mediciones por satélite», recalca Bingham.
Para llevar a cabo el análisis geomorfológico de la zona, los investigadores arrastraron un radar —capaz de atravesar el hielo— con una moto de nieve a lo largo de más de 2.500 kilómetros. Toda la zona tiene una superficie relativamente plana, lo que ayudó a la tarea. Bajo la planicie helada, otra planicie rocosa atravesada por el escarpado valle de más de 1.500 metros de profundidad. «Si pudieses quitar todo el hielo de ahi, verías algo tan gigante como los valle tectónicos africanos y de una profundidad tan destacada como la del Gran Cañón del Colorado», dice Bingham. Do site do jornal espanhol ABC

A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO - QUEM DEVE MANDAR NA SUA VIDA: VOCÊ OU O GOVERNO?



É incrível que um direito básico e fundamental de toda a humanidade, a liberdade de associação, esteja sob crescente ataque do governo e de todos os movimentos progressistas, que exigem sua imediata e incondicional abolição. Qualquer pessoa que tente exercer este básico princípio em seu dia a dia é imediatamente rotulada de 'racista', 'preconceituosa' e epítetos afins. Desde quando um princípio tão fundamental da liberdade se tornou proibido?

Mas o fato é que todo esse autoritarismo realmente não é nada estranho. Em uma era de despotismo aberto como essa em que vivemos, um governo presunçoso, sempre auxiliado por sua tropa de choque formada por intelectuais acadêmicos de esquerda, tem de estar constantemente abolindo direitos fundamentais de seus cidadãos, e por um simples motivo: tal ato distingue de maneira clara quem está no controle da situação. Não é você, não é o indivíduo, mas sim o estado.

Vivemos em uma época explicitamente antiliberdade, em que a escolha individual é vista como um ato egoísta, interesseiro e altamente suspeito. Os governos ao redor do mundo dão aos seus súditos apenas duas opções: ou algo é proibido ou é compulsório. E chamam isso de democracia. Para burocratas e seus defensores intelectuais (que são aqueles que realmente formulam as políticas), a escolha humana é algo que deve ser cada vez mais tolhido. Colocando de maneira mais simples, parece que não mais confiamos na ideia de liberdade. Não mais somos capazes de imaginar como a liberdade funciona e como ela poderia gerenciar o mundo. Que distância percorremos desde a Idade da Razão até os tempos atuais!

Embora os exemplos de abolição das liberdades individuais sejam aparentemente infindáveis, concentremo-nos aqui em algo bastante em voga ultimamente: a questão das ações afirmativas, das quotas e da liberdade de associação. 

Comecemos com a pergunta favorita dos progressistas: 'Pode um homem branco, dono de um bar, se recusar a atender um negro?' Quando a pergunta é formulada desta maneira, praticamente ninguém tem a coragem de responder afirmativamente. Agora, permita-me fazer esta mesma pergunta, mas alterando um personagem: 'Pode um homem negro, dono de um bar, se recusar a atender um branco membro de um grupo supremacista?' 

Obviamente, não faz nenhum sentido dar duas respostas diferentes para duas perguntas idênticas. E, curiosamente, parece não haver muita controvérsia quanto à resposta para a segunda pergunta.

Como uma pessoa utiliza seu direito de se associar com quem ela quer (o que necessariamente significa o direito de não se associar) é uma questão de escolha individual. E uma escolha individual é profundamente influenciada pelo contexto cultural. Que uma pessoa tenha o direito de fazer esta escolha por conta própria é algo que não pode ser negado por ninguém que acredita na liberdade.

O direito de excluir não é fortuito e secundário. Trata-se de algo central ao funcionamento da civilização. Se eu quero um software proprietário, não posso fazer um download dele sem antes assinar um acordo contratual com a empresa vendedora. Se eu me recusar a assiná-lo, a empresa não é obrigada a vendê-lo para mim. E por quê? Porque o software é dela e é ela quem especifica os termos de uso. Ponto. Não há nada mais a dizer.

Se você é dono de um blog que aceita comentários, você sabe o quão importante é este direito. Você tem de poder excluir spams, banir o IP daqueles leitores popularmente chamando de "trolls" — gente que invade seu site (sua propriedade) apenas para caluniar e avacalhar — ou simplesmente excluir e aceitar de acordo com a contribuição trazida por cada leitor. Qualquer site de internet que permita a participação do público sabe disso. Sem esse direito de exclusão, qualquer fórum entra em colapso, pois será dominado por maus elementos.

Diariamente exercemos nosso direito de excluir. Quando você vai a um restaurante almoçar, você está excluindo todos os outros restaurantes ao seu redor. Isso é discriminação. Quando você dá uma festa em sua casa, você é criterioso ao selecionar os convidados: algumas pessoas serão atenciosamente convidadas e outras serão necessariamente excluídas. Alguns estabelecimentos exigem que seus clientes estejam calçados e vestindo camisas, ao passo que outros chegam até a exigir terno e gravata. Até mesmo a mídia, o bastião do progressismo, pratica a discriminação ao decidir quais artigos publicar e quais não publicar, quais pessoas devem participar de seus conselhos editorais e quais não devem.

Quando uma empresa decide contratar, algumas pessoas serão selecionadas e outras não. Isso é exclusão. O mesmo se aplica à admissão de alunos em colégios e faculdades, a membros de clubes e igrejas, e a praticamente todos os tipos de associações e confrarias. Todos exercem seu direito de excluir. A exclusão também ocorre principalmente quando escolhemos com quem queremos nos relacionar afetivamente e profissionalmente. Trata-se de algo central à organização de todos os aspectos da vida. Se este direito for negado, o que recebemos em troca? Coerção e compulsão. Pessoas são forçadas pelo estado a conviver diariamente sem que ambas queiram, com um grupo sendo forçado sob a mira de uma arma a servir ao outro grupo. Isto é servidão involuntária, algo proibido por qualquer constituição minimamente civilizada. Presume-se que qualquer povo que valorize a liberdade seja contra isso.

Isto é o básico do conceito de liberdade.

E o que dizer quanto à afirmação de que o governo deveria regular pelo menos alguns tipos de exclusão? Digamos, por exemplo, que a esquerda não quer negar o direito geral de livre associação, mas quer reduzir seu escopo, diminuindo assim algumas "injustiças". Isso é plausível? A liberdade é como a vida: ou ela existe ou não existe. Decompô-la e fatiá-la de acordo com prioridades políticas é excessivamente perigoso. É exatamente esta imposição política o que gera divisão social, leva a um poder arbitrário e impõe uma forma de escravidão.

Com efeito, o governo presumir que deve regular os "termos" de qualquer tomada de decisão é algo que deveria nos gerar calafrios. Ao agir assim, o governo presume que seus burocratas têm não só o direito mas também a capacidade de ler mentes, como se eles pudessem saber ao certo as reais motivações por trás de cada ação, independentemente de qual seja a alegação do tomador de decisão. Tal comportamento foi, inclusive, um dos fatos geradores do mercado de hipotecas subprime nos EUA: como havia uma lei obrigando os bancos a conceder empréstimos hipotecários para pessoas sem renda, os bancos começaram a conceder hipotecas de maneira completamente promíscua, tudo para não atiçar os reguladores que estavam sempre à procura de algum sinal de discriminação racial.

E, obviamente, esta mágica de ler a mente alheia não é arbitrária. Ela sempre será ditada de acordo com as pressões políticas do momento. Não é de se espantar, portanto, que algo que começou de maneira puramente visual — negros sendo banidos de estabelecimentos — começou a se multiplicar e a gerar vários ramos e sub-ramos, estando hoje completamente fora de controle. Qualquer piada ou expressão de pensamento já é hoje motivo para processos e até mesmo cadeia. Será que esta estratégia realmente aumentou o bem-estar social ou será que ela apenas exacerbou os conflitos entre os grupos de "oprimidos" que o estado sempre explorou para benefício próprio?

Do ponto de vista histórico, a injustiça contra os negros foi perpetrada majoritariamente pelos governos. As leis de segregação eram estatais. Empresas privadas não implementam políticas baseadas em raça porque isso significa excluir clientes com capacidade de pagamento. Não é bom negócio. Não é lucrativo.

E é exatamente por isso que racistas, nacionalistas e intolerantes fanáticos sempre se opuseram ao capitalismo liberal: ele inclui e exclui de acordo com as perspectivas de lucro, não dando a mínima para aquelas características que os coletivistas de todos os tipos consideram de suprema importância, como cor da pele, gênero, preferência sexual e credo religioso. 

O mercado é uma rede de associações em constante evolução e em contínua mudança, cujos padrões não podem ser sabidos com antecedência e não devem ser regulados por supervisores federais. Tentativas estatais de se regular a liberdade de associação sempre levam à desordem e a calamidades sociais.

Como explicou Thomas Paine,

Naquelas associações formadas por homens com o propósito do comércio ou da simples interação, das quais o governo se mantém totalmente de fora e nas quais os homens agem meramente de acordo com os princípios da sociedade, vemos com que naturalidade as pessoas se unem e atuam em conjunto. E isto mostra, em contraste, que os governos, longe de serem a causa ou o meio da ordem, são frequentemente os destruidores dela.

É por isso que os libertários devem se opor a toda e qualquer política que represente um ataque à liberdade de associação, por mais bem envolta que tal política esteja no linguajar das boas intenções. Políticas que dão direitos especiais a determinados indivíduos em decorrência da cor de sua pele, de sua preferência sexual ou de seu gênero e que, consequentemente, impõem custos e deveres a indivíduos que não compartilham destas mesmas características são um ataque ao âmago da liberdade, com custos sociais extremamente altos. Estes podem não ser explícitos de imediato, mas certamente o serão no futuro.

Lew Rockwell é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State

Tradução de Leandro Roque

QUAL O PAPEL DO ESTADO?


A crise financeira de 2008 encorajou o debate internacional sobre qual o grau - e tipo - adequado de regulamentação dos mercados pelo governo. É um assunto central para as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos e também vem modelando a política na Europa e nos países emergentes.

Para começar, o impressionante crescimento da China nos últimos 30 anos deu ao mundo um exemplo economicamente bem-sucedido do que muitos chamam "capitalismo de Estado". As políticas de desenvolvimento do Brasil também conferem forte papel ao Estado.

Questões relacionadas ao tamanho do Estado e ao papel sustentável do governo também são centrais para o debate sobre o destino da região do euro. Muitos críticos da Europa, particularmente nos EUA, relacionam a crise do euro ao papel excessivo do governo, embora os países escandinavos estejam se saindo bem, mesmo com altos gastos públicos. Na França, o novo governo de centro-direita enfrenta o desafio de cumprir a promessa de fortalecer a solidariedade social enquanto reduz substancialmente o déficit orçamentário.

A disseminação de doenças infecciosas, o comércio e as finanças internacionais, as mudanças climáticas, a não proliferação nuclear, o combate ao terrorismo e a segurança na internet são apenas algumas das questões que exigem governança mundial.

Ao lado dos argumentos, em sua maior parte econômicos, sobre o papel do governo, muitos países passam por uma desilusão generalizada com a política e um distanciamento cada vez maior do governo (particularmente os governos federais). Em muitos países, o grau de participação nas eleições nacionais está em queda e novos partidos e movimentos, como o Partido Pirata, na Alemanha, e o Movimento Cinco Estrelas, na Itália, são reflexo do forte descontentamento com a governança atual.

Nos EUA, o índice de aprovação do Congresso está em seu menor patamar na história, de 14%. Muitos no país, como meu colega Bruce Katz, da Brookings Institution, acreditam que a única solução é levar uma maior parte da governança e da criação de políticas para as esferas municipal e estadual, em íntima parceria com o setor privado e a sociedade civil.

Essa abordagem, no entanto, também tem uma desvantagem. Vejamos a Espanha, onde uma demasiada descentralização fiscal nos vários governos regionais contribuiu de forma significativa para enfraquecer finanças públicas que de outra forma seriam mais sólidas.

Um problema crucial é que, apesar das realidades da tecnologia e globalização do século XXI, esse debate internacional ainda é conduzido em grande parte como se a governança e as políticas públicas fossem quase exclusivamente domínio do Estado-nação. Para adaptar o debate aos desafios que enfrentamos, vamos nos concentrar em quatro níveis de governança e identificar a distribuição mais apropriada de políticas públicas a cada um deles.

Primeiro, muitas políticas - como a infraestrutura local, zoneamento de terras, facilitação da produção industrial e treinamento, regras de trânsito e regulamentações ambientais - podem em grande parte ser determinadas na esfera local ou metropolitana e refletir as vontades do eleitorado local.

Naturalmente, a política militar e de relações exteriores deve continuar a ser guiada essencialmente no segundo nível - o Estado-nação. A maioria dos Estados-nações mantêm moedas nacionais e deve, portanto, buscar políticas econômicas e fiscais que respaldem sua união monetária. Como a crise da região do euro nos lembrou de forma incisiva, a descentralização não pode estender-se demais na esfera orçamentária para não ameaçar a sobrevivência de uma moeda comum.

O sistema nos EUA é administrável, porque os Estados americanos são em grande parte coagidos a manter orçamentos equilibrados, enquanto o governo federal responsabiliza-se pela maioria das políticas fiscais. Além disso, a regulamentação bancária e a garantia dos depósitos bancários estão centralizadas nos EUA, como deve ocorrer em uma união monetária. A região do euro finalmente admitiu isso.

A governança na esfera do Estado-nação, portanto, continua sendo imensamente importante e está intimamente ligada à soberania monetária. O problema-chave na Europa atualmente é se os países-membros da região do euro avançarão em direção a algo parecido a um Estado-nação federal. A menos que o façam, é difícil ver como a moeda comum poderá sobreviver.

Há um terceiro nível de governança, regional ou continental, que está mais avançado na União Europeia (e vem sendo testado na América Latina, África e Ásia) e pode ser muito útil. Uniões alfandegárias, áreas de livre-comércio ou mercados únicos como na Europa permitem maior mobilidade de bens e serviços, o que por sua vez pode levar a benefícios com economias de escala que as barreiras internacional não permitem. O Acordo de Schengen para uma Europa sem fronteiras é outro exemplo de governança supranacional regional.

Por último, está o nível mundial. A disseminação de doenças infecciosas, o comércio e as finanças internacionais, as mudanças climáticas, a não proliferação nuclear, o combate ao terrorismo e a segurança na internet são apenas algumas das questões que exigem ampla cooperação internacional e governança mundial.

No mundo interdependente de hoje, o debate sobre o papel das políticas públicas, o tamanho e as funções do governo e a legitimidade da tomada de decisões deveria ser conduzido tendo em mente esses níveis de governança. Frequentemente, esses níveis poderão se sobrepor, como questões de infraestrutura e energia "limpa", por exemplo, mas a democracia seria fortalecida.

Como disse Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), não é apenas o "local" que precisa ser levado ao "global"; a esfera política inerentemente "local" precisa internalizar-se no contexto global ou regional. Esse é um enorme desafio para a comunicação e liderança política, mas se não for superado será muito difícil conciliar democracia e globalização. O grande desafio das próximas décadas será como conduzir o debate democrático em relação aos níveis local, nacional, continental e global e como estruturar um espaço político que reflita melhor o espaço econômico e social.

Kemal Dervis foi ministro da Economia da Turquia, administrador do Programa de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (UNDP, na sigla em inglês) e vice-presidente do Banco Mundial. Atualmente, é vice-presidente e diretor do Programa Economia e Desenvolvimento Global da Brookings Institution. Copyright: Project Syndicate, 2012.

PÂNICO NA EUROPA E O EFEITO DOMINÓ


                                                                                                                   
É a primeira vez em minha carreira que vejo o establishment internacional, algumas vezes chamado de Nova Ordem Mundial, tendo de lidar com uma crise tão grande que sua própria sobrevivência está em risco.  Pela primeira vez, essa gente está assustada.
Não há muitos deles.  Em seu livro Superclass, o autor David Rothkopf estima que haja por volta de apenas 6.000 pessoas no topo da pirâmide do poder mundial.  São majoritariamente homens, e pelo menos um terço deles frequentou as mais prestigiosas universidades americanas.  Os outros frequentaram universidades europeias de comparável qualidade.
A crise na Europa está claramente além de qualquer coisa que esta atual geração da elite governante já vivenciou.  Na última vez que algo parecido a isso desafiou o establishment europeu, a coisa descambou na Segunda Guerra Mundial.
Durante todo o período do pós-guerra, os EUA foram a força dominante no Ocidente.  O governo americano, por meio do Plano Marshall, assinou os cheques que mantiveram os governos europeus solventes, bem como financiou grande parte da OTAN, o sistema de defesa que havia sido criado para conter a expansão da União Soviética.
Mas os EUA hoje não mais estão em posição de socorrer ninguém.  O país tem um enorme déficit comercial e seu governo federal está incorrendo em um trilionário déficit orçamentário.  A Europa já percebeu que, do ponto de vista econômico, terá agora de se virar por conta própria.  Se existem soluções para a crise econômica europeia, tais soluções terão de ser concebidas dentro da zona do euro.
Bancos em risco
Hoje, todo o sistema bancário europeu está em risco.  Os bancos, além de estarem altamente alavancados, investiram maciçamente em títulos emitidos por governos que hoje estão tecnicamente insolventes.  Não há nenhuma possibilidade de estes títulos serem quitados algum dia.  Eles não foram concebidos para ser quitados.  Eles foram concebidos para manter os pagadores de impostos de todos os países europeus em estado de permanente servidão em relação ao sistema bancário.
No entanto, em uma completa e inesperada reviravolta, os bancos se encontram hoje cada vez mais dependentes dos governos.  Os governos são hoje os emprestadores de penúltima instância para os bancos comerciais.  O banco central, é claro, é o emprestador de última instância.  Só que, até o momento, o Banco Central Europeu vem assumindo uma posição neutra.  Ele não quer tomar nenhuma medida para socorrer Grécia, Espanha ou Itália.
Os governos dos PIIGS, que venderam títulos da sua dívida para os bancos dos países ricos da Europa, estão tecnicamente insolventes.  Quando a Grécia der o calote — e ela fará isso —, alguns bancos dos países ricos da Europa terão enormes prejuízos.  Quando a Espanha der o calote — e ela fará isso —, os prejuízos serão ainda maiores.  Quando a Itália der o calote — e ela fará isso —, todo o sistema bancário europeu entrará em colapso. 
Apenas duas coisas podem hoje salvar o sistema bancário europeu: o Banco Central Europeu, que tem o poder de criar dinheiro do nada, e os pagadores de impostos da Alemanha, cujos líderes nacionais são resolutos em seu desejo de expandir o poder da zona do euro por toda a Europa.  Estes políticos estão dispostos a utilizar o dinheiro dos cidadãos alemães com o intuito de ampliar esta consolidação.
Uma corrente de dívidas
O problema é que os governos dos países ricos da Europa não têm dinheiro para servir de emprestadores à Grécia, à Espanha e à Itália.  Estes três países estão hoje tomando dinheiro emprestado a juros até então nunca vistos na Europa em períodos de paz.  A esperança atual é que os governos dos países ricos intervenham e emprestem dinheiro para o governo grego.  O problema é que todos os governos dos países ricos também estão tendo de lidar com a responsabilidade adicional de ser os emprestadores de penúltima instância para os grandes bancos comerciais dentro de suas próprias fronteiras.
Quem irá emprestar dinheiro para os governos dos países ricos da Europa para que estes socorram os governos do sul da Europa?  Quais emprestadores acham que isso seria uma boa ideia?  Às taxas de juros atuais, não muitos.  É por isso que os juros subirão.  Porém, quando as taxas de juros de longo prazo subirem, tal fenômeno irá reduzir o valor presente de todos os títulos em posse dos emprestadores.
Portanto, de um lado, os investidores terão de arrumar dinheiro para emprestar para os governos, e os governos necessitam deste dinheiro para recapitalizar os bancos dentro de suas fronteiras.  Isso nos leva ao próximo problema: para os emprestadores emprestarem dinheiro para um governo, eles têm de tirar esse dinheiro de suas contas bancárias.  O que irá acontecer se seus bancos quebrarem?  Quem irá emprestar dinheiro para os governos?
Sendo assim, nesta corrente de dívidas, de dinheiro fiduciário e crédito, o Banco Central Europeu é o emprestador de última instância.  Ele é o emprestador de última instância porque possui a autoridade legal de criar dinheiro do nada.  Ele pode comprar títulos emitidos pelos governos e pode também emprestar dinheiro aos bancos para que os bancos subsequentemente comprem títulos dos governos.
Ajuste de contas
Todo o sistema político que conhecemos como União Europeia é dependente de um sistema bancário de reservas fracionárias que se expandiu de forma exagerada e que hoje enfrenta um juízo final.  Na realidade, enfrenta dois juízos finais.
Primeiro, haverá um juízo final nos PIIGS quando os correntistas sacarem seu dinheiro.  O segundo juízo final será imposto pelos governos insolventes que já tomaram emprestado centenas de bilhões de euros dos bancos.
A iminência de uma corrida bancária ameaça a capacidade do governo grego de continuar tomando dinheiro emprestado de qualquer pessoa ou entidade.  O governo grego depende do sistema bancário grego para coletar impostos.  Se o sistema bancário grego quebrar, o governo grego quebra.
Neste arranjo, somente o Banco Central Europeu possui a autoridade para salvar o sistema.  Qualquer outra potencial fonte de euros depende em última instância da solvência do sistema bancário europeu.  Se o sistema bancário europeu quebrar, não haverá emprestadores.  E são exatamente os bancos que estão em risco atualmente.
É por isso que todo e qualquer sistema bancário de reservas fracionárias depende, em última instância, do monopólio concedido pelo governo a um banco central.  O banco central é, acima de tudo, o garantidor da solvência dos grandes bancos.  O banco central é o agente econômico dos grandes bancos comerciais.  Estes estão hoje na iminência de quebrar.  O alto escalão destes bancos não possui nenhum conhecimento básico de economia.  Eles emprestaram dinheiro para os PIIGS.
Neste cenário, a única maneira de salvar o sistema é se arriscando a destruí-lo.  A única maneira de salvar o euro é se arriscando a destruí-lo.  E é assim porque há apenas duas maneiras de se salvar os grandes bancos comerciais.  A primeira maneira é pela hiperinflação.  Isso irá permitir que os bancos mantenham suas portas abertas.  Um acentuado aumento da quantidade de dinheiro na economia fará com que os tomadores de empréstimo consigam quitar suas dívidas vendendo um punhado de ativos, o que lhes dará dinheiro suficiente para quitar seus empréstimos.  Mas tudo isso será feito com euros que já não valerão nada.
A segunda maneira de salvar os bancos, que é a que o Banco Central Europeu está tentando fazer, é evitando a hiperinflação mas inflacionando a oferta monetária somente até um ponto que permita que os maiores bancos possam ser salvos.  Isso ocorreria por meio de empréstimos a juros baixos concedidos aos bancos pelo Banco Central Europeu.  Os bancos, por sua vez, para serem capazes de quitar este empréstimo recebido, terão de emprestar este dinheiro a juros maiores — mas será difícil encontrar tomadores de empréstimo ainda solventes e será difícil encontrar muitas pessoas dispostas a se endividar.
Se o Banco Central Europeu adotar esta segunda abordagem, isso irá levar o continente a uma depressão.  O BCE inflacionou.  Os bancos comerciais emprestaram dinheiro para governos insolventes.  Estes governos irão dar o calote caso haja uma recessão.  Porém, caso se negue a inflacionar ainda mais a oferta monetária, o Banco Central Europeu produzirá uma recessão.  Não há saída.  O boom que o BCE gerou na Europa durante os anos de Greenspan na presidência do Fed estourou nos bancos europeus, exatamente como o boom nos EUA estourou nos bancos americanos.
Não há uma agência governamental responsável por garantir os depósitos do sistema bancário europeu.  Não há nenhum governo que possua os ativos ou a autoridade legal para emprestar para um ou para todos os governos da região.  Não há um sistema fiscal comum, o que significa que todos os governos podem incorrer em vultosos déficits orçamentários.  Sendo assim, em tempos normais, os governos estão em constante concorrência entre si para conseguir dinheiro emprestado para financiar seus déficits.
Portanto, o sistema foi forçado até seu limite.  Os poucos emprestadores remanescentes que ainda possuem capital e que ainda têm dinheiro suficiente em seus bancos para emprestar para governos insolventes estão hoje se recusando a conceder estes empréstimos.  É por isso que a Espanha está pagando 7,5% para convencer os emprestadores a lhe darem dinheiro.  Emprestadores que caírem nessa irão terminar como os tolos que emprestaram dinheiro para o governo grego antes de 2010.  Eles verão o valor de seus papeis ser dizimado quando os juros espanhóis subirem para os dois dígitos, o que ocorrerá a menos que o Banco Central Europeu intervenha, imprima dinheiro e empreste para o governo espanhol.
Não há dispositivo de proteção
Os líderes do establishment europeu nunca tiveram de lidar com uma crise em escala semelhante a esta.  Eles falam incessantemente sobre a necessidade de se criar dispositivos de proteção.
Mas que tipo de dispositivo de proteção seria capaz de impedir que o calote de um governo se torne um calote de outro governo?  Que dispositivo de proteção pode haver para um grande banco multinacional que acabou de perder metade do valor dos títulos que havia comprado a uma taxa de juros de 3%, agora que os juros foram para 7,5%?  Sempre que a taxa de juros dobra, o valor de mercado dos títulos cai 50%, no mínimo.
Não há dispositivo de proteção.  O sistema financeiro europeu é todo interligado pelo euro.  Todo mundo utiliza a mesma moeda em 17 países.  Todo mundo depende do mesmo Banco Central, e este banco não está exercendo liderança.  O presidente do banco segue dizendo que os governos têm de lidar com os problemas e assumir responsabilidades.  Sempre que ele diz isso, lembro-me de que Ben Bernanke continuamente diz a mesma coisa ao Congresso americano.
Os presidentes dos dois maiores bancos centrais do mundo estão reclamando que os políticos têm de assumir a responsabilidade pela resolução da crise.  Mas isso é exatamente o que os políticos não querem fazer.  Os políticos sempre entenderam que o banco central os socorreria em caso de crise, simplesmente criando dinheiro e comprando os títulos da dívida de seus governos.  Esta sempre foi a justificativa pública para a existência de bancos centrais.
Mas os políticos parecem cegos quanto ao real motivo da existência de bancos centrais, a saber: socorrer os grandes bancos comerciais sob sua jurisdição.  E o Banco Central Europeu tem de lidar com um enorme problema: ele tem sob sua jurisdição os maiores bancos de todos os países da zona do euro.  Ele tem de intervir para salvar qualquer grande banco sob sua jurisdição, pois, se não o fizer, haverá corridas bancárias naquele país.
Uma corrida bancária
Correntistas europeus podem ir até seus bancos e transferir seu dinheiro para um banco que esteja em outro país.  Normalmente, eles transferem para um banco alemão.  Legalmente, o banco recebedor pode se recusar a aceitar este novo depósito; mas qual banco ousaria não aceitar novos depósitos?  Qualquer banco que dissesse não mais estar aceitando depósitos de algum outro banco iria enviar para a mídia um sinal de que este outro banco está no limiar da insolvência.  E isso é a última coisa que qualquer banco de um país rico da Europa quer fazer com qualquer banco da Grécia, da Espanha ou da Itália.
O Banco Central Europeu está sentado sobre um barril de pólvora.  O estopim já foi aceso.  Este estopim está conectado ao sistema bancário grego.  Se o sistema bancário grego explodir — o que, na prática, significa implodir —, tal fenômeno irá acender outro estopim.  O outro estopim leva à Espanha.  Posso estar errado.  Pode haver dois estopins, um levando à Espanha e o outro, à Itália.
Não há dispositivo de proteção.  O único dispositivo de proteção seria os bancos dos países ricos se recusarem a aceitar novos depósitos de pessoas que estão fechando suas contas em bancos do sul da Europa.  Mas se as corridas bancárias na Grécia não forem interrompidas, o governo grego irá dar o calote em sua dívida e irá sair da zona do euro.  Ele não terá escolha.  Se seus bancos estão quebrados, como ele conseguirá financiar sua dívida?  Como ele irá coletar impostos?
Já dá pra ver o que está em jogo aqui.  Uma corrida bancária em pequena escala vem ocorrendo há pelo menos um ano na Grécia, e ela agora ameaça se tornar uma corrida bancária em escala total.  Os bancos dos países ricos podem legalmente se recusar a aceitar novos depósitos em euro dos correntistas que estão saindo da Grécia.  Mas todos eles teriam de fazer isso de uma só vez.  Se apenas um ou dois grandes bancos dos países ricos se recusarem a aceitar novos depósitos de gregos, isto irá enviar um sinal para todos os outros gregos: "É melhor vocês tirarem seu dinheiro dos bancos, e rápido!  Coloque-o em um banco de um país rico antes que eles comecem a recusar novos depósitos".  A corrida bancária irá se intensificar.
Como nem todos os bancos estão sob as mesmas leis bancárias, e como nenhuma agência reguladora pode lhes dizer o que fazer, a Europa possui um sistema no qual os correntistas dos PIIGS podem livremente gerar maciças corridas bancárias contra os bancos de seus próprios países, deixando-os na lona.
Não há dispositivo de proteção contra isso.  As corridas bancárias já começaram na Grécia.  Bancos fora da zona do euro podem se recusar a aceitar novos depósitos, mas os bancos dentro da zona do euro não podem fazer isso sem ameaçar a solvência de todo o sistema bancário.  Adicionalmente, se eles não criarem um dispositivo de proteção, a quebra de bancos da Grécia, da Espanha e da Itália levará seus respectivos governos à insolvência.  E isso, por sua vez, gerará volumosos prejuízos para os bancos dos países ricos da Europa.  Tudo está interligado.
Você não encontra uma discussão aprofundada sobre isso na grande mídia, e por uma boa razão: a grande mídia teme ser acusada de provocar uma corrida bancária na Grécia.  Todo mundo sabe que uma corrida bancária grega já começou, mas isso não é notícia de capa nos jornais.  Certamente não é uma história a ser coberta nos jornais televisivos.  Nenhuma grande rede de televisão irá falar sobre a corrida bancária grega enquanto esta ainda não estiver em seu estágio terminal.
Logo, as pessoas que gerenciam a nova ordem europeia apenas jazem quietas, impotentes e completamente dependentes das decisões tomadas pelos correntistas dos bancos gregos.  A qualquer momento, uma onda de pânico pode se espalhar por toda a Grécia, e um grande número de correntistas irá fazer fila em frente aos bancos para retirar seu dinheiro.  Se eles sacarem dinheiro vivo, isso irá quebrar o banco local, o qual terá de vender ativos para comprar moeda do Banco Central Europeu a fim de entregar o dinheiro para seus correntistas.  Este tipo de corrida bancária é ruim para um determinado banco, mas tende a não gerar grandes efeitos sobre todo o sistema bancário porque estas pessoas irão inevitavelmente gastarem o dinheiro que sacaram; e, ao fazerem isso, as empresas que receberem este dinheiro irão redepositá-lo em seus bancos.  Sendo assim, uma corrida bancária com o objetivo de sacar dinheiro vivo não representa uma enorme ameaça para o sistema bancário grego como um todo.
No entanto, pode também haver uma corrida bancária na forma de transferência eletrônica de dinheiro para fora do país.  E é justamente esta ameaça que todos os bancos gregos estão enfrentando atualmente.  Neste caso, quando os euros saem do sistema bancário grego, eles não voltam a ser depositados no sistema bancário grego.  Eles vão para o sistema bancário de outro país.
Estamos testemunhando hoje o colapso do sistema bancário grego.  A menos que o Banco Central Europeu intervenha novamente, não haverá um sistema bancário grego até o final deste ano.  Todos os bancos estarão quebrados.
E não há nada que os eurocratas possam fazer a este respeito.  A única agência que tem o poder de interromper todo este processo é o Banco Central Europeu, que pode fazer o que quiser.  Em última instância, ele pode emprestar dinheiro aos bancos gregos aceitando em troca qualquer colateral que estes oferecerem — no caso, majoritariamente títulos emitidos pelo governo grego.
Conclusão
Angela Merkel pode espernear, gritar e se contorcer até ficar azul.  O fato é que, em última instância, ela não tem poder algum sobre o Banco Central Europeu.  Em última instância, nenhum político tem poder sobre a instituição.  E nenhum político quer realmente ter poder sobre o BCE.  E por que não?  Porque tal político inevitavelmente seria o responsável por arrumar o dinheiro que o BCE supostamente iria imprimir, mas foi impedido por este político.
É por isso que o BCE irá inflacionar.  O presidente da instituição pode falar o quanto quiser sobre a necessidade de políticos assumirem suas responsabilidades e sustentarem o atual arranjo do euro; porém, no final, ele será o sustentáculo do sistema.  Ele é o sujeito que detém o controle da impressora de dinheiro.  Ele é a única pessoa, junto com seus colegas, que está em posição de manter o sistema solvente.
Não há dispositivo de proteção.  Há apenas a capacidade do Banco Central Europeu de imprimir dinheiro e de emprestá-lo para os bancos comerciais ou diretamente para os governos.  Não importa quais são as regras ou regulamentos vigentes que supostamente proíbem isso.  A coisa terá de ser feita.
No meio de um incêndio, ninguém no poder irá apontar o dedo para o Banco Central Europeu quando este intervir com o intuito de socorrer um governo que esteja prestes a dar o calote em suas dívidas.  O motivo é claro, ou ao menos para mim parece claro: nenhum político quer ser o responsável por arrumar o dinheiro necessário para socorrer os grandes bancos de seu país — todos os quais estão ameaçados de insolvência por causa dos calotes dos governos da Grécia e da Espanha —, pois isto irá produzir um efeito dominó causado por todos os governos dos PIIGS.


Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite