segunda-feira, 8 de outubro de 2012

UMA VIDA PARA DOENTES MENTAIS


Vivemos uma vida para doentes mentais. A Romênia já nos deu Cioran, Eliade, Ionesco. Agora nos dá Matéi Visniec, e a É Realizações traduziu várias de suas peças.

Entre elas, "A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais" nos dá a conhecer um medíocre escritor, convidado a contar a história do comunismo a doentes mentais dias antes da morte de Stálin.

Mas, para além do aspecto específico de uma reflexão sobre a conhecida praga do marxismo, chama atenção a reflexão sobre o mal que o autor faz em suas obras, principalmente na face contemporânea e histórica.

Os romenos são grandes "filósofos do mal". Tenho um profundo preconceito por quem acha que não existe o mal. Este tipo de antropólogo de boutique que confunde relativismo cultural com discussão moral séria.

Segundo o que nos dizia Cioran, na Romênia, ninguém se dava ao luxo de suspeitar da existência do mal, porque o fatalismo pessimista daquele povo era por demais "empírico": séculos de violência.

Segundo o autor, o mal em sistemas totalitários é fácil de ser identificado: a perda da liberdade, da privacidade, do horizonte, enfim, do tônus da vontade. Mas, na França em que vive desde seu exílio em 1987, o mal não é tão fácil de ser identificado. Para Visniec, aquilo que as ditaduras marxistas não conseguiram realizar plenamente, a formatação do homem para a condição de gado ou de doente mental, a "liberdade de consumo" das democracias ocidentais estão conseguindo. Este é o "nosso mal".

Como o leitor bem sabe, suspeito de toda crítica à sociedade de mercado quando feita por alguém que supõe conhecer uma melhor forma de vida e que afirma que esta melhor forma passa pelas ideias idiotas que alimenta em sua cabecinha intelectualmente provinciana e autoritária. Mas este não é o caso de Visniec.

Tendo vivido sob o regime totalitário marxista, ele carrega a marca de quem conheceu o mal na intimidade que só a forma banal do cotidiano traz.

Para as sociedade ocidentais funcionarem, temos que comprar. Para comprar no nível que a máquina econômica nos pede, temos que, mais do que comprar, consumir sempre e cada vez mais. Portanto, ao consumirmos "livremente" e com alegria, somos o gado pacificado que os regimes marxistas tentaram criar e não conseguiram. Um cidadão responsável neste mundo afirma sua integridade pagando a conta do Visa em dia.

Só alguém sem alma pode ver um shopping center no fim de semana e não ter vontade de vomitar. Um certo mal-estar com relação à sociedade de consumo é necessário se você quiser manter sua saúde mental em dia. A sociedade que consome sem um mínimo de mal-estar é uma sociedade de doentes mentais.

O problema é que não conhecemos nenhuma experiência histórica real na qual a liberdade política tenha sobrevivido ao extermínio da liberdade de iniciativa econômica.

Por outro lado, a vida humana é precária e tudo tem um custo real. Não conhecemos nenhuma forma de criar ciência, conforto, técnica, direitos humanos sem o uso de dinheiro. E assim voltamos ao consumo: o consumo garante a sobrevivência da economia no nível exigido pelo nosso desejo de conforto, ciência, técnica, direitos humanos.

Visniec se choca com uma Europa que tudo que parece querer é comprar. O Leste Europeu, quando ficou livre, gritou "Prada!". A liberdade conquistada foi para ir ao shopping no fim de semana e comprar toda essa gama de lixo que se compra, com a "boca cheia de dentes esperando a morte chegar...".

Nenhum intelectual parece entender que somos banais como doentes mentais.

Visniec pensa que temos que buscar novas utopias. O interessante é lembrar que a felicidade representada pelo "sou livre para comprar" também foi uma utopia na Europa. O euro é o nome dessa utopia.

Melhor abrirmos mão da ideia de utopia. Quanto mais rápido desistirmos de um mundo melhor, mais rápido perceberemos que a consciência, de fato, é um ônus.

E também, como dizia Yeats, "os melhores não têm convicções enquanto que os piores estão sempre cheios de intensidade passional". O desafio hoje é pensar sem utopias.

Por: Luis Felipe Pondé Folha de SP

LUDWIG VON MISES - DEFENSOR DA LIBERDADE E DO CAPITALISMO


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Ontem, dia 29 de setembro de 2011, foi o centésimo trigésimo aniversário do nascimento de Ludwig von Mises, economista e filósofo social, que faleceu em 1973. Mises foi meu professor e mentor, além de ter sido a fonte de inspiração para quase tudo aquilo que sei e que considero ser importante e digno nesses dois campos; de tudo aquilo que me permite entender os eventos que moldam o mundo em que vivemos. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para fazer uma homenagem ao meu mestre, pois creio que ele definitivamente deva ocupar um dos principais lugares da história intelectual do século XX.

Mises é de suprema importância porque seus ensinamentos são absolutamente necessários para a preservação da essência da civilização. Como ele demonstrou, a base da civilização é a divisão do trabalho. Sem a divisão do trabalho, seria impossível haver uma maior produtividade da mão-de-obra; e sem esta maior produtividade, praticamente toda humanidade iria simplesmente morrer de fome. 

A existência e o bom funcionamento da divisão do trabalho, no entanto, depende vitalmente das instituições que existem apenas em uma sociedade capitalista — isto é, liberdade econômica, governo limitado, propriedade privada da terra, dos bens de produção e de todos os outros tipos de propriedade; dinheiro e liberdade de trocas, poupança e investimento, desigualdade econômica e concorrência econômica, e a busca pelo lucro —, instituições estas que, em todos os lugares, estão sob ataque há várias gerações.

Quando Mises entrou no debate intelectual, o marxismo e todas as outras facções socialistas desfrutavam praticamente um monopólio intelectual. Enormes falhas e inconsistências nos escritos de Smith, Ricardo e seus seguidores permitiram aos socialistas alegarem que os economistas clássicos eram na realidade seus aliados. Os escritos de Jevons e dos primeiros economistas "austríacos" — Menger e Böhm-Bawerk — eram insuficientemente abrangentes para fornecer uma reação eficaz e vigorosa aos socialistas. Bastiat havia tentado fornecer um contra-ataque, mas faleceu muito prematuramente; e, em todo caso, provavelmente faltava-lhe a profundidade teórica necessária.

Assim, quando Mises surgiu em cena, não havia praticamente nenhuma oposição intelectual sistemática ao socialismo ou nenhuma defesa do capitalismo. Literalmente, as plataformas intelectuais da civilização estavam completamente indefesas. O que Mises chamou para si próprio a responsabilidade de fazer — e é isso que resume bem a essência de sua grandeza — foi construir uma defesa intelectual do capitalismo e, consequentemente, da civilização.

O principal argumento dos socialistas era o de que as instituições do capitalismo serviam meramente aos interesses de uma minoria de rudes "exploradores" e "monopolistas", e agiam contra os interesses da esmagadora maioria da humanidade, maioria essa cujos interesses seriam atendidos apenas pelo socialismo. Enquanto que a única reação contrária ao socialismo advinha de intelectuais que, na mais benevolente das hipóteses, se limitavam a criar políticas que de alguma forma confiscassem a riqueza dos capitalistas em menor intensidade do que aquela exigida pelos socialistas, ou que insistiam em dizer que os direitos de propriedade deveriam ser respeitados não obstante sua incompatibilidade com o bem-estar da maioria das pessoas, Mises surgiu desafiando as pressuposições básicas de todos. Ele demonstrou que o capitalismo serve aos interesses materiais e ao proveito próprio de todas as pessoas, inclusive os não-capitalistas — os chamados proletários. 

Em uma sociedade capitalista, demonstrou Mises, os meios de produção em mãos privadas servem exclusivamente ao mercado. Quem se beneficia fisicamente das fábricas e indústrias são todas aquelas pessoas que compram seus produtos. Em conjunto com os incentivos gerados pelo sistema de lucros e prejuízos, bem como toda a liberdade de concorrência que tal sistema implica, a existência da propriedade privada dos meios de produção garante uma sempre crescente oferta de bens e serviços para todos.

Desta forma, Mises demonstrou por que clichês como "a pobreza gera o comunismo" eram um contra-senso total. O que gera o comunismo não é a pobreza, mas sim a pobreza acrescida da equivocada crença de que o comunismo é a cura para a pobreza. Se os desorientados e ignorantes revolucionários dos países atrasados, bem como os líderes de bairros, favelas e outras localidades pobres, realmente entendessem de economia, quaisquer desejos que eles genuinamente tivessem de lutar contra a pobreza fariam deles ardorosos defensores do capitalismo.

O socialismo, demonstrou Mises naquela que foi sua maior e mais original contribuição ao pensamento econômico, não somente elimina os incentivos gerados pelo sistema de lucros e prejuízos, junto com a liberdade de concorrência e a propriedade privada dos meios de produção, como também impossibilita por completo o cálculo econômico, a coordenação econômica e o planejamento econômico. Por conseguinte, o socialismo inevitavelmente resulta em caos econômico. O socialismo significa a abolição do sistema de preços e da divisão intelectual do trabalho; significa a concentração e a centralização de todas as tomadas de decisão nas mãos de uma única agência: o Comitê de Planejamento Central, sob controle de um Ditador Supremo.

No entanto, o planejamento de um sistema econômico está além do poder de qualquer ser que tenha a mínima consciência de suas capacidades mentais: o número, a variedade e a localização dos distintos fatores de produção, as várias possibilidades tecnológicas a que eles podem ser submetidos, e as diferentes permutações e combinações possíveis de tudo aquilo que pode ser produzido por eles, é algo que está muito além do poder mental de qualquer gênio; é algo impossível de ser mantido sob controle de poucas mentes planejadoras. O planejamento econômico, demonstrou Mises, requer a cooperação de todos que participam do sistema econômico. O planejamento econômico pode existir somente sob o capitalismo, um sistema no qual, a cada dia, empreendedores planejam tendo por base os cálculos de lucros e prejuízos; os trabalhadores planejam tendo por base os salários; e os consumidores planejam tendo por base os preços dos bens de consumo.

As contribuições de Mises ao debate entre capitalismo e socialismo — a principal questão da modernidade — são avassaladoras. Antes de seus escritos, as pessoas não haviam se dado conta de que o capitalismo de fato se baseia no planejamento econômico. Elas haviam aceitado, sem qualquer crítica, o dogma marxista de que o capitalismo gera uma 'anarquia no sistema de produção' e que o socialismo, em contrapartida, representa o planejamento econômico racional. As pessoas estavam (e a maioria ainda está) na mesma posição de M. Jourdan, de Moliere, que jamais percebeu que havia passado toda a sua vida falando em prosa. Afinal, vivendo em uma sociedade capitalista, as pessoas estão literalmente rodeadas de planejamento econômico, e ainda assim não percebem que ele existe. Diariamente, há inúmeros empreendedores planejando expandir ou reduzir suas empresas; planejando introduzir novos produtos ou suspender antigos; planejando abrir novas filiais ou fechar algumas existentes; planejando alterar seus métodos de produção ou continuar com seus atuais; planejandocontratar novos empregados ou demitir alguns atuais. E, também diariamente, há inúmeros trabalhadoresplanejando aprimorar suas habilidades, mudar de ocupação ou de lugar de trabalho, ou continuar exatamente como estão. E há também consumidores, que diariamente planejam comprar imóveis, carros, eletroeletrônicos, carnes ou sanduíches, além de também planejarem como melhor utilizar os bens que já possuem — por exemplo, se devem ir para o trabalho de carro ou utilizar ônibus ou taxi.

No entanto, as pessoas recusam o termo planejamento para todas essas atividades e reservam-no para os impotentes esforços feitos por um punhado de funcionários do governo, os quais, tendo proibido todas as outras pessoas de planejarem, presumem-se plenamente capazes de substituir a inteligência e o conhecimento de dezenas de milhões de pessoas pela sua própria inteligência e conhecimento. Mises identificou a existência de planejamento sob o capitalismo, o fato de que ele se baseia no sistema de preços ("cálculos econômicos"), e o fato de que os preços servem para coordenar e harmonizar as atividades de todos os milhões de planejadores independentes, dispersos e distintos.

Ele demonstrou que cada indivíduo, ao estar preocupado em ganhar renda e em limitar seus gastos, é levado a ajustar seus planos específicos de acordo com os planos de todos os outros indivíduos. Por exemplo, o trabalhador que decide se tornar um contador em vez de um artista — pois prefere a maior renda a ser obtida como contador —, está alterando seus planos de carreira em resposta aos planos das outras pessoas, as quais decidiram gastar mais com serviços de contabilidade do que com pinturas. O indivíduo que decide que uma casa em uma determinada vizinhança é muito cara — e, consequentemente, abre mão de morar naquela vizinhança —, está similarmente incorrendo em um processo de ajustamento de seus planos de acordo com os planos das outras pessoas; pois o que torna aquela casa muito cara são os planos das outras pessoas que estão dispostas a gastar mais para comprá-la. E, acima de tudo, Mises demonstrou que cada empreendimento, aos buscar lucros e ao tentar evitar prejuízos, é levado a planejar suas atividades de uma maneira que não apenas serve aos planos de seus próprios clientes, como também serve aos planos de todo o sistema econômico — pois tal empreendimento, aos fazer seus cálculos de preços, leva em conta os planos de todos os outros usuários dos mesmos fatores de produção que serão utilizados por esse empreendimento.

Assim, Mises demonstrou que o capitalismo é um sistema econômico racionalmente planejado pelos esforços conjuntos — e voltados para o interesse próprio — de todos aqueles que participam dele. O fracasso do socialismo, demonstrou Mises, resulta do fato de ele representar não um planejamento econômico, mas sim adestruição do planejamento econômico, o qual só pode existir somente sob o capitalismo e o sistema de preços.

Mises não era fundamentalmente um anti-socialista. Ele era pró-capitalismo. Sua oposição ao socialismo — e a todas as formas de intervenção governamental — era derivada de seu apoio ao capitalismo, de sua paixão pela liberdade individual e da sua convicção de que homens livres agindo por interesse próprio geram resultados harmoniosos entre si. Acima de tudo, Mises tinha a convicção de que, sob o capitalismo, o que um homem ganha não representa a perda de um outro, mas sim o ganho de outros. Mises foi um consistente defensor do homem independente que venceu pelo esforço próprio, do intelectual e do empreendedor desbravadores, cujas atividades são a fonte do progresso de toda a humanidade e que só podem, como ele mostrou, florescer e prosperar sob o capitalismo.

Mises demonstrou que a competição sob o capitalismo é de um caráter totalmente distinto da competição que ocorre no reino animal. Não se trata de uma competição selvagem por meios de subsistência escassos fornecidos pela natureza, mas sim uma competição pela criação positiva de novas e adicionais riquezas, das quais todos se beneficiam. Por exemplo, o efeito da competição entre agricultores que utilizam cavalos e agricultores que utilizam tratores não resulta no primeiro grupo morrendo de fome, mas sim em todos tendo mais comida e, consequentemente, mais renda disponível para adquirir quantidades adicionais de outros bens. E isso é válido até mesmo para os agricultores que "perderam" a competição e que tiveram de se realocar para outras áreas do sistema econômico — estas agora irão se expandir e beneficiar seus empreendedores, e tudo exatamente em virtude dos aprimoramentos ocorridos na agricultura. Similarmente, o efeito do automóvel suplantando o cavalo e a charrete foi o de beneficiar até mesmo os criadores de cavalos e os ferreiros, tão logo estes tenham feito as necessárias realocações.

Em um extraordinário aprimoramento da Lei das Vantagens Comparativas, de Ricardo, Mises demonstrou que há espaço para todos na concorrência capitalista, mesmo para aqueles que possuem as mais modestas habilidades. Tais pessoas precisam apenas se concentrar naquelas áreas em que sua relativa inferioridade produtiva é menor. Por exemplo, um indivíduo incapaz de ser mais do que um porteiro de prédio não precisa temer a concorrência do resto da sociedade, cuja quase totalidade dos membros poderia ser um melhor porteiro do que ele, caso fosse isso o que elas escolhessem fazer. Pois, por mais que tais pessoas pudessem desempenhar melhor tal função, a vantagem que elas possuem em outras linhas de trabalho é ainda maior. E, enquanto a pessoa de menor capacidade produtiva ou menor habilidade estiver disposta a trabalhar como porteiro por uma renda menor do que aquela que as outras pessoas podem ganhar em outras linhas de produção, ele não precisa se preocupar com a concorrência delas. Com efeito, pode-se dizer que ele as supera competitivamente pelo emprego de porteiro ao se mostrar mais disposto do que elas a aceitar uma renda menor. 

Mises mostrou que uma harmonia de interesses prevalece também neste caso. Pois a existência do porteiro permite que pessoas mais talentosas dediquem seu tempo a tarefas mais exigentes, ao passo que a existência destas pessoas permite ao porteiro obter bens e serviços que, de outra forma, seriam totalmente impossíveis de ele obter.

Baseando-se em tais fatos, Mises argumentou contra a possibilidade de inerentes conflitos de interesse entre raças e nações, bem como entre indivíduos. Pois mesmo se algumas nações ou raças fossem superiores (ou inferiores) a outras em todos os aspectos da habilidade produtiva, a cooperação mútua gerada pela divisão do trabalho ainda assim seria vantajosa para todos. Consequentemente, ele demonstrou que todas as doutrinas que alegam que há conflitos inerentes entre raças, classes sociais ou nações são doutrinas paridas pela total ignorância em economia.

Ele argumentou — utilizando uma lógica incontestável e irrespondível — que as causas econômicas das guerras originam-se nas interferências governamentais na forma de barreiras ao comércio e à migração, e que tais interferências, que restringem as relações econômicas estrangeiras, são o produto de outras interferências governamentais internas, as quais restringem a atividade econômica doméstica. Por exemplo, por causa da existência de leis que impõem um salário mínimo e que dão privilégios a sindicatos, a mão-de-obra doméstica fica impedida de fazer frente à concorrência de produtos estrangeiros por meio da redução de salários — logo, tarifas de importação se tornam necessárias para se impedir o desemprego. A partir da análise dos efeitos dessas pequenas intervenções, Mises demonstrou que os alicerces para a paz mundial estão em uma política laissez-faire tanto doméstica quanto internacionalmente.

Em resposta à maliciosa e amplamente aceita acusação dos marxistas de que o nazismo era uma expressão do capitalismo, ele demonstrou — em conjunto a tudo o que foi dito acima — que o nazismo era na realidade uma forma de socialismo. Qualquer sistema caracterizado por controles de preços e salários, e consequentemente por escassezes e controles governamentais sobre a produção e a distribuição, como era o nazismo, é um sistema em que o governo é o verdadeiro proprietário dos meios de produção. Afinal, em tais circunstâncias, o governo decide não apenas os preços cobrados e os salários pagos, mas também o que deve ser produzido, em quais quantidades, por quais métodos e para onde tudo deve ser enviado. Essas determinações são as prerrogativas fundamentais da propriedade sobre algo — no caso, do governo sobre todo o sistema econômico. Essa identificação de "socialismo no padrão alemão", como Mises rotulou, é de imenso valor para quem quiser entender a natureza de todas as demandas por controles de preços.

Mises demonstrou que todas as acusações feitas contra o capitalismo ou são totalmente infundadas ou deveriam ser dirigidas contra todos os tipos de intervenção governamental, a qual por definição solapa o funcionamento do capitalismo. Ele esteve dentre os primeiros a apontar que a pobreza dos primeiros anos da Revolução Industrial era herança de toda a história anterior — que ela existia porque a produtividade da mão-de-obra ainda era lastimosamente baixa, pois os cientistas, os inventores, os empreendedores, os poupadores e os investidores podiam somente de maneira muito gradual criar os avanços e acumular o capital necessário para aumentá-la. Ele mostrou que todas as políticas trabalhistas e sociais são na verdade contrárias aos interesses das massas de trabalhadores a que elas se propõem ajudar — seu efeito é causar desemprego, retardar a acumulação de capital e, por conseguinte, reprimir a produtividade da mão-de-obra e o padrão de vida de todos. 

Em uma magistral e original contribuição ao pensamento econômico, Mises mostrou que as recessões edepresssões sempre são o resultado de políticas governamentais que geram ou patrocinam a expansão do crédito com o intuito de reduzir as taxas de juros de mercado. Tais políticas, ele demonstrou, induzem a expansão em larga escala de investimentos errôneos e insustentáveis, os quais destroem capital. Por conseguinte, o sistema econômico passa a sofrer de uma escassez de capital líquido, o que gera contrações no crédito e, subsequentemente, recessões e depressões. Mises foi um proeminente defensor do padrão-ouro e de um sistema bancário regido pelo laissez-faire, sem proteções e privilégios governamentais — algo que, acreditava ele, levaria a um sistema bancário com 100% de reservas em ouro, o que tornaria impossível tanto a inflação quanto a deflação.

O que escrevi até aqui sobre Mises fornece apenas uma extremamente ínfima indicação do conteúdo intelectual que pode ser descoberto em seus escritos. Ele escreveu mais de uma dúzia de livros. E arrisco-me a dizer que não me lembro de ter lido um só parágrafo em qualquer um destes volumes que não contivesse pelo menos um pensamento ou uma observação instigante. Mesmo nas ocasiões em que vejo ser necessário discordar dele (por exemplo, sua visão de que pode existir monopólio sob um genuíno capitalismo de livre mercado, sua defesa do alistamento militar obrigatório, e certos aspectos de suas visões sobre epistemologia, a natureza dos juízos de valor, e o ponto de partida adequado para se estudar economia), sempre considero de extremo valor tudo o que ele tem a dizer, além de ser também um poderoso estímulo para o meu próprio pensamento. Não creio que alguém possa alegar ser genuinamente culto sem ter absorvido uma medida substancial da imensa sabedoria e erudição presentes em suas obras.

Os dois livros mais importantes de Mises são Ação Humana e Socialism, ambos os quais melhor representam a envergadura e a profundidade de seu pensamento. Entretanto, ambos não são livros para iniciantes. Ambos devem ser precedidos por alguns de seus escritos mais populares, como Bureaucracy e Planning for Freedom.

The Theory of Money and Credit, Theory and History, Epistemological Problems of Economics, e The Ultimate Foundations of Economic Science são obras mais especializadas que provavelmente só devem ser lidas após Ação Humana. Outros escritos populares de Mises incluem Omnipotent Government, A Mentalidade Anticapitalista,Liberalismo, Intervencionismo, As Seis Lições, e The Historical Setting of the Austrian School of Economics. Para qualquer um seriamente interessado em economia, filosofia social ou história moderna, toda essa lista deve ser considerada leitura obrigatória.



Mises deve ser julgado não somente como um pensador extraordinariamente brilhante, mas também como um ser humano extraordinariamente corajoso. Ele acima de tudo sempre se manteve inarredavelmente apegado à verdade de suas convicções, sem se importar com o resto, e sempre preparado e disposto a atuar sozinho, sem uma única ajuda, na defesa da verdade. Ele jamais se importou um buscar fama pessoal, posições de prestígio ou ganhos financeiros, pois isso significaria ter de sacrificar seus princípios. Durante toda a sua vida, ele foi marginalizado e ignorado pelo establishment intelectual, pois a verdade de suas visões e a sinceridade e o poder com que as defendia e desenvolvia estraçalhava todo o emaranhado de mentiras e falácias sobre o qual a maioria dos intelectuais de sua época — bem como os de hoje — construiu suas carreiras profissionais.

Foi meu grande privilégio ter conhecido Mises pessoalmente durante um período de vinte anos. Eu o conheci pela primeira vez quando tinha ainda dezesseis anos. Como ele reconhecesse a seriedade do meu interesse em economia, ele convidou-me para assistir ao seminário que ele proferia na New York University a alunos diplomados, ao qual dali em diante compareci praticamente todas as semanas durante os sete anos seguintes, parando de comparecer somente quando o início da minha própria carreira de professor fez com que não mais fosse possível eu continuar mantendo minha presença regular.

Seus seminários, assim como seus escritos, eram caracterizados pelo mais alto nível de erudição e sabedoria, e sempre mantendo o mais profundo respeito pelas ideias. Mises jamais se interessou pela motivação pessoal ou pelo caráter de um autor, e sim por uma só questão: saber se as ideias daquela pessoa eram verdadeiras ou falsas. Da mesma forma, sua postura e comportamento pessoal sempre foram altamente respeitosos, reservados e fonte de amigável encorajamento. Ele constantemente se esforçava para extrair de seus alunos o que neles havia de melhor, para ressaltar suas melhores qualidades. Isso, em conjunto à sua ênfase na importância de saber línguas estrangeiras, levou-me a utilizar parte do meu tempo como aluno universitário para aprender alemão, o que mais tarde levou-me a incorrer na tarefa de traduzir do alemão para o inglês o seu livroEpistemological Problems of Economics — algo que sempre foi uma de minhas realizações mais orgulhosas.

Os livros de Mises merecem ser leitura obrigatória nos currículos de todas as faculdades e universidades — não somente nos departamentos de economia, mas também nos departamentos de filosofia, história, sociologia, ciência política, direito, administração, jornalismo, educação e ciências humanas. Caso fossem sérios, Mises deveria ser imediatamente premiado com um Prêmio Nobel póstumo — aliás, com mais de um. Ele merece receber cada símbolo de reconhecimento e memorial que uma civilização pode conceder a alguém. Mais do que inúmeras outras pessoas, ele batalhou arduamente para preservar a existência da sociedade humana. Se suas obras passarem a ser amplamente lidas, seu esforço pode de fato obter êxito em ajudar a salvá-la.

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George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: http://www.capitalism.net/. Seu blogwww.georgereisman.com/blog/.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

domingo, 7 de outubro de 2012

O DEBATE NECESSÁRIO

A crise atual recolocou o debate econômico no centro do debate político.

Os eleitores entendem, de forma dramática para muitos, que não podem deixar exclusivamente por conta dos políticos a tomada de decisões que afetam a vida de todos.

As eleições recentes na França, na Espanha e na Holanda foram definidas pelas plataformas econômicas dos partidos, como havia ocorrido na vitória do conservador David Cameron, no Reino Unido.

Um eleitor pode não concordar com as decisões econômicas de François Hollande, presidente da França, mas não pode discordar que suas políticas representam a maioria da população francesa.

Essa é uma tendência que veio para ficar. Em democracias mais maduras, a mudança tem ocorrido gradualmente nas últimas décadas --ficou famosa a frase de analista político de Clinton "É a economia, estúpido"-- e se intensificou com a crise.

Nos EUA, as plataformas dos partidos Democrata e Republicano são ancoradas em duas visões econômicas distintas: democratas acreditam num papel maior do Estado, enquanto republicanos defendem a iniciativa privada como o motor do crescimento.

Um deputado republicano que vote por aumento de impostos e despesas públicas corre sério risco de perder a eleição em seu distrito. O mesmo vale para um democrata que vote por corte de impostos para empresas ou de benefícios sociais. O resultado é que as decisões de política econômica tendem a refletir a opinião da maioria dos eleitores, que, por outro lado, tendem a estar mais informados por sentirem-se responsáveis por elas.

O primeiro debate eleitoral entre Barack Obama e Mitt Romney, na quarta, mostrou claramente o impacto decisivo do posicionamento econômico de cada um para a definição do eleitorado. Foi um debate técnico, de substância, com posições definidas, em contraste com muitos de nossos debates evasivos, cheios de frases de efeito, mas que fogem de temas importantes.

O eleitor que assistiu ao debate Obama-Romney não fica com dúvida a respeito da opinião deles sobre temas econômicos, com posições antagônicas e definidas com clareza, incluindo suas implicações. Até a discussão sobre saúde pública se deu pelo viés econômico. Não se prometeu saúde melhor e maravilhosa, como é comum no Brasil, mas se debateu como financiar as mudanças e seus impactos na dívida pública americana.

O Brasil passa por uma fase de grande atenção e importância sendo dadas à ética e ao bom uso dos recursos públicos. Compete a todos nós colaborarmos para que a próxima fase seja dominada pelo debate dos temas que afetam o padrão de vida de todos. Por: HENRIQUE MEIRELLES  Folha de SP

UM DIA A CASA CAI


Incorreu em grave equívoco quem considerou para efeito de ceticismo supostamente engajado que o processo do mensalão acabaria "dando em nada".

As condenações em massa que no Supremo Tribunal Federal alcançam os generais da banda do núcleo político fecham um ciclo. Se, quando e como outro vai se abrir, veremos. Mas a descrença e a apatia até aqui sofreram um duro revés.

Já no recebimento da denúncia, há cinco anos, havia ficado patente que o STF não estava disposto a contemporizar.

Note-se que a composição não era a mesma de hoje. Ainda assim, lá os juízes de maneira quase sempre unânime deram o aviso geral aos navegantes que agora se confirma: chega. Ou os políticos entendem que precisam andar nos trilhos como qualquer cidadão ou terão de arcar com as consequências legais.

Não vai nisso o peso da responsabilidade exclusiva do PT. O partido não inventou a delinquência governamental nem a venalidade legislativa - para usar palavras do ministro Celso de Mello -, não obstante tenha se valido delas à exorbitância.

Agravou um quadro grave quando emprestou à ilicitude sua marca construída na defesa da ética.

Conferiu indulgência social à cultura de transgressão, além de associar sua ideologia aos piores instrumentos, e de se aliar aos mais nefastos operadores para pôr o aparelho de Estado a serviço de um projeto partidário tão longevo quanto hegemônico.

Quando decidiu abrir o processo, o STF também surpreendeu. Pela veemência dos termos usados pelos ministros e pela implacável objetividade do retrato traçado na denúncia do então procurador-geral Antônio Fernando de Souza sobre o esquema montado pelo PT para dar suporte financeiro ao seu projeto.

Na ocasião, o uso de métodos espúrios para o exercício do que se chama de política, mas não passa de pura bandidagem, já tinha chegado ao limite do insuportável. No entanto, mandantes e executores acharam por bem prosseguir.

E pelo visto agora com as apreensões de dinheiro para abastecer campanhas do PT no Amazonas e no Pará, insistem.

Quando se vê um assessor do partido em Manaus ser flagrado com notas na cueca anos depois de vexame semelhante, é de se perguntar o que ainda mais será preciso além de punição pesada para que o recado seja devidamente compreendido.

Não são suficientemente duras as lições de um julgamento em que gente acostumada ao tratamento de "excelência" é chamada de "quadrilha" e referida pela autoria de tramas sórdidas reveladas para todo o País no relato dos autos? Por: Dora Kramer O Estadão

BRASIL DO PT QUE NÃO CRESCE


Brasil terá 2º pior crescimento da América Latina em 2012, prevê Cepal


A economia brasileira vai crescer apenas 1,6% neste ano, a segunda pior taxa dos 20 países da América Latina e à frente apenas do Paraguai, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

A estimativa consta do relatório "Estudo Econômica da América Latina e do Caribe", divulgado nesta terça-feira em Santiago, no Chile.

Na pesquisa, o organismo também revisou para baixo o crescimento da região, dos 3,7% anunciados em junho passado para 3,2%, devido especialmente ao agravamento da crise internacional, relacionada à menor demanda da Europa e dos Estados Unidos, além da desaceleração da China.

Antes da revisão, a Cepal previa que o Brasil cresceria 2,7% neste ano, à frente apenas do Paraguai (-1,5%) na América do Sul, mas também de El Salvador (2,0%) quando se analisa os 20 países da América Latina.

A projeção do organismo indica agora que o crescimento neste ano será encabeçado pelo Panamá (9,5%), seguido do Haiti (6,0%) e do Peru (5,9%). A Bolívia, o Chile, a Costa Rica, a Nicarágua e a Venezuela crescerão 5% este ano, enquanto o México terá expansão de 4%.

O Paraguai será o único país a registrar contração, de -2%, por fatores climáticos excepcionais que destruíram parte de sua produção de soja, principal produto de exportação do país.

Por sub-regiões, o Caribe crescerá 1,6%, a América Central 4,4% e a América do Sul 2,8%.


CRESCIMENTO MENOR

Segundo o organismo, a maior parte dos países sul-americanos e centro-americanos terá, em 2012, taxas de crescimento do PIB "similares ou levemente inferiores" às de 2011.

Por causa disso, o crescimento da América Latina em 2012, prevê o órgão, deverá ser de 3,2% contra 4,3% em 2011, devido principalmente à desaceleração da Argentina (2%) e do Brasil (1,6%), que, juntos, têm peso considerável no PIB da região.

No relatório, a Cepal aponta que o Brasil experimentou um "processo de desaceleração mais forte que os demais países durante o último semestre de 2011".

Os primeiros sinais de retomada da economia, acrescenta a Cepal, só começaram a ser observados no início do segundo semestre deste ano, acrescentou o organismo.

Na avaliação da Cepal, a força do consumo privado na região impediu uma queda mais brusca da atividade econômica, graças à evolução do mercado de trabalho, do aumento do crédito e, em alguns casos, das remessas.

Segundo o organismo, a diminuição nos níveis de desemprego aliada aos salários mais altos têm contribuído para a expansão moderada da demanda interna nos países latino-americanos e, consequentemente, de seu consumo.

Por outro lado, o enfraquecimento da demanda externa e a queda no valor da maioria dos principais bens básicos de exportação, transformou o comércio exterior no "principal canal de transmissão das crises internacionais para a economia da América Latina".

"O desempenho econômico da América Latina e do Caribe em 2012 e 2013 está sujeito, em boa parte, à forma tomada pelos processos de ajuste dos países desenvolvidos, assim como a desaceleração da China, embora vá depender da própria capacidade de resposta da região", afirmou Alicia Bárcena, secretária-Executiva da Cepal, na apresentação do estudo.

Apesar de a turbulência externa, avalia a Cepal, a região tem acumulado uma "experiência valiosa" nos últimos anos, o que "permitiu responder adequadamente às turbulências externas".

Segundo o relatório, a maioria dos países da América Latina tem, hoje, espaço fiscal para enfrentar a crise com políticas contracíclicas que permitam estabilizar a trajetória do emprego, o investimento e o crescimento.

2013

No ano que vem, a Cepal projeta uma recuperação das economias do Brasil e da Argentina, o que contribuirá, segundo o organismo, para a maior parte da elevação do crescimento médio da região em 2013, quando deve registrar alta de 4%.

Apesar da retomada, o órgão alerta para a "continuação da trajetória levemente descendente do crescimento" na maior parte dos países sul-americanos, mais dependentes das exportações de produtos básicos para a China.

No Caribe, informa o organismo, a recuperação será "paulatina", com taxas de crescimento levemente superiores às de 2012, nos países mais dependentes do turismo.

No relatório, a Cepal também adverte que o investimento na região tem sido especialmente vulnerável diante dos choques externos.

Para minimizar os efeitos do problema, o organismo recomenda um esforço para a estabilização econômica que coordene políticas fiscais, monetárias, cambiais e macroprudenciais.

Segundo o órgão, tal estratégia favoreceria não somente uma maior estabilidade do crescimento do produto, do investimento e do emprego, mas também a redução da heterogeneidade produtiva e da desigualdade social. Por: BBC Brasil

NA RETA FINAL, CAPRILES NA CABEÇA!



caprillesFaltando apenas dois dias para as eleições na Venezuela, onde a esperança de terminar com o período de 14 anos de ditadura castro-comunista é crescente entre a população, o Notalatina, que há 10 anos vem denunciando os crimes cometidos por Chávez, não poderia se furtar a trazer mais informações que não são divulgadas pela mídia, nacional e internacional, sempre rendidas aos ditames da esquerda.
Leio em vários jornais da América Latina (porque há anos não leio nada publicado pela imprensa brasileira sobre os países vizinhos, uma vez que mentem, omitem e torcem os fatos) que há um “empate técnico” entre Chávez e Capriles, que no encerramento de campanha havia “um mar de gente a favor de Chávez” mas, como eles sabem que mentem em prol do bolivariano e não mostram nem fotos nem outra prova disso, com muito gosto provo que a mentira tem as pernas bem curtinhas.
Assistam abaixo a um vídeo do último comício de Chávez, onde o canal Globovisión, que fez a cobertura e esta gravação, afirma que Chávez não encheu “nem a metade da Avenida Bolívar”. Por outro lado, a foto do último comício de Capriles que ilustra essa edição, mostra a multidão que o apóia e essa foto tem uma história. Ela foi tirada de um apartamento do Hotel Alba, pela equipe de fotógrafos da Escola de Fotografia Roberto Mata, coordenada por Rodrigo Diamandi, de Liderazgo y Visión, e fotografada por Andrew Cavaleri, Lina Sabbagh, Kathiana Cardona e Hernán Yánez, em resposta à proibição de se tomar fotos aéreas, certamente para não expor o mico-mandante ao vexame de sua meia-dúzia de gatos pingados contra a multidão de Capriles. 
Pois bem, essa equipe ousada alugou um apartamento do hotel que pudesse dar uma visão bem ampla da Avenida Bolívar. A gerência do hotel desconfiou, invadiu o quarto e revistou tudo, chegando a pedir que os hóspedes deixassem o hotel. Eles negociaram com o gerente e, escondendo os equipamentos, puderam tirar essa foto histórica. A foto e o vídeo não mentem!
A respeito dessas eleições, as notícias veiculadas são gravíssimas pois, como era de se esperar - e ocorre em todas as eleições na Venezuela -, os seguidores de Chávez já informaram que vão “mandar chumbo” se a oposição “não aceitar a vitória de Chávez”. As pesquisas de opinião dão como certa a vitória de Capriles por mais de 7 pontos de vantagem, daí que temo que depois que o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) anunciar a derrota de Chávez, suas milícias vão atacar com fúria e muito sangue vai correr. E isto não é especulação da minha parte, mas afirmações feitas pelo chefe dos “Tupamaros”, Alberto “Chino” Carías, em entrevista ao periódico ABC da Espanha. Traduzo parte dessa entrevista para que vocês possam conhecer o que disse este delinqüente que já tem em sua ficha policial mais de 10 assassinatos, todos impunes, acobertados por Chávez.
“O presidente Hugo Chávez disse que reconhecerá os resultados? 
Exatamente, porque Chávez ganhará. Porém, se a oposição desconhece isso e chama as guarimbas a partir das 16:00 horas, vamos enfrentá-las. (Observação minha: na matéria ele afirma que a Guarimba são “focos de violência” mas é exatamente o contrário: é uma resistência pacífica em que as pessoas se concentram nas ruas fechando passagens, SEM O USO DE QUALQUER TIPO DE ARMA OU VIOLÊNCIA).
Como farão? 
Com chumbo. Será um formigueiro. Estamos preparados e bem armados. Vamos em moto, carro ou a pé. E se vemos agitação na rua, colocamos o capuz e tiramos as armas.
O que vocês vão fazer se a autoridade eleitoral declarar Capriles ganhador? 
Passamos à resistência ativa. Ativaremos todas as células para denunciar a extrema direita. Um governo de Capriles teria o povo agitado e mobilizado. Isso Chávez nos ensinou.
Qual é o seu vínculo com o terrorista venezuelano “Carlos” Ilich Ramírez “o Chacal”, preso na França?
Temos contato telefônico.
E seus vínculos com o ETA?
Somos aliados políticos do ETA e das FARC, mas não vou dar mais detalhes pelo mal antecedente que tivemos com o espanhol “El Palestino”, que se infiltrou em nossa organização e gravou nossas atividades com câmera escondida sem dizer que era um jornalista. (Obs. O jornalista espanhol que usa o cognome “Antonio Salas” infiltrou-se não só entre os “Tupamaros” mas também com os “Carapaica” e fez-se amigo de Carlos “o Chacal”, para escrever seu magnífico livro “O Palestino”).
Quem lhes financia”? 
Isso é um segredo militar.
Quantos membros têm os “Tupamaros”?
É um segredo militar. Temos células em toda a Venezuela.
Como você se define? 
Como um guerrilheiro marxista-leninista. Somos vigilantes revolucionários armados. Se houver alguma tentativa de golpe os tiraremos a fogo e chumbo, como o fizemos em abril de 2002”.
Bem, aí estão as declarações de “Chino” Carías e a confissão daquilo que a Venezuela inteira sabe: que foram os sicários de Chávez que promoveram a chacina de Puente Llaguno e da praça Francia de Altamira, que resultou em uma centena de feridos e alguns mortos. Por este crime do qual ninguém esquece, estão apodrecendo na cadeia os que tentaram impedir a barbárie: os delegados de Polícia Vivas, Forero e Simonovis.
Esta edição traz outro fato que não se comenta em nenhum lugar no Brasil, e que revela mais um pouco das atitudes de Chávez quando alguém começa a servir de estorvo a seus planos, embora tenha sido durante anos nada mais que seu capacho. É verdade que o defunto não merecia esse fim, pois sou totalmente contrária a qualquer tipo de tortura e morte como forma de vingança ou queima de arquivo, mas essa é a única maneira que Chávez e seus mentores cubanos conhecem para “eliminar da foto” alguém que pode pôr seus planos em perigo. O fato aconteceu no sábado 09 de setembro e foi cuidadosamente abafado, alegando-se que a vítima “caiu do teto” do Fuerte Tiuna, onde funciona o Ministério da Defesa e servia de residência ao Sargento da Guarda Nacional Antonio José Canchica. Leiam a tradução dessa história macabra, que só teve uma repercussão rasteira na Argentina, pois diz respeito àquela maleta com 800 mil dólares que Chávez deu à Cristina Kirchner para compra de votos de sua re-eleição.

Assassinado o Sargento Técnico de 1ª (GN) Antonio José Canchica
Carlos Arosemena
antocanchi
 
Antonini e Canchica em Miami
“No sábado passado (09.09), às três horas da manhã, foi assassinado o Sargento Técnico de Primeira (GN) Antonio José Canchica no Fuerte Tiuna. O sargento era Diretor do gabinete do atual Ministro da Defesa, General-em-Chefe (Ex) Henry de Jesús Rangel Silva. Canchica era um expert em inteligência e agente de confiança do ministro Rangel que, quando era Diretor da DISIP (polícia política chavista), o enviou a Miami para tratar de negociar com Antonini Wilson a famosa maleta para a campanha presidencial argentina, capturado por agentes da aduana de Buenos Aires com 800 mil dólares, ilegalmente enviados pelo Presidente Chávez para a campanha eleitoral de Néstor Kirchner e sua mulher Cristina.
Informam-nos que Canchica foi torturado e jogado desde o 4º andar, edifício 8-1 em Fuerte Tiuna. A razão: medo de que ele falasse antes do iminente final do regime castro-comunista na Venezuela. Aparentemente, Canchica sabia muito e clamava que, enquanto seus chefes estavam todos gordos, ricos e poderosos, ele havia arriscado o couro durante as ações dignas de filmes de espionagem, quando escapou em uma lancha rápida desde Miami para não ser capturado pelo FBI e a CIA que estavam em seus calcanhares, e foi recolhido em águas internacionais por uma lancha do G2 cubano e conduzido até a Embaixada venezuelana em Havana.
Canchica, o espião venezuelano em missão oficial com poder para negociar o silêncio de um delito cometido em quatro nações, o James Bond dessa trama, não tinha nem um bolívar para garantir seu futuro. O pobre agente de inteligência tinha que se conformar em viver em uma residência da guarnição alugada no Fuerte Tiuna e com o tanto que sabia sobre as andanças dos narco-generais, considerava que deveria receber sua parte do botim ou se veria obrigado a falar. Mantiveram Canchica por um longo tempo na Embaixada da Venezuela em Cuba, enquanto esfriava o escândalo da maleta argentina de Antonini Wilson.
Este crime forma parte do canibalismo castro-chavista que se desatou nos últimos meses. Dessa maneira, fizeram desaparecer uma testemunha-chave nas aventuras de um General-em-Chefe solicitado por narco-tráfico pelas autoridades norte-americanas. Segundo Pablo Medina, o sargento foi enterrado no cemitério da Guairita no setor 22C N72. “Henry Rangel Silva me disse que estava mandando um homem de sua inteira confiança para me ver, que vão me dar os recibos, o dinheiro, para que eu cale a boca e não fale com ninguém”, explicou Antonini Wilson depois de ter sido detido pelo FBI em 2007.
Recentemente Antonini declarou ante os meios de comunicação que não acreditava na versão do suicídio do Sargento Canchica, fornecida pelo governo do presidente que está de saída. Nestes tempos de escape, quando restam poucos dias ao regime, tudo sai à luz pública. Alguns queimam gabinetes governamentais, outros destroem papéis comprometedores ou transferem propriedades em nome de testas-de-ferro, mas os mais temerosos e com poder, ordenam assassinar testemunhas indesejáveis. É por isso que o Coronel (GN)Eladio Aponte Aponte fugiu para os Estados Unidos para salvar sua vida, já que sua consciência estava a ponto de transbordar por seus crimes cometidos por ordem de Chávez, entre os quais se encontra haver condenado a 30 anos de prisão os delegados e policiais que, cumprindo com o seu dever de defender os cidadãos, salvaram centenas de vidas durante os tiroteios de Puente Llaguno, quando pistoleiros afeitos ao regime massacraram a tiros toda uma população indefesa que marchava pacificamente para Miraflores.
Esse encontro entre Canchica e Antonini, entretanto, ficou imortalizado em um vídeo e umas quantas fotografias. O jornalista do diário venezuelano El Nacional, Javier Mayorca, reportou por Twitter que “faleceu um dos protagonistas centrais do capítulo norte-americano do ‘Caso Antonini’. Trata-se de Antonio José Canchica Gómez, o emissário que o então chefe da Inteligência venezuelana, Henry Rangel Silva enviou aos Estados Unidos. Agora, quase cinco anos depois daquela reunião em Plantation (nos arredores de Fort Lauderdale), ao que parece morreu Canchica”. Segundo o jornalista, o Sargento Técnico de Primeira da Guarda Nacional venezuelana, faleceu aos 41 anos ao cair do teto de uma residência no Fuerte Tiuna. Com o assassinato do Sargento Canchica, encerra-se mais um capítulo do regime de terror castro-comunista encabeçado pelo presidente que vai sair”.
Notalatina vai ficar atento às eleições da Venezuela e vai informar todos os acontecimentos sobre o evento, além do resultado final. Fiquem com Deus e até a próxima! Por: Graca Salgueiro

sábado, 6 de outubro de 2012

CERVEJA COM MILHO?


Cerveja nacional tem muito milho, afirma pesquisa da USP
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

Uma das análises químicas mais completas já feitas com marcas de cerveja do Brasil e do exterior dá peso a uma tendência que estudos menores já indicavam: as grandes marcas nacionais têm elevadas quantidades de milho em sua composição, embora a matéria-prima tradicional da bebida seja a cevada.

São os nomes mais conhecidos do público, como Antarctica, Brahma, Skol e Nova Schin (veja infográfico abaixo). A análise sugere que essas marcas estão no limite da porcentagem de milho como matéria-prima para cerveja que a legislação nacional determina (45%) ou podem até tê-lo ultrapassado.

As empresas produtoras questionaram a análise (leia texto abaixo). Por outro lado, o estudo indicou que algumas cervejas em pequena escala possuem o teor que se esperaria de uma bebida feita só com água, cevada e lúpulo, como reza a tradição alemã.

A pesquisa é assinada por cientistas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da USP de Piracicaba, e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O grupo piracicabano, coordenado por Luiz Antonio Martinelli, já estudou cervejas antes, além de verificar a presença de álcool de cana no vinho nacional.

"Ninguém aqui está dizendo que a cerveja é pior por ter milho --aliás, eu nem bebo cerveja, só vinho", diz Martinelli. Ele ressalta também que o trabalho tem margens de erro e que o propósito não foi denunciar que certas marcas não seguem a lei.

"A diferença de composição é muito pequena [no caso das que parecem ter muito milho]", diz a bióloga Sílvia Mardegan, orientanda de Martinelli e autora principal do estudo, que sairá na revista científica "Journal of Food Composition and Analysis".

Além disso, ela lembra que só uma unidade de cada marca foi estudada, e que existem variações por lote e por região do país. Por outro lado, a variedade de marcas (77, sendo 49 nacionais e 28 importadas) ajuda a dar um panorama amplo do mercado

BALANÇA DE ÁTOMOS

Em essência, o método da USP de Piracicaba é uma balança de átomos. Isso porque os átomos de carbono que os seres vivos usam em seu organismo existem em dois "pesos" principais, o carbono-12 e o carbono-13 (o segundo um pouco mais "gordo").

As plantas incorporam carbono o tempo todo em seu organismo durante a fotossíntese. Só que algumas têm um "paladar" diferenciado. São, por exemplo, as gramíneas tropicais, como o milho e a cana, que "preferem" uma proporção relativamente maior de carbono-13.

É essa assinatura que os cientistas usam para diferenciá-las de plantas como a cevada ou a uva, que têm menos apreço pelo carbono-13.

Os pesquisadores estabeleceram qual era o "perfil de carbono" da cevada e o do milho e fizeram a mesma análise na cerveja. Se a proporção das variantes do elemento químico na cerveja era intermediário, o veredicto só podia ser um: mistura.

O método tem algumas limitações. Teria mais dificuldade de flagrar o uso de arroz na cerveja, já que o perfil de carbono do arroz é semelhante ao da cevada.

Sady Homrich, especialista em cerveja e colunista do do caderno "Comida", da Folha, diz que o consenso entre cervejeiros é que diminuir o teor de cevada acaba afetando a qualidade da bebida.

"A boa cerveja é a de puro malte de cevada, porque você pode explorar variações de sabor e aroma vindas da secagem e da torrefação da cevada", afirma Homrich.

Apesar do argumento de que o milho deixaria a cerveja mais leve, Homrich diz que a grande preocupação da indústria é diminuir o custo.

OUTRO LADO

Em comunicados, os fabricantes de cervejas com alto teor de milho apontado pela pesquisa defenderam a qualidade de seus produtos.

A Ambev, fabricante das marcas Caracu, Antarctica, Brahma, Bohemia e Skol, afirmou que "controlar a quantidade de malte de cevada é necessário para obter cerveja com características adaptadas ao paladar do consumidor brasileiro: leve, refrescante e de corpo suave".

"A indústria brasileira de cerveja possui tradição de mais de cem anos e tem orgulho de produzir bebidas de altíssima qualidade. A Ambev leva aos seus milhões de consumidores receitas seculares produzidas com os melhores insumos disponíveis em todo o mundo", continua o comunicado oficial.

A empresa disse ainda que seus produtos seguem à risca as determinações do Ministério da Agricultura e que está investindo na produção nacional de cevada e em quatro maltarias próprias.

Já a Schincariol, que produz a Nova Schin e a Glacial, diz que "respeita as iniciativas de pesquisas realizadas pela USP, mas ressalta que a metodologia utilizada no mencionado estudo não é a determinada pelo Ministério da Agricultura".

A empresa afirma que "está à disposição dos pesquisadores responsáveis pelo estudo para esclarecer possíveis dúvidas sobre seus produtos ou processos".

"É um trabalho interessante, mas discordamos dos resultados", disse à Folha Humberto de Lazari, gerente corporativo industrial do Grupo Petrópolis, das cervejas Itaipava e Crystal.

Ele afirmou que as imprecisões técnicas da pesquisa seriam discutidas de forma mais apropriada "num fórum técnico", mas ressaltou que a empresa usa menos do que os 45% de produtos não derivados de cevada em suas bebidas --disse não poder revelar a proporção exata.

A legislação não exige que as empresas declarem nos rótulos a composição exata das cervejas que produzem.

Lazari questionou a afirmação do estudo de que o milho aceleraria o processo de produção, cortando custos.

A Heineken, hoje responsável pela Kaiser, declarou em comunicado que "já possuía conhecimento da publicação, mas não encontrou relevância no artigo, pois a análise científica possui diversas inconsistências".

"Entre os vários equívocos da publicação, destacam-se os erros explícitos de amostragem estatística e o fato de o cientista não ter considerado o isótopo de nitrogênio. Com isso, como o próprio trabalho da USP reconhece, a utilização de arroz poderia influenciar nos números."

Martinelli, da USP, diz estar aberto a conversar com as empresas, mas afirmou confiar em sua metodologia.
Editoria de arte/Folhapress

A HORA DA SAIDEIRA



Na semana passada, li um artigo do professor Marco Antonio Villa, que não conheço pessoalmente, mostrando, em última análise, como a era Lula está passando, ou até já passou quase inteiramente, o que talvez venha a ser sublinhado pelos resultados das eleições. Achei-o muito oportuno e necessário, porque mostra algo que muita gente, inclusive os políticos não comprometidos diretamente com o ex-presidente, já está observando há algum tempo, mas ainda não juntou todos os indícios, nem traçou o panorama completo.

O PT que nós conhecíamos, de princípios bem definidos e inabaláveis e de uma postura ética quase santimonial, constituindo uma identidade clara, acabou de desaparecer depois da primeira posse do ex-presidente. Hoje sua identidade é a mesma de qualquer dos outros partidos brasileiros, todos peças da mesma máquina pervertida, sem perfil ideológico ou programático, declamando objetivos vagos e fáceis, tais como "vamos cuidar da população carente", "investiremos em saneamento básico e saúde", "levaremos educação a todos os brasileiros" e outras banalidades genéricas, com as quais todo mundo concorda sem nem pensar. No terreno prático, a luta não é pelo bem público, nem para efetivamente mudar coisa alguma, mas para chegar ao poder pelo poder, não importando se com isso se incorre em traição a ideais antes apregoados com fervor e se celebram acordos interesseiros e indecentes.

A famosa governabilidade levou o PT, capitaneado por seu líder, a alianças, acordos e práticas veementemente condenadas e denunciadas por ele, antes de chegar ao poder. O "todo mundo faz" passou a ser explicação e justificativa para atos ilegítimos, ilegais ou indecorosos. O presidente, à testa de uma votação consagradora, não trouxe consigo a vontade de verdadeiramente realizar as reformas de que todos sabemos que o Brasil precisa - e o PT ostentava saber mais do que ninguém. No entanto, cadê reforma tributária, reforma política, reforma administrativa, cadê as antigas reformas de base, enfim? O ex-presidente não foi levado ao poder por uma revolução, mas num contexto democrático e teria de vencer sérios obstáculos para a consecução dessas reformas. Mas tais obstáculos sempre existem para quem pretende mudanças e, afinal, foi para isso que muitos de seus eleitores votaram nele.

O resultado logo se fez ver. Extinguiu-se a chama inovadora do PT, sobrou o lulismo. Mas que é o lulismo? A que corpo de ideias aderem aqueles que abraçam o lulismo? Que valores prezam, que pretendem para o País, que programa ou filosofia de governo abraçam, que bandeiras desfraldam além do bolsa família (de cujo crescimento em número de beneficiados os governantes petistas se gabam, quando o lógico seria que se envergonhassem, pois esse número devia diminuir e não aumentar, se bolsa família realmente resolvesse alguma coisa) e de outras ações pontuais e quase de improviso? É forçoso concluir que o lulismo não tem conteúdo, não é nada além do permanente empenho em manter o ex-presidente numa posição de poder e influência. O lulismo é Lula, o que ele fizer, o que quiser, o que preferir.

Isso não se sustenta, a não ser num regime totalitário ou de culto à personalidade semirreligioso. No momento em que o ex-presidente não for mais percebido como detentor de uma boa chave para posições de prestígio, seu abandono será crescente, pois nem mesmo implica renegar princípios ou ideais. Ele agora é político de um partido como qualquer outro e, se deixou alguma marca na vida política brasileira, esta terá sido, essencialmente, a tal "visão pragmática", que na verdade consiste em fazer praticamente qualquer negócio para se sustentar no poder e que ele levou a extremos, principalmente considerando as longínquas raízes éticas do PT. Para não falar nas consequências do mensalão, cujo desenrolar ainda pode revelar muitas surpresas.

O lulismo, não o hoje desfigurado petismo, tem reagido, é natural. Os muitos que ainda se beneficiam dele obviamente não querem abdicar do que conquistaram. Mas encontram dificuldades em admitir que sua motivação é essa, fica meio chato. E não vêm obtendo muito êxito em seus esforços, porque apoiar o lulismo significa não apoiar nada, a não ser o próprio Lula e seu projeto pessoal de continuar mandando e, juntamente com seu círculo de acólitos, fazendo o que estiver de acordo com esse projeto. Chegam mesmo à esquisita alegação de que há um golpe em andamento, como se alguém estivesse sugerindo a deposição da presidente Dilma. Que golpe? Um processo legítimo, conduzido dentro dos limites institucionais? Então foi golpe o impeachment de Collor e haverá golpe sempre que um governante for legitimamente cassado? Os alarmes de golpe, parecendo tirados de um jornal de 30 ou 40 anos atrás, são um pseudoargumento patético e até suspeito, mesmo porque o ex-presidente não está ocupando nenhum cargo público.

É triste sair do poder, como se infere da resistência renhida, obstinada e muitas vezes melancólica que seus ocupantes opõem a deixar de exercê-lo. O poder político não é conferido por resultados de pesquisas de popularidade; deve-se, em nosso caso presente, aos resultados de eleições. O lulismo talvez acredite possuir alguma substância, mas os acontecimentos terminarão por evidenciar o oposto dessa presunção voluntarista. Trata-se apenas de um homem - e de um homem cujas prioridades parecem encerrar-se nele mesmo. Mas sua saída de cena não deverá ser levada a cabo com resignação. Ele insistirá e talvez ainda o vejamos perder outra eleição em São Paulo. Não a do Haddad, que aparentemente já perdeu. Mas a dele mesmo, depois que o mundo der mais algumas voltas e ele quiser iniciar uma jornada de volta ao topo, com esse fito candidatando-se à Prefeitura de São Paulo.
Por: JOÃO UBALDO RIBEIRO - O Estado de S.Paulo

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

IMPROVISAÇÃO E IMEDITATISMO

A condução da política econômica vem sendo marcada por duas dificuldades: improvisação e prevalência do imediatismo sobre preocupações mais permanentes, de prazo mais longo. São tantos os exemplos que não há como dar conta de todos neste artigo. Mas basta mencionar alguns deles para que a extensão dessas dificuldades possa ser percebida.


1. Desde meados do ano passado, o governo vem fazendo grande alarde com a desoneração da folha de pagamentos da indústria. O que começou como um projeto piloto, que favorecia quatro setores, assumiu agora proporções bem maiores.

Desonerar a folha é, em princípio, uma boa ideia. Mas, em vez de simplesmente reduzir a contribuição patronal, o governo partiu para desastrada mudança de base fiscal. Contribuição sobre faturamento e não mais sobre a folha, com alguma desoneração embutida na troca.

O problema é que a mudança reintroduz, pela porta dos fundos, a famigerada tributação cumulativa sobre faturamento, uma deformidade fiscal desnecessária da qual o país havia praticamente se livrado, graças ao louvável esforço de reforma tributária do primeiro governo do presidente Lula.

2. Desonerar a energia elétrica também era uma boa ideia. Mas, para que houvesse redução significativa da brutal carga tributária que recai sobre as tarifas, era essencial que os governadores fossem engajados no esforço de desoneração, já que boa parte da carga advém das escorchantes alíquotas de ICMS impostas pelos Estados. Não seria fácil, mas a União teria muito o que oferecer numa negociação séria com os Estados sobre a questão. Em vez de tentar avançar nessa linha, o que fez o governo? Preferiu uma redução arbitrária de preços pagos ao produtor de energia, que desincentiva investimentos na expansão da oferta e deixa a conta da desoneração nas costas do contribuinte.

3. Desde pelo menos 2008, o governo parece empenhado num esforço metódico de demolição da construção institucional que redundou na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Especialmente lamentável nessa demolição foi a violação da regra de estrita separação entre contas do Tesouro e das instituições financeiras federais. Nos últimos anos, montou-se no BNDES um gigantesco orçamento fiscal paralelo, alimentado por fartas transferências diretas do Tesouro, não contabilizadas nem no Orçamento e nem nas estatísticas de dívida líquida e de resultado primário. Com o avanço da demolição institucional, tal esquema foi agora estendido à CEF e ao Banco do Brasil, que passaram a ser também nutridos, nas mesmas bases, com generosas transferências do Tesouro.

4. Políticas improvisadas costumam ser marcadas por pouca reflexão prévia e percepção incompleta dos prováveis desdobramentos de medidas supostamente bem intencionadas. É o que se observa com especial nitidez nas impensadas restrições que o governo decidiu impor à exploração do pré-sal. De um lado, exige-se que a Petrobras tenha monopólio da operação dos campos do pré-sal e participação de pelo menos 30% em cada consórcio que venha a explorar tais campos. De outro, que os equipamentos utilizados no pré-sal tenham nada menos que 65% de conteúdo nacional. Está a cada dia mais claro que tais restrições vêm impondo enorme ônus à Petrobras, sobrecarregando em demasia suas necessidades de investimento e trazendo atrasos inaceitáveis à exploração do pré-sal. A questão agora é como livrar a Petrobras e o pré-sal dessa estapafúrdia camisa de força, sem que o recuo imponha custo político excessivo ao governo.

5. Na condução da política comercial, o governo achou que o Brasil poderia, impunemente, esquecer sua estatura e passar a se comportar como uma Argentina. Agora, queixa-se da perda do respeito internacional que, a duras penas, o país havia conseguido angariar nessa área, ao mostrar, durante anos, que estava seriamente engajado num jogo cooperativo de combate ao cerceamento do comércio mundial. Bastaram poucos meses para que tal reputação fosse destruída. Agora é tarde. E não adianta esbravejar.

Por: Rogério Furquim Werneck, O GLOBO

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O CREPÚSCULO DE UM MITO




Fidel Castro, repetindo o também tirano Adolf Hitler, disse certa vez que a História iria absolvê-lo. Winston Churchill, por sua vez, teria dito que a História seria boa com ele, afinal, ele mesmo pretendia escrevê-la. Os vencedores dominam a prensa, principalmente em países sem ampla cultura de liberdade, como Cuba.

Mas, na Inglaterra, há liberdade, e se a História foi mesmo favorável a Churchill, isso se deve aos seus acertos maiores que erros, e não ao seu poder de influência sobre a imprensa e o pensamento. Já Fidel certamente não será absolvido pela História, a despeito da ditadura e da máquina de propaganda que montou em sua ilha particular.

Em outras palavras, o tempo costuma ser o maior aliado da verdade, o que dá esperança aos defensores da decência. Nem sempre ela vem à luz. Mas quando há alguma liberdade de pensamento e de imprensa, cedo ou tarde os fatos emergem do pântano da ignorância, espalhando seu odor antes disfarçado. É possível enganar algumas pessoas por muito tempo, mas é difícil enganar todos, o tempo todo.

Disse isso tudo para chegar ao Nosso Guia. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva parecia acreditar na possibilidade de ser absolvido pela História. Na verdade, vaidoso que só ele, Lula certamente tinha a esperança de ser reverenciado pela História. O tempo mostraria que o Mensalão não passara de uma armação de golpistas da elite para manchar a honra deste grande estadista do povo. Não tão rápido...

Aos poucos o Brasil vai mudando, e o mito Lula vai sendo desconstruído. O julgamento da História, quando passar o burburinho do momento, será duro com o líder do PT. Afinal de contas, ao contrário da propaganda dos “intelectuais” durante décadas, a verdade é que não há nada de louvável em sua trajetória. Desde os tempos de sindicalista até a posição de ex-presidente, Lula tem sido uma pessoa que merece raríssimos elogios, e infindáveis críticas.

Rótulos como “egocêntrico”, “megalomaníaco”, “mitomaníaco”, “imoral” e “inescrupuloso” combinam infinitamente mais com sua pessoa do que os adjetivos criados pelos “intelectuais” bajuladores do “homem do povo”. Lula sempre fez tudo em causa própria, sempre demonstrou uma sede incrível pelo poder, e se mostrou disposto a quase tudo em nome deste objetivo. Com o tempo, isso tudo ficará mais claro para as pessoas.

O “legado” sócio-econômico, um dos poucos pilares que seus acólitos usam para sustentar a imagem do mito, também será desfeito com o passar do tempo. Ficará evidente para muitos que tudo não passou de uma enorme onda de fora, mais especificamente da China, que inflou as economias dos países emergentes ricos em recursos naturais como o Brasil. Tudo isso com o auxílio das turbinas monetárias dos bancos centrais de países desenvolvidos.

Até mesmo uma das poucas áreas que muitos ainda concedem o epíteto de “gênio” ao Lula será revisada em breve. Lula não é um “gênio” da política. Sim, ele tem algum carisma, em parte porque o povão se identifica com seu jeito. Sim, ele tem alguma habilidade na comunicação com as massas, abusando de retórica sensacionalista e demagógica. Por esta ótica, ele seria quase tão “gênio” quanto Hitler ou Mussolini, nada que uma pessoa minimamente íntegra poderia se orgulhar.

Mas nem mesmo isso é tão verdadeiro assim. As pessoas se esquecem de que Lula perdeu três eleições seguidas para presidente! Que grande comunicador invencível é esse? Depois ele conseguiu eleger seu “poste”, mas, novamente, isso se deve bem mais ao crescimento chinês e às peripécias de Bernanke do que ao seu talento para transferir votos. Lula contou mais com a sorte do cenário externo do que qualquer coisa.

Isso começa a ficar claro agora nas eleições municipais, durante o julgamento do Mensalão, em que Lula não chega a ser um grande puxador de votos para prefeitos. Alguns já ensaiam até um afastamento gradual da figura do todo-poderoso, enquanto o próprio aproveita para se aproximar de Paulo Maluf. O “gênio” da política, ao que parece, não passa de um analista cego que ignora as mudanças no país e a crescente demanda por mais ética por parte da classe média. Não há muito espaço para o fisiologismo escancarado de Lula nessa configuração.

Posso estar sendo otimista demais, esperançoso ao extremo. Reconheço. Pode ter muito dedesejo em minha análise. Mas acredito, realmente, que o Brasil irá amadurecer com o tempo a ponto de compreender que Lula foi uma enorme mancha negra na política nacional. Maluf, Collor, Sarney e tantos outros ainda estão por aí, é verdade, todos inclusive aliados do próprio Lula.

Há muita ignorância no país; os safados se fartam. Mas, ao menos, nenhum deles goza de uma aura de santo, de estadista, de líder popular disposto a sacrifícios pelo povo. A imensa maioria os enxerga como são: oportunistas inescrupulosos que só querem o poder. Lula, finalmente, fará parte dessa lista. De preferência no topo dela, pois essa liderança ele merece.

O Brasil ainda vai conviver com os estragos institucionais e morais causados pela gestão Lula por muito tempo. Mas tudo indica que o mito será destruído de vez. Os canalhas que ajudaram a criá-lo farão o que sabem fazer: dissimular e fingir que nunca tiveram nada com aquilo, que estão muito decepcionados. Alguns ainda insistem em inflar o mito, talvez calculando que o estrago não será fatal e que a lealdade, moeda importante na máfia, será muito bem compensada se o homem regressar com tudo ao poder. Quem viver, verá.

De minha parte, resta a consciência limpa de jamais ter acreditado, por um único segundo, nesse sujeito indecente, por ter combatido tudo o que ele representa desde o primeiro momento, por ter alertado em dezenas de artigos e vídeos para os riscos que ele representava. Lutei a boa luta dentro de minhas limitações, e isso me dá orgulho.

É hora de aproveitar o regozijo merecido e observar o crepúsculo do mito Lula, ainda que a Justiça, para ser efetivada, tivesse que condená-lo como “o chefe” do maior escândalo de corrupção da história de nosso país. Mas aí já seria sonhar alto demais. Sou mais realista, e me contento com menos. Basta vê-lo desmoralizado. E saber que, para alguém vaidoso como ele, deve ser desesperador imaginar que o futuro reserva palavras nada bonitas sobre sua história, apesar da máquina de mentira a seu dispor. Adeus, mito Lula. Já vai tarde! 

Por: Rodrigo Constantino