domingo, 7 de outubro de 2012

O DEBATE NECESSÁRIO

A crise atual recolocou o debate econômico no centro do debate político.

Os eleitores entendem, de forma dramática para muitos, que não podem deixar exclusivamente por conta dos políticos a tomada de decisões que afetam a vida de todos.

As eleições recentes na França, na Espanha e na Holanda foram definidas pelas plataformas econômicas dos partidos, como havia ocorrido na vitória do conservador David Cameron, no Reino Unido.

Um eleitor pode não concordar com as decisões econômicas de François Hollande, presidente da França, mas não pode discordar que suas políticas representam a maioria da população francesa.

Essa é uma tendência que veio para ficar. Em democracias mais maduras, a mudança tem ocorrido gradualmente nas últimas décadas --ficou famosa a frase de analista político de Clinton "É a economia, estúpido"-- e se intensificou com a crise.

Nos EUA, as plataformas dos partidos Democrata e Republicano são ancoradas em duas visões econômicas distintas: democratas acreditam num papel maior do Estado, enquanto republicanos defendem a iniciativa privada como o motor do crescimento.

Um deputado republicano que vote por aumento de impostos e despesas públicas corre sério risco de perder a eleição em seu distrito. O mesmo vale para um democrata que vote por corte de impostos para empresas ou de benefícios sociais. O resultado é que as decisões de política econômica tendem a refletir a opinião da maioria dos eleitores, que, por outro lado, tendem a estar mais informados por sentirem-se responsáveis por elas.

O primeiro debate eleitoral entre Barack Obama e Mitt Romney, na quarta, mostrou claramente o impacto decisivo do posicionamento econômico de cada um para a definição do eleitorado. Foi um debate técnico, de substância, com posições definidas, em contraste com muitos de nossos debates evasivos, cheios de frases de efeito, mas que fogem de temas importantes.

O eleitor que assistiu ao debate Obama-Romney não fica com dúvida a respeito da opinião deles sobre temas econômicos, com posições antagônicas e definidas com clareza, incluindo suas implicações. Até a discussão sobre saúde pública se deu pelo viés econômico. Não se prometeu saúde melhor e maravilhosa, como é comum no Brasil, mas se debateu como financiar as mudanças e seus impactos na dívida pública americana.

O Brasil passa por uma fase de grande atenção e importância sendo dadas à ética e ao bom uso dos recursos públicos. Compete a todos nós colaborarmos para que a próxima fase seja dominada pelo debate dos temas que afetam o padrão de vida de todos. Por: HENRIQUE MEIRELLES  Folha de SP

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