quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MANADA DE TRIBUFUS



Tenho uma filha com dez anos de idade que empreende uma “batalha” diária comigo na tentativa de me convencer a deixá-la assistir a novela “Avenida Brasil”, da Rede Globo. Como considero inadequado o conteúdo para a sua idade, não deixo. Seu principal “argumento” é: “Todas as minhas amigas assistem”.

Qualquer pai conhece essa estratégia. É muito difícil manter sua própria convicção sobre o certo e o errado quando há enorme pressão de grupo. Quando “todos” fazem uma coisa, ainda que seja uma coisa considerada errada, temos uma ótima desculpa para seguir com a manada. Keynes percebeu isso quando disse que a sabedoria mundana ensina que é melhor para a reputação fracassar convencionalmente do que ter sucesso não convencional.

Digo isso porque confesso que está cada vez mais difícil encontrar bons exemplos de comportamento econômico mundo afora. Sim, é verdade que nossa equipe econômica precisa melhorar muito para ser apenas medíocre. Sim, é fato que Guido Mantega e sua trupe estão plantando as sementes da próxima crise nacional. Mas um cínico (ou uma criança) poderia muito bem rebater: “Todos estão fazendo a mesma coisa!”

Como é que posso criticar o protecionismo do nosso governo, quando países mais liberais manipulam sua taxa de câmbio de forma escancarada? Como atacar nossa moeda “fixa”, quando até a Suíça resolve criar um peg com o euro? Como condenar o relaxamento do superávit fiscal, quando “austeridade” passou a ser palavrão no mundo desenvolvido? Neste concurso de feiúra mundial, o governo brasileiro consegue disfarçar seus defeitos, misturando-se aos demais tribufus na sala.

Mas os erros dos outros não justificam nossos próprios erros. Protecionismo comercial, manipulação cambial, déficit fiscal, expansão de crédito público, tudo isso deve ser condenado. Não importa que a Suíça e os Estados Unidos pratiquem cada vez mais destes expedientes nefastos. Nosso governo não conta com uma licença para fazer besteiras só porque o mundo parece ter enlouquecido de vez.

Digo ao ministro Mantega o mesmo que digo para minha filha: Não me importa que os outros sejam irresponsáveis; essa novela não é adequada e ponto final. 
 Por: Rodrigo Constantino

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