quinta-feira, 25 de outubro de 2012

POR QUE AUSTRÍACOS LECIONAM EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS

[Nota: Os três autores são Doutores em Economia: o Prof. Mueller pela Universidade de Erlangen-Nürnberg, na Alemanha, o Prof. Barbieri pela Universidade do Estado de São Paulo, em São Paulo e o Prof. Iorio pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro. São sem dúvida os três acadêmicos austríacos mais conhecidos no Brasil e lecionam, respectivamente, na Universidade Federal de Sergipe (Aracaju), na USP (Ribeirão Preto) e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro — UERJ (Rio de Janeiro).]

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Com crescente frequência ouvimos jovens estudantes, a maioria dos quais aparentemente entusiastas da filosofia política do libertarianismo, expressarem a opinião de que os autores deste artigo não seriam intelectualmente honestos, pois ao mesmo tempo em que defendem a causa da liberdade, estão na folha de pagamentos do estado. Sendo assim, teriam eles base moral para a sua pregação?

O que nos levou a escrever este texto não foi tanto a "acusação" dirigida às nossas pessoas — um argumento ad hominem não merece muita atenção — mas sim a preocupação que temos com um perigo associado aos rumos tomados na batalha pela liberdade. Observamos cada vez mais pessoas que se dizem liberais manifestando opiniões convictas sobre assuntos políticos e econômicos sem que essas opiniões sejam acompanhadas pelo estudo dos debates relevantes. Essa tendência, em nossa opinião, é a antítese do liberalismo e merece ser discutida.

Nutrimos a convicção de que o liberalismo depende de sólida compreensão das teorias econômicas, políticas e filosóficas que o embasam. Como disse Mises, "O liberalismo não tem flor ou cor como símbolo partidário, nem canções ou ídolos, nem símbolos ou slogans. Tem a substância e os argumentos." O poder desses argumentos também depende, de forma crucial, do estudo das teorias contrárias, na medida em que estas trazem à tona aspectos da realidade que não consideramos no nosso modelo original.

Pois bem, achar que os ensinamentos da Escola Austríaca de Economia se submetem às doutrinas políticas do libertarianismo revela preocupante falta de familiaridade com os autores dessa escola. Em primeiro lugar, os economistas austríacos sempre enfatizaram que as teorias econômicas constituem conhecimento científico, independente dos julgamentos de valor de seus proponentes. Um economista austríaco examinaria o mérito dos argumentos empregados e não a motivação de quem o formulou. É melhor que essa última prática seja deixada com os socialistas e os marxistas, especialistas no assunto.

Em segundo lugar, se para sermos considerados economistas austríacos "legítimos" não devemos ser funcionários públicos, então o exame da história dessa escola revelará que provavelmente nenhum economista se qualifica! Carl Menger, seu fundador, era professor da Universidade de Viena, recebendo na prestigiosa instituição pública um salário bem elevado. Além de funcionário público, era tutor do príncipe herdeiro do Império austro-húngaro. Eugen von Böhm-Bawerk, por sua vez, foi ministro das finanças por duas vezes, assim como seu cunhado, Friedrich von Wieser, foi ministro do comércio do mesmo império. Ambos trabalharam em universidades públicas: todos foram funcionários públicos. Mises, professor não assalariado da mesma universidade, seguramente aceitaria o cargo, caso este fosse obtido. Todos eles trabalharam em comissões governamentais que influenciaram as políticas públicas. Se considerarmos as gerações seguintes, dificilmente encontraremos economistas que trabalharam exclusivamente em instituições isentas de qualquer verba pública, de forma que dificilmente teríamos um economista austríaco "legítimo".

Em terceiro lugar, a leitura dos austríacos revela que não existe na escola uma doutrina econômica, filosófica ou política unânime, mas sim grande riqueza de opiniões. A maioria dos economistas austríacos era de liberais clássicos, postura política que não implica em absoluto a rejeição de toda atividade que envolva ação estatal. E mesmo se tomarmos a doutrina política do libertarianismo, tal como defendida por Rothbard e seus seguidores, não necessariamente deveríamos ter, em um mundo intervencionista, a defesa da tese de que todo contato profissional com o estado devesse ser recusado.

Vamos supor agora que todos os austríacos sejam anarquistas (o que não corresponde à verdade). Como eles deveriam se portar em uma sociedade altamente intervencionista? Deveriam eles necessariamente abandonar suas missões como professores e pesquisadores, a menos que tenham fontes alternativas de sustento? Essa seria uma escolha pessoal possível. Seria a alternativa uma hipocrisia? O caso de dizer uma coisa e fazer outra? Vejamos.

O leitor deve se perguntar se o fato de que os três únicos economistas acadêmicos austríacos atuando no país trabalham em universidades públicas seria ou não uma coincidência. Poder-se-ia argumentar que, em um mundo liberal ideal, com separação entre educação e estado, o volume de riqueza seria tal que existiriam indivíduos ricos o bastante para que tivéssemos especialistas em cada campo do conhecimento humano, incluindo aquelas áreas menos demandadas, como literatura húngara, história da Mesopotâmia, musicologia do shakuhachi (a flauta japonesa de bambu) e...economistas especializados em preservar o conhecimento sobre a importância da propriedade privada e liberdade para o futuro da humanidade!

Em uma sociedade intervencionista, porém, algo como "economista austríaco" não é demandado: as poucas faculdades privadas que contratam pesquisadores se interessam por macroeconomistas tradicionais e especialistas em finanças. Nas públicas, apesar da predominância das teorias econômicas intervencionistas, ainda existe liberdade acadêmica: podemos dominar o conhecimento de teorias rivais, passar em concursos públicos, participar dos debates e propor nossas ideias. No sistema atual, poderíamos apenas dar (muitas) aulas em faculdades privadas, sem fazer pesquisa.

Embora existam concursos específicos para Macroeconomia, Microeconomia, Economia Industrial etc., não existem concursos para disciplinas austríacas. Isto não acontece apenas no Brasil: em todo o mundo, a Escola Austríaca é minoritária, embora seja a mais antiga, mas também é a que mais vem crescendo, tudo levando a crer que tal crescimento deverá não apenas se manter, mas também se acentuar nos próximos anos. Nosso papel nesse ambiente de crescimento é muito importante! Será que devemos nos abster de participar do debate em que quase toda a pesquisa acadêmica é realizada? Infelizmente, somos apenas três mosqueteiros dentro da estrutura do estado, mas se amanhã formos quatro, cinco, dez, cem, mil, será muito melhor para a sociedade!

Adicionalmente, ao optar por defender uma teoria econômica liberal, fizemos consideráveis sacrifícios pessoais. Como nosso trabalho é julgado pelos pares (geralmente economistas keynesianos ou marxistas), o reconhecimento na academia é muito mais difícil se defendemos ideais liberais. Além disso, o custo de oportunidade salarial do economista não é pequeno, mas, em vez de ganhar dinheiro no mercado financeiro, ou em outros campos, optamos pela sala de aula, em nome da perseguição de um ideal, da busca de um horizonte melhor para todos — ensinar os valores econômicos, o extraordinário cabedal de conhecimentos dos quais a civilização depende. Como observou Mises no último parágrafo de sua monumental obra Ação Humana, "cabe aos homens decidirem se preferem usar adequadamente esse rico acervo de conhecimento que lhes foi legado ou se preferem deixá-lo de lado. Mas, se não conseguirem usá-lo da melhor maneira possível ou se menosprezarem os seus ensinamentos e as suas advertências, não estarão invalidando a ciência econômica; estarão aniquilando a sociedade e a raça humana".

Cabe perfeitamente, então, a seguinte pergunta: dado que a escolha por carreira universitária implica significativos custos de oportunidade, que sacrifícios ou renúncias pela causa liberal os que nos criticam por lecionarmos em universidades públicas fizeram ou estão dispostos a fazer?

Há vários outros argumentos em nosso favor. Um deles é que em nosso país, infelizmente, as universidades privadas também estão sob o controle do estado, de modo que, sob esse ponto de vista, não faz diferença, na prática, se você é empregado de uma empresa privada ou de universidade pública. Talvez a única diferença seja a de que, na segunda hipótese, como você ingressou na universidade pública por concurso, não poderão demití-lo. Além disso, as atividades de um professor de uma universidade pública não se limitam à universidade, já que muitos podem trabalhar em outras instituições (de ensino ou não), podem manter sites e blogs e podem dedicar-se, por exemplo, ao Instituto Mises.

Um artigo bastante interessante sobre a ingerência do estado na educação e, em especial, no ensino superior éA quem as universidade públicas estão servindo? Nele, o Professor José Maria Alves da Silva, economista (não austríaco) da Universidade de Viçosa, mostra as distorções que tal interferência tem gerado na qualidade do ensino e na produção acadêmica. Que tal pinçarmos dois parágrafos desse interessante artigo?



Em contraste com as atividades produtivas agrícolas e industriais, ou nas áreas de segurança, saúde, transporte e energia, os "inputs" e "outputs" mais essenciais da "função de produção acadêmica" envolvem coisas intangíveis como pensamentos e ideias científicas, políticas ou artística.

Podem-se somar quantidades de diplomas concedidos ou de artigos publicados em revistas indexadas, mas não os conteúdos dos diplomados e das publicações. Além disso, atividades como as filosóficas e científicas são caracterizadas por períodos de gestação longos e variáveis, incompatíveis com os objetivos imediatistas subjacentes à ação dos órgãos avaliadores.

O estado tem o controle sobre o sistema, porque as pessoas precisam de diplomas para conseguir um emprego. Mesmo se você se formar em uma universidade privada, a conferição de seu diploma terá que passar obrigatoriamente pelo crivo dos burocratas do Ministério da Educação. No mundo atual, para sermos bem diretos, alguém pode aprender muito mais no Google e no Youtube do que se frequentar algumas universidades (públicas e privadas).

Em nova autobiografia de Arnold Schwarzenegger, Total Recall, ele faz um relato fascinante de uma reunião com Milton e Rose Friedman. É verdade que Friedman nunca foi um austríaco, mas também é verdade que foi um grande defensor da economia de mercado. Vejamos o que relata Schwarzenegger: "Uma das coisas fascinantes que Friedman me disse foi que ele trabalhou para o governo durante o New Deal, programa do presidente Franklin D. Rossevelt na década de 1930 para a recuperação econômica e reforma social. Não houve outros trabalhos, disse ele. Foi um salva-vidas." Nesse caso então, segundo nossos críticos, Milton Friedman também não teria sido intelectualmente honesto...

A teoria econômica austríaca é uma ciência, não uma ideologia. Este fato inquestionável nos autoriza a trabalhar em qualquer instituição, privada ou pública, onde haja lugar para a investigação econômica. E, como qualquer empreendimento científico que não é ideológico deve também ter em conta as teorias opostas, os economistas austríacos, como economistas em um sentido científico, devem ser capazes de coabitar intelectualmente com quaisquer outros, inclusive marxistas e keynesianos, que devem realmente receber a sua oposição em termos de conhecimentos científicos, pela sede de conhecimento. De fato, parte significativa de tudo que escreveram os economistas austríacos consistiu em críticas das teorias rivais, criticas essas baseadas na atenta leitura dessas teorias. O isolamento autoimposto até que se chegasse a um puro mundo liberal seria inadequado para todos os envolvidos na discussão acadêmica. 

Como economistas austríacos somos a favor de uma metodologia e teoria específica, que está em concorrência com paradigmas alternativos. Podemos ter convicção de que temos as melhores ferramentas, mas a nossa tarefa é principalmente a de tentar convencer os de um paradigma diferente. Assim funciona o processo acadêmico no que tem de melhor, o livre intercâmbio de ideias, o mercado competitivo de ideias onde os produtos às vezes ruins vendem mais do que os melhores, porque as pessoas não têm os recursos intelectuais para convencer as demais. Por exemplo, a McDonald tem um maior volume de negócios do que um restaurante três estrelas em Paris. Bons vinhos são apenas para alguns. Refeições requintadas são apenas para aqueles que podem pagar. Na área de ideias é a capacidade intelectual e também o tempo que contam. Seguindo com a nossa analogia, vemos que, para a maioria dos estudantes, a economia austríaca é "muito cara". Temos que trabalhar para torná-la mais acessível, sem diluir sua substância. Esse é o nosso desafio e é melhor enfrentá-lo entre os nossos colegas (que não são inimigos), que têm pontos de vista diferentes.
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Como observações finais, lembramos que, quando atuamos em uma universidade, seja pública ou privada, abrimos oportunidade para publicar e atuar em outros caminhos acadêmicos — assim, uma "posição" em uma universidade pública serve como "launching pad" ou rampa de lançamento. E sabemos que é muito difícil algum professor, especialmente em países como o Brasil, em que jamais se cultivou essa tradição, ser "reconhecido" como"Privatgelehrter" (estudioso independente).

Vale também mencionarmos uma ironia: Marx queria ser professor de uma universidade pública, mas, como não o conseguiu, acabou sendo mantido por Engels, um capitalista. Isso decerto levaria nossos críticos a afirmarem que o autor de O capital era também intelectualmente desonesto, já que criticava o capitalismo ao mesmo tempo em que era sustentado pelo que tanto atacava...



Antony Mueller, Fabio Barbieri e Ubiratan Jorge Iorio 
Antony Mueller, nascido na Alemanha, é economista e atualmente mora em Aracaju, onde leciona na Universidade Federal de Sergipe.  É acadêmico adjunto do Mises Institute e diretor acadêmico do Instituto Ludwig von Mises Brasil. É o fundador do Continental Economics Institute.
Fabio Barbieri é mestre e doutor pela Universidade de São Paulo.  Atualmente, é professor da USP na FEA de Ribeirão Preto.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

RAIVA E MEDO

“Quando está fraco, finja que está forte”, recomendava Sun Tzu. Obama segue o conselho à risca, elevando o tom de voz sempre que lê nos olhos da platéia a suspeita latente que de um momento para outro pode explodir numa tempestade de acusações irrespondíveis.


Humilhado no primeiro debate, Obama voltou à carga equipado da sua arma psicológica predileta: o ódio camuflado, transmutado em afetação de sentimentos humanitários e patrióticos carregados daquela estranha pungência, daquela “intensidade passional” de que falava W. B. Yeats, fonte da força hipnótica com que a personalidade psicopática dos líderes revolucionários se impõe à credulidade das massas.

Obama defendeu sua posição com a tenacidade feroz de quem luta por algo mais que a mera sobrevivência política; de quem sabe que, se perder o cargo, não terá mais o aparato presidencial para defendê-lo contra a investigação de um passado que ele tem boas razões para manter secreto. “Secreto” é modo de dizer. Ninguém nos EUA ignora que a biografia oficial de Obama é um tecido de lendas, que seus documentos são falsos, e que, pouco importando onde haja nascido, ele subiu à presidência nas asas do maior blefe político de todos os tempos. Como todo blefador, ele sabe que sua posição é frágil. Tão frágil que até seus adversários se esquivam de desmascará-lo, porque sabem que seria tremendamente fácil fazer isso e temem ser os portadores de um escândalo mil vezes mais deprimente que o caso Watergate. “Quando está fraco, finja que está forte”, recomendava Sun Tzu. Obama segue o conselho à risca, elevando o tom de voz sempre que lê nos olhos da platéia a suspeita latente que de um momento para outro pode explodir numa tempestade de acusações irrespondíveis. Como todo psicopata, ele busca transformar suas vítimas em cúmplices, explorando a natural inibição de admitir uma decepção mais funda do que sentem que podem suportar.

Nas entrelinhas, todo o seu discurso é uma confissão involuntária do ódio que esse homem notoriamente desprovido de simpatia pessoal por quem quer que seja sente ao país que o amou e honrou infinitamente acima de seus méritos. O documentário de Dinesh d’Souza, 2016, mostrou isso claramente, e o psiquiatra forense Andrew G. Hodges, que tem uma longa carreira de sucessos na leitura do subtexto camuflado nas falas de criminosos, chegou exatamente à mesma conclusão ao examinar os livros e alocuções públicas de Obama. Leiam The Obama Confession. Secret Fear, Secret Fury (Village Publications, 2012) e digam se é exagero (um breve resumo encontra-se no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=_7UhT3QNnDE&feature=relmfu, em sete partes).

Toda a atuação pública de Obama é uma rede de diversionismos e camuflagens de enorme complexidade. Malgrado a ajuda da mídia e a teimosia obstinada dos devotos, não é nada fácil para ele manter de pé a imagem de bom menino que a sua própria conduta política real desmente dia a dia, dobrando o déficit que prometeu reduzir pela metade, subsidiando indústrias “verdes” inviáveis pertencentes a seus contribuintes de campanha, alimentando generosamente o anti-americanismo internacional, arrogando-se poderes ditatoriais por meio de “executive orders” (o equivalente das nossas “medidas provisórias) e entregando à morte, por um indesculpável vazamento de informações, os executores de bin Laden, de cujo heroísmo continua tirando um proveito político totalmente indecente. Não espanta que em quatro anos ele tenha envelhecido vinte, buscando agora disfarçar a debilidade por meio de performances vocais cada vez mais forçadas e menos persuasivas.

No último debate ele contou ainda com a ajuda da apresentadora Candy Crowley, que chegou a assumir ativamente o papel de coadjuvante do seu favorito, ao contestar o candidato republicano quando este acusava o presidente de adiar desastrosamente o reconhecimento de que o ataque à embaixada na Líbia fôra um ato terrorista. Obama, protestou Candy, havia rotulado o ataque como “ato de terror” menos de 24 horas depois do ocorrido. Puro fingimento, é claro. Obama havia falado muito genericamente de “atos de terror”, mas no contexto de um discurso que lançava a culpa de tudo no filminho anti-islâmico do Youtube – cujo diretor foi, até agora, o único a sentir no próprio couro o peso da “severa punição” que o presidente prometia aos responsáveis pelo ataque.

Não por coincidência, nos três debates realizados até agora os candidatos democratas desfrutaram de mais tempo e ainda cortaram à vontade a fala de seus adversários (Biden 82 vezes, Obama 28), com o evidente beneplácito dos mediadores. No segundo debate, alguns repórteres na sala contígua ao estúdio chegaram a aplaudir Obama, infringindo ostensivamente a regra e o decoro e mostrando uma vez mais que a classe jornalística americana já nem tenta disfarçar o partidarismo que a inspira.

Não obstante todo esse concurso de expedientes, as preferências de voto popular continuam fluindo do campo obamista para o candidato republicano. A grande mídia, é claro, já declarava Obama vencedor antes do segundo debate e continuou a fazê-lo depois. Mas no grupo-controle de eleitores indecisos reunido pela MSNBC a maioria, terminado o confronto, saiu decidida a votar em Mitt Romney. E o Gallup, na primeira sondagem após o debate, assinalava que Romney havia subido de 50 para 51 por cento nas intenções de voto, e Obama baixado de 45 para 44. Talvez mais significativamente ainda, logo em seguida começaram a chover no Youtube ameaças de morte contra Romney, mostrando às claras quem é que está com medo.

Nada disso garante, decerto, a vitória de Romney, pois o Colégio Eleitoral, que decide a parada acima do voto popular, ainda pende fortemente para o candidato democrata, com uma diferença de 271 votos para 201 e um bocado de indecisos no meio.Por: Ovalo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

UM PATRONO À ALTURA



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Vivemos atualmente a dissolução de uma sociedade edificada ao longo de milênios. É uma longa e bela construção, fundada na filosofia grega e no personalismo judaico-cristão, e burilada ao longo dos séculos. Essa sociedade nos deu a noção de que todos têm direitos inalienáveis; que a natureza pode e deve ser estudada e, ao mesmo tempo, preservada; que o Belo e o Bom têm valor. Deu-nos as universidades, a democracia representativa, o reconhecimento da dignidade dos mais fracos.

Este imenso patrimônio cultural é a herança a que cada brasileiro tem – ou teria – direito. O que vemos, contudo, é o oposto. Mais de um terço dos universitários são analfabetos funcionais. As escolas servem à doutrinação política e à “desmitificação” dos valores da nossa sociedade, deixando de lado o ensino e a preservação da cultura.

Paulo Freire, um dos maiores culpados deste estado de coisas no Brasil, recebeu, com razão, o título de “Patrono da Educação Brasileira”. É justo que ele seja o patrono de uma “educação” que não é capaz de ensinar a ler e escrever, mas que martela nos alunos uma visão tão deturpada do mundo que é mais fácil encontrar dez estudantes que creiam que a luta de classes é uma lei da natureza que achar um que saiba enunciar a Segunda Lei da Termodinâmica.

A História e a Geografia passam a ser apenas denúncia de supostas monstruosidades; o vernáculo, na melhor das hipóteses, uma tentativa de reproduzir a verbalidade. As ciências – deixadas quase de lado –, uma sucessão de conteúdos “bancários”, no dizer dos seguidores do falso profeta recifense. Faz-se força para enfiar alguma ideologia nas ciências, mas não há luta de classes na Química ou opressão econômica na Física. Fica difícil.

Só o que fez este triste patrono foi descobrir que o aluno é um público cativo para a doutrinação marxista. A educação deixa de ser uma abertura para o mundo, uma chance de tomar posse de nossa herança cultural, e passa a ser apenas a isca com a qual se há de fisgar mais um inocente útil para destruir a herança que não conhece.

As matérias pedagógicas da licenciatura resumem-se hoje à repetição incessante, em palavras levemente diferentes, das mesmas inanidades iconoclastas. Os cursos da área de Humanas, com raras exceções, são mais do mesmo, sem outra preocupação que não acusar aquilo que não se dá ao aluno a chance de conhecer. O que seria direito dele receber como herança.

Paulo Freire é o patrono da substituição de conhecimento por ideologia, de aprendizado por lavagem cerebral. Merece o título.Por: POR CARLOS RAMALHETE

PORQUE ROMNEY DEVE GANHAR

Romney é um Republicano moderado, de centro, e este é o seu problema com os Republicanos que o consideram moderado demais. 

Por isto, ele pegou um Vice bem mais à direita. 

Obama é Democrata bem mais à esquerda do que o usual, por isto também pegou um vice bem mais à direita. 

Comparar Romney com Bush é mostrar ignorância extrema. 

Romney foi um dos melhores alunos da Harvard Business School, Bush um dos piores. 

As duas fotos do álbum de Alunos da Turma de 1975, revela bem esta diferença. 

Voltei agora da minha 40a. Reunião de Harvard, e perguntei a todos os negros com quem eu cruzava em quem votariam. 

Para minha surpresa, a maioria dizia que estava muito decepcionada com Obama, mas como era negro eles dariam uma segunda chance. 

O que, dada as circunstâncias históricas americanas, é mais do que compreensível. 

Mas isto me deixou com uma pulga atrás da orelha. 

Será que negros que respondem estas pesquisas eleitorais estariam dizendo "Claro que votarei para o Obama", mas no dia da eleição ficarão em casa? 

Ninguém parece ter percebido um momento crucial no segundo debate. 

Um negro, não sei se a pergunta foi plantada ou não, disse em bom tom: 

"Obama, votei em você mas fiquei decepcionado. Por que eu deveria votar novamente em você?" 

Esta pergunta pode acarretar 1% a 2% dos votos de outros negros que deixarão de votar em Obama por lealdade. 

"Como, então é lícito um negro ficar na dúvida entre votar num Presidente incompetente, apesar de ser um dos nossos?" 

Claro que é, mas tente comentar num bairro negro que você agora pretende votar em Romney. Nem pensar! 

Mas se um negro na TV teve a coragem de colocar a dúvida no ar, por que não eu? 

Se algumas pesquisas antes da eleição mostrarem que Romney está na frente, a lealdade por Obama ser negro pesará menos ainda, já que a "traição" não seria fatal, Romney estava eleito antes da votação. 

Sou a favor do Romney, porque ele é uma exceção na democracia. 

Na democracia pós moderna, infelizmente, é eleito o mais carismático e não o melhor administrador. 

E o melhor administrador é aquele que sabe administrar, sabe estabelecer prioridades e dizer Não em vez de dizer Sim para agradar a todo mundo e estourar o orçamento da União. 

Lula era carismático mas não sabia administrar, dizia Sim para tudo mundo. 

Dilma não era carismática, jamais seria eleita se não fosse o Lula, mas ela sabe dizer Não. 

Seu problema é que ela acha que Administração e Gestão são a mesma coisa, e está metendo os pés pelas mãos. O país não cresce. 

Romney, para um Administrador, é extremamente carismático, e Obama, para um Lider Carismático, é um péssimo administrador. Quem você prefere? Por: Stephen Kannitz 

EM DEFESA DO PRECONCEITO

Como alguém pode defender o preconceito em pleno século 21? Isso automaticamente nos remete ao racismo, à xenofobia, ao machismo, a todas as formas de sentimentos tribais que tanta desgraça causaram no mundo. Mas será que todo preconceito é mesmo ruim? O que exatamente seria não ter preconceitos? São as questões que Theodore Dalrymple aborda em seu livro In Praise of Prejudice, cujo titulo já mostra sua coragem na era moderna.


O que seria uma pessoa desprovida de preconceitos? O dicionário possui várias definições para a palavra, entre elas: conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. As demais costumam já incorporar o sentido pejorativo da atualidade, como sentimento desfavorável a algum grupo, superstição, discriminação racial etc. Quero focar justamente na primeira delas, que melhor representa sua etimologia.

Alguém sem preconceitos seria, então, alguém cujas opiniões formadas são todas derivadas do devido conhecimento adequado. Estou para conhecer este deus onisciente em forma humana! Basta uma rápida reflexão honesta para constatarmos que temos inúmeras opiniões sobre vários assuntos os quais não possuímos conhecimento tão profundo assim. Pegamos carona em ombros alheios, confiamos em certas autoridades, formamos, enfim, algum tipo de crença cujos pressupostos não dominamos totalmente. Eis o preconceito.

Claro que o ideal é passar as idéias pelo crivo de nossa razão, principalmente aquelas mais importantes e relevantes em nossas vidas. Como disse Sêneca, “Se queres submeter tudo a ti mesmo, submete-te primeiro à razão”. Perfeito. Mas cabe perguntar: quem pode submeter tudo a si mesmo? Essa pessoa teria que dominar profundamente todos os campos da ciência, filosofia, ética, medicina, direito, economia etc. Enfim, teria de ser aquele deus em forma humana citado acima.

Alguns preconceitos serão inevitáveis em nossas vidas. A começar pelas autoridades que escolhemos então para confiar. Isso não coloca todo preconceito em pé de igualdade, tampouco é uma justificativa para os sentimentos mais tribais que vemos por aí. Mas é, sim, um alerta contra certo tipo de gente que alega não ter preconceito algum, que não abraça nenhuma ideologia (visão de mundo), que fala somente em nome da razão prática. Estes, paradoxalmente, costumam ser os mais preconceituosos e ideológicos de todos!

Como disse Jonah Goldberg em The Tyranny of Clichês, “O pragmatismo é o disfarce que os progressistas e outros ideólogos vestem quando querem demonizar ideologias concorrentes”. Todos possuem uma visão de mundo, seja lá como ela foi formada (espera-se que com boa dose de reflexão e questionamentos, assim como bastante foco nos dados empíricos). Se esta visão ou ideologia passa no teste da realidade ou não, isso é outra questão. Pela complexidade da vida, haverá espaço para diferentes interpretações em temas mais polêmicos.

O que parece arrogante é esta visão de que somente o seu ponto de vista possui fundamento empírico e desprovido de preconceito ou ideologia, sendo todos aqueles que discordam de você vítimas dessas armadilhas. Esta arrogância é típica dos progressistas modernos que afirmam ser isentos de viés ideológico, reagindo somente aos fatos e à sua razão.

Um ícone dessa turma é o presidente americano Barack Obama, que repete com freqüência que está blindado de tais preconceitos, agindo somente de acordo com aquilo que funciona na prática. Obama tem claramente uma visão de mundo, aquela alinhada ao socialismo light europeu, especialmente da França. Mas tenta posar como um ser pragmático e acima desses dogmas políticos. Não convence.

Thomas Sowell desnudou os progressistas modernos: “Ninguém é mais dogmaticamente insistente na conformidade do que aqueles que advogam ‘diversidade’”. De fato, basta verificar como a esquerda que prega diversidade e ausência de preconceitos costuma demonstrar ódio aos diferentes, como os capitalistas liberais, por exemplo. “Não somos preconceituosos, desde que não se trate de um capitalista porco e insensível”, eles poderiam dizer, se fossem mais honestos.

Voltando a Dalrymple, ninguém é uma tabula rasa capaz de processar do zero tudo que importa na vida. Todos nós, inevitavelmente, teremos nossa cota de preconceitos. Que saibamos, então, escolher bons preconceitos, ao invés daqueles que alimentam os piores sentimentos que todos nós somos capazes de nutrir no âmago de nosso ser.

Que as autoridades escolhidas, principalmente em aspectos morais, sejam exemplos de decência em suas vidas. Que respeitemos a sabedoria dos antepassados, presente em hábitos e costumes, compilados na tradição. E que possamos julgar tais tradições à luz de nossa própria razão sempre que possível, reconhecendo, porém, os limites evidentes desta empreitada, ou seja, evitando o risco da arrogância, daquilo que os gregos chamavam húbris.   

Por fim, que possamos nos manter sempre cautelosos com aqueles que juram não ter nenhum tipo de preconceito ou ideologia. Desses tipos, eu confesso alimentar profundo preconceito! 
Por: Rodrigo Constantino, para a revista VOTO

PIADA DE SALÃO

Quando o escândalo do mensalão abalou a vida política do país e, particularmente, o governo Lula e seu partido, alguns dos petistas mais ingênuos choraram em plena Câmara dos Deputados, desapontados com o que era, para eles, uma traição. Lula, assustado, declarou que havia sido traído, mas logo acertou, com seus comparsas, um modo de safar-se do desastre.


Escolheram o pobre do Delúbio Soares para assumir sozinho a culpa da falcatrua. Para convencê-lo, creio eu, asseguraram-lhe que nada lhe aconteceria, porque o Supremo estava nas mãos deles. Delúbio acreditou nisso a tal ponto que chegou a dizer, na ocasião, que o mensalão em breve se tornaria piada de salão.

Certo disso, assumiu a responsabilidade por toda a tramoia, que envolveu muitos milhões de reais na compra de deputados dos partidos que constituíam a base parlamentar do governo.
Embora fosse ele apenas um tesoureiro, afirmou que sozinho articulara os empréstimos fajutos, numa operação que envolvia do Banco do Brasil (Visanet), o Banco Rural e o Banco de Minas Gerais, e sem nada dizer a ninguém: não disse a Lula, com que privava nos churrascos dominicais, não disse a Genoino, presidente do PT, nem a José Dirceu, o ministro político do governo.

Era ele, como se vê, um tesoureiro e tanto, como jamais houve igual. Claro, tudo mentira, mas estava convencido da impunidade. A esta altura, condenado pelo STF, deve maldizer a esperteza de seus comparsas. Mas os comparsas, por sua vez, devem amaldiçoar o único que, pelo menos até agora, escapou ileso do desastre --o Lula.

Pois bem, como o tiro saiu pela culatra e o partido da ética na política consagrou-se como um exemplo de corrupção, Lula e sua turma já começaram a inventar uma versão que, se não os limpará de todo, pelo menos vai lhes permitir continuar mentindo com arrogância. O truque é velho, mas é o único que resta em situações semelhantes: posar de vítima.

E se o cara se faz de vítima, tem o direito de se indignar, já que foi injustiçado. Por isso mesmo, vimos José Genoino vir a público denunciar a punição que sofreu, muito embora tenha sido condenado por nove dos dez ministros do STF, quase por unanimidade.

A única hipótese seria, neste caso, que se trata de um complô dos ministros contra os petistas. Mas mesmo essa não se sustenta, uma vez que dos dez membros do Supremo, oito foram nomeados por Lula e Dilma.

Reação como a de Genoino era de se esperar, mesmo porque, alguns dias antes, a direção do PT publicara aquele lamentável manifesto em que afirmava ser o processo do mensalão um golpe semelhante aos que derrubaram Getúlio Vargas e João Goulart. Também a nota posterior à condenação de José Dirceu repete a mesma versão, segundo a qual os mensaleiros estão sendo condenados porque lutam por um Brasil mais justo. O STF, como se sabe, é contra isso.

Não por acaso, Lula --que reside num apartamento duplex de cobertura e veste ternos Armani-- voltou a usar o mesmo vocabulário dos velhos tempos: "A burguesia não pode voltar ao poder". Sim, não pode, porque agora quem nos governa é a classe operária, aquela que já chegou ao paraíso.

Não tenho nenhum prazer em assistir a esse espetáculo degradante, quando políticos de prestígio popular, que durante algum tempo encarnaram a defesa da democracia e da justiça social em nosso país, são condenados por graves atentados à ética e aos interesses da nação. As condenações ocorreram porque não havia como o STF furtar-se às evidências: dinheiro público foi entregue ao PT, mediante empréstimos fictícios, que tornaram possível a compra de deputados para votarem com o governo. Tudo conforme a ética petista, antiburguesa.

Mas não tenhamos ilusões. Apesar de todo esse escândalo, apesar das condenações pela mais alta corte de Justiça, o PT cresceu nas últimas eleições. Tem agora mais prefeituras do que antes e talvez ganhe a de São Paulo. Nisso certamente influiu sua capacidade de mascarar a verdade, mas não só. Com a mesma falta de escrúpulos, tendo o poder nas mãos, manipula igualmente as carências dos mais necessitados e dos ressentidos.
Não vai ser fácil acharmos o rumo certo. Por: Ferreira Gullar, Folha de SP

terça-feira, 23 de outubro de 2012

CÓDIGO SEM FUNDAMENTALISMO

O filósofo Arthur Schopenhauer, em sua "Dialética Erística", demonstrou que é possível vencer uma discussão mesmo sem ter razão.

Para tanto, alinhavou uma série de estratagemas que partem do pressuposto de que "ter razão" não é o mesmo que "estar com a verdade". Ter razão, segundo ele, é triunfar perante a plateia, iludindo-a e confundindo o adversário.

A verdade, nesses termos, é um detalhe a ser evitado. É desse pragmatismo, aético e predador, que se nutrem aqueles que atacam o novo Código Florestal e os produtores de alimentos.

Há anos, certa corrente ambientalista busca desconstruir a imagem de quem produz, ensejando torná-lo o vilão do país. Ignora os benefícios econômicos e sociais que a produção rural tem trazido ao Brasil, os anos de superavit da balança comercial e que, em quatro décadas, o gasto do brasileiro com alimentos foi reduzido de 48% para 13%.

São fatos, não opiniões.

Insistir em condenar o novo Código Florestal, sustentando as mesmas afirmações, já exaustivamente refutadas em todos os fóruns nos quais o tema foi abordado, é a estratégia recorrente. É simples --e ocupa pouco espaço-- afirmar que o novo código "é um texto que nasceu ruim e só tem piorado". Ou ainda: as mudanças que traz foram "feitas por ruralistas". E, por fim: "Ganhou quem desmata e perdeu a sociedade".

Não é preciso provar nada. Basta erguer a bandeira sagrada da defesa da natureza e afirmar que o código aumentará o desmatamento e anistiou infratores. Duas mentiras, ditas com o maior cinismo.

Em recente artigo, a ex-senadora Marina Silva, que vocaliza esse lobby, exibiu a plenos pulmões a força de sua erística. Mesmo que o Código Florestal tenha sido debatido, emendado e aprovado por ampla maioria no Congresso Nacional, em certos momentos por unanimidade, insiste em que é uma obra dos "ruralistas".

O termo "ruralista" é por ela submetido a tal estigma que sua simples enunciação já traz um conteúdo moral condenatório. Ruralistas são os que vivem no meio rural --e é de lá que vem o alimento indispensável ao ser humano. Combatê-los por esse "mal" de origem é levar o preconceito a um grau irracional.

O novo Código Florestal substitui o de 1965 e uma colcha de retalhos de medidas provisórias, decretos, portarias e regulamentos, impostos, durante anos, sem nenhum debate público, por burocratas do Ministério do Meio Ambiente. Nunca havia sido votado pelo Congresso Nacional.

Novamente, são fatos, não opiniões.

Por isso, considero que os dois maiores ganhos do novo Código Florestal não são de ordem técnica.

O primeiro --e mais importante-- é a segurança jurídica para os produtores.

O segundo é acabar com a hegemonia das ONGs ambientalistas sobre o tema do ambiente. Nunca mais a sociedade e seus representantes no Congresso Nacional serão excluídos desse debate.

O Brasil é o único país do mundo que produz o seu alimento em menos de um terço do território --27%. É, também, o único a manter intocados nada menos que 61% dos seus biomas. E os produtores rurais, em nenhum momento, postularam a redução dessa área de vegetação nativa.

É bom lembrar que o termo "reserva legal" só existe na legislação brasileira. O mesmo se dá com as áreas de preservação permanente (APPs), que também não existem nos países que nos pressionam a tê-las.

A propósito, não apenas defendemos como propusemos, na recente Rio+20 e em outros fóruns multilaterais, que as APPs sejam adotadas em todo o mundo. Por que só aqui os rios devem ser defendidos se a questão da água é mundial?

A erística, claro, aconselha os ambientalistas a evitar essa questão, substituindo-a por adjetivações inflamadas.

A FAO tem afirmado, reiteradas vezes, que o mundo precisa aumentar em 40% a produção de alimentos e que o Brasil é um dos países mais qualificados a dar essa contribuição. Se depender do fundamentalismo ambiental que se estabeleceu em torno do novo Código Florestal --que continua sendo o mais rigoroso do mundo--, não poderá fazê-lo.

É um fato, não opinião.  Por: Kátia Abreu é senadora (PSD-TO) e a principal líder da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

OS ANTICAPITALISTAS: OS BÁRBAROS CHEGAM AOS PORTÕES


[Esse discurso foi apresentado na Austrian Scholars Conference (Conferência dos Acadêmicos Austríacos), ocorrida no Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, em memória de Ludwig von Mises. O discurso original está disponível no arquivo de áudio e no YouTube. Publicado originalmente em 23 de junho de 2008]

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Uma coisa é absolutamente clara: tanto o espírito como a genialidade de Ludwig von Mises estão vivos e passam bem aqui no Mises Institute. A amplitude e a profundidade da erudição encontrada nessas conferências anuais são realmente singulares. De fato, a natureza transdisciplinária de grande parte de seu trabalho talvez seja coisa única no mundo acadêmico. Mises estaria, creio eu, extremamente orgulhoso de todo o trabalho sendo feito em seu nome — mesmo, e talvez até principalmente, daqueles cujas conclusões divergem da sua em alguns pontos.

A magistral biografia de Mises, Mises: The Last Knight of Liberalism, escrita por Guido Hülsmann, cuidadosamente documentou o fato de que este era verdadeiramente um homem de consciência e intelecto, um homem absolutamente dedicado a buscar a verdade. Ayn Rand certa vez fez uma observação que penso ser bem adequada para Mises, não obstante tenha sido feita em um contexto de discussão sobre teorias educacionais. Ela incitou seus leitores a "observar a intensidade, a austeridade, a seriedade sisuda com que uma criança observa o mundo à sua volta. (Se você chegar a encontrar, em um adulto, esse grau de seriedade quanto à realidade, você terá encontrado um grande homem)" (The New Left, p. 156). No seu processo de busca pela verdade, esse grande homem infalivelmente exibiu o que eu gosto de rotular de "crueldade nobre". Entender fenômenos complexos era o que importava. Compreender a realidade era o objetivo que compeliu toda a vida de Mises, e não a popularidade, o desejo de vencer debates, ou o desejo de barganhar aprovação política. Ademais, essa busca era para ser empreendida dentro de um contexto social de civilidade e até mesmo de elegância.

Ou seja: tudo que é tão estranho ao nosso mundo atual. Hoje, o tipo de integridade inexpugnável que Mises possuía é menosprezada como sendo "dogmatismo", porque crêem que a verdade é algo ilimitadamente maleável. Seu decoro um tanto aristocrático é difamado como "elitista" e "reacionário", porque todos os coletivistas são fascinados apenas por coisas proletárias. Sua preocupação profunda com os fundamentos epistemológicos da economia é aviltada como sendo tagarelice pedante, porque vivemos em um mundo "humeano" (alusão a David Hume) no qual a profundidade da lei da causalidade é rotineiramente deixada de lado em favor do glamour da correlação estatística. E sua defesa heróica do capitalismo laissez-faire é rejeitada como estando "fora de sintonia com a realidade", sob o argumento de que tal sistema econômico é impassível, grosseiro, esbanjador, injusto e explorador, para não mencionar as alegações de insensibilidade às "reais necessidades humanas".Capitalismo e Inveja

É essa última questão — o capitalismo e sua poderosa defesa feita por Mises, bem como as graves implicações dos ataques usuais ao capitalismo e as características desses atacantes — que pretendo examinar hoje. Permitam-me primeiro declarar abertamente o que entendo por "capitalismo". É verdade que eu encolheria o estado bem mais do que Mises encolheria, mas nós dois temos o mesmo objetivo amplo: um sistema econômico laissez-faire totalmente desregulamentado, um no qual os direitos de propriedade são sagrados, a busca por lucros é vista como uma iniciativa nobre, e o dinheiro é um símbolo de uma conquista honorável — ao invés de ser censurado como sendo uma ferramenta sórdida usada apenas por aqueles que são lamentavelmente destituídos de qualidades humanas. Trata-se simplesmente do liberalismo — no sentido clássico do termo — aplicado às questões diárias da nossa vida. Lembrem-se que Mises insistia que "a liberdade é indivisível. Aquele que não tem a faculdade de escolher uma dentre várias marcas de sopa ou comida enlatada, também está destituído do poder de escolher um dentre vários partidos e programas políticos.... Ele já não é mais um homem; ele se torna um fantoche nas mãos dos supremos engenheiros sociais" ("Liberty and Property," Two Essays, p. 27).

Alhures, Mises declarou que, se condensado em uma única palavra, liberalismo significa propriedade — mantida privadamente e protegida severamente pela lei (Liberalismo, p. 19).

Em termos concretos, por capitalismo eu entendo uma economia sem impostos progressivos, sem banco central, sem um papel-moeda não lastreado, sem proibições às drogas, sem proibições às armas, sem "ações afirmativas" que obrigam a garantir o emprego de algum determinado grupo étnico, sem um sistema de saúde gerido pelo governo, sem ministérios da educação, da energia, do trabalho, da segurança, da saúde, sem DEA (agência antidrogas), BATFE (agência que regulamenta álcool, tabaco, armas de fogo e explosivos), SEC (agência que regulamenta a bolsa de valores — equivalente à nossa CVM), EPA (agência que regulamenta o meio ambiente), FTC (agência que regulamenta o mercado, para "proteger o consumidor"), FDA (agência de vigilância sanitária, equivalente à nossa Anvisa), sem um salário mínimo determinado, sem controles de preços, sem tarifas, sem assistencialismo — doméstico ou externo, rural ou urbano, para os ricos ou para os pobres. Vocês sabem, umaeconomia livre!

Abrindo um parênteses, eu fico estupefaciado com a quantidade de vezes que as pessoas hoje em dia falam em "livre mercado" e, ao mesmo tempo, incluem nesse termo a presença do Banco Central, da Previdência Social, da Receita Federal, ad nauseum. Que parte da expressão "livre" elas não entenderam? Eu, de minha parte, quando falo "livre mercado" obviamente não me refiro a essa gárgula desfigurada, atormentada, torturada e distorcida que costumeiramente se faz passar por capitalismo hoje em dia. Quem estaria disposto a arriscar sua "vida, liberdade e honra sagrada" para proteger e manter essa monstruosidade? Não eu, garanto-lhes.

Se isso é capitalismo, então o que faz com que muitos se oponham a ele tão energicamente?

De fato, como pode alguém fazer qualquer objeção ao capitalismo quando se reconhece que foi ele — até mesmo em sua forma atenuada — o responsável por um aumento tão vigoroso do padrão de vida, de forma que uma pessoa comum de hoje desfruta de "luxos" que nem mesmo os monarcas hereditários puderam ostentar 200 anos atrás? Mises fornece duas respostas básicas a essa pergunta: inveja e ignorância.

Primeiro, em relação à inveja, ele declara:


O que faz com que muitos se sintam infelizes no capitalismo é o fato de que este dá a cada um a oportunidade de chegar às posições mais cobiçadas que, é claro, só serão alcançadas por alguns. Tudo o que o homem consegue ganhar será sempre uma mera fração do que a sua ambição o impeliu a ganhar. Existem sempre diante de seus olhos pessoas que tiveram êxito onde ele falhou... O sistema de preços e de mercado do capitalismo é um tipo de sociedade na qual o mérito e os empreendimentos determinam o sucesso ou a derrota do homem. (A Mentalidade Anticapitalista, pp. 12, 14).

Mises observa que, para muitos, o feudalismo oferecia confortos psicológicos não disponíveis em uma sociedade capitalista. "Em uma sociedade baseada em casta e status, o indivíduo pode atribuir o destino adverso a condições que estão além de seu controle... não há motivos para que ele se envergonhe de sua pobreza... No regime capitalista a coisa é diferente. Aqui, a situação de vida de cada um depende de seus próprios feitos." (A Mentalidade Anticapitalista, pp. 11).

Inveja e ressentimento, conquanto sejam condenados por praticamente todos os sistemas de ética conhecidos, secular ou religioso, parecem estar sempre sorrateiramente escondidos em alguma parte primitiva de um grande número de psiques humanas. O fato de tais emoções serem realmente primitivas é explorado em detalhes por Helmut Schoeck em seu livro Envy: A Theory of Social Behaviour (Inveja: Uma Teoria do Comportamento Social), de 1966. Nesse livro ele explica, em termos memoráveis, o funcionamento do mecanismo:


O que é conclusivo.... é a convicção que o invejoso tem de que a prosperidade do invejado, seu sucesso e sua renda são de alguma forma os culpados pela sua privação, pela carência que sente.... Uma tendência autocompassiva de se contemplar a superioridade ou vantagem alheia, combinada a uma vaga crença de que o outro é a causa de sua privação, também é encontrada entre os membros instruídos da nossa sociedade moderna, que definitivamente precisam se aprimorar. A crença dos povos primitivos em magia negra se difere muito pouco das idéias modernas. Da mesma forma que o socialista acredita que ele é roubado pelo empregador, assim como o político de um país em desenvolvimento acredita que está sendo roubado pelos países industrializados, o homem primitivo acredita que está sendo roubado pelo seu vizinho, de modo que este último conseguiu, através da magia negra, transportar para seus campos a colheita do primeiro. (págs. 23, 51)

Considerem o que acontecerá se, ao repugnante ímpeto para a inveja, fosse anexada uma percepção errônea da realidade. Ou seja, o que aconteceria se as pessoas não conseguissem entender que todo o progresso econômico e tecnológico foi trazido por indivíduos laboriosos que se esforçaram para aplicar razão aos problemas da vida? É provável, nesse caso, que tal progresso passaria a ser considerado uma dádiva "automática" da Natureza ou de Deus, e que, portanto, todos os humanos mereceriam dividir igualmente essas bênçãos naturais. Mas e se um vizinho, ou um empregador, ou algum afamado industrialista possuísse uma cesta maior desses bens materiais? A conclusão seria óbvia: ele deve ter se apropriado injustamente daquele excesso; portanto, ele deve ser um explorador. Ademais, o sistema social que permitiu, ou, mais ainda, encorajou tal resultado, deve ser um sistema corrupto.

Mises descreveu como pensam os fomentadores desse tipo de atitude:


[O capitalismo] coroa o salafrário desonesto e inescrupuloso, o trapaceiro, o explorador, o "individualista grosseiro".... Nas condições do capitalismo, o homem é obrigado a escolher uma das duas opções:virtude e pobreza ou imoralidade e riqueza.(A Mentalidade Anticapitalista, pp. 14).

Em outras palavras, o capitalismo não evoca somente comentários sóbrios e relutantes sobre sua deplorável incapacidade; ele provoca condenações rancorosas e hipócritas. Não é algo do tipo: "Bem, é uma pena que o capitalismo não funcionou, pareceu uma boa idéia". Não, os comentários são de tipo: "Nenhum ser humano decente pode ser a favo do capitalismo laissez-faire; esse sistema é sinônimo de racismo, sexismo e estupro da Mãe Terra; ele é aditivado pela avareza, é guiado pela malícia, é a institucionalização genuína da exploração!"

Como réplica, pode-se obviamente descrever o socialismo como a institucionalização da inveja. Por exemplo, Karl Marx apresentou de maneira bem explícita o processo do progresso econômico, e seu concomitante aumento dos salários reais, em termos relativos ao invés de absolutos:


Se o capital está aumentando rapidamente, os salários podem subir: mas o lucro do capital aumenta incomparavelmente mais rápido. A posição material do trabalhador melhorou, mas em detrimento de sua posição social. O abismo social que o separa do capitalista se alargou. ("Trabalho Assalariado e Capital," Trabalhos Selecionados, Vol. I, p. 94)

É através desses truques de prestidigitação que Marx conseguiu lidar com o fato de que os trabalhadores agrícolas britânicos experimentaram um aumento real de 40% em seus salários entre 1849 e 1859, e ainda assim rejeitar tal fato como insignificante. (Sowell, Marxism, p. 138).

Na realidade, não é apenas o comunismo marxista que consagra a inveja em suas doutrinas e práticas. O moderno estado assistencialista também é culpado. Schoeck, ainda nos anos 1960, fornece vários exemplos de nações nas quais seus cidadãos, movidos pela inveja e pelo ressentimento, exigiram saber as rendas de seus compatriotas:


O procedimento de se tornarem públicas as declarações de renda é encontrado, casualmente, em comunidades suíças, onde é possível descobrir, sem qualquer motivo válido, o valor da renda e dos ativos declarado por um vizinho ou concorrente.... Existe... [na Suécia] uma empresa privada que produz anualmente uma lista muito consultada que fornece as rendas de todas as famílias que ganham mais de $3600 por ano.... [E até mesmo nos Estados Unidos], entre 1923 e 1953, no estado de Wisconsin havia uma lei que permitia a qualquer um examinar as declarações de renda de qualquer cidadão, em todos os detalhes e particularidades.(Envy, pp. 35, 386)

É claro, a taxação progressiva é em si uma profunda manifestação de inveja. De fato, todos os impostos — sejam eles sobre venda, consumo, renda ou qualquer outro — são irrevogavelmente artifícios de redistribuição, como eu e outros já argumentamos através de publicações. Entretanto, um imposto de renda progressivo é o caso mais ostensivo. Por um lado, se impostos fossem de fato um substituto para alguma tarifa justificável que fosse coletada como pagamento para serviços governamentais, comprovadamente exigidos pelos cidadãos de uma nação, então tais impostos deveriam ter uma base per capita; não deveriam ser determinados como uma porcentagem crescente da renda. Ou, se o valor do serviço estivesse relacionado à magnitude monetária envolvida — como no caso de se proteger a propriedade contra roubo —, o imposto deveria ser, no máximo, um porcentagem fixa do valor protegido. Adotar um imposto de renda progressivo significa declarar abertamente que o objetivo é a punição.

De acordo com Schoeck, a inveja está no âmago da questão: "a sensação subjetiva de bem-estar de cada grupo de renda é prejudicada pelos grupos de renda que estão acima. Com o objetivo de se livrar desse 'sentimento de privação', recorre-se ao imposto de renda progressivo" (Envy, pp. 365).

Alem de identificar a inveja como a principal razão de ódio ao capitalismo, Mises também oferece um interessante comentário sociológico sobre as várias subcategorias de anti-capitalistas. Existem, é claro, os intelectuais: "Advogados e professores, artistas e atores, escritores e jornalistas, arquitetos e cientistas, engenheiros e químicos" (p. 17). Sua antipatia pelo capitalismo é basicamente uma projeção em nível macro de uma mesquinharia em nível micro. Para o intelectual típico, sua "veemente aversão ao capitalismo não passa de simples subterfúgio do ódio que sente pelo sucesso de alguns 'colegas'" (p. 18).

Os trabalhadores de "colarinho branco" tendem a sofrer uma aflição adicional: "Sentado atrás de uma escrivaninha, anotando palavras e números num papel, ele tende a supervalorizar o significado do seu trabalho.... Muito vaidoso, ele se imagina parte da elite gerencial da empresa e compara suas tarefas com as do chefe" (p. 21).

Em outras palavras, por que se deveria ter alguma estima pelo capitalismo sabendo-se que se trata de um sistema no qual os presidentes das grandes corporações recebem salários multimilionários para executar tarefas que poderiam ser igualmente bem feitas pelo funcionário típico da empresa? Esse tipo de comportamento arrogante por parte dos colarinhos brancos é estimulado e reforçado pelas confusas declarações de muitos esquerdistas. Se gerenciar um negócio lucrativo não exigisse mais do que uma habilidade para manusear o registro de informações, então qualquer escriturário substituto que tenha alguma competência poderia realmente ser um empreendedor de sucesso. Entretanto, como Mises nos lembra, a tarefa do empreendedor é bem mais desafiadora do que isso. A sua tarefa depende de uma mente ativa e ágil. Infinitas alternativas abstratas ou concretas abundam. Uma cadeia complicada de causalidade deve ser distinguida e, então, classificada. O empreendedor deve lidar com


a inevitável escassez dos fatores de produção, a incerteza das condições futuras — as quais a produção tem de suprir —, e a necessidade de selecionar, a partir de uma desconcertante gama de métodos tecnológicos apropriados à consecução dos objetivos já determinados, aqueles que prejudiquem o menos possível a obtenção de outros fins — isto é, aqueles com os quais o custo da produção é mais baixo. Nenhuma alusão a estes assuntos pode ser encontrada nas obras de Marx e Engels. Tudo o que Lenin pôde aprender sobre negócios — a partir das histórias de seus camaradas que eventualmente trabalharam em escritórios comerciais — era que eles exigiam uma porção de rabiscos, anotações e cifras. (p. 24)

Há também um fenômeno intrafamiliar que "desempenha um papel importante nas modernas maquinações e propagandas anticapitalistas" (p. 27). Nesse ponto, Mises faz uma distinção entre os "patrões" e os "primos" dentre as famílias que possuem grande riqueza. Os primeiros consistem naqueles poucos cujos talentos empresariais os tornam capazes de gerir os negócios da família. Em cada geração, haverá nessa categoria provavelmente não mais do que um ou dois filhos ou netos do patriarca. Completamente dependentes dos "patrões" são os "primos", dentre os quais incluem-se "irmãos, primos, sobrinhos dos patrões, ou quase sempre irmãs, cunhadas viúvas, primas, sobrinhas etc." (p. 27). Os membros desse último grupo "foram educados em modernas escolas e faculdades, cujo ambiente é marcado por um desprezo arrogante referente ao mecânico enriquecimento. Alguns deles passam o tempo em clubes, boates, apostam e jogam, divertem-se e farreiam, chegando à devassidão. Outros, amadoristicamente, ocupam-se com pinturas, literatura ou outras artes. Por isso, grande parte delas são pessoas desocupadas e inúteis" (p.28).

Na realidade, elas são mais do que inúteis. Dado que eles são calamitosamente ignorantes tanto dos princípios da economia como da natureza prática dos negócios, eles logo concluem que (1) o capital criado por seus predecessores deve ser uma fonte infinita e autosustentável de renda para todos os seus descendentes, (2) a maior fatia dessa renda desfrutada por seus parentes, os "patrões", que são quem de fato gerenciam os negócios, trata-se de um excesso imerecido, e que, (3) portanto, eles estão certos em injuriar e se rebelar contra os "patrões" e o sistema que eles representam — o capitalismo. "Os 'primos' se dispõem a apoiar greves até mesmo de onde provêm seus próprios rendimentos.... [Eles] sustentam universidades progressistas, colégios e institutos destinados à 'pesquisa social' e patrocinam todo tipo de atividades do partido comunista. Na condição de 'socialistas de salão' e de 'bolchevistas de cobertura', desempenham papel importante no 'exército proletário' em luta contra o 'funesto sistema de capitalismo'" (p.30)

Mises parecia ter uma opinião bem negativa sobre atores, porque ele os menciona como uma espécie de pretensos intelectuais e, logo depois, retorna a eles com carga máxima, quando detona a Broadway e Hollywood por serem "incubadoras do comunismo" e lar de muitos que estão "entre os mais fanáticos defensores do regime soviético" (p. 31). Sua explicação para esse fato se apóia em sua percepção dos artistas como seres atormentados por um poço sem fundo de insegurança:


A essência da indústria do entretenimento é a variedade. As pessoas aplaudem mais o que é novo e, por isso mesmo, inesperado e surpreendente. São extravagantes e volúveis.... Um magnata do palco ou da tela deve sempre temer os caprichos do público.... Ele está sempre agitado pela ansiedade. (p. 32)

Essa parece ser uma observação trivial. Tudo bem, artistas de todas as variedades provavelmente são pessoas muito inseguras. Mas, então, o que os empurra tão violentamente para a esquerda? A resposta dupla de Mises é que eles se atiram para o comunismo porque (a) por serem tão deficientemente instruídos como muitos outros, eles acreditam na propaganda que declara ser o comunismo a panacéia para toda a infelicidade e (b) eles se concebem a si próprios como "pessoas trabalhadoras, companheiras de todos os outros trabalhadores" (p. 32).

Francamente, essa não é uma explicação muito satisfatória. Alguém poderia imediatamente perguntar por que essa mesma observação não poderia ser usada com igual força para explicar a propensão à esquerda encontrada em muitas camadas da sociedade. Por que isso é típico dos artistas?

O fenômeno dos "comunistas de Hollywood" é de fato notável. E, é claro, ele continua até hoje. Não se trata de um mero artefato da Década Vermelha de 1930. Isso foi fácil de notar, nas últimas semanas, com os murmúrios adoradores que emanaram por ocasião da aposentadoria daquele ditadorzinho barato, Fidel Castro. Steven Spielberg, produtor e diretor afamado, classifica uma audiência que teve com Fidel Castro como "as oito horas mais importantes da minha vida". O ator Jack Nicholson classificou Fidel como "um gênio". A cultura popular está profundamente infectada de visões deformadas como essas. Assim, seria conveniente tentar entender seriamente as razões por trás disso. Com essa finalidade, permitam-me fazer uma modificação e uma ampliação da hipótese de Mises.

Mas antes, deixem-me fazer uma ressalva. Eu não possuo qualquer experiência direta com o mundo dos atores, diretores e dramaturgos. Contudo, meu filho é um ator profissional, com um interesse agudo nas obras de Shakespeare. Devo acrescentar, de passagem, que ele também é um libertário radical que foi exposto prematuramente às obras de Rothbard, Rand, Spooner e Heinlein — o que faz dele, no mundo teatral, um espécime muito raro. E o que é mais importante para o propósito atual: isso significa que ele não enxerga seu ofício através das lentes distorcidas dos "comunas da Broadway".

As conversas com meu filho iluminaram vários dos ângulos mais escuros dessa questão. Primeiramente, os atores foram por séculos rejeitados por pertencerem às mais baixas classes sociais. Pessoas envolvidas com teatro eram mantidas separadas do resto culto da sociedade. Por exemplo, alega-se que até há alguns anos, já no século XX, em muitas cidades americanas atores falecidos não podiam ser sepultados em cemitérios de igrejas. O escritor H.L. Mencken expressou um pouco desse menosprezo quando, escrevendo em 1926, declarou:


Os homens não são iguais, e muito pouco pode ser aprendido sobre os processos mentais de um congressista, de um sorveteiro, ou de um ator de cinema ao se estudar os processos mentais de um homem genuinamente superior. (Notes on Democracy, pp. 15-16)

Por causa dessa imagem universalmente negativa, há muito tornou-se tradicional entre os atores se verem a si próprios como párias. E isso faz com que muitos deles se identifiquem vigorosamente com os mais pobres da classe trabalhadora. Dado também sua crença errônea de que o socialismo de fato serve aos interesses do proletariado, eles automaticamente abraçam a esquerda. Ademais, atores vêem a si próprios como "intelectuais da vanguarda", não obstante o fato de que eles raramente podem ostentar muito em termos de treinamento erudito. Mas dado que a esquerda, especialmente nos EUA, foi muito bem sucedida ao se retratar como a oposição progressiva e iluminada aos membros intolerantes, pedantes e ignorantes da direita, os atores se precipitaram rapidamente em direção a ela.

Atores e dramaturgos são, acima de tudo, contadores de estórias, intérpretes da condição humana, cujas palavras e gestos despertam emoções poderosas em suas platéias. Estórias que cativam e comovem a platéia são geralmente contos sobre conflito, esforço e triunfo. Podem ser estórias sobre um despertar pessoal, ou podem ser contos sobre a resistência contra forças externas — injustiça, ignorância, corrupção. Dessas últimas, é bem mais fácil emocionar uma platéia com um drama contundente sobre um pobre trabalhador que se esforça para sobreviver, do que com uma estória que glorifique o sucesso de um brilhante industrialista. Essas correntes de sentimentos altruístas e igualitários, tão comuns em nossa sociedade, servem para aguçar a simpatia pelo primeiro e para tirar o brilho do último. De Charles Dickens a John Steinbeck, esse tem sido o artifício escolhido por muitos escritores, e muitos atores se deleitaram em levar tais estórias para o palco e para o cinema.

Além disso, aparentemente a visão de mundo da maioria dos atores é fortemente influenciada pelo ambiente em que eles trabalham. Como meu filho salientou, um grupo de atores combinando seus esforços em algum projeto cooperativo desenvolve poderosos laços comunais uns com os outros. Seu trabalho é altamente interdependente; o sucesso de cada um depende do sucesso de todos. Ademais, para criar o produto final, eles podem gastar juntos a maior parte do tempo em que estão acordados, e por grandes períodos de tempo. Tudo isso é particularmente verdade para o teatro, onde as coisas ocorrem ao vivo, mas também é uma característica que vale para os atores de cinema. O resultado não deveria ser muito surpreendente: intensamente familiarizados com iniciativas comunais, os atores acabam adquirindo estima por aquele que acreditam ser um sistema socioeconômico que santifica o impulso comunal: o socialismo.

Finalmente, gostaria de chamar a atenção para um fator adicional — um que não foi sugerido pelo meu filho — que pode ser de considerável significância. Trata-se da noção marxista da "alienação". Creio que muitas pessoas, não somente os atores, sucumbem aos apelos dessa idéia, mesmo aquelas que de outra forma poderiam rejeitar as declarações de Marx. Lembrem-se que Marx e Engels insistiam na idéia de que o capitalismo "aliena" tanto os proletários como os próprios capitalistas. Ou seja, ambos perdem a noção dos aspectos cruciais da essência humana. Os trabalhadores são reduzidos à insignificância, peças facilmente substituíveis do processo industrial, um pouco melhores do que os componentes da maquinaria. Seu único conforto está nas drogas e na devassidão. Já os capitalistas estão cruamente focados em acumular cada vez mais riqueza em detrimento de uma vida mais equilibrada, que seja agraciada pelos encantos suaves da literatura, da família e dos amigos. Em ambos os casos, os produtos do homem presumivelmente se consolidam e, de certa maneira, acabam por dominá-lo e corrompê-lo. (Marxism, pp. 25-28)

Esse ponto é prolífico em implicações para várias outras disciplinas, principalmente a psicologia e a sociologia. Qualquer um que porventura venha a achar que sua atual ocupação (ou vida) é monótona ou insatisfatória, provavelmente irá buscar na alienação — a menos que essa pessoa seja amparada por sólidos princípios filosóficos e econômicos — um estratagema explicativo, um que conforta ao mesmo tempo em que educa erroneamente. E o próximo passo pode muito bem ser uma adoção irrestrita da máxima socialista, que já havia sido planejada justamente para alienar. Se formos considerar a avidez com a qual os atores procuram explorar o funcionamento mais íntimo da alma humana, torna-se compreensível por que filmes e peças teatrais tão frequentemente fazem uso dessa ferramenta embalada previamente. A alienação marxista é sedutora. Assim como a psicanálise freudiana, que só veio surgir mais tarde, ela oferece uma explicação instantânea para uma enorme variedade de fenômenos humanos. E, desde que ninguém resolva ver muito de perto as premissas sobre as quais ela se sustenta, a explicação parecerá muito rica em discernimento.

Eu gostaria de enfatizar que nada do que foi dito tem a intenção de isentar aqueles atores e artistas que repetem incessantemente as banalidades daquela besteira que é o socialismo. Meu propósito é meramente oferecer um apanhado mais completo dos motivos por trás dessa tão citada conexão.



Capitalismo e Ignorância

Permitam-me agora concentrar na segunda ponta da explicação de Mises para o predomínio de sentimentos anticapitalistas: ignorância. Como ele coloca:


[As pessoas] são socialistas [não apenas] porque estão cegadas pela inveja.... [mas também porque] se recusam obstinadamente a estudar economia e desprezam a devastadora crítica que os economistas fazem ao planejamento socialista porque, a seus olhos, por ser uma teoria abstrata, a economia é simplesmente absurda. Eles fingem acreditar apenas na experiência. (A Mentalidade Anticapitalista, pp. 14).

Mas por que haveria essa "recusa obstinada" em se estudar economia? Certamente não são todos os inimigos do capitalismo que são néscios incultos que mal sabem ler ou escrever. De acordo com Mises, a omissão do estudo econômico ocorre por dois fatores: (a) objeção a todas as "teorias abstratas" e (b) dependência de uma experiência pessoal. Em outras palavras, os princípios universais da ação humana, verdades atemporais que são válidas em todos os lugares e para todas as pessoas, devem ser rejeitados. Em seu lugar deve ser implementada, de acordo com as necessidades, uma corrente infindável de instrumentos estatísticos. A corrente é infindável porque não se pode jamais esgotar todos os possíveis cenários. Um novo banco de dados sempre estará pronto para ser usado, logo em seguida. Além disso, novos e "melhores" métodos de análise de regressão, ou técnicas de simulação, poderão sempre ser aplicados de modo a refinar e melhorar estudos passados.

E não se trata de um empiricismo amplo e baseado na realidade, típico de Carl Menger, mas, sim, da extração de dados feita pelos modernos econometricistas. Ela não acrescenta nada de significativo ao nosso entendimento da economia, mas aumenta significativamente o número de potencias artigos em periódicos. Ela cria a ilusão de uma ciência em constante avanço, quando tudo que ela na realidade faz é inundar o campo da economia com uma imensa quantidade de matemáticos aplicados — e não necessariamente bons nessa área — que possuem uma compreensão bem superficial dos princípios econômicos, e nenhum domínio da história da ciência econômica. Pior ainda, eles obviamente produzem "réplicas" de si próprios, por assim dizer. Isto é, eles esperam e exigem de seus estudantes uma abordagem econômica semelhante às suas. Atualmente, temos tido várias gerações de graduandos em economia que, a cada formatura, parecem saber cada vez menos sobre a economia real.

Essa versão ortodoxa da economia descrita acima também joga a favor dos inimigos pós-modernos da razão. Se a economia não mais é vista como um corpo de princípios universais que são deduzidos através da aplicação da lógica dedutiva a certas proposições axiomáticas, então uma variedade de conclusões concretas se torna viável. A porta fica completamente aberta para aquilo que Keith Windschuttle descreveu como o "argumento de que as ciências ocidentais não têm uma validade universal, mas são meras expressões daqueles que têm autoridade dentro da cultura Ocidental" (The Killing of History, p. 270). Agora, é fato que a preocupação principal de Windschuttle está voltada para alguns modismos entre historiadores e antropólogos, mas a questão principal transcende todas as disciplinas acadêmicas. "O relativismo cultural começou como uma crítica intelectual ao pensamento ocidental, mas agora se tornou uma justificativa influente para uma das mais potentes forças políticas da era contemporânea. Trata-se do renascimento do tribalismo no pensamento e na política" (p. 277).

Eis aqui o âmago do assunto em questão. O pensamento primitivo e tribal é contraposto ao raciocínio abstrato. Ele está focado no particular, no pessoal, no concreto. Ele reorienta o "conhecimento" para que este abandone os poderosos processos de integração e diferenciação em favor da perspectiva limitada da casta, clã ou tribo. Ele inevitavelmente leva ao relativismo epistemológico, bem como ao relativismo cultural. Além disso, devemos notar também, como Mises o fez vigorosamente em Ação Humana, que a moderna rejeição da razão começou de fato como um ataque à economia:


A revolta contra a razão foi dirigida para um outro alvo. Não tinha em mira as ciências naturais, e sim a economia. O ataque às ciências naturais foi uma consequência lógica e natural do ataque à economia. Seria inconcebível impugnar o uso da razão em um determinado campo do conhecimento, sem impugná-lo também nos demais. (p. 73)

Aqui ele está, obviamente, se referindo à besta que ele chama de polilogismo e ao seu progenitor, Karl Marx:


O polilogismo marxista assegura que a estrutura lógica da mente é diferente nas várias classes sociais. O polilogismo racial difere do polilogismo marxista apenas na medida em que atribui uma estrutura lógica peculiar a cada raça, e não a cada classe. Assim, todos os membros de uma determinada raça, independentemente da classe a que pertencem, são dotados da mesma estrutura lógica. (p. 75)

Questionar o poder da razão significa questionar o valor da mente humana. Uma vez que tais dúvidas são suscitadas, a abstração é jogada pela janela. Qualquer análise se torna impotente. A educação se torna um sótão atravancado, no qual itens excêntricos e não correlacionados são amontoados aleatoriamente. Ademais, como Mises bem notou, a razão humana tem o mesmo escopo da ação humana. Praticamente não se pode conceber uma sem a outra. A razão, quando divorciada da ação, torna-se estéril. A ação, quando não disciplinada pela razão, torna-se despropositada. Algemar a mente significa restringir a ação, tornar a ação teleologicamente incompetente. Para poder sobreviver e se desenvolver, o homem precisa fazer uso daquela maravilhosa ferramenta que ele possui — sua faculdade racional.

Acontecimentos políticos podem de fato limitar a ação do homem até um grau considerável, mas nenhuma restrição externa é tão efetiva em estorvar um homem como a proposição filosófica que diz que não se deve confiar em sua mente. As correntes mais profundas do ceticismo, que ganharam proeminência nos dois últimos séculos, acabaram por danificar gravemente os fundamentos que formam toda a base da economia, da ciência, da tecnologia e da educação.

Como exemplos dessas influências insidiosas, Mises cita, em Ação Humana, David Hume, os utilitaristas e os pragmáticos americanos. Estando preocupada com essas mesmas questões, Ayn Rand certa vez escreveu que a educação era teórica por natureza, ou seja, conceitual. O estudante "tem de ser ensinado a pensar, a compreender, a integrar, a provar," mas isso é justamente "o que as faculdades extinguiram, omitiram e renegaram há muito tempo. O que elas ensinam hoje não tem qualquer relevância para nada — nem para a teoria, nem para a prática, nem para a realidade, nem para a vida humana" (The New Left, p. 197). Não consigo imaginar Mises discordando disso. Não consigo mesmo.

Quase todos aqueles que são acadêmicos como eu já foram testemunhas melancólicas de uma proeminente manifestação da omissão mencionada por Rand: a proliferação de acréscimos especiais aos currículos das faculdades — cursos obrigatórios sobre multiculturalismo, além de toda uma gama de novos programas sobre Estudos Femininos, Estudos Afro, Estudos Gays e Lésbicos, Estudos México-Americanos, e por aí vai. Seis décadas atrás Mises já alertava para os efeitos perniciosos do polilogismo; hoje, estamos vendo exatamente essa coisa, esteja ela incrustada nas declarações dos objetivos de uma faculdade ou nos planos de graduação.

Para seu crédito perpétuo, Mises entendeu por completo aquilo que alguns defensores do livre mercado ainda não conseguiram: o debate sobre o capitalismo não se trata meramente de discutir qual sistema socioeconômico vai produzir bens e serviços da maneira mais eficiente, ou sobre qual está mais de acordo com as preferências individuais dos consumidores. Ele compreendeu que o debate envolvia isso e muito mais. Ele compreendeu que atacar o capitalismo significava atacar a civilização em si, atacar o papel da razão na vida humana — e, com isso, solapar o valor da própria vida. Como ele coloca em sua franqueza característica, os coletivistas atuais "defendem medidas que certamente resultarão no empobrecimento geral, na desintegração da cooperação social sob o princípio da divisão do trabalho e em um retorno à barbárie". (A Mentalidade Anticapitalista, p. 5).

Como se isso ainda não fosse suficiente para encerrar o caso, Mises acrescenta o seguinte crescendo, com o qual ele conclui Ação Humana:


Cabe aos homens decidirem se preferem usar adequadamente esse rico acervo de conhecimento que lhes foi legado ou se preferem deixá-lo de lado. Mas, se não conseguirem usá-lo da melhor maneira possível ou se menosprezarem os seus ensinamentos e as suas advertências, não estarão apenas invalidando a ciência econômica; estarão aniquilando a sociedade e a raça humana. (p. 885)

Um chamado às armas

Onde, então, nós nos situamos? Como sabemos, o socialismo nada mais é do que um puro caos calculacional. Avaliações e alocações racionais serão, nesse sistema, coisas eternamente ilusórias. Trata-se de um gigantesco jogo de soma negativa, no qual cada jogador se preocupa apenas em pegar rapidamente um pedaço do bolo, enquanto este vai diminuindo rapidamente frente aos olhos de todos. Já o estado assistencialista, intervencionista e belicista não representa nenhuma melhoria. Cada intervenção sempre gerará uma outra. A burocracia torna-se a única "indústria" que garantidamente sempre vai crescer. Cada nova regulamentação taxa o setor privado, impiedosamente desviando recursos das mãos dos produtivos para as mãos dos improdutivos. Assim, um verdadeiro capitalismo é o único jogo de soma positiva disponível.

Em resumo, qualquer argumentação contra o capitalismo é indefensável. Trata-se de algo puramente ilusório e enganoso. Está arraigada na inveja e na malícia. É estimulada por uma assombrosa ignorância em relação a conceitos econômicos verdadeiros, o que consequentemente se traduz em uma ampla rejeição da razão em si. Esses anticapitalistas, esses Novos Bárbaros irão — caso tenham a chance — acabar por destruir não apenas o capitalismo, mas também a educação, a ciência, a tecnologia, a literatura, as artes, os direitos individuais, a prosperidade e, inevitavelmente, a própria civilização.

Não, a coisa não virá como uma avalanche de neve, descendo em cascata montanha abaixo. Será, e tem sido, mais parecido com uma corrente de água erodindo lenta, porém inexoravelmente a superfície da rocha até que, eventualmente, o rocha simplesmente deixará de existir. Alguém poderá dizer que a humanidade está muito relaxada, molenga, deixando-se ser arrastada em direção ao coletivismo. O que devemos fazer?

Podemos e devemos continuar o magnífico legado de Ludwig von Mises. Devemos expandir a economia austríaca em cada direção e maneira possíveis. Devemos estimular a aplicação de critérios austro-libertários em todas as áreas e em cada tópico imaginável. Devemos engajar outros estudiosos, estrategistas econômicos e formadores de opinião, tanto pessoalmente quanto por via impressa. Devemos instruir o público sempre que houver uma oportunidade. Sabemos que a tarefa não é fácil. Ora, vamos encarar a verdade. Os coletivistas têm seus tentáculos firmemente inseridos em cada orifício obscuro do corpo político. Podemos — devemos! — extirpá-los de lá, expondo-os impiedosamente à luz da razão, da liberdade e da ciência econômica de Menger, Böhm-Bawerk, Mises e Rothbard. Nesse grande esforço, talvez possamos alimentar nossa esperança com uma observação oferecida muito tempo atrás pelo grande patriota americano Samuel Adams:


"Não se requer uma maioria para se ser predominante, mas, sim, uma minoria irada e incansável, ávida por acender a chama da liberdade na mente das pessoas."

Até que o dia da liberação finalmente chegue, dediquemo-nos a ser essa minoria irada e incansável.


Larry J. Sechrest era professor de economia na Sul Ross State University, em Alpine, Texas. Foi membro adjunto do Mises Institute, pesquisador do The Independent Institute, e o diretor do Free Enterprise Institute. Faleceu a 30 de outubro de 2008.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque