sábado, 9 de fevereiro de 2013

O HEDONISMO SOCIALISTA E A NOSSA ECONOMIA MINGUANTE

Não há em cena neste momento uma força capaz de interromper essa debacle. Os discípulos de Marcuse estão no poder e não há uma possibilidade imediata de derrotá-los em uma eleição.



Embora os especialistas continuem a escrever como se tivesse havido uma recuperação econômica, os números contam uma história diferente. É a história da falsa recuperação e do contínuo mau investimento. No Business News anuncia-se em manchete: Economia dos EUA encolhe pela primeira fez desde o fim da recessão. Nessa notícia nos é dito que a “economia encolheu inesperadamente no fim do ano passado...” – era assim algo tão inesperado? Nossa sociedade se afastou das antigas regras e das antigas verdades. O hedonismo do mercado agora está junto do hedonismo socialista e, desta forma, nos é dado um novo tipo de sociedade que não entende mais aquilo que é básico na ciência econômica. É uma sociedade que faz empréstimos e se afunda em débito. É uma sociedade que sugere a ideia de tirar algo do nada.

E é aí que tem início os nossos problemas. O que vem do nada é o nada. Para que se cresça uma economia é necessário que haja incentivos, especialmente no livre comércio de bens e serviços. Os inimigos do capitalismo e do mercado não gostam desse tipo de liberdade. Melhor condenar essa prática como algo ilusório que não é mais “sustentável”. Isso explica a ternura dessas pessoas ao falar de “mudanças climáticas, pico do petróleo e contradições internas do capitalismo”. Obstáculos de todos os tipos devem ser colocados no caminho do sistema de mercado. Os homens não devem ser livres para comprar e vender. E, finalmente, quando se obtém a pobreza como resultado desse pisoteio do sistema de livre mercado, este último mesmo assim será culpado.

Em conferência proferia na Escola de Frankfurt no dia 28 de julho de 1967, o “filósofo” Herbert Marcuse projetou o futuro caminho da Nova Esquerda. “Estamos lidando com a dialética da libertação”, explicou Marcuse. Essa libertação era de um sistema repressivo. Com efeito, esse sistema havia se tornado opulento, poderoso e funcional; mas o sistema (segundo Marcuse) era moralmente mau e caracterizado pela “servidão voluntária”. Marcuse havia abandonado desde muito as fórmulas estritas do marxismo em favor de uma fórmula revolucionária mais frouxa e hedonista. É aí a raiz do marxismo cultural que pregava a liberação feminina, o casamento gay e o moderno estado de bem-estar social. E é isso o que o marxismo se tornou no opulento Ocidente.

De acordo com Marcuse, “se o socialismo é definido em sua maioria por termos utópicos, nomeadamente (...) a abolição do trabalho (então se pressupõe)... uma transvaloração dos valores, uma nova antropologia”. Nesse caso, o socialismo pressupõe “um tipo de homem que rejeita os princípios vigentes que estabilizaram as sociedades: um tipo de homem que se livra da agressividade e da brutalidade que são inerentes à organização de uma sociedade estabelecida e da sua moralidade hipócrita e puritana...”

É aí que Marcuse, como o pai da Nova Esquerda, lega aos seus discípulos o ideal ao qual eles ainda mantém firmemente incorporado nos dias de hoje. É o iceberg em que o navio estatal está se arrebentando. É a ideia do algo por nada – do prazer sem trabalho, da civilização sem moralidade. Segundo Marcuse, o novo homem não precisa trabalhar. Ele dedica seu tempo “às pequenas alegrias e prazeres sem peso na consciência”. Rejeitando o princípio vigente, ele é incapaz de se superar. Em suma, ele é o homem socialista – e também é o “último homem” do qual Nietzsche falou: “A terra tornar-se-á então menor, e sobre ela andará aos pulos o último homem, que tudo apouca.”

Agora vemos como a ética trabalhista se deteriorou. As rebeliões na década de 1960 não se tratavam de uma fase passageira, mas sim a transvaloração como dita por Marcuse. Vemos também como tudo diminuiu. O próprio homem se diminuiu conforme foi se tornando cada vez mais incapaz de cuidar de si mesmo, já que vive sob um inchado estado de bem-estar social.

No ano de 1900, boa parte dos americanos nasceu em fazendas. Agora consideremos o que se necessitava para manter uma fazenda naquele ano. Alguém atualmente trabalha tão duro quanto aqueles americanos? A transição de uma sociedade rural para uma sociedade urbana nos trouxe muitos benefícios. Benefícios esses adquiridos por causa da prevalência da nossa capacidade intelectual. Ao invés de trabalharmos duro da aurora ao entardecer, somos assistidos por máquinas, astutos engenheiros e organizadores capitalistas que nos salvam de ter de enfrentar a extenuante labuta do dia a dia. Assim, deveríamos todos nos lembrar que é o capitalismo que mobilizou essa capacidade intelectual. É o investimento e o mercado que nos livrou do trabalho árduo, não o socialismo. Ao contrário, são os socialistas que organizaram um ataque a esse mesmo mecanismo que trouxe a verdadeira libertação para milhões de pessoas.

“Essa é a libertação de um sistema falso, mau e repressivo”, disse Marcuse na conferência de 1967. Mas ele estava errado. O capitalismo é o libertador e o falso sistema é o socialismo. Ironicamente, foi o capitalismo que tornou o socialismo hedonista possível. Foi a abundância do capitalismo que permitiu o advento do estado de bem-estar social que perdura até hoje, cada vez mais forte. Sem abundância não haveria o quê redistribuir. A conversão para um socialismo hedonista é, portanto, produto de um bem-sucedido – porém pouquíssimo cauteloso – sistema capitalista. O marxismo de hoje não é o marxismo da revolução do proletariado, e sim o marxismo do governo que dá brindes e dos grupos de interesses especiais.

Como sugerem as notícias, a economia está encolhendo e assim ela prosseguirá. Não há em cena neste momento uma força capaz de interromper essa debacle. Os discípulos de Marcuse estão no poder e não há uma possibilidade imediata de derrotá-los em uma eleição. O estado de bem-estar social continuará a crescer mesmo quando o lado produtivo da economia estiver diminuindo. Tendo em mente que a economia de livre mercado é parte do nosso patrimônio herdado, não há mais o que dizer sobre esse assunto, porém finalizarei com uma citação do livro The Strange Death of Marxism de Paul Gottfried, no qual ele escreve: “A esquerda pós-marxista vai muito além dos movimentos totalitários do passado (...) ao rejeitar enfaticamente a cultura ocidental e seu patrimônio histórico.” Por: POR JEFFREY NYQUIST Publicado no Financial Sense.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

EU NÃO ACEITO!

Quando o hígido Michel Temer vira poeta e Renan Calheiros – acusado pela Procuradoria Geral da República de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso – é apossado (com voto secreto – o voto da covardia) na Presidência do Senado Federal no posto número 3 da sucessão republicana e entra no papel dando uma aula de ética e com apoio do PSDB, um lado meu pergunta ao outro se não estaria na hora de sumir do Brasil.


Se não seria o momento de pegar o meu chapéu e deixar de escrever, abandonar o ensino das antropologias, desistir do trabalho honesto, beber fel, tornar-me um descrente, aloprar-me, abandonar a academia (de ginástica, é claro), deixar-me tomar pela depressão, desistir de sonhar, aniquilar-me, andar de joelhos, dar um tiro no pé, filiar-me a uma seita de suicidas, mijar sentado, avagabundar-me, virar puxa-saco, fazer da mentira a minha voz; e – eis o sentimento mais triste – deixar de amar, de imaginar, de ambicionar e de acreditar. Abandonar-me a esse apavorante cinismo profissional que toma conta do País – esse inimigo da inocência -, porque minha cota de ingenuidade tem sido destroçada por esses eventos. Eu não posso aceitar viver num país que legaliza a ilegalidade, tornando-a um valor. Eu não posso aceitar um conluio de engravatados que vivem como barões à custa do meu árduo trabalho.

“A ética não é um objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o Brasil, é o interesse nacional. A ética é obrigação de todos nós e é dever deste Senado”, professa Renan Calheiros, na sua preleção de po(s)se.

Para ele, a ética, o Brasil, o dever, o interesse e as obrigações são coisas externas. Algo como a gravata italiana que chega de fora para dentro e pode ou não ser usada. Façamos uma lei que torne todo mundo ético e, pronto!, resolvemos o problema da cena política brasileira – esse teatro de calhordices.

A ética não é a lei. A lei está escrita no bronze ou no papel, mas a ética está inscrita na consciência ou no coração – quando há coração… Por isso, ela não precisa de denúncias de jornais, nem de sermões, nem de demagogia, nem da polícia! A lei precisa da polícia, o moralismo religioso carece dos santarrões e as normas, de fiscais. A ética, porém, requer o senso de limites que obriga à mais dura das coragens: a de dizer não a si mesmo e, no caso deste Brasil impaludado de lulopetisto, a de negar o favor absurdo ou criminoso à namorada, ao compadre, ao companheiro, ao irmão, ao amigo.


Quem é que pode acreditar na possibilidade de construir um mundo mais justo e igualitário no qual a esfera pública, tocada com honestidade, é um ideal, com tais atores? Justiça social, honestidade, retidão de propósito são valores que formam parte da minha ideologia; são desígnios que acredito e quero para o Brasil. Ver essa agenda ser destruída em nome dos que tentaram comprar apoio político e hoje se dizem vítimas de um complô fascista, embrulha o meu estômago. Isso reduz a pó qualquer agenda democrática para o Brasil.“O Zé é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo!”, eis a cínica palavra de ordem de um sistema totalmente aparelhado e dominado pelo poder feito para enriquecer a quem o usa, sem compostura, o toma lá dá cá com tonalidades pseudoideológicas, emporcalhando a ideologia.

O cínico – responde meu outro lado – precisa (e muito) de polícia; o ético tem dentro de si o sentido da suficiência moral. Ela ou ele sabem que em certas situações somente o sujeito pode dizer sim (ou não!) a si mesmo. Isso eu não faço, isso eu não aceito, nisso eu não entro. É simples assim. A camaradagem fica fora da ética, cujo centro é o povo como figura central da democracia.

O que vemos está longe disso. Um eleito condenado pelo STF é empossado deputado, Maluf – de volta ao proscênio – sorri altaneiro para os fotógrafos, um outro companheiro com um passado desabonado por acusações vai ser eleito presidente da Câmara; a presidente age como a rainha Vitória. E o Direito: o correto e o honesto viram “direita”. Entrementes, a “esquerda” tenta desmoralizar a Justiça porque não aceita limites nem admite abdicar de sua onipotência. Articula-se objetivamente, com uma desfaçatez alarmante, uma crise entre poderes exatamente pela mais absoluta falta de ética, esse espírito de limite ausente dos donos do poder neste Brasil de conchavos vergonhosos e inaceitáveis. Você, leitor pode aceitar e até considerar normal. Eu não aceito!

Por: Roberto DaMatta Fonte: O Estado de S. Paulo, 06/01/2013

QUAL O BENEFÍCIO DE EXPORTAR MAIS DO QUE IMPORTAR



Na Foto ao lado Guido Mantega cumprindo sua função: atender ao lobby dos exportadores, espoliando o poder de compra do resto da população brasileira

Ao longo dos últimos 300 anos, o senso comum reinante entre os economistas convencionais, a mídia e os leigos é o de que um país estará em melhor situação se ele exportar mais bens e serviços do que ele importa. A crença dominante é a de que, se um país é um exportador líquido, então este país é uma verdadeira usina de prosperidade.

É por isso que, segundo este raciocínio, a China é considerada por esses economistas e seus seguidores na mídia uma potência econômica. O país é competitivo por causa de sua capacidade de exportar muitos bens para outros países. Porém, para fazer isso, há uma contrapartida: a China inevitavelmente tem de aceitar notas promissóriasdos estrangeiros. 

Quando um país exporta bens, o que ele recebe em troca são meros dígitos eletrônicos contabilizados em moeda estrangeira — atualmente, o dólar. Como o dólar não é moeda corrente na esmagadora maioria das nações do globo, o que um país exportador recebe, na realidade, é um título da dívida do governo americano. Os dólares digitais que este país recebe em decorrência de suas exportações são reinvestidos nos EUA, na aquisição de títulos do governo americano. No balancete do Banco Central, esta aquisição de títulos do governo é contabilizada como "reservas internacionais".

O que realmente ocorre é o seguinte: indivíduos que trabalham no ramo da exportação estão dispostos a aceitar notas promissórias, ou outros tipos de ativos baseados em dígitos eletrônicos, em troca de bens físicos. O exportador recebe dinheiro eletrônico — no caso, dólares americanos — em sua conta bancária. Para ele, estes dólares têm valor. Se não tivesse, ele não teria exportado os bens. Ele pode trocar estes dólares por sua moeda doméstica (no caso, ele vende dólares ao seu banco, que irá creditar sua conta-corrente com moeda nacional) ou ele pode manter estes dólares no exterior, depositado em um banco estrangeiro. Talvez ele prefira comprar ações ou outros ativos estrangeiros que são vendidos em dólares. A questão é que esse exportador está disposto a aceitar notas promissórias — no caso, promessas digitais — em troca de seus bens reais. Esta é o único princípio por trás da exportação.

Os EUA são o exemplo clássico de um país que importa muito mais bens do que exporta. No entanto, os EUA também são considerados uma potência econômica. Por quê? Porque estrangeiros estão sempre dispostos a investir no país. O problema é que o investimento favorito é a compra de títulos emitidos pelo Tesouro americano. Embora alguns investidores estrangeiros comprem estes títulos, quem os compra em sua esmagadora maioria são os bancos centrais estrangeiros. Os bancos centrais estrangeiros compram títulos do governo americano porque seus respectivos governos querem manter suas moedas nacionais depreciadas em relação ao dólar, de modo a aumentar as exportações para os EUA. Em outras palavras, o governo chinês é a real fonte do poderio exportador daquela nação, pois é ele quem manipula o mercado de câmbio para favorecer suas indústrias exportadoras.

Utilizar o poder estatal para subsidiar uma pequena porcentagem da população doméstica (os exportadores, cujo lobby é poderoso em qualquer nação do mundo) ao mesmo tempo em que se prejudica a esmagadora maioria da população (os consumidores, que não têm lobby em nenhuma nação do mundo) é a norma atual em todas as grandes economias do globo. E a retórica utilizada também é a mesma: beneficiar alguns poucos em detrimento de todo o resto é algo que se faz em nome do fortalecimento da nação. 

O argumento, como em todas as promessas governamentais, é totalmente falacioso.

O que fortalece a população de um país é ter uma moeda previsível. Isso faz com que os prognósticos de investimento sejam mais fáceis. A preocupação das pessoas com relação às flutuações do valor da moeda é reduzida. Mas é impossível obter uma moeda previsível em termos internacionais, pois os governos dos outros países estão continuamente manipulando suas moedas, quase sempre por meio da expansão da oferta monetária. Em outras palavras, todos os bancos centrais estrangeiros inflacionam. Sendo assim, uma moeda doméstica cuja oferta seja constante irá se apreciar continuamente em relação às moedas estrangeiras. Isso significa que seu poder de compra irá aumentar continuamente. Não haverá taxas de câmbio estáveis entre os países.

Se o Banco Central de um determinado país estivesse operando sob um padrão-ouro genuíno, ele não poderia inflacionar desmedidamente a moeda deste país. O mesmo valeria para seu sistema bancário de reservas fracionárias. Qualquer banco que expandisse o crédito enfrentaria uma corrida em seu estoque de moedas de ouro. Suas reservas de ouro iriam se exaurir rapidamente. Portanto, o temor de uma corrida bancária, na qual os correntistas apresentam seu dinheiro digital e exigem restituição em moedas de ouro, restringiria a expansão da oferta monetária. Isso significa que a moeda deste país irá se apreciar em relação a todas as moedas estrangeiras que não estão restringidas por tal ameaça. Isso significa que os cidadãos que residem na nação sob o padrão-ouro poderiam importar bens estrangeiros a preços decrescentes. A cada ano as importações estariam mais baratas. Como consumidores, estes cidadãos seriam beneficiadas e seu padrão de vida aumentaria a cada ano.

Supondo que estas pessoas estão produzindo bens de valor, o que significa que elas estão adquirindo uma moeda denominada em ouro, seu patrimônio líquido está aumentando continuamente. Por quê? Porque, com a mesma quantidade de dinheiro, elas podem comprar quantidades cada vez maiores de bens importados. Elas estão vivenciando aquilo que todos nós adoramos vivenciar: preços cada vez menores para os bens e serviços que desejamos comprar.

Dado que há uma quantidade muito maior de pessoas voltadas para o mercado doméstico do que para as exportações, uma política de moeda estável iria beneficiar aquelas pessoas que são mais produtivas, mais economicamente eficientes e que melhor atendem às demandas da população. Estas conseguiriam obter um fluxo contínuo da moeda doméstica. Seu custo de vida cairia ano após ano, de forma consistente, porque os bancos centrais estrangeiros estão inflacionando suas respectivas moedas. O valor daquelas moedas em relação à moeda estável deste país cairia continuamente.

Logo, uma moeda estável traria um grande benefício para aqueles consumidores que vivem sob este padrão-ouro. E estes consumidores formam a esmagadora maioria dos consumidores de um país. Apenas uma relativamente pequena porcentagem dos empreendedores e trabalhadores de uma nação está no setor exportador da economia. É por isso que a desvalorização da moeda nacional é um subsídio apenas para uma minoria de empresários e trabalhadores. A vasta maioria dos residentes desta nação é prejudicada. Ela é obrigada a pagar mais caro por bens importados por causa da política de seu Banco Central de inflacionar a oferta monetária a fim de manter a moeda nacional desvalorizada perante as outras moedas. 

Ao depreciarem sua própria moeda, os planejadores monetários estão prejudicando os interesses da grande maioria dos cidadãos desta nação. O subsídio beneficia apenas uma minoria. O fato de haver uma enorme quantidade de pessoas na maioria permite que sua riqueza seja espoliada por meio da inflação da oferta monetária, permitindo ao setor exportador ganhar receitas acima das de mercado ao exportar seus bens. Uma minoria não pode subsidiar uma maioria. Sempre tem de ser ao contrário.

Portanto, uma economia com uma moeda estável irá beneficiar a grande maioria de seus cidadãos, os quais poderão comprar a preços continuamente mais baixos. Essa verdade econômica irrita os defensores do mercantilismo. Eles dizem que tal política é maléfica. Eles estão convencidos de que ter um Banco Central depreciando continuamente a moeda como forma de subsidiar o setor exportador é algo extremamente benéfico para uma nação, e que a reduzida quantidade de bens e serviços que estarão disponíveis para os consumidores domésticos (tanto em decorrência das menores importações quanto pelo fato de mais produtos domésticos estarem sendo exportados) é algo sem nenhuma importância.

Os defensores do mercantilismo jamais discutem a realidade econômica desta redistribuição de riqueza. Eles jamais apontam para aquela incontestável realidade: que a esmagadora maioria dos cidadãos é obrigada a arcar com perdas econômicas, principalmente quando se leva em conta os ganhos que obteriam caso pudessem adquirir bens estrangeiros a preços cada vez menores.

A vasta maioria dos cidadãos de qualquer país não faz a mais mínima ideia da relação entre expansão monetária e redução das importações. Eles não entendem que estão sendo prejudicados pela política de depreciação monetária feita pelo seu governo. Se eles entendessem de economia, iriam imediatamente exigir um padrão-ouro puro, e iriam prontamente se beneficiar do crescente valor internacional de sua moeda nacional. Como iriam se beneficiar? Podendo comprar uma quantia cada vez maior de bens estrangeiros a preços cada vez menores.

Infelizmente, são tão poucas as pessoas que entendem de lógica econômica, que este subsídio coercivamente extraído de uma maioria para uma minoria não é visto como um programa de transferência de riqueza dos mais pobres (consumidores comuns) para os mais ricos (barões do setor exportador). Sempre que o governo de um país adota o mercantilismo — algo que ocorre a aproximadamente 100% do tempo —, ele o faz sabendo que praticamente ninguém compreende que aquela política prejudica a vasta maioria dos cidadãos e beneficia apenas uma minoria que está no setor exportador da economia. Mais ainda: ele o faz sabendo inclusive que contará com o resoluto apoio da mídia e dos desinformados de plantão, que acreditam que um "setor exportador subsidiado fortalece a economia do país".

O mundo está hoje adotando políticas de depreciação monetária competitiva. Se um país deprecia sua moeda, o outro quer depreciar mais. "Tudo pelos exportadores!" Isso irá prejudicar severamente a vasta maioria dos cidadãos de todas as nações. Eles não poderão usufruir o benefício de ter uma moeda doméstica forte, algo que os permitiria importar mais bens estrangeiros. Eles seriam capazes de adquirir os bens e serviços que quisessem, a preços continuamente declinantes, caso sua moeda nacional fosse baseada em um padrão-ouro. Caso desfrutassem de plena conversibilidade em ouro — isto é, caso pudessem ir a um banco para trocar dinheiro digital por moedas de ouro —, eles vivenciariam um padrão de vida crescente. Mas como eles não entendem de economia, eles aceitam (e até aplaudem) as políticas mercantilistas de seu governo. Eles aceitam que sua moeda seja depreciada e seu padrão de vida seja reduzido. Eles aceitam ser roubados em prol da boa vida dos exportadores. Eles gostam de ver seus bens sendo enviados para estrangeiros a troco de nada (apenas os exportadores ficam com as notas promissórias).

É lamentável que a maioria das pessoas não entenda de economia. Para os exportadores, no entanto, que se beneficiam deste assalto ao poder de compra da população, essa ignorância econômica de seus compatriotas é uma dádiva. Dado que é impossível ganhar algo a troco de nada, o que ocorre é que um pequeno grupo de exportadores ganha muito e, em troca, o restante das massas fica com preços crescentes para quase todos os bens e serviços da economia. E ainda bate palma.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O QUE OS NAZISTAS COPIARAM DE MARX


O marxismo afirma que a forma de pensar de uma pessoa é determinada pela classe a que pertence. Toda classe social tem sua lógica própria. Logo, o produto do pensamento de um determinado indivíduo não pode ser nada além de um "disfarce ideológico" dos interesses egoístas da classe à qual ele pertence. A tarefa de uma "sociologia do conhecimento", segundo os marxistas, é desmascarar filosofias e teorias científicas e expor o seu vazio "ideológico". A economia seria um expediente "burguês" e os economistas são sicofantas do capital. Somente a sociedade sem classes da utopia socialista substituirá as mentiras "ideológicas" pela verdade.

Este polilogismo, posteriormente, assumiu várias outras formas. O historicismo afirma que a estrutura lógica da ação e do pensamento humano está sujeita a mudanças no curso da evolução histórica. O polilogismo racial atribui a cada raça uma lógica própria.

O polilogismo, portanto, é a crença de que há uma multiplicidade de irreconciliáveis formas de lógica dentro da população humana, e estas formas estão subdivididas em algumas características grupais.

Os nazistas fizeram amplo uso do polilogismo. Mas os nazistas não inventaram o polilogismo. Eles apenas criaram seu próprio estilo de polilogismo.

Até a metade do século XIX, ninguém se atrevia a questionar o fato de que a estrutura lógica da mente era imutável e comum a todos os seres humanos. Todas as interrelações humanas são baseadas nesta premissa de que há uma estrutura lógica uniforme. Podemos dialogar uns com os outros apenas porque podemos recorrer a algo em comum a todos nós: a estrutura lógica da razão.

Alguns homens têm a capacidade de pensar de forma mais profunda e refinada do que outros. Há homens que infelizmente não conseguem compreender um processo de inferência em cadeias lógicas de pensamento dedutivo. Mas, considerando-se que um homem seja capaz de pensar e trilhar um processo de pensamento discursivo, ele sempre aderirá aos mesmos princípios fundamentais de raciocínio que são utilizados por todos os outros homens. Há pessoas que não conseguem contar além de três; mas sua contagem, até onde ele consegue ir, não difere da contagem de Gauss ou de Laplace. Nenhum historiador ou viajante jamais nos trouxe nenhumainformação sobre povos para quem A e não-A fossem idênticos, ou sobre povos que não conseguissem perceber a diferença entre afirmação e negação. Diariamente, é verdade, as pessoas violam os princípios lógicos da razão. Mas qualquer um que se puser a examinar suas deduções de forma competente será capaz de descobrir seus erros.

Uma vez que todos consideram tais fatos inquestionáveis, os homens são capazes de entrar em discussões e argumentações. Eles conversam entre si, escrevem cartas e livros, tentam provar ou refutar. A cooperação social e intelectual entre os homens seria impossível se a realidade não fosse essa. Nossas mentes simplesmente não são capazes de imaginar um mundo povoado por homens com estruturas lógicas distintas ente si ou com estruturas lógicas diferentes da nossa.

Mesmo assim, durante o século XIX, este fato inquestionável foi contestado. Marx e os marxistas, entre eles o "filósofo proletário" Dietzgen, ensinaram que o pensamento é determinado pela classe social do pensador. O que o pensamento produz não é a verdade, mas apenas "ideologias". Esta palavra significa, no contexto da filosofia marxista, um disfarce dos interesses egoístas da classe social à qual pertence o pensador. Por conseguinte, seria inútil discutir qualquer coisa com pessoas de outra classe social. Não seria necessário refutar ideologias por meio do raciocínio discursivo; ideologias devem apenas ser desmascaradas, denunciando a classe e a origem social de seus autores. Assim, os marxistas não discutem os méritos das teorias científicas; eles simplesmente revelam a origem "burguesa" dos cientistas.

Os marxistas se refugiam no polilogismo porque não conseguem refutar com métodos lógicos as teorias desenvolvidas pela ciência econômica "burguesa"; tampouco conseguem responder às inferências derivadas destas teorias, como as que demonstram a impraticabilidade do socialismo. Dado que não conseguiram demonstrar racionalmente a validade de suas idéias e nem a invalidade das idéias de seus adversários, eles simplesmente passaram a condenar os métodos lógicos. O sucesso deste estratagema marxista foi sem precedentes. Ele tornou-se uma blindagem contra qualquer crítica racional à pseudo-economia e à pseudo-sociologia marxistas. Ele fez com que todas as críticas racionais ao marxismo fossem inócuas.

Foi justamente por causa dos truques do polilogismo que o estatismo conseguiu ganhar força no pensamento moderno.

O polilogismo é tão inerentemente ridículo, que é impossível levá-lo consistentemente às suas últimas consequências lógicas. Nenhum marxista foi corajoso o suficiente para derivar todas as conclusões que seu ponto de vista epistemológico exige. O princípio do polilogismo levaria à inferência de que os ensinamentos marxistas também não são objetivamente verdadeiros, mas sim apenas afirmações "ideológicas". Mas isso os marxistas negam. Eles reivindicam para suas próprias doutrinas o caráter de verdade absoluta. 

Dietzgen ensina que "as idéias da lógica proletária não são idéias partidárias, mas sim o resultado da mais pura e simples lógica". A lógica proletária não é "ideologia", mas sim lógica absoluta. Os atuais marxistas, que rotulam seus ensinamentos de sociologia do conhecimento, dão provas de sofrerem desta mesma inconsistência. Um de seus defensores, o professor Mannheim, procura demonstrar que há certos homens, os "intelectuais não-engajados", que possuem o dom de apreender a verdade sem serem vítimas de erros ideológicos. Claro, o professor Mannheim está convencido de que ele mesmo é o maior dos "intelectuais não-engajados". Você simplesmente não pode refutá-lo. Se você discorda dele, você estará apenas provando que não pertence à elite dos "intelectuais não-engajados", e que seus pensamentos são meras tolices ideológicas.

Os nacional-socialistas alemães tiveram de enfrentar o mesmo problema dos marxistas. Eles também não foram capazes nem de demonstrar a veracidade de suas próprias declarações e nem de refutar as teorias da economia e da praxeologia. Consequentemente, eles foram buscar abrigo no polilogismo, já preparado para eles pelos marxistas. Sim, eles criaram sua própria marca de polilogismo. A estrutura lógica da mente, diziam eles, é diferente para cada nação e para cada raça. Cada raça ou nação possui sua própria lógica e, portanto, sua própria economia, matemática, física etc. Porém, não menos inconsistente do que o Professor Mannheim, o professor Tirala, seu congênere defensor da epistemologia ariana, declara que a única lógica e ciência verdadeiras, corretas e perenes são as arianas. Aos olhos dos marxistas, Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estão errados porque são burgueses; aos olhos dos nazistas, estão errados porque são judeus. Um dos maiores objetivos dos nazistas é libertar a alma ariana da poluição das filosofias ocidentais de Descartes, Hume e John Stuart Mill. Eles estão em busca da ciência alemã arteigen, ou seja, da ciência adequada às características raciais dos alemães.

Como hipótese, podemos supor que as capacidades mentais do homem sejam resultado de suas características corporais. Sim, não podemos demonstrar a veracidade desta hipótese, mas também não é possível demonstrar a veracidade da hipótese oposta, conforme expressada pela hipótese teológica. Somos forçados a admitir que não sabemos como os pensamentos surgem dos processos fisiológicos. Temos vagas noções dos danos causados por traumatismos ou por outras lesões infligidas em certos órgãos do copo; sabemos que tais danos podem restringir ou destruir por completo as capacidades e funções mentais dos homens. Mas isso é tudo. Seria uma enorme insolência afirmar que as ciências naturais nos fornecem informações a respeito da suposta diversidade da estrutura lógica da mente. O polilogismo não pode ser derivado da fisiologia ou da anatomia, e nem de nenhuma outra ciência natural.

Nem o polilogismo marxista e nem o nazista conseguiram ir além de declarar que a estrutura lógica da mente é diferente entre as várias classes ou raças. Eles nunca se atreveram a demonstrar precisamente no quê a lógica do proletariado difere da lógica da burguesia, ou no quê a lógica ariana difere da lógica dos judeus ou dos ingleses. Rejeitar a teoria das vantagens comparativas de Ricardo ou a teoria da relatividade de Einstein por causa das origens raciais de seus autores é inócuo. Primeiro, seria necessário desenvolver um sistema de lógica ariana que fosse diferente da lógica não-ariana. Depois, seria necessário examinar, ponto por ponto, estas duas teorias concorrentes, e mostrar onde, em cada raciocínio, são feitas inferências que são inválidas do ponto de vista da lógica ariana mas corretas do ponto de vista não-ariano. E, finalmente, seria necessário explicar a que tipo de conclusão a substituição das erradas inferências não-arianas pelas corretas inferências arianas deve chegar. Mas isso jamais foi e jamais será tentado por ninguém. Aquele gárrulo defensor do racismo e do polilogismo ariano, o professor Tirala, não diz uma palavra sobre a diferença entre a lógica ariana e a lógica não-ariana. O polilogismo, seja ele marxista ou nazista, jamais entrou em detalhes.

O polilogismo possui um método peculiar de lidar com opiniões divergentes. Se seus defensores não forem capazes de descobrir as origens e o histórico de um oponente, eles simplesmente taxam-no de traidor. Tanto marxistas quanto nazistas conhecem apenas duas categorias de adversários. Os alienados — sejam eles membros de uma classe não-proletária ou de uma raça não-ariana — estão errados porque são alienados. E os opositores que são de origem proletária ou ariana estão errados porque são traidores. Assim, eles levianamente descartam o incômodo fato de que há divergências entre os membros daquela que dizem ser sua classe ou sua raça.

Os nazistas gostam de contrastar a economia alemã com as economias judaicas e anglo-saxônicas. Mas o que chamam de economia alemã não difere em nada de algumas tendências observadas em outras economias. A economia nacional-socialista foi moldada tendo por base os ensinamentos do genovês Sismondi e dos socialistas franceses e ingleses. Alguns dos mais velhos representantes desta suposta economia alemã apenas importaram idéias estrangeiras para a Alemanha. Frederick List trouxe as idéias de Alexander Hamilton à Alemanha; Hildebrand e Brentano trouxeram as idéias dos primeiros socialistas ingleses. A economia alemã arteigen é praticamente igual às tendências contemporâneas observadas em outros países, como, por exemplo, o institucionalismo americano.

Por outro lado, o que os nazistas chamam de economia ocidental — e, portanto, artfremd [estranho à raça] — é em grande medida uma conquista de homens a quem que nem mesmo os nazistas podem negar o termo 'alemão'. Os economistas nazistas gastaram muito tempo pesquisando a árvore genealógica de Carl Menger à procura de antepassados judeus; não conseguiram. É um despautério querer explicar o conflito que há entre a genuína teoria econômica e o institucionalismo e o empiricismo histórico como se fosse um conflito racial ou nacional.

O polilogismo não é uma filosofia ou uma teoria epistemológica. É apenas uma postura de fanáticos de mentalidade estreita que não conseguem conceber que haja pessoas mais sensatas ou mais inteligentes que eles próprios. Tampouco é o polilogismo algo científico. Trata-se da substituição da razão e da ciência pela superstição. É a mentalidade característica de uma era caótica.


Artigo extraído do livro Omnipotent Government: The Rise of Total State and Total War, originalmente publicado em 1944.


Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

ERA DA MEDIOCRIDADE

No 11° ano da Era da Mediocridade, os idiotas que estão por toda parte sonham com a erradicação da vida inteligente

Os cretinos fundamentais de antigamente se limitavam a babar na gravata, lembrou Nelson Rodrigues numa crônica de maio de 1969. “O primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota”, escreveu. “Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar uma cadeira do lugar. Nunca um idiota tentou questionar os valores da vida”. Antes que se desse “a ascensão fulminante e espantosa do idiota”, decidiam por ele quem tinha cabeça para pensar e sabia o que fazia.

Nestes trêfegos trópicos, as coisas mudaram dramaticamente quando a espécie se tornou hegemônica. E alcançaram dimensões siderais depois que os imbecis de nascença perderam primeiro o constrangimento e depois a vergonha, constatei num post de janeiro de 2011. No 11° ano da Era da Mediocridade, elegem e são eleitos, escolhem e são escolhidos, nomeiam e são nomeados, mandam e obedecem.

Em suas infinitas ramificações ─ o vigarista e o otário, o fanático e o abúlico, o cafajeste e o bobo alegre, o arrogante e o submisso, o eleito e o eleitor, o assaltante e o assaltado ─, a tribo tem representantes na cúpula do Poder Executivo, no Ministério, no segundo e no terceiro escalões, no Congresso e nas Assembleias Legislativas, nos tribunais, na imprensa, na universidade, no mundo artístico ou na Academia Brasileira de Letras. Os idiotas estão por toda parte.

E agem em qualquer palco como se a estupidez epidêmica não tivesse ninguém na plateia, informam estes primeiros dias de fevereiro. O cortejo de cretinices foi aberto em Washington, durante a discurseira de Lula para sindicalistas americanos. “O Obama precisa ouvir vocês”, descobriu o consultor-geral do planeta. “Peço a Deus que ele saiba que não pode errar porque, senão, nenhum outro negro será eleito no país porque o preconceito é muito forte”.

No mesmo dia, Renan Calheiros garantiu em Brasília que está regenerado: “Serei o guardião da ética no Senado”, avisou. Nesta segunda-feira, Dilma Rousseff aproveitou a mensagem anual ao Congresso para dedilhar a lira do delírio. “Nesse momento em que a atividade política é tão vilipendiada, faço questão de registrar o meu sincero reconhecimento ao imprescindível papel do Congresso Nacional na construção de um Brasil mais democrático, justo e soberano”, diz um trecho do papelório.

Numa única frase, a chefe do Executivo conseguiu repreender quem acha que gente corrupta merece cadeia, festejar a promoção de Renan Calheiros a síndico da Casa do Espanto, comemorar a entrega da gerência do Feirão da Bandidagem a Henrique Alves e louvar o patriotismo dos companheiros que prestam serviços à pátria no Carandiru sem grades. Foi prontamente endossada pelos destinatários da idiotice.

“É com profunda indignação e repulsa que ainda vemos setores da sociedade e da grande imprensa questionarem a existência e a própria finalidade do Poder Legislativo”, recitou Marco Maia, caprichando na pose de virgem difamada. Henrique Alves prometeu dispensar aos prontuários homiziados nos gabinetes o carinho que negou ao bode Galeguinho. “O Poder que representa o povo brasileiro é esta Casa”, declamou. “Não se esqueçam que aqui nesta Casa só tem parlamentar abençoado pelo voto popular deste imenso Brasil”.

Tradução: como foram autorizados pelas urnas a estuprar a lei impunemente, os mandatos dos quadrilheiros do mensalão condenados pelo STF não serão cassados. Mesmo depois de encarcerados, continuarão representando o povo.O Congresso do País do Carnaval não enxerga diferenças entre uma cela e a tribuna, ou entre o pátio de um presídio e o plenário.

Os parlamentares supostamente oposicionistas tampouco enxergam diferenças entre governo e oposição. Uns silenciosamente, outros sem disfarces, vários deputados e senadores do PSDB e do DEM se renderam aos candidatos apadrinhados pelo Planalto. Aécio Neves, que jura ter votado contra Renan Calheiros, descobriu só no dia seguinte que deveria ter discursado na véspera. O fenômeno diagnosticado por Nelson Rodrigues é suprapartidário. Os idiotas infestam o governo e abundam na oposição.

Fossem outros os tempos, como registrou o grande cronista, nenhum dos declarantes estaria onde está, nenhum teria ocupado cargos relevantes. Caso driblasse a vigilância dos sensatos e dissesse o que disse, já no minuto seguinte estaria amarrado numa árvore no quintal da casa. No imenso viveiro de cérebros baldios, todos seguem à solta Continuam em ação, estão em todos os lugares e sonham com o completo sumiço dos sinais de vida inteligente. Por: Augusto Nunes

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

EFEITOS COLATERAIS DO DEBATE SOBRE AS ARMAS DE FOGO

Parte da loucura que parece tomar conta da população americana vem da má-fé da mídia, que saturou as pessoas com a cobertura da chacina de Newtown sem qualquer esforço para colocar o incidente em seu devido contexto histórico. É inevitável a resposta emocional só em pensar nas vinte crianças abatidas, mas o número indica que todas as crianças e adultos americanos estão muito mais seguros hoje do que há 20 ou 30 anos.


Estatísticas oficiais do Departamento de Estado mostram que o número de vítimas de assassinato caiu pela metade entre 1980 e 2011, da mesma forma que a taxa de crimes violentos, que caiu acentuadamente. As tabelas sobre educação e finanças raramente têm mostrado índices positivos sob a batuta de Obama em seu primeiro mandato, mas as taxas de crimes violentos declinaram bem debaixo dos olhos dele: 13,2% entre 2006 e 2010.

Melhor do que celebrar os índices, Obama e seus aliados parecem determinados a gerar um sentimento de volume crescente de crimes por armas (que não existe) e persuadir a nação que tal situação clama por ações urgentes. Para os conservadores, isso representa um dos mais repugnantes hábitos das elites: exagerar ou inventar crises ao bem estar público para justificar a implacável expansão do poder do estado sobre a vida privada.

Esta tática usualmente acompanha outra tendência que a direita política despreza: o surgimento de cada vez mais bons samaritanos francamente determinados a proteger pessoas comuns de suas próprias más decisões e preferências irresponsáveis. Obama, que uma vez ridicularizou trabalhadores americanos por serem teimosamente apegados à religião e às armas, claramente vê a decisão de trazer armas de fogo para o lar com desconfiança e desaprovação.

Os defensores do controle de armas, apesar das ocasionais garantias em contrário, estão agindo para diminuir a posse global de armas de fogo e não para limitar a distribuição de armas pesadas nem impedir o acesso a elas por criminosos e malucos. Senão, como explicar o abraço entusiasmado aos programas de recompra pelos quais igrejas e associações de bairros dão dinheiro ou cartões simpáticos aos respeitáveis cidadãos que ficam numa enorme fila entregando suas armas para destruição? É difícil imaginar que esse tipo de ação consiga desarmar bandidos violentos ou lunáticos perigosos.

Mais ainda: quando a Casa Branca selecionou quatro crianças (entre milhões que escreveram) para estarem junto ao presidente no ato da assinatura das 23 executive orders, deixou claro que essas crianças especiais esperavam o total banimento de armas de fogo e não restrições menores. Hinna Zeejah, uma garota de 8 anos, concluiu sua carta ao presidente expressando seus sentimentos: “eu amo meu país e quero que todos sejam felizes e seguros. Não às armas! Não às armas! Não às armas!” Julia Stokes, de 11 anos, escreveu: “eu sei que as leis têm que passar pelo Congresso, mas eu imploro que você seja firme ao fazer com que as armas não sejam mais permitidas”.

Esse ódio visceral às armas de fogo não reflete muita desconfiança sobre armas, mas profunda desconfiança a respeito de vizinhos que possuam armas de fogo. Afinal, armas de fogo não são objetos animados que disparam sozinhas por vontade própria.

Aqueles que odeiam todas as armas ou aqueles que desprezam as assim chamadas ‘armas de assalto’ são livres para manterem suas casas livres de qualquer tipo de armamento. O fato de eles quererem impor sua aversão às armas de fogo demonstra uma falta de respeito aos vizinhos, uma atitude que ajuda a apontar para os selvagens conservadores.

Em Nova Iorque, o prefeito Michael Bloomberg expressou sua fúria proibindo a venda de copos grandes de bebidas açucaradas, na verdade mostrando seu verdadeiro instinto para o estado-babá que protege as pessoas de si mesmas. Ele mostrou seu instinto ainda mais apaixonadamente quando, ao tratar do desarmamento, sugeriu aos bons cidadãos cumpridores da lei que ele sabe mais do que ninguém o que eles devem fazer para assegurar a própria proteção.

Por outro lado, quando os socialistas ouvem a direita denunciando furiosamente o presidente como um tirano ou como um Hitler desarmando a população para aniquilar a oposição, concluem que essas pessoas emotivas, que gritam pelo direito às armas, são aquelas que não deveriam tê-las.

Os conservadores que falam em nome da segunda emenda vêm-se como sucessores dos Founding Fathers e do original Minutemen, mas os progressistas os enxergam como um reflexo retardado da Ku Klux Klan e das milícias defensoras da supremacia branca.

Ambos os lados estão em situação complicada. Os conservadores compram armas para defenderem-se e aos vizinhos, mas são estigmatizados pelos socialistas como fonte de perigo. Os socialistas, por sua vez, sentem-se orgulhosos por elevar e iluminar os membros mais vulneráveis da sociedade, mas são ridicularizados pela interferência intrometida que ameaça a privacidade e a auto-suficiência.

Os ataques e contra-ataques não farão nada pela diminuição da violência, mas já conseguiram contribuir para o aumento da polarização, postura pueril, e para o impasse entre os líderes federais de cada facção.

Do Townhall.  POR MICHAEL MEDVED Publicado originalmente no Daily Beast. Tradução: Oliveira Jr.

A PETROBRÁS PERDEU ATÉ O SENSO

Lembram-se de toda aquela campanha do governo Lula comemorando a autossuficiência em petróleo? Pois é, foi só marketing eleitoral. Só não, porque a estatal, que não pertence só ao governo, muito menos ao PT, pagou por aquela fraude


Sabe qual a melhor coisa que poderia acontecer para a Petrobrás? Uma forte queda do preço internacional do petróleo. Isso derrubaria também as cotações da gasolina e do diesel, produtos que estão quebrando a estatal brasileira. Como não há produção interna suficiente desses combustíveis, a companhia tem que importá-los. Como o governo Dilma segura os preços internos para conter a inflação, a Petrobrás se vê na situação esdrúxula de comprar caro e vender barato – que perdura mesmo depois do reajuste anunciado na última terça. Prejuízo na veia.

Logo, se o governo não deixa aumentar mais o preço interno, resta torcer pela queda da cotação internacional.

Pode? Uma companhia petrolífera, dona de reservas elevadas, dependendo de uma queda no preço de seu principal ativo!

Acrescente aí uma forte valorização do real e o quadro “melhoraria” ainda mais para a estatal. Se o dólar voltasse, digamos, para R$ 1,70, a Petrobrás economizaria cerca de 15% nas suas compras externas de combustível.

Claro que, nesse caso, também cairia o valor das reservas da Petrobrás. De novo, pode? Uma companhia precisando de queda no valor de seu patrimônio.

Por outro lado, que sempre tem, a queda do preço internacional de petróleo colocaria em risco a operação no pré-sal. Ainda não se sabe o custo exato, pois a tecnologia está em desenvolvimento, mas certamente será muito caro retirar o óleo lá do fundão do oceano. Assim, se a cotação global cair muito, o pré-sal torna-se economicamente inviável.

Consequências: a Petrobrás não conseguiria financiamento para as novas operações e os estados e municípios perderiam os royalties pelos quais tanto brigaram.

Ou seja, é uma ideia de jerico torcer pela queda dos preços internacionais do óleo e dos combustíveis.

De outro lado, ainda, um dólar mais barato facilitaria as importações de equipamentos para extração e refino. Bom, não é mesmo?

Seria, se as políticas para o setor tivessem alguma lógica. Ocorre que a Petrobrás é obrigada pelo governo a dar preferência ao produtor nacional, mesmo pagando mais caro, até um certo nível. Ora, com o real valorizado, a diferença de preços entre o local e o estrangeiro ficará bem maior, de modo que a estatal não terá como justificar a compra do equipamento made in Brasil.

Isso destruiria a política do governo para estimular a indústria nacional ou, caso o modelo fosse mantido, aumentaria os custos da Petrobrás em reais.

Ou seja, é outra ideia de jerico torcer pela valorização do real neste caso.

Voltamos assim ao senso comum, pelo qual uma companhia de petróleo deve se dar bem quando o preço do petróleo está em alta. Esta lógica não mudou. O que a subverte é a gestão do governo brasileiro. Um desastre de grande competência: não é fácil fazer uma petrolífera perder dinheiro.


Protecionista quem?Outra coisinha: lembram-se de toda aquela campanha do governo Lula comemorando a autossuficiência em petróleo? Pois é, foi só marketing eleitoral. Só não, porque a estatal, que não pertence só ao governo, muito menos ao PT, pagou por aquela fraude. Custo na veia da população.

Andam dizendo por aí que as negociações comerciais entre Mercosul e União Europeia (UE) não avançam por causa por causa do protecionismo dos dois lados.

Curioso. A UE, só na América Latina, tem acordos de livre comércio fechados com Chile e México (já em vigor) e mais Peru, Colômbia e América Central (a vigorar neste ano). Fora da região, tem acordos com diversos países da Ásia, inclusive Coreia do Sul, e esta prestes a iniciar negociações com os Estados Unidos.

Já o Mercosul tem acordos com Israel e Jordânia.

Mas, dizem governo Dilma e aliados, neste ano as conversas com a Europa vão avançar.

Sério?

Se o Brasil não consegue ter livre comércio nem com a Argentina, principal sócia no Mercosul, se a Argentina, pelo calote, está excluída do mercado financeiro global, e se a Venezuela, nova sócia, só quer acordos com os amigos bolivarianos, Cuba, por exemplo, quem mesmo vai negociar com a UE?

No último fim de semana, a Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe, Ceal, reuniu-se com a UE – encontro de cúpula, solene. Olhando bem, no entanto, os líderes europeus mantiveram duas conversas bem diferentes. Uma com o pessoal do Mercosul – só protocolar, para os fotógrafos.

Outra, para valer, com o chamado bloco do Pacífico, liderado por Chile, Peru, Colômbia e México. Enquanto o Mercosul torna-se cada vez mais restrito ao grupo bolivariano de Chávez, Cristina Kirchner e outros menores, o bloco do Pacífico já tem acordos com os EUA, Europa e negocia um megatratado com a Ásia.

Devem estar todos equivocados, não é mesmo?

Por: Carlos Alberto Sardenberg Fonte: O Globo, 31/01/2013

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

LULA E A FALÊNCIA DA "DOUTRINA GARCIA"

Lula sabe mais que os “intelectuais progressistas” reunidos em seu instituto para, nas palavras do assessor Luiz Dulci, “definir um plano de trabalho para o desenvolvimento e integração” da América Latina. Há muito reduzidos à condição de intelectuais palacianos, os convidados celebraram os “avanços” na integração regional e a miraculosa clarividência do ex-presidente. O anfitrião, contudo, pediu-lhes algo diferente da bajulação habitual: a formulação de uma “doutrina” da integração latino-americana. No décimo-primeiro ano de poder lulista, o pedido traz implícito o reconhecimento de um fracasso estrondoso de política externa — e da crise regional que se avizinha. 

“Não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Bolívia; não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Peru”, proclamou o ex-presidente, sem ser corrigido por nenhum dos intelectuais que decoravam o ambiente. O trem inaugural da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré chegou a Guajará-Mirim em abril de 1912. Os presidentes Café Filho e Paz Estenssoro inauguraram a Estrada de Ferro Brasil-Bolívia em Santa Cruz de La Sierra, em janeiro de 1955. A Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, uma ousada obra de engenharia, foi inaugurada em 1965, conectando o Paraguai às rodovias brasileiras e ao porto de Paranaguá. As pontes que Lula inaugurou estavam previstas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), aprovada na conferência de chefes de Estado de Brasília, em 2000, no governo FHC. De lá para cá, sob o lulismo, integração regional converteu-se em eufemismo para alianças políticas entre governantes “progressistas”. 

Desde 2003, com a nomeação de Marco Aurélio Garcia como assessor especial da Presidência, a política brasileira para a América Latina foi transferida da alçada do Itamaraty para a do lulopetismo, impregnando-se de reminiscências políticas antiamericanas, terceiro-mundistas e castristas. O coquetel conduziu-nos ao impasse atual, que Lula é capaz de identificar mesmo se tenta disfarçá-lo pelo recurso à bazófia autocongratulatória. 

A “Doutrina Garcia” acalenta a utopia de uma integração impulsionada por investimentos estatais e de grandes empresas financiadas por recursos públicos. Contudo, a estratégia de expansão regional do “capitalismo de estado” brasileiro esbarrou nas resistências nacionalistas de argentinos, bolivianos e equatorianos, que assestaram sucessivos golpes em negócios conduzidos pela Petrobras e por construtoras beneficiadas por empréstimos privilegiados do BNDES. Numa dessas amargas ironias da história, o espectro do “imperialismo brasileiro” reemergiu como acusação dirigida por líderes latino-americanos “progressistas” contra o governo “progressista” de Lula. A “Doutrina Garcia” rejeita a ideia de livre comércio, que funcionou como pilar original do Mercosul. A Argentina dos Kirchner aproveitou-se disso para violar sistematicamente as regras do Mercosul, desmontando o edifício da zona de livre comércio. No seu instituto, Lula denunciou a “preocupação maior de relação preferencial com os EUA ou com a Europa ou com qualquer um, menos entre nós mesmos”. Entretanto, na celebrada última década, a América Latina não aprofundou o comércio intrarregional, limitando-se a estabelecer uma “relação preferencial” com a China, que absorve nossas exportações de commodities. O primitivismo ideológico impede até mesmo a conclusão de um tratado comercial Brasil-México, elemento indispensável em qualquer projeto de integração latino-americana. 

A “Doutrina Garcia” almeja promover a liderança regional do Brasil, preservar o regime autoritário cubano e erguer uma barreira geopolítica entre América Latina e EUA. Em busca da primeira meta, o Brasil colidiu com as pretensões concorrentes da Venezuela de Hugo Chávez, que criou a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). A concorrência entre o lulopetismo e o chavismo paralisa a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziando de conteúdo suas reuniões de cúpula. Em busca das outras duas metas, que compartilha com o chavismo, o Brasil ajudou a converter a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) numa ferramenta de proteção da ditadura castrista e de desmoralização da Carta Democrática da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dias atrás, Cristina Kirchner definiu a ascensão de Cuba à presidência rotativa da Celac como o marco de “uma nova época na América Latina”. Ela tem razão: é o fim da curta época na qual os Estados da região levaram a sério seus proclamados compromissos com os direitos humanos e as liberdades públicas. 

Distraídos, os intelectuais palacianos nada perceberam, mas a falência da “Doutrina Garcia” foi registrada no radar de Lula. De um lado, abaixo do celofane brilhante da Unasul e da Celac, desenvolve-se um processo que deveria ser batizado como a desintegração da América Latina. A principal evidência disso encontra-se na emergência da Aliança do Pacífico, uma área de livre comércio formada sem alarido por México, Colômbia, Chile e Peru, aos quais podem se juntar o Panamá e outros países centro-americanos. De outro, lenta mas inexoravelmente, desmorona a ordem castrista em Cuba, aproxima-se uma incerta transição na Venezuela chavista e dissolve-se o consenso político kirchnerista na Argentina. Quando clama por uma nova “doutrina” da integração latino-americana, o ex-presidente revela aguda consciência da encruzilhada em que se colocou a política externa brasileira. 

A consciência de um problema é condição necessária, mas não suficiente, para formular suas possíveis soluções. Lula e seu cortejo de intelectuais não encontrarão uma “doutrina” substituta sem lançar ao mar o lastro de anacronismos ideológicos do lulopetismo. Isso, porém, eles não farão. Por: Demétrio Magnoli Fonte: O Globo, 31/01/2012

O PROBLEMA CHAMADO LULA

Eu acho que Lula estava sendo honesto quando dizia que iria ser Palestrante dali para frente, e que assistiria a Copa do Mundo como espectador e não como Presidente no Terceiro Mandato. 

Infelizmente, duas coisas aconteceram. 

Fracassou como Palestrante, porque não se preparou e infelizmente não se preocupou com conteúdo, essencial para o público ouvinte. 

FHC é um excelente palestrante porque tem conteúdo e cobra bem menos. 

Segundo, o seu câncer lhe trouxe a visão de finitude e a necessidade de que falta agora tempo para fazer tudo o que queria, neste caso para o Brasil. 

Foi o mesmo câncer que fez Jobs lançar tudo o que sonhava e fez a Apple dar o salto quântico que deu. 

Só que Dilma também tinha um sonho, que não era o bem do Brasil, como todos imaginam. 

A agenda dela é a inserção da Mulher, na qual nós a apoiamos totalmente, e ela está percebendo que seu governo está um fracasso, e se continuar assim nenhuma mulher será eleita novamente. 

Uma das razões do fracasso é o Lula, a outra é o José Dirceu. 

Nenhum empresário acerta algo com a Dilma, sem conversar antes com o Lula e o José Dirceu, separadamente. 

Sabem que sem a benção dos dois o projeto não andará, mesmo sendo aprovado pela Dilma. 

Por isto, este país está totalmente parado em termos de investimentos, apesar do custo de capital baixo, conseguido a duras penas pela Dilma. 

São poucos os projetos que agradam Lula, Dirceu e Dilma ao mesmo tempo. Aliás, as chances são zero. 

Dilma já conseguiu minar o Dirceu, e brilhantemente todos acham que foi o Supremo. 

Dilma também está minando Lula, permitindo que ele seja investigado. 

O que obviamente piorou a sua situação, porque os dois sabem disto e estão furiosos. 

A guerra com o Lula está agora declarada. 

Ela fez um pronunciamento contra o Terceiro Mandato de Lula, que ninguém até agora percebeu. 

Ela disse que está procurando Ministros nesta sua próxima reforma Ministerial que estejam dispostos a ficar seis anos. (E não dois.) 

Com esta Lula não esperava. A guerra está declarada. A agenda Mulher da Dilma vem primeiro. 

Mas nenhum país cresce se todos precisam conversar com três manda chuvas antes de aprovar um projeto. 

E os manda chuvas estão agora brigando entre si. 

Dilma daqui nove meses, estará em FIM DE MANDATO, e aí ninguém irá obedecê-la de vez, a não ser que fique claro que ela irá se reeleger, e não o Lula. 

O nosso PIB está pífio não por razões de Economia, mas por questões Administrativas. 

Os poucos administradores de esquerda, que o PT possui, precisam dizer ao Dirceu e ao Lula que eles estão atrapalhando a causa Socialista. Eles tiveram a chance deles, agora é a vez da Mulher. Muito mais importante. 

Talvez assim eles ouçam. Por: Stephen Kanitz 

INTERESSE NACIONAL, SOBERANIA E DEMOCRACIA

O resultado da eleição presidencial nos EUA mostrou um país literalmente rachado ao meio. O Parlamento grego aprovou por 153 votos (em 300) reformas demandadas por credores oficiais. A Alemanha de hoje está profundamente dividida quanto à extensão de seu papel na resolução da crise do euro. A transição de poder na China foi marcada por longas e intensas disputas internas. O governo espanhol vive dúvidas hamletianas sobre formalizar ou não um pedido de ajuda extra ao resto da Europa. A questão de como se caracteriza, e se exerce na prática, o "interesse nacional" e a soberania de um país (no curto, no médio e no longo prazos) voltou a ficar relevante para o debate. Inclusive no caso do Brasil e dos outros três do Bric.


George Kennan, brilhante intelectual e diplomata norte-americano, não tinha o extraordinário sentido de marketing de Jim O'Neill, o economista da Goldman Sachs que cunhou o acrônimo Bric para designar os mesmos quatro países que Kennan havia chamado, quase uma década antes, de "países-monstros" (monster countries) do mundo: China, Índia, Rússia e Brasil - além dos EUA.

Pensando mais no seu país, Kennan notou que países de grandes território, população e dimensão econômica teriam uma característica comum, que chamou de hubris of inordinate size e definiu como "uma certa falta de modéstia na autoimagem nacional do grande Estado - um sentimento de que o papel do país no mundo deve ser o equivalente a seu tamanho, com a consequente tendência relativa a presunçosas pretensões e ambições... Em geral, o país de grande dimensão tem uma vulnerabilidade a sonhos de poder e glória para os quais são menos facilmente inclinados os países menores".

Em texto para discussão publicado dois anos e meio atrás procurei avaliar se seria possível extrair algo relevante para o Brasil da experiência dos três outros Brics na definição de seus respectivos interesses nacionais. Três daquelas "lições" me parecem ainda mais válidas hoje.

A primeira é que China, Índia e Rússia têm objetivos de longo prazo em termos de seus interesses nacionais e, portanto, as políticas e ações domésticas e internacionais pelas quais buscam esses objetivos devem ser políticas de Estado, e não do governo de turno (como a busca de segurança alimentar, energética e militar). Políticas que não dependem de pessoas específicas, de culto à personalidade do grande líder, do grande timoneiro, do grande guia e genial mentor.

A segunda reside na percepção de que, na área internacional, a apropriada execução das políticas de Estado requer uma cuidadosa e realista avaliação do que os chineses chamam de comprehensive national power, que é constituído pelos recursos econômicos, políticos, militares, diplomáticos, científico/tecnológicos e culturais de que dispõe o país. Avaliações irrealistas desses recursos podem levar a patéticas aventuras e a discursos marcados pela dissonância cognitiva entre o querer e o poder.

A terceira está relacionada ao fato de que os três países-monstros pensam e exercitam a busca de seus interesses nacionais em termos de círculos concêntricos, que vão dos problemas domésticos ao círculo mais amplo dos problemas globais, passando pelos círculos intermediários, que os analistas desses países chamam de "vizinhança imediata" e "vizinhança estendida". China, Índia e Rússia e suas lideranças sabem que o peso, a influência, o prestígio e a força da voz de cada um no mundo é função de sua capacidade de equacionar problemas domésticos e do reconhecimento de sua gravitas por parte de suas "vizinhanças".

Nesse contexto, e indo além dos Brics, cabe perguntar: regimes democráticos têm mais ou menos dificuldades para definir com clareza seus interesses nacionais? Em livro recente, o decano dos estudos americanos sobre poder (hard and soft) nas relações internacionais, Joseph S. Nye Jr., escreve: "Numa democracia, o interesse nacional é simplesmente aquilo que os cidadãos, após deliberação apropriada, afirmam que é... Lideranças políticas e especialistas podem apontar para os custos de indulgência em certos valores, mas se um público informado discorda, os especialistas não podem negar a legitimidade destas opiniões".

É claro que o fundamental dessa visão é a expressão "após deliberação apropriada por parte de um público informado". O que nem sempre ocorre em algumas democracias. E, se mesmo após tais deliberações por parte de um público informado, emerge um país profundamente dividido ou uma posição que não seja muito mais que a expressão de um vago desejo?

A expressão de desejos coletivos não se traduz, naturalmente, em políticas que transformem os desejos em realidade. Como escreveu Paul Volcker em seu relatório para a ONU (Boas Intenções Corrompidas: o Escândalo do Programa Petróleo por Alimentos): "Após mais de 50 anos de experiência, tive inúmeras oportunidades de observar em primeira mão a frustração das boas intenções: debates infindáveis, defesa de interesses muito especiais, falta de visão ampla e oportunidades perdidas entre o impasse político e a inépcia administrativa".

A propósito, quero concluir lembrando o moto constitucional de um grande país, o Canadá, que pode ser visto como síntese de seu interesse nacional: "Peace, order and good government". Trivial e genérico como possa parecer a alguns, é seguramente uma tríade muito mais relevante, para qualquer país, do que "conflito, desordem e mau governo", infelizmente, uma tríade muito mais disseminada neste nosso mundo de quase 200 países legalmente soberanos. Cada um à sua maneira, e com seus conflitos de interesses internos, tentando situar onde estaria seu "interesse nacional" em meio a este espesso nevoeiro da segunda década do século 21. 
Por: PEDRO MALAN  O Estado de S.Paulo - 11/11

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

QUATRO MIL ANOS DE CONTROLE DE PREÇOS


Comentário do IMB:

A economia brasileira opera como se estivesse separada em dois compartimentos. Há aqueles setores em que o governo interfere muito e há aqueles setores em que ele interfere bastante. 

Interferência estatal existe em cada canto da economia, pois o governo está sempre tributando e regulando — isto é, confiscando dinheiro e impondo normas incompreensíveis e impossíveis de serem obedecidas integralmente. No entanto, naqueles setores em que o governo interfere menos, ou seja, nos quais ele se limita a tributar e impor ordens, raramente se ouviu falar em problemas de escassez. Quando foi que você ouviu falar de crise na indústria de lápis? Ou na indústria de papelão? Ou na indústria de sorvetes? Na indústria de parafusos? E na indústria de eletrônicos, então? Quando foi que você ouvir falar de escassez no setor alimentício? Quando foi que um restaurante a quilo deixou de abrir porque não havia comida? 

Nestes setores, oferta e demanda, por mais oprimidas que sejam pelos impostos e regulamentações do governo, conseguem se mover sincronizadamente, e o consumidor jamais temeu qualquer tipo de escassez nestas áreas.

É justamente naqueles setores em que o governo faz sua interferência mais violenta, isto é, por meio decontrole de preços, que a escassez e o desabastecimento são a regra, e não a exceção. Antes de tudo, é necessário entender que a escassez não é necessariamente a completa ausência de um produto. Há várias formas de escassez. A escassez explícita é aquela vista atualmente no setor da saúde pública, em que faltam medicamentos e atendimentos, e as consultas têm de ser agendadas com até um ano de antecedência. 

Mas há também outros graus de escassez. Por exemplo, um engarrafamento é uma escassez. Um bem (rua) está sendo ofertado a preço zero para uma demanda (carros) que tende ao infinito. Um aeroporto congestionado, em que aviões chegam a ficar uma hora esperando autorização para decolar é outro exemplo de escassez: a administração do aeroporto é estatal e não sabe praticar discriminação de preços, cobrando tarifas mais altas para as companhias aéreas operarem em horários de pico, e mais baixas para horários de menos demanda. E o setor privado é impedido de construir aeroportos para suprir essa demanda.

Operadoras de celulares que não entregam o prometido ou cujas ligações vivem caindo são outro exemplo de escassez. O governo, por meio de sua agência reguladora, fechou o mercado para apenas algumas poucas empresas, impedindo que grandes empresas estrangeiras (Vodafone, Verizon, AT&T Mobility, T-Mobile, Orange, entre outras) venham operar aqui. É a agência reguladora que decide quem pode e quem não pode operar no Brasil, um arranjo que vai totalmente contra a ideia de livre mercado e livre concorrência.

Atualmente, é o setor energético quem está na mídia. Riscos de apagão e de desabastecimento de gasolina são fenômenos que assombram o brasileiro a cada dois anos em média. E isso não deveria ser surpresa alguma: são dois setores sob completo controle do governo; dois setores cujos preços dos serviços são diretamente decretados pelo governo, e cuja oferta, embora não seja monopolista em teoria, o é na prática. 

Por exemplo, se uma empresa quiser prospectar petróleo aqui no Brasil e nos vender, ela não pode. Os preços cairiam muito, e preços baixos afetariam as receitas da Petrobras, que é uma empresa utilizada para fins políticos. Ademais, após mais de 40 anos de monopólio (quebrado apenas em 1997), a Petrobras já se apossou das melhores jazidas do país. Nem tem como alguém concorrer. É como você chegar atrasado ao cinema: os melhores assentos já foram tomados, e você terá de se contentar com os piores.

Após ter pomposamente declarado autossuficiência em 2006, a Petrobras não pára de aumentar suas importações de petróleo, o que mostra que a estatal é incapaz até mesmo de controlar sua oferta.

No setor elétrico, o controle estatal faz com que o país mais bem dotado de recursos hídricos no mundo (recurso este que gera energia barata) tenha uma das contas de energia mais caras do mundo. Óbvio. Dado que se trata de um setor extremamente regulado e sem livre concorrência, o resultado não poderia ser outro. Não apenas a conta é alta, como há constantes riscos de apagão por escassez de oferta. É necessária uma incompetência alarmante para se chegar a um arranjo em que falta oferta mesmo quando se cobra um dos preços mais altos do mundo. 

Há coisas que apenas um monopólio estatal pode fazer por você.

A seguir, um sucinto relato do histórico dos controles de preços ao longo da história humana, uma praga que aparentemente nunca terá fim. Como perfeitamente sintetizou Roberto Campos, "Como as damas balzaquianas, de vida airada, o tabelamento de preços rejuvenesce à medida que se esquecem as experiências passadas. É a teoria dos que não têm teoria."

O argumento contra os controles de preços não é meramente um exercício acadêmico, algo restrito aos manuais de economia. Há um histórico de quatro mil anos de catástrofes econômicas causadas pelos controles de preços. Este histórico está parcialmente documentado em um excelente livro intitulado Forty Centuries of Wage and Price Controls (Quarenta Séculos de Controles de Preços e Salários), de Robert Schuettinger e Eamon Butler, publicado originalmente em 1979.

Os autores começam citando Jean-Philippe Levy, autor de The Economic Life of the Ancient World, que observou que no Egito, durante o século III a.C., "havia uma verdadeira onipresença do estado" na regulação da produção e da distribuição de grãos. "Todos os preços foram congelados por decreto em todos os níveis". Este "controle assumiu proporções assustadoras. Havia um exército de burocratas que inspecionavam diariamente o cumprimento do decreto".

Os agricultores egípcios ficaram tão enfurecidos com esse controle de preços, que vários deles simplesmente abandonaram suas fazendas. Ao final do século, "a economia egípcia havia entrado em colapso, junto com sua estabilidade política".

Na Babilônia, 4.000 anos atrás, o Código de Hamurabi continha uma barafunda de regulamentações e controle de preços. "Se um homem contratar um camponês, deverá dar a ele oito gurs (unidade de medida hamurábica) de cereais por ano"; "Se um homem contratar um boiadeiro, deverá dar a ele seis gurs de cereais por ano"; "Se um homem alugar um barco de seis toneladas, deverá pagar um sexto de um shekel de prata por dia por esse aluguel". E os decretos não paravam mais.

Tais imposições "sufocaram o progresso econômico no império por vários séculos", como mostram os registros históricos. Assim que estas leis foram implementadas, "houve um acentuado revés na prosperidade das pessoas".

A Grécia antiga também impôs controle de preços sobre cereais e estabeleceu "um exército de fiscalizadores nomeados para a função de estabelecer o preço do cereal em um nível que o governo ateniense julgasse justo". Esse controle de preços grego inevitavelmente levou à escassez de cereais. Por sorte, vários empreendedores corajosamente conseguiram se esquivar destas leis ignaras e, com isso, salvaram milhares da inanição. Não obstante a imposição de pena de morte para aqueles que desobedecessem às leis de controle de preços, tais leis "eram praticamente impossíveis de serem impingidas". A escassez criada pelo controle de preços criou grandes oportunidades de lucro no mercado negro, para a grande sorte do povo grego.

Em 293 d.C., o imperador romano Diocleciano gerou uma grande inflação de preços ao aumentar enormemente a quantidade de dinheiro em circulação. Em seguida, ele "estipulou um teto de preços para carnes, cereais, ovos, roupas e outros bens, e instituiu a pena de morte para qualquer um que vendesse seus artigos a um preço maior do que o estabelecido". Os resultados, como Schuettinger e Butler explicam em seu livro citando um historiador antigo, foram que "as pessoas simplesmente pararam de colocar seus bens à venda no mercado, dado que elas não mais poderiam obter um preço sensato por eles. Isso aumentou tão acentuadamente a escassez, que, após a morte de várias pessoas, a lei foi finalmente revogada."

Já em épocas mais modernas, foi por muito pouco que o exército revolucionário de George Washington não morreu de fome no campo de batalha graças ao controle de preços sobre alimentos que havia sido instituído pelo governo da Pensilvânia e por outros governos coloniais. A Pensilvânia impôs controle de preços especificamente sobre "aquelas mercadorias imprescindíveis para o exército", criando uma desastrosa escassez de tudo que o exército mais necessitava. O Congresso Continental sabiamente adotou uma resolução anti-controle de preços no dia 4 de junho de 1778, a qual dizia: "Considerando que já foi descoberto pela experiência que limitações impostas aos preços das mercadorias não apenas são ineficazes para o objetivo proposto, como também são igualmente geradoras de consequências extremamente maléficas, fica resolvida a recomendação aos vários estados para que revoguem ou suspendam todas as leis limitando, regulando ou restringindo o preço de qualquer artigo". 

Ato contínuo, escreveram Schuettinger and Butler, "Já no outono de 1778, o exército já estava suficientemente bem provido como resultado direto dessa mudança de política".

Os políticos franceses repetiram os mesmos erros após sua revolução, instituindo a "Lei de Maximum" em 1793, a qual impôs controle de preços sobre cereais e, depois, sobre uma longa lista de vários outros itens. Previsivelmente, "em algumas cidades francesas, as pessoas estavam tão mal alimentadas, que estavam literalmente caindo pelas ruas por desnutrição". Uma delegação representando várias províncias escreveu para o governo em Paris que, antes da lei do controle de preços, "nossos mercados estavam bem providos; porém, tão logo congelamos os preços do trigo e do centeio, estes cereais nunca mais foram vistos. Os outros tipos que não estão submetidos ao controle de preços são os únicos que podem ser encontrados à venda".

O governo francês se viu então obrigado a abolir sua maléfica lei de controle de preços após ela ter literalmente dizimado milhares de pessoas. Quando Maximiliem Robespierre estava sendo carregado pelas ruas de Paris a caminho de sua execução, a plebe gritava "Lá vai o maldito Maximum!" Se ao menos essa lição fosse aprendida por políticos contemporâneos...

Ao final da Segunda Guerra Mundial, os planejadores centrais americanos haviam se tornado ainda mais totalitários em termos de política econômica do que os nazistas derrotados. Durante a ocupação americana da Alemanha, no pós-guerra, os "planejadores" americanos se mostraram muito entusiasmados com os controles econômicos impostos pelos nazistas, inclusive o controle de preços. Desnecessário dizer que eram estes controles econômicos que estavam impedindo a recuperação econômica alemã. O notório nazista Hermann Goering chegou até mesmo a passar um sermão no correspondente de guerra americano Henry Taylor sobre o assunto. Como relatado por Schuettinger e Butler, Goering disse:


Todas as coisas que a sua América está fazendo no campo econômico estão nos causando vários problemas. Vocês estão tentando controlar os preços e os salários das pessoas — ou seja, o trabalho das pessoas. Se você faz isso, você inevitavelmente tem de controlar a vida das pessoas. E nenhum país pode fazer isso pela metade. Eu tentei e não deu certo. Tampouco pode um país fazer isso integralmente, indo até as últimas consequências. Eu tentei isso também e, de novo, não deu certo. Vocês não são melhores planejadores do que nós. Eu imaginava que seus economistas haviam lido e estudado o que ocorreu aqui.

Os controles de preços foram finalmente abolidos na Alemanha, em 1948, pelo Ministro da Economia Ludwig Erhard. A abolição ocorreu de uma só vez, em um domingo, quando as autoridades de ocupação americanas estavam ausentes de seus escritórios, incapazes de impedi-lo. Tal revogação produziu o "milagre econômico alemão". [Veja todos os detalhes do milagre alemão neste artigo].

Nos EUA, controles de preços foram a causa da "crise energética" da década de 1970 e dos apagões na Califórnia na década de 1990 (apenas os preços do setor de geração de energia foram desregulamentados na Califórnia; os controles foram mantidos no setor de transmissão e distribuição). 

[No Brasil, as destruições e os sofrimentos causados pelos controles de preços estão bem documentados aqui].

Ao longo de mais de quatro mil anos, ditadores, déspotas e políticos de todos os naipes viram nos controles de preços uma forma suprema de prometer ao público "alguma coisa em troca de nada". Com o gesto de uma mão, uma piscada de olhos e o movimento de uma caneta, eles prometem que irão deixar tudo milagrosamente mais barato. E o povo sempre acredita. 

Por mais de quatro mil anos, os resultados têm sido exatamente os mesmos: escassez e desabastecimento, várias vezes com consequências catastróficas; deterioração da qualidade do produto; proliferação dos mercados negros, nos quais os preços são maiores do que seriam em um mercado livre e os subornos desenfreados; destruição da capacidade produtiva daquelas indústrias cujos preços são controlados; distorções grosseiras dos mercados [no Brasil do Plano Cruzado, carro usado era mais caro do que carro novo]; criação de burocracias tirânicas e opressivas para fiscalizar o controle de preços; e uma perigosa concentração de poder político nas mãos destes burocratas controladores de preços.

E é isso que os economicamente ignorantes querem criar sempre que pedem ao governo que intervenha nos preços de um determinado setor da economia.