quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

EFEITOS COLATERAIS DO DEBATE SOBRE AS ARMAS DE FOGO

Parte da loucura que parece tomar conta da população americana vem da má-fé da mídia, que saturou as pessoas com a cobertura da chacina de Newtown sem qualquer esforço para colocar o incidente em seu devido contexto histórico. É inevitável a resposta emocional só em pensar nas vinte crianças abatidas, mas o número indica que todas as crianças e adultos americanos estão muito mais seguros hoje do que há 20 ou 30 anos.


Estatísticas oficiais do Departamento de Estado mostram que o número de vítimas de assassinato caiu pela metade entre 1980 e 2011, da mesma forma que a taxa de crimes violentos, que caiu acentuadamente. As tabelas sobre educação e finanças raramente têm mostrado índices positivos sob a batuta de Obama em seu primeiro mandato, mas as taxas de crimes violentos declinaram bem debaixo dos olhos dele: 13,2% entre 2006 e 2010.

Melhor do que celebrar os índices, Obama e seus aliados parecem determinados a gerar um sentimento de volume crescente de crimes por armas (que não existe) e persuadir a nação que tal situação clama por ações urgentes. Para os conservadores, isso representa um dos mais repugnantes hábitos das elites: exagerar ou inventar crises ao bem estar público para justificar a implacável expansão do poder do estado sobre a vida privada.

Esta tática usualmente acompanha outra tendência que a direita política despreza: o surgimento de cada vez mais bons samaritanos francamente determinados a proteger pessoas comuns de suas próprias más decisões e preferências irresponsáveis. Obama, que uma vez ridicularizou trabalhadores americanos por serem teimosamente apegados à religião e às armas, claramente vê a decisão de trazer armas de fogo para o lar com desconfiança e desaprovação.

Os defensores do controle de armas, apesar das ocasionais garantias em contrário, estão agindo para diminuir a posse global de armas de fogo e não para limitar a distribuição de armas pesadas nem impedir o acesso a elas por criminosos e malucos. Senão, como explicar o abraço entusiasmado aos programas de recompra pelos quais igrejas e associações de bairros dão dinheiro ou cartões simpáticos aos respeitáveis cidadãos que ficam numa enorme fila entregando suas armas para destruição? É difícil imaginar que esse tipo de ação consiga desarmar bandidos violentos ou lunáticos perigosos.

Mais ainda: quando a Casa Branca selecionou quatro crianças (entre milhões que escreveram) para estarem junto ao presidente no ato da assinatura das 23 executive orders, deixou claro que essas crianças especiais esperavam o total banimento de armas de fogo e não restrições menores. Hinna Zeejah, uma garota de 8 anos, concluiu sua carta ao presidente expressando seus sentimentos: “eu amo meu país e quero que todos sejam felizes e seguros. Não às armas! Não às armas! Não às armas!” Julia Stokes, de 11 anos, escreveu: “eu sei que as leis têm que passar pelo Congresso, mas eu imploro que você seja firme ao fazer com que as armas não sejam mais permitidas”.

Esse ódio visceral às armas de fogo não reflete muita desconfiança sobre armas, mas profunda desconfiança a respeito de vizinhos que possuam armas de fogo. Afinal, armas de fogo não são objetos animados que disparam sozinhas por vontade própria.

Aqueles que odeiam todas as armas ou aqueles que desprezam as assim chamadas ‘armas de assalto’ são livres para manterem suas casas livres de qualquer tipo de armamento. O fato de eles quererem impor sua aversão às armas de fogo demonstra uma falta de respeito aos vizinhos, uma atitude que ajuda a apontar para os selvagens conservadores.

Em Nova Iorque, o prefeito Michael Bloomberg expressou sua fúria proibindo a venda de copos grandes de bebidas açucaradas, na verdade mostrando seu verdadeiro instinto para o estado-babá que protege as pessoas de si mesmas. Ele mostrou seu instinto ainda mais apaixonadamente quando, ao tratar do desarmamento, sugeriu aos bons cidadãos cumpridores da lei que ele sabe mais do que ninguém o que eles devem fazer para assegurar a própria proteção.

Por outro lado, quando os socialistas ouvem a direita denunciando furiosamente o presidente como um tirano ou como um Hitler desarmando a população para aniquilar a oposição, concluem que essas pessoas emotivas, que gritam pelo direito às armas, são aquelas que não deveriam tê-las.

Os conservadores que falam em nome da segunda emenda vêm-se como sucessores dos Founding Fathers e do original Minutemen, mas os progressistas os enxergam como um reflexo retardado da Ku Klux Klan e das milícias defensoras da supremacia branca.

Ambos os lados estão em situação complicada. Os conservadores compram armas para defenderem-se e aos vizinhos, mas são estigmatizados pelos socialistas como fonte de perigo. Os socialistas, por sua vez, sentem-se orgulhosos por elevar e iluminar os membros mais vulneráveis da sociedade, mas são ridicularizados pela interferência intrometida que ameaça a privacidade e a auto-suficiência.

Os ataques e contra-ataques não farão nada pela diminuição da violência, mas já conseguiram contribuir para o aumento da polarização, postura pueril, e para o impasse entre os líderes federais de cada facção.

Do Townhall.  POR MICHAEL MEDVED Publicado originalmente no Daily Beast. Tradução: Oliveira Jr.

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