quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

"UMA MOEDA DEPRECIADA É BOA PARA A ECONOMIA"

Os bancos centrais atuais estão praticando aquilo que os economistas chamam de "desvalorizações competitivas", cada um se esforçando para depreciar mais sua moeda em relação a todas as outras. A lógica, segundo os governos, é que a depreciação da moeda — e, consequentemente, da taxa de câmbio — estimula a economia (leia-se, o setor exportador).


O problema é que tal raciocínio não faz nenhum sentido.

Se você possui uma determinada moeda, e todos os preços cotados nesta moeda caem, você certamente irá se beneficiar deste arranjo. Você lucraria com ele. Mais ainda: você não teria de pagar nenhum imposto sobre este lucro, pois o lucro não seria na forma de um aumento na sua quantidade de dinheiro; o lucro seria na forma de um aumento na quantidade de bens e serviços que você é capaz de comprar com a mesma quantidade de dinheiro que você possuía antes. Portanto, uma deflação de preços traria um enorme benefício para você.

Agora, se é benéfico para você portar esta moeda em um momento que os preços dos bens e serviços estão caindo, por que seria ruim para o público em geral do seu país portar esta mesma moeda em um momento em que os preços das moedas estrangeiras estão caindo? Quando a sua moeda se torna capaz de comprar uma quantia cada vez maior de moedas estrangeiras à medida que o tempo passa, está havendo uma deflação de preços para os itens que estão sendo comprados: as moedas estrangeiras. Por que seria desvantajoso para a população deste país ter uma moeda que ganha poder de compra em relação às outras? Por que seria ruim ser usuário desta moeda e por que não seria ruim ser usuário das moedas estrangeiras se são justamente os bancos centrais estrangeiros que estão inflacionando suas moedas?

Estamos hoje em uma situação em que os bancos centrais de todo o mundo estão expandindo seu processo de aquisição de títulos da dívida de seus respectivos governos. Eles fazem estas aquisições criando dinheiro do nada. É isso que bancos centrais fazem. Logo, há aquilo que se convencionou chamar de 'corrida para o fundo do poço'. Todos os países estão inflacionando para que seus exportadores não sofram com uma moeda apreciada. Todos os governos hoje são mercantilistas.

No entanto, sabemos que, como indivíduos, utilizar uma moeda que está se valorizando é algo ótimo. O que nos leva à inevitável pergunta: por que é bom para os indivíduos de um país utilizar uma moeda que está se valorizando, mas também é uma boa política ter um banco central expandindo a oferta monetária com o intuito de justamente desvalorizar o valor internacional desta moeda? Parece haver algo errado neste arranjo. Quem o defende parece sofrer de dissonância cognitiva.

O que é bom para um indivíduo honesto é bom para a nação. Se é bom para um indivíduo ter um moeda que está se valorizando, então é bom para toda uma nação ter uma moeda que está se valorizando. Como é possível dizer que é algo bom para os indivíduos utilizarem uma moeda que está se valorizando e, ao mesmo tempo, dizer que o país deveria instruir seu Banco Central a inflacionar a moeda com o intuito de não permitir que ela se valorize?

Vivemos em uma era mercantilista. Aquelas grandes empresas voltadas para a exportação querem ver o valor de suas moedas domésticas caindo continuamente. Todas as empresas voltadas para o setor exportador, de todos os países, querem que isso ocorra. Em outras palavras, elas não querem viver um sistema em que os preços são definidos pelo livre mercado. Elas querem que os bancos centrais de seus países intervenham expandindo a oferta monetária de modo a reduzir o valor internacional de sua moeda doméstica. Sendo assim, por essa lógica, o que é bom para indivíduos passa a ser supostamente ruim para toda a nação. Porém, o que é a 'toda a nação' se não o agregado de todos os indivíduos?

Não há dúvidas de que entramos em uma era de desvalorizações competitivas das moedas domésticas. Historicamente, isto sempre foi chamado de depreciação, mas quando há um livre mercado no setor monetário, o termo depreciação é enganoso. Soa como se, da noite para o dia, os burocratas do governo anunciassem uma alteração na taxa de câmbio. No entanto, o que ocorre é que o mercado estabelece o valor de troca de uma moeda por outra. Se os bancos centrais de duas nações inflacionam suas moedas na mesma proporção, a tendência é que aproximadamente a mesma taxa de câmbio se mantenha ao longo do tempo. Porém, em relação aos bens e serviços, as moedas domésticas estão se desvalorizando.

Sempre que você ouvir alguém dizendo que a moeda do seu país tem de se desvalorizar em relação ao dólar — ou que o dólar tem de encarecer —, você está na presença de um mercantilista. Trata-se de alguém que crê que a inflação monetária — e, portanto, a inflação de preços — é algo bom. Ele pensa assim porque tal medida representa um subsídio ao setor exportador. Porém, deveria ser algo óbvio que, quando partimos da lógica de que aquilo que é bom para o indivíduo é bom para a maioria dos cidadãos do país, uma moeda doméstica em contínua apreciação em relação às moedas estrangeiras é algo positivo. Isso indica que seu banco central não está inflacionando, e que os outros bancos centrais ao redor do mundo é que estão. Significa que seu banco central está sendo mais austero e mantendo a sua moeda mais robusta. E uma moeda robusta é aquela que está se valorizando. Mas não é assim que políticos pensam. E também não é assim que economistas dos bancos centrais pensam.

Somente exportadores não gostam de uma moeda que está se valorizando. E são muito poucas as pessoas de uma economia que trabalham para exportadores.

É minha opinião que os bancos centrais de todo o mundo estão hoje encurralados. Não creio que eles possam retornar a condições semelhantes às de 2007 sem gerar uma enorme recessão. E eu realmente creio que esteja havendo aquilo que parece ser uma corrida ao fundo do poço. Também creio que, antes deste fundo ser alcançado pelos países industrializados, os bancos centrais serão forçados a parar de inflacionar. E será neste momento que os governos começarão a dar o calote em todas as suas promessas: tanto nos títulos da dívida quanto nas questões previdenciárias e de seguridade social. Porém, por algum tempo, a corrida continuará.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite

Nenhum comentário: