segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A MENTALIDADE DA ESQUERDA E SEUS ESTRAGOS SOBRE OS MAIS POBRES


Quando adolescentes criminosos e assassinos são rotulados de "jovens problemáticos" por pessoas que se identificam como sendo de esquerda, isso nos diz mais sobre a mentalidade da própria esquerda do que sobre esses criminosos violentos propriamente ditos.

Raramente há alguma evidência de que os criminosos sejam meramente 'problemáticos', e frequentemente abundam evidências de que eles na realidade estão apenas se divertindo enormemente ao cometer seus atos criminosos sobre terceiros.

Por que então essa desculpa já arraigada? Por que rotular adolescentes criminosos de "jovens problemáticos" e supor que maníacos homicidas são meros "doentes"?

Pelo menos desde o século XVIII a esquerda vem se esforçando para não lidar com o simples fato de que a maldade existe — que algumas pessoas simplesmente optam por fazer coisas que elas sabem de antemão serem erradas. Todo o tipo de desculpa, desde pobreza até adolescência infeliz, é utilizada pela esquerda para explicar, justificar e isentar a maldade. 

Todas as pessoas que saíram da pobreza ou que tiveram uma infância infeliz, ou ambas, e que se tornaram seres humanos decentes e produtivos, sem jamais praticarem atos violentos, são ignoradas pela esquerda, que também ignora o fato de que a maldade independe da renda e das origens, uma vez que ela também é cometida por gente criada na riqueza e no privilégio, como reis, conquistadores e escravocratas.

Logo, por que a existência do mal sempre foi um conceito tão difícil para ser aceito por muitos da esquerda? O objetivo básico da esquerda sempre foi o de mudar as condições externas da humanidade. Mas e se o problema for interno? E se o verdadeiro problema for a perversidade dos seres humanos?

Rousseau negou esta hipótese no século XVIII e a esquerda a vem negando desde então. Por quê? Autopreservação. Afinal, se as coisas que a esquerda quer controlar — instituições e políticas governamentais — não são os fatores definidores dos problemas do mundo, então qual função restaria à esquerda?

E se fatores como a família, a cultura e as tradições exercerem mais influência positiva do que as novas e iluminadas "soluções" governamentais que a esquerda está constantemente inventando? E se a busca pelas "raízes da criminalidade" não for nem minimamente tão eficaz quanto retirar criminosos de circulação? As estatísticas ao redor do mundo mostram que as taxas de homicídio estavam em declínio durante as décadas em que vigoravam as velhas e tradicionais práticas tão desdenhadas pela intelligentsia esquerdista. Já quando as novas e brilhantes ideias da esquerda ganharam influência, no final da década de 1960, a criminalidade e violência urbana dispararam.

O que houve quando ideias antiquadas sobre sexo foram substituídas, ainda na década de 1960, pelas novas e brilhantes ideias da esquerda, as quais foram introduzidas nas escolas sob a alcunha de "educação sexual" e que supostamente deveriam reduzir a gravidez na adolescência e as doenças sexualmente transmissíveis? Tanto a gravidez na adolescência quanto as doenças sexualmente transmissíveis vinham caindo havia anos. No entanto, esta tendência foi subitamente revertida na década de 1960 e atingiu recordes históricos.

Desarmamento

Uma das mais antigas e mais dogmáticas cruzadas da esquerda é aquela em prol do desarmamento. Aqui, novamente, o enfoque está nas questões externas — no caso, nas armas.

Se as armas de fato fossem o problema, então leis de controle de armas poderiam ser a resposta. Mas se o verdadeiro problema são aquelas pessoas malvadas que não se importam com a vida de outras pessoas — e nem muito menos para as leis —, então o desarmamento, na prática, fará apenas com que pessoas decentes e cumpridoras da lei se tornem ainda mais vulneráveis perante pessoas perversas.

Dado que a crença no desarmamento sempre foi uma grande característica da esquerda desde o século XVIII, em todos os países ao redor do mundo, seria de se imaginar que, a esta altura, já haveria incontáveis evidências dando sustentação a esta crença. No entanto, evidências de que o desarmamento de fato reduz as taxas de criminalidade em geral, ou as taxas de homicídio em particular, raramente são mencionadas por defensores do controle de armas. Simplesmente se pressupõe, de passagem, que é óbvio que leis mais rigorosas de controle de armas irão reduzir os homicídios e a criminalidade.

No entanto, a crua realidade não dá sustento a esta pressuposição. É por isso que são os críticos do desarmamento que se baseiam em evidências empíricas, todas elas magnificamente coletadas nos livros "More Guns, Less Crime", de John Lott, e "Guns and Violence", de Joyce Lee Malcolm. [Veja nossos artigos sobre desarmamento]. Mas que importância têm os fatos perante a visão inebriante e emotiva da esquerda?

Pobres

A esquerda sempre se arrogou a função de protetora dos "pobres". Está é uma de suas principais reivindicações morais para adquirir poder político. Porém, qual a real veracidade desta alegação?

É verdade que líderes de esquerda em vários países adotaram políticas assistencialistas que permitem aos pobres viverem mais confortavelmente em sua pobreza. Mas isso nos leva a uma questão fundamental: quem realmente são "os pobres"?

Se você se baseia em uma definição de pobreza inventada por burocratas, como aquela que inclui um número de indivíduos ou de famílias abaixo de algum nível de renda arbitrariamente estipulado pelo governo, então realmente é fácil conseguir estatísticas sobre "os pobres". Elas são rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente adotadas por políticos. Mas será que tais estatísticas têm muita relação com a realidade?

Houve um tempo em que "pobreza" tinha um significado concreto — uma quantidade insuficiente de comida para se manter vivo, ou roupas e abrigos incapazes de proteger um indivíduo dos elementos da natureza. Hoje, "pobreza" significa qualquer coisa que os burocratas do governo, que inventam os critérios estatísticos, queiram que signifique. E eles têm todos os incentivos para definir pobreza de uma maneira que abranja um número suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.

Em vários países do mundo, não são poucas as pessoas que são consideradas pobres, mas que, além de terem acesso a vários bens de consumo que outrora seriam considerados luxuosos — como televisão, computador e carro —, são também muito bem alimentadas (em alguns casos, até mesmo apresentam sobrepeso). No entanto, uma definição arbitrária de palavras e números concede a essas pessoas livre acesso ao dinheiro dos pagadores de impostos.

Esse tipo de "pobreza" pode facilmente vir a se tornar um modo de vida, não apenas para os "pobres" de hoje, mas também para seus filhos e netos.

Mesmo quando esses indivíduos classificados como "pobres" têm o potencial de se tornar membros produtivos da sociedade, a simples ameaça de perder os benefícios assistencialistas caso consigam um emprego funciona como uma espécie de "imposto implícito" sobre sua renda futura, imposto este que, em termos relativos, seria maior do que o imposto explícito que incide sobre o aumento da renda de um milionário.

Em suma, as políticas assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a pobreza mais confortável ao mesmo tempo em que penalizam tentativas de se sair da pobreza. Exceto para aqueles que acreditam que algumas pessoas nascem predestinadas a serem pobres para sempre, o fato é que a agenda da esquerda é um desserviço para os mais pobres, bem como para toda a sociedade. Ao contrário do que outros dizem, a enorme quantia de dinheiro desperdiçada no aparato burocrático necessário para gerenciar todas as políticas sociais não é nem de longe o pior problema dessa questão.

Se o objetivo é retirar pessoas da pobreza, há vários exemplos encorajadores de indivíduos e de grupos que lograram este feito, e nos mais diferentes países do mundo.

Milhões de "chineses expatriados" emigraram da China completamente destituídos e quase sempre iletrados. E isso ocorreu ao longo dos séculos. Independentemente de para onde tenham ido — se para outros países do Sudeste Asiático ou para os EUA —, eles sempre começaram lá embaixo, aceitando empregos duros, sujos e frequentemente perigosos.

Mesmo sendo frequentemente mal pagos, estes chineses expatriados sempre trabalhavam duro e poupavam o pouco que recebiam. Era uma questão cultural. Vários deles conseguiram, com sua poupança, abrir pequenos empreendimentos comerciais. Por trabalharem longas horas e viverem frugalmente, eles foram capazes de transformar pequenos negócios em empreendimentos maiores e mais prósperos. Eles se esforçaram para dar a seus filhos a educação que eles próprios não conseguiram obter.

Já em 1994, os 57 milhões de chineses expatriados haviam criado praticamente a mesma riqueza que o bilhão de pessoas que viviam na China.

Variações deste padrão social podem ser encontradas nas histórias de judeus, armênios, libaneses e outros emigrantes que se estabeleceram em vários países ao redor do mundo — inicialmente pobres, foram crescendo ao longo de gerações até atingirem a prosperidade. Raramente recorreram ao governo, e quase sempre evitaram a política ao longo de sua ascensão social.

Tais grupos se concentraram em desenvolver aquilo que economistas chamam de "capital humano" — seus talentos, habilidades, aptidões e disciplina. Seus êxitos frequentemente ocorreram em decorrência daquela palavra que a esquerda raramente utiliza em seus círculos refinados: "trabalho".

Em praticamente todos os grupos sociais e étnicos, existem indivíduos que seguem padrões similares para ascenderem da pobreza à prosperidade. Mas o número desses indivíduos em cada grupo faz uma grande diferença para a prosperidade ou a pobreza destes grupos como um todo.

A agenda da esquerda — promover a inveja e o ressentimento ao mesmo tempo em que vocifera exigindo ter "direitos" sobre o que outras pessoas produziram — é um padrão que tem se difundido em vários países ao redor do mundo.

Esta agenda raramente teve êxito em retirar os pobres da pobreza. O que ela de fato logrou foi elevar a esquerda a cargos de poder e a posições de autoexaltação — ao mesmo tempo em que promovem políticas com resultados socialmente contraproducentes.

A arrogância

É difícil encontrar um esquerdista que ainda não tenha inventado uma nova "solução" para os "problemas" da sociedade. Com frequência, tem-se a impressão de que existem mais soluções do que problemas. A realidade, no entanto, é que vários dos problemas de hoje são resultado das soluções de ontem.

No cerne da visão de mundo da esquerda jaz a tácita presunção de que pessoas imbuídas de elevados ideais e princípios morais — como os esquerdistas — sabem como tomar decisões para outras pessoas de forma melhor e mais eficaz do que estas próprias pessoas.

Esta presunção arbitrária e infundada pode ser encontrada em praticamente todas as políticas e regulamentações criadas ao longo dos anos, desde renovação urbana até serviços de saúde. Pessoas que nunca gerenciaram nem sequer uma pequena farmácia — muito menos um hospital — saem por aí jubilosamente prescrevendo regras sobre como deve funcionar o sistema de saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos e especificidades a médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e planos de saúde.

Uma das várias cruzadas internacionais empreendidas por intrometidos de esquerda é a tentativa de limitar as horas de trabalho de pessoas de outros países — especialmente países pobres — em empresas operadas por corporações multinacionais. Um grupo de monitoramento internacional se autoatribuiu a tarefa de garantir que as pessoas na China não trabalhem mais do que as legalmente determinadas 49 horas por semana.

Por que grupos de monitoramento internacional, liderados por americanos e europeus abastados, imaginam ser capazes de saber o que é melhor para pessoas que são muito mais pobres do que eles, e que possuem muito menos opções, é um daqueles insondáveis mistérios que permeiam a intelligentsia.

Na condição de alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem ter se formado no colégio, sem experiência no mercado de trabalho, e sem habilidades específicas, passei vários anos de minha vida aprendendo da maneira mais difícil o que realmente é a pobreza. Um dos momentos mais felizes durante aqueles anos ocorreu durante um breve período em que trabalhei 60 horas por semana — 40 horas entregando telegramas durante o dia e 20 horas trabalhando meio período em uma oficina de usinagem à noite.

Por que eu estava feliz? Porque antes de encontrar estes dois empregos eu havia gasto semanas procurando desesperadamente qualquer emprego. Minha escassa poupança já havia evaporado e chegado literalmente ao meu último dólar quando finalmente encontrei o emprego de meio período à noite em uma oficina de usinagem.

Passei vários dias tendo de caminhar vários quilômetros da pensão em que morava no Harlem até a oficina de usinagem, que ficava imediatamente abaixo da Ponte do Brooklyn, e tudo para poupar este último dólar para poder comprar pão até finalmente chegar o dia de receber meu primeiro salário.

Quando então encontrei um emprego de período integral — entregar telegramas durante o dia —, o salário somado dos dois empregos era mais do que tudo que eu já havia ganhado antes. Foi só então que pude pagar a pensão, comer e utilizar o metrô para ir ao trabalho e voltar.

Além de tudo isso, ainda conseguia poupar um pouco para eventuais momentos difíceis. Ter me tornado capaz de fazer isso era, para mim, o mais próximo do nirvana a que já havia chegado. Para a minha sorte, naquela época não havia nenhum intrometido de esquerda querendo me impedir de trabalhar mais horas do que eu gostaria.

Havia um salário mínimo, mas, como o valor deste havia sido estipulado em 1938, e estávamos em 1949, seu valor já havia se tornado insignificante em decorrência da inflação. Por causa desta ausência de um salário mínimo efetivo, o desemprego entre adolescentes negros no ano de 1949, que foi um ano de recessão, era apenas uma fração do que viria a ser até mesmo durante os anos mais prósperos desde a década de 1960 até hoje.

À medida que os moralmente ungidos passaram a elevar o salário mínimo, a partir da década de 1950, o desemprego entre os adolescentes negros disparou. Hoje, já estamos tão acostumados a taxas tragicamente altas de desemprego neste grupo, que várias pessoas não fazem a mais mínima ideia de que as coisas nem sempre foram assim — e muito menos que foram as políticas da esquerda intrometida que geraram tais consequências catastróficas.

Não sei o que teria sido de mim caso tais políticas já estivessem em efeito em 1949 e houvessem me impedido de encontrar um emprego antes de meu último dólar ser gasto.

Minha experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo do que ocorre quando suas opções são bastante limitadas. Os prósperos intrometidos da esquerda estão constantemente promovendo políticas — como encargos sociais e trabalhistas — que reduzem ainda mais as poucas opções existentes para os pobres. Quando não reduzem empregos, tais políticas afetam sobremaneira seus salários.

Parece que simplesmente não ocorre aos intrometidos que as corporações multinacionais estão expandindo as opções para os pobres dos países do terceiro mundo, ao passo que as políticas defendidas pela esquerda estão reduzindo suas opções.

Os salários pagos pelas multinacionais nos países pobres normalmente são muito mais altos do que os salários pagos pelos empregadores locais. Ademais, a experiência que os empregados ganham ao trabalhar em empresas modernas transforma-os em mão-de-obra mais valiosa, e fez com que na China, por exemplo, os salários passassem a subir a porcentagens de dois dígitos anualmente.

Nada é mais fácil para pessoas diplomadas do que imaginar que elas sabem mais do que os pobres sobre o que é melhor para eles próprios. Porém, como alguém certa vez disse, "um tolo pode vestir seu casaco com mais facilidade do que se pedisse a ajuda de um homem sábio para fazer isso por ele".

Por: Thomas Sowell , um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford. Seu website: www.tsowell.com.

Tradução de Leandro Roque

LEIA MAIS E VEJA MENOS TELEVISÃO...


Já sabíamos que o brasileiro não tem no hábito da leitura um de seus hobbies preferidos. Agora isso foi quantificado em pesquisa do IBGE, divulgada pelo GLOBO:

Estudo piloto feito pelo IBGE em quatro estados (Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco) mais o Distrito Federal, com mais de 5 mil pessoas com 10 anos ou mais, dissecou essa repartição do tempo, e a leitura ocupa fatia residual no dia do brasileiro: apenas seis minutos em média por dia, enquanto ficamos 2h35m na frente da televisão. O estudo, inédito, mostrou também o que a percepção das pessoas já comprovou. Fazemos várias coisas ao mesmo tempo: 61% dos entrevistados praticaram atividades simultâneas, o que aumenta o dia em quatro horas e 52 minutos. 

É tempo demais em frente a TV e de menos em frente a um livro! Isso para não falar da qualidade desse livro, quando, em ato raro, o brasileiro resolve encará-lo. Depois não adianta culpar a TV Globo por seus programas… é o povo brasileiro que escolhe!

A leitura é um hábito maravilhoso. Eu posso atestar que ela muda a nossa vida, para melhor! Uma boa literatura é sinônimo de momentos mágicos imersos em uma história interessante, que engrandece a vida, que alimenta a alma.

Sou suspeito para falar, pois sou viciado em livros, daqueles que ficam muito angustiados quando olham para a estante (ou para o Kindle – sim, eu tive que ceder ao seu “encanto” pela praticidade e falta de espaço nas estantes), pensando em qual será a próxima “viagem”.

Espero que cada vez mais brasileiros possam ser mordidos por essa “mosca” e passem a ler mais. Não vão perder muita coisa se desligarem a TV por mais alguns minutos. Muito pelo contrário.

PS: Essa enorme dispersão de quem faz várias coisas simultâneas é filhote dos tempos modernos, com a tecnologia que produz hiperconectividade e ansiedade nas pessoas (um email não respondido pode até matar alguém do coração!). Há bons artigos e livros sobre o tema. Mas quando o leitor pega um bom livro para ler, o foco e a atenção são cruciais. Se o livro for bom mesmo, normalmente ele prende o leitor automaticamente. Experimente!
Por: Rodrigo Constantino 

domingo, 11 de agosto de 2013

O QUE O GOVERNO FEZ COM O NOSSO DINHEIRO?


A diversidade de temas tratados por Murray Rothbard ao longo de sua vida é realmente notável. Versando sobre economia, filosofia política, história, teoria monetária e bancária e crítica literária, Rothbard produziu obras monumentais. De tratados a livros, ensaios, artigos em revistas acadêmicas e em jornais renomados, sua produtividade no decorrer de toda a sua carreira é digna de admiração — independentemente de afinidades intelectuais.

Sua prosa direta, objetiva, clara e sempre instigante cativa leitores há décadas e faz com que suas obras propiciem uma leitura verdadeiramente prazerosa — sem jamais cair na superficialidade, apesar da linguagem simples e precisa. A presente obra é um excelente exemplo do primor de Rothbard.

A verdade é que ler Murray Rothbard é uma transformação intelectual; você nunca mais será o mesmo. Foi assim comigo e, provavelmente, será assim com você também.

Concluí minha primeira leitura da edição inglesa de "O que o governo fez com o nosso dinheiro?" em meados de 2008, em plena crise financeira mundial. Naquele momento, pouco conhecia sobre economia, muito menos sobre a chamada Escola Austríaca de economia. Mas os argumentos, a lógica, a linha de raciocínio cristalina e a contundência de suas palavras me pareceram simplesmente surpreendentes e arrebatadoras. Ao final da leitura, tive a clara sensação de que finalmente entendia a economia, de que finalmente entendia como o mundo funcionava. Era a peça que faltava no quebra-cabeça.

Entender a natureza do dinheiro é fundamental para qualquer economista — e é surpreendente o fato de que muitas faculdades no mundo sequer tratam do assunto de forma estruturada, quanto mais o estudam com profundidade. Mas não são somente economistas que precisam compreender o dinheiro. Em realidade, todos os indivíduos deveriam ter um mínimo de conhecimento do que é, como surgiu e para que ele serve. Afinal de contas, todos nós o usamos e trabalhamos diariamente para obtê-lo. Sem dúvida alguma, tanto economistas quanto leigos serão beneficiados pela leitura da presente obra.

O livro está dividido em quatro partes. Na primeira, Rothbard trata de explicar o surgimento do dinheiro em uma sociedade livre, demonstrando como o livre intercâmbio de mercadorias entre indivíduos faz com que um produto emerja como o mais líquido, tornando-se, por fim, o meio de troca universalmente aceito. Ou, simplesmente, o dinheiro. O autor prossegue destacando a evolução do dinheiro, suas propriedades, indo até o surgimento do serviço bancário e os efeitos não intencionados oriundos da violação de práticas prudentes por parte dos banqueiros.

A segunda parte lida com os efeitos da interferência governamental no âmbito monetário e bancário. Com muita destreza, Rothbard revela a enorme tentação da qual os governos sofrem de se apropriarem do dinheiro, monopolizando e/ou controlando sua produção para benefício próprio. Expondo todas as facetas das consequências da intervenção estatal, Rothbard desmascara a nociva política de inflação da moeda e seus efeitos sobre os preços dos bens e serviços. Ou, dito de outra forma, como a inflação destrói o poder de compra da moeda.

Aos leitores brasileiros, escaldados por décadas de índices de inflação de dois dígitos ou, em certos períodos, de hiperinflação, a segunda parte será muito importante e merece especial atenção. Muitos leitores, talvez, pela primeira vez entenderão o real significado de inflação. Entenderão como ela é resultado de políticas públicas, e não da ganância de empresários maldosos. Entenderão como a lei de oferta e demanda se aplica igualmente à moeda, percebendo que, quanto mais o governo a emite, menor será o seu valor unitário. Em suma, entenderão que as diversas explicações dos economistas dadas à saga inflacionária brasileira carecem de fundamento. Não há inflação de demanda, tampouco de custos. Não há por que se preocupar com a tal da inércia inflacionária, nem mesmo com o fenômeno da indexação. Basta entender que inflação é o aumento da quantidade de moeda em circulação. Simples assim.[1]

Ainda nessa parte, Rothbard analisa o surgimento — ou a criação — dos bancos centrais e como eles foram frutos diretos de sucessivas intervenções e privilégios legais concedidos pelos governos à prática bancária. Ao leitor, tornar-se-á evidente a relação simbiótica entre os governos e o sistema bancário. Antes de ingressar na terceira parte, Rothbard elucida os perniciosos efeitos de uma moeda totalmente fiduciária, isto é, sem nenhum vínculo com o dinheiro mercadoria além do puro decreto governamental.

Estabelecido o marco teórico na esfera monetária e bancária nas primeiras partes da obra, Rothbard encarrega-se, então, de examinar a história monetária do Ocidente nos últimos dois séculos, dividindo-a em nove fases distintas. Na terceira parte, portanto, o autor discorre sobre a evolução da ordem monetária, apontando as diversas falhas e debilidades de cada sistema experimentado durante esse período e identificando as causas do eventual colapso de cada uma das fases.

Talvez o único ponto fraco desta obra jaza na prematura morte de Murray Rothbard no ano de 1995, o que o impediu de continuar seu estudo acerca do colapso monetário do Ocidente até os dias atuais. Dessa forma, a análise de Rothbard estende-se somente até meados de década de 70, deixando de fora, assim, períodos importantes da ordem monetária ocidental.

Mas, em virtude do turbilhão de acontecimentos dos últimos anos, com especial destaque à crise financeira de 2008, não poderíamos deixar essa enorme lacuna histórica sem ser devidamente analisada. Por isso, temos, na quarta e última parte, uma contribuição de minha autoria, em que procuro completar a obra exatamente onde ela parou. Dando continuidade às fases identificadas por Rothbard, prossigo a analisar o desenrolar do colapso monetário nas décadas seguintes, culminando na grande crise de 2008 e nas medidas extremas e sem precedentes adotadas pelos principais governos e bancos centrais do mundo.

Ao final da obra, o leitor estará munido de um arsenal teórico potente, com pleno conhecimento acerca dos fenômenos monetários e bancários e capaz de discutir com e questionar qualquer economista ou banqueiro central. Ademais, estará imune às explicações estapafúrdias sobre a inflação e suas consequências perversas na economia. E, como complemento, perceberá que a atual crise econômica nada tem a ver com o capitalismo, e sim, na verdade, com o socialismo aplicado ao âmbito monetário. Concluirá, assim, que o livre mercado pode funcionar tão bem para a produção de dinheiro quanto de qualquer outro bem.

Portanto, é com enorme prazer que convido você, leitor, a aproveitar cada página desta magnífica obra de Murray Rothbard, publicada pela primeira vez em língua portuguesa pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil, com a sempre formidável tradução de Leandro Roque, editor do website.

Boa leitura! Por: Fernando Ulrich

Porto Alegre, julho de 2013.

PS:  O falecido senador Roberto Campos costumava enfatizar bastante esse ponto, afirmando que "o entendimento de que inflação é o aumento da emissão de moeda leva a conclusões fundamentais. Porque se entendemos que inflação é o aumento de preços, então o culpado é o empresário, pois é ele quem aumenta os preços. Mas se entendemos que inflação é o aumento da quantidade de dinheiro em circulação, aí o culpado é o governo e a coisa muda completamente de figura". É uma pena que os Fiscais do Sarney jamais entenderam essa constatação.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

CHINA PERDE O CONTROLE DA SUA ECONOMIA FRANKENSTEIN

O mundo aceitou cada vez mais a ideia de que os líderes chineses são administradores hábeis da colossal economia do país.


E parece ter-se enganado, escreveu William Pesek, correspondente em Tóquio do Bloomberg News.

Sucessivas medidas do presidente do Banco da China, Zhou Xiaochuan, de início foram aclamadas como golpes de batuta de um mestre. Mas, quando elas viraram uma espiral de marchas à ré e de mudanças de rumo, semearam mal-estar e sugeriram que as finanças do gigante comunista podem ser comparadas a um Frankestein fora de controle.

Imensas cidades fantasmas novas, rodovias, aeroportos e hidrelétricas inflaram o PIB chinês, obnubilando os investidores estrangeiros otimistas e gerando vertiginosos movimentos bancários.

O perigo, segundo Pesek, é que ninguém realmente sabe como está a saúde dos bancos estatais chineses, ou qual é o tamanho do enorme sistema de financiamento paralelo. Para Stephen Green, da Standard Charteres em Hong Kong, o sistema de crédito da China é uma “enorme e assustadora caixa preta”.

Pesek pergunta:

“Como alguém pode acreditar que a China vem crescendo a uma taxa de 7,7%, como afirma o governo, quando variáveis cruciais na sua tabela de dados são um mistério? O economista Lu Ting, do Bank of America em Hong Kong, expôs-se à ira da China ao afirmar que o superávit comercial do país era um décimo dos US$ 61 bilhões informados a partir de meados de maio. Esse caráter “ninguém sabe” do sistema de crédito da China – quantidade, qualidade, ou excessos – é ainda mais preocupante”.

A hora da verdade da China se aproxima. O governo marxista tenta adiá-la, inoculando ativos equivalentes a um sistema bancário americano a cada cinco anos.

Agora o perigo beira o pânico e os “comunicados padronizados e vagos (do Banco Central chinês) só exacerbam a aflição nos mercados”. A opacidade é método socialista, que agora não mais consegue dissimular um ente monstruoso balançando de modo assustador.

A economia chinesa virou “um monstro como Frankenstein. Uma criatura poderosa e gigantesca nascida de experimentos não ortodoxos, da qual seus criadores perdem cada vez mais o controle”, explica Pesek.

A economia desacelera, há necessidade urgente de reformas cruciais sem provocar pavor repentino nos mercados nem desestabilizar a abalada sociedade chinesa.

Embora uma dolorosa terapia de choque seja indispensável, os criadores do Frankenstein da China não parecem determinados a refreá-lo por razoes ideológicas que não respeitam e até escarnecem das leis econômicas “capitalistas”.
Por: Luis Dufaur, escritor, edita o blog Pesadelo Chinês.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O PARAÍSO DO BOM SELVAGEM


A jornalista Miriam Leitão e o fotógrafo Sebastião Salgado começaram hoje uma matéria especial sobre os “bravos e vulneráveis” índios Awá, que vivem como caçadores e coletores na Floresta Amazônica no Maranhão. O título da reportagem no GLOBO é “Paraíso sitiado: Eles estão em perigo”. Paraíso?

Sempre chamou bastante a minha atenção essa visão romântica da vida “selvagem”. Foi Rousseau quem popularizou o conceito de “bom selvagem”, como se a vida mais natural fosse sinônimo de “pureza”, “simplicidade” e “felicidade”, sendo que a sociedade acabaria nos corrompendo. Mas a ideia não vem só dele. Até Michel de Montaigne flertou com essa visão romântica de um passado idílico e melhor.

Em seus ensaios, quando ele fala sobre os canibais, podemos notar essa vontade de crer que os “bárbaros” vivem melhor que os “civilizados”. Ele resgata também filósofos que falavam desse éden perdido, desse estágio fantástico antes de os hábitos e costumes serem alterados pela civilização. Diz Montaigne:

É um povo, diria eu a Platão, no qual não há a menor espécie de comércio; nenhum conhecimento das letras; nenhuma ciência dos números; nenhum título de magistrado nem de autoridade política; nenhum uso de servidão, de riqueza ou de pobreza; nem contratos; nem sucessões; nem partilhas; nem ocupações, exceto as ociosas; nem vestimentas; nem agricultura; nem metal; nem uso de vinho ou trigo. Mesmo as palavras que designam a mentira, a traição, a dissimulação, a avareza, a inveja, a maledicência, o perdão são inauditas.

O tom de aprovação vai ficando mais empolgado ainda. Montaigne considera tais características positivas. Mas não são! E desconheço um ser civilizado que queira regressar a esse estágio bárbaro, selvagem, natural. A vida dos índios é dura. Há hierarquia, guerras, miséria. O ser humano não nasce “bonzinho” e é corrompido depois; ele nasce uma pequena besta e precisa ser civilizado, educado. O nosso estágio natural é o da miséria e da ignorância. Quem realmente deseja voltar a isso?

Ninguém. Mas muitos gostam de sonhar que era tudo maravilhoso. Eles romantizam um passado idealizado de perfeição, de fartura, de beleza e contato simbiótico com a linda natureza (esquecendo dos nossos predadores e da dificuldade de se obter alimentos, proteção contra o frio etc). E, mesmo não invejando de fato a vida real dos selvagens, essas pessoas se sentem melhor quando os colocam em redomas e preservam sua “cultura”, seu estágio subdesenvolvido de vida, em uma espécie de “zoológico humano”.

Eu dedico uma maior reflexão a esse fenômeno em meu livro Esquerda Caviar, que será lançado em outubro pela editora Record. Até lá, digo aos leitores apenas que tomem muito cuidado com as lindas fotos que passam a imensa felicidade desses índios isolados na mata, e que redobrem o cuidado quando alguns tentarem incutir culpa no “homem branco malvado” inserido na civilização ocidental. 
Por: Rodrigo Constantino  Fonte: O GLOBO

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DIOR NOT WAR

"Dior não guerra." Vi esta frase numa camiseta. Lembra a clássica dos anos 60: "faça amor, não faça guerra". Melhor do que a bobagem com o rosto do assassino mais chique da América Latina, o Che.


O que me encantou na frase é que a Dior representa --ou qualquer outra marca-- a capacidade humana de produzir riqueza como forma de civilização, em vez de nos matarmos. Todo mundo sabe que riqueza material não é apenas riqueza material.

O que aborrece no Brasil é que ainda não entendemos que a riqueza da qual falam autores como Adam Smith (filósofo moral, e não um guru do egoísmo como alguns pensam por aqui) não é apenas material, mas moral e existencial.

Outro dia vi numa dessas cidades históricas mineiras maravilhosas um grupo de jovens, como cara de anos 60 extemporâneos, que falavam barbaridades contra o capitalismo, todos munidos de iPhones e iPads, registrando tudo a sua volta. Ignorantes, parecem pensar que toda esta tecnologia, que vai de celulares a cirurgias cardíacas, caem do céu. Não, tudo custa, e muito.

Recentemente li na revista "The Economist" duas matérias muito interessantes. Uma primeira falava de como o crime comum (roubos, assassinatos e similares) tem caído significativamente em países ricos, como EUA, Reino Unido e Alemanha, mesmo em cidades grandes como Nova York e Londres.

Não se trata apenas de mais punição, mas sim de um conjunto de elementos que passam por polícia mais equipada e treinada (o que não quer dizer mais violenta), tanto preventiva quanto científica. Crianças em boas escolas e ocupadas principalmente quando as famílias são mononucleares (só um dos pais), ruas limpas, estradas bem feitas, hospitais eficientes, transporte público operacional, vizinhos ativos no cuidado com seu bairro (quem não come nem dorme não pode ser um vizinho assim). Enfim, tudo que custa muito dinheiro.

Noutra, sobre Cuba, falava-se da luta das pessoas para poderem comprar e vender coisas e terras sem ter apenas o Estado como "parceiro" de negócios. E como isso é visto como um milagre dos céus. E ainda tem gente chique no Brasil que acha Cuba um "experimento" a ser levado a sério. Que horror!

E aí passo a um livro que recomendo a leitura para quem quiser pensar no mundo livre do neolítico --o socialismo, levado a sério por muitos de nós, é puro neolítico. "Why Nations Fail, The Origins of Power, Prosperity, and Poverty", de Daron Acemoglu, professor de economia do MIT e James A. Robinson, cientista político e economista, professor de Harvard.

Por que muitas nações são pobres, miseráveis, atrasadas, enterradas em crime e fome? Causas geográficas? Culturais? Religiosas? Étnicas? Não.

A diferença está num modo de organização política e social específico que cria condições para as pessoas buscarem livremente seus interesses. Democracia liberal, igualdade perante a lei e garantias de que as pessoas podem agir livremente no mercado de trabalho e de produtos. Numa palavra, sociedade de mercado. Foi isso que derrotou o comunismo, mas muitos já esqueceram.

Infelizmente entre nós, ainda se pensa que isso seja simplesmente um modo cruel de viver, negador da "solidariedade" e defensor da "ganância". Muito pelo contrário: é só a riqueza que torna a solidariedade possível, não há solidariedade na pobreza, isso é mito.

Apesar de as indicações históricas serem evidentes, ainda insistimos em não entender que a sociedade de mercado (longe de ser perfeita) dá ao ser humano a liberdade necessária para cuidar da sua vida e se tornar adulto.

Só dessa forma as pessoas entendem uma coisa óbvia que o economista Friedrich Hayek pensava. Quando perguntarem a você o que é a economia, a resposta certa é: a economia somos nós! E não algo planejado por "cabeções" teóricos que controlam a vida dos outros, como pensava John Maynard Keynes.

Mas, os políticos adoram Keynes porque sua teoria os faz parecer responsáveis pela riqueza, quando na realidade quem produz riqueza somos nós em nosso cotidiano, quando nos deixam em paz. Keynes é a servidão, Hayek, a liberdade.
Por: Luiz Felipe Pondé  Folha de SP

ESTADO-BABÁ: O PATERNALISMO DA ANVISA


Em sua coluna de hoje, Merval Pereira fala do estado-babá, citando a Anvisa como exemplo. O paternalismo toma contornos preocupantes quando tenta nos proteger de nós mesmos. É uma premissa perigosa. Quando o governo avança na questão do fumo, a reação é tímida pois, como lembra o jornalista, trata-se de um setor antipático. Mas isso abre um precedente, e a Anvisa já demonstrou estar disposta a se meter em diversos outros assuntos privados, sempre em nome do “bem-geral”.

Recomendo a todos a leitura do excelente livro de David Harsanyi sobre o assunto. Todo cuidado é pouco. Afinal, somos cidadãos, não súditos. A seguir, a resenha que escrevi do livro para o Instituto Liberal.

“Se salvar vidas é o único motivo para termos leis, nunca teremos leis suficientes.” (David Harsanyi)

Quando perdemos nosso direito de sermos preguiçosos, não saudáveis ou politicamente incorretos? Essa é a pergunta que David Harsanyi faz em seu livro “O Estado Babá”, que mostra com inúmeros exemplos como os americanos estão cada vez mais trocando liberdade individual por controle estatal.

A tirania das boas intenções costuma ser a mais perigosa de todas, pois os “bons samaritanos” jamais descansam em sua nobre missão de cuidar dos outros. Liberdade pressupõe responsabilidade, assim como liberdade de escolher tolices. Imbuídos de uma arrogância paternalista, os babás não aceitam isso, e partem para suas ações salvadoras: “Algo deve ser feito”, eis a reação dos babás diante de atitudes que não aprovam, significando sempre mais intromissão estatal em nossas vidas.

O grau de chatice dos babás chegou a um patamar insuportável. Como bem coloca o autor: “Para esses intrometidos, a utopia é um mundo sem fumantes, sem gordura, onde o álcool é bebido apenas com moderação, o McDonald’s vende Mc Nuggets de tofu com molho de baixa caloria e os seios nus de uma estrela pop são dignos de uma sessão no Congresso e de histeria em massa”.

O estado babá ocorre quando “o governo assume um hiperinteresse em microadministrar o bem-estar dos cidadãos”. Mas o governo vai além de seu papel quando tenta nos proteger de nós mesmos. Uma vez que esta porteira é aberta, o céu é o limite para os babás, que pretendem eliminar todo comportamento “prejudicial” ou “irracional” da face da Terra. A imprensa, com inclinação para manchetes aterrorizantes, joga mais lenha na fogueira, ajudando a criar um ambiente de pânico propício às intervenções dos babás.

O dogma compartilhado pelos babás é que se meter na vida alheia por meio das leis é a forma mais rápida de criar uma sociedade superior. O bom senso para determinar a fronteira legítima desta intervenção se perdeu faz tempo. Os “guardiões do estômago”, por exemplo, criaram uma verdadeira “milícia alimentar” para tentar barrar do cardápio os itens prejudiciais à saúde. Mas, se podemos proibir um ingrediente que não é saudável, o que impede o governo de proibir muitos ou todos eles?

Para sustentar suas medidas estúpidas, os babás não se importam em apelar para a tortura dos números. Exames com ratos de laboratório “provam” que vários alimentos podem matar, ignorando apenas que a quantidade ingerida pelos ratinhos seria equivalente ao jantar que um gigante consideraria exagerado. Na verdade, até água pode matar, se consumida em quantidade excessiva. Entre o remédio e o veneno, muitas vezes está somente a dosagem.

Mas nada disso incomoda os babás. Eles precisam salvar vidas! O terrorismo é constante: o açúcar é um veneno, a gordura e a fritura são armas letais, o cigarro é morte certa, até para fumantes passivos. Não obstante as mentiras e exageros dessas pesquisas, resta perguntar: por que cada indivíduo não deve ser livre para escolher como viver, ainda que sua escolha nos pareça destrutiva? A busca pela “saúde perfeita” é algo que nos remete ao nazismo. Sociedades livres devem se preocupar em garantir a liberdade de escolha.

Babás são presunçosos, e acreditam que sabem melhor que os outros como a vida deve ser vivida. Eles partem da premissa arrogante de que conhecem as escolhas “certas”. São moralistas autoritários, que desejam impor seu estilo de vida aos demais. Viver é assumir riscos, mas os covardes babás querem uma vida totalmente segura (e sem graça), e pior, querem obrigar os outros a desejar o mesmo.

Tudo que os liberais pedem é: deixem-nos em paz! Que cada um possa viver de acordo com suas próprias escolhas. Afinal de contas, até o fumo é muito mais saudável que o fascismo.
Por: Rodrigo Constantino

terça-feira, 6 de agosto de 2013

CONSUMIDORES URUGUAIOS QUASE PODEM DIZER "HABEMUS CANNABIS"


Parlamento do Uruguai. Poucos minutos antes da meia-noite desta quarta-feira a Câmara aprovou o projeto que regula a maconha no país. Até o fim do ano será a vez do Senado debater o assunto.

A Câmara de Deputados do Uruguai aprovou ontem (quarta-feira) à noite o projeto de lei do governo do presidente José Mujica que legaliza o cultivo, distribuição e a venda de maconha. A Frente Ampla, a coalizão de governo que reúne socialistas, democrata-cristãos, comunistas e ex-guerrilheiros tupamaros obteve os 50 votos necessários para aprovar o projeto cujo debate levou 13 horas. Outros 46 deputados votaram contra a legalização da cannabis sativa.

Os parlamentares governistas afirmaram que a legalização da maconha constituirá um duro golpe ao narcotráfico, que perderá parte de seus negócios. No entanto, a oposição criticou o projeto, alegando que estimulará o consumo de drogas de forma geral.

HABEMUS CANNABIS? - Os uruguaios consumidores da erva ainda não podem dizer “Habemus cannabis”, já que o projeto ainda será encaminhado à uma comissão do Senado. Posteriormente será levado ao plenário da câmara alta, onde seria debatido até dezembro deste ano. Caso seja aprovado ali a lei terá que ser regulamentada, ação que levaria vários meses adicionais. Desta forma, a lei – depois de confirmada com a rubrica do presidente Mujica – poderia estar em plena vigência em meados do ano que vem.

A aprovação na Câmara esteve a ponto de fracassar, já que a Frente Ampla quase perdeu o único voto que lhe permitia maioria. O protagonista do suspense foi o deputado Darío Pérez, que havia expressado dúvidas sobre seu voto ao longo do último mês. Ele somente confirmou que votaria a favor durante o debate. “Não gosto de dizer palavrões…mas a maconha é uma bosta!”, afirmou. No entanto, disse que votaria a favor, apesar de discordar, por uma questão de disciplina partidária. “Os organismos máximos da Frente Ampla tomaram a determinação de seguir com este projeto. Enquanto eu seja parte da Frente, seguirei as regras, às quais me submeto”, disse.

No Senado, de um total de 30 cadeiras, a Frente Ampla conta com 16 parlamentares. No entanto, a maioria dos senadores da coalizão ainda não expressaram suas opiniões sobre o projeto de legalização da maconha.

No ano passado o Parlamento do Uruguai aprovou a descriminalização do aborto. Em abril foi a vez da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Parlamento uruguaio avalia atualmente projetos para a legalização da eutanásia.

INSTITUTO - O projeto de lei cria um organismo público – o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircca) – que fornecerá as licenças a empresários que realizem as plantações privadas para a venda em farmácias. O instituto também estará a cargo do processo de importação de sementes da cannabis sativa.

Os consumidores habilitados – além dos produtores – deverão fazer parte de um registro nacional. Somente cidadãos uruguaios e estrangeiros residentes no país poderão fazer parte do registro. Uruguaios que residem no exterior e estrangeiros de visita ao país não poderão comprar maconha.

Os consumidores registrados poderão adquirir 40 gramas mensais de maconha nas farmácias habilitadas.

O projeto também determina que os cidadãos que quiserem plantar a maconha em suas casas poderão contar com um máximo de seis pés fêmeas de cannabis (as plantas fêmeas são as que possuem o princípio psicoativo). A colheita destas plantas – que será fiscalizada pelo Ircca – não poderá ultrapassar as 480 gramas anuais.

Além disso, está prevista a criação de clubes (pequenas cooperativas) que poderão plantar a erva, que terá que ser distribuída entre seus associados. Estes clubes poderão ter um mínimo de 15 membros e um máximo de 45 pessoas. O teto máximo de plantas será de 99 pés.

O governo Mujica sustenta que, com a legalização da comercialização da maconha existe uma possibilidade de “arrebatar” o business aos narcotraficantes e “separar o mercado do paco e da maconha”. Segundo o governo, o mercado atualmente “é ilegal e está desregulado”.

PESQUISAS - O presidente Mujica, de 78, anos, ex-guerrilheiro tupamaro que nas últimas três décadas trabalhou de forma simultânea como político e floricultor, declarou há poucos dias que “jamais” experimentou a maconha. “Não tenho ideia como é”, explicou. No entanto, sustentou que sabe que “a rapaziada” de seu país a experimentou. Segundo dados da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios entre 15 e 65 anos experimentou maconha alguma vez em suas vidas. Do total, 8,3% consumiram a droga ao longo do último ano.

No entanto, o projeto da maconha – na contra-mão de leis recentes, como a do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo – não conta com respaldo popular. Segundo uma pesquisa da consultoria Cifra 63% dos uruguaios rejeita o plano. Somente 26% concorda com a legalização da maconha, enquanto que o resto não possui opinião formada.
VOCABULÁRIO

Maconha: Não existe o portunholesco “Macuenha”. Maconha é “Marihuana” mesmo.

Porro: O cigarro de maconha.


E para encerrar esta noite, de Maurice Ravel, a sublime “Daphnis et Chloé” com a Filarmônica de Berlim:
Por: Ariel Palácios  O Estadão

TEORIA DO CAOS E PSICOLOGIA JUNGUIANA APLICADOS À ECONOMIA

Foi o psicanalista Carl Jung quem alertou que a política moderna havia se tornado uma religião e que haveria terríveis consequências para todos.


Em março de 1998, Murray Rothbard escreveu um fascinante ensaio intitulado "Teoria do Caos: Destruindo a economia matemática desde dentro?" no qual ele observou que a teoria do caos contém implicações "radicais". Àqueles que não estão familiarizados com a teoria do caos, trata-se de uma descoberta matemática aplicável às áreas meteorológica, física, biológica e econômica. De acordo com a teoria do caos, sistemas dinâmicos voláteis são altamente sensíveis às pequenas diversidades contidas nas condições iniciais. Rothbard explica:

"Há duas décadas, Edward Lorenz, um meteorologista do MIT se viu diante da teoria do caos ao descobrir que até mesmo a menor das mudanças climáticas poderia trazer enormes e voláteis mudanças no clima. Chamando isso de Efeito Borboleta, ele assinalou que o bater das asas de uma borboleta no Brasil poderia causar um tornado no Texas."

Imagine as implicações dessa teoria nas finanças internacionais. Um pequeno distúrbio pode produzir uma mudança completamente inesperada em toda a economia global. O resultado não só seria inesperado, como seria virtualmente impossível de prever (por conta da complexidade das interações de todos os fenômenos de menor escala). O verbete sobre "Caos" na Enciclopédia de Filosofia de Stanford nos informa que a teoria do caos postula uma sensível dependência (das condições iniciais) de dentro de um sistema que é determinista e não linear. O verbete assinala que Aristóteles "já estava ciente de algo similar ao que chamamos de dependência sensível". Mas o entendimento que Aristóteles tinha disso era mais epistemológico que metafísico. Acerca do assunto, o filósofo escreveu que "o mínimo desvio inicial da verdade é multiplicado mais tarde por mil". Em outras palavras, uma mentirinha no começo pode levar a uma completa ruptura com a realidade em algum momento — um corolário epistemológico da teoria do caos. (retornaremos a essa ideia a seguir).

Chegando ao âmago do assunto, Rothbard diz: "a conclusão da teoria do caos não é que o mundo real é caótico ou imprevisível e indeterminado em princípio, mas que na prática muito dele é imprevisível"; Pois se nos encontrarmos dentro de um sistema dinâmico (matematicamente preciso e determinista) em que a previsão é efetivamente impossível, nossa matemática subitamente cessaria de ter qualquer serventia. De acordo com Rothbard, a teoria do caos tem "implicações subversivas (...) para a economia matemática ortodoxa, pois se as teorias acerca de expectativas racionais violam o mundo real, então elas violariam o equilíbrio geral também (...) e todo o resto do aparato neoclássico." 

Evidentemente, Rothbard não estava endossando a teoria do caos. Ele estava se divertindo com o uso de conclusões matemáticas para confundir os métodos matemáticos aplicados à economia. Neste caso os erros dos economistas são vários e são sérios. Para se certificarem, os economistas tencionam apresentar um quadro realista da atividade econômica, mas na verdade a falsificação dessa ciência é palpável. O sociólogo William Graham Sumner publicou um ensaio em 1902 intitulado "Propósitos e consequências" em que ele ofereceu uma distinção entre fatos e intenções, isto é, o primeiro é real enquanto o último é irrelevante ao desfecho. A coisa mais importante a se entender na economia não é apenas que somos incapazes matematicamente de chegar a prognósticos precisos, mas que (segundo Sumner) “ideais como liberdade perfeita, justiça ou igualdade (...) nunca podem fornecer motivos racionais ou científicos para as ações ou pontos de partida para esforços racionais”. No entanto, tudo dentro da civilização que se desmorona hoje se resume a esse tipo de coisa, considerando uma escala maciça. Constatamos então o corolário da “ação humana” na teoria do caos. Um pequeno equívoco (financeiro) no início pode levar a um colapso total no fim. A política econômica oficial dos Estados Unidos pode ser caracterizada deste modo. Ela está à mercê de slogans moralistas que não têm ligação com o fator econômico (ou com a matemática financeira). Eis algo que está além do caos e dos números: o caos do coração humano.

Considere o discurso do presidente Obama acerca da crise financeira na última quarta-feira em que ele falou sobre conquistar um “crescimento econômico mais durável”. Segundo Obama, “os ganhos nos últimos dez anos continuaram a fluir para o 1% que está no topo”. É lamentável para a república, mas duas intenções foram confundidas no discurso: primeira, a intenção do crescimento econômico; e depois, a intenção de tornar a economia justa. De acordo com Sumner, a ciência econômica pode nos dizer como promover o crescimento na economia, mas não pode nos dizer como tornar a economia justa. Sumner diria que as duas intenções são conflitantes, pois por natureza não é garantido que uma economia crescente é uma economia justa. A natureza permite apenas que uma economia crescente peça menos regulamentação governamental que uma economia estagnante. (Há, além disso, o problema em estabelecer um padrão científico de justeza e a impossibilidade prática em aderir a ele.)

O caos que pode ser liberado a partir da mania de igualdade econômica não pode ser menos que o causado pelo bater de asas de uma borboleta no Brasil. “O anseio por igualdade”, escreveu Sumner em outro ensaio, “é uma característica dos costumes modernos. Na Idade Média a desigualdade era um postulado em todas as doutrinas sociais e instituições”. Conforme Sumner explicou logo depois, “A afirmação de que todos os homens são iguais é talvez o dogma mais falso [...] já colocado na linguagem humana; cinco minutos de observação dos fatos mostram que os homens são desiguais por conta de uma vasta gama de variações”.

Aqui temos um constructo matemático (igualdade) aplicado às unidades irregulares (homens). Pode se chamar isso um “pequeno equívoco” no começo da modernidade. Em nenhum estado existente foi possível tornar os homens iguais mesmo em princípio (i. e. perante a lei). Tão desiguais são as verdadeiras condições da vida e tão imunes a intromissões exógenas, que a igualdade deveria manter-se como uma ideia puramente matemática. Como tal, Sumner chama isso de “fantasma político”. Segundo Sumner, “não sabemos de nenhuma força dentre aquelas que podem agir em nome da satisfação dos desejos humanos que tenha o poder de satisfazer o anseio de igualdade [...] e não sabemos de nenhuma interferência ‘estatal’, isto é, por um comitê de homens, que possa modificar o modus operandi dessas forças a fim de produzir esse resultado”.

Ainda assim, as borboletas da igualdade bateram suas asas e mais do que um tornado foi provocado. A comédia resultante foi há muito tempo parodiada na Revolução dos bichos de George Orwell onde os animais da fazenda se levantaram a fim de estabelecer um regime igualitário. E o que eles descobriram? “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”. A situação produzida pela igualdade de todos os animais da parábola é, na verdade, uma espécie de insanidade (um erro multiplicado por mil). Na chefia da revolução constatamos um porco chamado Napoleão cujos tenentes foram rápidos em afirmar: “Ninguém mais que o camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz seria ele se pudesse vos deixar tomar decisões por vossa própria vontade; mas, às vezes, poderíeis tomar decisões erradas, camaradas; então, onde iríamos parar?”

O fantasma político da igualdade é possivelmente o principal fator que influi para o colapso da economia hodierna. É uma pequena ideia do submundo da sociedade pré-moderna que provocou um furacão político na França em 1789 e na Rússia em 1917. E continua a trazer uma tempestade após a outra. E não apenas tempestades políticas, mas ruína econômica e colapso. No coração propõe-se um grande projeto que fará irmãos todos os homens. Então os fatos mostram uma terrível série de eventos: governos de terror, empobrecimento universal, guerra e matança maciça. “Motivos e propósitos estão no coração e no cérebro do homem”, escreveu Sumner. “Consequências estão no mundo dos fatos”. O que quer que seja produzido pela orbita não-periódica de partículas ou pelo bater de asas da borboleta, não se compara com o que Sumner descreve como o caos da consciência humana, que está “infectada de ignorância humana, absurdidades, autoengano e paixão...”

Você deve se perguntar de onde vem essa infecção de ignorância. Foi o psicanalista Carl Jung quem alertou que a política moderna havia se tornado uma religião e que haveria terríveis consequências para todos. E se há uma religião que se coloca acima de todas as outras religiões políticas, essa religião é a igualdade. Jung questiona: há algum autoconhecimento em tal religião? Há algo de bom nela? Ou ela é uma cria do caos?

De acordo com Jung na obra Presente e Futuro, "a revolução comunista tirou a dignidade do homem numa escala bem superior do que a psicologia coletiva democrática o fez, pois retirou dele a liberdade tanto no sentido social como moral e espiritual" [§559]. Mas isso não é para deixar psicologia coletiva democrática fora do gancho. A ideologia igualitária infectou o Ocidente muito mais profundamente do que jamais infectou o Oriente. Durante a revolução contra-igualitária tentada na Europa durante as décadas de 1930 e 1940, Jung notou um perigoso sintoma psicológico no Ocidente: "(com o advento do nazismo) nas sombras pode-se apenas tatear. Hoje, esse dano já se localiza além dos limites políticos (i. e. Hitler), embora achemos que estamos do lado do bem e nos regozijemos da posse dos ideais corretos".

Na psicologia jungiana, a sombra refere-se aos aspectos de si próprio aos quais o ego consciente não pode ver. Assim, o que aconteceu de 1939 a 1945 não foi apenas a guerra mais destrutiva da história humana. Jung viu que o "oponente espiritual e moral [do homem ocidental], tão real quanto ele, é arrancado de seu próprio peito para habitar o outro lado geográfico da linha de separação que agora não é mais expressão de lima medida política e policial externa e sim algo bem mais ameaçador, a saber, a cisão entre o homem consciente e o inconsciente". Dizendo de modo simples, o que Jung quer transmitir nessa passagem é que o Ocidente estava começando a perder seu espírito coletivo; pois se o Leste comunista representou a liberdade diminuída, o Oeste representou a sanidade diminuída. Essa, talvez, é a mais chocante conclusão alcançada pelo grande psiquiatra.

Se quisermos testar a ideia de Jung, temos de estudar a economia americana a fim de procurar as chocantes evidências da insanidade coletiva em curso. A grandeza da dívida nacional, a dimensão das tributações e as obrigações fiscais locais, estaduais e federais nos dão um razoável panorama. Mas esses aspectos, com efeito, dificilmente arranham a superfície. Se examinarmos o comportamento do mercado de ações na última década, teremos de fato bases para proclamarmos uma condição psicótica generalizada em boa parte do sistema financeiro. Existem até analistas financeiros que fazem referência explícita à insanidade de Wall Street. Pegue como exemplo o livro de David J. Scranton intitulado Stop the Financial Insanity: How to Keep Wall Street’s Cancer From Spreading to YourPortfolio [NT: Detenha a insanidade financeira: como impedir que o câncer de Wall Street se dissemine no seu portfólio]; ou o artigo no Finance Blog de Anthony Robbins "Financial Insanity: How to find the Best Investment Opportunities in Turbulent Economic Times" [NT: Insanidade financeira: como encontrar as melhores oportunidades de investimento em épocas de turbulência econômica]; ou veja também a paródia da insanidade financeira hodierna no Zerohedge intitulada "A bit of Humor amid the Financial Insanity" [NT: Um pouco de humor em meio a insanidade financeira]. Neste último podemos ler uma definição de banco como "uma cavidade sem fundo no chão que engole dinheiro e incautos", enquanto uma bolha é definida como "Pré-requisito fundamental para que funcione a economia anglo-saxã".

Se a teoria do caos estiver certa e um bater de asas de uma borboleta no Brasil puder gerar um tornado no Texas, o que poderia produzir a insanidade coletiva de toda uma civilização? Carl Jung escreveu que o homem civilizado é estranho ao "ponto de vista dos seus instintos" e que a própria civilização é "a fonte de todos os distúrbios psíquicos e das dificuldades provocadas pela alienação crescente do homem de sua base instintiva...". A teoria do caos encolhe diante da realidade caótica da insanidade humana bruta. Se você quiser ver caos, olhe nos olhos de uma pessoa insana. Ou você pode ouvir os pronunciamentos sobre as finanças do presidente dos Estados Unidos.

Por:  JEFFREY NYQUIST Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior

BOTÃO DE DESCARGA


Poucos jornalistas brasileiros têm denunciado a fraude geral do governo petista com a constância, o brilho e a bravura de Diogo Mainardi, mas isso não quer dizer que ele compreenda claramente o que está acontecendo neste país, nem que se abstenha de sugerir remédios capazes de agravar consideravelmente a situação.

Numa recente mensagem postada no seu Facebook, ele exclama: “Falta uma mudança total, de tudo. Falta uma greve geral que tenha a força de liquidar essa quadrilha do PT, incrustada no poder. Falta o impeachment da Dilma... O impeachment, na minha visão, funciona como o botão que se aperta para dar descarga na privada.”

Isso não seria grave se Mainardi fosse o único a pensar dessa forma, mas sua visão do cenário político é a mesma de grande parte da sociedade brasileira.

O primeiro erro dessa perspectiva é ignorar que às vezes o centro vivo do poder, portanto a fonte geradora do mal, nem sempre reside no ocupante do mais alto posto da hierarquia constitucional; e, quando está em curso um processo revolucionário comunista sob camuflagem democrática, não reside quase nunca. É da natureza mesma do movimento comunista, sobretudo nas épocas de incerteza, não queimar jamais os seus quadros melhores expondo-os aos riscos de um cargo público demasiado visível.

O comando do processo está hoje nas mãos do Foro de São Paulo, e quando digo isso não me refiro nem mesmo às suas assembléias gerais, porém mais aos círculos de conversações discretas, ou até secretas, em que se fazem e desfazem governos e se decidem os destinos de nações inteiras sem que as respectivas populações tenham disso a menor notícia, ou, como confessou o sr. Lula, “sem que pareça”. O discurso que esse ex-presidente fez no XV aniversário do Foro, em 2005 – documento que ninguém na grande mídia publicou ou leu –, contém informações essenciais onde se pode obter uma idéia do poder avassalador da organização que por quase duas décadas se fingiu de inexistente ou inofensiva com a ajuda do silêncio obsequioso da classe jornalística em peso (Link A). Igualmente significativas, sob esse aspecto, foram as declarações do sr. José Dirceu em entrevista ao sr. Antonio Abujamra à qual ninguém prestou alguma atenção inteligente (Link B).

Há anos o Foro decidiu que o término do mandato de Lula assinalaria o fim da “etapa de transição” e o começo da conquista abrangente e definitiva do poder, ou, em outras palavras, o upgrade decisivo, a passagem do socialismo meia-bomba ao socialismo-bomba (Link C). A recente onda de protestos, planejada e incitada por agentes do Foro, inclusive com treinamento de guerrilheiros urbanos para dar à coisa um aspecto devidamente atemorizante (Link D) e justificar medidas mais drásticas contra o bode expiatório de sempre, a “direita fascista” (Link E), mostra claramente que o comando revolucionário não hesitou em espremer a sra. Dilma Rousseff contra a parede, para que se definisse, isto é, assumisse a liderança do processo ou fosse passada para trás pelas facções mais ousadas da esquerda nacional.

Os resultados do teste, porém, apareceram embaralhados pela intromissão de um fator inesperado: espontaneamente, numa desorganização majestosa, massas de liberais, conservadores e cidadãos sem cor política revoltados contra a esbórnia federal saíram também às ruas em quantidades oceânicas e, em certos pontos, acabaram ocupando o espaço e os megafones destinados inicialmente à agitação esquerdista.

Embora atônita e desorientada – prova inequívoca de não ter passado no exame --, a presidenta foi salva in extremis pela decisão do comando revolucionário, ele próprio a essa altura também atônito e desorientado, de dar marcha-a-ré na sucessão de badernas e fechar-se em copas para fins de autocrítica e remanejamento estratégico. Se não fosse por esses imprevistos, o fracasso da presidenta em dirigir os acontecimentos teria marcado o fim da sua carreira política e a ascensão de novas estrelas de esquerda, longamente preparadas para isso na escolinha maternal do próprio Foro de São Paulo (Link F).


Dito de outro modo: Se só Dilma Rousseff tivesse se mostrado perplexa e o próprio Foro não tivesse perdido o controle da situação, a cabeça da presidenta já teria rolado, e o sonho do sr. Diogo Mainardi teria se realizado, mas não em proveito do povo brasileiro e sim da parte mais furiosa da esquerda nacional, com a subseqüente instauração de um regime francamente revolucionário. E este, por força da centralização abrupta e descarada do poder, não hesitaria em apelar, sob o pretexto de saneamento e até sob os aplausos da massa ingênua, não só à violência repressiva tipicamente comunista como também a formas de corrupção de tipo soviético, ainda mais requintadas e perversas do que aquelas a que nos habituou a mixórdia petista. 

No rumo que as coisas tomaram, ficou tudo em suspenso até melhores análises estratégicas, mas, qualquer que seja o caso, o que está provado e bem provado é que livrar-nos de Dilma não é a mesma coisa que livrar-nos do mal. Se o fosse, o próprio Foro não teria chegado tão perto de apertar o botão de descarga.

Mais sobre isso no próximo artigo.
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Links:







Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

"ANOS DE CHUMBO": A DITADURA DA MENTIRA


"A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida."

Paulo Freire, em "Pedagogia do Oprimido", defendendo os fuzilamentos sumários comandados por Che Guevara e Fidel Castro


Para o sociólogo e jornalista José Maria, a universidade brasileira, na ânsia de criar um novo mundo, especializou-se em destruir o existente.

Com quantas vidas se faz uma ditadura? Na belíssima novela de John Boyne, O Menino do Pijama Listrado, essa pergunta é respondida pelo espanto de Bruno, um menino de nove anos. Sempre que ele se surpreende com o mundo do Fúria à sua volta, seus olhos se arregalam, sua boca faz o formato de um O e seus braços caem ao longo do corpo.

A obra, uma elegia à inocência da vida que não sabe da morte, deveria ser lida — e meditada — pelos 3.949 intelectuais que, até agora, assinaram um manifesto contra a Folha de S. Paulo, repudiando o editorial "Limites a Chávez", publicado em 17 de fevereiro último, no qual a ditadura militar brasileira é indiretamente chamada de "ditabranda". O Menino do Pijama Listrado (o livro, não vi o filme) demonstra, metaforicamente, a abissal diferença entre um regime autoritário (circunscrito à esfera política) e um regime totalitário (que permeia todas as instâncias sociais).

As primeiras reações ao editorial da Folha partiram da socióloga Maria Victória Benevides, professora da Faculdade de Educação da USP, e do advogado Fábio Konder Comparato, professor aposentado pela mesma instituição. Esquecendo-se que a universidade que representam arrasta até hoje um cadáver insepulto (o do estudante de medicina morto num trote em 1999), Benevides e Comparato encenaram uma indignação que jamais sentiram diante das quase 100 mil mortes perpetradas pela Trindade Cubana (Fidel, Guevara e Raúl Castro) — 17 mil na boca dos fuzis, em execuções sumárias, e 80 mil nos dentes dos tubarões, em fuga para os Estados Unidos. Como a Folha de S. Paulo chamou a atenção para essa dúbia moral de Benevides e Comparato, lembrando que eles jamais protestaram contra a ditadura cubana, os dois intocáveis uspianos se sentiram feridos e, em resposta, fizeram o que os intelectuais de esquerda mais sabem fazer quando são pegos sem argumentos — conclamaram o rebanho para um manifesto.

O inefável Antonio Candido, decano dos intelectuais de esquerda, encabeça o repúdio à Folha, que também conta com figuras como o indefectível Emir Sader, intelectual que, diante de Che Guevara, cai de joelhos por terra, parafraseando a missa: "Guevara, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo". Quem duvida que Emir Sader é capaz dessa oração diante do guerrilheiro argentino, leia o que ele escreveu num artigo publicado em Carta Maior: "Não vou gastar palavras inúteis para falar do Che. Basta reproduzir algumas das suas frases, que selecionei para o livro Sem Perder a Ternura". Também diante de Marx e Fidel, Sader emudece: "O que falar de Marx que permaneça à sua altura? O que escrever sobre Fidel?"

Se o ensino superior no Brasil, público e privado, não fosse mero aparelho ideológico da esquerda, Emir Sader jamais teria virado doutor em ciência política pela USP e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de orientador de teses e dissertações. Sem dúvida, estaria até hoje tentando passar no vestibular e sendo reprovado sempre, por não ter argumentos para retratar personagens da história. Que universidade isenta aceitaria um aluno que, ao ouvir falar de Marx, Guevara e Fidel, não fosse capaz de articular uma só palavra e se comportasse feito os silvícolas do Anhangüera, embriagado pelo álcool incandescente da revolução? Já imaginaram se um intelectual de "direita" dissesse não ter palavras diante de Karl Popper? Seria acusado de ignorante e charlatão. Emir Sader é um paradigma da universidade brasileira. Ele é a prova cabal de que, por trás da cantilena de "produção do conhecimento", o que há nos mestrados e doutorados do país é uma usina de produção de marxismo e derivados.

Estou plenamente convicto de que a universidade brasileira não é solução para nada — ela é parte essencial do problema. As principais mazelas do Brasil são fomentadas artificialmente pela universidade, que, desde a década de 50, na ânsia de criar um novo mundo, especializou-se em destruir o existente. Isso fica muito claro quando se estuda a origem social dos guerrilheiros que pegaram em armas contra o regime militar. Eles vieram, em sua maioria, das universidades. Não tinham o menor apoio popular. Como é que o povo podia apoiar um bando de tresloucados que, de arma em punho, pregavam a derrubada de uma ditadura imaginária? Porque até o final de 1968, com a edição do AI-5, só havia ditadura na imaginação dos universitários.

Foi exatamente durante os propalados "Anos de Chumbo" que o Brasil viveu uma das maiores efervescências culturais de sua história, com os festivais, a imprensa alternativa, a Tropicália, o Cinema Novo, Chico e Vandré, Caetano e Gil. Ao contrário de Cuba, onde Chico Buarque seria fuzilado ou condenado a 20 anos de prisão se falasse mal de Fidel Castro, no Brasil, o máximo que lhe aconteceu foi ser admoestado pelos militares, o que lhe garante até hoje uma conta bancária maior do que seu indiscutível talento. Num ambiente assim, existe alguma razão plausível para se pegar em arma ou até para se perpetrarem atentados terroristas, como fizeram muitos grupos guerrilheiros? Obviamente, não. Em toda guerra, os primeiros sacrificados são os inocentes, portanto, a opção pela luta armada para derrubar um regime só se justifica quando esse regime é sanguinário e opressivo, incidindo sobre toda a vida social e não apenas sobre a esfera política. Era o que acontecia na terra do Menino do Pijama Listrado, daí o Levante do Beco de Varsóvia, em 1943, quando judeus desesperados — não tendo senão uma morte horrenda como alternativa — preferiram abreviar a vida numa luta suicida contra as tropas nazistas.

Mas esse não era o caso do Brasil dos militares. Aqui, os guerrilheiros eram homens e mulheres bem nascidos que, por puro espírito de aventura, jogavam fora o futuro como médicos, engenheiros e advogados e se arvoravam a libertadores da pátria, sem notar que a maioria esmagadora da população — provavelmente mais de 90 por cento — não se sentia oprimida nem pedia para ser libertada. Pelo contrário, o regime instalado em 1964 teve forte apoio popular e quando começou a ser repudiado nas urnas, em 1974, com a expressiva vitória do velho MDB, esse repúdio era mais de caráter econômico que político. A inflação estava recomeçando e os pobres votaram contra a "carestia", que é como chamavam a inflação na época.

Já escrevi repetidas vezes, mas a ocasião me obriga a escrever de novo: quem acha que no Brasil houve uma ditadura sanguinária, totalitária, nos moldes nazistas (é essa a visão que se tem dos militares nas escolas) deve ler Pedagogia do Oprimido, o panfleto de auto-ajuda marxista do pedagogo Paulo Freire. Esse livro — que faz uma defesa explícita da luta armada e santifica Che Guevara, Fidel Castro e Mao Tsé-Tung — foi publicado em pleno ano de 1970, no Rio de Janeiro, pela Editora Paz e Terra, ligada aos padres da Teologia da Libertação. Em 1981, Pedagogia do Oprimido já estava na 10ª edição. Um verdadeiro best-seller, levando em conta que não é um livro comercial e o Brasil tinha muito menos estudantes universitários do que tem hoje. Ora, se o regime militar foi o período "mais sombrio da nossa história", como dizem os intelectuais de esquerda, como se explica o sucesso editorial de uma obra que o combatia? Em Havana seria possível publicar um livro do gênero contra Fidel Castro, o santo fardado de Buarques e Sáderes?

Mas nem é preciso recorrer à ditadura cubana para demonstrar que os intelectuais brasileiros mentem descaradamente quando dizem que o regime militar de 64 foi uma ditadura sanguinária. A própria história recente do Brasil — contada mentirosamente por eles — mostra a contradição em que incorrem. É só comparar a "Revolução de 30" com a "Ditadura Militar" (ponho as expressões entre aspas para remeter ao modo como os dois períodos costumam ser chamados nos livros de história). Qual a diferença entre os dois períodos? A rigor, nenhuma. Salvo o fato de que Getúlio Vargas era um ditador civil, obviamente apoiado por militares, porque toda ditadura precisa de armas.

Se a sanguinária ditadura Vargas merece, nos livros de história, o epíteto de 'Revolução de 30' (justificadamente, por sinal), por que os governos militares não podem ser chamados de 'Revolução de 64', uma vez que também mudaram a face do Brasil?

Sob o ponto de vista da repressão, Vargas foi muito pior do que os militares. O seu período, sim, foi literalmente "anos de chumbo". Enquanto os militares procuraram preservar as instituições, garantindo eleições legislativas e a independência do Judiciário, Vargas centralizou todos os poderes em suas mãos, destituindo governadores e nomeando interventores em seu lugar. São Paulo se rebelou, na chamada Revolução Constitucionalista de 32, e Vargas bombardeou o Estado — o episódio mais sangrento da história brasileira no século passado, apesar de ofuscado pela preferência dos intelectuais pela Guerrilha do Araguaia. Todavia, mesmo quem não pegava em armas, não ficava ileso. O escritor Graciliano Ramos, individualista nato, incapaz de arregimentar qualquer movimento político, acabou sendo preso durante quase um ano, num presídio comum, sem julgamento. Seu único crime: escrever o romance São Bernardo, entre outros escritos tidos como comunistas. Bem que merecia, mas não teve indenização alguma pelo arbítrio de que foi vítima. Ao contrário dos fanfarrões que pegaram em armas contra os militares, o Velho Graça tinha vergonha na cara.

Vargas já era ditador desde o início de seu governo, antes mesmo da implantação do Estado Novo, em 1937, quando a tresloucada Intentona Comunista de 35 levou ao recrudescimento do regime. Já os militares só foram verdadeiramente ditadores a partir de 12 de dezembro de 1968, quando editaram o AI-5, obrigados pelos atos de terror da esquerda armada, treinada e financiada por Fidel Castro e abençoada por intelectuais como Paulo Freire. Mesmo assim, foi uma ditadura cirúrgica, circunscrita aos inimigos declarados do regime. Tanto que não chegou a matar nem 500 pessoas, como reconhecem os próprios autores de esquerda nos balanços que fizeram do período. As vítimas inocentes, em sua maioria, tombaram por terem sido usadas como escudo pelos adversários do regime.

Um dos argumentos de Maria Victoria Benevides para criticar o editorial da Folha é que não se mede ditadura com estatísticas: "Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar 'importâncias' e estatísticas". Em artigo publicado, na terça-feira, 24, o jornalista Fernando de Barros e Silva, editor de Brasil da Folha, corrobora a tese da socióloga: "Algumas matam mais, outras menos, mas toda ditadura é igualmente repugnante. Devemos agora contar cadáveres para medir níveis de afabilidade ou criar algum ranking entre regimes bárbaros?" Claro que devemos — respondo eu. Todo crime só se iguala em repugnância para aquele que é sua vítima, mas para quem o analisa de fora, especialmente se esse alguém for um historiador, há uma enorme diferença entre matar 100 pessoas ou matar 100 mil. Se Hitler tivesse matado apenas uma centena de judeus, o nazismo seria a encarnação do mal no imaginário do mundo contemporâneo?

Só não vê que ditadura também se mede com estatísticas aqueles que têm medo dos números. Ao ver que nenhuma ditadura capitalista até hoje conseguiu igualar os mais de 100 milhões de mortos do comunismo no mundo, a esquerda inventou esse argumento falacioso de que uma só morte perpetrada por uma ditadura diminui toda a humanidade, como se o homem-massa da revolução marxista tivesse lugar na poesia metafísica de John Donne. Justamente a esquerda, que não faz conta do individuo de carne e osso, só da massa de manobra da revolução. O regime militar não apenas matou muito menos gente do que outros regimes autoritários — também foi capaz de criar um modelo de ditadura que deveria ser exportado. Toda ditadura costuma ser encarnada por um homem só, que se torna escravo do poder que concentra, perdendo inclusive os freios morais. Daí a profusão de ditadores sádicos, pessoalmente sedentos de sangue humano.

No Brasil isso não ocorreu. Os militares criaram uma espécie de ditadura institucional, em que o poder não era encarnado por nenhum homem, mas pela instituição — as Forças Armadas. Nem o principio federativo foi quebrado num primeiro momento, como ocorreu de imediato com a ditadura de Getúlio Vargas. Antes do recrudescimento da luta armada, ainda houve eleição para governadores e, mesmo depois que elas foram suspensas, o legislativo continuou funcionando. Essa quase normalidade institucional propiciou até o surgimento e fortalecimento de uma oposição que jamais houvera em toda a história do Brasil — a oposição institucional, criada e mantida pelas próprias entranhas do Estado.

Boa parte do chamado movimento social — que hoje alimenta o PT e demais partidos de esquerda — começou a ser construído graças a esse processo de institucionalização do país gestado pelos militares. Começando pelas próprias universidades federais — cobras a quem os militares deram asas. A Reforma Universitária feita pelos militares em 1968 profissionalizou o ensino superior no país, instituindo antigas reivindicações da própria comunidade acadêmica, como dedicação exclusiva de docentes, introdução de vestibular unificado e implantação de mestrados e doutorados. Valendo-se dessa estrutura, os intelectuais de esquerda se infiltraram nas universidades e, a partir delas, forjaram em todo o país um movimento social de proveta, destinado não a resolver problemas, mas a fomentá-los.

Um exemplo são os quase 50 mil homicídios que ocorrem anualmente no país. Eles decorrem, em grande parte, da irresponsabilidade doentia dos intelectuais brasileiros, que, à força de pressionar o Congresso Nacional, levaram à completa lassidão das leis penais, hoje irreversível, já que a mentalidade pueril da esquerda parece ter contaminado até os ministros do Supremo. Não é a toa que o ministro Gilmar Mendes deixa entrever que, a qualquer momento, pode soltar nas ruas 189 mil dos cerca de 440 mil presos do país, muitos deles homicidas e estupradores. Aí, sim, teremos um verdadeiro genocídio da população indefesa, em parte porque a esquerda, com o objetivo de demonizar os militares, transformou o falacioso conceito de direitos humanos num dogma divino. Como se vê, a criminalização paranóica dos militares só atende a um objetivo — esconder que os intelectuais de esquerda forjaram um país muito pior que o deles.

* Artigo publicado no Jornal Opção, de Goiânia, em 1º de março de 2009.

Por: José Maria e Silva. Jornalista e sociólogo, com graduação em Jornalismo (1995) e mestrado em Sociologia (2003) pela Universidade Federal de Goiás. Foi redator-chefe do Jornal Opção, de Goiânia.