quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A ABJETA PERSEGUIÇÃO ESQUERDISTA

A despeito dos esquerdistas clamarem pelo monopólio da justiça e da generosidade, a reação deles ao meu experimento que parte de um raciocínio muito básico revela que eles tão somente querem dar ao próximo aquilo que eles puderem roubar dos outros.


Tenha em mente que os comentários provêm de pessoas que poderiam ser seus vizinhos.

Enquanto a maioria dos americanos passava os últimos dias celebrando pacificamente o feriado santo junto com suas famílias, centenas – se não – milhares de pessoas que eu nunca havia visto na vida ameaçaram-me de agressões físicas, atacaram os membros da minha família, enviaram ameaças de morte, descreveram as várias doenças com que eles têm esperança que me aflijam, e me atacaram por conta da minha religião judaica.

“Eu realmente desprezo você, e estou enojado por você respirar o mesmo ar que eu respiro”, veio no Facebook de uma tal de Karen Jordan.

Depois de expressar seus votos desejando ver minha esposa e eu assassinados, Clayton Fletcher disse, “a humanidade seria muito melhor sem estes dois gigantescos desperdícios de carne e ossos humanos respirando o ar da terra.”

“Você é uma pessoa diabólica e você faz parte daquilo que está errado neste país”, escreveu-me Jeff Kernen de Eugene, no Oregon.

De Portland, no Oregon, Lydia Andy Bendorf escreveu: “Espero que você pegue câncer, Aids, 'gang grena', a praga, e sofra de uma lenta, miserável e solitária morte (sic).”

Allen Bates opinou: “Espero que você desenvolva uma psoríase no seu (palavrão).”

O blogueiro da Truth Milita escreveu: “(palavrão) seu velho (palavrão), cale a boca e morra como um bom e gentil escravo! Esses judeus me deixam tão (palavrão) doente.”

Pois bem, como foi que desencadeei esta onda de ódio tão desvairada?

Simplesmente publiquei um vídeo, no qual, em tom cômico desmascarei uma bandeira política muito popular da esquerda – a exigência que companhias lucrativas como o Walmart paguem salários mais altos.

Disfarçado como um representante de um grupo nacional de defesa dos trabalhadores, perguntei aos clientes do Walmart se eles aceitariam pagar um aumento de 15% caso esta sobretaxa fosse transferida diretamente para o pagamento de um salário de US$ 15 /hora para todos os empregados do Walmart. Embora o meu apelo por salários maiores tenha recebido apoio amplo, sem nenhuma surpresa, quase ninguém estava disposto a pagar pelo aumento ali mesmo. (N.T.: este vídeo está disponível aqui - http://www.youtube.com/watch?v=LLr5oWfoWRY)

Embora este seja precisamente o requisito indispensável para que um empregado possa ganhar mais.

Apesar do seu tamanho e da sua onipresença no território americano, a margem bruta do Walmart é sabidamente pequena (em torno de 3%). Esta cifra corresponde a um retorno sobre o investimento do acionista num período de 13 anos (fatorando o aumento do preço da ação e os dividendos ao longo daquele período de tempo). Este lucro modesto dificilmente poderia ser qualificado como um lucro fenomenal. Mesmo assim, ao ver uma família de bilionários o sangue da esquerda ferve. A verdade é que o Walmart cresceu ao ponto de se tornar a maior empresa do ramo varejeiro no mundo, não por que seus donos lucram muito, mas porque seus clientes pagam muito pouco. Parte dessa fórmula requer a manutenção dos custos num patamar baixo. Fora o preço dos produtos, o custo da folha salarial é a maior despesa da empresa.

Contudo, isso não significa que o Walmart pague salários de escravos. O fato é que o Walmart recebe 50 candidatos por cada oferta de emprego. Na média, o salário pago pelo Walmart aos seus trabalhadores é de US$ 10.10 /hora. Um aumento para US$ 15 /hora iria provocar um aumento de 50% na folha de pagamento anual que orça em US$ 26 bilhões, ou seja, US$ 13 bilhões de acréscimo em um ano. Isto é aproximadamente 80% de todo o lucro operacional da companhia, que é US$ 16 bilhões. Financiar tais aumentos sacando dos lucros seria devastador para as finanças da companhia e colocaria ela numa situação de desvantagem competitiva.

Meu experimento mostrou a auto-aniquilação que o Walmart sofreria se a exigência dos seus trabalhadores fosse colocada à frente da necessidade dos seus clientes e dos seus acionistas. A despeito dos esquerdistas clamarem pelo monopólio da justiça e da generosidade, a reação deles ao meu experimento que parte de um raciocínio muito básico revela que eles tão somente querem dar ao próximo aquilo que eles puderem roubar dos outros.

Forçados a questionar os fundamentos sobre os quais a sua própria visão de mundo está construída, esses ideólogos, ao contrário, partiram para o ataque, declarando abertamente o seu desejo de eliminar as pessoas e as ideias contrárias às presunções que eles abraçam com tanta força.

Com efeito, eles manifestaram cada uma daquelas características más que os esquerdistas atribuem aos conservadores do Tea Party. Eles afirmam não terem gostado do meu vídeo, mesmo assim não acham nem um pouco repugnante a sua própria conduta. (Verifique o que as pessoas estão escrevendo em meu mural no Facebook caso não esteja acreditando https://www.facebook.com/PeterSchiff; faz muito tempo que me envolvo em polêmicas, mesmo assim nunca havia me deparado com nada similar.)

Tenha em mente que os comentários provêm de pessoas que poderiam ser seus vizinhos. Eles são professores “educando nossas crianças” e cidadãos que votam nas eleições. Isto faz nascer a conjectura se a batalha pela mentalidade de nossa nação já não foi perdida, e se o seu destino já não está selado de vez.

No que toca ao aspecto econômico, existem muitas razões pelas quais é uma má ideia forçar companhias como o Walmart a pagar salários acima do mercado para trabalhos sem qualificação e que servem de porta de entrada no mundo de trabalho. Uma delas é que uma alteração como a proposta tornaria ainda mais difícil aos trabalhadores sem experiência conseguir o seu primeiro emprego através do qual poderão adquirir a experiência e as habilidades necessárias para ganhar maiores salários no futuro. Além disso, destruiria o conceito de propriedade privada e de mercado livre. Contudo, só posso desejar boa sorte na tentativa de mostrar essas nuances mais delicadas a pessoas que preferem ater-se à ideologia preponderando sobre tudo o mais.

Do site de Peter Schiff - http://www.schiffradio.com
Tradução: Francis Lauer Do site: www.midiasemmascara.com.br 


O LIXO DE COPACABANA





















                                                                                                       Fonte: GLOBO

Copacabana amanheceu repleta de lixo. A imagem é deprimente, mas sejamos honestos: retrata bem os costumes do povo brasileiro.

Falta educação básica, aquela que vem de família. Falta senso de cidadania, de respeito ao que é público. Falta até higiene, apreço à limpeza. Falta punição para os porcos (lixo zero?). Sobra porcaria.

A pergunta que eu gostaria de fazer para abrir o ano de 2014 é a seguinte: por acaso as praias da Austrália ficam assim, nesse mesmo estado lastimável, com tantas garrafas de vidro e plástico jogadas na areia? Por acaso as praias da Flórida ficam parecendo um verdadeiro lixão?

Pois é. São nas pequenas atitudes que mostramos nossos valores e princípios, nossa educação. Copacabana era só alegria e beleza na noite de ontem. Mas quando o dia raiou, a realidade veio à tona, exposta pela luz solar: uma nojeira total, uma imundice asquerosa. Será que algum dia mudaremos? Dá para ter esperança com o povo brasileiro?

PS: Aproveito, também, para perguntar onde estão os ambientalistas nessas horas. Querem só “salvar o planeta” do derretimento iminente (mentira), mas quando há poluição concreta bem diante de nossos olhos, desaparecem? Por: Rodrigo Constantino
Do site: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/

O ESTADO E AS DESIGUALDADES


O estado gera as desigualdades sociais que ele próprio alega ser o único capaz de resolver

O atual sistema monetário é baseado em um monopólio estatal de uma moeda puramente fiduciária. O dinheiro é criado monopolisticamente pelo Banco Central e é em seguida entregue ao sistema bancário. O sistema bancário, por sua vez, por meio da prática das reservas fracionárias, se encarrega de multiplicar este dinheiro (eletronicamente) por meio da expansão do crédito. Falando mais diretamente, o dinheiro criado pelo Banco Central é multiplicado pelo sistema bancário e entra na economia por meio do endividamento de pessoas e empresas.

Ao analisarmos os negativos efeitos sociais e políticos deste arranjo, a seguinte pergunta tem de ser feita: onde estão as manifestações dos defensores e apologistas da justiça social contra este arranjo fiduciário que destrói o poder de compra dos poupadores e aumenta as desigualdades? Por que não ouvimos clamores de políticos e sociólogos — que juram ter em mente o bem-estar geral da população — contra o crédito fácil?

Presumivelmente, a resposta é que todos eles possuem apenas um conhecimento rudimentar sobre a função do dinheiro em uma economia baseada na divisão do trabalho; e, por esse motivo, as consequências de um sistema monetário baseado em uma moeda fiduciária são por eles amplamente desconsideradas.

O atual sistema monetário, formado por um sistema bancário que pratica reservas fracionárias e por bancos centrais que protegem e dão sustentação a este sistema, está em franco contraste a um regime monetário de uma economia genuinamente de mercado, na qual os participantes do mercado poderiam decidir por conta própria, sem a pressão e a coerção do estado, qual dinheiro eles gostariam de utilizar, e na qual não seria possível a ninguém criar dinheiro a seu bel-prazer.

Essa expansão da oferta monetária feita pelos bancos centrais e pelo sistema bancário de reservas fracionárias é o que realmente gera a inflação de preços e, por conseguinte, um declínio na renda das pessoas em termos reais. Em seu livro The Theory of Money and Credit, Ludwig von Mises escreveu:

A mais importante causa de uma diminuição no valor do dinheiro é um aumento na quantidade deste dinheiro sem um simultâneo e igual aumento na demanda por ele. ... Esta menor valoração subjetiva do dinheiro é então transmitida de pessoa a pessoa, pois aqueles que passam a ganhar uma quantidade adicional de dinheiro se tornam propensos a consentir em pagar preços mais altos do que antes.

Quando os preços aumentam em decorrência de uma expansão da oferta monetária, os preços dos vários bens e serviços não aumentam com a mesma intensidade, e também não aumentam ao mesmo tempo. Mises explica os efeitos:

A quantia adicional de dinheiro que entra na economia não vai parar diretamente nos bolsos de todos os indivíduos; e dentre os beneficiados que recebem primeiramente essa nova quantia, nem todos recebem a mesma quantia e nem todos reagem da mesma forma à mesma quantia que recebem. Aqueles primeiros beneficiados têm agora um efetivo em caixa maior do que antes, o que os permite ofertar mais dinheiro no mercado em troca dos bens e serviços que desejam adquirir.

Essa quantia adicional de dinheiro que eles ofertam no mercado pressiona os preços e salários para cima. Mas não são todos os preços e salários que sobem; apenas os desses setores que primeiro receberam o novo dinheiro em troca de seus bens e serviços. E mesmo esses preços e salários que subiram, não sobem no mesmo grau. Por exemplo, se o dinheiro adicional for gasto com obras públicas, apenas os preços de algumas mercadorias e apenas os salários de alguns tipos de trabalho irão subir, sendo que os de outras áreas irão permanecer inalterados ou podem até mesmo cair temporariamente.[...] 

Assim, as mudanças nos preços em consequência da inflação começam apenas com algumas mercadorias e serviços, e depois vão se difundindo mais vagarosamente de um grupo para outro. Leva-se tempo até que essa quantia adicional de dinheiro tenha perpassado toda a economia e exaurido todas as possibilidades de mudanças de preço. Mas, mesmo ao final do processo, os vários bens e serviços da economia não foram afetados no mesmo grau. Esse processo de progressiva depreciação monetária alterou a renda e a riqueza dos diferentes grupos sociais.[...] 

Aqueles que estão vendendo mercadorias ou serviços cujos preços são os primeiros a subir poderão, em decorrência desse fenômeno, utilizar seus maiores proventos para adquirir o que quiserem a preços que ainda não se alteraram. Esses são os indivíduos que tiveram um ganho de riqueza. Por outro lado, aqueles que são os últimos a receber esse novo dinheiro estarão vendendo mercadorias ou serviços a preços ainda inalterados. Esses indivíduos ainda não obtiveram nenhum ganho de renda. Contudo, esses mesmos indivíduos agora têm de comprar as outras mercadorias e serviços a preços mais altos. Esses são os indivíduos que perderam riqueza.

Ou seja: os primeiros a receber o novo dinheiro obtiveram ganhos específicos; eles são os exploradores. Os últimos a receber o novo dinheiro são os perdedores, os explorados, de cujos bolsos saem os ganhos extras obtidos pelos exploradores. Enquanto durar o processo de inflação, estará havendo uma alteração contínua na renda e na riqueza dos indivíduos. Um grupo social ganha à custa de outros. Quando todas as alterações de preços em decorrência da inflação estiverem consumadas, pode-se dizer que ocorreu uma transferência de riqueza entre os grupos sociais. Há agora no sistema econômico uma nova dispersão de riqueza e renda.

Com efeito, caso do preço da mão-de-obra de um trabalhador (isto é, seu salário) aumente a uma taxa menor do que o aumento do preço dos alimentos ou do aluguel, é possível ver como essa alteração na relação entre renda e preços dos bens e serviços pode empobrecer vários trabalhadores e consumidores.

Uma inflação da oferta monetária pode gerar empobrecimento e desigualdade de renda de variadas maneiras:

1. O Efeito Cantillon

A distribuição desigual desta inflação de preços é conhecida como 'Efeito Cantillon'. Aqueles que recebem o dinheiro recém-criado antes de todo o resto da sociedade (primordialmente o governo federal, mas também algumas grandes empresas e grandes magnatas que querem especular no mercado de ações) são os beneficiários de uma política de crédito fácil. Eles podem fazer compras com este novo dinheiro a preços que ainda não se alteraram. Já aqueles que obtêm este dinheiro por último, ou que nem sequer o recebem, são os prejudicados (assalariados, aposentados e pensionistas). Eles terão de se virar comprando bens e serviços a preços que, durante este ínterim, subiram, sem que suas rendas também tenham subido.

2. Inflação de preços de ativos

Grandes investidores e especuladores podem diversificar seus investimentos e seus ativos; consequentemente, eles estão em posição de investir em ativos tangíveis como ações, imóveis e metais preciosos. Quando os preços desses ativos aumentam em decorrência da expansão da oferta monetária, os detentores destes ativos se beneficiam, uma vez que seus ativos ganham valor. Logo, os detentores destes ativos se tornam mais ricos ao passo que as pessoas que detêm poucos ativos ou nenhum ativo irão, respectivamente, ganhar menos ou absolutamente nada com estes aumentos de preços. 

3. O mercado de crédito amplifica os efeitos

Os efeitos de uma inflação dos preços dos ativos podem ser amplificados pelo mercado de crédito. Aqueles que possuem uma renda alta podem conseguir empréstimos volumosos dos bancos para adquirir, por exemplo, imóveis. Já aqueles que possuem uma renda pequena tendem a ser rejeitados pelos bancos, por medo de calotes. Se os preços dos imóveis aumentarem por causa da expansão da oferta monetária, eles irão lucrar com estes aumentos de preços, e a disparidade de renda entre ricos e pobres aumentará ainda mais.

4. Ciclos econômicos e desemprego

A causa direta do desemprego é a inflexibilidade do mercado de trabalho gerada pela interferência estatal, como leis trabalhistas rígidas, altos encargos sociais e trabalhistas, e sindicatos poderosos. Já uma causa indireta do desemprego é a expansão do crédito, que gera crescimentos econômicos ilusórios e investimentos insensatos. Especialmente em economias com mercados de trabalho inflexíveis, como as europeias, quando estes investimentos errôneos se tornam evidentes e a economia entra em recessão, as consequências finais são um grande aumento no desemprego e a perpetuação deste alto desemprego, algo que é sentido mais severamente por pessoas de baixa renda.

O estado continua a se expandir

Tão logo as desigualdades de renda e de distribuição de ativos começam a aumentar, os defensores e apologistas da justiça social se tornam ainda mais histéricos em seus protestos, sem saber (ou sem dizer) que é o próprio estado — com seu sistema monetário monopolista — o responsável pelas condições descritas.

Trata-se de um "modelo organizacional" pérfido, no qual o estado cria a desigualdade social por meio de seu sistema monetário monopolista, divide a sociedade em pobres e ricos, e torna as pessoas dependentes do assistencialismo. Para "remediar" este arranjo, ele intervém criando regulamentações e políticas redistributivas, tudo para justificar a sua existência. O economista alemão Roland Baader observou que:

A casta política tem constantemente de provar a necessidade de sua existência, e ela faz isso implementando seguidamente novas políticas. No entanto, dado que tudo o que ela faz apenas piora as coisas, a única solução é estar continuamente inventando novas reformas — ou seja, ela tem de estar sempre fazendo algo, pois já fez alguma coisa antes. Ela não teria de fazer nada caso não houvesse feito nada anteriormente. Se apenas soubéssemos o que poderíamos fazer para impedir que ela saia fazendo coisas...

O estado até mesmo explora as incertezas da população quanto aos reais motivos da crescente desigualdade de renda e de distribuição de riqueza. Por exemplo, o Quarto Relatório sobre Pobreza e Riqueza do governo alemão afirma que, desde 2002, a nítida maioria do povo alemão defende a implantação de medidas para reduzir as diferenças de renda.

Conclusão

O sistema monetário dominante está no cerne da crescente desigualdade de renda que observamos na maioria dos países atuais. Não obstante, o estado continua aumentando seu poder com a desculpa de estar justamente domando o sistema de mercado que supostamente gerou esta desigualdade e este empobrecimento relativo criados pelo estado e seus aliados.

Se aqueles que alegam estar falando em nome da justiça social nada fizerem para protestar contra isso, seu silêncio pode ser interpretado de apenas duas maneiras: ou eles não entendem absolutamente nada sobre como funciona o atual sistema monetário, o que significa que eles nunca se interessaram em pesquisar e estudar sobre o assunto; ou eles de fato leram, estudaram e entenderam perfeitamente bem, o que significa que eles estão ignorando de maneira cínica uma grande fonte de desigualdade e pobreza simplesmente porque provavelmente estão se beneficiando deste sistema.

Por: Andreas Marquart é o diretor-executivo do Instituto Ludwig von Mises da Alemanha. Ele é consultor financeiro independente há mais de 15 anos e defensor da Escola Austríaca de economia.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O MEU 2013

Animais - Depois de invadirem um laboratório em São Paulo, fanáticos da causa animal invadiram o meu e-mail com os insultos de praxe. Infelizmente, discutir os "direitos dos animais" implica saber primeiro se, em nome desses duvidosos "direitos", é legítimo parar a ciência e os inúmeros tratamentos médicos que dependem da experimentação com bichos. Não creio. Quem pensa o contrário deveria, por motivos de coerência, recusar toda a tecnologia (e toda a farmacologia) que passou por ratos, símios ou cachorros. 


Camus, Albert - O centenário de Camus não teve o mesmo brilho que o de Sartre em 2005. Injusto. Camus é superior a Sartre, mesmo que a sua proposta "existencialista" seja difícil de engolir: aceitar o Absurdo como um Sísifo feliz pressupõe um nível de autossuficiência raríssimo em matéria humana tão frágil. 

Francisco - Com a renúncia de Bento 16 —coisa invulgar em mais de 600 anos de história— o Espírito Santo foi buscar um papa no "fim do mundo". Rezam as crônicas que, depois de eleito, Francisco terá informado os colaboradores que "o Carnaval acabou". Que o mesmo é dizer: é hora de recentrar a mensagem evangélica na missão primordial de acorrer aos desvalidos, sem perder energias com "batalhas culturais" redundantes. Amém! 

Livros - Alice Munro ganhou, e bem, o Nobel da Literatura. David Shields publicou a melhor autobiografia que li em 2013 ("How Literature Saved My Life"). O melhor livro brasileiro é produto desta Folha: "A Cozinha Venenosa", de Silvia Bittencourt, uma narrativa histórica sobre um pequeno jornal da Baviera que denunciou, desde a primeira hora, a ascensão de Hitler — primeiro, como um vulgar agitador nas cervejarias de Munique; finalmente, como líder nazista na Alemanha. Sei que esta coluna é lida por editores portugueses. Para eles, uma palavra: acordem! 

Mandela, Nelson - A morte de Mandela mostrou o jornalismo moderno em toda a sua gloriosa preguiça: em tom caricatural, Mandela foi elevado a santo e a luta contra o "apartheid", transformada em obra de um homem só. Errado. Mandela foi sobretudo um político de gênio que entendeu as vantagens (midiáticas, internacionais) da "resistência passiva", ao mesmo tempo que dialogava com o regime. A queda da União Soviética e a sensatez de Frederik de Klerk (o último presidente branco da África do Sul, devidamente ignorado nas hagiografias que se escreveram sobre Mandela) fizeram o resto para derrubar a derradeira mancha moral do século 20. 

O'Toole, Peter - O ano foi triste para os monstros das telas. James Gandolfini, que fez com Tony Soprano o mesmo que Jeremy Brett com Sherlock Holmes (uma fusão perfeita e lendária na TV) deixou-nos em junho. Peter O'Toole, fiel ao espírito boêmio, esperou pelas festividades natalinas. Indicado oito vezes ao Oscar, perdeu as oito quando provavelmente merecia ganhar nas oito. Depois disso, só leva a sério os prêmios de Hollywood quem tem falta de massa cinzenta. 

Ricardo 3º - Em parque de estacionamento na Inglaterra, foram encontradas as ossadas do rei que Shakespeare imortalizou na peça homônima. O caso levou historiadores vários a tentar melhorar a reputação de Ricardo 3º — um monarca sensato, reformador, compassivo etc. Indiferente. Como alguém dizia, quando a lenda é superior aos fatos, imprima-se a lenda. O Ricardo que fica para a posteridade é aquele que, nas primeiras linhas da peça, despreza a paz que finalmente chegou à casa de York e se prepara para iniciar a sua busca pelo poder. A paz sempre valeu pouco para espíritos que não se encontram em paz. 

"Selfie" - Aprendi essa palavra nova no ano que termina. São fotos que o próprio tira do próprio e depois partilha nas redes sociais. Exemplo extremo de narcisismo? Certo. Mas o narcisismo tem uma explicação cultural: longe vão os tempos em que a função da arte (e do retrato) era captar e reproduzir o mundo. Hoje, o crescente desinteresse pelo mundo (e, no limite, pelos outros) só poderia degenerar em monumentos fotográficos à nossa ridícula vaidade e indisfarçável solidão. 

Thatcher, Margaret - Morreu aos 87. Nenhum premiê britânico despertou tantos ódios como Thatcher. Entendo. Thatcher não resgatou apenas o Reino Unido da falência econômica em que o país se encontrava em 1979. A "dama de ferro" deslocou o eixo político britânico definitivamente para a direita, enterrando o "socialismo" na pátria onde ele nasceu. É o seu epitáfio. 

Por: João Pereira Coutinho Folha de SP

O PAPA FRANCISCO, A DESIGUALDADE DE RENDA, A POBREZA E O CAPITALISMO


As críticas ao livre mercado feitas pelo papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium ("A Alegria do Evangelho") geraram fortes reações ao redor do mundo. Uma atenção especial foi dedicada a uma passagem na qual o documento faz uma crítica "às teorias do 'gotejamento'[1], as quais supõem que o crescimento econômico, estimulado por um livre mercado, irá inevitavelmente produzir maior igualdade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante." (cap. 2, parágrafo 54).

Em primeiro lugar, é sim válido admitir a possibilidade de haver nuanças semânticas que podem levar a interpretações errôneas, pois Evangelii Gaudiium não é um documento econômico. Ademais, o "sistema econômico reinante" não é exatamente uma cópia heliográfica de um livre mercado. No entanto, a crítica ao livre mercado é clara e é difícil contestar que o documento não esteja se referindo ao livre mercado, mesmo se considerarmos as nuanças semânticas. Em segundo lugar, o termo "gotejamento" não é um termo técnico, muito menos uma teoria, mas sim apenas uma palavra depreciativa utilizada pela esquerda e por outros grupos críticos ao livre mercado. 

Este escorregão terminológico (apenas um exemplo dentre vários outros) sugere a necessidade de mais cuidado em relação às fortes alegações feitas pelo documento em relação a questões econômicas. Declarações categóricas em um documento desta importância deveriam ser mais bem articuladas e fundamentadas. Imagine um documento econômico crítico à Igreja fazendo um uso claramente superficial da linguagem utilizada pela entidade, acompanhada por adjetivos como "vaga e ingênua". Utilizar definições imprecisas pode fazer com que vejamos problemas que na realidade não existem. 

Em terceiro lugar, o efeito produzido pela Evangelii Gaudium sobre a opinião pública nos convida a analisar e a comparar alguns indicadores gerais sobre o bem-estar econômico e social daqueles países que são mais inclinados ao livre mercado em relação àqueles que são menos propensos ao livre mercado. Seria verdade que o livre mercado deixa os mais pobres desamparados e marginalizados? O que há de verdade e o que há de mito nas frequentes e abundantes críticas ao "capitalismo selvagem"? O que o papa Francisco expressou foi, na realidade, apenas uma repetição desta generalizada crença que permeia vários setores da sociedade na maioria dos países ao redor do mundo.

Se agruparmos os países do mundo em quatro categorias de acordo com sua liberdade econômica fica mais fácil obter uma perspectiva da situação social e econômica dos países mais livres e dos menos livres. Isso permite a obtenção de um gradiente de resultados e também nos permite observar as diferenças entre os países mais livres e os menos livres. É importante deixar claro que foram levados em conta os dados de todos os países, e não apenas os dados de alguns poucos (mais detalhes metodológicos aqui) — afinal, tal trapaça permitiria que tanto um crítico quanto um defensor do livre mercado escolhessem apenas aqueles países que mais lhes fossem convenientes. É necessário utilizar toda a amostra como referência, e não uma mera seleção ad hoc.

Vamos, então, analisar alguns dados econômicos e sociais dos países ao redor do mundo de acordo com sua liberdade econômica.

Os gráficos a seguir mostram o PIB per capita mensurado de acordo com a paridade do poder de compra da população (ou seja, já ajustado pelo custo de vida) e a taxa de crescimento médio durante um período de 10 anos. Os países estão separados em quatro grupos de acordo com sua liberdade econômica. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo. Em vermelho, o grupo dos menos livres. Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo. 

Como os gráficos mostram, os países mais livres não apenas são mais ricos, como também crescem mais rapidamente no longo prazo. (As fontes estão listadas no final do artigo.)

Gráfico 1: PIB per capita ajustado pelo poder compra. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo. Em vermelho, o grupo dos menos livres. Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.


Gráfico 2: taxa de crescimento médio do PIB per capita entre 1991 e 2011. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo. Em vermelho, o grupo dos menos livres. Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que o PIB per capita (ajustado pela paridade do poder de compra) é apenas um valor médio, o qual nada diz sobre a distribuição de renda. Ao recorrerem a este argumento, a intenção implícita dos intervencionistas é afirmar que os países mais ricos apresentam uma distribuição de renda mais desigual. Ou seja, o crescimento gerado pelo livre mercado seria inegável, mas seria um crescimento imoral.

Antes de tudo, é válido observar que a maneira como a renda é distribuída pode ter várias causas. Um sistema em que haja uma distribuição desigual de renda em decorrência do fato de que o partido político que está no poder beneficia alguns poucos setores empresariais (como ocorre no "capitalismo de estado") à custa dos consumidores é diferente de um sistema em que as diferenças na distribuição de renda ocorrem em decorrência do fato de que alguns empreendedores e indivíduos são mais bem-sucedidos do que outros. O primeiro caso retrata uma distribuição de renda "ruim" ao passo que o segundo caso representa uma distribuição "boa", pois ela promove o real crescimento econômico. 

Essa diferença conceitual — e o fato de que impor uma igualdade de renda requer a abolição da igualdade perante a lei — parece ser um problema ignorado por aqueles que utilizam a distribuição de renda como principal argumento contra o livre mercado.

Por exemplo, onde estão os Steve Jobs, os Bill Gates e os Jeff Bezos de países como Cuba e Coréia do Norte? Uma maneira de constatar se a distribuição de renda de um país é tão ruim quanto alegam os intervencionistas é analisar a fatia da renda recebida pelos 10% mais pobres da população.

Os gráficos a seguir mostram a renda per capita dos 10% mais pobres dos quatro grupos de países. O gráfico 3 mostra que os 10% mais pobres recebem, em média, a mesma porcentagem da renda tanto nos países mais livre quanto nos menos livres, o que significa que a fatia de renda apropriada pelos mais pobres é semelhante independentemente da liberdade econômica do país.


Gráfico 3: porcentagem da renda total apropriada pelos 10% mais pobres. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo. Em vermelho, o grupo dos menos livres. Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Como mostrado no gráfico acima, se você faz parte dos 10% mais pobres, não faz muita diferença se você vive em um dos países menos livres do mundo ou em um dos mais livres. Em termos de percentuais, seu grupo irá receber aproximadamente apenas 2,6% da renda total.

No entanto, há uma diferença crucial: o valor desta renda. Se você vive em um dos países menos livres do mundo, você terá de se virar com US$932 por ano. Por outro lado, se você vive em um país livre, você terá uma renda anual de US$10.556. Este detalhe não é nada insignificante.


Gráfico 4: renda anual per capita dos 10% mais pobres. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo. Em vermelho, o grupo dos menos livres. Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Novamente, ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que estes dados mostram apenas o quintil da renda mais baixa, e que seria mais apropriado prestar atenção a indicadores como o Coeficiente de Gini, o qual mensura a distribuição de renda de toda a população. Uma distribuição perfeitamente igualitária resulta em um Coeficiente de Gini de 0, e uma distribuição perfeitamente desigual (no qual apenas um indivíduo concentra toda a riqueza do país) resulta em um valor de 100.

O gráfico abaixo mostra o Coeficiente de Gini para os 25 países mais economicamente livres (em vermelho) e os 25 países menos economicamente livres (em azul). Atenção que a partir de agora as cores se invertem: os países mais economicamente livres estão em vermelho, e os menos, em azul.

Como pode ser visto, na média, as economias mais livres apresentam uma melhor distribuição de renda de acordo com este indicador. O argumento de que economias livres apresentam maior desigualdade de renda é um mito gerado pelo simples erro de se observar apenas alguns poucos países e não a totalidade da amostra. Ao selecionarmos apenas alguns poucos países podemos inconscientemente escolher países que confirmam nossas ideologias e ideias pré-concebidas. Mas isso não ocorre se analisarmos toda a amostra. 

Logo, a pergunta é: se você sabe que pertencerá à seção dos mais pobres de uma população, em qual tipo de país você preferiria viver: em um dos mais livres do mundo ou em um dos menos livres? Os mais "pobres" dos EUA, por exemplo, possuem uma renda 60% maior do que a renda da população mundial.



Gráfico 5: Coeficiente de Gini para os 25 países mais economicamente livres do mundo (vermelho) e para os 25 menos livres do mundo (azul). Quanto menor o número, menor a desigualdade de renda entre pobres e ricos.

Novamente, ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que os dados representam apenas uma fotografia do momento; ele não captam a evolução dos dados, os quais mostrariam que os ricos estão ficando mais ricos e os pobres, mais pobres. 

O gráfico abaixo mostra a mudança ocorrida na renda média de cada quintil de renda da população. Como é possível ver, é verdade que os ricos estão ficando mais ricos (exceto justamente no quintil superior), mas o fato é que os quintis de renda mais baixa estão, na média, vivenciando um aumento de renda a uma taxa superior ao aumento observado nos quintis maiores. O gráfico mostra a diferença de renda entre pais e filhos que pertencem ao mesmo quintil.


Gráfico 6: evolução da renda da população nos países mais economicamente livres do mundo separadas por quintis. Em azul, a renda dos pais. Em vermelho, a renda dos filhos, ou seja, a renda da geração seguinte.

Não apenas é um mito dizer que as economias que apresentam mercados mais livres são mais propensas a apresentar uma pior distribuição de renda, como a realidade é que a pobreza diminuiu ao longo das últimas décadas.

O gráfico abaixo mostra o declínio da população que vive com menos de US$1 por dia entre 1970 e 2000. Durante estes 30 anos, a população que ganha menos de US$1 por dia caiu para quase um terço do valor inicial. Dado que as economias mais livres estão crescendo mais rapidamente, e que as economias menos livres estão crescendo mais lentamente, fica claro qual é o grupo de países que está liderando a redução da pobreza e qual é o grupo que está retardando o processo.


Gráfico 7: distribuição mundial de renda. No eixo X, o valor da renda per capita. No eixo Y, o número de pessoas que ganham um valor específico de renda per capita. Observe o marco do $1/day (um dólar por dia) e como o número de pessoas que ganham esse valor específico caiu ao longo de três décadas.

Vejamos agora alguns indicadores sociais e ambientais que são de interesse geral. O gráfico 8 mostra o trabalho infantil, o gráfico 9 mostra a poluição ambiental e o gráfico 10 mostra a taxa de desmatamento. Novamente é possível ver a persistência dos mitos sobre os supostos malefícios do livre mercado. Os países mais livres do mundo, na média, apresentam menos trabalho infantil e níveis mais baixos de poluição. Já o gráfico 10 mostra que os países menos livres, na média, apresentam mais desmatamento, ao passo que os mais livres estão reflorestando suas terras.


Gráfico 8: Porcentagem de crianças entre 5 e 14 anos que trabalham. Em azul, os países menos economicamente livres. Em vermelho, os países mais economicamente livres.


Gráfico 9: Nível de poluição. Em azul, os países menos economicamente livres. Em vermelho, os países mais economicamente livres.


Gráfico 10: taxa de desmatamento (negativa) e de reflorestamento (positiva). Em azul, os países menos economicamente livres. Em vermelho, os países mais economicamente livres

Conclusão

Primeiramente, defensores do livre mercado não afirmam que tal sistema econômico é perfeito. Mas promover intervenções no mercado utilizando a desculpa de que o mercado não é perfeito é uma medida que não ajuda em nada na criação de riqueza e na redução da pobreza. De fato, o livre mercado não é perfeito; no entanto, é insensato fazer desta imperfeição a desculpa para se promover arranjos institucionais menos eficientes.

Segundo, todos os resultados acima se mantêm se olharmos as diferenças entre os países mais e menos livres, porém restringindo a amostra somente para países pequenos. Ou seja, os dados acima não decorrem de uma deturpação estatística gerada por "países grandes", os quais, simplesmente por serem grandes, afetam os resultados gerais.

Terceiro, os mesmos resultados também são observados se pegarmos apenas o grupo dos países menos livres e analisarmos os países mais livres e os menos livres dentro deste grupo. Isso significa que a teoria da exploração internacional não se sustenta. Dentro do grupo dos países menos livres, as economias que possuem mais liberdade apresentam indicadores sociais e econômicos melhores do que os das economias menos livres.

Por último, mas não menos importante, os comentários presente neste artigo se propõem a desmascarar críticas comuns feitas ao livre mercado, as quais são opiniões generalizadas que transcendem em muito o documento papal em questão. Estes comentários não têm a intenção de questionar a autoridade espiritual e religiosa das autoridades máximas da Igreja, mas é sempre bom não confundir autoridade espiritual e religiosa com autoridade econômica.

Fontes utilizadas:


 Este termo pejorativo é uma tradução livre da expressão "trickle-down economics", criada durante a Grande Depressão, mas popularizada durante a era Reagan. A expressão "trickle-down", que literalmente significa "pingar de cima para baixo", é uma referência pejorativa à teoria de que cortes de impostos para os mais ricos irão acabar beneficiando também os mais pobres — daí a expressão "pingar de cima para baixo".
Por: Nicolás Cachanosky, professor assistente de Economia na Metropolitan State University, em Denver.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DESPENCANDO LADEIRA ABAIXO

Ano sombrio com nuvens carregadas se avizinha, com nosso continente despencando ladeira abaixo rumo ao socialismo mais torpe, amoral e criminoso.

Quando vai chegando o fim do ano, fazer um balanço do decorrido é quase inevitável, sobretudo quando se vive num continente já totalmente dominado pelo esquerdismo mais rude e abjeto de que se tenha tido notícia.

Esse foi um ano de muitas e grandes eleições, começando pela Venezuela que, através de múltiplas fraudes e crimes eleitorais “elegeu” Nicolás Maduro, mesmo quando se tinha as provas de que ele não é venezuelano e sim colombiano, o que fere frontalmente a Constituição Nacional. Mas ele era desde sempre o eleito dos ditadores cubanos Castro e, tal como Obama, vem mantendo sua verdadeira identidade sob uma blindagem ignominiosa e intransponível.

O Paraguai teve mais sorte e elegeu o empresário Horacio Cartes. Em Honduras, a candidata Xiomara Castro, esposa do destituído Manuel Zelaya que recebeu apoio descarado em vídeo de Lula, presidente de honra desta organização criminosa, não foi eleita. Entretanto, essas foram as duas baixas sofridas pelo Foro de São Paulo.

A Colômbia vive momentos dramáticos com o acosso das FARC, comandado desde Havana, onde estão os cabeças da organização terrorista, com a farsa de “negociações de paz” com o governo do traidor Juan Manuel Santos. O serviço de inteligência da Polícia descobriu planos das FARC para assassinar o ex-presidente Uribe, o Procurador Geral Alejandro Ordóñez Maldonado e o ex-ministro da Justiça Fernando Londoño. Tudo isso enquanto se refestelavam com os luxos capitalistas em Havana, e cujo processo “de paz” se dá inteiramente baseado em seu Plano Estratégico.

Há poucos dias, depois de anunciar um cessar fogo pelas festividades natalinas, as FARC atacaram com um carro bomba o município de Inzá-Cauca, deixando um saldo de 7 mortos (adultos, crianças, civis e militares), 53 feridos, 127 casas afetadas, centenas de pessoas traumatizadas e 3 bilhões de pesos [1] em perdas materiais. Mas isto não foi o bastante para que Santos compreendesse que não há qualquer interesse nesse bando terrorista em encerrar definitivamente o conflito que já dura mais de 50 anos, e continua com a farsa criminosa que está custando ao bolso do contribuinte uma soma incalculável. E enquanto as famílias lastimavam suas perdas, em vidas e bens materiais, Santos organizou uma comitiva para ir prantear o comunista Mandela, falecido na África do Sul, sem se importar um milímetro por seus compatriotas assassinados.

Como se toda essa desgraça não fosse o bastante, o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, foi destituído pelo Procurador Ordóñez e inabilitado para a política durante 15 anos, por haver realizado negócios escusos com empresas de coleta de lixo. O “ex” terrorista do M-19, cognome “Comandante Aureliano”, não aceitou a sentença que chamou de “golpe de Estado” e convocou sua militância para uma manifestação na Praça de Bolívar, onde se localiza do Palácio Liévano, sede da Prefeitura. Do balcão, ele gritava que foi convidado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, onde será ouvido e conclamava o povo a “se indignar”, num claro crime de incitação à rebelião.

Gustavo Petro em seu discurso incendiário no balcão da Prefeitura

O ato do Procurador foi rigorosamente dentro da Lei, entretanto, as FARC imediatamente emitiram um comunicado em apoio a Petro, assim como várias organizações comunistas ao redor do mundo. As manifestações em Bogotá continuam e prometem muita violência.

Na Argentina, durante duas semanas várias cidades foram alvo de saques e depredações, em decorrência de uma greve de policias iniciada em Córdoba. Até o momento contam-se 13 mortos e dezenas de feridos, sendo Tucumán a cidade mais afetada. Os vândalos, tal como se viu aqui no Brasil, depredaram e saquearam lojas, supermercados e lojas atacadistas, chegando ao absurdo de 50 pessoas agredirem e assassinarem um chinês, proprietário de uma loja, incendiando-a depois.

E para culminar, como se não bastasse a estatização da maconha por parte do “ex” terrorista José Mujica, presidente do Uruguai, o Chile deu seu aval novamente à ex-presidente Michelle Bachelet. O número de abstenções foi um dos mais expressivos já registrados, algo em torno dos 62%, além dos votos nulos e em branco, decorrente do descrédito dos chilenos com o presidente Sebastián Piñera, de centro-direita, que fez um péssimo governo para a ala conservadora, inclusive por ter recebido o ditador Raúl Castro que foi nomeado presidente da CELAC, com honras de chefe de Estado e muitos rapapés.

Bachelet volta com promessas de reformar a Constituição que, para ela, tem muitos “ferrolhos anti-democráticos”, uma vez que foi escrita durante a gestão do falecido General Augusto Pinochet. Na agenda, como não poderia faltar, estão a legalização do aborto e a aprovação do casamento entre pares homossexuais.

Ano sombrio com nuvens carregadas se avizinha, com nosso continente despencando ladeira abaixo rumo ao socialismo mais torpe, amoral e criminoso, sobretudo no Brasil, com a invasão cubana que tende a aumentar e se consolidar. Que Deus tenha piedade de todos nós!
Nota: Equivalente a R$ 3 milhões de reais.

Por: Graça Salqueiro Do site www.midiasemmascara.com.br 

MANDELA E O MENSALÃO

No embalo do espírito natalino, virou moda entre a elite culta defender José Genoino

A frase que resume os dez anos de reinado do oprimido no Brasil foi dita pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no processo do mensalão: “Se o Mandela ficou 27 anos preso, eu suportarei também.”

Nelson Mandela tinha acabado de morrer, e já era contrabandeado pelo herói mensaleiro. Os oprimidos de gravata sugam o que podem, até a memória alheia. Não se pode esquecer que, em sua propaganda eleitoral, Dilma Rousseff confiscou a identidade de Norma Bengell, usando uma foto da atriz na passeata de 1968 em sua apresentação biográfica. No dia seguinte ao brado de João Paulo Cunha, Dilma estava no Congresso do PT que apoiou os mensaleiros condenados. A presidente repetiu, com a ajuda de Lula, o já famoso gesto do braço erguido com o punho cerrado — inaugurado por Dirceu e Genoíno na chegada à prisão. Não se sabe bem o que significa aquela mão fechada. Há quem diga que é um aviso de que não vão devolver o que roubaram.

Como pode a presidente da República participar de um comício em defesa de corruptos condenados e presos? Um comício onde um partido político censura a mais alta corte da Justiça, com pesados ataques ao seu presidente? Dilma pode. Assim como o mensaleiro João Paulo pode se comparar a Mandela e, em seguida, dizer “longe de mim me comparar a Mandela”. Pode também distribuir centenas de exemplares de uma revista inocentando a si mesmo, e se declarar ofendido quando a imprensa pergunta quem pagou aquilo. Num país saudável, João Paulo Cunha viraria piada e Dilma Rousseff teria de prestar esclarecimentos no Congresso Nacional sobre seu gesto favorável a criminosos. Mas no Brasil a moral virou geleia.

Tanto que, no embalo do espírito natalino, virou moda entre a elite culta defender José Genoíno. Vozes intelectualizadas se erguem para avisar que o ex-presidente do PT, condenado e preso, não ficou rico e vive até hoje modestamente. Os samaritanos não chegam a dizer que o mensalão não existiu, mas dizem que a biografia de Genoíno é ótima e ele é cardíaco. Bradam que é um absurdo estigmatizar como bandido um cara tão legal.

Não é preciso dizer mais nada para explicar o Brasil de hoje. Um indivíduo condenado como partícipe do maior assalto aos cofres públicos da história da República encontra, entre vozes supostamente respeitáveis, uma espécie de anistia informal. Estava no bando mensaleiro, mas leva uma vida franciscana. Se meteu nesse rolo, mas é gente boa. Note-se que essas pessoas de bem não chegam ao delírio petista de afirmar que qualquer um dos mensaleiros seja inocente. Apenas se mostram indignadas com o fato de um sujeito bacana como Genoíno (condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha) ser tratado como criminoso. Está inaugurada a figura do infrator bonzinho.

Possivelmente Genoíno não tramaria o valerioduto, exatamente por sua boa índole. Mas então deveria, em vez de assinar a papelada suja de Valério, ter se demitido imediatamente da presidência do PT. Não o fez porque já havia transformado a política em emprego, assim como o exército de companheiros medíocres que tomaram o Brasil de assalto como meio de vida. E não largarão o osso em 2014, justamente porque os brasileiros honestos são indulgentes com o infrator bonzinho.

No mesmo congresso partidário em que Dilma participou do desagravo aos mensaleiros, Lula deu mais uma aula de princípios. O oráculo afirmou que a imprensa (sempre ela) exagerou no caso do emprego de José Dirceu. Um sujeito condenado por desviar uma montanha de dinheiro público consegue, na prisão, salário de 20 mil reais como gerente de um hotel que tem um “laranja” entre seus donos. Mais impressionante: esse condenado que não disfarça suas ótimas relações com o submundo é apoiado em público pelo ex-presidente e sua preposta que governam o país. E o país, ato contínuo, avisa que vai reeleger o bando em primeiro turno.

Pensando bem, com um salvo-conduto desses, piratear Nelson Mandela e Norma Bengell está barato. Jesus Cristo não escapa.

Enquanto isso, na realidade tediosa dos que não têm os punhos cerrados em direção ao céu, o Brasil bate mais um recorde: maior rombo nas contas externas em mais de 50 anos. Uma bobagem, puro preconceito contra o governo popular: os investidores estão fugindo do Brasil só porque o governo petista mente sobre suas contas, tenta esconder a inflação comprimindo tarifas e comprometendo empresas como a Petrobras, diz coisas desencontradas sobre política monetária, abandona a infraestrutura e fatura com a selva tributária, fazendo o risco Brasil disparar. Tudo inveja da ascensão terceiro-mundista, diria o saudoso Hugo Chávez.

Agora há uma corrente do PT defendendo apoio formal aos métodos boçais dos black blocs. Medida desnecessária. Os métodos do partido destroem com muito mais eficácia.
Por: Guilherme Fiuza  O Globo



DISJUNTORES DA ECONOMIA DE MERCADO

Já refleti várias vezes neste espaço sobre o que chamo de "disjuntores de uma economia de mercado".


Disjuntores são pequenas peças de engenharia cujo objetivo é sempre o de provocar uma interrupção no funcionamento de equipamentos mecânicos ou elétricos, quando alguma anormalidade ocorre. Desculpem-me meus colegas engenheiros por essa explicação singela, mas, para construir a imagem desses mecanismos de segurança no campo da economia, ela é suficiente.

Nas economias de mercado, há vários mecanismos que funcionam da mesma forma que os disjuntores citados acima. Sua função é esfriar a atividade econômica quando algum mal funcionamento nos mercados ameaça criar um desequilíbrio muito forte na economia.

Essa minha imagem tem inspiração no pensamento de Lord Keynes, que foi um dos primeiros economistas a questionar a ideia -ainda dominante em setores liberais mais radicais- de que no sistema capitalista esse tipo de disfunção não poderia acontecer.

Na prática temos dois grandes grupos de disjuntores em uma economia como a brasileira.

O primeiro agrega os mecanismos de defesa que se desenvolvem de forma natural e autônoma em uma economia de mercado.

O outro grupo é formado por disjuntores acionados pela regulação externa ao sistema e que são construídos pelo próprio homem. O maior número de elementos desse grupo foi criado no passado para enfrentar situações em que a inflação representava o grande desafio a enfrentar.

Apenas muito raramente esses mecanismos externos de intervenção visavam combater a situação oposta que pode ocorrer, ou seja, a deflação e a depressão econômica.

Nos últimos cinco anos, em que vivemos de forma intensa essa patologia, acompanhamos a criação de novas formas "ad hoc" de intervenção externa. Os chamados instrumentos de expansão monetária quantitativa -QE, na expressão inglesa-, no caso de ameaça de deflação mais séria, são os exemplos mais marcantes dessa busca.

No Brasil de hoje vivemos um momento em que alguns desses disjuntores mais tradicionais, tanto os naturais como os criados pelo homem, entraram em funcionamento após um longo período de expansão da economia e o aparecimento normal de gargalos importantes no lado da oferta. Um dos mais importantes tem sido a redução do endividamento do consumidor em razão de dificuldades de solvência. O outro, colocado em funcionamento autonomamente pelo BC, é o aumento da Selic.

Na euforia dos últimos anos, o comprometimento da renda do consumidor com o pagamento de dívidas passou do limite natural e começou a provocar desequilíbrios em seus orçamentos domésticos.

Em um país em que somos monitorados implacavelmente pelo Big Brother Serasa, não restou outra saída para a nova classe média senão moderar o consumo.

Esse processo de ajuste foi reforçado pelo disjuntor representado pelo Copom e por sua decisão de impor juros bem mais elevados aos tomadores de crédito.

As estatísticas divulgadas pelo próprio BC mostram que os gastos com juros e amortizações passaram de mais 16% da renda das famílias, no início de 2006, para mais de 22% na euforia do consumo no ano eleitoral de 2010. Agora, em novembro, em tempos mais bicudos de crescimento, o BC informa que estamos abaixo do nível crítico de 20% da renda familiar.

Além desses, outros disjuntores também estão agindo sobre o crescimento econômico e moderando sua intensidade. Um deles -a queda dos termos de troca do comércio exterior brasileiro- está sendo acionado por forças totalmente externas a nós, como a redução da demanda chinesa e, principalmente, a valorização do dólar no mercado internacional.

Criado em razão das expectativas de mudanças na política monetária do Fed, esse disjuntor poderá ser o grande fator negativo em 2014, caso as projeções de parte do mercado se confirmem.

É o funcionamento desses disjuntores que, para mim, explicam de forma mais clara essa nova velocidade de cruzeiro da economia brasileira. E essa velocidade não pode ser alterada sem que uma terapia mais adequada, para enfrentar os desequilíbrios de oferta que enfrentamos hoje, seja implementada pelo governo.Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Folha de SP

domingo, 29 de dezembro de 2013

SAMBA DO BRASILEIRO DOIDO

Encastelados no trono, passaram a falsificar a história.


Orwell já disse que “quem controla o futuro controla o presente, e quem controla o presente controla o passado”. Os ditadores comunistas especializaram-se nisso, apagando das fotos todos os poderosos que caíram em desgraça. Recentemente pudemos ver este mecanismo em ação na Coreia do Norte, onde o tio do ditador vem sendo apagado da memória oficial.

É mais ou menos a mesma coisa que vem acontecendo com a história recente de nosso país. Tivemos, de 1964 até 1985, um governo desenvolvimentista autoritário, combatido na maior parte do tempo por grupelhos de guerrilha maoísta, stalinista e trotskista que – ao contrário do governo – não dispunham de absolutamente nenhum apoio popular para seus planos de estabelecer uma “ditadura do proletariado” semelhante às de Cuba ou da Coreia. Uma pequeníssima parcela da classe média urbana os apoiava, mas só. Sua ação, para piorar as coisas, levou a um recrudescimento ditatorial do autoritarismo já reinante, atrasando a redemocratização do país em pelo menos 15 anos.

Após o fim da ditadura, usando como escada a esquerda moderada que os governos militares não só toleravam, mas incentivavam, membros desses grupelhos chegaram ao poder, presenteando-se com pensões milionárias, isentas de Imposto de Renda. Até aí, nada de novo; o patrimonialismo que faz dos bens públicos prêmios a amigos do governo é uma antiquíssima tradição brasileira.

Encastelados no trono, contudo, passaram a falsificar a história. Escolas nomeadas em homenagem a presidentes militares passaram a homenagear terroristas assassinos, procurados com razão pela polícia durante os governos militares. O cadáver do pobre Jango, um presidente fraco que se deixou levar pelo que de pior havia na esquerda de então, foi desenterrado e cutucado sem que nada de errado fosse encontrado. Mesmo assim, na hora de devolvê-lo ao campo santo, fez-se uma farsa ao dar-lhe honras militares, seguidas pela devolução simbólica da Presidência ao cadáver. É a reescrita farsesca da história. Com JK, então, a coisa é ainda mais delirante: inventou-se – contrariamente ao discernido pela perícia e ao bom senso – que ele foi assassinado, provavelmente por um atirador saído de algum filme americano, capaz de acertar a cabeça de um motorista no meio de uma curva movimentada na Via Dutra. Pudera que os parentes do motorista considerem toda essa movimentação uma piada macabra.

Ninguém na história é santo: nem os militares, nem os terroristas ora no poder. Esta farsa, contudo, já está ficando ridícula.

Publicado no jornal Gazeta do Povo.

Por: Carlos Ramalhete é professor.

GOVERNO, GOVERNANÇA E CONTRATO

Governança é uma expressão relativamente nova, e tem a ver com o desenho dos processos decisórios dentro de organizações, públicas e privadas, com o objetivo de evitar, entre tantos vícios, os decorrentes de conflitos de interesses. Diz-se que a governança é de boa qualidade quando impede que maiorias escravizem minorias, ou vice-versa, ou que os dirigentes abusem dos mandatos a eles conferidos.


Enquanto a governança corporativa (a das empresas) só fez evoluir - sobretudo a partir de 2000, quando a Bovespa estabeleceu protocolos para a boa governança e listagens especiais para as empresas que os adotassem -, a governança no setor público vem sofrendo um enorme retrocesso. A legitimidade conferida pelas urnas não faz do governante um Todo Poderoso ou uma encarnação do interesse público, mas apenas um custo diante deste, e por tempo determinado e dentro de limites, como em qualquer democracia. Os bons governos precisam caber dentro de seus mandatos, conviver produtivamente com minoritários (que serão os mandachuvas de amanhã) e com a transparência própria dos mercados e da imprensa livre.

Quando, em vez disso, o governo faz uso contumaz do método "goela abaixo", ao atropelar processos e extrapolar atribuições, invariavelmente se acha na posição do controlador não confiável que abusa de seus poderes e desequilibra os contratos que implícita ou explicitamente mantém com o setor privado.

Tome-se o exemplo da Petrobrás, empresa de controle estatal listada em bolsa com muitos sócios minoritários, nacionais e estrangeiros. O controlador decidiu introduzir um novo sistema para explorar o petróleo do pré-sal, de vezo excessivamente nacionalista, por conseguinte muito caro, e do que resultou um salto nos gastos de investimento da companhia de US$ 10.6 bilhões em 2005 para US$ 43,4 bilhões em 2010.

Diante dessas necessidades foi feito um aumento de capital, que a União não integralizou propriamente em dinheiro, mas usando os direitos a petróleo que estaria disponível no futuro. Adicionalmente, como os preços dos produtos vendidos foram mantidos em níveis defasados, por causa do interesse do controlador em evitar a aceleração da inflação, a companhia viu-se em dificuldades financeiras. Seu endividamento foi de US$ 46 bilhões ao final de 2006 para US$ 115 bilhões em 2010 e US$ 250 bilhões em 2013.

Em consequência, o valor de mercado da empresa caiu de US$ 200 bilhões no começo de 2010 para US$ 90 bilhões ao final de 2013.

São US$ 110 bilhões de riqueza destruída por um nacionalismo tolo combinado ao velho populismo tarifário e embrulhado em uma contabilidade feita por quem acredita na função social da matemática. O resultado é algo que se pode descrever como dilapidação do patrimônio público.

Há muitas questões de governança pertinentes à definição de responsabilidades pela tragédia. Ao utilizar a empresa como ferramenta de políticas de governo, o controlador não devia indenizar a companhia, como fazia até 2001 por meio da "conta petróleo"? Os representantes do controlador não estão conflitados em decisões como as de preço, por exemplo? Com 32,3% do capital (55,6% do capital votante) deve a União nomear 8 de 10 conselheiros?

Bem, esse é apenas um exemplo, e há histórias parecidas em toda parte, inclusive no delicado terreno da política monetária, o segundo exemplo logo abaixo.

O governo detém o controle do único banco com poder de emissão de moeda, um poder tão grande quanto os sonhos de qualquer político, e aqui não há minoritários. Há, em vez disso, 180 milhões de "preferencialistas", que são os "acionistas" sem direito a voto que carregam papéis ao portador, emitidos em pequenas denominações pelo Banco Central do Brasil, de aceitação obrigatória fixada em lei, cujo valor é fixado por livre negociação no comércio.

Por isso, ao redor deste planeta, adotam-se providências de governança de modo a isolar os bancos centrais da influência de seus controladores. Não se trata de assunto ideológico, mas de um imperativo de boa governança: é o melhor arranjo institucional para preservar a integridade da missão do banco central, a estabilidade da moeda.

Entretanto, o Banco Central do Brasil não é independente, a formulação da política monetária cabe ao um conselho de três ministros (um deles, o presidente do BC), obrigado a seguir diretrizes do presidente da República. A política de metas para a inflação está fixada em um decreto presidencial, e os ministros decidiram que era 4,5% mas, na verdade, o BC vem trabalhando como se fosse 6,5%, por orientação do Palácio.

Nos dois casos está claro o conflito entre os interesses políticos de curto prazo do governo e os das maiorias afetadas pelas decisões. É evidente o predomínio inconteste da vontade do controlador.

Arranjos institucionais mais aperfeiçoados poderiam melhorar a governança em ambas as situações, evitar os abusos de poder de controle e as inconsistências. Essas, por sua vez, formam a prole mais dileta do método "goela abaixo", e a lista vai bem além dos exemplos aqui explorados: o governo liga as térmicas e manda baixar a conta de luz, incentiva a produção de automóveis e diminui as ruas, arrocha os preços dos serviços públicos e põe concessões para vender, elege campeões que entram em recuperação judicial e por aí vamos.

Nada pode ser mais assustador aos agentes privados que um governo despreocupado com a boa governança, pois o assunto aqui tem tudo que ver com a letra do contrato. Ao falsear a contabilidade pública, a meta de inflação, o preço da gasolina, a conta de luz, o governo falta com a palavra empenhada, pois compromissos de governo publicamente assumidos são como contratos. Ao escrever 4,5% como meta para o IPCA e praticar 6,5%, ou ao fazer "deduções" da meta de superávit primário, as autoridades quebram contratos que elas mesmas propuseram.

A alegação da presidente sobre respeito aos contratos, feita em tom agressivo em Nova York meses atrás, e prestes a ser repetida em Davos, infelizmente não estará convincentemente apoiada em ações de governo.

Por: GUSTAVO H.B. FRANCO EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA RIO BRAVO INVESTIMENTOS O Estado de S.Paulo

CRESCE E DESAPARECE

1. Com a morte de Mandela, confesso que passei horas e horas a ler sobre o senhor. Mas nenhum texto me impressionou tanto --na sua imbecilidade e ignorância-- como o elogio cético que Slavoj Zizek dedicou a Madiba no "Guardian".

Verdade que Zizek nunca desilude. Mas o texto atinge novos patamares de mendacidade intelectual quando informa o auditório de que Mandela morreu um homem amargo.

Uma afirmação dessas, vinda de um enfermeiro, teria o seu valor. Mas o objetivo de Zizek é político, não clínico: Mandela morreu amargo porque a promessa de uma África do Sul resplandecente não se cumpriu.

Até aqui, nada a dizer: a pobreza, a violência e o crime continuam a fazer parte do cotidiano do país. Mas para Zizek essas falhas devem-se à "traição" que Mandela cometeu sobre os seus ideais "socialistas", sucumbindo às sereias do capitalismo.

Nesse sentido, Mandela representa bem o destino da esquerda contemporânea, diz Zizek: na oposição a um regime iníquo, a esquerda promete maravilhas sem fim; quando chega ao poder, abre a porta ao compromisso "burguês".

A ignorância de Zizek começa logo aqui: ao não entender que o derrube do apartheid começou por um ato de compromisso. Que o mesmo é dizer: Mandela pousaria as armas e o regime começaria a tratá-lo com outra brandura.

Isso pode soar ofensivo para quem vive no jardim infantil da política e divide o mundo entre índios e cowboys. Não soou ofensivo para Mandela nem para a ala mais moderada do ANC.

Mas há mais: acusar Mandela de atraiçoar os seus ideais "socialistas" é ignorar a importância que o fim desses ideais teve para derrubar o próprio regime.

A queda do apartheid, ao contrário do que imagina Zizek, não começou com a saída de Mandela da prisão em 1990. Começou um ano antes, quando um certo Muro de Berlim foi reduzido a escombros. Com o desaparecimento da ameaça ideológica de Moscou, a elite branca não apenas deixou de temer a transição para um regime democrático pleno --como, no limite, o permitiu.

Finalmente, Zizek pergunta: não será possível ir além do legado tímido de Mandela sem cair no extremismo totalitário de Robert Mugabe, o vizinho do Zimbábue que arruinou o seu país?

Curiosamente, Zizek nem se apercebe da contradição da pergunta: Mugabe destruiu o país porque seguiu a cartilha "socialista" que Zizek acusa Mandela de ter renegado.

O resultado desse programa de "coletivização dos meios de produção" determinou que um dos mais prósperos países africanos seja hoje um caso internacional de fome, miséria e, claro, guerra civil larvar de negros contra brancos. Ou, pelo menos, contra os brancos que ainda restam por lá.

Quando será que Zizek cresce e desaparece?

2. A culpa é de John Lennon: quando o ex-Beatle começou a dissertar sobre os grandes temas do mundo, o mundo prestou atenção e a moda estava lançada.

Bizarro: eu gosto da minha empregada doméstica. Mas não presto atenção ao que ela diz sobre, por exemplo, o aquecimento global ou a crise das dívidas soberanas na Europa. Por que motivo devemos prestar atenção ao que dizem os músicos sobre assuntos que eles grotescamente desconhecem?

Roger Waters é um caso recente: o líder do Pink Floyd considerou Israel um Estado perfeitamente comparável à Alemanha nazista. Motivo? A forma como trata os palestinos de Gaza e da Cisjordânia. Roger Waters só não explicou direito se também falava dos campos de extermínio e dos fornos crematórios que existem em Tel Aviv.

Ponto prévio: você, leitor, pode não concordar com a política de Israel; pode condenar vivamente a construção de assentamentos na Cisjordânia; e pode até atribuir todas as culpas do mundo aos judeus pelo fracasso das sucessivas negociações entre Israel e a autoridade palestina. Está no seu direito e na posse razoável das suas faculdades mentais.

Mas quando alguém compara Israel com a Alemanha de Hitler --o mais infame regime da história, que fabricou a morte sistemática de milhões de judeus e outras minorias e foi responsável pela maior catástrofe militar do século 20 --essa comparação não é apenas ofensiva para a "memória das vítimas", como dizem os poetas.

A comparação é ofensiva para você, leitor, tratado como um idiota ignorante por outro idiota ignorante. Por: João pereira Coutinho Folha de SP

sábado, 28 de dezembro de 2013

CENÁRIOS SOMBRIOS, UMA CHANCE PARA A PRESIDENTE

Nem Papai Noel daria à presidente Dilma Rousseff uma oportunidade melhor depois de três anos de fracasso. Todas as projeções para 2014 apontam mais um ano ruim, com baixo crescimento econômico, inflação alta e grande buraco nas contas externas. Poderá haver algum avanço no investimento – se as concessões forem adiante e começar a execução dos projetos de infraestrutura. Com um pano de fundo tão feio, será fácil exibir e celebrar como vitória qualquer desempenho melhor que o de 2013. Projeções menos sombrias poderiam criar expectativas perigosamente otimistas e sujeitar a candidata à reeleição a cobranças constrangedoras. Os mais otimistas ainda poderão apostar num fator negligenciado nas projeções conhecidas até agora: a mudança ministerial no primeiro bimestre. Mas o otimismo, neste caso, conflita com o conhecimento. A experiência proíbe a esperança, quando se trata de imaginar um Ministério mais competente, depois dessa reforma, e mais orientado para acertar.


A economia brasileira crescerá 2,3% nos quatro trimestres até setembro de 2014, segundo a nova estimativa do Banco Central (BC). Será, portanto, uma repetição do cenário geral de 2013. O quadro apresentado no último informe da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é muito parecido, mas um pouco menos luminoso: expansão de 2,4% neste ano e de 2,1% no próximo. As projeções de mercado coletadas pelo BC no dia 13 de dezembro pouco diferem das outras duas: expansão de 2,3% para o produto interno bruto (PIB) neste ano e de 2,01% em 2014 (esses números são medianas das estimativas).

A inflação deve continuar longe da meta, 4,5%, segundo as projeções publicadas até agora. A alta de preços deve ficar em 5,7% neste ano e alcançar 6% no próximo, de acordo com o documento da CNI. As estimativas do BC vão até 2015 e mostram números distantes da meta por mais dois anos. O cenário básico inclui números finais de 5,8% para 2013, 5,6% para 2014 e 5,4% para o ano seguinte. Juros básicos de 10%, recém fixados, câmbio de R$ 2,35 por dólar e contas públicas em condições mais ou menos estáveis foram tomados como base para os cálculos.

Todos esses dados justificam mais um ou dois aumentos da taxa Selic, incluídos na previsão do mercado financeiro para 2014 (já elevada de 10,25% para 10,5%). Pelas contas do mercado, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ficar em 5,7% neste ano e bater em 5,95% no próximo. Segundo o governo, continuará, portanto, dentro da meta. Patacoada. A meta é 4,5%. O resto é margem para acomodar desvios. Mas desvios tão amplos são justificáveis somente em situações muito especiais. Nada tão especial ocorreu nos últimos três anos ou quatro anos, exceto na coleção de erros de política econômica. Isso inclui, entre outros itens, a redução dos juros no momento impróprio, o excesso de gastos federais e os estímulos mal planejados ao consumo.

Crescimento baseado no incentivo ao consumo é estratégia superada, segundo os analistas menos distraídos e um pouquinho mais atentos aos números de inflação, produção industrial e comércio exterior. É preciso investir muito mais para ampliar a capacidade de produção e o potencial de crescimento da economia. Essa necessidade é agora admitida até no governo, tanto por ministros quanto por uma presidente pouco propensos a reconhecer os desajustes econômicos (eles continuam, por exemplo, classificando como “dentro da meta” qualquer inflação até o limite de 6,5%).

O potencial de crescimento do Brasil caiu de 4,3% ao ano pouco antes da crise global para 2,7% no terceiro trimestre de 2013, segundo estimativa publicada no último informe conjuntural da CNI. Para crescer mais o País precisará de mais capital físico – máquinas, equipamentos e instalações — e de muito mais produtividade. Isso dependerá tanto do setor privado quanto do governo. No ano passado o investimento diminuiu 4%. Deve ter aumentado 7,1% neste ano e poderá crescer mais 5% no próximo, de acordo com o documento da CNI. Se essas estimativas estiverem corretas, o País ainda investirá em 2014 pouco menos de 20% do PIB, bem menos que vários de seus vizinhos. No Equador, por exemplo, essa relação é próxima de 27%.

Na estimativa do BC, o investimento em capital fixo deve ter crescido 6,8% neste ano e deve aumentar 3,7% nos quatro trimestres até o terceiro de 2014. O cenário desenhado pelo pessoal da CNI parece mais bonito, mas é menos atraente quando visto em detalhes. O principal fator positivo deverá ser o programa de concessões na infraestrutura, mas seu impacto imediato será limitado.

Neste ano, o investimento privado foi em boa parte puxado pelas compras de equipamentos de transporte. A lei exigiu motores a diesel com menor emissão de enxofre e, além disso, a boa safra de grãos e oleaginosas favoreceu o aumento das frotas de caminhões e de máquinas agrícolas. As compras de outros tipos de máquinas e equipamentos também cresceram, mas em menor proporção. Isso se reflete no baixo crescimento da indústria de transformação, estimado em 2,3% pela CNI. Reflete-se também no baixo poder de competição do setor industrial, em apuros tanto no exterior quanto no mercado interno. Nem o real desvalorizado compensou a baixa competitividade da maior parte dos produtores de manufaturados.

De janeiro até a segunda semana de dezembro as exportações totais, US$ 230,42 bilhões, foram 1,6% menores que as de um ano antes, pelas médias dos dias úteis. As importações, US$ 230,4 bilhões, foram 6,7% menores. Também isso mostra a fraqueza da economia brasileira e o tamanho do desafio posto diante do governo. Reconhecer o problema, admitir sua origem interna e tentar enfrentá-lo sem os truques baratos do protecionismo será um bom começo. 
Publicado no Estadão deste sábado   Por: Rolf Kunz

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

NÃO ESTRAGUE A FESTA, ESTÚPIDO!

O país da Copa é grande e bobo. "Esta será a Copa das Copas", disse a presidente, de boca cheia, na cerimônia de sorteio dos grupos. No país dela, que é o nosso, ninguém circula nas cidades travadas, nas estradas paralisadas, nos aeroportos congestionados -mas 12 arenas superfaturadas, em recordistas 12 sedes, receberão a mais cara das Copas. Do enclave do Sauípe, uma bolha segura, esparramou-se pelo mundo a linguagem do verde-amarelismo balofo. No país da Copa, um governo "popular" e "de esquerda" reverbera, tanto tempo depois, as frases e os tiques do general-presidente que gostava de futebol. Há um cheiro de queimado no ar.


"O Brasil está muito feliz em receber todos nesta Copa porque somos um povo alegre e acolhedor." Violência é a palavra da hora -e ela surge em curiosas associações com a "Copa das Copas". A barbárie das torcidas do Atlético Paranaense e do Vasco não foi deplorada por seus significados intrínsecos, mas pelas mensagens que supostamente envia ao mundo. Gaiatos da política, do marketing e do colunismo ensaiaram uma sentença que menciona a violência "dentro e fora dos estádios". É senha, com endereço certo: no saco fundo, cabem tanto os torcedores selvagens e os sumidos black blocs quanto manifestantes pacíficos mas indignados com a "Copa das Copas". O pau vai comer.

"Não repara a bagunça" -o dístico popular nacional, candidato eterno, e perfeito, a substituir o "Ordem e Progresso" no núcleo de nossa bandeira, trai o medo da vergonha. Joseph Blatter entendeu e traduziu, chamando-nos a congelar a indignação, sublimar as insatisfações, colocar entre parêntesis as divisões. A unidade em torno de um bem maior, que é a imagem do país diante do planeta que nos vê: eis a gramática do discurso político sugerida pelo chefão da potência ocupante. No país da Copa, a convocação à unidade já foi integrada ao discurso da publicidade. Será repetida à exaustão, como uma ladainha, até o apito final. Não estrague a festa, estúpido!

"Será uma Copa para ninguém esquecer", jactou-se a presidente, formulando uma ameaça involuntária. A partir do Gabinete de Segurança Institucional, estrutura-se uma operação de guerra que abrange as três forças em armas e um desdobrado aparato cibernético. Nas telas dos computadores do sistema de vigilância, cada arena figura como ponto focal de um envelope tridimensional de segurança. Nas ruas, o controle físico do perímetro das arenas, a cargo das PMs, terá a missão de proteger as marcas dos patrocinadores oficiais da ameaça simbólica representada pela presença de manifestantes. Jamais, em tempo algum, o Estado serviu tão direta e exclusivamente a interesses privados. Não: ninguém esquecerá.

O país da Copa não se respeita. Ontem, o partido do governo celebrou políticos condenados por corrupção -e, sob o silêncio cúmplice do presidente de facto e da presidente de direito, achincalhou um STF composto por juízes que eles mesmos indicaram. O país da Copa perdeu o autorrespeito. Os líderes governistas manobram para o Congresso não ouvir um ex-secretário nacional de Justiça que acusa o governo ao qual serviu de operar uma fábrica de dossiês contra adversários políticos. O país da Copa perdeu o respeito. As lideranças do PSDB preferem empregar táticas diversionistas vexatórias a colher assinaturas para uma CPI destinada a investigar todos os contratos estaduais e federais firmados com a Siemens. Yes, nós gostamos de futebol.

No vale-tudo da nova ordem do racialismo, perdemos, ademais, um senso básico de decoro: eu li -aqui mesmo, não nas catacumbas da internet!- que Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert formaram "um casal mais parecido com representantes de afrikâners". Cores, rancores. No país da Copa, nativos felizes, contentes, de bunda de fora, tocavam caxirola. Foi bonita a festa, pá -pena que nem começou. 
Por: Demétrio Magnoli Folha de SP