Visto a captura e ocupação ilegal do Norte de Chipre em 1974 e também da cidade síria de Afrin em março deste ano, sem que houvesse, virtualmente, nenhuma reação global, a Turquia, ao que tudo indica, se sente livre, desimpedida e ansiosa para dar prosseguimento, desta vez, de olho nas ilhas gregas ricas em petróleo e gás.
"Ter interesses no Iraque, Síria, Líbia, Crimeia, Karabakh, Bósnia e outras regiões fraternas é, ao mesmo tempo, dever e direito da Turquia. A Turquia não é somente a Turquia. O dia em que desistirmos dessas coisas será o dia que desistiremos da nossa liberdade e do nosso futuro." — presidente turco Recep Tayyip Erdogan em 2016.
As necessidades turcas são, na realidade, abastecidas via sua ligação com os EUA. As autoridades turcas geralmente conseguem seja lá o que for do Ocidente, mas a impressão é que optaram em se alinhar ao Irã e à Rússia, provavelmente para chantagear o Ocidente por mais benesses.
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A Turquia continua sistematicamente desafiando a Grécia. Mais recentemente, em 17 de abril, dois caças turcos acossaram o helicóptero no qual viajava o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras e o chefe das Forças Armadas gregas almirante Evangelos Apostolakis, ao voarem da pequena ilha de Ro para Rodes.
Visto a captura e ocupação ilegal do Norte de Chipre em 1974 e também da cidade síria de Afrin em março deste ano, sem que houvesse, virtualmente, nenhuma reação global, a Turquia, ao que tudo indica, se sente livre, desimpedida e ansiosa para dar prosseguimento, desta vez, de olho nas ilhas gregas ricas em petróleo e gás.
Imagem gerada por computador do incidente de 17 de abril no qual caças turcos acossaram o helicóptero em que viajava o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras e caças gregos se aproximando para protegerem o helicóptero. (Imagem: captura de tela de vídeo da 'A News')
Outra provocação do governo turco teve lugar recentemente quando três jovens gregos prestavam homenagem a um piloto morto, hasteando cinco bandeiras em ilhotas no mar Egeu.
Segundo a mídia turca, primeiramente a Turquia pediu à Grécia que retirasse as bandeiras, em seguida empreendeu uma operação militar contra a minúscula ilha de Mikros Anthropofagos durante a noite: unidades especiais (SAT) da Marinha da Turquia supostamente retiraram as bandeiras em 15 de abril.
"Não tome medidas arriscadas", advertiu o ministro das Relações Exteriores da Turquia Mevlüt Çavuşoğlu à Grécia: "nossos soldados poderão provocar um acidente."
Inúmeros órgãos de imprensa turcos cobriram orgulhosamente a operação como se a Turquia, em uma batalha triunfante, tivesse conquistado novas terras. A mídia grega, no entanto, reportou que, de acordo com testemunhas que se encontravam nas redondezas, todas as cinco bandeiras, ao que parece, continuam hasteadas.
As ilhas do mar Egeu que a Turquia continua ameaçando invadir pertencem legal e historicamente à Grécia.
Desde que o presidente turco Recep Tayyip Erdogan visitou a Grécia em dezembro passado, a mídia turca intensificou sua campanha contra a Grécia, se posicionando a favor da guerra no tocante "à ocupação grega das ilhas". Alguns jornais afirmamque "a Grécia se tornou lar de terroristas hostis à Turquia". Outros dizem que "a Grécia está planejando invadir a Turquia". Colunistas ressaltam que "a Turquia poderá entrar em confronto com a Grécia no mar Egeu", outros ainda acusamfuncionários consulares gregos em Istambul de procurarem reviver o império bizantino grego por meio de uma exposição que o consulado grego organizou em Istambul, aberta de dezembro de 2017 a janeiro de 2018.
Por que a obsessão de tantos turcos em relação à Grécia?
Em 1923 após um maciço ataque contra os gregos da Anatólia, o genocídio de 1913 a 1923, foi fundada a república turca. Desde então, os objetivos expansionistas da Turquia parecem se inspirar na história de uma aparente agressão, ódio aos gregos, neo-otomanismo e uma tradição islâmica de conquista ou de jihad.
A partir de meados do século XV até a proclamação da primeira república helênica em 1822, as fronteiras da Grécia moderna foram ocupadas pelo Império Otomano. Erdogan tem sido aberto sobre seus objetivos de ressuscitar o Império ou pelo menos expandir o território turco, tanto quanto possível:
"Há fronteiras físicas e há fronteiras em nossos corações", salientou ele. "Somos interpelados: 'por que vocês têm interesse no Iraque, Síria, Geórgia, Crimeia, Karabakh, Azerbaijão, os Bálcãs e o Norte da África?'... Nenhuma dessas terras é alheia a nós. É possível separar Rize (Turquia) de Batumi (Geórgia)? Como podemos considerar Edirne (Turquia) separada de Tessalônica (Grécia)? Como podemos achar que Gaziantep (Turquia) não tem nada a ver com Alepo (Síria), Mardin (Turquia) com Al-Hasakah (Síria) ou Siirt (Turquia) com Mossul (Iraque)?
"De Trácia à Europa Oriental, a cada passo que se dá, é possível encontrar vestígios dos nossos ancestrais... Teríamos que negar nosso próprio íntimo para imaginarmos que Gaza e a Sibéria, com os quais falamos a mesma língua e compartilhamos a mesma cultura, estão separadas de nós. Ter interesses no Iraque, Síria, Líbia, Crimeia, Karabakh, Bósnia e outras regiões fraternas é, ao mesmo tempo, dever e direito da Turquia. A Turquia não é somente a Turquia. O dia em que desistirmos dessas coisas será o dia que desistiremos da nossa liberdade e do nosso futuro".
Erdogan também se referiu ao Misak-ı Milli ("Pacto Nacional"), um conjunto de decisões tomadas pelo parlamento otomano em 1920 relativo às fronteiras do futuro estado turco a ser estabelecido na Turquia Otomana. Os turcos normalmente se referem ao Pacto Nacional quando acenam para a expansão territorial turca.
O jornal turco Hürriyet realça:
"Há historiadores que afirmam que de acordo com o Pacto Nacional, faz parte das fronteiras turcas, além das fronteiras atuais da Turquia, Chipre, Alepo (Síria), Mossul, Erbil, Kirkuk (Iraque), Batumi (Geórgia). Tessalônica (Grécia), Kardzhali, Varna (Bulgária) e as ilhas do mar Egeu."
Em 18 de abril, o Ministério das Relações Exteriores turco afirmou que "as rochas de Kardak (ilhotas Imia da Grécia) e suas águas territoriais bem como seu espaço aéreo são exclusivos da soberania turca."
Os principais partidos políticos da Turquia estão alinhados em seu desejo de invadir as ilhas do Mar Egeu, o que eles discordam, acima de tudo, é quanto ao culpado de ter permitido a soberania grega sobre as ilhas. O principal partido de oposição, CHP (Partido Republicano Popular), acusa o AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) de "deixar os gregos ocuparem as ilhas turcas", o AKP acusa o CHP, partido fundador da Turquia, de "deixar os gregos tomarem as ilhas através do tratado de Lausanne de 1923".
As buscas da Turquia por novas conquistas econômicas advindas da indústria do turismo, mas principalmente do recém-descoberto potencial de petróleo e gás do mar Egeu, parecem ter intensificado e renovado o interesse da Turquia em relação à Grécia.
Em 2011, após enfrentar uma crise econômica, a Grécia relançou a exploração de gás e petróleo. No ano passado, segundo a Reuters, a empresa francesa Total e a italiana Edison assinaram um contrato de leasing para a exploração de petróleo e gás na Grécia.
Embora a Grécia possa estar disposta a fazer parceria com a Turquia no campo econômico, a Turquia pelo jeito prefere "outros meios".
As necessidades turcas são, na realidade, abastecidas via sua ligação com os EUA. As autoridades turcas geralmente conseguem seja lá o que for do Ocidente, mas a impressão é que optaram em se alinhar ao Irã e à Rússia, provavelmente para chantagear o Ocidente por mais benesses.
Enquanto isso, os políticos turcos ameaçam a Grécia na TV estatal turca. Yiğit Bulut, conselheiro chefe de Erdogan, salientou recentemente que ele quer vingar o sangue de seu avô, que ele alega ter sido morto pelos gregos:
"A Anatólia (Turquia) vai pisotear toda a Grécia. E ninguém pode impedir isso. A Grécia deveria se retirar à sua insignificância. Se os gregos tentarem atacar e estuprar a geografia como fizeram há 100 anos, confiando no presidente francês Macron, na Inglaterra, nos EUA, na Alemanha e em Angela Merkel, as coisas acabarão muito mal".
A hora de dar um basta à Turquia é agora.
Por: Uzay Bulut, jornalista turca nascida e criada na Turquia. Atualmente ela está radicada em Washington D.C. 22 de Abril de 2018
Original em inglês: Turkey Targeting Greece - Again
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org