segunda-feira, 18 de junho de 2012

ALARMISMO SUSTENTÁVEL

Os ambientalistas estão em polvorosa com o evento Rio+20, que consumiu milhões em gastos públicos e mobilizou inúmeras ONGs, além da grande imprensa. Seu tema ganhou a ordem do dia, e o foco de quase todos se voltou na direção dos mais alarmistas. O linguajar escatológico e as profecias apocalípticas viraram destaque no mundo todo. É o auge do ecoterrorismo. O pânico vende bem. Oportunistas sempre souberam explorar a “pulsão de morte” presente em todos nós, segundo Freud. O livro sobre o Apocalipse na Bíblia sempre conquistou milhões de pessoas, todos aguardando ansiosamente pelo “juízo final”. Profetas sempre encontraram demanda para suas profecias catastróficas. Nostradamus fez sucesso em sua época e até hoje faz. Malthus virou praticamente guru de seita, com diversos seguidores prevendo a próxima desgraça iminente. O fim do mundo assusta, mas fascina. Claro que o assunto ambientalismo não ficaria de fora disso. Ao contrário: ele é um prato cheio para tais oportunistas. Afinal, o clima é um fenômeno complexo, sob a influência de infinitas variáveis e, portanto, imprevisível em certo ponto. Além disso, os leigos são totalmente ignorantes sobre o seu funcionamento. Nada melhor para embalar com a roupagem científica as previsões sem base alguma. O alarmismo seduz. Para adicionar insulto à injúria, os socialistas ficaram órfãos após a queda do Muro de Berlim e do império soviético, sem uma ideologia para atacar o capitalismo. Encontraram o refúgio perfeito no ecoterrorismo. Podem culpar o capitalismo por seu sucesso, por criar riqueza demais, colocando o planeta em risco. Alegam que o padrão de consumo dos americanos necessitaria de outros cinco planetas Terra. Muitos ambientalistas viraram “melancias”: verdes por fora, mas vermelhos por dentro. A palavra do momento passou a ser sustentabilidade. Um termo lindo, sem dúvida, mas que teve seu sentido completamente obliterado pelos oportunistas, assim como vários outros, como liberdade, cidadania, progresso ou justiça. Ninguém pode ser contra um desenvolvimento sustentável. A questão é saber como obter esta meta. Os ambientalistas, tais como os esquerdistas em geral, simplesmente monopolizaram o fim nobre, evadindo-se do debate sobre o melhor meio para alcançá-lo. A afirmação de que os recursos naturais são finitos e estão se esgotando, por exemplo, ignora os avanços tecnológicos que permitem o uso bem mais eficiente destes recursos. Edwin Drake fez a primeira perfuração bem sucedida na Pensilvânia em 1859, achando petróleo. Poucos anos depois, já existiam especialistas alertando que a capacidade do “ouro negro” estava chegando perto do fim. O Clube de Roma, o mesmo que hoje faz alertas catastróficos, previu na década de 1970 que havia poucos anos de sobrevida para os principais recursos naturais. A sorte dos alarmistas é que as pessoas têm memória curta. Aprendemos com a história que poucos aprendem com a história. As revistas especializadas da década de 1970 estampavam nas capas alertas sobre o esfriamento global iminente. Uma nova era do gelo estaria logo ali na frente. Depois, o aquecimento global passou a ser o maior risco de todos, com direito a muita histeria e paranoia. Hoje já falam em “mudanças climáticas”, termo vago que serve em qualquer ocasião. Mas voltando ao ponto crucial da sustentabilidade, faz-se necessário debater os mecanismos mais adequados para garantir o futuro do progresso. E estes mecanismos passam longe das propostas pregadas pelos ambientalistas típicos. Não é abraçando a pobreza que vamos preservar o planeta, que, aliás, está aí para nos servir, ao contrário do que pensam os mais radicais que transformaram a natureza em uma deusa e o ambientalismo em seita religiosa. Para estes, o homem é a praga que deve ser eliminada pelo bem da “mãe” natureza (se tivessem que enfrentar o “inferno verde” de verdade, chamariam de madrasta natureza). Tampouco é incutindo pânico nas crianças e ensinando a fechar o chuveiro durante o banho que vamos atacar o problema. O uso de sacolas ecologicamente corretas e das bicicletas pode até causar a sensação de superioridade moral nos ecochatos, assim como os alimentos orgânicos, mas não vão resolver nada de concreto. E como obter então a desejada sustentabilidade? Ora, com mais capitalismo! O direito de propriedade privada é o melhor mecanismo de incentivo ao uso racional dos recursos. Vide as empresas privadas investindo para preservar sua lucratividade e seus ativos no longo prazo, enquanto estatais acabam utilizadas para fins eleitoreiros de curto prazo. O avanço tecnológico, fruto do capitalismo, pode fazer milagres também. O carvão queimado na China é bem mais poluente que as fontes de energia de países mais ricos. O homem sempre transformou a natureza, e assim deve continuar fazendo. Produzir mais usando menos insumos é a marca registrada do capitalismo. É disso que o planeta precisa! Os recursos são finitos desde sempre e, no entanto, hoje eles são suficientes para preservar a vida de 7 bilhões de seres humanos, enquanto na Idade Média este número não chegava a décima parte. O que mudou? O advento do capitalismo e seu choque de produtividade. Se dependesse dos malthusianos da época, literalmente bilhões de pessoas não existiriam hoje (talvez isso seja visto com bons olhos pelos misantropos que preferem as árvores aos homens). A retórica ambientalista, repleta de alarmismo infundado, precisa ser rechaçada em prol do progresso e da vida de bilhões de pessoas. Isso não quer dizer que devemos simplesmente ignorar questões como poluição ou sustentabilidade, mas sim que o caminho para estes objetivos são muitas vezes contrários ao que pregam os “verdes”. O ambientalismo cada vez mais assume cores autoritárias, de planejamento central com excesso de poder concentrado no estado em nome do “bem geral”. É a nova cor do totalitarismo. O capitalismo liberal é o grande vilão deste movimento. Se o ecoterrorismo vencer esta batalha de ideias – e esse tem sido o caso até agora –, então a verdadeira sustentabilidade estará em perigo. Infelizmente, profetas do apocalipse sempre conseguiram amplas plateias para suas previsões, por mais erradas que tenham se mostrado no passado. Se há uma coisa que é realmente sustentável, é o alarmismo dos oportunistas. Como é difícil combater esta praga usando somente a razão! Por: Rodrigo Constantino

RIO + 20 = 0

Às vésperas da conferência Rio-92, 20 anos atrás, o secretário-geral da Cúpula da Terra, Maurice Strong, afirmou: “Esta é a nossa última chance de salvar o planeta”. Agora, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, avisa que a Rio+20 é a “única oportunidade” de garantir um futuro sustentável. Do jeito como as coisas vão, a Rio+40 será a última oportunidade de salvar o mundo dos ecoburocratas, que estão cada vez mais contagiosos e letais. Os negociadores dos mais de 130 países que estarão representados na conferência estão preocupados. Vários deles já disseram que a grande questão a decidir na Rio+20 é quem financiará o desenvolvimento sustentável, com quanto dinheiro. E que não há acordo à vista sobre isso. Talvez seja necessário responder a outra questão antes dessa: quem nos salvará dessas festas ecológicas milionárias que não decidem nada? Quem dará um basta nesses banquetes insustentáveis que discutem sustentabilidade? Quem dará um basta nesses banquetes insustentáveis que discutem sustentabilidade? Ninguém segura a patrulha da bondade e seu alegre circo do apocalipse. No picadeiro da salvação sempre cabe mais um. É aquela oportunidade valiosa para os ativistas de si mesmos descolaremmais um flash por um mundo melhor. O oportunismo é verde. Cientistas políticos gritam que o tempo está se esgotando, artistas buscam sofregamente algum bordão conceitual, mesmo que se atrapalhem um pouquinho – como na célebre frase de uma cantora de MPB em momento ético: “O problema do Brasil é a falta de impunidade”. Enquanto a feira de lugares-comuns e o show de autoajuda planetária evoluem na avenida, o mundo piora. A crise nascida na Europa veio mostrar que a farra estatal é boa, mas um dia a conta chega. Com a licença dos ecologistas: pode ser a última chance de descobrir que não é o Estado que sustenta a sociedade, mas o contrário. E que não existe Estado forte com sociedade fraca. Pois é nesse momento de alerta contra os governos perdulários que se monta o colossal almoço grátis da Rio+20. Um banquete para discutir o desperdício. Haja sustentabilidade. O que quer a faminta burocracia verde, com seus sábios fashion de bolinha vermelha na testa e seus relatórios sobre o fim do mundo? Quer a Bolsa Ecologia. Quer mais dinheiro do contribuinte para mais relatórios, mais comissões, mais mesadas para ONGs, mais conferências coloridas e animadas. Enquanto isso, a vida real vai muito bem, obrigado, para monstros como a usina hidrelétrica de Belo Monte – uma estupidez ecológica, uma aberração econômica e um monumento ao desperdício estatal. O custo cada vez mais insustentável da energia nuclear também não é problema para os abastados anfitriões da Rio+20, como prova a construção de Angra 3 – cujo lixo radioativo tem garantia até a Rio+2020. Passaporte para o futuro é isso aí. Duas décadas de sustentabilidade conceitual não chatearam os vilões reais. Na Rio 92, foram assinadas as convenções de Biodiversidade e do Clima. A primeira instituiu o direito das populações tradicionais sobre o patrimônio genético de suas terras. Enquanto a biotecnologia progride, os povos da maior floresta tropical da Terra continuam a ver navios no Rio Amazonas. Os royalties que conhecem vêm do contrabando de madeira – porque infelizmente não podem se alimentar de convenções. A Convenção do Clima gerou o que se sabe: uma sucessão de protocolos sobre redução das emissões de gás carbônico. Cada um é mais severo que o anterior, devidamente descumprido. Com novos prazos de carência, as metas vão ficando mais ambiciosas, numa espécie de pacto com o nunca. E aí está a patrulha da bondade em mais uma conferência planetária, reunindo os melhores especialistas internacionais em sustentabilidade e sexo dos anjos. Eles dirão que o mundo vai acabar e a culpa é sua. Mandarão você deixar seu carro na garagem e tomar banho rápido. Não falarão em controle populacional, porque isso é de direita. Eles são progressistas, sociais, amam cada um dos 7 bilhões de habitantes da Terra, que serão 10 bilhões até o fimd este século, todos muito bem-vindos. O problema, claro, é do capitalismo individualista, cheio de egoístas que demoram no banho. Serão necessários muitos banquetes ecológicos para mudar essa mentalidade. Fonte: revista Época Por: 18 de junho de 2012 Autor: Guilherme Fiuza

OS PERIGOS DO ENDIVIDAMENTO EXTERNO

Economistas e jornalistas frequentemente citam os perigos da dívida pública externa — em contraposição à dívida interna, que normalmente é considerada menos preocupante. O Japão é um bom exemplo. O país possui uma enorme dívida pública em relação ao PIB, de mais de 200%. Mas argumenta-se que esta enorme porcentagem não seria um problema porque os japoneses poupam muito e os títulos do governo japonês estão majoritariamente nas mãos de cidadãos japoneses. Seria, portanto, uma dívida essencialmente interna. Em contrapartida, a Espanha, que possui uma relação dívida/PIB muito mais baixa (espera-se que ela atinja 80% ao final deste ano), é considerada muito mais instável pelos investidores. Um dos motivos apresentados para a fragilidade espanhola é que aproximadamente metade dos títulos do governo espanhol está nas mãos de estrangeiros.[1] À primeira vista, é de se duvidar deste raciocínio. De fato, sendo eu um indivíduo que mora na Espanha, pouco me importa se o empréstimo que irei obter será de um amigo espanhol ou de um amigo alemão. Por que seria diferente para o governo espanhol? Por que se importar se os empréstimos virão de espanhóis ou de alemães? Governos, em última instância, se baseiam na violência física ou na ameaça de violência física. O estado possui o monopólio da violência dentro de um determinado território. E é na violência que jaz a diferença. Uma dívida cujos títulos estejam em posse de cidadãos nacionais gera renda para estes cidadãos, os quais, por sua vez, são tributados pelo governo nacional, que possui o monopólio da violência. Isto significa que parte dos juros que o governo paga sobre a dívida interna volta para o governo por meio de impostos. Já os juros pagos sobre a dívida externa vão para o bolso de cidadãos estrangeiros, os quais são tributados pelos governos destes outros países. Sendo assim, o governo nacional nada ganha no final. Mas há outro e ainda mais persuasivo motivo por que o monopólio da violência é importante: eu não posso forçar nem o meu amigo espanhol nem o meu amigo alemão a rolarem seu empréstimo para mim quando ele maturar. Embora o governo nacional não possa forçar aqueles indivíduos fora do seu território a rolarem os empréstimos que concederam, ele pode forçar cidadãos e instituições dentro de sua jurisdição a fazê-lo. De uma forma mais sutil, governos podem pressionar seus financiadores tradicionais, os bancos, a rolarem a dívida pública. Bancos e governos vivem em uma relação de simbiose. Os governos concederam aos bancos o privilégio de operarem com reservas fracionadas, e deram ao sistema bancário garantias implícitas e explícitas de socorro em caso de problemas. Um apoio adicional é fornecido por meio de um banco central controlado pelo governo, o qual pode ajudar em casos de problemas de liquidez. Adicionalmente, os governos controlam o sistema bancário por meio de uma miríade de regulamentações. Em troca do privilégio de poderem criar dinheiro do nada através do mecanismo das reservas fracionárias, os bancos utilizam este poder para financiar os governos comprando os títulos de sua dívida. Por causa deste intenso relacionamento e do monopólio estatal da violência, o governo japonês pode pressionar seus bancos a rolarem a dívida pendente. Ele também pode pressioná-los a não saírem vendendo abruptamente os títulos desta dívida (o que faria com que seus preços caíssem e, consequentemente, os juros subissem), bem como estimulá-los a comprarem ainda mais dívida. No entanto, o governo japonês não pode obrigar os estrangeiros a se absterem de vender os títulos desta dívida ou a comprarem ainda mais. E é aí que está o perigo para os governos que possuem uma alta porcentagem de dívida em mãos estrangeiras, como é o caso do governo espanhol. Ao passo que os bancos e os fundos de investimento espanhóis irão obedecer ao governo da Espanha e não irão inundar o mercado com títulos da dívida do governo espanhol, as instituições estrangeiras podem fazer o oposto.[2] E o governo espanhol não pode "persuadi-las" ou "forçá-las" a não agir assim, uma vez que elas estão localizadas em outras jurisdições. A única coisa que o governo espanhol pode fazer — e os governos da periferia do euro já estão fazendo — é pressionar os políticos destes países credores a pressionarem seus próprios bancos a manterem esses títulos da dívida em seus balancetes, e rolá-los em vez de vendê-los. O endividamento externo também representa um perigo para o governo dos EUA. Bancos centrais estrangeiros, como o Banco Central da China ou o Banco Central do Japão, estão em posse de somas substantivas de títulos da dívida do governo americano. A ameaça — crível ou não — de despejar estes títulos no mercado (e, com isso, levar a um grande aumento dos juros nos EUA) pode dar a estes governos, especialmente o chinês, alguma alavancagem política. E o déficit na balança comercial? No que diz respeito à estabilidade de uma moeda ou à sustentabilidade da dívida de um governo, a balança comercial (a diferença entre exportações e importações de bens e serviços) também é importante. Um superávit de exportações implica que um país está acumulando ativos estrangeiros — afinal, exportações trazem ao país moeda estrangeira, a qual tende a ser reinvestida no seu país de origem, normalmente em títulos da dívida do governo de lá. À medida que ativos estrangeiros são acumulados, a moeda nacional tende a ficar mais forte. Ativos estrangeiros podem ser utilizados em momentos de crise para financiar a reparação de estragos. O Japão, novamente, nos fornece um bom exemplo. Após o terremoto de março de 2011, ativos estrangeiros foram repatriados para o Japão e foram utilizados para pagar as importações necessárias. Cidadãos japoneses venderam seus dólares e euros em troca de produtos de infraestrutura, com os quais repararam os estragos ocorridos no país. Não houve nenhuma necessidade de pedir empréstimos em moeda estrangeira, o que pressionaria o iene. O superávit comercial do Japão também se manifesta no balancete do Banco Central do Japão. Ao exportarem, os exportadores japoneses são pagos em moeda estrangeira, a qual é comprada pelo Banco Central do Japão em troca de ienes para os exportadores. Estas reservas estrangeiras podem ser utilizadas em uma situação de crise para reduzir a dívida pública ou para defender o valor da moeda no mercado de câmbio. Com efeito, se considerarmos as reservas estrangeiras em posse do Banco Central do Japão (de mais de US$ 1 trilhão), a dívida líquida de seu governo cai 20%. Sob essa ótica, superávits comerciais tendem a fortalecer uma moeda e a sustentabilidade da dívida pública do país. Por outro lado, déficits comerciais — por um mecanismo inverso ao explicado acima — resultam em uma maior quantidade de dívida em mãos de estrangeiros. Um país com vários anos de déficits em sua balança comercial tende a ficar exposto a uma grande quantia de endividamento externo, algo que pode gerar problemas para o governo no futuro, como também discutido acima. A balança comercial pode também ser um indicador da competitividade de uma economia e, indiretamente, da qualidade de sua moeda. Quanto mais competitiva a economia, mais o governo tende a conseguir se financiar por meio apenas da expropriação da riqueza real criada por esta economia competitiva, de modo que ele não terá problemas com o endividamento público. Adicionalmente, quanto mais competitiva a economia, menores as chances de os problemas gerados pelo endividamento público serem resolvidos por meio da impressão de dinheiro. Ao passo que um superávit comercial é um sinal de competitividade — pois a economia estaria produzindo mais do que consome —, um déficit comercial pode ser um sinal de falta de competitividade, pois a economia estaria produzindo menos do que consome. Com efeito, déficits comerciais duradouros, além de serem um sinal de falta de competitividade, frequentemente andam de mãos dadas com um alto endividamento público, o que exacerba a falta de competitividade da economia. Economias com salários elevados e inflexíveis — como as do sul da Europa — podem ser pouco competitivas, e em consequência apresentarem déficits comerciais. A falta de competitividade é sustentada pelos altos gastos do governo. Os governos do sul da Europa contrataram um número excessivo de pessoas para ocuparem sinecuras em seus inchados setores públicos, criaram generosos esquemas de aposentadoria precoce, e ofereceram auxílios-desemprego em massa, aliviando desta forma as consequências do desemprego gerado por um mercado de trabalho inflexível. O resultado deste aumento nos gastos públicos foi não apenas uma falta de competitividade e um déficit comercial, mas também um déficit orçamentário para os governos. Consequentemente, déficits orçamentários e comerciais frequentemente andam lado a lado. Na periferia europeia, as importações foram pagas com empréstimos concedidos por outros países da zona do euro. O déficit comercial destes países não pode durar para sempre, pois o endividamento público iria aumentar para sempre. Uma situação de contínuo déficit comercial, como o da Grécia, pode ser interpretada como um falta de vontade política para se reformar o mercado de trabalho e, com isso, readquirir competitividade. Por conseguinte, contínuos déficits comerciais podem causar uma desvalorização da moeda ou uma venda em massa dos títulos públicos deste país. Neste sentido, o superávit comercial da Alemanha sustenta o valor do euro, ao passo que os déficits comerciais da periferia europeia diluem seu valor. Em suma, uma dívida pública alta (em mãos estrangeiras) e contínuos déficits comerciais são sinal de uma moeda fraca. O governo pode ter de dar um calote ou de recorrer à impressora de dinheiro para tentar se livrar destes problemas. Por outro lado, uma dívida pública baixa (em mãos estrangeiras) e contínuos superávits comerciais tendem a fortalecer uma moeda.[3] [1] Outro importante motivo é que o governo espanhol não pode utilizar a impressora de dinheiro sempre que quiser, pois ela é compartilhada por outros governos da zona do euro, os quais podem protestar. Já o governo do Japão, por outro lado, controla seu banco central e, consequentemente, a impressora de dinheiro. [2] Vale notar que os títulos recém-emitidos da dívida espanhola estão exclusivamente em mãos de bancos espanhóis, pois outros investidores estão cada vez menos interessados em financiar um governo que simplesmente se recusa a implantar medidas de austeridade reais e efetivas. [3] Neste ponto, vale ressaltar a importância de um orçamento equilibrado. Caso os déficits orçamentários de um país (por exemplo, o Brasil) fossem eliminados, os déficits comerciais fariam com que os estrangeiros, em vez de aplicarem o dinheiro de suas exportações em títulos do governo brasileiro, necessariamente direcionassem esse dinheiro para o setor produtivo brasileiro, aumentando a riqueza nacional. Déficits comerciais não ampliariam a dívida em mãos estrangeiras, de modo que todo o resultante investimento estrangeiro ampliaria a poupança e a acumulação de capital do país. O problema, portanto, não é a existência de déficits comerciais, mas sim a existência de déficits orçamentários do governo. [N. do .T.] Philipp Bagus é professor adjunto da Universidad Rey Juan Carlos, em Madri. É o autor do livro A Tragédia do Euro. Veja seu website. Tradução de Leandro Roque

LULA E MALUF


18/06/2012
 às 15:39 \ Direto ao Ponto

Sarney merecia ser padrinho do casamento celebrado na visita de Lula à casa de Maluf

Em setembro de 1987, num discurso em Aracaju, o deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e dono do PT, juntou no mesmo balaio da gatunagem o então presidente José Sarney e os ex-governadores paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf. Trecho:
“E a Nova República é pior do que a velha, porque antigamente na Velha República era o militar que vinha na televisão e falava, e hoje o militar não precisa mais falar porque o Sarney fala pelos militares ou os militares falam pelo Sarney. Nós sabemos que antigamente ─ os mais jovens não conhecem ─, mas antigamente se dizia que o Ademar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão; pois bem: Ademar de Barros e Maluf poderiam ser ladrão, mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da nova República, perto dos assaltos que se faz”.
Nesta segunda-feira, Lula levou Fernando Haddad à mansão de Maluf para a pajelança que celebrou a troca de alianças entre o PT e o PP controlado pelo homem que considerava um ícone da ladroagem. “Não há contradição”, gaguejou Haddad. “A cidade de São Paulo deve ficar acima de possíveis divergências ideológicas entre as duas siglas”.
Feliz com os salamaleques dos visitantes, o anfitrião fez de conta que também achou muito natural a barganha que juntou o “homem novo” (segundo o Lula de 2012) e o velho inimigo que o Lula de 1987 chamava de ladrão. “Não adianta olhar pelo retrovisor”, ensinou Maluf. “Temos que olhar para o para-brisa”. Previsivelmente, Lula não quis fazer declarações. Ordem médica, alegou. Conversa fiada. Ele não tem o que dizer. Falaram por ele os sorrisos e o aperto de mãos que trocou com o dono da casa que visitou pela primeira vez.
De 1987 para cá, Maluf incorporou ao prontuário façanhas tão extraordinárias que acabou entrando no ranking dos mais procurados pela Interpol. Como o encontro revogou oficialmente a discurseira do passado, o ex-presidente perdeu uma boa chance de redimir-se por inteiro dos pecados de Aracaju. José Sarney merecia ser padrinho do casamento obsceno. Ao lado de Maluf, hoje é ele quem parece trombadinha. Por: Augusto Nunes

BAÚ DE PRESIDENTES

‘A soma e o resto’, o livro mais recente de Fernando Henrique Cardoso 

Desde que a carranca de Jânio Quadros substituiu o sorriso de Juscelino Kubitschek em 1961, o gabinete presidencial já hospedou napoleões de hospício, generais de exército da salvação, perfeitas cavalgaduras, messias de gafieira, gatunos patológicos, vigaristas provincianos e outros exotismos da fauna brasileira. A rotina da anormalidade ─ que seria retomada por Lula, um ex-operário metalúrgico que acha leitura pior que exercício em esteira, e mantida por Dilma Rousseff, primeira mulher a exercer o cargo (e provavelmente a primeira figura a governar um país sem conseguir expressar-se de modo inteligível) ─ só foi interrompida entre 1° de janeiro de 1995 e 31 de dezembro de 2002, quando o Palácio do Planalto abrigou Fernando Henrique Cardoso. A soma e o resto ─ um olhar sobre a vida aos 80 anos (Civilização Brasileira; 195 páginas; 29,90 reais) confirma que foi FHC o ponto fora da curva. Lula e Dilma são duas formidáveis singularidades, mas parecem à vontade na galeria de retratos que os tornou vizinhos de parede de Jânio, João Goulart, Emilio Medici, João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor ou Itamar Franco. Todos executam harmoniosamente a partitura da ópera do absurdo. O acorde dissonante é Fernando Henrique, constata quem ouve as mais de 10 horas de lembranças, reflexões e desabafos reunidas no livro organizado por Miguel Darcy de Oliveira. Eleitos pelo voto popular ou impostos pelo regime militar, quase todos os ex-presidentes têm tudo a ver com o Brasil dos 14 milhões de analfabetos, dos 50 milhões que não compreendem o que acabaram de ler nem conseguem somar dois mais dois, da imensidão de miseráveis embrutecidos pela ignorância. Tal paisagem ajuda a entender por que tantos brasileiros se dobraram a populistas sedutores ou foram dobrados por autoritários fardados. E torna especialmente intrigante a passagem pela Presidência de um intelectual brilhante, exemplarmente democrata, que escreveu muitos livros e fala sem espancar a língua portuguesa. A leitura de A soma e o resto explica alguma coisa, mas acentua a suspeita de que Fernando Henrique tinha tudo para não ser presidente do Brasil da virada do século. “Este talvez seja o livro mais espontâneo que já publiquei”, avisa FHC. É mesmo: a transcrição quase literal das falas resultou numa obra sem parentesco formal com a escrita sofisticada (e eventualmente impenetrável) do sociólogo mundialmente respeitado. Tal opção cobrou seu preço em redundâncias, raciocínios que pedem mais espaço e histórias interrompidas. Esses pecados veniais são amplamente compensados por revelações que só ocorrem em diálogos sem gravata. Avesso a derramamentos e confidências, FHC nunca foi tão longe nas viagens íntimas, sobretudo as que o levam a reencontrar os pais e os avós. Aos 80 anos, completados em 18 de junho, ele enfim se animou a esboçar o retrato de um futuro presidente quando menino. Acabou tornando bem mais nítidos os contornos do adulto. “Sou cartesiano, mas com pitadas de candomblé”, informa. “Acasos, acidentes, escolhas, capacidade para assumir riscos… Os pontos de inflexão na minha trajetória são um misto de tudo isso”. A frase se ampara na trajetória do professor universitário que disputou a primeira eleição aos 48 anos, virou suplente de senador, substituiu o titular em 1982, perdeu a prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros em 1985, conseguiu outro mandato no Senado um ano mais tarde e já se conformara com a ideia de tentar uma vaga na Câmara dos Deputados, em 1994, quando o presidente Itamar Franco decidiu que seu chanceler deveria ser ministro da Fazenda. Os acasos e acidentes o colocaram frente a frente com a inflação de três dígitos. Coisas do candomblé. E então o cartesiano entrou em ação. Escolheu uma equipe de economistas excepcionais, comandou a implantação do Plano Real, rebaixou a inflação a porcentagens europeias e virou presidente. Por oito anos. “É a curiosidade que me move”, diz. “O sentido que dei à minha vida foi tentar perceber o que vem de novo por aí”. Essa curiosidade permanente o levaria a inventar, de volta à planície, a versão brasileira do ex-presidente surgida nos Estados Unidos em 1951, quando a 22ª emenda estabeleceu o limite de dois mandatos. Nesta primavera, por exemplo, José Sarney e Fernando Collor agonizam no Senado e Lula escolhe candidatos a prefeito. Fernando Henrique se reúne com os Elders, grupo de ex-governantes fundado por Nelson Mandela, protagoniza um documentário sobre o problema das drogas, busca soluções para o Oriente Médio, escreve livros e coleciona afagos até da presidente Dilma Rousseff. No Brasil, quem conheceu o coração do poder não consegue respirar longe das urnas. FHC deixou a política miúda para, sem sair da vida, entrar na história. Por: Augusto Nunes

ATOLEIRO SÍRIO

Mais cedo ou mais tarde, após Assad e a sua encantadora esposa levantarem acampamento, os islamistas provavelmente tomarão o poder, os sunitas se vingarão e as tensões regionais irão se desenrolar na Síria. 

À medida que o governo sírio aumenta de forma desesperada e cruel os esforços em se manter no poder, apelos para uma intervenção militar, mais ou menos no modelo líbio, têm se tornado cada vez mais insistentes. Com certeza, esse curso é moralmente atraente. Mas, será que os países ocidentais deveriam seguir esse ponto de vista? Acredito que não. 

Essas chamadas à ação se dividem em três principais categorias: a muçulmana sunita que diz respeito aos seus correligionários, a que afeta a preocupação universal para o fim das torturas e assassinatos e a geopolítica que trata do impacto do conflito em andamento. Os primeiros dois motivos podem ser facilmente descartados. Se os governos sunitas – notadamente os da Turquia, Arábia Saudita e Catar – optassem por intervir em favor de seus colegas sunitas contra os alauitas, esta seria a prerrogativa deles e o Ocidente está pouco se lixando. 

Interesses humanitários em geral enfrentam problemas de veracidade, viabilidade e importância. Insurgentes anti-regime, que estão vencendo no campo de batalha, aparentam ser responsáveis pelo menos por algumas atrocidades. Eleitorados ocidentais poderão não aceitar o preço em sangue e dinheiro necessários para uma intervenção humanitária. O resultado tem que ser muito rápido, digamos um ano. O governo sucessor poderá (como no caso líbio) ser ainda pior do que o totalitarismo atual. Juntos, esses fatores defendem de forma consistente a posição contra a intervenção humanitária. 

Interesses quanto à política externa deve ter precedência, pelo fato dos países ocidentais não estarem tão fortes e seguros a ponto de dirigirem os olhos para a Síria apenas por preocupação pelos sírios, e mais do que isso, eles devem ver o país de forma estratégica, colocando a prioridade na sua própria segurança. 

Robert Satloff do Washington Institute for Near Eastern Policy resumiu com presteza no The New Republic as razões pelas quais uma guerra civil na Síria apresenta perigo aos interesses dos Estados Unidos: o regime de Assad poderá perder o controle sobre o arsenal químico e biológico, poderá renovar a insurgência do PKK contra Ancara, regionalizar o conflito pressionando a sua população palestina a cruzar as fronteiras jordanianas, libanesas e israelenses e combater os sunitas do Líbano, reacendendo a guerra civil libanesa. Os combatentes sunitas membros da jihad, por sua vez poderiam transformar a Síria em um ponto de conexão global do violento terrorismo islamista – na vizinhança da OTAN e de Israel. Por último, ele receia que um conflito prolongado daria aos islamistas mais oportunidades do que um conflito de curta duração. 

A minha resposta: Sim, as armas de destruição em massa poderão ficar fora de controle, mas eu me preocupo mais que caiam nas mãos de um governo sucessor islamista. Uma renovada insurgência do PKK contra o governo hostil, ora no poder na Turquia, ou o aumento nas tensões sunitas-alevitas naquele país, sequer contam como prioridade no Ocidente. Expulsar os palestinos dificilmente desestabilizaria a Jordânia ou Israel. O Líbano já é uma bagunça balcanizada e, ao contrário ao período de 1976-91, a luta interna em andamento afeta de forma marginal os interesses do Ocidente. A campanha da jihad global conta com recursos limitados, o local pode não ser o ideal, mas o que há de melhor do que combater o Pasdaran (Corpo de Guarda da Revolução Iraniana) até a morte na Síria? 

E quanto ao tempo que conspira contra os interesses do Ocidente: ainda que o conflito sírio terminasse agora, eu não vejo nenhuma perspectiva de aparecer um governo com diversidade étnica ou religiosa. Mais cedo ou mais tarde, após Assad e a sua encantadora esposa levantarem acampamento, os islamistas provavelmente tomarão o poder, os sunitas se vingarão e as tensões regionais irão se desenrolar na Síria. 

 Além disso, a derrubada do governo sírio não significa o fim imediato da guerra civil. O mais provável é que a queda de Assad conduzirá os alauitas e outros elementos apoiados pelo Irã a se oporem ao novo governo. Além do mais, como mostra Gary Gambill, o envolvimento militar do Ocidente poderia reforçar a oposição a um novo governo, prolongando os combates. Por último (como já aconteceu no Iraque), o prolongamento do conflito na Síria proporciona algumas vantagens geopolíticas: 

-  diminui o risco de Damasco iniciar uma guerra contra Israel ou reocupar o Líbano. 

- aumenta a possibilidade dos iranianos, ora vivendo sob domínio dos mulás, principais aliados de Assad, se inspirarem no levante sírio e na mesma linha se rebelarem contra os seus governantes. 

- fortalece a ira árabe sunita contra Teerã, especialmente se levarmos em conta que a República Islâmica do Irã vem fornecendo armas, tecnologia e apoio financeiro para ajudar na repressão contra os sírios. 

- alivia a pressão sobre os não muçulmanos: indicativo da nova forma de pensar, o líder salafista jordaniano Abou Mohamad Tahawi declarou recentemente que "a coalizão alawita com os xiitas é no momento a maior ameaça aos sunitas, maior ainda do que a israelense". 

- fomenta a fúria no Oriente Médio contra Moscou e Pequim por apoiarem o regime de Assad. 

Os interesses do Ocidente sugerem ficar fora do atoleiro sírio. 

 Publicado no The Washington Times.ESCRITO POR DANIEL PIPES Original em inglês: Stay out of the Syrian Morass Tradução: Joseph Skilnik

E O GREENPEACE EXAGEROU NA DOSE

Aberta ontem pela presidente Dilma Rousseff, a conferência Rio+20 pode ser um momento importante para ampliar as discussões em torno do desenvolvimento sustentável, tema que é fundamental mas que, infelizmente, nem sempre é tratado com a seriedade que merece. E o pior de tudo é que entre os responsáveis pelas leviandades que muitas vezes cercam esse debate estão organizações que, a princípio, deveriam ser um exemplo de seriedade. Em nome da defesa de interesses aparentemente nobres, o Greenpeace e outras entidades do gênero são capazes de gestos que, em lugar de ajudar, servem apenas para prejudicar o avanço da causa do desenvolvimento sustentável. Ontem, por exemplo, a Justiça expediu uma liminar em favor do frigorífico JBS (o maior produtor de carnes do mundo) contra o Greenpeace. A ONG vinha insistindo na acusação de que a empresa adquiria gado criado em terras embargadas pelo Ibama. A Justiça entendeu que a acusação é mentirosa e determinou que o Greenpeace deixe de mandar panfletos a respeito do assunto para clientes do frigorífico – além de excluir de sua página na internet o conteúdo a respeito do tema. É esse tipo de gente (que forja argumentos e tenta transformá-los em verdade) que vestirá a fantasia de salvador do planeta e fará barulho na conferência, tentando impor seus pontos de vista aos participantes. O mundo deve muito às organizações que colocaram o debate ambiental na pauta das discussões muito antes de esse tema ser levado em conta pelos governos e pela própria ONU. Mas, a partir do momento em que elas exageram na dose, a contribuição se transforma em desserviço. Sem uma fonte de geração de energia mais segura e mais barata do que a atual, a indústria da Zona Franca pode se tornar inviável. O Greenpeace e todos os que ainda se opõem à construção de Belo Monte e de outras hidrelétricas na região da Amazônia deveriam fazer uma avaliação sincera do que representa para a região a geração de energia por usinas térmicas com aquela velharia que abastece Manaus. Pois bem: sem uma fonte de geração de energia mais segura e mais barata do que a atual, a indústria da Zona Franca pode se tornar inviável. E, caso as fábricas sejam fechadas, a população local será obrigada a buscar sua sobrevivência na floresta – e a destruição da mata será inevitável. A questão do desenvolvimento sustentável, como se vê, vai muito além da preservação do meio ambiente (embora esse aspecto tenha uma importância inegável para a qualidade de vida no mundo). Ela inclui, em papel de destaque, a necessidade de avanços sociais mais relevantes. O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukang, tocou num ponto fundamental ao falar, ontem, sobre o documento que será emitido ao final da conferência. “Nós precisamos de um documento com propostas ambiciosas e históricas que contenha iniciativas tecnológicas que possibilitem o desenvolvimento sustentável. Temos que transformar nossas aspirações sobre inclusão, prosperidade e igualdade em realidade”, disse ele. Este é o xis da questão: não se promove o desenvolvimento sustentável olhando pelo retrovisor, nem existe aliado mais fiel do desenvolvimento sustentável do que o avanço tecnológico.Por: Ricardo Galuppo Fonte: Brasil Econômico, 14/06/2012

domingo, 17 de junho de 2012

EFEITOS COLATERAIS DO BOLSA FAMÍLIA

Desde o surgimento dos primeiros programas de transferência de renda, mediante contrapartidas, já se passaram quase duas décadas, período mais do que suficiente para este tipo de ação social sofrer aperfeiçoamentos. As primeiras "bolsas" - surgidas em 1994 e 95, em Campinas, na gestão do prefeito tucano José Roberto Magalhães Teixeira, e em Brasília, quando era governador Cristovam Buarque, então PT - atendiam a um desejo consensual da sociedade brasileira, consolidado na redemocratização, em 85: combater a pobreza. Ficara para trás, como símbolo do regime ditatorial, o lema do "primeiro, acumular, para depois distribuir". No início, o recebimento do benefício era condicionado à manutenção dos filhos na escola. Daí ter sido chamado em Brasília de "Bolsa Escola". Depois, na Era FH, o leque de contrapartidas começou a ser ampliado, surgiram outros programas com subsídios ao pobre, até chegar o período Lula, quando uma série de linhas de sustentação social já existentes foi reunida sob o guarda-chuva do Bolsa Família. O programa ganhou amplitude e passou a receber um volume crescente de dinheiro do Tesouro. No ano passado, o Bolsa Família fechou com uma despesa de R$ 16,7 bilhões, distribuídos entre 13,3 milhões de famílias. O universo dos assistidos não para de se expandir. No início do ano, a presidente Dilma anunciou que serão incluídas no BF mães pobres com filhos pequenos. Nunca esteve em discussão a necessidade de haver programas de transferência de renda num país como o Brasil. O ponto central é saber se o dinheiro é bem gasto, pois há enormes carências em áreas estratégicas - caso da Educação -, em que faltam recursos. Divulgados ontem pelo GLOBO, alguns resultados de uma ampla pesquisa de avaliação do programa encomendada pelo Ministério do Desenvolvimento Social ajudam numa reflexão sobre adequações no BF. Ao lado de informações positivas - redução do trabalho infantil, frequência escolar, posição da mulher na família -, o levantamento trouxe alertas. Foi detectado que o beneficiário do programa tende a se manter na informalidade, com medo de, ao ter carteira de trabalho, ser constatada sua elevação de renda, com a consequente exclusão do BF. Reportagem do jornal cita o caso de uma faxineira, no Piauí, que rejeitou emprego de babá, no qual ganharia salário mínimo, para continuar com os filhos, sustentada pelo Bolsa Família. Confirma-se o risco de pessoas se acomodarem ao benefício do Estado, dentro de um estágio de pobreza um pouco acima da miséria. É por isso que falta mão de obra em certas regiões do Nordeste. Assim, congela-se a possibilidade de ascensão social e engessa-se uma conta enorme dentro do Orçamento que poderia financiar outros gastos, à medida que os bolsistas fossem absorvidos pelo mercado de trabalho. Diante deste quadro, é preciso enfatizar, mais uma vez, a necessidade das tais "portas de saída", pelas quais bolsistas, devidamente treinados, buscariam o sustento no próprio trabalho, um dos quesitos da dignidade humana. Há tempos o assunto morreu em Brasília. Para obter os dados, O GLOBO teve de acionar o ministério com base na Lei de Acesso à Informação. O governo não deveria temer a divulgação de pesquisas de avaliação. É a partir delas que a própria administração pública pode melhorar. EDITORIAL O GLOBO

SUPREMO TRIBUNAL, SUPREMOS PROBLEMAS

Antes da posse, o ministro vai ao Senado. Só elogios. Une-se aí ao empreguista STF, com 235 recepcionistas, vira celebridade. E "lê" milhares de casos ao ano Ao longo da história republicana, a atuação do Supremo Tribunal Federal esteve, quase sempre, em desacordo com valores democráticos. Em um país como o nosso, de uma enraizada cultura autoritária, a omissão do STF foi perversa. Basta recordar o silêncio cúmplice com relação às graves violações dos direitos humanos durante o Estado Novo e durante a ditadura militar. Em vez de o STF ser uma espécie de tribunal da cidadania, ele foi, neste mais de um século de vida, um instrumento de desprezo da ordem democrática. Fui também um elemento de reforço da impunidade, doença maligna que permeia o cotidiano brasileiro. A Constituição de 1988 atribuiu ao STF um conjunto de competências. Ele foi transformado, na prática, em um tribunal de última instância, quando a sua função deveria ser estritamente interpretar o texto constitucional. Assim, só em 2011 a Corte teve 102 mil decisões, das quais 89 mil foram monocráticas, ou seja, tomadas por apenas um ministro. Dentre essas, 36.754 foram exclusivamente do presidente do STF. Mesmo com a existência da súmula vinculante, causa estranheza que um só ministro tenha proferido tantas decisões. Imagine o leitor que se um processo tenha, em média, cem folhas -algo que, para os nossos padrões, caracterizado pela prolixidade, é considerado curto- e que o presidente tenha julgado originalmente somente um terço dos processos, cerca de dez mil, para facilitar as contas. Ele teria de ler 1 milhão de folhas. Será que leu? O STF tem muitos outros problemas. Um deles é a escolha dos ministros, uma prerrogativa constitucional do presidente da República. Cabe ao Senado aprová-la. As sabatinas exemplificam muito bem o descaso com a nomeação. Todos são aprovados sem que se conheça o que pensam. São elogiados de tal forma pelos senadores que fica a impressão que estão, com antecedência, desejando obter a simpatia dos futuros ministros frente a um eventual processo. Em síntese: as sabatinas são uma farsa e desmoralizam tanto o Senado como o STF. No Brasil, estranhamente, os ministros acabaram virando celebridades. Dão entrevistas a toda hora e sobre qualquer assunto. Um deles chegou a "abrir sua casa" para uma reportagem e tirou uma foto deitado na cama ao lado da sua esposa! Tem ministro poeta, outro é empresário de ensino, tem ministro que foi reprovado em concurso para juiz -duas vezes, e mesmo assim foi alçado ao posto maior da carreira, mas sem concurso, claro-, tem ministro que chegou lá devido à sorte de quem era vizinho da sua mãe. Pior ainda são aqueles que ficam alguns anos como ministros e retornam à advocacia, usando como grife a passagem pelo Supremo. O STF padece também de um velha doença nacional: o empreguismo. São quase 3.000 funcionários, entre efetivos e terceirizados. Não é improvável que, se todos comparecerem no mesmo dia ao trabalho, as instalações da Corte não sejam suficientes para abrigá-los. Como são 11 ministros, a média é de 272 funcionários para cada um. E o mais estranho são funcionários que não estão diretamente vinculados à função precípua de julgar, como as 235 recepcionistas e os 403 seguranças -deve ser a Corte mais segura do mundo. Essa estrutura custa para a União uma bagatela da ordem de R$ 500 milhões ao ano. Um bom momento para o STF reencontrar a cidadania é o julgamento do mensalão. Poderemos assistir como cada um dos 11 ministros vai agir. Pode ser que, finalmente, a Corte rompa com seu triste passado de conluio com o Executivo e seja um instrumento de defesa dos valores democráticos. MARCO ANTONIO VILLA, 57, é historiador, professor da Universidade Federal de São Carlos, e autor, entre outros, de "A História das Constituições Brasileiras: 200 Anos de Luta Contra o Arbítrio" Por: MARCO ANTONIO VILLA

DESTRUIÇÃO CRIADORA

A crise financeira que devastou o mundo a partir de 2008, cujas consequências perduram até hoje, trouxe à tona a necessidade de rever atitudes e procedimentos para que o capitalismo continue sendo o melhor sistema econômico disponível, privilegiando a produção e não a especulação financeira, prestando melhores serviços à sociedade. A disputa entre os defensores de ações do Estado para superá-la e os que se batem pela redução da ação do Estado nesses anos pós-crise atualizou uma disputa mais antiga, entre o austríaco liberal Hayek e o inglês intervencionista John Maynard Keynes, a tal ponto que diversas simulações de um debate entre os dois foram promovidas em várias partes do mundo, inclusive aqui no Brasil, em novembro do ano passado patrocinado pelo Ibmec. A estudante Virginia Barbosa teve a ideia de replicar um debate realizado meses antes pela BBC de Londres. Desta vez, para discutir os novos rumos do capitalismo, a mesma Virginia, com o apoio do Ibmec e do Instituto Millenium, promoveu um debate realizado na quarta-feira passada no auditório da Academia Brasileira de Letras, que eu intermediei, entre os economistas André Lara Resende e Gustavo Franco, dois dos criadores do Plano Real. Ambos valeram-se não de Hayeck ou Keynes para analisar a crise econômica global, mas de Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, autor da teoria da “destruição criativa” do capitalismo. Lara Resende lembrou que evitando um grande colapso à custa de um aumento expressivo da dívida pública e do passivo dos bancos centrais, “ao se controlar artificialmente as forças cíclicas naturais do capitalismo, pode-se ter esclerosado grande parte de suas virtudes, de sua força criativa e renovadora”. Foi aí que lembrou Schumpeter, “defensor entusiasmado do capitalismo e da fecundidade do espírito empresarial”, enfatizou a importância da “destruição criadora” do capitalismo, “como mola propulsora dos avanços em todas as esferas da sociedade”. Já Gustavo Franco começou sua fala afirmando que tinha otimismo “sobre o capitalismo e sobre Brasil, e também, sobretudo, sobre o casamento entre um e outro, essencialmente um empreendimento de destruição criadora”. Para ele, destruição criadora, instabilidade, “são partes necessárias dessa paisagem; não existe capitalismo sem isso”. Talvez por que, analisou, “o capitalismo é uma sistema de arquitetura aberta, por isso se adaptará, emergirá mais forte” da crise. André Lara Resende acha, no entanto, que “a possibilidade de que estejamos próximos de duas restrições, que eram ainda distantes nos anos 30, exige efetivamente repensar os rumos do capitalismo”. A primeira seria “o limite do tolerável - no sentido de não vir a se tornar disfuncional - da participação do Estado na economia”. Ele lembrou que em toda parte, “até mesmo onde o capitalismo nunca foi seriamente questionado, como nos EUA”, houve ao longo de todo o século 20, “sistemático aumento da carga fiscal e da participação do Estado na renda nacional”. As respostas, tanto para a crítica econômica - da instabilidade intrínseca - quanto para a critica social - da desigualdade crônica - ao capitalismo, levaram ao aumento da participação do Estado na economia. A segunda nova restrição seria “a proximidade dos limites físicos do planeta”, assunto que ele vem abordando ultimamente em vários artigos. “É evidente que não será possível continuar indefinidamente com a série de ciclos de expansão do consumo material, alimentado pela turbina do crédito, até uma nova crise, que só se resolve com mais crescimento”, analisou Lara Resende, para ressalvar: “A menos que haja uma radical mudança tecnológica, será preciso encontrar a fórmula do aumento do bem estar numa economia estacionária”. Para ele, a mudança tecnológica “não parece provável”, pois a questão do meio ambiente seria um caso clássico “de bens públicos, que o mercado não precifica de forma correta”. Uma crítica à esquerda ao capitalismo, quanto ao risco do consumismo, está sendo retomada depois da crise econômica de 2008, lembra Lara Resende: “A tese da alienação consumista permeia a crítica cultural do capitalismo de massas, desde a Escola de Frankfurt, até os novos teóricos da sociedade do espetáculo”. Para ele, “ao transformar todas as esferas da vida numa questão de cálculo financeiro, ganhamos capacidade de criar riqueza, mas em contrapartida nos tornamos insaciáveis”. André Lara Resende diz, ecoando vários autores, que “a busca desenfreada por crescimento econômico, por mais consumo material, nos levou a esquecer de porque queremos mais. Mais consumo material tornou-se um objetivo em si mesmo”. Para ele, “será preciso superar o fosso profundo do preconceito ideológico” para encontrar respostas para “ as duas grandes questões de nosso tempo”: como reduzir a disparidade dos padrões de vida, sem aumentar a intermediação do Estado e restringir as liberdades individuais. E como reverter o consumismo, a insaciabilidade material, sem reduzir a percepção de bem estar. “São grandes desafios, sem dúvida”, admite André Lara Resende, para quem a competição capitalista parece “imprescindível” para que seja possível encontrar as respostas aos problemas criados pelo sucesso do capitalismo. “Só a pluralidade das ideias, que foi capaz de desmistificar todo tipo de autoritarismo, seja o religioso, o fundamentalista ou o ideológico, e criar a cultura da autonomia do indivíduo, será capaz de fazer revisão cultural que a circunstâncias exigem, sem sacrificar as conquistas do Iluminismo”.Por: Merval Pereira

sábado, 16 de junho de 2012

O QUE É O DINHEIRO, COMO SURGE E COMO DEVE SER GERENCIADO

Nos tempos atuais, fomos doutrinados a crer que pequenos pedaços retangulares de papel são a exata definição de dinheiro, e que o governo — mais especificamente seu banco central — é sua única fonte possível. Para se discutir honestamente como é possível obter uma moeda forte, é necessário antes entender como surgiu o dinheiro e como se estabeleceu nosso atual costume monetário. No início, era cada um por si. Cada indivíduo comia ou vestia apenas aquilo que ele fosse capaz de coletar ou caçar. E então surgiu o escambo, que foi o primeiro avanço. Se você estivesse em posse de alguns quilos extras de carne, e o seu vizinho possuísse uma quantidade excedente de pele de animal, vocês dois poderiam incorrer em uma troca direta. Se alimentos, água, roupas e ferramentas simples são os únicos bens disponíveis no mercado, o escambo acaba sendo um meio relativamente eficiente de troca — você sempre poderá encontrar alguém que possui aquilo que você quer e que quer aquilo que você possui. Porém, tão logo surgiu um esquema básico de produção e manufatura, e a prosperidade começou a aumentar, o escambo se tornou uma prática inadequada. Imagine que você é um caçador e quer adquirir uma cama, mas o único produtor de camas da cidade é um vegetariano. O que você pode fazer neste caso? Você primeiro teria de descobrir o que o produtor de camas aceitaria em troca da cama (talvez tofu), e então teria de encontrar alguém que possuísse tofu e estivesse disposto a trocar por carne. Se você não conseguisse encontrar tal pessoa (o produtor de tofu quer um chapéu em troca), você teria de procurar por uma quarta pessoa (alguém que quisesse carne e que possuísse o chapéu que o produtor de tofu quisesse), ou tentar convencer o produtor de camas vegetariano a aceitar sua carne para, algum tempo depois, tentar trocá-la por algum outro bem. A carne, no entanto, estraga com o tempo, de modo que o produtor de camas teria de se livrar dela rapidamente. Consequentemente, sendo você incapaz de conseguir arrumar algum bem que o produtor de camas queira consumir, você decide trocar sua carne por um pouco de sal. Ato contínuo, você se aproxima do produtor de camas e diz: "Olha só, eu sei que você não quer sal, mas pense em todas as outras pessoas que querem. Elas utilizam sal para preservar suas carnes e para dar mais sabor às suas sopas. E o sal é imperecível, de modo que você pode armazená-lo pelo tempo que quiser. E se, quando o vendedor de tofu vier à cidade, ele não quiser sal, você poderá explicar a ele exatamente isso que acabei de explicar para você — que ele poderá utilizar o sal para comprar algo que ele queira futuramente." Se você e o produtor de camas chegarem a um acordo, você acabou de inventar o dinheiro. Organicamente, mais pessoas na sua comunidade começarão a utilizar o sal como meio de pagamento, mesmo que elas não tenham a intenção de consumi-lo, pois sabem que outras pessoas irão aceitá-lo como meio de troca. Porém — e isso é muito importante —, o valor do sal-dinheiro não depende exclusivamente de as outras pessoas aceitarem-no como meio de pagamento. Se, por algum motivo, as pessoas pararem de aceitar sal como meio de pagamento, você ainda assim poderá utilizar o sal como... sal. O sal não perdeu suas funções originais. O sal já foi utilizado como dinheiro e mostrou ser uma ótima moeda, especialmente antes da invenção da refrigeração, pois era amplamente demandado, divisível até o nível granular, muito portátil e transportável, fácil de ser pesado, e podia ser facilmente testado contra falsificações: bastava prová-lo com seu paladar. Os romanos utilizaram o sal como dinheiro. No entanto, o fato de o sal ter passado a servir como dinheiro não significava que não poderiam surgir outras formas de dinheiro em circulação. Folhas de tabaco também poderiam ser amplamente aceitas como meios de pagamento, assim como o ouro ou a prata. A maior invenção da história? A questão é que o dinheiro surgiu naturalmente na sociedade, e surgiu como uma maneira de auxiliar as transações econômicas voluntárias. Foi uma das maiores invenções da humanidade. O dinheiro não apenas facilitou às pessoas adquirirem o que queriam, como também tornou o ato de poupar muito mais possível — você podia agora acumular o dinheiro excedente para gastá-lo em um momento posterior. Embora poupar seja hoje um ato vilipendiado pelas elites políticas, trata-se de um elemento essencial para o progresso econômico. Ao facilitar às pessoas o ato de poupar, o dinheiro efetuou duas medidas cruciais. Primeiro, ele inspirou mais diligência e empreendedorismo: havia agora um incentivo para se trabalhar mais duro para se auferir em um dia mais do que você poderia gastar em um dia. Segundo, a poupança possibilitou a empreendedores ambiciosos fazer grandes investimentos em capital: máquinas que economizavam trabalho humano, armazéns e transportes. Se o poupador não tivesse grandes planos em mente para o seu dinheiro, ele ainda assim poderia fazer com que ele fosse produtivo: bastaria emprestá-lo para terceiros. Financiamento era algo praticamente impossível sem dinheiro. É claro que você poderia dar um porco para o seu vizinho este ano em troca de um porco e de uma galinha no ano seguinte, mas haveria muito mais espaço para contendas. "Este porco não é tão saudável quanto o porco que dei a você ano passado." Já um dinheiro-commodity utiliza medidas universais e objetivas, como peso, para mensurar sua qualidade. Logo, não havendo espaço para variações de qualidade, você pode emprestar seu dinheiro tendo a confiança de que, o que você receberá em troca no futuro, terá a mesma qualidade que você emprestou. O dinheiro também tornou a especialização algo mais fácil. Se você fosse realmente bom em algo — por exemplo, fabricar pregos (utilizando o famoso exemplo da Adam Smith) —, você poderia agora ganhar a vida apenas fabricando pregos. Sem o dinheiro, alguém que passou o dia inteiro fabricando pregos teria de encontrar (a) alguém com comida em excesso que quisesse pregos, (b) alguém com abrigo sobrando que quisesse pregos, (c) alguém com excesso de roupas que também quisesse pregos naquele momento, e por aí vai. Porém, quando o dinheiro é introduzido, o vendedor de pregos necessita encontrar apenas (a) pessoas com dinheiro que queiram pregos, e (b) diferentes pessoas que possuam os bens que o vendedor de pregos queira comprar e que queiram dinheiro em troca. Facilitar a especialização cria eficiências. A especialização permite a divisão do trabalho, de modo que as pessoas passam a agir de acordo com suas habilidades e seus interesses. A produtividade aumenta. De incontáveis maneiras, o dinheiro aperfeiçoa a sociedade. Moedas concorrenciais No passado, diferentes tipos de dinheiro-commodity concorriam entre si. O sal possuía suas vantagens, mas também apresentava desvantagens — além de você ter de mantê-lo seco, era fácil perder alguma porção. Em Roma, a elevação do nível dos oceanos foi tornando muito mais difícil a obtenção de sal ao longo dos anos. Enquanto isso, o ouro ia continuamente apresentando várias vantagens. Era fácil de ser armazenado. Não deteriorava. Assim como o sal, era de fácil divisibilidade, e também fácil de ser modelado em formatos diferente: você podia criar blocos ou moedas de diferentes pesos ou denominações, os quais podiam ser padronizados. Ele não enferrujava, não sujava e não sofria outras reações indesejadas ao entrar em contato com produtos químicos. Como qualquer dinheiro verdadeiro, surgido no mercado, o ouro possui utilidade própria, o que sempre irá lhe garantir algum valor. Majoritariamente, pensamos em seu valor decorativo — em praticamente qualquer cultura, o ouro é considerado algo bonito. As mulheres adoram ouro, e satisfazer as fantasias femininas é universalmente considerado algo bom. O ouro possui uso industrial devido à sua resistência à corrosão e à facilidade com que pode ser reduzido a placas extremamente finas. O ouro também é raro o suficiente para ser valioso, mas ao mesmo tempo abundante o suficiente para ser de ampla circulação. Sua oferta cresce, mas nunca a taxas altas. Nenhuma autoridade teve de declarar que o ouro era dinheiro. Ele surgiu espontaneamente como meio de troca, e em vários casos venceu a concorrência contra outras moedas. Ele nem sempre venceu à custa da exclusão de todos os outros tipos de dinheiro, mas foi provavelmente o mais bem-sucedido dinheiro que já existiu, graças não a algum decreto superior, mas sim aos seus próprios atributos. E isso é extremamente importante: o dinheiro não vem do governo; ele surge na própria sociedade. Peter Schiff é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear Markets, Crash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes. Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico. Veja o vídeo. Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português Tradução de Leandro Roque

DOM SEBASTIÃO VOLTOU

Luiz Inácio Lula da Silva tem como princípio não ter princípio, tanto moral, ético ou político. 

O importante, para ele, é obter algum tipo de vantagem. Construiu a sua carreira sindical e política dessa forma. E, pior, deu certo. Claro que isso só foi possível porque o Brasil não teve - e não tem - uma cultura política democrática. Somente quem não conhece a carreira do ex-presidente pode ter ficado surpreso com suas últimas ações. Ele é, ao longo dos últimos 40 anos, useiro e vezeiro destas formas, vamos dizer, pouco republicanas de fazer política. Quando apareceu para a vida sindical, em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, desprezou todo o passado de lutas operárias do ABC. Nos discursos e nas entrevistas, reforçou a falácia de que tudo tinha começado com ele. Antes dele, nada havia. E, se algo existiu, não teve importância. Ignorou (e humilhou) a memória dos operários que corajosamente enfrentaram - só para ficar na Primeira República - os patrões e a violência arbitrária do Estado em 1905, 1906, 1917 e 1919, entre tantas greves, e que tiveram muitos dos seus líderes deportados do País. No campo propriamente da política, a eleição, em 1947, de Armando Mazzo, comunista, prefeito de Santo André, foi irrelevante. Isso porque teria sido Lula o primeiro dirigente autêntico dos trabalhadores e o seu partido também seria o que genuinamente representava os trabalhadores, sem nenhum predecessor. Transformou a si próprio - com o precioso auxílio de intelectuais que reforçaram a construção e divulgação das bazófias - em elemento divisor da História do Brasil. A nossa história passaria a ser datada tendo como ponto inicial sua posse no sindicato. 1975 seria o ano 1. Durante décadas isso foi propagado nas universidades, nos debates políticos, na imprensa, e a repetição acabou dando graus de verossimilhança às falácias. Tudo nele era perfeito. Lula via o que nós não víamos, pensava muito à frente do que qualquer cidadão e tinha a solução para os problemas nacionais - graças não à reflexão, ao estudo exaustivo e ao exercício de cargos administrativos, mas à sua história de vida. Num país marcado pelo sebastianismo, sempre à espera de um salvador, Lula foi a sua mais perfeita criação. Um dos seus "apóstolos", Frei Betto, chegou a escrever, em 2002, uma pequena biografia de Lula. No prólogo, fez uma homenagem à mãe do futuro presidente. Concluiu dizendo que - vejam a semelhança com a Ave Maria - "o Brasil merece este fruto de seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva". Era um bendito fruto, era o Messias! E ele adorou desempenhar durante décadas esse papel. Como um sebastianista, sempre desprezou a política. Se ele era o salvador, para que política? Seus áulicos - quase todos egressos de pequenos e politicamente inexpressivos grupos de esquerda -, diversamente dele, eram politizados e aproveitaram a carona histórica para chegar ao poder, pois quem detinha os votos populares era Lula. Tiveram de cortejá-lo, adulá-lo, elogiar suas falas desconexas, suas alianças e escolhas políticas. Os mais altivos, para o padrão dos seus seguidores, no máximo ruminaram baixinho suas críticas. E a vida foi seguindo. Ele cresceu de importância não pelas suas qualidades. Não, absolutamente não. Mas pela decadência da política e do debate. Se aplica a ele o que Euclides da Cunha escreveu sobre Floriano Peixoto: "Subiu, sem se elevar - porque se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou-se à frente de um país sem avançar - porque era o Brasil quem recuava, abandonando o traçado superior das suas tradições...". Levou para o seu governo os mesmos - e eficazes - instrumentos de propaganda usados durante um quarto de século. Assim como no sindicalismo e na política partidária, também o seu governo seria o marco inicial de um novo momento da nossa história. E, por incrível que possa parecer, deu certo. Claro que desta vez contando com a preciosa ajuda da oposição, que, medrosa, sem ideias e sem disposição de luta, deixou o campo aberto para o fanfarrão. Sabedor do seu poder, desqualificou todo o passado recente, considerado pelo salvador, claro, como impuro. Pouco ou nada fez de original. Retrabalhou o passado, negando-o somente no discurso. Sonhou em permanecer no poder. Namorou o terceiro mandato. Mas o custo político seria alto e ele nunca foi de enfrentar uma disputa acirrada. Buscou um caminho mais fácil. Um terceiro mandato oculto, típica criação macunaímica. Dessa forma teria as mãos livres e longe, muito longe, da odiosa - para ele - rotina administrativa, que estaria atribuída a sua disciplinada discípula. É um tipo de presidência dual, um "milagre" do salvador. Assim, ele poderia dispor de todo o seu tempo para fazer política do seu jeito, sempre usando a primeira pessoa do singular, como manda a tradição sebastianista. Coagir ministros da Suprema Corte, atacar de forma vil seus adversários, desprezar a legislação eleitoral, tudo isso, como seria dito num botequim de São Bernardo, é "troco de pinga". Ele continua achando que tudo pode. E vai seguir avançando e pisando na Constituição - que ele e seus companheiros do PT, é bom lembrar, votaram contra. E o delírio sebastianista segue crescendo, alimentado pelos salamaleques do grande capital (de olho sempre nos generosos empréstimos do BNDES), pelos títulos de doutor honoris causa (?) e, agora, até por um museu a ser construído na cracolândia paulistana louvando seus feitos. E Ele (logo teremos de nos referir a Lula dessa forma) já disse que não admite que a oposição chegue ao poder em 2014. Falou que não vai deixar. Como se o Brasil fosse um brinquedo nas suas mãos. Mas não será? MARCO ANTONIO VILLA, HISTORIADOR, É PROFESSOR DA , UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

OS IDIOTAS DA OBVIEDADE

Nelson Rodrigues costumava falar dos idiotas da obviedade ululante. Lembrei disso hoje ao ler os jornais em busca do tema para este comentário. Logo de cara deparo com a constatação feita por estudo encomendado pelo próprio governo federal sobre o programa Bolsa Família. A mesada mensal estimularia, segundo a pesquisa, a permanência na informalidade. Wau, como escreveria Paulo Francis. Quer dizer que pessoas reagem a incentivos? Quer dizer que os pobres preferem seguir trabalhando na informalidade para acumular o salário por fora e a mesada estatal? Não diga! Em seguida, parto para o caderno de economia e vejo que a Petrossauro, como a Petrobras era chamada por Roberto Campos, anunciou seu novo plano de investimentos para o período de 2012 a 2016. Mais de R$ 400 bilhões serão investidos, sendo que a empresa tem valor de mercado menor que R$ 250 bilhões. Quase 30% destes investimentos serão na área de refino, com baixa rentabilidade. Além disso, há a cláusula nacionalista na compra dos fornecedores, limitando a eficiência e prejudicando o cronograma. Por fim, a empresa é instrumento de política monetária do governo, e não aumenta os preços, mesmo com a alta do câmbio. Resultado: queda de quase 4% das ações no dia do anúncio do programa de investimentos. A estatal já perdeu metade de seu valor desde 2009. Mais investimentos para gerar menor crescimento. Os investidores estão cansados e desanimados com a gestão estatal? Não diga! Por fim, vejo no caderno de política que o PT e o PMDB blindaram Fernando Cavendish, o dono da Delta, na CPMI do Cachoeira. O dono da empresa que está no epicentro dos escândalos, considerada inidônea pelo próprio governo, simplesmente não será convocado para a CPMI. O deputado Miro Teixeira falou de uma “tropa de cheque” para impedir a ida do empresário, insinuando que há rabo preso por parte dos deputados e senadores. A CPMI é uma farsa, montada por iniciativa do próprio PT e de Lula, para focar somente no governador do PSDB, na imprensa, no Procurador Geral da República e para desviar a atenção do julgamento do mensalão? A revista Veja estava certa, afinal? Não diga! O Brasil é mesmo o país dos idiotas da obviedade. Para fechar com Nelson Rodrigues também, como é antigo nosso passado recente! Por: Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

AMOR À HUMANIDADE

A bandeira é diferente, a letra é diferente, mas a melodia é a mesma.

A bandeira agora é verde, em vez de vermelha. A letra da música também é outra. Mas a melodia continua exatamente a mesma. Quando os vermelhos cantavam, a letra dizia que o indivíduo não podia ter liberdade porque o resultado seria "exploração", "monopólio" e depressões. Agora, quando são os verdes cantando, a letra diz que o indivíduo não pode ter liberdade porque o resultado será a destruição da camada de ozônio, chuva ácida, aquecimento global e, finalmente, para não dar margem para erros, mudanças climáticas. (Acrescente um coro extra para 'mudanças climáticas'). A melodia continua dizendo que o indivíduo não pode ser deixado livre, e complementa dizendo que ele não pode ser deixado livre porque sua busca pacífica pelo interesse próprio e por prosperidade irá, de alguma maneira, infligir danos a terceiros, e que apenas o governo, apontando armas para a cabeça destes ganaciosos, irá salvar o resto da humanidade de alguma apavorante calamidade. Os criminosos vermelhos queriam controlar o sistema econômico para refrear os ímpetos individuais e, com isso, deixar as coisas da maneira que eles consideravam corretas. Os criminosos verdes querem controlar o ambiente, especialmente o clima, para refrear os ímpetos individuais e, com isso, deixar as coisas da maneira que eles consideram corretas. Seguindo uma prática semelhante à dos feiticeiros que exortavam povos primitivos a sacrificar suas ovelhas e bodes com o intuito de aplacar a ira dos deuses, os ambientalistas de hoje e seus protetores na mídia e no meio acadêmico exortam os povos do mundo a sacrificar seu uso de energia e seu padrão de vida com o intuito de evitar a ira da deusa Terra e sua atmosfera. Esta ira supostamente virá em uma destas duas formas: uma nova era glacial (quem viveu a década de 1970 sabe o quão original é esta previsão) ou, caso esta não se concretize, um aquecimento global e um subsequente aumento no nível dos oceanos. E se aquecimento global e uma elevação de 30 a 90 centímetros no nível dos oceanos durante os próximos 100 ou 150 anos não se mostrar uma previsão suficientemente aterradora, então uma elevação de 4 a 6 metros no nível dos oceanos durante os vários séculos vindouros se torna a nova projeção, a qual, espera-se, irá finalmente apavorar os mais céticos. Ambas estas elevações nos níveis dos oceanos supostamente advirão de um aumento estimado de 4 graus na temperatura média global, e especificamente de 5 a 8 graus na temperatura média no Ártico. Assim como os criminosos vermelhos não tinham a mínima ideia do que estavam fazendo, o mesmo se aplica aos criminosos verdes. Veja uma mensagem que recebi de um cavalheiro que defende a total proibição da emissão de dióxido de carbono com o objetivo de evitar o aquecimento global: Uma das ironias do derretimento do Ártico é que tal fenômeno pode inverter a circulação termoalina oceânica e, com isso, interromper a corrente do Atlântico — o que pode levar a um acentuado resfriamento na Europa (que está mais ao norte do que os EUA), algo que parece já ter ocorrido no passado. Eis aí um sujeito que nem sequer sabe se o aquecimento global que ele quer evitar a todo custo irá na realidade se revelar um resfriamento continental. Mas tal contradição, pelo visto, não faz com que ele tenha nenhuma dúvida em sua crença. Ele ainda jura saber o suficiente para mandar a polícia impedir as pessoas de agirem de acordo com o conhecimento que elas possuem acerca das melhorias que podem obter para si próprias ao produzirem e comprarem bens que por acaso emitam algum dióxido de carbono no ar. O conhecimento destas pessoas não vale de absolutamente nada. O supostamente superior conhecimento dos "cientistas" deve prevalecer — sempre apontando uma arma para os dissidentes.[1] Nenhuma das previsões dos ambientalistas se baseia em qualquer tipo de experimento científico. E nem poderia. Um experimento científico iria requerer um laboratório contendo dois planetas idênticos, Terra 1 e Terra 2. Haveria apenas uma diferença entre eles: a população humana da Terra 1 efetua uma Revolução Industrial e ascende para o nível de padrão de vida e uso de energia do nosso mundo atual e seu provável nível de uso de energia para o próximo século. Em contraste, a população humana da Terra 2 não consegue avançar para além do uso de energia da Idade Média ou da era pré-industrial. Após serem criadas estas duas condições, os cientistas no laboratório observam que a temperatura média da Terra 1 excede a temperatura média da Terra 2 em 4 graus, e sua região Ártica, em 5 a 8 graus; e que o nível de seus oceanos sobe o número de metros acima especificado, ao passo que o nível dos oceanos na Terra 2 permanece inalterado. Obviamente, não é assim que as projeções para a temperatura global e para o futuro nível dos oceanos são feitas hoje. As projeções atuais são obtidas combinando-se vários fragmentos de conhecimento científico com várias suposições arbitrárias, de modo que estas combinações são então jogadas em computadores que irão gerar resultados que nada mais são do que "modelagens computacionais". Suposições diferentes produzem resultados diferentes. A escolha de quais fragmentos de conhecimento científico serão incluídos nos modelos gera resultados diferentes. [Lembra-se do climatologista britânico Phil Jones admitindo fazer "truques" para obter os resultados desejados?] O processo é muito similar ao de um indivíduo com uma planilha eletrônica combinando várias fórmulas financeiras com várias suposições sobre taxas de lucro, períodos de tempo, alíquotas de impostos etc., e então gerando várias e diferentes projeções a sua renda quando estiver aposentado. Imagine você sendo membro de um júri, com a responsabilidade de decidir a culpa ou a inocência de um réu, e recorrendo a modelos computacionais para chegar a um veredito. Você realmente crê que seria minimamente possível apresentar um veredito que cumpra o critério de "culpado sem qualquer sombra de dúvida"? No entanto, este é justamente o calibre das evidências utilizadas pelos promotores ambientalistas para julgar a Civilização Industrial, declará-la culpada e condená-la à morte. Sim, a morte da Revolução Industrial e da Civilização Industrial. É exatamente esta a intenção de pessoas que dizem coisas como "temos de nos comprometer a um grande esforço para interromper boa parte das emissões de carbono para a atmosfera" — isto é, interromper o consumo de boa parte do, ou de todo o, petróleo, carvão e gás natural, desta forma jogando o mundo de volta à era pré-industrial. 'Civilização Industrial' não é um conceito solto e desincorporado. Trata-se do alicerce não apenas do bem-estar material, como também da própria vida da grande maioria das mais de 6 bilhões de pessoas que vive hoje no planeta. Sua destruição significaria o colapso da produção de alimentos e de remédios, e resultaria em fome e epidemias em escala literalmente global. Tal resultado geraria grande satisfação para aqueles ambientalistas que acreditam que reduzir a população atual para o mesmo número de indivíduos que viviam no mundo pré-industrial seria um arranjo mais desejável do que tolerar o atual número de habitantes do planeta.[2] Mas isso não traria nenhum conforto ou alegria para todos aqueles que terão de sofrer e morrer durante este processo, e que também terão de ver seus entes queridos igualmente sofrendo e morrendo. Tampouco traria conforto e alegria para os sobreviventes, que terão de viver suas vidas na mais abjeta pobreza e miséria. Há júris que chegam a vereditos que desafiam toda e qualquer razão. A questão é: seria o júri formado pela opinião pública contemporânea mundial tão ignorante, tacanho e irracional a ponto de pedir uma totalmente injustificável pena de morte não apenas para a moderna Civilização Industrial, mas também, e inevitavelmente, para a esmagadora fatia da raça humana? Esta é, afinal, a maneira como esta gente e seus defensores operam: apontando armas para pessoas em nome de algum bem coletivo mais elevado, proibindo o resto da humanidade de alcançar seus próprios desejos e aprimorar seu padrão de vida. Os rebeldes não poderão passar. Isto é socialismo. Isto é ambientalismo. [1] Um ótimo e extremamente recente exemplo desta confusão mental foi-nos fornecido ainda ontem pelo indefectível Arnaldo Jabor, que opina sobre absolutamente tudo, sempre com elegância e desenvoltura. Veja este seu "editorial" e observe que, além de pedir explicitamente uma super-ONU para controlar a economia, ele ainda consegue o feito de apresentar uma conclusão que está em total disparidade com todo o seu raciocínio até então apresentado. E ele não parece se dar a mais mínima conta disso. [2] Alusão esta explicitamente feita por Jabor no vídeo acima. George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: http://www.capitalism.net/. Seu blog www.georgereisman.com/blog/. Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

ENTRE O MEDO E A BAJULAÇÃO

Conta-se que Juscelino Kubitschek, no fim do seu governo, começou a distribuir cartórios, naquele tempo vitalícios e transmissíveis para os filhos, e, como sempre, máquinas de fazer dinheiro. No Congresso, parlamentares da velha UDN denunciavam essa farta distribuição aos amigos, quando um líder do PSD de JK respondeu: mas queriam o quê? Que distribuísse para os inimigos? Capitalismo de amigos não é novidade, portanto. Mas temos outro tipo hoje, o do medo. Dia desses, o executivo de uma grande empresa brasileira, embora enraivecido com confusões feitas pelo Ministério da Fazenda com alíquotas de impostos, explicava por que não pretendia reclamar, muito menos brigar: os caras vão ficar muitos anos por aí. Os caras são os do PT, claro. É verdade que o governo federal tem caras de muitos partidos, mas não há dúvida sobre quem manda. Precisa de mais uma prova? Aqui, em dados divulgados nesta semana pela Justiça Eleitoral: no ano passado, sem eleições, o PT arrecadou nada menos que R$ 50,7 milhões com doações de empresas. Isso é 21 vezes superior à arrecadação do PSDB, o principal partido da oposição e que ainda pode ter alguma competitividade em eleições presidenciais. E mais: o PSDB detém governos em estados tão economicamente poderosos como São Paulo e Minas. Conclusão: o federal vale 20 vezes mais que o estadual. Normal, dizem. Algo assim: queriam o quê? Que os empresários dessem dinheiro para a oposição, abertamente, registrado na Justiça Eleitoral? Por que não? Nos EUA, por exemplo, Obama, quando candidato da oposição, em 2008, arrecadou mais que seu adversário governista. Neste momento da campanha americana, Obama, agora presidente, ainda arrecada mais, mas o republicano Romney chega bem perto. E não é só por aí que acontecem coisas anormais no Brasil. O governo federal e suas estatais contratam serviços de empresas, compram produtos e ainda emprestam dinheiro a juros favorecidos, sem contar a função tradicional do Estado de arrecadar impostos, aqui travestida do poder de escolher quem vai pagar mais ou menos. Ter boas conexões com Brasília pode ser mais eficiente para uma empresa do que buscar competitividade no mercado. Entre os principais doadores do PT, estão companhias amplamente beneficiadas por contratos, regimes tributários especiais e empréstimos do governo. Por outro lado, uma canetada da Fazenda, mudando impostos, pode eliminar ganhos de produtividade obtidos com investimentos em tecnologia e métodos. Ou seja, é conveniente ser amigo dos caras. Se não der, convém ao menos não ser visto como adversário. Reparem: não se trata de uma negociata do tipo "ou passa lá no balcão do PT (ou do PMDB ou do PP) ou não leva nada". Ninguém pode dizer que acontece assim no BNDES, no Banco do Brasil, nas compras da Petrobras ou nos gabinetes da Fazenda, para citar apenas os locais de decisões governamentais mais importantes. Também não se pode dizer que a forte participação da administração federal e suas estatais seja uma novidade. O que é diferente é a mão pesada e o ativismo dos governos do PT. Isso vem especialmente desde o segundo mandato e está em franca escalada. O governo Dilma intervém em todos os setores. Muda constantemente alíquotas de impostos, para diminuir e aumentar, altera regras do comércio externo, age sobre a taxa de câmbio e empresta mais dinheiro a juros favorecidos a grupos favorecidos. É um modelo oficial: o Estado manda, escolhe e indica onde as empresas devem trabalhar. A presidente dá lições a todos. Cria-se uma teia de interesses, mas não de todos. São claramente favorecidos alguns setores, considerados pelo governo como os mais importantes para o país. Daí os vícios. Primeiro, as escolhas de Brasília podem estar erradas, e frequentemente estão, como prova a História do Brasil recente, dos anos 70, no governo Geisel. Segundo, o modelo distorce o comportamento dos agentes econômicos, que ficam entre o temor e a bajulação ao governo. Repararam na propaganda dos grandes bancos privados depois que levaram a bronca da presidente Dilma? Agradar o governo, fazer favores a seus membros, torna-se comportamento quase de sobrevivência. Terceiro, mais importante, o modelo gera corrupção. Reparem: se a maior doadora para o PT é uma companhia amplamente favorecida pelo governo (a JBS), ainda que seja tudo legal, por que o diretor do terceiro escalão de um ministério não pode pedir dinheiro para seus projetos políticos e negócios pessoais? Não é verdade que sempre foi assim no Brasil e que é assim pelo mundo afora. Acontece em muitos países, certo, mas não podem ser o exemplo que queremos. Nas democracias, o governo é submetido a regras que limitam o poder do governante de plantão - e, inversamente, garantem a liberdade e a autonomia dos cidadãos, em qualquer atividade, além da igualdade de oportunidades.Por: Carlos Alberto Sardenberg, O GLOBO

quarta-feira, 13 de junho de 2012

ESTAMOS FICANDO SEM COMIDA?

Paul Krugman escreveu no The New York Times, de 7 de abril, que há uma escassez de comida no mundo, acompanhada de preços galopantes. Por causa disso, as pessoas pobres da África e de outros lugares estão famintas. Ele sugere que isso aconteceu principalmente pelas seguintes razões: nova demanda por comida por parte da China alta do preço do petróleo tempo ruim em importantes áreas agrícolas (principalmente na Austrália) redução de terras cultiváveis disponíveis para o plantio de alimentos - em prol do cultivo de biocombustíveis, com o propósito de fornecer fontes alternativas e (dizem) ambientalmente limpas, como o etanol A solução que Krugman aponta para esses problemas é que entreguemos mais do nosso dinheiro para o governo, para que assim ele possa resolver o problema que o mercado é aparentemente incapaz de solucionar. Agora, vamos ver o verdadeiro cenário: Independente de alguém achar que os fatores listados acima têm um papel importante na escassez mundial de alimentos, existem de fato dois fatores de primordial importância relacionados aos custos e à escassez de alimentos, e Krugman não os menciona e talvez nem saiba deles. Primeiro: a causa essencial de qualquer escassez é a ausência de um livre mercado, já que uma verdadeira escassez não tem como surgir em um ambiente de genuíno livre mercado. Ao contrário, mesmo que os preços dos bens aumentassem quando a oferta começasse a se reduzir, ainda assim esses bens em questão estariam sempre disponíveis a algum preço - e quanto mais alto fosse esse preço, mais a oferta aumentaria para se igualar à demanda, o que iria obviamente reduzir os preços. Se tivéssemos um livre mercado mundial, os alimentos seriam exportados de alguns países, como os EUA e a Europa, onde a comida é abundante, para os países onde ela está em falta. Isso aconteceria porque seria lucrativo enviar bens para áreas necessitadas como a África, onde escassezes estariam fazendo os preços subir. O fato de isso não estar acontecendo agora só pode ser resultado de controles de preços feitos pelo governo (o que impede os preços de subirem nos países necessitados), de restrições comerciais, ou de alguma outra barreira governamental que impede as pessoas de conseguir o que elas querem. O Banco Mundial citou uma lista de 21 países que adotam controle de preços sobre artigos básicos. Todos nós nos lembramos das histórias sobre pessoas famintas na Etiópia na década de 1980, quando 3 milhões de pessoas estavam sofrendo de inanição. O que ninguém falou era que havia 60 milhões de pessoas na Etiópia na mesma época que não foram afetadas pela fome. O transporte de comida de uma parte do país, onde ela era abundante, para outra parte, afetada pela seca, foi impedida por um conflito entre o governo e grupos rebeldes perto da área castigada pela seca. Os incentivos econômicos foram inibidos por várias ações governamentais, como a retenção forçada de suprimentos de comida (para que os soldados rebeldes não tivessem acesso aos suprimentos), o controle de preços, o banimento em grande parte do país da venda de grãos por atacado, e a proibição da venda privada de produtos ou maquinarias agrícolas. Uma situação similar ocorreu no Zimbábue no início da década de 2000. O economista indiano Amartya Sen ganhou o Prêmio Nobel ao demonstrar que a maioria dos casos de fome é causada não pela escassez de comida, mas pelas intromissões imprudentes dos governos no funcionamento dos mercados. O segundo fator que Krugman não menciona é que os altos preços dos alimentos são uma manifestação da atual inflação mundial de preços. Os governos de todos os países vêm imprimindo dinheiro a taxas muito altas nessa década. Enquanto que os EUA vêm expandindo sua oferta monetária a "apenas" 10-15% ao ano, muitos países têm impresso dinheiro a taxas que excedem 50 por cento ao ano. Esse dinheiro criado do nada, que até então estava em grande parte contido no mercado de ações, agora se espalhou para o mercado de commodities, de onde se derivam os preços dos alimentos. Dessa forma, como o dinheiro está agora sendo criado mais rapidamente do que alguns bens, os preços estão subindo. Como outro exemplo desse fenômeno do aumento de dinheiro exceder o aumento da oferta de bens, podemos citar o aumento do preço do petróleo. Apesar de a imprensa e outros fóruns públicos atribuírem esse fenômeno à especulação, à ganância das empresas petrolíferas e ao aumento da demanda por petróleo por parte da China, a verdadeira causa é a crescente disparidade entre o dinheiro disponível e o petróleo disponível. Seguindo esse raciocínio, o aumento abrupto e generalizado dos preços - como o aumento dos preços dos imóveis, das ações e títulos, do petróleo, do ouro, das commodities, dos alimentos, etc. que vimos nessa década - seria matematicamente impossível caso não tivesse havido um aumento da oferta de dinheiro circulando na economia mundial. De fato, se a oferta de bens estivesse aumentando, como de fato está, e se ao mesmo tempo a quantidade de dinheiro tivesse permanecido estável, os preços obrigatoriamente iriam cair. Mas não tenha dúvidas: por várias razões fundamentais ligadas à produção, à oferta e à demanda, há uma carência na oferta de algumas commodities em relação ao aumento da demanda real por elas. Ainda assim, essa carência de oferta não é a causa nem da ocorrência de escassezes nem do aumento extremado do preço mundial dos alimentos (mais de 80 por cento em três anos). Ademais, apesar de a produção de muitas commodities, como o trigo, estar estagnada ou mesmo declinante ao longo dos últimos anos, outras commodities tiveram aumentos contínuos em sua produção; outros grupos alimentícios como cereais, frutas, semoventes, peixes e frutos do mar tiveram sua oferta aumentada. Dados da The Food and Agriculture Organization, órgão da ONU, mostram que tanto a produção agrícola como a produção alimentícia per capita aumentaram continuamente desde 1990, e permaneceram estáveis desde 2000.[1] Em comparação, os preços das commodities estão subindo desde 1999. Agora, de volta ao artigo de Krugman, podemos ver que as razões que ele cita para a escassez de alimentos e para o aumento de preços são ilógicas. Por exemplo, "nova demanda" por comida por parte da China teria necessariamente resultado não apenas nos próprios chineses produzindo mais comida para satisfazer esta demanda, mas também no resto do mundo fazendo o mesmo. (Na realidade, a China aumentou sua produção agrícola per capita em 22 por cento desde 2000). Dá realmente para imaginar que produtores mundiais de comida não teriam percebido essa demanda e tentado obter lucros satisfazendo-a? De fato, eles perceberam essa demanda e, desde então, vêm produzindo mais comida. A população chinesa está aumentando em apenas meio por cento ao ano. Como, então, poderiam os chineses repentinamente passar a necessitar 30 por cento a mais de comida por ano, em anos recentes? Mais ainda: como eles poderiam pagar por ela, mesmo se eles de fato tivessem esse desejo de mais comida? Como um conceito, a palavra "demanda" é propensa a uma má interpretação porque usamo-la de várias maneiras diferentes. Eu posso ter uma demanda (desejo) por uma casa no sul da França para poder ter um lugar para ancorar o iate que eu também demando (desejo). Nesse caso, "demanda" é algo sem conseqüência porque eu não tenho os meios pelos quais pagar por esses itens. Uma demanda real pode afetar os preços apenas se houver um verdadeiro poder de compra, na forma de dinheiro, para apoiar essa demanda. Os consumidores chineses não podem demandar e, logo, pagar por um aumento do consumo de comida se não tiverem mais dinheiro, que só pode chegar ao bolso deles após ter sido impresso pelo seu banco central. Eles podem, de fato, ter um aumento efetivo da demanda real se produzirem mais bens e utilizá-los para pagar por mais comida, mas isso faria reduzir os preços, não aumentá-los. Para ser claro, não são as empresas para as quais as pessoas trabalham que estão produzindo o dinheiro, pois as empresas não produzem o dinheiro com o qual elas pagam os salários de seus funcionários; elas produzem apenas bens. Para que as empresas tenham mais dinheiro (isto é, vender seus bens a preços maiores do que os do último ano) e possam, assim, pagar mais em termos salariais para seus funcionários, mais dinheiro deve ser criado pelo seu governo na forma de expansão creditícia. Portanto, se houvesse de fato toda essa nova demanda por comida na China, como Krugman alega - e supondo-se que a quantidade de dinheiro circulando na economia fosse constante -, teria de haver necessariamente uma redução na demanda e nos preços de outros bens. Portanto, os chineses poderiam muito bem estar consumindo mais comida, mas esse aumento do consumo não seria o responsável pelo aumento (absoluto) dos preços e da escassez. O que falar, então, sobre o tempo ruim? Não há dúvidas que condições meteorológicas adversas podem ter um papel importante no curto prazo. Mas, no longo prazo, se a Austrália sofre com um tempo ruim, mesmo que por cinco anos seguidos, outros países poderiam e iriam acelerar sua produção e aumentar a oferta. Como um exemplo, mais terra nos EUA seria convertida em plantações agrícolas. Uma escassez de comida em um país iria causar um aumento mundial nos preços temporariamente; mas o resultado disso, em uma situação de livre comércio, seria um aumento na produção e na oferta em outros países, o que iria derrubar novamente os preços. É possível que a ausência de um livre mercado tenha impedido isso de acontecer, mas é certo que a livre oferta e demanda iria impedir a possibilidade de uma emergência global. Se houvesse condições meteorológicas ruins na maioria das regiões do mundo ao mesmo tempo, a oferta de comida iria de fato declinar, e os preços aumentariam. Mas em um livre mercado ainda assim não haveria escassez. E em um mundo onde a oferta de dinheiro é imutável, esse efeito seria temporário, já que os preços cairiam quando a oferta posteriormente aumentasse. Novamente, assim que o preço dos alimentos subisse, o preço de outros bens teria de cair. Um aumento sustentável dos preços de todos os bens só é possível quando há dinheiro novo sendo injetado na economia mundial.[2] Quanto ao último argumento de Krugman, o de que as terras cultiváveis estão agora sendo usadas para o cultivo de matéria-prima para os biocombustíveis, trata-se de um ponto de interrogação. Em um livre mercado, se houvesse uma escassez de alimentos e se os inerentemente altos preços desses alimentos escassos enviassem um sinal ao mercado, a terra que estivesse sendo usada para qualquer outro item - biocombustíveis, estacionamentos, salas de cinema, casas, ou o que seja - seria convertida para usos agrícolas. Se tivéssemos uma escassez sustentada de alimentos nos EUA, por exemplo, isso é o que iria ocorrer. De fato, a agricultura costumava representar 50 por cento do PIB no início do último século, mas hoje ela representa menos de um por cento. O uso da terra foi alterado para poder satisfazer mudanças na demanda. Mas se precisássemos de comida, poderíamos e iríamos expandir a agricultura novamente para aquele nível de 50 por cento. Em uma escala mundial, à medida que os preços dos alimentos subissem, a terra seria convertida para o uso mais lucrativo do plantio de alimentos ao invés do menos lucrativo cultivo de matéria-prima para biocombustíveis. Apenas se os subsídios governamentais fossem altos o bastante para obscurecer esses sinais de mercado, ou se o governo obrigasse as companhias de energia a comprar matéria-prima (sendo que ambos esses casos ocorrem nos EUA), apenas assim a estrutura da produção agrícola poderia ser deformada de tal modo que não pudesse haver essa resposta de mercado. Similarmente, se o desenvolvimento de áreas agrícolas se tornou difícil por causa de regulamentações governamentais - como, por exemplo, para se proteger os atuais agricultores, que têm um lobby poderoso -, um aumento da produção torna-se algo bem mais problemático. Em suma, a real causa do contínuo aumento dos preços dos alimentos é a impressão de dinheiro por parte dos governos por todo o mundo. E a real causa da atual escassez de alimentos é o impedimento do lucrativo comércio global de alimentos por causa das imprudentes políticas governamentais dos governos dessas mesmas pessoas que hoje estão famintas. Quaisquer outros motivos que expliquem uma redução da oferta a um nível maior do que o temporário só existem porque os governos impedem os mercados de funcionar. Ignorar esses principais determinantes da atual escassez alimentícia do mundo significa propositadamente repudiar a lógica econômica - ou simplesmente ser ignorante em relação a ela. ______________________________ Notas [1] Os dados vão até 2006. [2] Alguém poderia argumentar que o fato de os preços dos alimentos estarem subindo mais rapidamente do que os preços de outros bens é uma revelação dessa exata ocorrência nesse nosso mundo de quantidades crescentes de dinheiro. Ou seja, isso refletiria diferenças relativas de preços. Esse efeito da diferença relativa de preços provavelmente está lá, mas este autor argumentaria que esse efeito explicaria apenas uma pequena porção da diferença relativa de preços. O efeito de um boom creditício ser canalizado para os mercados de commodities em geral será provavelmente o efeito predominante das diferenças de preço. Dizer que o efeito da diferença de preços relativos explica grande parte, ou toda a diferença de preços, requereria uma explicação de como os preços das ações e os preços imobiliários podem aumentar tão desproporcionalmente mais rápido do que outros bens normais por causa de uma redução na oferta, quando na verdade os preços aumentaram e a oferta sempre foi abundante. Em outras palavras, um aumento de preços acontece a todo o momento em outras áreas onde a oferta não é limitada. Kel Kelly foi, durante 13 anos, corretor de Wall Street, analista de finanças e diretor de pesquisa para uma empresa de consultoria de organização listada na Fortune 500. Os resultados de suas análises financeiras já foram apresentados na CNBC Europa e nas edições online da CNN, Forbes, BusinessWeek e Wall Street Journal. Kel é formado em economia pela Universidade do Tennessee, possui MBA pela Universidade de Hartford e mestrado em economia pela Florida State University. Mora em Atlanta e é autor do livro The Case for Legalizing Capitalism. Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque