quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O FUTURO TRAIDOR

Anos atrás, quando Ingrid Betancourt foi resgatada da selva colombiana, o Partido Comunista Português recusou-se a saudar o feito. Motivo?

A sra. Betancourt tinha sido salva pelo presidente Álvaro Uribe das mãos das FARC. E entre Uribe e o "comandante" Enrique, os comunistas lusos não escondiam as suas simpatias.

Na altura, no jornal "Expresso", ainda perguntei aos camaradas se a sra. Betancourt deveria ser jogada de volta à selva. Sobretudo se se provasse que o resgate tinha sido feito com o intolerável apoio americano. O PCP, essa deliciosa relíquia stalinista que persiste na Europa Ocidental, não chegou a responder.

Felizmente, vejo com bons olhos que Portugal não é caso único em matéria de atraso político e até intelectual. Era Eça de Queirós quem dizia, com piada, que os brasileiros eram portugueses inchados pelo calor. O que significa que os vícios portugueses, no Brasil, também incham com a temperatura.

Assim foi com a blogueira cubana que, em visita ao Brasil, foi acusada de mil torpezas por uma parte da esquerda local. Mas, entre todos os insultos, um deles dominou a minha atenção: a sra. Yoani Sánchez denuncia os abusos da ditadura castrista porque existe dinheiro americano por detrás. Ela é, resumindo, uma traidora do seu próprio país.

A acusação é interessante porque existem vários equívocos nela.

A primeira, evidente, é imaginar o que diria essa esquerda fanática e pró-castrista se a sra. Yoani Sánchez, sem dinheiro americano
(como, aliás, parece ser o caso), continuasse as suas críticas ao regime de Havana. Será que assim, descontaminada de qualquer corrupção "imperialista", os críticos que a
insultaram perdoariam a traição à pátria?

Obviamente que não. E "obviamente" porque existe um segundo equívoco na acusação, próprio do pensamento totalitário: a ideia funesta de que um país se confunde com um regime que fala em nome do povo.

Da União Soviética comunista à Alemanha nazista, sem esquecer as atrocidades cometidas por Mao (na China) ou pelo pequeno Fidel (em Cuba), não houve ditador que não tenha cometido esse abuso, digamos, epistemológico: "O Estado sou eu", para citar a famosa frase do absolutista Luís 14. Ou, em alternativa, Cuba são os Castro.

Acontece que não são. Cuba pertence aos cubanos, atraiçoados por Fidel em 1959. E o mais irônico é que as promessas do ditador eram outras: acabar com o "bordel" de Fulgencio Batista, realizar eleições livres no curto prazo e até, pasme-se, abrir a ilha ao mundo.

Todos sabemos o resto da história, feito de fuzilamentos no "paredón", presos políticos, restrição das mais básicas liberdades (como a de sair do país) e uma miséria material que os turistas ocidentais, em viagens quase zoológicas, tomam por exótica. De fato, não há nada mais exótico do que visitar seres humanos em cativeiro.

E quem acredita que essa miséria material se explica com o "embargo americano", das duas, uma: ou é ignorante, ou é simplesmente um fanático. O "embargo americano" existe, sem dúvida, e deve ser condenado pelo seu óbvio anacronismo (como a própria blogueira o faz). Mas é preciso acrescentar a segunda parte da frase: só existe o embargo americano.

Que o mesmo é dizer: todo mundo que é mundo mantém relações com Cuba e nem assim a ilha se converteu numa espécie de Suécia do Caribe. Economicamente, Cuba falhou como falharam todas as experiências coletivistas da história. Com ou sem embargos.

Yoani Sánchez é uma traidora dos fabulosos irmãos Castro? Brindo a ela. Como brindo a todos os traidores que lutaram contra todas as ditaduras. E aqui incluo o velhinho PC português, que lutou (e bem) contra a ditadura de Salazar. Mesmo que o tenha feito em nome de uma ditadura moscovita de sentido inverso.

Porque este é o ponto: no dia em que o meu país for tomado de assalto por um torcionário qualquer, seja ele de esquerda ou de direita, e a democracia deixar de existir em Portugal, agradeço antecipadamente todo o apoio estrangeiro para derrubar esse regime.

E publicamente declaro: aceito dinheiro brasileiro, armas americanas e até espionagem israelense.

Nesse dia, eu serei um "traidor da pátria". E com todo o prazer.

Por: João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

À SOMBRA DO AUTORITARISMO

Duas décadas após o fim da Guerra Fria, tornou-se lugar comum dizer que a democracia virara um regime consolidado em toda a América Latina, com exceção de Cuba. Não haveria mais golpe preventivo de direita, e a esquerda finalmente aderira ao regime democrático.


Episódios como o golpe de Fujimori no Peru e de Chávez na Venezuela, ambos em 1992, seriam os estertores de um passado de atentados institucionais já superado. Agora haveria apenas um jogo sob regras democráticas: The Only Game in Town , como chama a literatura especializada no assunto.

Aliás, 1992 foi mesmo um divisor de águas. Alguns países como o Brasil pós-impeachment institucionalizaram sua democracia e economia ano a ano. Outros como a Venezuela enveredaram por uma sequência de crises de institucionalidade política e econômica, recuando um passo atrás do outro.

Seria possível assegurar que a região é hoje mais democrática do que há dez anos? Há razões para duvidar.

Neste momento, a Venezuela é a principal marca do retrocesso que aflige a região. O golpe de 10 de janeiro de 2013 ungiu ao poder uma pessoa que simplesmente não recebeu voto algum. Nicolás Maduro se transformou no primeiro presidente biônico de fato do século 21 na América Latina. Chávez voltou para Caracas, mas o problema continua. Nada apaga o golpe. Além disso, Maduro ainda governa por delegação dada por alguém que está em um leito de hospital, sem condições de exercer a Presidência como deveria.

Vale dizer que a virtude da democracia não está em um só homem e seu partido, mas na natureza das instituições do sistema político.

Recentemente, houve também ruptura democrática (também "temporária") em Honduras e no Paraguai, bem como inúmeras tentativas de censurar a imprensa, controlar as pesquisas e o livre pensamento nas universidades, anular os contrapesos institucionais e inibir a oposição em muitos outros países.

Nem mesmo o Brasil escapou dessa onda golpista. O atentado institucional levou aqui o nome de mensalão. O Supremo, no entanto, demonstrou independência e condenou pessoas poderosas. Gerou preocupação o último pronunciamento em rádio e TV da presidente Dilma. Foi mais próximo ao estilo chavista, dividindo a nação entre governistas e opositores.

Segundo a presidente, quem pensa diferentemente dela não tem fé no país, fazendo lembrar o slogan da ditadura "Brasil, ame-o ou deixe-o", mesmo com crescimento econômico agora similar ao da década perdida nos anos 1980.

Pouco a pouco, o pesadelo do autoritarismo volta a assombrar a América Latina. Talvez simbólica seja a ascensão de Cuba à presidência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac). Justamente um regime autoritário muito antigo estará à frente da nova organização regional.

Nos últimos tempos, os países mais dinâmicos como Chile, Peru, Colômbia e México fazem uma aposta no aprofundamento das instituições democráticas e de mercado, elaborando inclusive uma área de livre comércio. É difícil classificá-los de neoliberais porque investem progressivamente em políticas sociais em um novo contexto internacional.

Em compensação, os governos do Mercosul não sabem o que fazer para reverter a tendência de desintegração econômica já observada nos indicadores. A importância relativa do bloco decresceu para nós mesmos. As supostas esquerdas e grupos nacionalistas no poder não têm agenda de desenvolvimento e ampliam a dependência em relação à China, que de comunista só restou a ditadura.

Isso não quer dizer que o Mercosul deva ser descartado. Ao contrário, precisa ser reabilitado no seu comércio e espírito democrático. Uma coisa que faria muito bem a todos seria a alternância de poder.

Uma perigosa rota continuísta se estabeleceu. Uma parte considerável de partidos sul-americanos já está há mais de dez anos no poder, e sem qualquer perspectiva de saírem de lá. O voto que define as democracias sofre com sucessivas violações sobre o que o torna livre.

O antídoto que as sociedades têm para preservar suas instituições pluralistas é substituir um partido por outro, elegendo grupos diferentes. Não há outro remédio. Por: Marcelo Coutinho O Globo


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

QUANDO A SENSATEZ NÃO TEM VEZ


Na Suíça de hoje, parece que os relógios são os únicos que se portam previsivelmente. Ao longo dos últimos quatro anos, políticos suíços e seu Banco Central passaram a comprar reservas internacionais a um ritmo sem precedentes. Em 2012, as reservas internacionais do país, formadas por várias moedas, já totalizavam US$420 bilhões. A moeda mais volumosa em suas reservas é o euro. Este montante é sete vezes maior do que o de 2008, e equivale a 70% do PIB anual do país. Tal soma equivale a US$200.000 para cada família suíça de quatro pessoas.

As autoridades suíças alegarão que o dinheiro foi "investido" visando ao futuro, mas o que elas de fato fizeram foi empobrecer todo o país no presente. Embora tal decisão pareça perversa, ela faz perfeito sentido quando vista através da lente daquilo que hoje passou a ser o pensamento econômico dominante.

Durantes suas últimas gerações, a Suíça desfrutou um dos mais robustos fundamentos econômicos do mundo. O país ostenta uma alta taxa de poupança, baixos impostos, um vibrante setor exportador, uma baixa razão dívida/PIB, e um orçamento governamental equilibrado. E, antes dos últimos dois anos, uma das mais responsáveis políticas monetárias do mundo. Estes atributos tornaram o franco suíço um dos poucos "portos seguros" do mundo. Porém, na economia global atual, os sensatos não têm vez.

Os principais bancos centrais do mundo, particularmente aqueles localizados em Washington, Frankfurt, Londres e Tóquio, se entregaram gostosamente a uma maciça e coordenada campanha de desvalorização de suas moedas para combater a recessão. No entanto, por alguns anos os suíços se recusaram a se juntar a essa marcha da insensatez. Como consequência, os investidores ao redor do mundo sabiamente decidiram proteger sua poupança comprando o confiável franco suíço. De dezembro de 2008 a agosto de 2011, o franco suíço se apreciou assombrosos 59% em relação ao dólar americano e aproximadamente 30% em relação ao iene japonês. Ainda mais importante, o franco ganhou 42% em relação ao euro. Dado que a zona do euro literalmente cerca toda a Suíça, seu comércio com estes países representa a esmagadora maioria de suas transações internacionais.

Durante este acentuado processo de apreciação de sua moeda, a economia suíça continuou prosperando. Os salários e o poder de compra dos suíços aumentaram, e o PIB do país cresceu consistentemente mais do que o de outros países da Europa ocidental. Adicionalmente, a apreciação de sua moeda ajudou a conter a inflação de preços, dando à Suíça uma taxa de inflação consistentemente baixa, com ocorrências ocasionais de deflação de preços.

No entanto, não obstante as majoritariamente positivas estatísticas do setor exportador, alguns exportadores suíços começaram a reclamar que, em determinados momentos, um franco suíço robusto os colocava em desvantagem em relação aos concorrentes internacionais. E, como em qualquer outro país do mundo, o setor exportador possui um lobby poderoso. E o Banco Central suíço, assim como os principais bancos centrais do mundo, possui seu ranço mercantilista. Logo, embora a Suíça fosse uma ilha de saúde em meio a um mar de problemas, a nova ortodoxia econômica dominante convenceu as autoridades suíças de que sua moeda forte era não uma benção mas sim um fardo. Mais especificamente, a apreciação do franco era vista como um repúdio às políticas monetárias expansionistas que estavam ocorrendo em todos os outros países. E então, repentinamente, o governo suíço decidiu se juntar à farra da destruição da moeda.

No início de agosto de 2011, o Banco Central suíço adotou uma série de medidas para reverter a apreciação do franco. Em termos simples, ele começou a imprimir francos para comprar moedas estrangeiras, mais notavelmente o euro. O anúncio incluía a promessa de comprar quantias ilimitadas de moeda estrangeira com o intuito de manter um piso de 1,20 francos por euro. Em outras palavras, o Banco Central suíço estava dizendo que faria a política monetária que fosse necessária para impedir que sua moeda continuasse se valorizando. Ao fazer isso, os suíços essencialmente terceirizaram sua política monetária para a zona do euro. Qualquer medida expansionista feita pelo Banco Central Europeu teria de ser imitada pelo Banco Central suíço. Ironicamente, era justamente o medo desta perda de soberania monetária que fez com que os suíços se recusassem a adotar o euro. Não obstante a milenar tradição de independência e neutralidade do país, os suíços acabaram, em vias indiretas, adotando o euro. 

Desde aquela data, o franco suíço já se desvalorizou 16% em relação ao dólar, as reservas suíças explodiram, e os investidores estrangeiros que compraram francos como meio de fugir da desvalorização de suas moedas foram traídos.

Nações de economia robusta e mão-de-obra produtiva geram bens e serviços em excesso em relação ao volume que é demandado pela população nacional, o que permite que este excedente seja exportado sem prejudicar a qualidade de vida da população. Esta robustez e estabilidade econômica atrai investimentos estrangeiros. Tais fundamentos econômicos tendem a aumentar a demanda pela moeda deste país, o que significa uma apreciação de sua taxa de câmbio. Uma moeda forte mantém baixos os custos dos insumos e dos bens de capital, o que permite que os trabalhadores produtivos ganhem salários reais cada vez maiores.

Entretanto, de acordo com a maioria dos economistas, ter uma moeda forte é algo trágico para uma economia porque irá destruir a competitividade internacional deste país e poderá — pavor dos pavores — gerar uma deflação de preços, algo que eles veem como uma areia movediça. Foram estes temores que deram início à "guerra cambial global", em que os países estão destruindo suas poupanças para garantir que suas moedas se mantenham baratas, para deleite dos exportadores. Na lógica econômica atual, temos de fracassar para sermos bem-sucedidos.

Mas é muito fácil ter uma moeda fraca. Basta uma ilimitada disposição para imprimir dinheiro. Já uma moeda forte requer uma grande disciplina fiscal e uma genuína capacidade produtiva. No entanto, como naqueles programas de TV em que as pessoas têm de perder peso, economistas acreditam que o vencedor de uma guerra cambial é o maior perdedor. Você vence não por ter eliminado seus concorrentes, mas por ter se suicidado! É como um estudante convencendo seus pais de que tirar 3 é melhor do que tirar 10. E se um boletim escolar repleto de notas baixas começa a gerar elogios paternos em vez de reprimendas, os estudantes perderão qualquer incentivo para melhorar seus desempenhos. Similarmente, se nações aplicadas como a Suíça começam a se esforçar para reduzir suas próprias notas, as outras nações mais relaxadas terão ainda menos incentivos para alterar seus hábitos de estudo. Se as nações mais disciplinadas não entrassem nessa guerra cambial e não depreciassem suas moedas, aquelas nações que estão destruindo suas moedas veriam uma enorme escalada nos preços de seus bens de consumo. A resultante queda no padrão de vida obrigaria várias reformas estruturais e produtivas.

Estou naquela posição minoritária que acredita que, assim como é melhor ser rico a ser pobre, uma moeda forte é preferível a uma moeda fraca. Embora vários economistas renomados estejam se empenhando para criar confusão nesta discussão, o fato é que a falácia de um argumento pode ser vista quando sua lógica é levada a extremos. Se uma moeda mais fraca é preferível a uma mais forte, então a lógica nos levaria a concluir que uma moeda sem valor nenhum será preferível a uma moeda de valor infinito. Seria preferível, por exemplo, ter uma cédula de $1.000.000 que não compra absolutamente nada a ter uma moedinha de $0,01 que compra um automóvel.

E como funcionariam economias com moedas tão drasticamente diferentes assim?

É verdade que o país com a moeda de valor zero tenderia a apresentar pleno emprego e robustas exportações. Óbvio. Com o custo da mão-de-obra relativamente baixo, a população poderia ser facilmente empregada até mesmo nas mais inúteis atividades. E pelo fato de a população não possuir poder de compra nenhum, todo e qualquer produto seria exportado para aqueles países cuja população possui uma moeda com maior poder de compra. Adicionalmente, as importações seriam nulas, pois a população local seria incapaz de adquirir qualquer coisa produzida em outros países de moeda mais forte. Como consequência, o nível de consumo neste país seria extremamente baixo e o padrão de vida desta população seria lamentável. Essencialmente, essa economia seria parecida com aquelas economias pobres que funcionam em nível de subsistência, como as da Bolívia, do Zimbábue e do Haiti.

Por outro lado, um país com uma moeda de valor infinito vivenciaria o melhor dos mundos possíveis. Mesmo a mais ínfima quantidade de dinheiro permitiria a seus cidadãos comprarem volumosas quantias de bens estrangeiros. O dinheiro ganhado em um bico qualquer, como trabalhar de babá por apenas uma tarde, daria mais poder de compra do que meses de trabalho duro em países mais pobres. A moeda forte permitiria que o consumo aumentasse ao mesmo tempo em que as horas de trabalho diminuíssem. A poupança aumentaria continuamente de valor, as pessoas poderiam viajar com cada vez mais frequência e dedicar muito mais tempo ao lazer. Essencialmente, é assim que funciona uma economia rica.

Quando vista sob esta perspectiva, é fácil entender por que os defensores da ortodoxia dominante fogem ao debate. Aqueles que acreditam nos benefícios de uma moeda fraca nunca especificam quando uma moeda em depreciação se torna algo ruim. É óbvio que tem de haver um ponto de virada, um ponto em que a perda do poder de compra passa a sobrepujar os supostos ganhos em crescimento econômico e emprego. No entanto, há apenas silêncio em relação a isso. já a minha posição é que uma moeda em contínua apreciação sempre será algo bom. Neste quesito, nenhum ponto de virada precisa ser identificado.

O problema é que os economistas politicamente corretos de hoje acreditam que o objetivo de uma economia é fornecer emprego a todos, e não produzir bens e serviços de qualidade e em abundância. Eles veem um emprego como o objetivo final de tudo, e não como um meio que possibilita às pessoas produzir coisas genuinamente demandadas, e cuja remuneração por este serviço genuíno permitirá que elas possam obter o que querem. Ademais, se podemos conseguir tudo o que queremos sem ter de trabalhar muito, por que se importar com empregos? Uma moeda forte nos leva para o mais próximo possível deste ideal. O fato de este objetivo ter sido amplamente esquecido mostra com perfeição a miséria intelectual da atual "ciência" econômica.

E é justamente esse tipo de ciência tosca que está aniquilando o crescimento real do mundo. Enquanto essa ideologia do "preto é branco" continuar prosperando, os maiores depreciadores continuarão a ser os maiores perdedores reais.

Por: Peter Schiff -  presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear Markets, Crash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes. Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico. Veja o vídeo. Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português 
Tradução de Leandro Roque

AUTORITARISMO

O maior perigo para a humanidade: nossa recorrente paixão pelo autoritarismo


É inegável que, nos dias de hoje, ditadura, intervencionismo e socialismo são extremamente populares. Nenhum argumento lógico parece conseguir enfraquecer essa popularidade. O fanatismo impede que os ensinamentos da teoria econômica sejam ouvidos, a teimosia impossibilita qualquer mudança de opinião e a experiência histórica não serve de base para nada. 

Para compreender as raízes dessa rigidez mental, devemos nos lembrar de que as pessoas sofrem e se sentem infelizes e frustradas porque as coisas nem sempre se passam da maneira como elas gostariam. O homem nasce como um ser egoísta, um ser não-sociável, e é só com a vida que ele aprende que sua vontade não é a única nesse mundo; existem outras pessoas que também têm suas vontades. A vida e a experiência irão lhe ensinar que, para realizar os seus planos, ele terá de encontrar o seu lugar na sociedade, terá de aceitar as vontades e os desejos de outras pessoas como um fato consumado, e terá de se ajustar a esses fatos se quiser chegar a algum lugar. 

A sociedade não é aquilo que o indivíduo gostaria que fosse. Todo indivíduo tem a respeito de seus conterrâneos uma opinião menos favorável do que a que tem sobre si próprio. Ele se julga possuidor do direito natural de ocupar na sociedade um lugar melhor do que aquele que efetivamente ocupa. Ele se julga digno de estar em uma classe social mais elevada. Só que diariamente o presunçoso — e quem está inteiramente livre da presunção? — sofre novas decepções. E diariamente ele aprende, nem sempre de maneira pacífica e corriqueira, que existem outras vontades além da sua. 

Para se blindar dos efeitos mentalmente devastadores destas seguidas decepções, o neurótico se refugia em sonhos encantados. Mais especificamente, ele sonha com um mundo no qual apenas a sua vontade é decisiva e é implantada sem restrições. Neste seu mundo onírico, ele é o ditador. Só aquilo que tiver a sua aprovação pode acontecer. Somente ele pode dar ordens; os outros apenas obedecem. Sua razão é suprema.

Neste mundo secreto de ilusões, o neurótico pensa ser um César, um Genghis Khan ou um Napoleão. Mas, na vida real, quando fala com os seus conterrâneos, tem de abaixar a cabeça e ser mais modesto. Sendo assim, perante essa sua irremediável insignificância, ele tem de se contentar em apoiar uma ditadura comandada por outra pessoa. Não importa se tal ditadura seja em seu próprio país ou em um outro distante: em sua mente, este ditador está ali apenas para efetuar as suas (do neurótico) vontades. Trata-se de uma mistura de psicopatia com megalomania.

Nenhum indivíduo jamais apoiou uma ditadura que fizesse coisas opostas às que ele considera certas. Quem apóia uma ditadura o faz por achar que o ditador está fazendo o que, na opinião deste indivíduo, tem de ser feito. Quem apóia ditaduras tem sempre em mente o desejo irrefreável de dominar seus conterrâneos de forma irrestrita, e impor a eles todas as suas vontades — ainda que tal serviço seja feito por outra pessoa. 


O defensor de ditaduras costuma ter um carinho específico pela expressão "planejamento econômico" — ou "economia planejada" —, a qual, particularmente nos dias de hoje, é um pseudônimo de socialismo. Neste arranjo, qualquer coisa que as pessoas queiram fazer tem de ser primeiramente aprovada e planejada. Estes que, assim como Marx, rejeitam a "anarquia da produção" e pretendem substituí-la pelo "planejamento", desprezam profundamente a livre iniciativa, as vontades e os planos das outras pessoas. Somente uma vontade deve prevalecer, somente um plano deve ser implementado: aquele que tem a aprovação do neurótico; o plano que ele considera correto, o único plano. Qualquer resistência deve ser subjugada e sobrepujada; nada deve impedir o neurótico de tentar ordenar o mundo de acordo com seus próprios planos. Todos os meios que façam prevalecer a suprema sabedoria do lunático devem ser utilizados. 

Essa é a mentalidade das pessoas que, certa vez, em uma exposição das pinturas de Manet em Paris, exclamaram: "a polícia não deveria permitir isso!" Essa é a mentalidade das pessoas que constantemente bradam: "deveria haver uma lei contra isso!"

E, quer elas admitam ou não, esta é exatamente a mentalidade de todos os intervencionistas, socialistas e defensores das ditaduras. Há apenas uma coisa que eles odeiam mais do que o capitalismo: um intervencionismo, um socialismo ou uma ditadura que não corresponda a todas as suas vontades. Daí a briga apaixonada entre comunistas e nazistas; entre os partidários de Trotsky e os de Stalin; entre os seguidores de Strasser e os de Hitler. 

A liberdade e o sistema econômico 

O principal argumento contra a proposta de se instituir um regime socialista é o de que, no sistema socialista, não há espaço para a liberdade individual. Socialismo, argumenta-se, é o mesmo que escravidão. Não há como negar a veracidade desse argumento. Onde o governo controla todos os meios de produção, onde o governo é o único empregador e tem o direito de decidir que treinamento as pessoas deverão receber, onde e como deverão trabalhar, o indivíduo não é livre. Tem o dever de obedecer e não tem direitos. 

Os defensores do socialismo nunca conseguiram apresentar uma refutação efetiva a esse argumento. Retrucam dizendo apenas que, na economia de mercado, há liberdade apenas para os ricos, e não para os pobres; e que, por uma liberdade desse tipo, não valeria a pena renunciar às supostas vantagens do socialismo. 

Ocorre que os homens são diferentes, desiguais. E sempre o serão. Alguns são mais dotados em determinado aspecto, menos em outro. E há os que têm o dom de descobrir novos caminhos, de mudar os rumos do conhecimento. Nas sociedades capitalistas, o progresso tecnológico e econômico é promovido por esses homens. Quando alguém tem uma ideia, procura encontrar algumas outras pessoas argutas o suficiente para perceberem o valor de seu achado. Alguns capitalistas que ousam perscrutar o futuro, que se dão conta das possíveis consequências dessa ideia, começarão a pô-la em prática. Outros, a princípio, poderão dizer: "são uns loucos", mas deixarão de dizê-lo quando constatarem que o empreendimento que qualificavam de absurdo ou loucura está florescendo, e que toda gente está feliz por comprar seus produtos.

No sistema ditatorial marxista, por outro lado, o corpo governamental supremo deve primeiro ser convencido do valor de uma ideia antes que ela possa ser levada adiante. Isso pode ser algo muito difícil, uma vez que o grupo detentor do comando — ou o ditador supremo em pessoa — tem o poder de decidir. E se essas pessoas — por razões de indolência, senilidade, falta de inteligência ou de instrução — forem incapazes de compreender o significado da nova ideia, o novo projeto não será executado.

Para analisar essas questões devemos, em primeiro lugar, entender o verdadeiro significado da palavra liberdade. Liberdade é um conceito sociológico. Não há, na natureza ou em relação à natureza, nada a que se possa aplicar esse termo. Liberdade é a oportunidade concedida ao indivíduo pelo sistema social para que ele possa modelar sua vida segundo sua própria vontade. Que as pessoas tenham que trabalhar e produzir para poder sobreviver é uma lei da natureza; nenhum sistema social pode alterar esse fato. Que o rico possa viver sem trabalhar não diminui em nada a liberdade daqueles que não tiveram a sorte de estar nessa posição afortunada. Em uma economia de mercado, naquela em que há liberdade de empreendimento, e ausência de privilégios e protecionismos estatais, a riqueza de um indivíduo representa a recompensa concedida pela sociedade pelos serviços prestados aos consumidores no passado. E esta riqueza só pode ser preservada se ela continuar a ser utilizada — isto é, investida — no interesse dos consumidores. 

Que a economia de mercado recompense generosamente aquele que se mostrou capaz de bem servir aos consumidores é algo que não causa nenhum dano aos consumidores. Ao contrário, só os beneficia. Nada, nesse processo, é tomado do trabalhador, e muito lhe é proporcionado, o que lhe permite aumentar sua produtividade do trabalho. A liberdade do trabalhador que não tem propriedades está no seu direito de escolher o local e o tipo de seu trabalho que quer. Ele não está sujeito às arbitrariedades de um senhor de engenho que o tem como vassalo. Ele simplesmente vende os seus serviços no mercado. Se um empreendedor se recusar a lhe pagar o salário correspondente às condições do mercado, ele encontrará outro empregador disposto a, no seu próprio (do empregador) interesse, lhe pagar o salário de mercado. O trabalhador não deve subserviência e obediência ao seu empregador; ele deve ao seu empregador apenas a prestação de serviços. Ele recebe seu salário não como um favor, mas sim como uma recompensa de que é merecedor. 

Os pobres também têm a possibilidade, em uma sociedade capitalista, de se fazer pelo seu próprio esforço. Isso não ocorre apenas às atividades comerciais. A maioria das pessoas que hoje ocupa uma posição de destaque nas profissões liberais, nas artes e na ciência começou a carreira na pobreza. Entre os líderes e os vencedores, muitos são originários de famílias pobres. Quem quer ser bem-sucedido, qualquer que seja o sistema social, terá que vencer a apatia, o preconceito e a ignorância. Não se pode negar que o capitalismo oferece essa oportunidade. 

Em uma economia capitalista, o mercado é um corpo social; é o corpo social por excelência. Todos agem por conta própria; mas as ações de cada um procuram satisfazer tanto as suas próprias necessidades como também as necessidades de outras pessoas. Ao agir, todos servem seus concidadãos. Por outro lado, todos são por eles servidos. Cada um é ao mesmo tempo um meio e um fim; um fim último em si mesmo e um meio para que outras pessoas possam atingir seus próprios fins.

Todos os homens são livres; ninguém tem de se submeter a um déspota. O indivíduo, por vontade própria, se integra num sistema de cooperação. O mercado o orienta e lhe indica a melhor maneira de promover o seu próprio bem estar, bem como o das demais pessoas. O mercado comanda tudo; por si só coloca em ordem todo o sistema social, dando-lhe sentido e significado.

O mercado não é um local, uma coisa, uma entidade coletiva. O mercado é um processo, impulsionado pela interação das ações dos vários indivíduos que cooperam sob o regime da divisão do trabalho.

A reiteração de atos individuais de troca vai dando origem ao mercado, à medida que a divisão de trabalho evolui numa sociedade baseada na propriedade privada. 

A economia de mercado, em princípio, não respeita fronteiras políticas. Seu âmbito é mundial. O mercado torna as pessoas ricas ou pobres, determina quem dirigirá as grandes indústrias e quem limpará o chão, fixa quantas pessoas trabalharão nas minas de cobre e quantas nas orquestras filarmônicas. Nenhuma dessas decisões é definitiva: são revogáveis a qualquer momento. O processo de seleção não para nunca.

Atribuir a cada um o seu lugar próprio na sociedade é tarefa dos consumidores, os quais, ao comprarem ou absterem-se de comprar, estão determinando a posição social de cada indivíduo. Os consumidores determinam, em última instância, não apenas os preços dos bens de consumo, mas também os preços de todos os fatores de produção. Determinam a renda de cada membro da economia de mercado. São os consumidores e não os empresários que basicamente pagam os salários ganhos por qualquer trabalhador.

Se um empreendedor não obedecer estritamente às ordens do público tal como lhe são transmitidas pela estrutura de preços do mercado, ele sofrerá prejuízos e irá à falência. Outros homens que melhor souberam satisfazer os desejos dos consumidores o substituirão.

Os consumidores prestigiam as lojas nas quais podem comprar o que querem pelo menor preço. Ao comprarem e ao se absterem de comprar, os consumidores decidem sobre quem permanece no mercado e quem deve sair; quem deve dirigir as fábricas, as fornecedoras e as distribuidoras. Enriquecem um homem pobre e empobrecem um homem rico. Determinam precisamente a quantidade e a qualidade do que deve ser produzido. São patrões impiedosos, cheios de caprichos e fantasias, instáveis e imprevisíveis. Para eles, a única coisa que conta é sua própria satisfação. Não se sensibilizam nem um pouco com méritos passados ou com interesses estabelecidos.

A economia de mercado, ou capitalismo, como é comumente chamada, e a economia socialista são mutuamente excludentes. Não há mistura possível ou imaginável dos dois sistemas; não há algo que se possa chamar de economia mista, um sistema que seria parcialmente socialista. A produção ou é dirigida pelo mercado, ou o é por decretos de um czar da produção, ou de um comitê de czares da produção. A economia de mercado é o produto de um longo processo evolucionário. É o resultado dos esforços do homem para ajustar sua ação, da melhor maneira possível, às condições dadas de um meio ambiente que ele não pode modificar. É, por assim dizer, a estratégia cuja aplicação permitiu ao homem progredir triunfalmente do estado selvagem à civilização.

O progresso é sempre um deslocamento do velho pelo novo. Progresso sempre quer dizer mudança. Nenhum planejamento econômico pode planejar o progresso, nenhuma organização pode organizá-lo. O progresso é a única coisa que desafia quaisquer limitações e controles. A sociedade e o estado não podem promover o progresso. O capitalismo também não pode fazer nada pelo progresso. Porém, e isso é já bastante, o capitalismo não coloca barreiras intransponíveis ao progresso. Uma sociedade socialista se tornaria absolutamente rígida, pois tornaria o progresso impossível. 

O intervencionismo não abole por completo todas as liberdades dos cidadãos. Porém, a cada nova medida intervencionista implantada, uma fatia importante de liberdade individual é abolida e, consequentemente, a atividade econômica é restringida. 

O fato inegável

O que tem melhorado a situação das pessoas, o que tem dado a elas melhores condições de vida, e o que tem criado todas aquelas coisas que hoje consideramos como o orgulho das realizações humanas, não foram declamações de nobres intenções, nem discursos sobre justiça social, e nem sonhos sobre um mundo melhor — e muito menos efetivos esforços para se implantar o "mundo melhor" pela força das armas. O que possibilitou todas estas coisas foi o empenhado trabalho diário das pessoas, cujos esforços foram direcionados para melhorar suas próprias condições de vida por meio do trabalho duro, fazendo coisas que eram desconhecidas em épocas passadas e que eram desconhecidas até mesmo por elas próprias em tempos anteriores recentes. 

A história da tecnologia e do comércio fornece inúmeros exemplos que confirmam isso. No passado, havia um considerável intervalo de tempo entre o surgimento de algo até então completamente desconhecido e sua popularização no uso cotidiano. Algumas vezes, passavam-se vários séculos até que uma inovação se tornasse amplamente aceita por todos — ao menos dentro da órbita da civilização ocidental. Pense na lenta popularização do uso de garfos, sabonetes, lenços, papeis higiênicos e inúmeras outras variedades de coisas.

Desde seus primórdios, o capitalismo demonstrou uma tendência de ir encurtando esse intervalo de tempo, até ele finalmente ser eliminado quase que por completo. Tal fenômeno não é uma característica meramente acidental da produção capitalista; trata-se de algo inerente à sua própria natureza. A essência do capitalismo é a produção em larga escala para a satisfação dos desejos das massas. Sua característica distintiva é a produção em massa

Os discípulos de Marx sempre se mostraram muito ávidos para descrever em seus livros os "inenarráveis horrores do capitalismo", os quais, como seu mestre havia prognosticado, resultam "de maneira tão inexorável como uma lei da natureza" no progressivo empobrecimento das "massas". O preconceito anticapitalista deles impedia que percebessem o fato de que o capitalismo tende, com o auxílio da produção em larga escala, a eliminar o notável contraste que há entre o modo de vida de uma elite afortunada e o modo de vida de todo o resto da população de um país. O abismo que separava o homem que podia viajar de carruagem e o homem que ficava em casa porque não tinha o dinheiro para a passagem foi reduzido à diferença entre viajar de avião e viajar de ônibus.

Que jamais nos aconteça

Não permitamos jamais que aquelas pessoas que dizem que tudo neste arranjo é ruim, que a propriedade privada é a origem de todos os malefícios e desigualdades, e que a única ação correta a ser tomada é a busca do "mundo melhor" pela imposição de medidas coercivas e ditatoriais adquiram poder.

Se há uma coisa que a história pode nos ensinar é que nenhuma nação jamais conseguiu criar uma civilização superior sem a propriedade privada dos meios de produção. E a prosperidade só pode ser encontrada onde prevalece a propriedade privada dos meios de produção. 

Se algum dia a nossa civilização desaparecer, não terá sido por uma inevitabilidade; não terá sido porque ela já estava fadada a esse trágico desfecho. Terá sido, isso sim, porque as pessoas se recusaram a aprender com a teoria e com a história. Não é o destino que determina o futuro da sociedade humana, mas sim o próprio homem. O declínio da civilização ocidental não é uma manifestação da vontade divina, algo que não pode ser evitado. Se ocorrer, terá sido o resultado de uma política que nunca deveria ter sido sequer cortejada. 

Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A FARSA SOBRE ABRAHAM LINCOLN

O filme Lincoln, de Steven Spielberg, vem sendo um grande sucesso de bilheteria e ganhou doze indicações para o Oscar, inclusive de melhor filme, melhor diretor e melhor ator para Daniel Day-Lewis, que fez o papel do 16º presidente americano. Como não vi o filme, este artigo não será sobre ele, mas sim sobre o homem que é até hoje endeusado por muitos.


Meu colega Thomas DiLorenzo, professor de economia da Loyola University de Maryland, já expôs vários mitos a respeito de Lincoln em seu livro de 2006, Lincoln Unmasked. Agora ele acaba de receber o reforço de Joseph Fallon, analista de inteligência cultural e ex-instrutor do Centro de Inteligência do Exército dos EUA, com seu novo e-book, Lincoln Uncensored. O livro de Fallon examina 10 volumes reunidos de discursos e escritas de Lincoln, os quais incluem passagens sobre escravidão, secessão, igualdade para os negros e emancipação. Não é necessário se basear na interpretação de ninguém. Apenas leia as palavras de Lincoln e veja o que você conclui delas.

Em uma carta escrita em 1858, Lincoln diz:

Já declarei mil vezes e volto a repetir que é minha firme opinião que nem o Governo Geral e nem qualquer outro poder externo aos estados escravagistas podem constitucionalmente ou por direito interferir na escravidão onde quer que ela já exista.

Em um discurso proferido em Springfield, Illinois, ele explicou:

Minhas declarações sobre este assunto da escravidão negra podem até ser deturpadas, mas não podem ser mal interpretados. Já disse que não vejo a Declaração (de Independência) como sendo uma afirmação de que todos os homens foram criados iguais sob todos os aspectos.

Debatendo com o senador Stephen Douglas, Lincoln disse:

Digo, portanto, que não sou, nem jamais fui, a favor de criar, de qualquer maneira que seja, a igualdade social e política das raças branca e preta; que não sou, nem nunca fui, a favor de transformar negros em eleitores ou jurados, nem de habilitá-los a exercer cargos públicos, nem de permitir seu casamento com pessoas brancas; e direi, adicionalmente, que há uma diferença física entre as raças branca e preta que, creio eu, irá para sempre proibir as duas de viverem juntas em termos de igualdade social e política. E, visto que elas não podem conviver desta forma, enquanto elas permanecerem em coexistência terá de haver a posição do superior e do inferior, e eu, assim como qualquer outro homem, sou a favor de que a posição superior seja atribuída à raça branca. [....] O que eu mais gostaria de ver seria a separação das raças branca e negra. (Abraham Lincoln, First Lincoln-Douglas Debate, Ottawa, Illinois, Sept. 18, 1858, in The Collected Works of Abraham Lincoln vol.3, pp. 145-146; 521).

E então você dirá, "Mas, professor Williams, a Proclamação de Emancipação publicada por Lincoln libertou os escravos! Isso prova que ele era contra a escravidão!"

Nas palavras do próprio Lincoln:

Vejo a questão [a Proclamação de Emancipação] como uma medida prática para a guerra [de secessão], algo a ser decidido de acordo com as vantagens ou desvantagens que ela possa oferecer à supressão da rebelião. [...] Também irei admitir que a emancipação irá melhorar nossa situação perante a Europa, convencendo aquele continente de que estamos sendo impelidos por algo mais do que a ambição.

Na época em que Lincoln escreveu a proclamação, a guerra de secessão estava indo mal para a União. Londres e Paris já estavam considerando reconhecer os Estados Confederados e estavam também considerando auxiliá-los em seus esforços de guerra.

Thomas DiLorenzo, em um recente artigo, apontou que o historiador de Harvard David Donald, vencedor do Prêmio Pulitzer e um dos mais proeminentes historiadores de Lincoln da atualidade, escreveu em sua biografia sobre Lincoln (página 545) que Abraham na realidade não teve praticamente nada a ver com a aprovação da Décima Terceira Emenda, contrariamente ao que é mostrado no filme de Spielberg. Com efeito, como escreveu Donald, quando perguntado por genuínos abolicionistas no Congresso se ele iria ajudá-los a aprovar a Emenda, Lincoln disse que não. 

Mas ele, no entanto, se empenhou bastante em tentar aprovar, em 1861, uma versão de uma outra décima terceira emenda, conhecida como a Emenda Corwin, a qual visava a consagrar explicitamente a escravidão na Constituição americana. Essa emenda chegou a ser aprovada pelo Congresso.

A Emenda Corwin proibia o governo federal de interferir, sob qualquer circunstância, na escravidão do sul dos EUA. A Emanda Corwin dizia:

Nenhuma emenda será feita à Constituição autorizando ou dando ao Congresso o poder de abolir ou interferir nas instituições domésticas de nenhum estado, inclusive no que tange às pessoas mantidas para trabalho ou serviço pelas leis do referido Estado.

"Pessoas mantidas para trabalho ou serviço" é como a Convenção Constitucional se referia aos escravos, e "instituições domésticas" se referia à escravidão. Em seu discurso de posse, Lincoln anunciou ao mundo que ele apoiava a Emenda Corwin:

Entendo que uma emenda proposta à Constituição — emenda essa que, no entanto, ainda não vi — foi aprovada no Congresso com o propósito de assegurar que o Governo Federal jamais interfira nas instituições domésticas dos Estados, inclusive nas pessoas mantidas para trabalho ou serviço . . . . Considerando que tal provisão resultará em lei constitucional, afirmo que não tenho nenhuma objeção a ela se tornar manifesta e irrevogável. (Ênfase minha).

Permita-me introduzi-los agora a Lerone Bennet, Jr., que foi editor executivo da revista Ebony por várias décadas (começando em 1958) e autor de vários livros, entre eles uma biografia de Martin Luther King, Jr. (What Manner of Man: A Biography of Martin Luther King) e uma obra monumental sobre Lincoln, Forced into Glory: Abraham Lincoln's White Dream. Bennet é formado pela Morehouse College, em Atlanta, e escreveu vários artigos sobre a cultura e a história afro-americana durante sua carreira na Ebony. Ele passou mais de vinte anos pesquisando e escrevendo Forced into Glory, uma severa e rigorosa crítica a Abraham Lincoln baseada em montanhas de fatos e verdades. Segundo Bennet Jr.,

Quem libertou os escravos? Se é que eles foram de fato 'libertados', isso ocorreu por causa da Décima Terceira Emenda, a qual foi escrita e pressionada para ser aprovada não por Lincoln, mas sim pelos grandes emancipadores que ninguém conhece, os abolicionistas e líderes congressistas que criaram o clima e geraram a pressão política que incitou, empurrou e finalmente forçou Lincoln à glória ao associá-lo a uma política à qual ele resolutamente se opusera por pelo menos cinquenta e quatro de seus cinquenta e seis anos de vida. (Bennett, Jr., Forced into Glory: Abraham Lincoln' s White Dream, p. 19).

Vale dizer que a Proclamação de Emancipação não foi uma declaração universal. Ela especificava onde os escravos estariam livres: somente naqueles estados que estavam "em rebelião contra os Estados Unidos". Os escravos permaneceram escravos naqueles estados que não estavam em rebelião — tais como Kentucky, Maryland e Delaware. A hipocrisia da Proclamação de Emancipação foi alvo de pesadas críticas. O próprio Secretário de Estado de Lincoln, William Seward, ironizou: "Mostramos nossa desaprovação à escravidão emancipando escravos onde nossa jurisdição não é aceita e mantendo escravos onde podemos de fato libertá-los".

Incoerências à parte, houve sim um momento em que Lincoln articulou um ponto de vista sobre secessão que teria sido muito bem-vindo em 1776:

Quaisquer pessoas, em qualquer lugar do mundo, que estejam dispostas e tenham o poder para tal, têm o direito de se insurgirem e se desvencilharem do governo vigente, e de formarem um novo governo que lhes seja mais apropriado. ... Tampouco está este direito restrito apenas a casos em que todos os cidadãos devem escolher exercê-lo. Qualquer fatia de um povo que se sinta capaz pode fazer uma revolução, se seceder e se apossar de toda a área daquele território em que habitam.

Mas isso foi dito por Lincoln em 1848 em um discurso na Câmara dos Deputados dos EUA. Ele se referia à guerra contra o México e à subsequente secessão do Texas em relação àquele país.

O que nos leva à grande pergunta. Por que Lincoln não aplicou aos estados do sul dos EUA essa mesma lógica do direito à secessão? Por que ele decidiu enviar tropas federais para massacrar os confederados? Para chegar à resposta, basta 'seguir o dinheiro'. Ao longo de toda a história dos EUA até o início do século XX, o governo federal possuía apenas duas fontes de receita: impostos cobrados sobre a venda de alguns bens específicos (que geravam uma receita muito baixa) e tarifas de importação. Durante a década de 1850, as tarifas de importação representavam nada menos que 90% de toda a receita do governo federal. E em 1859, os portos dos estados do Sul dos EUA foram responsáveis por nada menos que 75% do total dessas tarifas. Qual político "responsável" aceitaria abrir mão de tamanha receita? 

O preço desta recusa: 750.000 compatriotas assassinados pelo seu próprio governo.

Por: Walter Williams é professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.

Tradução de Leandro Roque

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O OUTRO LADO

E se em vez de insistirmos na comparação entre os governos petistas e os do PSDB dos últimos 20 anos fizéssemos uma análise mais abrangente, com as comparações da performance brasileira nos últimos 10 anos com a própria performance dos governos ao longo da nossa história e, além disso, com as demais economias do mundo, inclusive dos países emergentes? O professor titular de Economia Internacional da UFRJ Reinaldo Gonçalves se propôs a se distanciar da polarização PT – PSDB para analisar a economia brasileira e os avanços sociais nos 10 anos de governos petistas, e encontrou um quadro bastante desolador, distante da propaganda oficial, a que deu o título “Brasil Negativado, Brasil Invertebrado: Legado de 2 governos do PT”.


A “negatividade” é informada por inúmeros indicadores de desempenho da economia brasileira que abarcam o país, o governo, as empresas e as famílias. O “invertebramento” envolve a estrutura econômica, o processo social, as relações políticas e os arranjos institucionais. Esta trajetória é marcada, segundo o professor Reinaldo Gonçalves, na dimensão econômica, por fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo.

Na avaliação do crescimento da renda durante os governos do PT, o professor Reinaldo Gonçalves classifica de “fraco desempenho pelo padrão histórico brasileiro e pelo atual padrão internacional”. A taxa secular de crescimento médio real do PIB brasileiro no período republicano é 4,5% e a taxa mediana é 4,7%. No governo Lula a taxa obtida é 4,0% enquanto as estimativas e projeções do FMI para o governo Dilma informam taxa de 2,8%.

O resultado é claramente negativo: no ranking dos presidentes do país, Lula está na 19ª posição e Dilma tem desempenho ainda pior (24ª posição), em um conjunto de 30 presidentes com mandatos superiores a um ano. Resultados que não são compensados pelo fato de o governo Fernando Henrique estar em 27 posição, com o crescimento médio de 2,3%.

O Brasil Negativado dos governos petistas também é evidente quando se observam os padrões atuais de desempenho da economia mundial, ressalta Gonçalves. Durante os governos petistas a taxa média anual de crescimento do PIB (considerando as estimativas e projeções do FMI para os 2 últimos anos do governo Dilma) é 3,6%. No período 2003-2014 a estimativa é que a economia mundial cresça à taxa média anual de 3,8%; no caso dos países em desenvolvimento esta taxa deverá ser de 6,4%.

Portanto, salienta Gonçalves, o Brasil Negativado é evidente quando se constata não somente estas diferenças como os dois outros fatos: em 6 dos 12 anos do período 2003-14 a taxa de crescimento da economia brasileira é menor do que a taxa média mundial; e, em todos os anos a taxa de crescimento do PIB brasileiro é menor do que a média dos países em desenvolvimento.

O Brasil Negativado também é evidente quando se compara o crescimento do PIB brasileiro durante os governos petistas com a média simples e a mediana das taxas de crescimento dos 186 países que são membros do FMI e que representam um painel muito representativo da economia mundial.

A taxa média durante dos governos Lula e Dilma (3,6%) é menor do que a média simples (4,6%) e a mediana (4,4%) das taxas de crescimento dos 186 países do painel. A taxa de crescimento econômico brasileiro é menor do que a média simples e a mediana da economia mundial em 10 e 7 anos dos 12 anos, respectivamente.

O fraco crescimento da economia brasileira durante os governos petistas está diretamente associado às baixas taxas de investimento, ressalta Gonçalves. A taxa média de investimento do Brasil no período 2003-14 é 18,8% enquanto a média e a mediana mundial (painel do FMI) são 23,9% e 22,5%, respectivamente. Em todos os anos de governo petista a taxa de investimento é menor do que a média e a mediana do mundo. No painel de 170 países o Brasil ocupa a 126ª posição, média para o período 2003-14. (Amanhã, o social) Por: Merval Pereira O Globo

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A DISPUTA SINO-JAPONESA


É possível que estejamos testemunhando uma manobra pela qual estão sendo psicologicamente mapeadas as posições estratégicas do Japão e dos Estados Unidos.

A segunda e a terceira dentre as maiores economias – e também as duas nações mais importantes da Ásia – continuam envolvidas em uma disputa territorial em torno de cinco ilhotas. Quais são as possíveis consequências dessa disputa? Há uma guerra no horizonte? Essa atual contenda não é algo fácil de deslindar. Os chineses não são conhecidos pela franca objetividade estratégica. Sendo assim, quando eles começam a concentrar esforços para uma determinada finalidade, é necessário cogitarmos se não há algo mais em jogo. Talvez seja algo que tenhamos esquecido.

As disputadas Ilhas Senkaku estão atualmente desabitadas. Na China, essas ilhotas são conhecidas pelo nome de Ilhas Diaoyu e estão a 330 quilômetros da China continental e 410 das ilhas japonesas Ryukyu. Especificamente dizendo, o arquipélago consiste em cinco ilhotas (uma delas foi local de uma usina de processamento de peixes de 1910 até 1940). Segundo um relatório das Nações Unidas, é possível que no solo submarino ao redor das ilhotas haja grandes reservas de petróleo e gás.

Embora a administração de Obama não tenha declarado apoio oficial à reivindicação japonesa pelas ilhas Senkaku, o Tratado de Cooperação Mútua e Segurança entre os Estados Unidos e o Japão pode obrigar os EUA a defenderem militarmente o Japão num eventual conflito. Com efeito, é curioso que o artigo 9º da constituição japonesa proíba Tóquio de usar a força para resolver disputas internacionais. Estritamente falando, não era para o Japão ter forças armadas. O 9º artigo diz: 

“Aspirando sinceramente a uma paz internacional baseada na ordem e na justiça, o povo japonês renúncia definitivamente à guerra como direito soberano da nação e a ameaça ou uso de força como meios de resolver disputas internacionais”. 

O parágrafo dois diz:

“Para cumprir o objetivo do parágrafo anterior, as forças terrestres, marinhas e aéreas, assim como quaisquer outros potenciais bélicos jamais serão sustentados. O direito de beligerância do estado não será reconhecido.”

Essa é uma daquelas piadas irônicas da história; encontrarmos um país com uma constituição pacifista que possui força aérea, marinha e exército terrestre. Evidentemente essas forças não são grandes ou ameaçadoras, porém elas podem ser capazes de repelir uma invasão nas ilhas Senkaku. Entretanto, isso não é tão extraordinário quando ficamos sabendo que a China foi o principal motivo por trás do armamento parcial do Japão.

Com a invasão comunista – apoiada pela China – à Coreia do Sul em 1950, os EUA foram forçados a tirar tropas do Japão para defender a Coreia do Sul. Deste modo, tornou-se necessário que o Japão cobrisse essa ausência para que pudesse proteger sua própria costa. Como a constituição japonesa de 1947 foi escrita majoritariamente pela equipe de apoio do General MacArthur, a subsequente negação do artigo 9 foi efetivamente posta em prática quando o próprio MacArthur ordenou que os japoneses criassem uma força de reserva nacional com 75 mil homens, algo que, na prática, foi a criação de uma força que pudesse repelir a invasão comunista.

Nas décadas seguintes, as forças de defesa do Japão desenvolveram uma força naval e aérea. No começo, o papel militar era fortemente restringido. Eram chamados de “policiais” e seus tanques eram “veículos especiais”. Apesar dos desafios legais, a Suprema Corte do Japão ressaltou a constitucionalidade da defesa nacional. Em 1954, a Agência Nacional de Segurança foi renomeada para Agência Japonesa de Defesa e a Polícia reservista foi, consequentemente, chamada de Forças de Defesa do Japão. Nos dias de hoje, grosso modo as forças militares têm 250 mil integrantes. Isso é pouco se comparado ao Exército de Libertação Popular da China, que responde pela maior infantaria do mundo, com cerca de 2.25 milhões de membros ativos. Adicione a isso o fato da China ser uma força nuclear e então você verá o tamanho da desvantagem do Japão.

Mas guerras não são mais ganhas pelo lado que possui a mera superioridade numérica. Um conflito pelas Ilhas Senkaku seria um conflito naval, onde as preponderantes forças terrestres chinesas não poderiam entrar em ação e, assim, a maestria tecnológica japonesa, que é superior, poderia ser decisiva. Uma batalha marinha seria decidida por aeronaves, forças náuticas e mísseis. A Força Marítima de Defesa do Japão é especializada em remoção de minas e em operações bélicas antissubmarinas; para isso conta com 110 navios de guerra, sendo que quatro são porta-helicópteros e 16 são submarinos. Contudo, a marinha chinesa tem 515 navios de guerra, sendo que 63 são submarinos, 75 navios de combate de superfície e um porta-aviões.

Uma guerra naval sob as atuais circunstâncias envolve uma série de fatores incógnitos, de modo que é impossível dizer qual lado ganharia uma guerra marinha. Com o cenário nivelado, a China tem a vantagem e poderia facilmente ocupar as ilhas com paraquedistas antes que o Japão pudesse reagir. Mas então teríamos o vasto poderio naval dos Estados Unidos, que tem um tratado de segurança com o Japão. Mais do que qualquer outra coisa, a disputa das Ilhas Senkaku revela – ou falha em revelar – a prontidão do Presidente Obama para dar suporte ao Japão. Essa prontidão não está aparente em lugar algum. Oficialmente, o Departamento de Estado dos EUA diz que a América não tomou posição na disputa das Ilhas Senkaku.

Este último fato é decisivo e muito pode se aprender com ele. Enquanto os líderes militares chineses fizeram uma enxurrada de afirmações belicosas para a mídia estatal chinesa, os líderes civis chineses mostraram uma face mais conciliadora e política. Isso é mais bem colocado no conselho dado pelo antigo filósofo militar chinês Sun Tzu: “A vitória está em saber quando se deve lutar”. Neste caso, a batalha não é o objetivo imediato, embora um objetivo de longo prazo certamente seja mantido como opção.

Há sempre um significado político implícito na retórica militar chinesa. Não devemos descartar a possibilidade de que a China usará das suas reivindicações sobre as ilhas para obter algo do Japão que ninguém está esperando. Em outras palavras, é possível que estejamos testemunhando uma manobra pela qual estão sendo psicologicamente mapeadas as posições estratégicas do Japão e dos Estados Unidos. Isto é dizer que aqui os objetivos são analisar se haverá a prontidão dos EUA em ajudar o Japão ou se haverá uma aquiescência para com a China. Afinal de contas, o que é mais importante? Algumas pequenas ilhas insignificantes ou a relação entre Japão e EUA?

O antigo estrategista chinês Sun Tzu escreveu: “Conhece o inimigo e conhece a ti mesmo. Assim não terá de temer o resultado de 100 batalhas”. Parece ocorrer aos observadores chineses que essa disputa se dará ao longo dos limites da exploração da psicologia japonesa e americana quando se trata de política asiática. O valor dessas ilhas não pode ser maior do que saber o caráter da liderança japonesa ou da americana. Saber isso pode ser o verdadeiro prêmio nessa disputa.

Há de se considerar também o jogo econômico. A disputa das ilhas está afetando as exportações japonesas para a China – houve uma diminuição de 12% no último mês de novembro – e coincidiu com o segundo trimestre consecutivo de contração do PIB japonês. Porque os líderes chineses não dão um sinal de conciliação? Os políticos japoneses sem dúvida se mostrariam receptivos se fossem tratados respeitosamente e lhes fosse oferecido uma “parceria” mais próxima com Beijing. Isso é especialmente verdadeiro se eles se sentirem abandonados por seus aliados americanos.

Ninguém sabe o que acontecerá nos próximos meses, mas não podemos esperar que a disputa acerca das Ilhas Senkaku seja um assunto simples. Devemos considerar a possibilidade de que as tensões foram criadas pela China com o propósito de aliviá-las de uma maneira lucrativa e, por assim dizer, estrategicamente vantajosa. POR JEFFREY NYQUIST Publicado no Financial Sense. Tradução: Leonildo Trombela Júnior

A TURQUIA ESTÁ DEIXANDO O OCIDENTE?

As recentes medidas tomadas pelo governo turco indicam sua disposição em livrar-se do clube das democracias da OTAN em favor da gangue de estados autoritários russo e chinês.

Eis porque:

Começando em 2007, Ancara solicitou três vezes, sem sucesso, participar como Membro Visitante da Organização para a Cooperação de Xangai (ou SCO, informalmente conhecida como Xangai Cinco). Fundada em 1996 pelos governos russo e chinês, juntamente com três países da Ásia Central Soviética (com a afiliação de mais um em 2001), a SCO recebeu pouquíssima atenção no Ocidente, embora tenha espetaculares ambições sobre segurança entre outras, incluindo a possível criação de um cartel de gás. Além disso, oferece uma alternativa ao modelo Ocidental, desde a OTAN, passando pela democracia, indo até a substituição do dólar americano como moeda de reserva. Após as três rejeições, Ancara solicitou o status de "Parceiro de Diálogo" em 2011. Em junho de 2012, obteve a aprovação.

Passado um mês, o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdoğan referiu-se a respeito da sua conversa com o Presidente da Russia Vladimir Putin da seguinte maneira, "Vamos, aceite-nos no Xangai Cinco [como membro pleno] e nós iremos reconsiderar a União Européia". Erdoğan reiterou a intenção em 25 de janeiro, realçando o impasse nos esforços turcos em se filiar à União Européia (UE): "na qualidade de primeiro ministro de 75 milhões de pessoas", explicou, "começa-se a procurar alternativas. Por esta razão eu disse ao Sr. Putin um dia desses, "Aceite-nos no Xangai Cinco, vamos lá, e diremos adeus a UE". Por que protelar"? Adiante acrescentou que a SCO "é muito melhor, muito mais poderosa [que a UE] e compartilhamos os mesmos valores dos demais membros".

Presidentes dos seis países da SCO em uma reunião em Pequim em junho de 2012. 

Em 31 de janeiro, o ministério das relações exteriores anunciou planos para a promoção para "Estado Observador" na SCO. Em 3 de fevereiro Erdoğan reiterou a sua afirmação anterior, dizendo "Iremos procurar alternativas", tecendo elogios ao "processo de democratização" do grupo de Xangai, ao mesmo tempo menosprezando a "islamofobia" européia. Em 4 de fevereiro, o Presidente Abdullah Gül contra-atacou, declarando que "a SCO não é uma alternativa à UE. ... A Turquia deseja adotar e implementar os critérios da UE".

Como interpretar tudo isso?

O faz de conta da SCO enfrenta obstáculos significativos: Se por um lado Ancara lidera os esforços para derrubar Bashar al-Assad, a SCO apóia com firmeza o líder sitiado da Síria. As tropas da OTAN acabaram de chegar à Turquia a fim de operarem as baterias de mísseis Patriot com o objetivo de proteger o país dos mísseis sírios fabricados na Rússia. Mais importante ainda, todos os seis membros da SCO opõem-se veementemente ao islamismo abraçado por Erdoğan. Quem sabe, por isso mesmo, Erdoğan tenha mencionado a filiação à SCO somente com o intuito de pressionar a UE ou para mostrar uma retórica simbólica aos seus partidários.
Putin da Rússia e Erdoğan da Turquia: farinha do mesmo saco? 

Ambas as possibilidades são válidas. Mas eu considero os seis meses de flerte com seriedade por três razões. Primeira, Erdoğan já comprovou que é direto, levando o respeitado colunista, Sedat Ergin, a chamar a declaração de 25 de janeiro sua "mais importante" proclamação de política externa até hoje.

Segunda, conforme destaca o colunista turco Kadri Gürsel, "Os critérios da UE exigem democracia, direitos humanos, direitos sindicais, direitos das minorias, igualdade entre os sexos, distribuição equitativa de renda, participação e pluralismo da Turquia. A SCO como uma união de países governados por ditadores e autocratas não poderá exigir nenhum dos critérios acima para a afiliação". Diferentemente da União Européia, os membros da Xangai não irão pressionar Erdoğan a liberalizar seu país e sim incentivar suas tendências ditatoriais que já amedrontam tantos turcos.

Terceiro, a SCO se encaixa no impulso islamista de desafiar o Ocidente e sonhar com uma alternativa. A SCO, tendo como idiomas oficiais o russo e o chinês, abriga o DNA anti-ocidental e em suas reuniões transbordam sentimentos anti-ocidentais. Por exemplo, quando o Presidente do Irã Mahmoud Ahmedinejad proferiu um discurso ao grupo em 2011, ninguém repeliu sua teoria conspiratória em relação ao 11 de setembro ter sido uma trama interna do governo dos EUA usada "como justificativa para invadir o Afeganistão e o Iraque ferindo mais de um milhão de pessoas". Vários defensores ecoam o analista egípcio Galal Nassar na esperança que em última instância a SCO "terá a oportunidade de resolver a disputa internacional a seu favor". Por outro lado, conforme observou uma autoridade japonesa, "A SCO está se tornando um bloco rival da aliança dos EUA. Ela não compartilha nossos valores".

As medidas turcas a favor da filiação ao grupo de Xangai, realça a já ambivalente filiação de Ancara à Organização do Tratado do Atlântico Norte, incisivamente simbolizada pelas inéditas manobras conjuntas turco-chinesas de 2010. Dada esta realidade, a Turquia de Erdoğan não é mais um parceiro confiável do Ocidente e sim informante em seu refúgio sagrado. Senão expulso, deveria ao menos ser suspenso da OTAN.

Por: DANIEL PIPES
Publicado no The Washington Times.
Original em inglês: Is Turkey Leaving the West?
Tradução: Joseph Skilnik

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A AMEAÇA FASCISTA

Os liberais defensores do livre mercado são comumente chamados de “reacionários” ou de “fascistas” pela esquerda. O que nem todos sabem é que o fascismo sempre foi um casamento entre nacionalistas, sindicatos e grandes empresários, em uma simbiose totalmente antiliberal.

Para Robert Paxton, em “A anatomia do fascismo”, o programa fascista era “uma curiosa mistura de patriotismo de veteranos e de experimento social radical, uma espécie de “nacional-socialismo’”.

Donald Sassoon, em “Mussolini e a ascensão do fascismo”, mostra como o clientelismo, a mentalidade antiparlamentar presente na tradição socialista italiana, e um dos mais altos índices de sindicalização da Europa ajudaram a levar os fascistas ao poder.

O próprio Mussolini foi socialista, gostava de se identificar como “homem do povo” e se dizia um defensor da classe operária. Sua visão era extremamente coletivista, bem sintetizada na máxima: "Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado." Não existe nada menos liberal que isso!

Se há um “liberalismo” que realmente se assemelha ao fascismo, este é o dos “progressistas” modernos que usurparam o termo para pregar bandeiras estatizantes e coletivistas, como demonstra Johah Goldberg em “Fascismo de esquerda”. Mas este não guarda nenhuma relação com o liberalismo clássico, defensor do livre mercado e do indivíduo como um fim em si mesmo.

O capitalismo liberal defende a propriedade privada, a liberdade individual e a livre concorrência, inclusive universal (globalização). Se, por um lado, esse modelo é o melhor para a grande maioria dispersa, por outro ele gera desconforto em certos grupos organizados. Ninguém gosta de concorrência, ainda que ela seja essencial para o progresso.

É assim que algumas categorias se unem e, apesar de minoritárias, conseguem fazer um forte lobby para obter privilégios estatais. Suas vantagens são concentradas, e os custos são espalhados por toda a sociedade. Grandes empresários e sindicatos se juntam em busca de medidas que obstruem a livre concorrência, e tudo isso em nome dos “interesses nacionais”.

Tivemos recentemente um claro exemplo disso na questão dos portos. Qualquer um sabe que nossa infraestrutura é caótica, e impõe um pesado custo ao país em termos de competitividade. Mas, quando reformas tímidas para modernizar um pouco os portos foram propostas, a reação foi imediata. Modernizar os portos implica mais concorrência, e isso os sindicatos e os capitães da indústria nacional não aceitam.

Toda a retórica nacionalista serve somente para ocultar essa agenda de interesses que, no fundo, prejudica a população brasileira. Nossos portos, assim como estradas e aeroportos, estão em estado precário porque faltam investimentos e porque a gestão estatal é sempre terrível. Mas mexer nisso é comprar briga com as forças reacionárias.

O ideal, do ponto de vista liberal, seria privatizar de uma vez portos, estradas, ferrovias, bancos públicos, a Infraero e a Petrobras. A Companhia Docas do RJ, por exemplo, dá prejuízo acima de R$ 100 milhões por ano! Os escândalos de corrupção são frequentes. A reserva de mercado garante privilégios absurdos aos sindicatos. Os produtos chegam aos consumidores a preços maiores. A quem interessa isso tudo?

A Petrobras está em evidência também, pois o governo está destruindo a olhos nus a maior empresa brasileira. Seu uso político para fins partidários já fez com que dezenas de bilhões de reais evaporassem em seu valor de mercado. O país ainda precisa importar gasolina, e faltam recursos para os investimentos necessários. Quem ganha com isso?

Mas quando um liberal aponta esses fatos e apresenta seus argumentos em defesa das privatizações, ele é logo tachado de “reacionário” ou “fascista” pelos esquerdistas. Quem é reacionário: aquele que deseja modernizar a economia com mais concorrência ou aquele que luta pelo passado mercantilista? Quem é fascista: aquele que combate a nefasta aliança entre sindicatos e grandes empresários ou aquele que pede mais privilégios em nome do nacionalismo?

Um dos aspectos que facilitaram a ascensão fascista na Itália foi a total descrença na democracia, no Parlamento corrupto, envolto em escândalos de compra de votos dos deputados. Outro fator foi a inexistência de uma oposição organizada. Soa familiar?

Todo cuidado é pouco. O fascismo é uma ameaça real, como podemos ver na Venezuela e na Argentina. Antídotos contra ele são justamente a privatização e a concomitante redução do intervencionismo estatal na economia.Por: Rodrigo Constantino, O GLOBO

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A FALÁCIA DA REFORMA AGRÁRIA

O tema da reforma agrária dividiu o país durante décadas. Desde os anos 1940 foi um dos assuntos dominantes do debate político e considerada indispensável para o desenvolvimento nacional. Diziam que a divisão das grandes propriedades era essencial para a industrialização, pois ampliaria, com base nas pequenas propriedades, o fornecimento de gêneros alimentícios para as cidades, diminuindo o custo de reprodução da força de trabalho e acabando com a carestia.


Por outro lado, o campo se transformaria em mercado consumidor das mercadorias industrializadas. Ou seja, o abastecimento dos centros urbanos, que estavam crescendo rapidamente, e o pleno desenvolvimento da indústria dependiam da reforma agrária. Sem ela não teríamos um forte setor industrial e a carestia seria permanente nos centros urbanos, além da manutenção da miséria nas áreas agrícolas. E, desenhando um retrato ainda mais apocalíptico, havia uma vertente política da tese: sem a efetivação da reforma agrária, o país nunca alcançaria a plena democracia, pois os grandes proprietários de terra dominavam a vida política nacional e impediam a surgimento de uma sociedade livre. Era repetido como um mantra: o Brasil estava fadado ao fracasso e não teria futuro, caso não houvesse uma reforma agrária.

Os anos se passaram e o caminho do país foi absolutamente distinto. A reforma agrária não ocorreu. O que houve foram distribuições homeopáticas de terra segundo o interesse político dos governos desde 1985, quando foi, inclusive, criado um ministério com este fim. Enquanto os olhos do país estavam voltados para a necessidade de partilhar as grandes propriedades – marca anticapitalista de um país que não admira o lucro e muito menos o sucesso – o Centro-Oeste foi sendo ocupado (e parte da Amazônia), além da revolução tecnológica ocorrida nas áreas já cultivadas do Sul-Sudeste.

O deslocamento de agricultores, capitais e experiência produtiva especialmente para o Centro-Oeste ocorreu sem ter o Estado como elemento propulsor. Foram agricultores com seus próprios recursos que migraram principalmente do Sul para a região. Como é sabido, falava-se desde os anos 30 em marcha para o Oeste, mas nada de prático foi feito. E, quando o Estado resolveu fazer algo, sempre acabou em desastre, como a batalha da borracha, nos anos 1940, ou, trinta anos depois, com as agrovilas, na Amazônia.

O épico deslocamento de agricultores do Sul para o Centro-Oeste até hoje não mereceu dos historiadores um estudo detalhado. De um lado, devido aos preconceitos ideológicos; de outro, pela escassez ou desconhecimento das fontes históricas. Como todo processo de desbravamento não ficou imune às contradições – e isto não ocorreu apenas no Brasil. Foram registrados sérios problemas em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos, em grande parte devido à precariedade da presença das instituições estatais na região.

Com a falência do modelo econômico da ditadura, em 1979, e a falta de perspectiva segura para a economia, o que só ocorrerá uma década e meia depois, com o Plano Real, as atenções do debate político ficaram concentradas no tema da reforma agrária, mas de forma abstrata. O centro das discussões era o futuro dos setores secundário e terciário da economia. O campo só fazia parte do debate como o polo atrasado e que necessitava urgentemente de reformas. Contudo, a realidade era muito distinta: estava ocorrendo uma revolução, um fabuloso crescimento da produção, que iria mudar a realidade do país na década seguinte.

Entretanto, no Parlamento, os agricultores não tinham uma representação à altura da sua importância econômica. Alguns que falavam em seu nome ficaram notabilizados pela truculência, reforçando os estereótipos construídos pelos seus adversários. É o que Karl Marx chamou de classe em si e não para si. Os agricultores, na esfera política, não conseguiam (e isto se mantém até os dias atuais) ter uma presença de classe, com uma representação moderna, que defendesse seus interesses e estabelecendo alianças com outros setores da sociedade. Pelo contrário, sempre estiveram, politicamente falando, correndo atrás do prejuízo e buscando alguma solução menos ruim, quando de algum projeto governamental prejudicial à sua atividade.

Hoje, o Brasil é uma potência agrícola, boa parte do saldo positivo da balança comercial é devido à agricultura, a maior parte da população vive no meio urbano, a carestia é coisa do passado, a industrialização acabou (mesmo com percalços) sendo um sucesso, o país alcançou a plena democracia e não foi necessária a reforma agrária. A tese que engessou o debate político brasileiro durante décadas não passou de uma falácia.
Por: Marco Antonio Villa


domingo, 17 de fevereiro de 2013

A LUTA DO PAPA

Paulo VI chegou a afirmar que a Igreja parecia estar em processo de autodemolição. No Brasil, a Teologia da Libertação esvaziou as igrejas e levou à fundação do PT.

A surpreendente renúncia anunciada de Bento XVI, como se poderia prever, suscitou toda sorte de comentário absurdo. De especulações sobre o motivo – que o próprio Papa declarou ser sua saúde – a delírios que só fazem expor a ignorância de quem os profere, vimos de tudo. Cabe, assim, apontar as circunstâncias da guerra interna da Igreja, para que se possa perceber com mais clareza a dureza do múnus pontifical.

Nos anos 60, imediatamente antes da revolução de costumes que varreu o Ocidente, os bispos da Igreja se reuniram em um concílio, dito Concílio Vaticano II. Um grupo de bispos oriundos do Norte europeu (especialmente Alemanha, Holanda, Bélgica e Áustria), soberbamente organizados, virou de pernas para o ar a organização do concílio, desprezando os documentos preparatórios e conseguindo aprovar – contra a oposição liderada, entre outros, pelo arcebispo de Diamantina (MG), dom Geraldo Sigaud – documentos finais um pouco confusos, que poderiam propiciar a pessoas mal-intencionadas uma leitura heterodoxa.

E foi o que aconteceu. Durante o pontificado de Paulo VI (1963-1978), o “espírito do Concílio” foi usado como desculpa para negar, dos púlpitos, não só o que a Igreja sempre pregara, mas até mesmo os próprios textos conciliares. Paulo VI chegou a afirmar que a Igreja parecia estar em processo de autodemolição. No Brasil, a Teologia da Libertação esvaziou as igrejas e levou à fundação do PT.

Conferências episcopais inteiras estão em cisma material, desobedecendo abertamente às ordens papais. Nesses territórios, mesmo os bons clérigos se veem forçados a ceder à heterodoxia e desobedecer ao Papa, sob pena de ostracismo. Em algumas, como a austríaca, a situação é gravíssima. Em outras, como a CNBB brasileira, é apenas grave. Para que se tenha uma noção do nível da desobediência daqui, basta mostrar que, pela legislação canônica, é proibido aos padres usar roupas comuns (como as dos leigos) em vez da batina, e leigos não podem distribuir a Eucaristia nas missas dominicais.

Essa situação começou a se reverter graças ao imbatível carisma de João Paulo II, auxiliado pelo sempre fiel cardeal Ratzinger. Quando aquele faleceu, este subiu ao papado para continuar a obra da restauração da Igreja contra os inimigos internos, ainda extremamente poderosos.

O que João Paulo II e Bento XVI vieram pregando é o óbvio: a doutrina da Igreja não mudou nem poderia mudar. A luta contra os inimigos nela infiltrados, portanto, continua. Que Deus ajude o próximo Papa a libertar a Igreja de seus inimigos! Por: POR CARLOS RAMALHETE Publicado no jornal Gazeta do Povo.