quarta-feira, 18 de setembro de 2013

"O SUPREMO ESTÁ PRESTES A DESMORALIZAR O ESTADO DE DIREITO"

O Brasil está à espera do voto que definirá o futuro do julgamento do mensalão. Após empatar em 5 a 5, na quinta-feira, 12 de setembro, a votação do Supremo Tribunal Federal (STF) em torno dos embargos infringentes está confirmada para a próxima quarta-feira, dia 18 de setembro. Caberá ao decano Celso de Mello definir a possibilidade de o tribunal reanalisar as provas e mudar o mérito das condenações que receberam ao menos quatro votos favoráveis à absolvição. Dos 25 réus no processo, 12 teriam direito ao julgamento dos recursos.

Para o sociólogo Demétrio Magnoli, a possível aceitação dos embargos representa “um tapa na cara do povo brasileiro”. Magnoli acredita que a votação põe em jogo a credibilidade do STF, uma vez que flexibilize um valor caro à sociedade: a igualdade perante a lei. O sociólogo critica ainda o discurso do Partido dos Trabalhadores (PT), protagonista do caso, ao expor o embate entre a “utopia” do partido com os fundamentos democráticos.

Leia a entrevista.

Instituto Millenium: No artigo “O julgamento da História“, o senhor afirma que “A democracia é um regime essencialmente antiutópico, pois seu alicerce filosófico se encontra no princípio do pluralismo político”. Pode-se afirmar que hoje, no Brasil, a democracia e as instituições se mantém baseadas nessa antiutopia?
Demétrio Magnoli: Do ponto de vista formal e das instituições políticas, sim. No Brasil, as instituições se organizam com base no pluralismo político e existe a noção de que todos os partidos têm o direito igual de exercer o poder. Entretanto, existe um discurso do Partido dos Trabalhadores, de cunho utópico, em que o próprio PT representa o futuro, representa a vontade do povo contra a elite, a realização da história do Brasil. Esse discurso se choca com o fundamento antiutópico da democracia.

Nesse fundamento, nenhum partido tem a verdadeira história. Os partidos podem ter, no máximo, verdades circunstanciais de momento, maiorias políticas geradas por eleições que revelam o que eles têm: uma verdade temporária, efêmera, que vale por um mandato. O discurso do PT colide com esse conceito, já que afirma uma verdade transcendente, uma verdade que ultrapassa a circunstância eleitoral. De qualquer forma, a existência desse partido não muda o sistema político brasileiro, que continua sendo democrático e pluralista.

Imil: A votação dos embargos infringentes será decidida na próxima quarta-feira. Como o senhor enxerga a possibilidade de um novo julgamento para alguns réus do mensalão?
Magnoli: Seria um escárnio, um tapa na cara do povo brasileiro. O Supremo já afirmou, anos atrás, que não acredita na igualdade das pessoas perante a lei, ao acatar as cotas raciais, dividindo a sociedade em dois grupos: brancos e negros. Se ele acatar os embargos infringentes, decidindo que o julgamento do mensalão não tem valor, estará produzindo uma nova divisão dos brasileiros na sua relação com a lei, dessa vez horizontal. De um lado estará a elite política, cuja garantia de impunidade é superior à lei, e, de outro, os cidadãos comuns, subordinados a ela. Como o STF tem esse precedente de desprezo pelo princípio da igualdade perante a lei, não me surpreenderia com um resultado de votação que acate os embargos infringentes.

Imil: Que efeitos um possível novo julgamento poderá causar nas eleições 2014?
Magnoli: As consequências começam bem antes das eleições, serão imediatas, pois darão início a um descrédito absoluto sobre a instituição que ainda obtinha alguma confiança da população, o STF. O descrédito com o poder Executivo e com o Legislativo já é enorme, e com a extensão à mais alta corte, nós teríamos um envenenamento geral do ambiente político nacional. As pessoas perderiam suas últimas esperanças nas instituições políticas existentes.

Imil: E as manifestações já deram um sinal do grau da insatisfação…
Magnoli: As manifestações de junho foram um embate movido por esse descrédito. Se tentarmos projetar a questão para as eleições de 2014, acredito que o grupo político que parecer mais “desligado” do sistema político diante da população será o mais beneficiado. Sendo menos misterioso, acredito em um benefício imediato para o grupo da Marina Silva. Do ponto de vista das percepções, mesmo que não seja verdade, esse grupo aparece como uma corrente política menos vinculada às instituições atuais ao sistema político. Acredito que, à primeira vista, esse seria o grupo mais beneficiado. No entanto, é errado colocar a ênfase nas eleições de 2014. Essa violação do Supremo teria consequências mais imediatas do ponto de vista dessa desmoralização institucional brasileira.

Imil: Até que ponto o Estado de Direito pode suportar tamanha desconfiança da população?
Magnoli: Não posso fazer um cenário do que vai acontecer no futuro, mas o Supremo vai descreditar as leis de um modo geral se afirmar que quanto mais perto do poder se encontra um indivíduo, menos sujeito à lei ele está. Seria a corroboração de leis para quem tem sangue azul e leis para o resto das “gentes”. Vai ser difícil explicar para os indivíduos porque eles deveriam respeitar as leis. Nesse caso, em cada praça se faria a seguinte pergunta: por que devemos respeitar as leis? O Supremo Tribunal está prestes a desmoralizar aquilo que o sustenta: o Estado de Direito.

Imil: Há quem diga que o STF está contaminado politicamente. No caso do ex-ministro José Dirceu, um possível julgamento do caso pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), está sendo cogitado. Como o senhor enxerga essa situação?
Magnoli: Esse argumento que está sendo levantado como ameaça pela campanha política do Dirceu é um absurdo. O julgamento pelo STF obedece a todos os requisitos da Carta Interamericana de Direitos Humanos, que não exige embargos infringentes e um julgamento duplo, e sim o amplo direito de defesa. De qualquer forma, essa ameaça não tem condições de prosperar na prática, e os que a defendem sabem disso. Não existe nenhuma hipótese que faça a OEA derrubar o julgamento do Supremo. A hipótese que existe é de o STF derrubar o julgamento do STF.

MAIS BARATINHAS TONTAS

1.

Há pessoas que duvidam do aquecimento global. E há pessoas que duvidam do aquecimento global antropogênico. Não é a mesma coisa.

As primeiras desconhecem, em suma, a história da humanidade. Entre os séculos 11 e 13, o planeta aqueceu bastante. Nos séculos 17 e 18, parece que arrefeceu bastante. Isso para ficarmos em períodos anteriores à Revolução Industrial.

Que a humanidade aquece (e arrefece) por longos períodos de tempo, eis um fato que dispensa grande polêmica científica.

Coisa diferente é saber se a humanidade aquece porque os homens aquecem o planeta. Atenção aos termos: eu não disse que os homens não aquecem o planeta. Apenas questiono se o planeta aquece dramaticamente porque os homens o aquecem dramaticamente com a emissão de CO2.

A partir do ano 1000, as temperaturas na Europa não seriam muito diferentes das atuais. Será preciso lembrar que o homem medieval só emitia gases para a atmosfera depois de certas comidas condimentadas?

Pois bem: parece que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas começa a ter dúvidas sobre as suas próprias certezas. Já tinha escrito na edição on-line da Folha a respeito. O "Sunday Telegraph" volta agora ao assunto e eu volto também.

Para começar, parece que desde 1951 o mundo aqueceu 0,12ºC por década, e não 0,13ºC. Coisa pouca? Admito. Mas para quem gosta de fazer previsões com o rigor da ciência, números são números.

Mas há mais: a julgar pelo relatório preliminar do Painel, os cientistas não concederam a importância devida às variações climatéricas naturais, que muitas vezes são mais determinantes do que as emissões de CO2 propriamente ditas.

O período medieval referido é apenas um exemplo. E a estagnação das temperaturas desde 1997 é outro: parece que os termômetros não dão sinais de vida há 15 anos e o gelo antártico, que se considerava em desaparecimento, atingiu em 2013 quantidades alarmantes.

Claro que nada disso parece perturbar, por enquanto, o dogma central do Painel da ONU: com "95% de certeza" (sic), o relatório continua a defender que o aquecimento global é culpa do homem.

Já é um progresso: 95% sempre permite que céticos como eu se agarrem aos restantes 5%. E não será de excluir que esses 5% tenham o mesmo destino que o gelo em vias de extinção na Antártida.

2.
Leitores vários não gostaram do meu texto ("Baratinha tonta") na semana passada. Barack Obama, uma barata tonta no caso da Síria?

Longe disso, escreveram-me alguns deles. Depois de estabelecer "linhas vermelhas" que o regime sírio não poderia cruzar, Obama conseguiu finalmente que Bashar al-Assad entregue uma lista com todo o seu arsenal químico para posterior destruição até o meio do ano que vem. Obama ganhou essa jogada.

Com a devida vênia ao auditório, discordo. Obama pode ter encontrado no acordo russo-americano uma boia de salvação para terminar o segundo mandato com um mínimo de dignidade. Mas quem saiu a ganhar não foi Obama. Foi Bashar al-Assad e, claro, Vladimir Putin.

Sobre Putin, a carta do próprio publicada no "The New York Times" será um dia estudada como peça notável de hipocrisia política.

Depois de declarar que Moscou não apoia Damasco (o envio de material militar tem sido apenas por razões humanitárias, presume-se), Putin veste o traje de grande democrata para lembrar ao mundo a importância dos direitos humanos e da lei internacional (que ele, escusado será dizer, respeita na Rússia como grande democrata que é).

Sobre Assad, nem vale a pena comentar a fantasia: acreditar que o regime vai entregar uma lista com todo o seu arsenal químico é coisa de otários, não de gente adulta e racional.

Como é coisa de otários acreditar que os inspetores externos terão livre acesso a qualquer instalação militar (no meio de uma guerra civil), ainda para mais quando se sabe, via "The Wall Street Journal", que o exército sírio tem sido veloz na dispersão do material por mais de 50 locais diferentes.

O que vem aí é mais do mesmo: uma farsa, na melhor tradição iraniana, em que os inspetores não inspecionam nada e o regime colabora o suficiente para ganhar tempo e poder continuar as suas matanças "convencionais".

Viva Obama! Tudo está bem quando acaba mal.

Por: João Pereirta Coutinho Folha de SP


terça-feira, 17 de setembro de 2013

SEM DÚVIDAS?

Um professor universitário na área da educação disse uma frase curta que pode nos fazer refletir muito: "A possibilidade de buscar qualquer informação no Google acabou com a dúvida."

Realmente, conviver com a dúvida tem sido cada vez mais difícil. Quanto mais se amplia o leque de escolhas em qualquer atividade da vida, menos dúvidas queremos ter. Queremos fazer a escolha certa, para a qual não restaria dúvida alguma. Não mais nos contentamos com a melhor escolha possível ou com uma escolha suficientemente boa. Difícil, senão impossível, viver dessa maneira, não é verdade?

Esse estilo de viver complica bastante a escolha do curso universitário, tarefa na qual muitos jovens que frequentam o ensino médio estão implicados. Criamos uma série de mitos em torno da escolha da profissão que os jovens devem fazer. "É uma escolha muito séria para ser feita nessa idade" ou "Eles não têm maturidade para escolher o que farão no resto da vida" são frases que expressam algumas de nossas ideias a esse respeito.

Esquecemos que nós fizemos tal escolha com essa mesma idade? E parece que não foi uma tarefa tão complicada como temos tentado fazer com que seja na atualidade. Será porque as escolhas eram mais restritas, será que porque não tínhamos tanto compromisso com o êxito, com a certeza? Como as escolhas eram feitas?

Muitas escolhas profissionais foram herdadas. Conhecemos a tradição de os filhos continuarem o trabalho dos pais. Conhecemos também pessoas que fizeram escolhas por oposição aos pais. Para muitos, a escolha de herança positiva ou negativa dos pais deu certo; para outros, não deu. Mas seria diferente se fosse outro o critério usado?

Outras escolhas eram feitas com base em razões subjetivas. Uma jornalista me disse que desde criança quis fazer jornalismo, talvez por influência paterna. Não, o pai dela não era jornalista e sim leitor voraz de jornal. Isso pode apontar para escolhas feitas por influências inconscientes para as quais encontramos razões objetivas mais tarde.

De qualquer maneira, a família do jovem era a maior fonte de influências, para o bem ou para o mal, na hora de tal decisão. Hoje, a escola influencia mais do que a família. É que, pouco a pouco, a família passou a entender que deveria dar mais liberdade aos filhos também na hora de ele fazer a escolha do vestibular. Mas, para que o jovem pudesse desfrutar de tal "liberdade", ele precisaria de um apoio. E quem daria tal apoio?

A escola, é claro. Difícil, hoje, encontrar uma instituição escolar que não ofereça um trabalho de orientação profissional. E há ofertas para todo o tipo de gosto ou anseio. Aliás, tal trabalho passou a ser mais um dos itens que os pais consideram na hora de escolher a escola para o filho.

Boa parte desses trabalhos parte de um princípio: o de que a oferta de informações, de mercado ou de conhecimentos técnicos ao alunado tem o potencial de resolver a questão da angústia do jovem no momento da escolha. Os altos índices de desistência e de troca de curso ainda no primeiro ano da universidade, no entanto, contradizem tal conceito.

Talvez seja necessário que famílias e escolas revejam a parte que lhes cabe nesse processo. Aos profissionais que se interessam pelo tema, indico o livro de Deborah Bulbarelli Valentini: "Orientação Vocacional: O que as Escolas Têm a Ver com Isso?".

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

PROJETO "MAIS MÉDICOS": SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO ASSALTADO PELOS DITADORES CASTRO

Fica evidente que o interesse não é na condição de vida e saúde dos pobres e marginalizados dos confins do mundo, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste onde a carência é de tudo, mas um projeto eleitoreiro demagógico, ideológico, desumano e criminoso.

Muitos de nós ainda não conseguimos digerir a entrada de 400 “médicos” cubanos no Brasil, uma vez que ninguém, absolutamente ninguém foi consultado para opinar se apoiava esta derrama: nem a sociedade, nem o Congresso Nacional, nem as associações médicas, nem mesmo aqueles a quem o Governo diz querer “assistir”. E eles serão 4.000 no total.

A imprensa divulgou que os médicos contratados no programa “Mais Médicos” que, além dos brasileiros, vieram de Portugal, Espanha e Argentina, teriam um contrato assinado com o Ministério da Saúde, poderiam trazer suas famílias e receberiam um salário mensal de R$ 10.000,00 mais moradia, alimentação e despesas de deslocamento pagos pelo Governo, para oferecer “atenção básica” nos rincões mais longínquos e desassistidos do país. Eles estão hospedados em hotéis e fazem treinamento de três semanas sobre as doenças tropicais, características de cada região, além de português, no caso dos estrangeiros.

Ninguém teve acesso a esses contratos, entretanto, como a pressão sobre os cubanos foi muito grande, o Ministério da Saúde o disponibilizou através do “Portal Saúde” que pode-se lê-lo na íntegra neste endereço:http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Ago/27/OPAS_27022013.pdf. Chama a atenção que apenas para os cubanos haja um contrato especial, feito através do convênio existente entre o Brasil e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), existente desde o ano 2000, e não diretamente como os profissionais. Além disso, não estão hospedados em hotéis como os demais, mas em alojamentos de quartéis das Forças Armadas que foram obrigadas a recebê-los, embora não se saiba se vão receber pela hospedagem.

Apesar de haver sido posto ao conhecimento do público, não vi até agora na grande imprensa qualquer análise sobre os termos do referido acordo, onde as partes são chamadas apenas por: “Organização” - a OPAS/OMS -, “Ministério” - Ministérios da Saúde e Educação -, e o projeto, que chama-se “Ampliação do acesso da população brasileira à atenção básica em saúde”, apenas “Programa”. Não quero aqui discutir as questões legais porque fogem à minha competência, embora diga-se no contrato que os cubanos serão regidos pela legislação brasileira nas questões “civis e penais” mas não “trabalhistas”, mas porque foge ao objetivo, que é levantar os pontos nebulosos e pouco claros sobre o que vieram fazer estes profissionais no Brasil, em que circunstâncias mas, sobretudo, ressaltar para os brasileiros a exorbitância a ser paga por todos nós, involuntariamente, não àqueles que vão prestar serviços médicos mas aos ditadores Castro. 

As primeiras perguntas surgem a partir da “Cláusula Segunda: das obrigações das partes”, item I, do que compete ao Ministério. 

No sub-item i, lemos: “Garantir, aos Médicos Participantes, a oferta e a realização de curso de especializaçãopor Instituição Pública de Educação Superior, pelo prazo de até 3 anos, prorrogável por igual período, que envolverá atividades de ensino, pesquisa e extensão, que terá componente assistencial mediante integraçãoensino-serviço”. Ora, quando as associações médicas e o Conselho Federal de Medicina questionaram a validade do diploma desses médicos que foram dispensados do exame Revalida, o ministro da Saúde brasileiro, e todos os que os defendem, afirmaram que seus 10, 20 anos de experiência atestavam sua excelsa capacidade. Então, por que no contrato consta que eles vêm fazer curso de “ensino, pesquisa e extensão”? O projeto, como foi dito ao público, não era para “exercer a medicina” nos lugares que os brasileiros se recusavam ir? 

No sub-item o, lemos: “Realizar, com base nos Planos de Ação do Programa, o repasse semestral e antecipado à OPAS/OMS dos recursos referentes:

i - ao financiamento da cooperação técnica (...) incluída a cooperação por meio de consultores e Assessores em Atenção Básica em Saúde;

Com relação a essa “cooperação” citada acima, compete também à Organização, como lê-se no item II, c:“Conformar um conjunto de Assessores em Atenção Básica em Saúde que acompanharão o Programa nos níveis nacional e estadual, que facilitarão a interlocução com os Médicos Participantes.

A questão do pagamento antecipado comento mais adiante. O que chama a atenção nas questões acima, é: quem são esses “consultores e assessores” que irão “cooperar” com esses médicos, e que servirão de “interlocutores”? Interlocutores para que e entre quem? Ainda nesse item, letra o, esse controle fica mais evidente quando cita-se um “monitoramento mensal da execução” dos Planos. Que “planos” serão esses? Soa estranho a qualquer indivíduo que assina um contrato de trabalho, tendo como maior relevo sua competência profissional, saber que vai ser “monitorado” mensalmente e que haverá um “interlocutor”, a não ser que a vigilância seja em relação à doutrinação a que são obrigados os médicos que prestam serviço noutros países!

A parte mais acintosa e aberrante deste contrato é a que diz respeito aos recursos, constantes da Cláusula Terceira e anexos II e III.

Na Cláusula Terceira, lemos: 

“Para o Plano de Trabalho aprovado, (...) o Ministério apropriará para transferir à Organização, no corrente exercício, a quantia de R$ 510.975.307,00 (QUINHENTOS E DEZ MILHÕES, NOVECENTOS E SETENTA E CINCO MIL, TREZENTOS E SETE REAIS). 

E na sub-cláusula única, lemos:

“Do total dos recursos de que trata esta Cláusula, R$ 24.331.301,00 (VINTE E QUATRO MILHÕES, TREZENTOS E TRINTA E HUM MIL, TREZENTOS E HUM REAIS) correspondentes a 5% do montante líquido, (...) refere-se aos custos indiretos decorrentes da cooperação técnica a ser fornecida pela Organização(...).

No Anexo II temos uma planilha demonstrativa da destinação dos recursos:

DIÁRIAS 1.309.770,00

PASSAGENS 12.242.500,00

SERVIÇOS DE TERCEIROS - PESSOA FÍSICA 469.000.000,00

SERVIÇOS DE TERCEIROS - PESSOA JURÍDICA 4.073.736,00

CUSTOS INDIRETOS - (5%) 24.331.301,00

No Anexo III, o Cronograma de Desembolso anuncia que o pagamento é referente ao ano de 2013 (de um contrato que vai até 2016) e que os valores pagos são: 

Agosto 100.000.000,00

Setembro 300.000.000,00

Novembro 110.957.307,00

Total 510.957.307,00

Ocorre que foi explicitado na Cláusula Segunda, sub-item o, que esse repasse seria semestral, e que na planilha do Anexo III aponta-se o valor pago somente no ano de 2013. Além disso, vemos ainda que o maior valor pago, constante como “serviços de terceiros”, é a parte que segue para Cuba onde os ditadores vão repassar aos seus escravos o valor que bem lhes aprouver, sem que NINGUÉM interfira. E aqui vem a aberração maior: observem que está escrito que o valor de R$ 469.000.000,00 é pago a PESSOA FÍSICA, ou seja: aos cofres pessoais dos ditadores Castro e não ao Estado Cubano! Se tudo isto não fosse suficientemente abominável, temos que ao final de um ano os ditadores Castro vão embolsar R$ 938.000.000,00 (NOVECENTOS E TRINTA E OITO MILHÕES) e até o término do contrato de 3 anos, que pode ser prorrogado, R$ 2.814.000.000,00 (DOIS BILHÕES, OITOCENTOS E QUATORZE MILHÕES)!

Aos que defendem a legitimidade desse pagamento à ilha, alegando investimento na formação profissional dessas pessoas, o que dizer de o Estado cubano não ser o receptor desta imensa fortuna paga com os impostos TODOS nós? Será que com R$ 3.065.743.842,00 (TRÊS BILHÕES, SESSENTA E CINCO MILHÕES, SETECENTOS E QUARENTA E TRÊS MIL, OITOCENTOS E QUARENTA E DOIS REAIS) não daria para o Governo Federal construir nessas cidades e municípios, hospitais, postos de saúde, ambulatórios, clínicas de análise - todos bem equipados de aparelhos e medicamentos -, além de ambulâncias, e contratar médicos com um salário digno? Resolver o problema da seca no Nordeste?

Fica evidente que o interesse não é na condição de vida e saúde dos pobres e marginalizados dos confins do mundo, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste onde a carência é de tudo, mas um projeto eleitoreiro demagógico, ideológico, desumano e criminoso, onde à custa dos nossos impostos estamos enriquecendo mais ainda, dois dos mais sanguinários e miseráveis ditadores da América Latina, que são os irmãos Raúl e Fidel Castro. Por: Graça SAlgueiro Do site: http://notalatina.blogspot.com


domingo, 15 de setembro de 2013

SONDA VOYAGER É O PRIMEIRO OBJETO TERRESTRE A DEIXAR O SISTEMA SOLAR

Voyager foi criada inicialmente para estudar os planetas mais afastados da Terra

A sonda Voyager-1 tornou-se nesta quinta-feira o primeiro objeto feito por humanos a sair do sistema solar. Segundo cientistas da Nasa, ela se moveu para fora da influência do sol.

Lançada em 1977, a sonda foi criada inicialmente para estudar os planetas mais afastados da Terra, mas continuou viajando pelo espaço.

Calcula-se que a região interestelar esteja a mais de 19 bilhões de quilômetros da Terra, ou 123 vezes a distância entre nosso planeta e o Sol.

Atualmente, as mensagens de rádio da Voyager-1 levam 17 horas para chegar à Terra.

"Lançar uma sonda no espaço interestelar. Esse é um marco histórico, que esperávamos alcançar há mais de 40 anos, desde que ela foi lançada", dise o professor Ed Stone, cientista-chefe do projeto.

"É um marco cientificamente, mas também historicamente. Essa é uma jornada exploratória (tão importante) como circunavegar o globo terrestre pela primeira vez ou pisar na lua. Essa é a primeira vez que começamos a explorar o espaço interestelar."
'Embaixadores silenciosos'

Mensagens de rádio da Voyager-1 levam 17 horas para chegar ao nosso planeta

Em março, cientistas já haviam cogitado que a sonda tinha deixado sistema solar, mas a Nasa rejeitou a possibilidade na ocasião.

A Voyager-1 vinha monitorando mudanças no ambiente ao seu redor que sugeriam a proximidade da fronteira do Sistema Solar - a chamada heliopausa.

A sonda havia detectado um aumento no número de partículas de raios cósmicos vindo do espaço interestelar em sua direção e, ao mesmo tempo, um declínio da intensidade de partículas energéticas vindo do Sol.

A Voyager-1 foi lançada em 5 de setembro de 1977 e sua "sonda irmã", a Voyager-2, em agosto do mesmo ano.

O objetivo inicial das duas sondas era investigar os planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno - tarefa que completaram em 1989.

Em seguida, elas foram enviadas para mais além no espaço, na direção do centro da Via Láctea.

No entanto, suas fontes de energia, feitas de plutônio, devem parar de produzir eletricidade em cerca de 10 a 15 anos, quando seus instrumentos e transmissores irão parar de funcionar.

As Voyagers se tornarão "embaixadores silenciosos" da Terra enquanto se movem pela galáxia.

Ambas transportam discos de cobre banhados a ouro com gravações de saudações em 60 línguas, amostras de música de diferentes culturas e épocas, sons naturais da Terra e outros sons produzidos pelo homem. Publicado originalmente na BBC Brasil

sábado, 14 de setembro de 2013

POR QUE É IMPORTANTE DOMINAR A TEORIA

I.
O provérbio que diz que as coisas podem funcionar bem na teoria mas não necessariamente funcionam na prática é bem conhecido. A intenção normalmente é a de menosprezar a importância da teoria, sugerindo que ela pode ser bonita mas pode estar muito distante das exigências práticas, sendo de pouca valia para ajudar a resolver o problema em questão.

O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724—1804), em seu ensaio de 1793, "On the Popular Judgment: 'This May Be True in Theory, But It Does Not Apply in Practice" (Sobre o Juízo Popular: 'Isso Pode Ser Verdade Na Teoria, Mas Não Se Aplica à Prática'), respondeu a esta crítica. Com efeito, ele respondeu com este seu ensaio à crítica feita à sua teoria ética pelo filósofo Christian Garve (1742—1798).

Kant argumentou que a teoria fornece "princípios de natureza suficientemente geral", ou seja, ela fornece regras gerais. No entanto, a teoria não diz ao homem como ela deve ser aplicada, diz Kant. Para isso, faz-se necessário o ato do discernimento próprio:

O conceito da compreensão, o qual pertence à regra geral, tem de ser complementado por um ato de discernimento, por meio do qual o adepto distingue exemplos em que a regra se aplica daqueles em que ela não aplica.

O filósofo prussiano, de maneira efetiva, afirma que qualquer indivíduo atuante tem de respeitar o papel exercido pela teoria:

Aquele que finge ser versado em um determinado ramo do conhecimento e ainda assim trata a teoria com escárnio irá inevitavelmente se expor como um ignorante em sua área.

Em sua obra metodológica, Ludwig von Mises (1881—1973) enfatizou, em seu nível mais fundamental, a importância da teoria para o indivíduo que age, observando que a teoria e a ação humana são inseparáveis. Escreveu Mises:

O pensamento precede a ação. Pensar é deliberar sobre a ação antes de agir, e refletir em seguida sobre a ação efetuada. Pensar e agir são inseparáveis. Toda ação está sempre baseada em uma ideia específica sobre relações causais. Quem pensa uma relação causal, pensa um teorema. Ação sem pensamento e prática sem teoria são inimagináveis. O raciocínio pode ser falso e a teoria incorreta; mas o pensamento e a teoria estão presentes em toda ação. Por outro lado, pensar implica sempre imaginar uma futura ação. Mesmo quem pensa sobre uma teoria pura pressupõe que a teoria é correta, isto é, que uma ação efetuada de acordo com o seu conteúdo teria por resultado um efeito compatível com seus ensinamentos. Para a lógica, o fato de esta ação ser factível ou não é irrelevante.

Com a teoria sendo inseparável da ação humana, a questão crucial passa a ser: Qual é a teoria correta? Por motivos óbvios, o indivíduo que age estará interessado na teoria correta: "Não importa como ela seja vista, simplesmente não há como uma teoria falsa ter maior serventia a um indivíduo, a uma classe ou a toda a humanidade do que uma teoria correta."

II.

Na versão da ciência econômica que hoje é a dominante, o real valor de uma teoria é definido por meio de testes que seguem a hipótese do "se-então". Por exemplo, economistas testam se um aumento na oferta monetária leva a um aumento nos preços, ou se um aumento na oferta monetária causa elevação nos preços — ou se o inverso é verdadeiro.

Tal procedimento é típico do positivismo-empiricismo-falsificacionismo — uma abordagem metodológica que, na ciência econômica, não apenas deve ser rejeitada como sendo confusão intelectual, como também tem de ser criticada por ser propensa a abusos demagógicos.

Afinal, se alguém é adepto da ideia de que nada pode ser conhecido (com certeza) sem ser testado, então tal pessoa, por definição, tem de colocar em prática todas as suas ideias. E é aí que jaz o perigo.

Tão logo uma teoria passa a ser vista como boa ou benevolente — tal como a teoria que diz que um aumento na oferta monetária gera prosperidade para todos, ou a teoria que diz que déficits orçamentais criam novos empregos —, as pessoas irão adorar vê-la em prática.

O que é pior, sob o atual reinado do positivismo-empiricismo-falsificacionismo, existem enormes incentivos econômicos para se difundir teorias politicamente eficazes que, obviamente, visam apenas ao bem de políticos — mesmo que tais teorias sejam falsas. Aqueles que fornecem uma convincente legitimação científica para ações perseguidas pelo governo podem previsivelmente esperar altas recompensas dos burocratas.

Fornecendo uma ilustração metafórica: para fazer com que o roubo seja algo socialmente aceitável, o ladrão estará disposto a dividir uma fatia do seu esbulho com aqueles que estão ajudando a fazer com que, do ponto de vista das vítimas, o crime seja aceitável. Em suma, o ladrão tem todo o interesse em premiar o intelectual que justifica "cientificamente" seu roubo.

No que concerne a teorias econômicas aparentemente benevolentes, considere os seguintes exemplos:
O estado é indispensável para a paz e a prosperidade; sem o estado haveria caos social, agressões impiedosas aos mais fracos e miséria dantesca.
A produção e a oferta de dinheiro têm de ser monopolizadas pelo estado, pois simplesmente não há outra maneira de se obter dinheiro de forma confiável.
Foi uma boa ideia substituir o dinheiro metálico (ouro e prata) pelo papel-moeda fiduciário de curso forçado, pois apenas esse tipo de dinheiro permite um contínuo e adequado aumento na oferta monetária — aumento este que, por sua vez, é indispensável para que haja crescimento da economia e do emprego.
O capitalismo explora a classe trabalhadora e gera um aumento exacerbado da pobreza, guerras e imperialismo; já o socialismo irá manter a paz e elevar o padrão de vida de todos.
A democracia (a escolha da maioria) é a única forma de organização política que respeita a liberdade individual e os direitos de propriedade, e que gera cooperação pacífica e prosperidade.

Estes exemplos são suficientes para o meu ponto: tão logo algumas teorias passam a ser consideradas benevolentes, pode-se ter a certeza de que elas serão colocadas em ação. Quanto mais benevolente uma teoria, maior a possibilidade de ocorrer experimentos sociais.

No entanto, praticar experimentos sociais com o suposto propósito de se estar testando verdades é algo que possui um preço muito alto — às vezes, um preço proibitivamente alto, como deixou evidente o experimento socialista em vários países.

III.

No campo da ciência econômica, no entanto, é possível decidir se determinadas teorias são corretas ou incorretas sem que haja a necessidade de se recorrer a experimentos e testes.

Mises reconstruiu a ciência econômica como sendo uma das áreas da 'lógica da ação humana', que ele chamou depraxeologia (práxis = ação; a lógica da ação). Sendo uma teoria apriorística, a praxeologia permite a dedução de verdades irrefutáveis — ou apodícticas — partindo-se do irrefutavelmente verdadeiro axioma da ação humana.

Nas palavras de Mises,

A praxeologia não é uma ciência histórica, mas uma ciência teórica e sistemática. Seu escopo é a ação humana como tal, independentemente de quaisquer circunstâncias ambientais, acidentais ou individuais que possam influir nas ações efetivamente realizadas. Sua percepção é meramente formal e geral, e não se refere ao conteúdo material nem às características particulares de cada ação. Seu objetivo é o conhecimento válido para todas as situações onde as condições correspondam exatamente àquelas indicadas nas suas hipóteses e inferências. Suas afirmativas e proposições não derivam da experiência. São apriorísticas, como a lógica e a matemática. Não estão sujeitas a verificação com base na experiência e nos fatos.

A praxeologia fornece uma metodologia que permite separar teorias econômicas corretas de teorias econômicas falsas, tudo em bases apriorísticas — isto é, sem ter de recorrer a experimentos sociais.

Em vista da ilustração dada acima (e sem se aprofundar extensivamente no argumento), podemos saber com toda a certeza que o estado não é a solução, mas sim a raiz dos mais severos conflitos sociais. (Ver aqui, aqui, aqui).

Utilizando a praxeologia, também podemos saber com certeza que o dinheiro é uma criação do livre mercado; que o dinheiro-commodity — a escolha lógica das ações incorridas no livre mercado — é a moeda forte; e que o monopólio estatal da produção de dinheiro irá gerar uma moeda fraca e continuamente depreciada. (Ver aqui,aqui e aqui).

Também sabemos com certeza que um aumento na oferta monetária não torna uma economia mais rica; tal aumento irá beneficiar exclusivamente aqueles que primeiro receberem este dinheiro recém-criado, pois terão uma maior renda a preços ainda inalterados. Seu poder de compra irá aumentar. Quem perde são todos aqueles que irão receber o dinheiro mais tarde (ou que sequer irão recebê-lo), quando os preços já estarão maiores. O poder de compra destes foi diminuído. (Ver aqui, aqui e aqui).

Também se pode deduzir da praxeologia que o socialismo leva a uma grande miséria, pois se trata de uma forma de organização social que não tem como funcionar. Qualquer experimento genuinamente socialista está fadado ao fracasso, sendo o capitalismo a única forma economicamente viável de organização social. (Ver aqui e aqui).

Finalmente, pode-se mostrar com base na praxeologia que a democracia é incompatível com a preservação das liberdades individuais, dos direitos de propriedade e, consequentemente, da prosperidade e da cooperação pacífica. (Ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)


O poder de se desmascarar e desmistificar falsas teorias econômicas utilizando um raciocínio apriorístico — ou seja, sem ter de recorrer a experimentos sociais — é certamente um dos mais fascinantes aspectos da Escola Austríaca de economia.

Em sua introdução à Crítica da Razão Pura (1787), Kant intitula o capítulo 3 como "A Filosofia Necessita de uma Ciência que Determine a Possibilidade, os Princípios e a Extensão de Todos os Conhecimentos "A Priori"". Para a ciência econômica, Mises fez exatamente isso.


[1] "O termo 'teoria' é normalmente entendido como algo cuja explicação sugerida já foi satisfatoriamente provada, não mais estando aberta a questionamentos." Joyce, G. H. (1908), Principles of Logic, Longmans, Green & Co, London et al., p. 362.

[2] Kant, I. (1992 ), Über den Gemeinspruch: Das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht für die Praxis, Zum ewigen Frieden, H. F. Klemme, ed., Felix Meiner Verlag Hamburg, p. 3 [A 202], tradução própria.

[3] Ibid, p. 4 [276], tradução própria.

[4] Mises, L. v. (1957), Theory & History, p. 124.

[5] Ver, nesse contexto, Hoppe, H. H. (2006), Austrian Rationalism in the Age of the Decline of Positivism, in: The Economics and Ethics of Private Property, Studies in Political Economy and Philosophy, 2nd ed., Ludwig von Mises Institute, Auburn, US Alabama, pp. 347?379.

[6] Murray Rothbard define o estado como sendo

Aquela instituição que possui uma ou ambas (quase sempre ambas) das seguintes características: (1) adquire sua renda por meio da coerção física conhecida como "tributação"; e (2) declara ter — e normalmente tem — um monopólio coercivo da oferta de serviços de defesa (polícia e tribunais) sobre uma dada área territorial.

Rothbard fornece uma definição positiva do estado: ele diz o que o estado realmente é, e não o que ele deve ser (definição normativa).

Por: Thorsten Polleit  professor honorário da Frankfurt School of Finance & Management.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

MARILENA CHAUÍ TRANSFORMA INOCENTES EM UTILITÁRIOS DA REVOLUÇÃO


Oráculo da revista “Cult” e de professores da UFG, a filósofa uspiana finge defender as instituições, mas seu violento discurso contra a classe média é uma pregação quase explícita do terror revolucionário.


O marxismo é uma ideologia política para a maioria das pessoas comuns. Já para a maioria dos intelectuais, ele é uma teoria científica, um instrumento de interpretação da realidade que continua atual, especialmente no campo da história e da sociologia, com ramificações em muitas outras disciplinas. O alemão Karl Marx (1818-1883) divide com o francês Émile Durkheim (1858-1917) e com seu compatriota Max Weber (1864-1920) o título de “Pai Fundador” da sociologia.

Além disso, ele é praticamente o único cientista social que, diretamente ou por intermédio de seus discípulos, influencia as chamadas “ciências duras”, como a biologia e a física. Todavia, o marxismo é mais do que uma teoria filosófica ou científica. Emendando Jean-Paul Sartre (1905-1980), o marxismo não é a filosofia insuperável de nosso tempo — ele se tornou a cultura da nossa época. Mesmo quem nunca abriu um livro de Marx, usa cotidianamente seus conceitos por força da hegemonia das ideias socialistas, começando pela concepção de capitalismo, que é um derivado marxista.

Um exemplo da força do marxismo é sua incrível capacidade de se adaptar ou distorcer a realidade, conforme sua conveniência. Como oficiante de um ritual religioso, o intelectual marxista realiza cotidianamente a transubstanciação da realidade, criando verdadeiros universos paralelos, através dos quais julga vivos e mortos. É o que faz, por exemplo, a filósofa Marilena Chauí, professora titular da Universidade de São Paulo (USP), em uma longa entrevista à “Cult” do mês de agosto. A capa da revista traz a foto da filósofa metida numa blusa “vermelho-dilma” com uma manchete encomiástica: “A lucidez de Marilena Chauí”. E o título da entrevista não é menos laudatório, transformando a fala da entrevistada numa admoestação: “Pela responsabilidade intelectual e política”. Aos 71 anos de idade e 46 de magistério superior, a filósofa — que, desde a crise do mensalão, parou de escrever na “Folha de S. Paulo” e de conceder entrevistas à grande imprensa — tornou-se uma espécie de oráculo da “Cult” e é saudada pela editora da revista, Daysi Bregantini, como “a maior referência intelectual do País”.


Marilena Chauí, filósofa: amaldiçoando os burgueses e a classe média que, além de pagar seu salário, financiam suas palestras, livros e viagens


A afirmação é questionável, mas não deixa de ser verdadeira. Marilena Chauí talvez seja o único intelectual brasileiro que transita, com a mesma desenvoltura, tanto na ciência esotérica da pós-graduação quanto na didática do ensino médio, ajudando a formar gerações desde a década de 70. Ela foi um ícone da “Coleção Primeiros Passos”, da Editora Brasiliense, alcançando mais de 40 edições com o opúsculo “O Que É Ideologia”. Colaborou na Coleção Pensadores, da Editora Abril, e seu livro “Convite à Filosofia”, destinado ao ensino médio e publicado pela Editora Ática, já está na 14ª edição. Na outra ponta, é autora do que talvez seja o mais ambicioso tratado filosófico já escrito no Brasil: o livro “A Nervura do Real”, um estudo sobre Espinosa, com 1.240 páginas, anunciado como primeiro volume de sua reflexão sobre o filósofo holandês, filho de judeus portugueses. Para se ter uma ideia do prestígio da filósofa, “A Nervura do Real” foi publicado pela Companhia das Letras, com ampla divulgação na grande imprensa, quando o destino normal de tratados do gênero é o gueto de uma editora acadêmica, sem circulação comercial.

Filósofa patrocinada pela “mídia burguesa”
A despeito desse invejável currículo, que inclui o título de “doutor honoris causa” na Universidade de Paris (o primeiro conquistado por uma mulher brasileira), Marilena Chauí se mostra cada vez mais caótica em sua vã tentativa de conciliar o saber filosófico com a militância política. A filósofa uspiana parece viver num universo paralelo, ao ponto de atribuir ao fantasma do general Golbery do Couto e Silva os males da política atual, mesmo depois de dez anos de poder do PT. E Marilena só não se saiu pior porque o entrevistador, Juvenal Savian Filho, estudioso da filosofia medieval, foi seu orientando no doutorado de filosofia da USP e não fez nenhuma pergunta crítica para sua mestra, por quem nutre profundo respeito. O mote da entrevista são as manifestações de junho e, a partir delas, a filósofa discorre sobre a política brasileira, fazendo uma apaixonada defesa do Partido dos Trabalhadores. O que fica claro na entrevista é que Marilena Chauí nunca foi levada a sério pela cúpula do partido, que a vê como uma figura excêntrica, incapaz de compreender o pragmatismo da política. Quan­do ela atacou violentamente a classe média, no lançamento de um livro organizado por Emir Sader, Lula estava no encontro e se limitou a sorrir, condescendentemente.

Felizmente para Marilena Chauí, marxistas como ela não precisam do governo do PT — a sociedade capitalista os financia fartamente. Seu “Convite à Filosofia” é publicado por uma das maiores editoras didáticas do País, a Editora Ática, que integra o Grupo Abril, amaldiçoado pela esquerda por publicar a revista “Veja”, e suas palestras são regiamente financiadas pela direita, que gosta de pagar para apanhar. Em 13 de março deste ano, Chauí esteve em Goiânia, no “Café de Ideais” do Centro Cultural Oscar Niemeyer, órgão do governo de Goiás, proferindo a palestra “Democracia e Sociedade Autoritária”. Como sempre, ela atacou a democracia liberal e o capitalismo — e foi paga para isso (provavelmente de modo régio) por um governo capitalista, ainda por cima do PSDB, partido que ela costuma incluir, raivosamente, na “direita”. Pela lista de patrocinadores do evento, percebe-se que ela cuspiu no prato de um dos melhores restaurantes da cidade, onde deve ter comido, e se hospedou no mesmo hotel cinco-estrelas onde o músico Paul McCartney também ficou quando cantou em Goiânia. Além disso, teve o apoio da “mídia burguesa” (e põe burguesa nisso), representada pelo Grupo Jaime Câmara.

A palestra de Marilena Chauí na capital de Goiás ilustra o universo paralelo em que vivem os intelectuais de esquerda. Mesmo sendo financiada pela “burguesia” do Estado e falando para uma plateia de classe média (“desgraça” de seu imaginário), a filósofa não se mostrou capaz de compreender a essência da democracia, que ela reduz a um sistema de criação de “direitos” de mão única, sem se dar conta da contrapartida dos deveres. Bastava Chauí ter atentado para o nome do centro cultural em que pronunciou sua palestra — Oscar Niemeyer, típico representante da “esquerda caviar”, que morreu defendendo o comunismo à revelia de seus mais de 100 milhões de cadáveres. Se até um governo tucano, ao construir seu mais ambicioso centro cultural, rende culto a um comunista impenitente, e nele proliferam palestrantes de esquerda, com as bênçãos de dois intelectuais conceituados (os professores Nars Chaul e Lisandro Nogueira, da UFG), como é que Chauí ousa se encolerizar com o suposto poder hegemônico da direita, desmentido pela aceitação que ela e sua obra desfrutam?

Na entrevista à “Cult”, Marilena Chauí comporta-se da mesma forma. Ela demoniza a grande imprensa, acusando-a de ser porta-voz da “direita”, mas, já na primeira resposta, sem querer, ela reconhece que foi justamente a grande imprensa que deu vida para os manifestantes de junho atacarem os bancos e outros símbolos da elite burguesa. 


“Gatos pingados” da USP fomentam badernas
Senão vejamos. O professor Juvenal Savian lhe pergunta: “Qual foi a sua primeira reação ao ver tanta gente nas ruas durante as manifestações de 2013?” Marilena responde: “Um susto! Acompanhei as tentativas de manifestação do Passe Livre na USP e vi que o movimento não conseguia mais do que três gatos pingados para escutar. Nem digo participar da manifestação, mas escutar. Imaginei que iram para as ruas com cinquenta, cem pessoas. Então, levei um susto, pois não tinha entendido a relação entre o que eles estavam fazendo, ou seja, a fórmula clássica da mobilização, e o uso das redes sociais. Se eu soubesse que eles iriam usar as redes sociais, não teria me assustado, pois associaria com outros eventos que vi no mundo”.

Marilena Chauí é decana da USP e, como se sabe, a universidade pública é um dos ambientes mais informatizados do País. Ela própria se mantém em dia com a Internet, pois seu currículo Lattes foi atualizado em 12 de junho último. E, ao dizer que acompanhou as “tentativas” de manifestação do Passe Livre na USP, ela confessa que não soube do movimento por acaso, através de terceiros, depois que ele eclodiu; não, Chauí era uma observadora (simpatizante? orientadora?) do Movimento Passe Livre, pois sabia de sua existência ainda embrionária e já o acompanhava quando ele ainda não passava de uma “tentativa” de manifestação de gatos pingados dentro da USP e dificilmente seria “acompanhado” por pessoas que não estivessem diretamente envolvidas com ele, ainda mais uma decana septuagenária. Ora, se Marilena Chauí tinha esse envolvimento com os gatos pingados do Passe Livre ao ponto de acompanhar até mesmo suas “tentativas” de manifestação, como é que nunca imaginou que eles iriam usar as redes sociais para tentar mobilizar a sociedade?

É óbvio que Marilena Chauí tenta enganar seu leitor. Para não saber que os manifestantes iriam usar as redes sociais só se ela fosse uma pessoa autista (sem querer ofender os autistas). Seu fingido espanto é de conveniência. Ela não quer admitir que os gatos pingados do Passe Livre, insignificantes até dentro da USP, só foram ouvidos pelo País afora e pela presidente da República porque contaram com total apoio da imprensa, que, de forma ingênua, irresponsável e suicida, deu vida cívica aos devaneios virtuais de seus integrantes. O próprio fato de se ter a elitista USP servindo de criadouro para esse tipo de movimento radical é uma prova de que Marilena Chauí vive num universo paralelo, povoado pelas figuras fantasmagóricas de ricos burgueses pançudos e fumarentos, cujo esporte predileto é violentar os pobres e censurar seus críticos. Nem era necessário que vivêssemos sob a opressão da elite burguesa que Chauí enxerga (repetindo Lula) para que esses grupos radicais não existissem na USP. Bastava um regime verdadeiramente democrático, não refém da chantagem das minorias, para vermos os membros do Passe Livre e seus congêneres sumariamente expulsos da USP e das universidades públicas que, criminosamente, os homiziam.

Chauí, a tia-avó de Pablo Capilé 
A exemplo de todo intelectual de esquerda, como o legendário Sartre, Marilena Chauí não enxerga o mundo real, mas o mundo de seus desejos: se está num país comunista, vê tudo cor de rosa; se está num país capitalista, nada presta. Na entrevista, ele teve a coragem de afirmar textualmente, afrontando os fatos: “Na USP, quando há manifestações, a primeira atitude do reitor é chamar a polícia”. Ora, o que se costuma ver na USP, bem como nas demais universidades públicas do País, é a covardia de reitores e professores, para não dizer cumplicidade, diante dos profissionais de passeata travestidos de alunos. Esses militantes de partidos de esquerda buscam a reprovação voluntária para continuarem infernizando a vida da universidade, mesmo não passando de meia dúzia de “gatos pingados”, para usar a expressão da própria Chauí. Dinheiro público não é capim e se um aluno não retribui o investimento da sociedade em sua formação, preferindo dedicar-se a depredações do patrimônio público, deve é ser expulso não só da escola onde estuda, mas de toda a rede pública, até o ano letivo seguinte. É isso ou a educação no Brasil vai continuar de mal a pior, obstruída pela violência cotidiana e impune dos próprios alunos.

Mas a filósofa Marilena Chauí pensa justamente o contrário. Como integrante do Conselho da Cidade de São Paulo, convocado por Fernando Haddad (PT) depois das primeiras manifestações de junho, ela aconselhou o prefeito a transformar os “gatos pingados” do Movimento Passe Livre — que não foram eleitos por ninguém — em verdadeiros gestores da maior metrópole do País. Após defender Haddad, dizendo ele não foi ambíguo ao não revogar o aumento da passagem de imediato, Chauí faz a seguinte ressalva: “Faltou intuição política, pois Haddad poderia ter dito: ‘Vou revogar, mas convido o Movimento Passe Livre para uma reunião comigo e com o secretariado para fazermos um estudo de onde vamos tirar o subsídio’. Com isso, ele incorporaria o movimento à discussão de outros problemas da cidade e teria sido mais politizador. Haddad deu uma resposta técnica em um momento que pedia uma resposta política”. Reparem que Chauí tem 71 anos de idade e uma livre-docência, mas em vez de ralhar com a molecada do Movimento Passe Livre candidata-se a tia-avó de Pablo Capilé, deixando-se guiar por jovens incautos, que ela quer ver comandando a cidade ao lado do prefeito.

A concepção de democracia de Marilena Chauí é a mesma do “fora-do-eixo” Pablo Capilé — por sinal, seu colega no Conselho da Cidade de São Paulo, instituído pelo petista Fernando Haddad. Chauí vive criticando duramente a democracia representativa (a única possível) e, como fez em sua palestra em Goiânia, chega a demonizar o consenso (que constitui a essência do regime democrático), preferindo enaltecer o conflito permanente, fomentado pelas facções de esquerda, que julgam falar em nome do povo. Contradito­riamente, na mesma entrevista à revista “Cult”, logo depois de afirmar que Haddad deveria convocar o Movimento Passe Livre para ajudá-lo a administrar a cidade, Chauí — obviamente pensando no PT, expulso de algumas manifestações — lamenta que os manifestantes tenham se voltado contra a política institucional, formada pelos partidos, e diz temer que isso favoreça a manipulação dos movimentos pela direita, como se houvesse alguma direita organizada no País. Ocorre que, na cabeça de Marilena, até a “Folha”, o “Estadão” e a Globo, com novelas que mais parecem manifestos estudantis de esquerda, não passam de ferozes esbirros da direita.


Crítica aos manifestantes que antes ela apoiava
O sonho de Marilena Chauí era ver o Estado de São Paulo pegando fogo para que caísse por terra o único bastião de resistência (por sinal, muito frouxo) ao poder totalitário petista. Como as manifestações se generalizaram e acabaram chamuscando o PT, especialmente depois da atabalhoada reação da presidente Dilma Rousseff, Chauí acabou criticando os manifestantes que inicialmente apoiara. E só pelo fato de seu partido estar no poder é que a filósofa ainda finge respeitar as instituições democráticas e critica os grupos radicais que recusam a mediação dos partidos políticos. Na “Cult”, ela chamou de “pueril” a conduta dos manifestantes que arrebentam com a institucionalidade, o que levou o entrevistador a reconhecer que “há uma espécie de incitação à violência por parte de alguns líderes de movimentos sociais e intelectuais de esquerda”, com a palavra “esquerda” devidamente colocada entre aspas. Coitado de Juvenal Savian! Sua mestra quase o repreendeu por esta pergunta: “Olha, existe a violência revolucionária” — disse Chauí, e quase vemos seu olhar de reprovação.

Depois de fazer essa ressalva taxativa, Marilena Chauí passa a defender — com entusiasmo — o terrorismo, mascarando-o com a suposta nobreza da revolução. Vale a pena ler sua fala: “Olha, existe a violência revolucionária. Ela se dá no instante em que, pelo conjunto de condições objetivas e subjetivas que se realizam pela própria ação revolucionária, se entra num processo revolucionário. E, durante um processo revolucionário, a forma mesma da realização é a violência”. Notem que ela própria admite que “as condições objetivas e subjetivas da revolução” não estão dadas pela própria realidade — são provocadas pela ação dos revolucionários, que, feito bactérias morais, destroem o tecido social do qual se alimentam. É o que tem feito a esquerda no Brasil, sobretudo após a abertura política. As absurdas regalias legais para criminosos violentos, travestidas de direitos humanos, são um exemplo dessa ação revolucionária da esquerda, que visa criar um ambiente de anomia, propício a desesperar o cidadão e fortalecer o poder do Estado.

Pregando a violência revolucionária 
Mas Chauí vai mais longe. Sem explicar como é possível impedir que justamente os mais pobres sejam os principais ovos do omelete revolucionário (pois todas as promessas redentoras do gênero resultaram em milhões de cadáveres anônimos), ela deixa claro que o papel do movimento revolucionário é destruir a sociedade vigente para criar outra sociedade. “E isso se faz com violência, não é por meio da conversa e do diálogo”, enfatiza. E, sem querer, revela toda a ética amoral da esquerda, a ética da morte, a ética do mal travestido de bem, que levou o pensador francês Alain Besançon a considerar o comunista até mais perverso do que o nazista. Marilena Chauí prova isso ao discorrer sobre o que entende ser as formas de violência: “Porque a forma fascista é a da eliminação do outro. A violência revolucionária não é isso. Ela leva à guerra civil, à destruição física do outro, mas ela não está lá para fazer isso. Ela está lá para produzir a destruição das formas existentes da propriedade e do poder e criar uma sociedade nova. É isso que ela vai fazer. A violência fascista não é isso. Ela é aquela que promove a exterminação do outro porque ele é o outro”.

Notem o valor instrumental que a filósofa da USP confere à vida humana: para ela, a vida humana só tem valor até o momento em que terá de ser sacrificada em prol da revolução. É a mesma ética destruidora do pedagogo Paulo Freire, afirmada no best-seller “A Pedagogia do Oprimido”, manual de autoajuda marxista: “A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida”. Como já expliquei em outros artigos, essa frase de Paulo Freire é sua justificativa para os fuzilamentos sumários praticados pelos carniceiros da Revolução Cubana. Mas como o PT está no poder, não é hora de matar em nome da revolução, como explica sua colega de petismo Marilena Chauí: “Não estamos num processo revolucionário e por isso corremos o risco da violência fascista contra a esquerda (mesmo quando vinda de grupos que se consideram de ‘esquerda)”. Ou seja, se a violência dos manifestantes de junho se limitasse aos Estados governados pela oposição, sua violência seria revolucionária. Como ela atingiu até o cerne do poder federal em Brasília, então passou a ser fascista, na concepção da filósofa.

Mas Chauí quer se mostrar sensível e, fingindo não saber que o líder da Revolução Bolchevique foi o criador do terror e dos campos de concentração que inspirariam Hitler, afirma: “Eu me lembro de uma frase lindíssima do Lênin em que ele dizia assim: ‘Há uma coisa que a burguesia deixou e que nós não vamos destruir: o bom gosto e as boas maneiras’”. Ou seja, justamente Chauí, que revira os olhos e espuma a boca ao xingar a classe média de “desgraça”, aprendeu com Lênin que o único valor da burguesia que não pode ser destruído é justamente sua casca. Como bem sabe Lula, bom mesmo é terno de grife e uísque importado. Por isso, o filósofo Alain Besançon, no livro “A Infelicidade do Século”, definiu, de forma lapidar, a essência de esquerdistas como Marilena Chauí: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência”. E Marilena Chauí, com seu inegável talento, é quem melhor transforma os inocentes em meros utilitários da revolução. Por: José Maria e Silva é sociólogo e jornalista. Do Jornal Opção.


CHARUTOS CUBANOS

O intelectual romeno Andrei Plesu descobriu que o regime comunista havia acabado em seu país quando uma vizinha saiu no quintal e gritou: “No armazém da esquina há azeitonas! E não há fila!” Para quem vivia na Romênia de Ceausescu, era um autêntico grito revolucionário. As menores comodidades da economia de mercado – como, por exemplo, comprar azeitonas sem ter de enfrentar filas – tornam-se alegrias raras sob o comunismo. Bem o sabem os cubanos que, na falta de papel higiênico, são obrigados a utilizar as páginas do jornal Granma.


A vizinha de Plesu soltou aquele grito em 1989. No ano seguinte, líderes esquerdistas se reuniram em São Paulo com o objetivo de recuperar na América Latina aquilo que haviam perdido no Leste Europeu: o poder político. Vinte e três anos depois, a maioria dos países latino-americanos é governada pelo Foro de São Paulo.

A ineficiência econômica e a baixa produtividade são características inseparáveis do socialismo; Lenin sabia disso já em 1921. Os governantes do Foro de São Paulo, conhecedores do fato, realizam uma espécie de “acordo” com a iniciativa privada, da mesma forma que Lenin fez com a Nova Política Econômica (NEP) na União Soviética.

No socialismo do Foro de São Paulo, os empresários continuam sendo controlados por meio da carga tributária, da burocracia, da perseguição. Podem produzir azeitonas, mas precisam pagar a parte do leão. A verdadeira “luta de classes” se dá entre os que produzem riquezas e os que expropriam a sociedade com impostos, taxas, multas e sabe-se mais o quê. Pensando bem, eis uma boa definição do socialismo: a guerra do Estado contra as pessoas comuns.

Que os empresários não se iludam: entre uma facada nas costas e um prejuízo ao Partido, os companheiros governantes sempre vão optar pela facada nas costas. Era assim no Leste Europeu, está sendo assim na América Latina. E tende a piorar – como demonstram os recentes episódios dos médicos cubanos, da multa do FGTS e da crise após o resgate do senador boliviano.

Tenho um amigo que começou a deixar a esquerda ao presenciar uma cena simbólica. Ele trabalhava em um instituto vinculado ao PT e chegou bem cedo para escrever um relatório. Na noite anterior, havia acontecido uma festa de políticos e sindicalistas. O imenso salão do instituto parecia um campo de batalha com restos de charutos cubanos espalhados pelo chão. Antes de ligar o computador, meu amigo contemplou aquela imagem devastadora – e fechou os olhos.

Abram os olhos: o Brasil está se tornando aquele salão.

Por: Paulo Briguet é jornalista e edita o blog Com o Perdão da Palavra, no qual o presente artigo foi publicado originalmente.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

BARATINHA TONTA

Nunca sigas o teu primeiro instinto porque ele será sempre generoso. O conselho é de Talleyrand, diplomata e premiê francês do século 19. É um bom conselho. Pena que Barack Obama nunca o tenha seguido.


A vaidade do presidente americano, apaixonado pelas suas palavras grandiloquentes e pela sua suposta retidão moral, é incompatível com o realismo cínico, porém salvífico, do político francês.

E, no entanto, se Obama tivesse lido Talleyrand, talvez ele não tivesse mergulhado os Estados Unidos no desastre do dossiê sírio. Que promete continuar e gangrenar.

Tudo começou há um ano, quando Obama, do alto do seu púlpito, seguiu o seu instinto generoso e afirmou que o governo da Síria não poderia cruzar certas "linhas vermelhas".

Que bonito! O carniceiro de Damasco poderia matar o seu povo de todas as formas possíveis e imaginárias. Como, de fato, o tem feito com apreciável sucesso.

Mas, cuidado!, ele não poderia usar armamento químico. Isso é feio. Isso fere a sensibilidade do mundo. E Obama, humildemente, existe para representar o mundo.

Como é evidente, o moralismo vácuo do personagem é aberrante. Não apenas porque armamento convencional tem uma capacidade destrutiva que pode ser incomparavelmente superior a qualquer arma química. Mas sobretudo porque, com armas químicas ou sem elas, é a brutalidade de Bashar al-Assad que deveria ter comovido Obama desde o início.

Se o presidente americano considerava intoleráveis as matanças de Assad, só restava a Obama ter agido em conformidade: punindo o regime, promovendo a sua queda e apoiando os rebeldes que, nesses tempos primitivos, ainda lutavam sem a Al-Qaeda a acompanhá-los.

Mas a triste história das "linhas vermelhas" revela duas cegueiras suplementares. Para começar, estabelecer "linhas vermelhas" em política internacional é sempre uma tentação para que alguém se atreva a cruzá-las.

E esse alguém pode ser Assad; ou a oposição a Assad; ou os grupos jihadistas que operam no interior da Síria (e que já representam 20% dos rebeldes) --as hipóteses são múltiplas. As hipóteses são tentadoras.

E, cedo ou tarde, elas acabariam por ser experimentadas: por Assad, para testar a seriedade do ultimato de Washington; pela oposição a Assad, para arrastar Washington para o conflito sírio; ou até por ambos, como parece ser o caso nesta luta entre selvagens.

Por fim, e talvez mais importante, ninguém estabelece "linhas vermelhas" se não sabe antecipadamente o que irá fazer se elas forem violadas. Obama, manifestamente, não sabe.

Às segundas, quartas e sextas, o presidente americano quer punir Assad com bombardeamentos aéreos. Às terças e quintas, Obama exige mais: criar as condições para mudar o regime.
Aos sábados e domingos, dias de descanso, talvez Obama deseje secretamente não fazer nada e esquecer o assunto de uma vez por todas.

Hoje, cada um desses caminhos já se tornou pior que o anterior. Se decidir punir Assad --pelo ar, jamais por terra-- isso deixará o ditador intacto e, aos olhos dos sírios, o verdadeiro resistente contra mais uma agressão imperialista.

Se, pelo contrário, Obama optar pela mudança de regime, isso pode significar entregar o poder de Damasco aos exatos jihadistas que os Estados Unidos passaram a primeira metade do século 21 a combater.

Por último, não fazer nada, depois da belíssima retórica das "linhas vermelhas", será sempre uma revelação de medo e fraqueza que o terrorismo islamita não esquecerá.

Não admira que, perdido no seu labirinto, Obama já admita tudo: consultar o Congresso; pedir autorização às Nações Unidas; talvez fazer uma peregrinação à Senhora da Aparecida. Os Estados Unidos não têm um presidente; têm uma baratinha tonta que fala demais e depois espera por um milagre.

Faça o que fizer no conflito da Síria, Barack Obama já perdeu. E perdeu porque acreditou que as suas palavras sentimentais, que costumam conquistar os corações moles do Ocidente, teriam o mesmo efeito hipnótico entre a pior vizinhança do Oriente Médio.

Se calhar, foi por isso que lhe atribuíram o Prêmio Nobel da Paz. Guerra, definitivamente, nunca foi com ele.
Por: João Pereira Coutinho  Folha de SP

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Os cubanos exilados alertaram os venezuelanos de que depois dos médicos viriam os educadores, depois os desportistas e quando eles abrissem os olhos Cuba já teria invadido e dominado o país.

Os venezuelanos debocharam e afirmaram ser exagero.

Esse assunto já está desgastado antes mesmo de os médicos estrangeiros começarem a exercer as funções para as quais foram contratados, mas a histeria da mídia e dos esquerdistas circulantes pelas redes sociais, blogs e sites é tão grande, que não dá para deixar passar em branco certas afetações que revelam os dois pesos e duas medidas tão comuns na praxis comunista.

Não tenho qualquer intenção de defender quem quer que seja, muito menos os médicos cubanos, pois as denúncias feitas por aqueles que conseguiram escapar da Venezuela, Bolívia e aqui mesmo do Brasil (ver meu artigo “Contratação dos médicos cubanos: o que há por trás disso?”) são demasiadamente claras para quem analisa os fatos sem paixão, sobretudo para aqueles que têm algum respeito pela vida, liberdade e dignidade da pessoa humana.

A mídia inteira tem se esmerado em acusar os médicos brasileiros de “racistas”, ardilosamente usando como argumento a foto de um cubano negro, cujo fisionomia denota tristeza e constrangimento diante de uma sonora vaia em Fortaleza, como se esse gesto tivesse sido dirigido apenas a ele, por ser negro, e não a todos os demais integrantes do grupo. Não sou dada a agressões desse tipo, preferindo sempre o embate verbal com argumentos e provas, mas não posso fazer de conta que desconheço não somente as vaias como as tentativas de agressão física que estes mesmos defensores dos cubanos castristas fizeram com a “blogueira cubana branca” Yoani Sánchez, quando esteve no Brasil no início deste ano.

Todo mundo sabe que fui talvez a primeira pessoa no Brasil a denunciar a falsa oposição desta blogueira mas, mesmo assim, jamais me passaria a vaiá-la ou agredi-la da forma covarde - afinal, ela era uma só! - como ela foi por parte de uma turba ensandecida que a julgava “vendida ao império”, “agente da CIA” e outras sandices mais. Cubanos são todos os que nascem em Cuba, evidentemente, mas os que vêm através de um acordo espúrio entre os ditadores Castro e o governo petista são os únicos que merecem respeito. Qualquer outro cubano que não faça parte do esquema é “gusano”, e não só merece como deve ser apedrejado, cuspido e vaiado.

Os “médicos” cubanos que estão dando declarações vieram com um discurso pronto e ensaiado, com frases de efeito bem ao gosto do socialismo, como“vamos aos lugares onde ninguém quer ir” ou “nós não trabalhamos por dinheiro, trabalhamos por amor”. Essa última frase, então, comoveu os corações humanistas dos defensores dos Castro, esquecendo, convenientemente, que se isso fosse verdade a ditadura cubana não receberia nenhum centavo por este “gesto humanitário”. 

Há exatos dois anos o governador do Ceará, Cid Gomes, causou justa indignação e foi duramente criticado por professores ao declarar, por ocasião de uma greve desta categoria profissional, que “Professor deve trabalhar por amor, não por dinheiro”. Ninguém trabalha “só por amor” e deve ser remunerado por seus serviços, a menos que escolha o voluntariado - que não é o caso dos cubanos -, assim como esses médicos não vão tratar uma apendicite aguda ou um infarto com “amor”, mas com procedimentos e medicamentos que inexistem nesses lugares inóspitos que os médicos brasileiros se recusam a ir. E merecem ser remunerados como qualquer outro trabalhador, assim como os médicos de outros países que chegaram aqui através do mesmo programa. 

É espantoso, portanto, que os comunistas falem tanto em “respeito aos direitos humanos” e “igualdade” e não percebam a discrepância abissal entre a forma de pagamento e valor do salário entre os médicos cubanos e os demais, e que ainda defendam o absurdo de que os cubanos não tenham um contrato individual mas terceirizado, através da OPAS, que repassa o dinheiro para Cuba, que lhes paga o que bem entende. É absurdo que esses “humanistas” aceitem a desculpa de que, como Cuba age assim em mais de 50 países isso, por si só, é correto. É ultrajante que pessoas que reclamam de seus baixos salários, como professores, e façam greve por melhorias, aceitem como normal e legal que outros profissionais, só porque são regidos por uma ditadura comunista possam vir ao seu país como escravos, pois não têm direito a um contrato de trabalho individual, não têm direito a uma remuneração direta com o empregador - o Governo brasileiro -, não tenham liberdade de locomoção, não possam trazer suas famílias como os demais, e que a AGU tenha dito de antemão que a Justiça negará asilo político caso eles venham a solicitá-lo. 

Segundo o advogado geral da União, Luís Inácio Adams, “Esses médicos vêm como profissionais, eles vêm em cima de um compromisso, de um acordo, de um programa, de uma relação de trabalho. Não me parece que sejam detentores dessa condição de permanência. Os boxeadores vieram aqui ao Brasil participar de evento, é diferente a situação”. Sim, a situação é diferente de fato. A única coisa em comum é que eles não são donos das próprias vidas, sãopropriedades do Estado cubano, tanto é assim que dentro do grupo há alguns “capitães-do-mato” que retêm os passaportes para que não haja possibilidade de fuga. Nem todos são médicos, daí a pantomima de descer do avião de jaleco como se o aeroporto já fosse um hospital cheio de pacientes necessitados de socorro urgente. Com todos vestidos iguais, ninguém sabe quem é médico e quem é agente do G2.

Quer dizer, se já foi anunciado que a Justiça brasileira irá negar o asilo político, é porque tanto o Brasil como Cuba SABEM que muitos desses médicos “aceitam” trabalhar nessas missões pela oportunidade de sair da ilha e tentar escapar para algum país livre. E isso não chama a atenção de nenhum dos que criticam os que estão condenando a vinda desses “médicos” ao Brasil, e sua raiva vem exatamente porque querem camuflar que Cuba é uma ditadura miserável e que ninguém foge “para lá” mas “de lá”!

Nos primeiros anos da ditadura chavista os cubanos exilados, que conhecem sobejamente a prática castrista de ir entrando sorrateiramente nos países com a desculpa dessas “missões humanitárias”, alertaram os venezuelanos de que depois dos médicos viriam os educadores, depois os desportistas e quando eles abrissem os olhos Cuba já teria invadido e dominado o país. Os venezuelanos debocharam e afirmaram ser exagero. Hoje, só de “médicos” (e escrevo com aspas porque muitos deles têm competência para ser, no máximo, auxiliares de enfermagem e NUNCA apresentaram diploma a ninguém) há em torno de 30.000. A infiltração nas Forças Armadas é algo alarmante, ao ponto de ocuparem até cargos de comando, além de notarias, ministérios e controle total dos registros civis e de comunicação (internet, telefonia fixa e móvel, imprensa) totalmente em mãos dos cubanos.

Caminhamos para o mesmo, pois o governo já advertiu sobre um programa semelhante na área de educação. Enquanto o problema está atingindo a classe médica as esquerdas estão rotulando essa categoria de xenófoba, racista, elitistas desalmados e mercenários que têm nojo de pobre. Quero ver quando a invasão cubana for se estendendo a outras categorias, como a dos professores, se eles vão ser tão solidários e humanistas como estão sendo agora.

Quando o Papa Francisco esteve no Brasil, fez uma declaração em um de seus discursos públicos alertando para o uso do povo pelos políticos. Alertava, sabiamente, o amado pontífice, que para os políticos o “povo” era apenas um chavão para manipular votos. Apesar do programa “Mais Médicos” ter sido acordado desde o ano passado, o “povo” nem as casas legislativas que supostamente são seus representantes foram ouvidas, nem antes nem agora. Foi criado um decreto especial para receber esses profissionais sem ter que passar pelo Revalida e eles estão sendo impostos aos brasileiros na marra. Os que questionam ou rechaçam são tratados como desumanos e elitistas O dinheiro que está sendo gasto com esses contratos daria perfeitamente bem para abrir postos de saúde, ambulatórios e hospitais equipados com o mínimo necessário para atender a população, além de ambulâncias para atendimento de urgência. Mas isso não abasteceria os cofres dos ditadores cubanos. 

Outra aberração imposta de cima para baixo sem direito a recusa, é o alojamento desse pessoal nos quartéis das Forças Armadas. Seria a forma mais prática de manter um controle sobre este pessoal, uma vez que há regras a serem cumpridas que não existem nos hotéis? Se esses médicos cubanos são pessoas livres como os demais, por que foi necessário a ministra da Saúde cubana acompanhar a frota e fazer discurso em Brasília?

Ano que vem haverá eleições presidenciais e prevejo que nas campanhas não faltarão imagens dos pobres do fim do mundo abraçados aos “doutores cubanos”, agradecendo ao governo por ter-lhes dado assistência médica, mesmo que continuem padecendo o flagelo da seca, da fome, da miséria e da falta de perspectiva. Quando o povo brasileiro abrir os olhos já será tarde demais. Que o diga a Venezuela que não quis dar ouvidos a quem sabe quem são os ditadores Castro e hoje já é um país miserável, onde falta até papel higiênico. Como em Cuba. Por: Graça Salgueiro Do site http://notalatina.blogspot.com