domingo, 20 de outubro de 2013

LUIZ RUFFATO CONFUNDE ARTE COM PANFLETO E ENVERGONHA O BRASIL EM FRANKFURT

Representando o País numa das maiores feiras de livro do mundo, escritor critica dolosamente o “capitalismo selvagem” e propõe em seu lugar uma espécie de “humanismo selvagem”.

Luiz Ruffato ainda fez propaganda escancarada do petismo na Feira do Livro de Frankfurt.


A presença do Brasil na Feira do Livro de Frank­furt, na Alemanha, re­mete, ainda que de for­ma diametralmente oposta, a um rejeitado clássico do ensaísmo brasileiro, o livro “Porque Me Ufano do Meu País”. Lançado em 1900 pela prestigiosa Garnier, que publicava a nata da literatura brasileira, especialmente Machado de Assis, esse livro é de autoria do poeta, romancista, dramaturgo e ensaísta Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior (1860-1938), o conde Afonso Celso, que entrou para a história da literatura brasileira de forma pejorativa. De seu livro é que provém o termo “ufanismo”, para caracterizar o patriotismo deslumbrado e acrítico, que fantasia grandezas que o País não tem.

Afonso Celso colocou o ponto final nessa sua mais conhecida obra em 8 de setembro de 1900, em Pe­trópolis, no Rio de Janeiro. Era um homem de 40 anos, com vários livros publicados, muitos deles de poesia, e uma carreira política no Império, como deputado por Minas Gerais. O autor dedicou a obra a seus dois filhos, como forma de celebrar os 400 anos do Descobrimento do Brasil.

“Porque Me Ufano do Meu País” alcançou quatro edições de imediato, numa prova de que suscitou polêmica. No livro, o autor apresenta onze motivos para um brasileiro ufanar-se do Brasil: a sua grandeza territorial; a sua beleza; a sua riqueza; a variedade e amenidade de seu clima; a au­sência de calamidades; a excelência dos elementos que entraram na formação do tipo nacional; os nobres predicados do caráter nacional; o fato de o Brasil nunca ter sofrido humilhações nem nunca ter sido vencido; o procedimento cavalheiroso e digno para com os outros povos; as glórias a colher nele e a sua história.

O conde começa por negar que o Brasil tenha sido colonizado por homens degenerados e diz que os portugueses se empenharam em colonizar a nova terra, mandando para cá muitos nobres, ainda que tenham mandado também alguns punidos com o degredo. “Mas, aceitemos a origem humilde da nossa gente. Que resulta daí de desairoso?”, indaga. “Ao contrário, glória nos advém de havermos chegado ao que chegamos, partindo de tão baixo. A Austrália, hoje prospérrima, começou como presídio de criminosos. O berço de Roma foi um covil de bandidos, capitaneados por um enjeitado que uma loba amamentara”, argumenta.

Antecipando Gilberto Freyre (1900-1987), Afonso Celso louva a mestiçagem brasileira, resultante da confluência de três elementos: “o selvagem americano, o ne­gro africano e o português”. E a­firma, de modo taxativo: “Qual­quer daqueles elementos, bem como o resultante deles, possui qualidades de que nos devemos ensoberbecer. Nenhum deles fez mal a humanidade ou a deprecia”. E observa que, na época, entre as nações latinas, o Brasil só estava atrás da França e da Itália.

Afonso Celso enumera dez qualidades do brasileiro, começando pelo “sentimento de independência, levado até à indisciplina”. E cita a hospitalidade, a afeição à ordem, a paciência, a doçura, a caridade, a tolerância, a honradez e a acessibilidade “que degenera, às vezes, em imitação do estrangeiro”. O brasileiro pintado pelo autor de “Porque Me Ufano de Meu País” não é um forte, como o sertanejo de Euclides da Cunha, mas um santo: “A estatística dos crimes depõe muito em favor dos nossos costumes. Viaja-se pelo sertão, sem armas com plena segurança, topando sempre gente simples, honesta, serviçal” – afirma.

Para os olhos do Brasil de hoje, assolado pela corrupção, Afonso Celso beira o surrealismo ao afirmar: “Os homens de Estado costumam deixar o poder mais pobres do que nele entram. Magistrados subalternos, insuficientemente remunerados, sustentam terríveis lutas obscuras em prol da justiça, contra potentados locais. Casos de venalidade enumeram-se raríssimos, geralmente profligados. (...) Quase todos os homens políticos brasileiros legam a miséria às suas famílias. Qual o que já se locupletasse à custa do benefício publico?”, indaga, numa piada involuntária, ao menos quando lido no Brasil do mensalão.

Do ufanismo ao escarnecimento
Mesmo reconhecendo-se que a corrupção material tende a ser um fenômeno moderno, fruto direto do processo de institucionalização do Estado, não dá para crer que os contemporâneos de Afonso Celso fossem assim tão probos. Ou eles não seriam contemporâneos de Machado de Assis e Lima Barreto, sutil e ferrenho críticos, respectivamente, da elite brasileira. Mas também não parece plausível o Brasil descrito nos livros didáticos atuais – ou seríamos todos ladrões, homicidas e estupradores. Hoje, há uma espécie de obra aberta sendo escrita coletivamente pelos formadores de opinião, cujo título poderia ser: “Porque Escarneço do Meu País”.

E não se trata de escarnecer do País baseado em fatos – como os 63 mil homicídios anuais e os recorrentes escândalos de corrupção – mas, sim, escarnecê-lo com base em mitologias, mediante a invenção de um passado tenebroso que transforma todos os brasileiros em filhos da monstruosidade. Foi o que fez, por exemplo, o escritor mineiro Luiz Ruffato, um dos 70 representantes oficiais do Brasil na Feira de Frankfurt, comitiva criticada pelo escritor Paulo Coelho, que, diante do discurso engajado de Ruffato, parece ter razão.

Na tarde de terça-feira, 8, ao discursar na abertura da participação brasileira na Feira de Frankfurt, Luiz Ruffato foi ovacionado pelos presentes. Começou indagando a si mesmo: “O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século 21, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças”.

Estilisticamente, o discurso foi digno de Luiz Ruffato, sem dúvida um bom escritor, em que pese eu não suportar as invencionices de “Eles Eram Muitos Cavalos” (Editora Boitempo, 2001), sua mais festejada obra. Mas, quanto ao conteúdo, o discurso de Ruffato deve ter feito Machado de Assis e Guimarães Rosa revirarem no túmulo. Até Graciliano Ramos, preso pela ditadura de Getúlio Vargas sob a acusação de comunismo, haveria de bradar nas ventas do infeliz: “Que discurso mais besta!”.

É certo que o Velho Graça diz, nas “Memórias do Cárcere”, que “quem dormiu no chão deve lembrar-se disto, impor-se disciplina, sentar-se em cadeiras duras, escrever em tábuas estreitas” e “escreverá talvez asperezas, mas é delas que a vida é feita: inútil negá-las, contorná-las, envolvê-las em gaze”. Luiz Ruffato, filho de uma “lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto”, é dos que dormiram no chão. Ele próprio foi “pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete”, cujo destino, segundo ele, foi modificado pelo contato fortuito com os livros. Mas os pobres que Ruffato costuma representar em sua obra ficaram fora do seu discurso em Frankfurt.

Em seus livros, como “Estive em Lis­boa e Me Lembrei de Você” (Com­­panhia das Letras, 2009), Ruffato recria com irônica precisão a vida das classes baixas, captando, com maestria, o Brasil que se urbanizava na década de 70. Mas, em Fran­kfurt, o escritor esqueceu esses po­bres de verdade e foi se ocupar dos “excluídos”, que são pobres de proveta, criados pela academia. Tirando a sintaxe e o vocabulário, Luiz Ru­f­fa­to era Luiz Inácio falando em Fran­kfurt. Só faltou usar a frase “nunca antes neste país”, tão cara a Lula.

A mecanização dos homens
É verdade que a acelerada e, por vezes, violenta urbanização do País, que desenraizou milhões de famílias de trabalhadores rurais, transformando-as em sem-teto na cidade, parece ser culpada pelo “capitalismo selvagem” mencionado por Ruffato. Mas essa é uma visão simplista da urbanização. O capitalismo que deu o castigo, criando o êxodo rural ao mecanizar as lavouras, também deu o pão ao aumentar exponencialmente a produção de alimentos. A dietética Marina Silva come porque Ronaldo Caiado planta. A cesta básica de hoje é relativamente mais barata e mais diversificada do que aquela que os pais de Ruffato, uma lavadeira e um pipoqueiro, podiam comprar em sua infância.

Também é indigna da inteligência de Luiz Ruffato a relação que ele estabelece entre as “fronteiras que caíram para as mercadorias”, mas não caíram “para o trânsito de pessoas”. Para começo de conversa, quem mais impede o trânsito de pessoas não é o capitalismo, mas o comunismo: outrora no Leste Europeu e, hoje, ainda em Cuba e na Coreia do Norte. Mas fronteira é muito mais do que alfândega e passaporte. Ai de um mundo em que as pessoas, como as mercadorias, circulassem o tempo todo! Nas regiões do planeta em que as fronteiras de gente são tão tênues quanto as fronteiras de mercado, vive-se uma tragédia humana. Que o digam os Bálcãs e o Afeganistão. Mercadoria não tem raiz. É um vetor direcionado para o consumo. Já uma pessoa nunca atravessa sozinha uma fronteira: leva junto sua cultura, que pode ser explosiva quando perde o chão de onde brotou.

Além disso, Ruffato deveria saber que a livre circulação de mercadorias, proporcionada pelo capitalismo, alarga o universo simbólico e derruba também as fronteiras humanas, sem que homens e mulheres precisem ultrapassá-las fisicamente. Machado de Assis jamais foi ter com o mundo, mas o mundo vinha ter com ele através do telégrafo e dos navios mercantes que traziam um pouco de Paris para o Rio de Janeiro.

A própria linguagem, matéria-prima de Ruffato, beneficia-se da livre circulação de mercadorias. Os atos de vender e comprar, que precisavam ser registrados, é que levaram os fenícios, um povo mercantil, a criar a escrita. É claro que mercado em demasia também traz contraindicações, mas não porque o capitalismo seja selvagem e, sim, porque é demasiadamente humano, sujeito às vicissitudes de homens e mulheres. Por que o comunismo jamais deu certo? Justamente por sua desumana racionalidade, que, ao querer planificar a vida, mecaniza o homem.

O afrodisíaco das mulheres
Ruffato também diz que “a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença”. E, num dos lastimáveis momentos “USP” de seu discurso, bradou: “Nasce­mos sob a égide do genocídio”. E depois de discorrer sobre o extermínio dos índios, atacou a “democracia racial brasileira”, que considera um mito, por tentar esconder a “dizimação” sob o manto da “assimilação”. E arrematou: “Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos”.

Se tivesse ocorrido esse estupro coletivo como regra, o Brasil não so­bre­viveria como nação. Nenhum po­vo que chegasse a esse nível de barbárie conseguiria sobreviver a si mesmo. O estupro é crime privativo de poucos. O homem normal só se torna um estuprador numa situação de guerra, quando a sobrevivência se im­põe sobre a civilidade e o sexo volta a ser somente carne, sem os filtros culturais que enobrecem o desejo. A civilização, domando os instintos, e­man­cipa o homem da condição de fera e liberta a fêmea da condição de caça.

Até os temidos desbravadores tinham esse verniz mínimo de civilização. O navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521) manteve-se praticamente casto ao dar a volta ao mundo, enquanto seus marujos refestelavam-se na carne alegre e voluntária de nativas pelo mundo afora. Muitos chefes puniam com chibatadas o marujo que ousasse importunar uma moça. Até um bandeirante, para manter sua autoridade, não podia se comportar como um cavalo no cio, pulando cercas para estuprar fêmeas. Nem precisava. Se hoje, em pleno século da liberdade sexual, centenas de mulheres se oferecem para transar com o Ma­nía­co do Parque na cadeia, quantas ne­gras e índias bonitas não se ofereciam sorridentes aos bandeirantes, se­nhores de engenho e outros poderosos da época? Ruffato, um bom romancista, ainda não aprendeu que o poder masculino é afrodisíaco para as mulheres?

Luiz Ruffato também se mostra um defensor da ideia equivocada de que o Brasil é um País racista, pois parece atribuir a maior pobreza dos negros a uma questão de pele e não de história. E, ao falar da desigualdade social, o escritor afirma: “Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém...” Ora, é justamente o contrário: como o País é estatizante desde as Capitanias Hereditárias, nunca vicejou entre nós a responsabilidade individual, alicerce de todos os deveres. Do cabra de eito ao senhor de engenho, do sindicalista da CUT ao empresário da Fiesp, todos se julgam no direito de ter a tutela perene e elástica do Estado.

Escritor critica os tucanos
Quando fala da educação, Ruffato incorre num raciocínio comum a pessoas que são, ao mesmo tempo, ignorantes e críticas. Depois de observar que o Brasil apresenta um dos piores desempenhos escolares do mun­do, ele afirma: “A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior”.

Notem que, sutilmente, ele ataca Fernando Henrique Cardoso e os tucanos – “a elite que permaneceu no poder até muito recentemente” e tinha como estratégia “a perpetuação da ignorância como marca da dominação”. O que é uma mentira: FHC foi quem universalizou a escola básica no País. Luiz Ruffato parece fazer parte dos “20% de analfabetos funcionais” mencionados em seu discurso, que “não têm capacidade de ler e interpretar os textos mais simples”. Aliás, ele não consegue interpretar nem seu próprio texto. Ora, se a elite brasileira investe na perpetuação da ignorância, como se explica que 35% do mercado editorial é absorvido pelo governo e destinado às bibliotecas públicas e escolares? É bom frisar que essa política de distribuição de livros para bibliotecas remonta ao regime militar, com a criação do Instituto Nacional do Livro, e diversas fundações privadas – que integram a elite do País – participam ativamente das campanhas de doação de livros. Isso é apostar na ignorância como dominação?

Em seu discurso em Frankfurt, Luiz Ruffato não deixou de fora nenhuma palavra de ordem das esquerdas. Criticou o machismo da sociedade brasileira, bradou contra a homofobia e não esqueceu nem mesmo os bandidos, compadecendo-se deles. Nas estatísticas sobre criminalidade, baixou o índice de homicídios para 37 mil pessoas mortas por ano, quando o Mapa da Violência, encampado pelo Minis­tério da Justiça, chega a falar em 50 mil homicídios. Mas eu acredito mais num estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que, ao denunciar a fragilidade das estatísticas de mortalidade, estimou o número de homicídios no Brasil em 63 mil por ano.

Mas Luiz Ruffato não parece ter pena das vítimas. Sua grande preocupação é com os bandidos: “E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução”. Notem que, mesmo descrevendo toda uma história de genocídio, estupro de mulheres, desigualdade extrema, ignorância provocada e miseráveis abandonados à própria sorte etc., o “ponto nevrálgico” para ele é o coitadinho do preso.

Também pudera, no País dos criminosos que ateiam fogo às vítimas ostentando um sorriso nos lábios, Luiz Ruffato escreve: “Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios – semelhante torna-se o inimigo”. Pronto! A se crer em Ruffato, o Estado deve exumar o cadáver da dentista que morreu queimada e enforcá-la simbolicamente pelo crime de não ter humanizado seus algozes.

O ufanismo petista de Ruffato
Por fim, Luiz Ruffato encarnou o conde Afonso Celso e reeditou o “Porque Me Ufano do Meu País” numa versão petista: “Mas, temos avançado. A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas”.

No último parágrafo de seu discurso, o escritor Luiz Ruffato afirma: “Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura”. Conta que é filho de operários e que teve seu destino transformado pelo livro. “E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade”, diz. É como se a literatura, os leitores e os livros obedecessem a uma rígida mecânica universal em que cada leitura produzisse exatamente o mesmo efeito à revelia do leitor e de suas circunstâncias. Só para registro: os quatro maiores genocidas do século XX – Lenin, Stalin, Hitler e Mao Tsé-Tung – eram assíduos leitores.

Ruffato diz ainda: “Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro – seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual – como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir”. Será que Ruffato não se dá conta do ridículo? Por acaso, vivemos numa aldeia talibã, em que a mulher é completamente anulada? Não havia mulheres em sua plateia? No Brasil em que ele vive, já não nascem mais crianças? Os homens brasileiros, invertendo o grego Aristófanes, é que estão fazendo greve de sexo, por ver nas mulheres seres extraterrestres, um estranho “outro”, para o qual dão as costas?

Imaginando encerrar seu texto com chave de ouro, Luiz Ruffato diz: “Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora”.

Ruffato chama isso de utopia. Eu chamo de burrice. Hoje, todo intelectual que não pensa com lógica esconde a irracionalidade sob a onírica palavra “utopia”. Que não se pergunte a ele como é que a humanidade poderá ser feliz se todos correrem, ao mesmo tempo, atrás da felicidade, com sofreguidão, “aqui e agora”. Como se vê, o escritor Luiz Ruffato ataca o “capitalismo selvagem” para pôr em seu lugar o “humanismo selvagem”. E pelos aplausos que recebeu em Frankfurt, sua utopia já está em curso e se não se pôr nela uma ferradura, o futuro nos reserva um epitáfio: “Eles eram muitos cavalos”.
(Foto: Adriana Vichi)
Por: José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.
Publicado no Jornal Opção.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

UM JOGO PREVISÍVEL

Raramente uma intervenção governamental rende bons resultados. Na maior parte das vezes ela degrada e desmoraliza. Assim foi a intervenção que produziu a bolha imobiliária. Assim foi a “guerra contra a pobreza”.

O presidente Barack Obama disse que Wall Street deveria estar preocupada com o fechamento do governo. Entretanto, esse fechamento é apenas parcial e os efeitos não são tão medonhos ou ameaçadores quanto o presidente quer nos fazer acreditar. A verdadeira ameaça para Wall Street são os déficits nos gastos governamentais e nossa gradual caminhada rumo ao socialismo, isto é, rumo a um cenário de intervenção governamental cada vez maior na economia. Uma intrusão maciça do governo no ramo da saúde por meio do Patient Protection and Affordable Care Act (de 2010) é a razão do atual fechamento do governo. Alguns dos membros do Congresso desejam adiar as consequências dessa legislação que pode colocar todo o sistema à beira do abismo socialista.

“Para o socialista, o advento do socialismo significa a transição de uma economia irracional [para uma racional]”, escreveu o economista austríaco Ludwig von Mises. “Sob o socialismo, o gerenciamento planejado da vida econômica toma o lugar da anarquia na produção...”. Aqui o socialista não sabe diferenciar racional de irracional. Em termos de plano de saúde, o governo propôs que todo americano venha a ter um seguro de saúde independentemente do custo que isso possa vir a ter para o governo ou para os contribuintes individuais. Por conta de tal decreto, o governo está provocando uma subida nos preços de plano de saúde, pois ele está forçando a entrar no mercado milhões de pessoas que até então não tinham seguro ou plano de saúde. Com efeito, isto se parece com o que o governo fez ao comprar e vender casas familiares durante a última década (quando o governo encorajou uma quantidade gigantesca de empréstimos a pessoas que outrora não se qualificariam, provocando assim uma bolha no mercado imobiliário).

Raramente uma intervenção governamental rende bons resultados. Na maior parte das vezes ela degrada e desmoraliza. Assim foi a intervenção que produziu a bolha imobiliária. Assim foi a “guerra contra a pobreza”. Assim será o resultado por oferecer a todos plano de saúde de alta qualidade pela via legislativa. Dizendo de modo claro e sem rodeios, o Affordable Care Act não garante um aumento no número de doutores para atender uma demanda maior de assegurados. Mas se fosse o caso, o aumento de doutores se daria sobre uma falsa base, pois a economia não pode sustentar o que ela não pode proporcionar.

A inviabilidade do Affordable Health Care Act significa a sua iminente derrota no Congresso? A esse respeito, podemos prever com um alto grau de certeza que a atual tentativa de parar o Obamacare falhará. Como observou Mises algumas décadas atrás em seu livro Socialismo, os socialistas acreditam na excelência da intervenção e controle governamental. Além disso, disse ele, “É falso imaginar que a ideologia socialista domina apenas aqueles partidos que se intitulam socialistas ou... ‘sociais’. Todos os partidos políticos atuais estão saturados de ideias socializantes”. Essa é a situação de hoje.

Até os oponentes do socialismo acreditam que o socialismo é “mais racional” e, portanto, “inevitável”. Pode se dizer que a propaganda do igualitarismo dos tempos modernos e a constante bajulação do povo depõem em favor dessa inevitabilidade. Se Mises estivesse vivo hoje, ele citaria suas próprias palavras para se referir aos republicanos no Congresso que estão tentando impedir o Obamacare: “em seus corações eles estão convencidos que a resistência é inútil”. E isso é a despeito do fato de o socialismo ser “nada mais que uma grandiosa racionalização de sentimentos pequenos”, nas palavras de Mises. “Nenhuma das teorias [socialistas] pode resistir a uma crítica científica e todas suas deduções são inválidas. A concepção que se tem no socialismo da economia capitalista já foi há muito provada como sendo falsa; o plano para a futura ordem social mostra-se intrinsecamente contraditório e, portanto, impraticável”.

Cada passo rumo ao socialismo significa uma redução na totalidade de meios econômicos e no consumo de capital. Como previu Mises, “ver a fraqueza de uma política que aumenta o consumo das massas ao custo dos bens capitais existentes, e assim sacrificando o futuro no presente... requer um entendimento mais profundo que aquele concedido a estadistas, políticos ou às massas que os colocaram no poder”. A destruição da riqueza não está visível ao cidadão médio. Essa destruição é sentida mais gradualmente através de uma queda no padrão médio da qualidade de vida. E o demagogo, conforme observa Mises, “conquistaria sucesso mais facilmente aumentando o consumo per capita ao custo da formação de capital adicional e em detrimento do capital existente”.

Com efeito, esse é o significado econômico do Obamacare nos dias de hoje. A análise de Mises continua a ser atual, mesmo considerando a degeneração do cenário político americano ao longo dos anos. Nosso declínio para o socialismo, entretanto, é apenas um aspecto nessa longa tendência de queda. Há uma passagem interessante na obra Democracia e Liberdade de William Lecky escrita quase 120 anos atrás onde o grande sociólogo coloca em dúvida o futuro da América nos seguintes termos: “A decadência do convívio familiar, em algumas partes da América, dá-se graças à excessiva facilidade de se divorciar; a alarmante prevalência da desonestidade financeira em larga escala; o estranho e sinistro aumento de crimes comuns... a libertinagem que ainda reina na vida política e municipal e a indiferença com que essa libertinagem é contemplada, propicia muito espaço para o pensamento melancólico”.

Seria quase risível comparar a decadência e a libertinagem dos anos 1890 com a de hoje. Mas toda tendência tem um início, e o atual curso da América não começou ontem. Estamos viajando por essa estrada há mais de 100 anos e é seguro dizer que viajaremos até o amargo fim (que certamente não levará outros cem anos). Aqueles que pensam serem risíveis as preocupações de Lecky acerca da ‘libertinagem que reinou na vida política e municipal’ em 1890 devem considerar que a dívida nacional está se aproximando de 17 trilhões de dólares. É fácil ver como nossa indiferença para com a libertinagem nos trouxe até a atual charada do fechamento do governo, com toda essa cuidadosa retórica e impostação. Quem seriamente acredita que os gastos governamentais serão controlados?

É o caso de perguntar quem acredita em Coelhinho da Páscoa ou em Fada do Dente.

Por: JEFFREY NYQUIST

Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

ESTUDO DO CONTRAS

Brasileiras, brasileiros, cubanos, venezuelanos e bolivianos, surge enfim uma luz ao fim do túnel. Como o nome indica, vindo em sentido contrário.

O momento histórico que o Brasil vive nos incentivou a oferecer à nação a verdadeira alternativa ideológica. Somos o CONTRAS. Tudo e todos.

Não somos radicais, como pode parecer. Dependendo de negociações podemos ser contra o contra, o que nos fará ser a favor. Somos adeptos do pragmatismo-socialista-capitalista-financeiro- de-centro-esquerda, o que nos dá uma gama de opções revolucionárias-conservadoras sem limites.

Assim, apresentamos nossos pontos básicos (podem ser mudados) que servem de referência à criação deste partido, que nasce com a vocação do poder:

1 – Somos contrários ao enfoque exclusivista em Saúde, Educação, Moradia e Segurança. E somos contra quem se opõe a este enfoque.

2 – Nossa lei maior – somos contra a Constituição – é a Lei do Menor Esforço. É desejo legítimo do povo ganhar sem trabalhar, escrever sem ter que aprender, não ler e poder escrever sobre o que não leu, exercer cargos públicos por indicação. Somos contra a antiquada meritocracia, pois privilegia somente a poucos. Do mesmo modo, somos contra quem é contra a meritocracia. Entendemos que o maior mérito é saber escolher a oportunidade certa. A isto se dá o nome de sustentabilidade. Ou governabilidade.

3 – Não temos líderes. Ou temos. Não importa. Somos um coletivo. Sonhático ou realizático. E somos contra os coletivos com mais aderentes que os indicados por nós mesmos. E somos contra quem sonha. Apoiamos quem realiza: lucros, contratos e vendas. E somos contra quem se vende – por pouco dinheiro.

4 – Somos contra a situação e o poder constituído. Também somos contra a oposição. Somos contra apoiar os governos e, mais ainda, somos contra criticar os governos. Cada situação deverá ser analisada por si, pelo Departamento Financeiro do partido.

5 – O CONTRAS se posiciona firmemente contra o imperialismo das nações desenvolvidas. Exigimos descontos nos parques da Disney e desconto na Calle Ocho, de Miami Downton. A submissão de brasileiros à inspeção da alfândega do Brasil merece nosso repúdio! Exigimos, assim, o passe livre na volta das viagens. Somos contra o bolivarianismo em todas as suas correntes, especialmente aquelas que não nos incluam. E somos contra quem critica, injustamente, o bolivarianismo-cubano-boliviano-venezuelano-brasileiro-hermano.

6 – Atendendo aos anseios do POVO, somos contra o Parlamento. Propugnamos a adoção do Parlamento Virtual, onde poderemos, de nossos telefones, registar a presença nas sessões parlamentares, em uma demonstração.
Por: Reynaldo Rocha

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

'DILMA E A IMAGEM DO BRASIL'

A mistura de baixo crescimento, inflação alta e contas públicas em deterioração, resumo da obra econômica da presidente Dilma Rousseff, começa a prejudicar a imagem do país, como se viu na semana passada, na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Ninguém chamou o governo de irresponsável ou incompetente, mesmo porque funcionários de organizações multilaterais são normalmente polidos e diplomáticos. Mas os danos causados à economia brasileira pelos erros acumulados nos últimos anos foram citados mais de uma vez, e da maneira mais contundente: apenas como fatos claros e bem estabelecidos, sem retórica política e sem juízos de valor. Nem as expectativas de melhora chegam a ser entusiasmantes. Se forem retomados de fato os investimentos em infraestrutura, o País crescerá, em média, 3,5% nos próximos cinco anos, bem menos e de modo menos equilibrado que os vizinhos sul-americanos mais dinâmicos.

Todos os países emergentes perderam um pouco do encanto dos últimos anos e para todos sobrou alguma recomendação, poderiam lembrar as autoridades brasileiras. Mas nem esse consolo vale muito. Vasculhando as tabelas, comentários e projeções, é difícil de encontrar uma conjunção de problemas tão perigosa quanto no caso brasileiro. O Brasil é citado três vezes na agenda política apresentada pela diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, ao Comitê Monetário e Financeiro, o órgão político mais importante da instituição. As três citações são negativas.

O País é mencionado pelas pressões inflacionárias preocupantes, pelo alto endividamento do setor público e pela necessidade urgente de investimentos em infraestrutura. As pressões inflacionárias deixam pouco ou nenhum espaço para estímulos monetários ao crescimento – um recurso disponível em países com inflação contida em níveis toleráveis.

Todas as sugestões e análises vão no sentido oposto ao da política formulada em Brasília nos últimos anos. Seria um erro, já haviam indicado outros documentos do FMI, recorrer a novos estímulos ao consumo, porque os limites ao crescimento estão do lado da oferta. Analistas vinham chamando a atenção para isso, no Brasil, pelo menos desde o ano passado. Agora o problema é discutido no mais importante foro internacional.

Os problemas fiscais são igualmente visíveis, num ambiente marcado pelo crescimento constante do custeio público, pela transferência de grandes volumes de recursos do Tesouro para bancos federais e pelo endividamento crescente.

Pelas contas do Fundo, a dívida pública brasileira equivaleu a 68% do PIB no ano passado, deve chegar a 68,3% neste ano, atingir 69% em 2014 e, a partir daí, declinar lentamente. A dívida projetada para 2018 corresponderá a 66,7% do PIB. A dívida bruta média dos emergentes foi estimada em 35,2% do PIB no ano passado e deve ficar em 34% em 2013. A dos latino-americanos ficou em 52% em 2012.

O governo brasileiro calcula sua dívida por um critério diferente do usado pelos economistas do FMI, mas, ainda assim, os números encontrados são muito maiores que a média dos emergentes. A dívida bruta no fim do ano passado, segundo as contas de Brasília, foi de 58,7%. Em agosto, chegou a 59,1%.

A presidente Dilma Rousseff e seus ministros costumam confrontar a dívida brasileira com os níveis encontrados no mundo rico, em média superiores a 100% do PIB. Mas a comparação só pode convencer os desinformados. O Brasil é um país emergente e convém comparar seus números com os de outros países da mesma categoria. Além disso, bastaria confrontar as classificações de risco para avaliar com mais realismo as condições do Brasil e as dos países mais avançados.

A recuperação da imagem do Brasil foi conseguida com ajustes muito trabalhosos nos anos 90, completados com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal em 2000. A imagem de seriedade permaneceu durante a maior parte dos últimos dez anos, mas a erosão é evidente. Retórica populista pode funcionar no país e para um público determinado. O público externo – e isso inclui os investidores – é muito mais exigente. 
Editorial do Estadão  Publicado no Estadão desta terça-feira

A NOVA ORDEM PETISTA

A recente vitória do PT, quando o STF livrou “mensaleiros” das penas já impostas sinalizando para outras mais atenuadas, demonstrou que a Nova Ordem Petista para a América Latina se fortaleceu e está sendo levada adiante a diretriz do Foro de São Paulo: transformar o Brasil, maior economia do continente, na União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas.

Com o voto do ministro Celso de Mello que modificou suas anteriores explanações jurídicas e anuiu aos embargos infringentes, postergando para a eternidade o julgamento que parecia ter chegado ao fim depois de quase oito anos de tramitação, dissipou-se a esperança de um punhado de brasileiros. Esperança de que não seríamos mais o país de impunidade, que finalmente se realizaria a isonomia que no Direito significa que todos, sejam ricos ou pobres, são iguais perante a lei e que a proteção social deve vir da Justiça sem favorecimentos com base em diferenciações políticas, financeiras ou de quaisquer outras espécies.

Por outro lado, a sensação que a instância mais alta do Poder Judiciário se fortalecia agradava a minoria de cidadãos que vê com apreensão o domínio petista se estendendo a partir do Executivo.

Ledo engano. Favorecidos ficaram os corruptos, ladrões de nossos pesados impostos que os sustentam em cargos públicos. Retire-se o crime de quadrilha e o chefe desta e seus comparsas petistas terão suas penas reduzidas, podendo cumpri-las em regime semiaberto. Isto se não houver mais e mais embargos infringentes, até que os velhacos que promoveram o maior escândalo de corrupção do Brasil estejam totalmente livres e transformados em vítimas inocentes da imprensa, das elites e do tribunal de exceção, a merecer de novo o voto popular.

Outra consequência da decisão do STF ao acolher os embargos infringentes é o chamado efeito dominó, o que nos consagra definitivamente como o país da impunidade, refúgio ideal para bandidos do quilate de Cesare Battisti.

Conforme noticiado no jornal O Estado de S. Paulo (22/09/2013), tal decisão que empolga os advogados de defesa dos mensaleiros com a possibilidade de lançar mão de mais recursos para defender seus clientes, pode beneficiar réus de 306 ações que se arrastam na Corte, sem previsão de conclusão. Entre os que poderão ingressar com o recurso estão o deputado Paulo Maluf (cabo eleitoral do prefeito Haddad) e os senadores Fernando Collor e Jader Barbalho.

Aos que apelam ao direito de defesa dos réus como algo inerente aos direitos humanos é bom lembrar as palavras do ex-ministro do STF, Eros Grau. Disse ele em entrevista no jornal acima citado sobre os embargos infringentes:

“Admiti-los no STF levaria à instalação do moto perpétuo processual”. “Se cada quatro ou cinco votos forem fiéis, a cada julgamento sobrevirão novos embargos e, continuamente, outros mais”. “Sem fim”. “Os embargos de divergência têm sentido nos tribunais estaduais e regionais”. “Na esfera do STF não, pois ele não se curva, não se põe de joelhos para ser sobreposto a si mesmo”.

O STF se pôs de joelhos e pôs a Nação de joelhos diante do PT e do Foro de São Paulo, pois reforçou ainda mais o Executivo. Já o Legislativo é o que se conhece, facilmente comprável.

Em recente e magistral texto, baseado na mídia internacional, Francisco Vianna cita uma recente publicação do The Wall Street Journal, sobre os rumos do Brasil, que vale a pena repetir:

“Tais rumos são os que enveredam pelos escuros antros da corrupção sistêmica do Estado e de suas relações público-privadas, estimuladas por um sistema judicial cooptado, pelo Executivo que garante uma impunidade geral e irrestrita aos corruptos e corruptores”. “Também, por todas as medidas socialistas de desconstrução por intuscepção da democracia do mérito (a partir de dentro dela própria), através do favorecimento do crime organizado (privado e estatal), pela anulação do sistema legislativo mantido a peso de ouro e legislando em causa própria, com uma oposição de faz de conta, e por uma infraestrutura que não atende ao nível de produção do país”.

Depois de falar grosso na ONU afrontando os Estados Unidos, contraditoriamente a presidente Rousseff foi implorar ajuda da elite e do capitalismo norte-americano e internacional. O governo petista não percebeu ainda que os idiotas somos apenas nós, público interno, e que sua escolha é mais do que evidente. Não interessa a democracia, a liberdade, a prosperidade. A Nova Ordem Petista nos vincula à China, à Rússia, aos piores ditadores mundiais e às aberrações latino-americanas como Cuba, Venezuela e outros antros antiamericanos.

Como poder reforçado no Executivo o PT deve agradecer aos seis ministros que livraram seus asseclas das penas maiores. Principalmente, agradecer ao ministro Celso de Mello que reafirmou o já sabido: no Brasil a justiça não vale nada, vale ter dinheiro e ótimos advogados.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga. mlucia@sercomtel.com.br

DO MITO AO FETECHE

Em mil anos, lembrarão de nossa época como um mundo preso ao mito da política como redenção. Os medievais esperavam a redenção do mundo pelas mãos de Deus, nós esperamos a redenção pelas mãos da política, do povo, dos black blocs.


Quase nada há de científico no tratamento da política no mundo contemporâneo, mesmo no conceito de "consciência política", que é tão científico quanto o conceito de mediunidade. Teremos que esperar mil anos para nos livrarmos dessa crendice.

A rigor, quase não existe ciência política entre nós (pensando ciência como um método de observação que induz a teorias sobre os eventos observados), apenas crenças em processos mágicos carregados pelas mãos sagradas do "povo".

O pensamento mágico em política se caracteriza, entre outras coisas, pela crença numa teoria a priori da história como processo, teoria esta por sua vez carregada de significado moral autoevidente (uma espécie de pureza moral). Já ouviu falar em algo parecido? Por exemplo, crer que quebrar coisas na rua seja um ato carregado de "justiça social" é como crer na providência divina do coquetel molotov.

Dias atrás, o editorial desta Folha falava do "fetiche da democracia" para discutir a eleição direta para reitor da USP. Eu mesmo, nesta coluna, outro dia, falava dos inúmeros fetiches que marcam o debate filosófico-político entre nós, além do fetiche da democracia, o do povo, o da revolução, o das redes sociais, entre outros.

Como antídoto a essa moléstia do pensamento, proponho a leitura do livro "Mito do Estado", uma pequena pérola do filósofo alemão Ernst Cassirer.

Obra tardia na vida de Cassirer (1946), esse livro é uma espécie de testamento pessimista deste grande neokantiano. Cassirer ficou conhecido como autor de duas grandes obras em vários volumes: "Filosofia das Formas Simbólicas" e "O Problema do Conhecimento" -não sei se existem traduções delas no Brasil.

Cassirer "saiu da moda" porque pecaria por ter pensado (devido ao componente hegeliano do neokantismo) a história nos moldes de uma evolução (um tanto hegeliana) na qual passamos do modo mítico ao modo lógico-científico de pensar.

Fugindo da perseguição nazista (ele era judeu), Cassirer morre desesperado com o que ele pensou ter visto: um regresso ao modo primitivo de pensar a política, a saber, a fé num Estado (o fascista) todo-poderoso do qual emanaria a redenção da vida. Cassirer acertou em cheio.

Ainda que o fascismo naqueles moldes tenha passado (quem sabe?), permaneceu em nós a relação mágica com a ideia da política como dimensão justificada em sua violência porque redentora da vida.

Se vivesse mais, ele veria que o mito do Estado evoluiria para o mito do "povo democrático" como soberano "sábio" e "justo", pelo simples fato de nele repousar a graça da justiça social e histórica (maldito Rousseau!). Resumo este mito como "o mito da política como redenção". Puro pensamento mágico.

Quando vemos black blocs quebrando bancos, carros e lojas, sob o efeito do mito da política, procuramos nesse simples ato de violência alguma teoria política que justifique a violência. Mas não existe.

Pensar que há é semelhante aos inquisidores que pensavam existir no ato de queimar pessoas vivas um passo necessário à salvação daquelas almas perdidas.

A "inquisição das ruas" hoje pensa que nossa sociedade está perdida e precisa ser salva por tais sacerdotes da pureza política. Mas o pior é que a classe intelectual é quase toda o alto clero dessa falácia. Rirão de nós em mil anos por crermos nessa mitologia da revolução.

Daqui a mil anos verão que a Revolução Francesa (mito fundante desta seita que dá em black blocs) foi um fato desnecessário para o fim do mundo medieval. Pessoas quebrando coisas na rua não implica em melhoria política. A Argentina "vive na rua" e sua política é risível. Os EUA nunca "vão pra rua" e são a melhor democracia do mundo.

Nosso mundo contemporâneo é superficial demais para sustentar mitos, por isso prefere o fetiche do porrete como pau duro na sua marcha redentora por "um mundo melhor".
Por: Luiz Felipe Pondé  Folha de SP

ponde.folha@uol.com.br

terça-feira, 15 de outubro de 2013

CONSENSO ALARMISTA SOBRE O "AQUECIMENTO GLOBAL"DERRETE-SE RAPIDAMENTE

Referindo-se à teoria do “aquecimento global” e ao rápido abandono da mesma, o Prof. Peter Wadhams, especialista da Universidade de Cambridge, afirmou: “Isto não é um ciclo, não é apenas uma flutuação. No final, tudo vai derreter de repente”.

A generalizada percepção de que não houve aquecimento de origem civilizatória fez o IPCC – Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas – modificar seu principal documento. O IPCC não é um órgão científico, mas político, criado pelos governos com muita participação dos Ministérios do Meio Ambiente nacionais.

De fato, o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, que atualizou os desqualificados Relatórios de Avaliação anteriores apresentados pelo órgão, moderou acentuadamente suas catastróficas previsões anteriores, e supôs que pelo ano 2100 o "aquecimento global" ficará entre 0,5ºC e 1,5º.

O Quinto Relatório publicado no fim de setembro 2013, teve que driblar mais de 1.500 alterações propostas pelos governos que financiam o IPCC.

Aguarda-se a explicação de como foi possível que os anteriores Relatórios sequer considerassem a “pausa global” – nome atribuído à constatação de que o aquecimento global parou nos últimos quinze anos.

Segundo a professora Judith Curry, “agora ficou claro que os modelos utilizados eram excessivamente sensíveis ao CO2”. Ou seja, que estava errada a apresentação dramática do aumento do CO2 como fator de “aquecimento global”.

A mídia fez sua festa se espantando de que há 800.000 anos o CO2 não estava tão alto. Por quê pararam nessa data?

É porque precisavam esconder que em épocas anteriores o CO2 teve uma presença na atmosfera entre 700% e 1.000% maior, com extraordinário benefício para o desenvolvimento da vida vegetal e animal. (Confira: "Aumento da temperatura e do CO2 ajudam a expandir a vida. Como ocultá-lo manipulando fatos científicos?".

Curry também disse que os estudos anteriores não levaram em contra os ciclos de longo prazo das temperaturas nos oceanos.

São esses ciclos que estariam esfriando a Terra como no período 1965-1975, quando muitos cientistas – e não-cientistas como Al Gore – anunciavam a iminência de uma nova era de gelo.

De acordo, com o Prof. Anastasios Tsonis, da Universidade de Wisconsin, nós estamos entrando num período de esfriamento que durará pelo menos 15 anos.

“O IPCC sustenta que seus modelos mostram que se deve esperar uma pausa 15 anos. Mas isso significa que somente dentro de poucos anos eles vão admitir que estavam errados”, disse Tsonis.

Segundo especialistas que estudaram os projetos do Quinto Relatório de Avaliação, o IPCC continuaria apegado a suas profecias alarmistas sobre o “desaparecimento” do Ártico. (Veja post anterior Ártico se recupera e ambientalistas aloucados perdem face.)

Historiadores do clima tornaram público que um derretimento massivo do Ártico aconteceu nas décadas de 20 e 30 do século passado, voltando o gelo ártico depois a crescer em anos de intenso esfriamento.

Os sucessivos derretimentos e recongelamentos do Ártico mostram que nas grandes mudanças climáticas a influência do homem não é crucial, sendo os fenômenos naturais seus únicos determinantes.

Por: Luis Dufaur edita o blog Verde, e a cor nova do comunismo.

A GANÂNCIA DOS IGUALITÁRIOS

“Eu nunca entendi porque é ganância querer preservar o que você ganhou, mas não é ganância querer pegar o dinheiro dos outros.” – Thomas Sowell

Muitos observam a disparidade de riqueza no mundo ou dentro de um país, e concluem que isso é fruto de alguma injustiça. Passam, então, a clamar por impostos que “redistribuam” melhor essa riqueza. Trata-se de um conjunto de falácias perigosas, partindo de um ponto de vista estático e materialista da riqueza.

George Gilder, em Knowledge and Power, faz uma eloquente defesa do capitalismo contra as bandeiras igualitárias. Ele explica que a ganância verdadeira vem daqueles que desejam riqueza não merecida, não criada por si próprios, ou seja, que lutam para que o estado tome à força a riqueza alheia.

Impostos elevados e progressivos, subsídios, barreiras protecionistas, bolsas e esmolas estatais, privilégios, essas são as bandeiras dos gananciosos, incompatíveis com a moralidade do capitalismo. O socialismo, em todas as suas diferentes formas, é uma conspiração dos gananciosos contra aqueles que produzem riqueza.

E a riqueza, nunca é demais lembrar, precisa ser criada. Economia não é jogo de soma zero, onde José, para ficar rico, precisa tirar de Pedro. A razão pela qual o capitalismo funciona é justamente porque a riqueza é um subproduto das mentes mais criativas e inovadores, dos empreendedores que decidem onde investir, onde alocar os recursos escassos da melhor forma.

Empreendedorismo é criar surpresas. Os críticos do capitalismo não gostam de surpresas. Preferem planejamento estatal centralizado, na mão de burocratas que seguem rotinas previsíveis e determinadas. Mas não é assim que se cria riqueza.

Quando Sam Walton abre uma loja e vai à falência, depois abre outra e inova em seu conceito, depois amplia suas apostas e cria um império comercial no sul rural dos Estados Unidos, vendendo produtos chineses mais baratos para os americanos, ele acumula uma fortuna porque surpreendeu o mercado.

Quando Howard Schultz coloca no mercado lojas de café bem sucedidas, depois sai e vê sua criação mergulhar em dificuldades em sua ausência, depois retoma o controle e garante a supremacia da Starbucks oferecendo uma multiplicidade de bebidas e comidas em um ambiente de conforto caseiro, sua fortuna vem como consequência dessa inovação.

Quando Herb Kelleher vai para o Texas para ser um advogado, acaba desenhando em um guardanapo planos para uma empresa aérea diferente na região, desafia todas as previsões pessimistas e crenças dos especialistas do setor, e cria a Southwest, que voa com menos conforto e luxo e preços mais baixos, ele acumula uma fortuna como resultado de sua criação aprovada pelos clientes.

Como esses, temos inúmeros outros exemplos. Entre aqueles 1% dos mais ricos, tão odiados pelos que alegam falar em nome dos outros 99%, temos vários casos como esses, de gente que usou a criatividade, o trabalho duro, a persistência, a visão, a paixão, para criar inovações que se mostraram favoráveis aos consumidores. A fortuna foi apenas uma recompensa pelo que eles ofereceram antes à sociedade.

Falar em exploração para descrever esse processo é um absurdo, uma completa injustiça alimentada pela ideologia marxista equivocada, ou pela pura inveja. O capitalismo é um sistema que remunera quem dá aos outros aquilo que eles desejam, não quem tira dos outros aquilo que eles já têm. A Apple é um caso claro disso. Criou a própria demanda. Não tirou nada de ninguém. Não explorou ninguém.

A crença de que a riqueza se caracteriza não por ideias, valores, códigos morais, atitudes, mas por bens materiais palpáveis, pelos “meios de produção”, que podem simplesmente ser tomados e redistribuídos, não passa de uma superstição marxista, um materialismo tacanho que ignora como a riqueza é realmente criada.

Essa visão equivocada sempre foi alimentada pelos adeptos da violência e da inveja, os gananciosos que só pensam em se apropriar do que pertence aos outros, nunca criar nova riqueza. Quando esses gananciosos violentos chegam ao poder e tomam as propriedades dos ricos, o resultado é inexoravelmente a miséria, a estagnação ou destruição de riqueza.

Colocar a Google, Microsoft, Dell, Apple, Berkshire Hathway e tantas outras empresas, assim como seus ativos e os bilhões que investem com base nas decisões de seus proprietários, sob o controle de políticos ungidos e burocratas, é o caminho mais rápido para a pobreza. Todo progresso nasce de uma minoria criativa.

Como uma nação trata seus empreendedores faz toda a diferença para seu futuro e bem-estar. Certa vez o economista austríaco e Prêmio Nobel, Hayek, disse que defenderia o capitalismo de livre mercado com mais afinco ainda se não tivesse uma única propriedade. Em última instância somos nós que “exploramos” essa minoria brilhante que inova e produz riqueza.

Se os ricos são atacados pelos invejosos socialistas ou “capitalistas de estado”, as classes mais baixas são as que mais sofrem. Nenhuma sociedade prosperou punindo os ricos para beneficiar os pobres. Impostos muito altos e forte controle estatal da economia não impedem que os ricos continuem ricos; impedem que os pobres fiquem ricos!
Por: Rodrigo Constantino   http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino

O IDIOTA EM SENTIDO ESTRITO


Termos como "idiota", "imbecil", "mentecapto" etc. podem ser usados como meros xingamentos. Neste caso, não indicam nenhuma deficiência mental objetiva no indivíduo a que se aplicam, mas somente a raiva que os falantes sentem dele – a qual pode até mesmo ser, e freqüentemente é, causada pela percepção de uma superioridade intelectual que os incomoda e humilha.

Não uso jamais – repito: jamais – esses termos com esse sentido. Quando digo que alguém é idiota ou imbecil, ou quando o sugiro mediante outras palavras, é porque notei claramente, na pessoa de quem falo, uma ou várias das 28 deficiências intelectuais assinaladas pelo célebre educador romeno

Reuven Feuerstein (vhttp://educacaodialogica.blogspot.com.br/2013/07/as-28-deficiencias-da-inteligencia.html), que resultam sempre em julgamentos impulsivos, deslocados da situação. 

Esse erro, o mais freqüente hoje em dia entre os debatedores brasileiros de qualquer assunto, corresponde esquematicamente à falácia lógica que os antigos denominavam ignoratio elenchi, em que o sujeito pensa ter provado alguma coisa quando de fato provou, se tanto, outra completamente diversa.

Isso acontece, evidentemente, quando o cidadão é incapaz de entender qual o ponto em debate. É impossível que um estudante não adquira esse vício quando adestrado desde pequeno para remeter tudo de volta, sempre e sistematicamente, a meia dúzia de chavões tidos como universalmente explicativos, em vez de tentar perceber o que está realmente em jogo na discussão. O apelo compulsivo a rótulos infamantes como "fascismo", 'fundamentalismo religioso", "preconceito e discriminação","racismo", "homofobia", "teoria da conspiração", "elite exploradora" etc., é hoje praticamente obrigatório e funciona como substitutivo socialmente aprovado do esforço de compreender aquilo que se pretende impugnar mediante o emprego fácil e desesperadoramente mecânico desses termos.

O controle “politicamente correto” do vocabulário tenta vestir uma camisa de força verbal no adversário mas termina por aleijar intelectualmente o próprio usuário desse artifício, reduzindo-o à condição de repetidor histérico de insultos completamente despropositados.

Como o que no Brasil de hoje se chama "educação universitária" consiste eminentemente em adestrar os alunos nessa prática, não é de espantar que quatro entre cada dez estudantes das nossas faculdades sejam analfabetos funcionais, o que não significa que os outros seis tenham uma inteligência à altura das funções para as quais ali se preparam.

Demonstrações de inépcia em doses francamente escandalosas são freqüentes não só entre maus estudantes, mas entre pessoas que ocupam os postos mais destacados na esfera da alta cultura neste país. Quando, por exemplo, o escritor Luiz Ruffato é aplaudido pela mídia ao classificar como "genocídio" a redução do número de índios brasileiros de quatro milhões (número hipotético) para 900 mil desde os tempos de Pedro Álvares Cabral até hoje, tanto ele quanto sua platéia demonstram que não têm a menor idéia do que venha a ser um genocídio e só usam a palavra como reforço da identidade grupal dos "bons" contra os "malvados".

"Pensar", no Brasil, significa que o sujeito se apaixona por um símbolo do que lhe parece "o bem" e "a justiça", e imediatamente liga o gerador de lero-lero para acabar com o mal no mundo.

Outro tanto deve ser dito do dr. Miguel Nicolélis, que se escora na sua autoridade de neurocientista para dizer que Jesus, Abraão e Maomé eram apenas esquizofrênicos que imaginavam falar com Deus. Esse homem estuda o cérebro há décadas, mas ainda não se deu conta de que é impossível encontrar, nesse órgão, qualquer prova de que algum objeto pensado exista ou inexista fora dele. Isto aplica-se a Deus como a um gato, a uma pedra ou a uma banana. Aplica-se aliás até ao próprio cérebro. Com toda a evidência, o ilustre membro da Academia Pontifícia de Ciências não entende o alcance da sua própria afirmação, produzida no gerador de lero-lero para fazer bonito ante pessoas que também não a compreendem. Seis meses de estudo das Investigações Lógicas de Husserl não lhe fariam nenhum mal.

Já nem comento os palpiteiros enragés que, em explosões verbais de uma comicidade irresistível, aparecem a toda hora professando dar cabo do Olavo de Carvalho de uma vez por todas. Um deles, a quem eu tentava explicar que não é possível ter serviço públicos gratuitos e ao mesmo tempo "acabar com a desigualdade social", não parecia entender que um serviço público só é gratuito quando custeado por alguém que não é o seu beneficiário: a redução da desigualdade social distribui as despesas mais equitativamente entre todos e acaba automaticamente com a gratuidade.

Numa situação idealizada, onde todos tivessem ganhos equivalentes, das duas uma: ou todos pagariam contribuições iguais para custear os serviços independentemente de usá-los ou não, ou cada um pagaria proporcionalmente aos serviços que recebesse.

No primeiro caso estaria imediatamente instaurada a desigualdade entre os que pagam sem usar e os que usam sem pagar. No segundo, os serviços não seriam gratuitos de maneira alguma.

Por mais que eu explicasse, analisasse e desenhasse essa equação simples, o sujeito, homem de formação universitária, continuou esperneando e jurando que eu era um adepto da injustiça social.

Só pode haver divergência de opiniões entre pessoas com nível similar de inteligência e conhecimento. Com mentecaptos, só o que existe é uma dificuldade de comunicação quase invencível.

Por: Olavo de Carvalho é jornalista e professor de Filosofia Diário do Comércio


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

BRASIL TEM A TARIFA DE CHAMADA DE CELULAR MAIS CARA DO MUNDO

Custo na Espanha por minuto é cinco vezes menor

GENEBRA – O Brasil tem a tarifa de chamadas de celular mais cara do mundo em termos absolutos. A constatação é da União Internacional de Telecomunicações, que hoje publica seu informe anual sobre o setor. Em termos gerais e contando também tarifas de telefonia fixa e internet, o Brasil também não tem um bom desempenho. Entre 161 países avaliados, o Brasil ocupa apenas a 93 posição.

Em média, um minuto no celular em horário de pico custaria US$ 0,71 entre chamadas pelo mesmo operador. no Brasil A taxa sobe para US$ 0,74 por minuto em caso de chamadas entre operadores diferentes. Para fazer a comparação, a UIT usou a taxa média praticada em São Paulo.

O custo é três vezes o que um americano paga para falar ao celular ou Portugal, de onde vem uma parte importante dos investidores. Na Espanha, sede da Telefonica, um cidadão paga cinco vezes menos pelo celular que no Brasil.

Em Hong Kong, um minuto no celular custa US$ 0,01 fora do horário de pico, 70 vezes menos que no Brasil.

Em comparação ao poder aquisitivo, o Brasil seria o quarto mais caro do mundo , superado apenas pela Bulgária, Malawi e Nicaragua.

No que se refere ao custo de banda larga, a situação é bastante melhor. Apenas 54 países tem taxas mais baratas que o Brasil. Nas Américas, o Brasil tem a terceira taxa mais baixa da região.

Mas, de uma forma geral, o País está distante das economias com os menores custos de telecomunicações. Numa cesta de preços incluindo toda a forma de comunicação, o Brasil aparece apenas na 93a posição, superado por índia, Colômbia ou Peru. Em termos de telefonia fixa, o País ocupa a modesta posição de número 112 entre os mais caros.

Entre os celulares, levando em conta a renda e o PIB per capta, o Brasil é o 117 lugar, sem qualquer redução no preço entre 2011 e 2012.

O resultado é que, em termos gerais, o Brasil é apenas o 62o colocado no rankiing dos países mais preparados para usar as tecnologias de informação no mundo, abaixo do Azerbaijão, Croácia, Arábia Saudita, Chile ou Líbano. O ranking é liderado por Coreia, Suécia e Islândia.

Avanço – Apesar dos custos, um número cada vez maior de brasileiros tem acesso a celulares e internet. Segundo a UIT, o Brasil atingiu em 2012 pela primeira vez a marca de ter metade da população usando a web e metade com computador em casa ao final de 2012. Em 2011, essa taxa era de 45%.

No que se refere aos usuários de banda larga, a taxa ainda é pequena, passando apenas de 8,6% para 9,2% entre 2011 e 2012. O número ainda está distante da média de 27% nos países ricos.

Os celulares, apesar do custo elevado, já ultrapassaram o número de brasileiros. Em média, existem 125 celulares por cem brasileiro, contra 119 em 2011.

O acesso ao 3G também vem crescendo de forma expressiva. Em 2012, 37% dos usuários de celulares tinha acesso à rede. Em 2011, essa taxa era de 21%. A expansão brasileiro segue uma tendência de outros países emergentes, que dobraram o volume de acesso ao 3G em apenas dois anos. Hoje, metade do mundo tem acesso à rede.

O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA NÃO SER UM IDIOTA

O idiota ao qual Olavo se refere é aquele sujeito que nada enxerga além dele mesmo e que julga tudo pela sua própria pequenez.

Na década de 90, o então desconhecido Olavo de Carvalho indignou vastos setores da intelectualidade nacional com a publicação de "O Imbecil Coletivo - Atualidades Inculturais Brasileiras", um finíssimo exercício de análise do que era publicado na grande imprensa pelas vozes dominantes do que seria a nossa "alta cultura".

Naquela oportunidade, Olavo já demonstrava, à farta, que a qualidade do debate público em Banânia havia despencado e que a variável determinante para explicar esse cenário era a ascensão de uma intelectualidade de esquerda que substituiu a reflexão sobre a realidade pela pura e simples propaganda ideológica.

Nesse sentido, não se tratava mais de analisar e tentar mudar a estrutura da realidade como sempre fizeram os esquerdistas em redor do mundo, mas de apenas eleger "oprimidos", produzir suas demandas e divulgá-las, como se verdades fossem, nas escolas, jornais, igrejas, tudo como manda o figurino elaborado por Antonio Gramsci, revisionista criativo e profundo da tradição marxista.

Os agentes fundamentais dessa estratégia, pelo menos no Brasil, têm sido os professores universitários, seja porque a nossa vida "intelectual" foi comprimida aos campi, seja porque é ali mesmo que se formam todas as categorias do mundo do trabalho. Nesses espaços, quase ninguém mais ousa falar em verdades, mas em narrativas, como se estas se equiparassem. Da velha e tensa relação entre ciência e ideologia, não sobrou sequer aquele honesto e desagradável mal-estar epistemológico que as "zonas cinzentas" dessa polaridade traziam.

Para quem duvidar dessa descrição do nosso cenário acadêmico, basta visitar qualquer congresso científico no Brasil, sobretudo nas assim chamadas ciências humanas, e observará de forma cristalina que se trata não de uma reunião de pesquisadores em busca de verdades de natureza científica, mas de um mega lobby em favor daqueles que foram escolhidos como as vítimas da sociedade, principalmente daquela que gostam de chamar de capitalismo.

Entre os oprimidos, desfilam negros, gays, mulheres, índios, quilombolas, trabalhadores rurais e urbanos, crentes minoritários no campo religioso, jovens, idosos, enfim, uma procissão de vítimas metodicamente construídas por um discurso supostamente científico. Assim, evidencia-se que a negação das dimensões objetivas da realidade em troca da obsessão, demasiadamente gnóstica, de refundar o mundo é hoje o baluarte da nossa elite acadêmica.

O livro "O mínimo que você precisa para não ser um idiota" é mais um esforço, afiadíssimo, de Olavo de Carvalho para dissecar essas patologias do espírito moderno e as suas manifestações concretas no debate cultural. O responsável pela seleção de artigos e organização da obra, que já nasce antológica, foi Felipe Moura Brasil, um dos seus alunos mais destacados.

Quem tomar a iniciativa de percorrer as dezenas de artigos que ali se encontram observará um texto impecável, em estilo claro e acessível, sem a perda da profundidade possível em formatos como aquele. Os artigos foram divididos em temas - conhecimento, juventude, cultura, religião, ciência, petismo, entre outros.

Apesar de apresentar uma unidade inquestionável, o conjunto dos artigos selecionados encontra o seu ápice, segundo entendo, nas inúmeras sugestões de como contornar a imbecilidade coletiva que engloba o ambiente intelectual brasileiro. Nesse sentido, Olavo nos chama a atenção para a árdua tarefa que será recompor (ou seria compor?) nossa cultura.

Não é por outro motivo que ele chama a atenção dos jovens para a necessidade de um longo e tortuoso caminho de estudos, antes de ocuparem as ruas se arvorando de solucionadores dos problemas de um mundo que eles desconhecem por completo. Nesse aspecto, o título é bastante provocativo, pois o idiota ao qual Olavo se refere é aquele sujeito que nada enxerga além dele mesmo e que julga tudo pela sua própria pequenez.

Nas 600 páginas do livro, encontra-se um mapa para nos localizarmos num campo de batalha onde as ideias são a munição essencial. Aproveite a oportunidade para não exercer o papel do cego no tiroteio.

Artigo originalmente publicado na edição 1588 (16 a 22/08) do Cinform de Aracaju.

Rodorval Ramalho é sociólogo e professor da Universidade Federal de Sergipe.

domingo, 13 de outubro de 2013

"RELATÓRIO DO PAINEL DO CLIMA NÃO É ALARMISTA, É ESTÚPIDO"DIZ CLIMATOLOGISTA DO MIT


O climatologista Richard Lindzen não acredita que as emissões de combustíveis fósseis sejam a principal causa do aquecimento global. Conseguiu, porém, algo raro para alguém de sua opinião: teve seus estudos analisados pelo IPCC, o painel da ONU que avalia as evidências da mudança climática.

As menções a Lindzen no quinto relatório de avaliação do IPCC, porém, não são elogiosas. Seus estudos sobre mecanismos de feedback --que cancelam ou amplificam o efeito estufa-- foram citados e, logo em seguida, contestados. Falharam tentativas de reproduzir seu trabalho sobre "sensibilidade" do clima (medir quanto a Terra aquece se o nível de CO2 dobrar).

A teoria mais conhecida de Lindzen, o efeito íris, afirma que a mudança climática faria as nuvens aprisionarem menos radiação infravermelha, um feedback que cancelaria o aquecimento global.

Mas a análise de outros estudos fez o IPCC concluir que o efeito-íris não tem esse poder. Um trabalho de Lindzen sobre o assunto foi considerado "não confiável", por ter "amostragem limitada".
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Climatologista do MIT, Richard Lindzen, questiona conclusão de cientistas do IPCC

Em entrevista à Folha, Lindzen admite o erro, mas explica por que ainda contraria o IPCC. Alegando ser vítima de perseguição acadêmica, reconhece já ter recebido verba da indústria do petróleo, mas nega ter vínculo fixo com o setor. "Isso é tática diversionista", diz.
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O sr. acredita que o último relatório do IPCC seja particularmente alarmista?
Na verdade, não. Ele é apenas estúpido. Qual o significado de um cientista esperar para ouvir o que os políticos acham que ele deve dizer?

Agora há uma demanda dos políticos para que, em cada relatório que é feito, os cientistas soem como se tivessem cada vez mais certeza. Isso foi predeterminado.

O que nós temos é uma situação na qual os modelos climáticos [ferramentas matemáticas para projetar o clima futuro] discordam das observações cada vez mais, mas o IPCC tem de concluir que eles são confiáveis, o que é simplesmente insano.

Isso tem relação com a desaceleração do aquecimento global nos últimos 15 anos. Mas o relatório afirma que essa escala de tempo não é relevante para os modelos, e que a tendência no longo prazo continua mostrando subida.

Não existe uma escala de tempo mais relevante. O que existe é que, a cada ano, a previsão se sai mal. Quando os ouvimos dizer que essa é a escala de tempo errada, estão errando o alvo, porque o fenômeno é contínuo.

Não é preocupante que as três últimas décadas tenham sido as mais quentes de todo o registro histórico?
Não. Estamos falando sobre números, certo? E eles estão tentando fazer você pensar que o planeta está esquentando. Dizem a você para não pensar em números porque números indicam que estamos falando de uma mudança pequena. Se pergunto qual tem de ser a sensibilidade do sistema para ser consistente com isso, a resposta seria, mais ou menos 1°C, para o dobro do nível de CO2.

Mas obviamente ninguém acredita que todo o aquecimento dos últimos 150 anos se deva só ao homem, então o número seria um pouco menor. Quase todo economista estudando isso chega à conclusão de que um aquecimento de 1°C ou 2°C, que significaria quadruplicar o CO2, provavelmente traria benefícios líquidos.

Se o novo relatório diz que a estimativa mínima para sensibilidade climática é menor do que costumava ser no anterior, de 2°C, ele não estaria sendo menos alarmista.
Não importa se você começa com o modelo de 1,5°C ou um modelo de 5°C, todos estão exagerando.

Por que o sr. acha que no IPCC, um painel com tantos cientistas independentes uns dos outros, todos estão errando?
Quantas pessoas estão errando? O IPCC diz a você que abriga milhares dos melhores cientistas do mundo. De onde vêm esses milhares? Só existe um punhado de pessoas estudando sensibilidade. O trabalho de tentar convencer o público de que "milhares de cientistas estão de acordo, como diabos alguém pode discordar?" é uma pista de que algo está errado.

Algumas das menções no relatório a seus estudos não são particularmente favoráveis a seu ponto de vista, sobretudo em relação a seu estudo de 2009.
O estudo de 2009 tinha um erro. É verdade. Mas há um estudo de 2011 no qual ele foi corrigido. E a resposta não se alterou. O erro não era um grande problema. O problema é que se você comete um erro que o põe contra o fluxo, eles fazem parecer que foi algo gravíssimo. Ninguém se importa em verificar se aquilo resulta em alguma diferença.

O IPCC diz que o saldo final causado por nuvens é provavelmente positivo [aquece mais o mundo, em vez de resfriar]. Isso derruba sua teoria sobre o efeito-íris?
Bem, até agora o efeito-íris já foi confirmado por quatro estudos independentes, então não estou propenso a me render e dizer que é uma idéia ruim. Há um estudo de Brian Soden e Ákos Horváth no qual eles confirmam nossa principal conclusão.

Para conseguirem publicá-lo, porém, tiveram de incluir um parágrafo dizendo o estudo parece confirmar o que eu, Ming-Da Chou e Arthur Hou [coautores] encontramos, mas é algo geralmente considerado errado. Além deles há Kevin Trenberth e John Fasullo dizendo que o que descobriram é consistente com nosso estudo, mas é claro que eles dão as referências para aquele que estava errado.

O IPCC menciona o estudo de Trenberth e colegas como não favorável aos seus resultados.
Eles tiveram um estudo que foi uma crítica, mas publicaram outro ao mesmo tempo, confirmando nosso resultado sobre o infravermelho.

Uma reclamação de cientistas como o sr. é de que as publicações científicas estão boicotando-os, mas o sr. tem publicado vários estudos...
Você está brincando? É claro que eles estão dizendo a verdade. O prática padrão com qualquer com críticas é fazer a revisão levar um ano e meio. Quando eu publiquei dois estudos no boletim da Sociedade Meteorológica Americana, ambos foram aceitos após longas revisões, mas o editor foi imediatamente demitido depois.

Isso não é apenas reflexo do consenso? Pesquisas recentes mostram que o papel humano no aquecimento global é reconhecido por algo em torno de 95% dos cientistas da área.
Sim, eu sei. E hahaha: eu estou entre os 95%, porque eles não estão fazendo a pergunta certa nessas pesquisas.

Um estudo perguntou se eles acreditavam que a atividade humana era uma causa significativa do aquecimento global, e só 5% discordaram.
Temos algum impacto, mas não significativo.

Então, nessa pesquisa o sr. estaria no lado dos 5%.
Não! A maioria das pessoas entrevistadas nessas pesquisas dizem apenas que há "alguma" [influência humana].

O sr. se aborreceu quando a Harper's publicou uma reportagem acusando-o de receber dinheiro do petróleo?
Sim, eu cobrei um cachê de palestra de US$ 5.000 uma vez, e escreveram que eu estava recebendo isso todo dia. Eu havia dito ao autor desse texto, Ross Gelbspan, que eu havia comparecido a um encontro patrocinado por uma associação energética no Canadá, e que o cachê era de US$ 5.000. O ambientalista Stephen Schneider também recebeu a mesma coisa. Havia gente de todos os lados lá.

O petróleo também bancou o Centro de Annapolis para Políticas Públicas Baseadas em Ciência, onde o sr. é membro de um conselho?
Calma lá! Já faz mais de 15 anos que isso não existe. E foi muito pouco. Até onde eu sei, não teve influência nenhuma. Não conheço nenhum cientista em atividade que se oponha ao alarmismo e seja apoiado pela indústria do petróleo ou carvão. Então, isso é uma tática diversionista. O petróleo hoje está financiando mais os alarmistas.
Por: RAFAEL GARCIA DE SÃO PAULO Folha de SP