quarta-feira, 3 de setembro de 2014

MAIS UM CASO DE HISTERIA

O problema de muitos "formadores de opinião", no Brasil de hoje, não é a burrice em estado puro, mas aquela burrice em segunda potência que nasce do impulso histérico de criar uma frase e, ouvindo-a da própria boca, acreditar nela pela simples razão de ter conseguido dizê-la.


O histérico vive em um mundo fictício composto inteiramente de autopersuasão. Daí ao mais extremo analfabetismo funcional o passo é bem curto. Quando o histérico lê alguma coisa, não entende aquilo que está escrito, mas o que desejaria que estivesse escrito. E acredita piamente que foi isso o que leu.

Um desses, um tal de Renato Rovai, leu no meu Facebook a seguinte afirmação: "O governo torna sigilosas as investigações de acidentes aéreos e poucos dias depois já vem um acidente aéreo politicamente relevante. Ou o acaso está gozando da nossa cara, ou não é acaso." Que é que ele fez com isso? Imediatamente tascou no seu blog do Portal Forum: "Olavo de Carvalho culpa Dilma pela morte de Eduardo Campos".

Qualquer pessoa razoavelmente alfabetizada, com uma inteligência mediana não entorpecida por impulsos neuróticos incoercíveis, entende que uma sentença construída em modo alternativo sugere duas hipóteses e nenhuma certeza.

No episódio presente, um acaso irônico ou a vaga possibilidade de um crime. Transformar isso na afirmação peremptória da ocorrência de um crime, seguida da identificação positiva de um culpado, é, sem a menor dúvida possível, obra de imaginação histérica.

Com toda a certeza o sr. Rovai desejaria mesmo que eu tivesse dito a enormidade que me atribui. Assim poderia facilmente pintar-me como um caluniador fantasista, à perfeita imagem e semelhança dele próprio, e, escondendo-se por trás de um autorretrato com o meu nome, acreditar-se melhor que eu. Um histérico, na verdade, não faz outra coisa na vida senão representar cenas autolisonjeiras no seu teatrinho mental para não ter de tomar consciência da sua deplorável miséria humana.

Tão agudamente necessitado de fazer-se de superior estava o sr. Rovai, que me descreveu como alguém "que é considerado filósofo por ‘gênios’ do estilo de Roger, o ex-cantor e pretenso humorista", sem nem por um segundo levar em conta que:

(1) O sr. Roger, do qual só tive notícia ontem, não consta ter jamais emitido a menor opinião a meu respeito. A busca no Google aponta o meu nome junto a dois Rogers – Scruton e Kimball – mas não a esse.

(2) Uma breve pesquisa no meu currículo e nos documentos que o embasam (http://www.olavodecarvalho.org/english/life-and-works.html) teria bastado para mostrar que quem me considera filósofo (e até, vejam vocês, bom filósofo) não são gênios entre aspas, mas alguns dos maiores intelectuais do Brasil e do mundo, como Miguel Reale, Josué Montello, Herberto Sales, Roberto Campos, Ariano Suassuna, Alexandre Costa Leite, Romano Galeffi, David Walsh, Antoine Danchin e uma infinidade de outros, além de uns ministros de Estado e dois ex-presidentes da República.

Um jornalista sério, quando se refere a um escritor, pode falar dele bem ou mal, mas não pode esconder sob uma pueril afetação de desprezo uma identidade histórica solidamente formada e comprovada. Pode, por exemplo, não gostar de Ariano Suassuna, de Jorge Amado ou de mim, mas não pode dizer que só humoristas fracassados apreciam o que escrevemos.

Isso não é jornalismo: é fabulação histérica. Um jornalista escreve para contar algo do que vê e do que sabe. Um histérico, para compensar seus recalques com grotescos trejeitos de superioridade fingida.

Dito isto, é certo que o sr. Rovai, cujas realizações intelectuais não chegaram a ser louvadas nem mesmo por algum humorista fracassado, pela incontestável razão de que não existem, vai quase que infalivelmente tentar tirar proveito retroativo do vexame, fazendo-se de importante pelo simples fato de que lhe consagrei estas linhas.

Para tirá-lo dessa ilusão, peço-lhe que releia a primeira frase deste artigo, onde a deformação histérica da linguagem aparece como fenômeno generalizado e epidêmico, do qual ele não é senão um exemplo entre milhares, aqui escolhido precisamente porque ilustra muito bem até que ponto essa patologia intelectual pode atrofiar o julgamento e eliminar o senso de realidade.

Lembro aos leitores o diagnóstico já clássico do dr. Andrew Lobaczewski: quando um grupo de psicopatas assume o poder e controla a sociedade, o bombardeio de mentiras oficiais, debilitando na população o impulso de dizer o que vê e o que sente, e substituindo-o pela compulsão de repetir o que ouve, acaba por gerar uma multidão de apoiadores histéricos, cuja única função na vida é fingir para poder persuadir-se e persuadir-se para poder fingir.

Quando as coisas chegam a esse ponto, todos os critérios de realidade foram abolidos e toda possibilidade de ação racional eliminada: é o Império do Mal, onde o caos e o crime podem espalhar-se à vontade, sem que ninguém tenha a autoridade moral de detê-los.

A atuação pública inteira do sr. Rovai não é senão uma ilustração, especialmente miserável, desse estado de coisas.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.




terça-feira, 2 de setembro de 2014

A SOBREVIVENTE


Da morte trágica do candidato à presidência da República, Eduardo Campos, emergiu a sobrevivente, Marina Silva, que tendo se abrigado no PSB por não ter conseguido registrar o seu partido Rede Sustentabilidade seria a vice na chapa.

Como escreveu Elias Canetti em sua magistral obra, Massa e Poder: “O momento de sobreviver é o momento do poder”. “O espanto diante da visão da morte se dissolve em satisfação, pois não se é o morto”. “O morto está estendido e o sobrevivente está de pé”. “É como se um combate tivesse antecedido aquele momento, e nós mesmo tivéssemos derrubado o morto”. Canetti se referia às batalhas onde se mata e morre literalmente, mas não é uma campanha eleitoral uma espécie de batalha?

Marina, a sobrevivente, se sente ungida pela “providência divina”, segundo suas palavras. Na eleição de 2010 obteve 20 milhões de votos e ficou em terceiro lugar. Neste ano viu frustrada sua intenção de voltar à campanha presidencial por ter falhado a oficialização da Rede Sustentabilidade. Agora, por um desses acasos que ela atribui a forças sobrenaturais ei-la no centro do palco da política.

Alçada à cabeça de chapa Marina se transformou rapidamente de hóspede em hospedeira do PSB e sua primeira providência foi a de substituir os comandos da campanha por gente sua, enquanto alijava o pessoal de Eduardo Campos. Portanto, o PSB pode dar adeus às ilusões. A Rede que ainda não existe adonou-se da escalada ao Planalto e se Marina chegar lá tudo indica que não sobrará nada para os socialistas de Campos. As aspirações pesebista foram sepultadas junto com o líder morto.

Dizem em tom de brincadeira que Marina é verde por fora e vermelha por dentro. Toda brincadeira tem um fundo de verdade e não se duvide que no peito de Marina bata ainda um coração petista. A sobrevivente ungida é como o avatar de um PT já longínquo que se dizia puro, ético, a verdadeira esquerda que vinha para mudar o que estava errado.

Á frente do PT a estrela barbuda, que na quarta tentativa chegou lá depois de vestir terno Armani, aparar a barba e fazer publicar uma Carta na qual se comprometia a manter os fundamentos da nossa economia capitalista de Terceiro Mundo.

No poder os éticos e puros mostraram a que vieram e foram na nossa endêmica corrupção os mais corruptos. Incompetentes, reeditaram a inflação, a inadimplência e nos fizeram o país dos pibinhos, dos descalabros na Educação e na Saúde, da Petrobras arrebentada, da diplomacia vergonhosa que defende e custeia os mais nefastos ditadores mundiais. Para piorar o País é o lanterninha dos Brics.

O Brasil como paraíso é uma fraude gerada pela propaganda enganosa. O que de fato se tem é a herança maldita dos quase 12 anos de governo Lula, pois a bem da verdade, nos últimos desastrosos quatro anos foi o criador que mandou e a criatura somente obedeceu.
Note-se que a sobrevivente já iniciou sua metamorfose ao incorporar como vice o gaúcho Beto Albuquerque, ex-petista que agora é citado como defensor do agronegócio. Marina, como se sabe, sempre foi contra o agronegócio. Será que mudou? Afinal, ela apoia os sem-terra.

A candidata da Rede também já aceita a ideia da autonomia do Banco Central. É o que afirma a herdeira do Banco Itaú, Maria Alice Setubal, amiga e coordenadora do programa de governo da sobrevivente. Sem dúvida, um truque da candidata com o intuito de agradar o mercado, que se antes temia Lula agora a teme. Só falta a Rede lançar uma Carta para apaziguar certos ânimos.

Marina está fortalecida. Leva vantagem sobre Rousseff porque além de ser mulher representa com seu aspecto frágil um perfil bem mais feminino. E ganha de Lula porque teve como ele origem humilde, mas, como já foi dito é mulher e negra. Daqui a pouco vão dizer de modo politicamente correto que é mulher, negra e índia. Então, aí de quem criticá-la. Tal coisa será considerada não como preconceito, mas como crime de racismo, portanto, inafiançável.

A sobrevivente, que se esclareça, não é terceira via e sim o Lula de saias abanando uma bandeira vermelha. Com relação ao PT ela pode dizer: “eu sou você amanhã”. Mas, quais são seus planos de governo? Já se sabe que seu programa incluirá os tais conselhos populares idealizados pelo PT e outros canais de democracia direta. Uma quinada e tanto à esquerda que talvez o PT faça caso Rousseff ganhe.

Quanto ao PSDB nunca foi oposição ao PT por temer a popularidade do demagogo Lula. Se agora os tucanos continuarem abúlicos por conta do medo da “santa da floresta” e seguirem sacudindo seus punhos de renda contra a borduna do PT e o arco e flecha da Rede, podem jogar a toalha. Então, ecoará da Papuda a profecia de José Dirceu: “Viemos para permanecer 20 anos”. “Muito mais”, dirá Lula, “meu modelo é Fidel Castro”.
Por: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga www.maluvibar.blogspot.com.br

ENFIM, O AJUSTE RECESSIVO

O PIB no segundo trimestre do ano será certamente negativo: a dúvida dos analistas é hoje apenas a intensidade da queda.


O André Muller, economista da Quest que acompanha a nossa conjuntura -confesso que não tenho mais energia para fazer isso-, prevê que a queda tenha sido de 0,4% em relação ao primeiro trimestre. Tem gente bem mais pessimista, mas aprendi a confiar nos números do André e vou adotá-los na coluna de hoje.

O André simulou o crescimento do ano como um todo com base em números do PIB -hipotéticos- para o terceiro e o quarto trimestre. Em seu cenário, para que o PIB do ano de 2014 como um todo chegue ao medíocre 0,5%, será preciso que o crescimento nos dois últimos trimestres do ano seja também ao redor de 0,5%. Uma hipótese hoje com tintas de otimismo.

No outro extremo, para que tenhamos recessão em 2014 -isto é, PIB do ano menor do que o verificado em 2013-, o crescimento nos próximos seis meses terá que ser também negativo, o que hoje parece a mim e ao André uma hipótese pouco provável.

Mas vejamos qual seria a performance da presidenta Dilma em seu primeiro mandato, caso os números do André estejam corretos:

2011: 2,7%;
2012: 1,0%;
2013: 2,5%;
2014: 0,5%.

Essa sequência de números, para quem tem acompanhado o metabolismo da economia brasileira no período entre 2009 e 2014, traz uma mensagem muito clara: o governo Lula, em seu último ano, e o da presidenta Dilma, em seus quatro anos de mandato, tentaram de forma sistemática evitar uma queda da atividade já contratada em 2009 pela crise externa que nos atingiu.

Os principais instrumentos utilizados nessa tarefa foram: a redução dos juros pelo Banco Central, a expansão do crédito pelos bancos públicos e, finalmente, o aumento vigoroso e continuado dos gastos públicos.

Para o analista com uma visão correta dos problemas que existiam na economia brasileira no ano eleitoral de 2010, estava claro que esses instrumentos iriam provocar um aumento da inflação e uma grande volatilidade no crescimento.

Se a tentativa de reviver a economia em 2010 via respiração boca a boca fazia sentido do ponto de vista político-eleitoral, a utilização desses mesmos instrumentos quando o PIB perdeu força na passagem de 2011 para 2012 deve ser catalogada como um sério erro de política econômica.

E o preço desse erro fica claro quando, no ano eleitoral de 2014, a economia chega exangue ao momento do voto. Uma situação da qual o político com experiência foge como o diabo foge da cruz.

O PIB é uma variável de difícil compreensão da grande maioria do eleitorado -ninguém come PIB, como já disse alguém recentemente-, mas seu baixo crescimento gera situações que chegam ao cidadão comum. É o caso da criação de emprego formal na economia e da taxa de desemprego.

Pois ontem tivemos a divulgação de dois números relativos ao mercado de trabalho. O IBGE divulgou a taxa de desemprego em quatro regiões metropolitanas, mostrando que a desaceleração do PIB ainda não chegou ao mercado de trabalho.

Com alguns ajustes feitos por analistas especializados nesses números, houve um ligeiro aumento no desemprego dessas regiões metropolitanas de 4,3% da População Economicamente Ativa em junho para algo como 4,5% em julho. Esse pequeno aumento não será suficiente para mudar a sensação de pleno emprego que existe hoje no Brasil.

A segunda estatística, divulgada pelo Ministério do Trabalho e que trata da criação de vagas formais em julho, também aponta para uma pequena redução do trabalho formal no país, ainda assim apenas nos números livres das flutuações sazonais (também insuficiente para alterar o humor do brasileiro quanto ao emprego). Talvez o número que mais repercussão terá nas expectativas seja o anúncio de mais de mil demissões na GM.

Mas, independentemente do timing eleitoral, o chamado ajuste recessivo continua a tomar conta da economia brasileira neste fim de mandato presidencial.

Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Publicado na Folha de SP

domingo, 31 de agosto de 2014

O QUÃO ISLÂMICOS SÃO OS MUÇULMANOS?

A Lei Islâmica exige muito dos muçulmanos, qual o sucesso deles em atingir esses preceitos?


Scheherazade S. Rehman e Hossein Askari da Universidade de Georgetown oferecem uma resposta em um artigo publicado em 2010, "

O Quão Islâmicos são os Países Islâmicos?" Nele são listados os ensinamentos islâmicos, calculadas as maneiras como esses ensinamentos são aplicados em 208 países e territórios. Eles postulam quatro índices distintos (economia, lei e governança, direitos humanos e políticos, relações internacionais), feito isso, são organizados em um único índice geral, que eles chamam de IslamicityIndex.

EI2 significa IslamicityIndex Econômico; LGI2 IslamicityIndex de Lei e Governança; HPI2 IslamicityIndex de direitos humanos e políticos e IRI2IslamicityIndex de Relações Internacionais. Juntos formam o IslamicityIndex (I2).


Isso pode causar certa surpresa, os dez primeiros países da lista do Islamicity são, começando pelo topo da lista, Nova Zelândia, Luxemburgo, Irlanda, Islândia, Finlândia, Dinamarca, Canadá, Reino Unido, Austrália e Holanda. Os últimos dez são Maiote, Cisjordânia e Gaza, Somália, Ilha de Man, Eritréia, Sudão, Ilhas do Canal, Iraque, República Federal dos Comoros e Angola. Visto de outra maneira, nenhum dos dez primeiros países "islâmicos" possui maioria muçulmana, mas em sete dos últimos dez, metade ou mais da população é muçulmana.

Bem vindo à Nova Zelândia, o país surpresa que melhor aplica os ensinamentos islâmicos.


Em 38º lugar ficou a Malásia, país com ligeira maioria muçulmana, recebeu a mais alta posição da lista. Em 48º lugar ficou o Kuwait, fabuloso exportador de petróleo, teve a classificação mais alta para um país de absoluta maioria muçulmana. Em 77º lugar ficou a Jordânia, teve a classificação mais alta para um país de absoluta maioria muçulmana sem possuir petróleo.

Tomando como exemplo os 57 membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC) e, (ignorando o tamanho populacional de modo que as Maldivas com 300.000 habitantes tenham o mesmo peso que a Indonésia com 237 milhões), sua pontuação final foi o 139º lugar, ou seja, bem abaixo da média, 104 (ou seja, média de 208 países pesquisados). Em outras palavras, segundo o estudo, o mundo como um todo, querendo ou não, segue com mais afinco os preceitos islâmicos do que os países de maioria muçulmana.

O resultado final muçulmano encontra-se provavelmente bem abaixo do 139º lugar, em parte por razões técnicas e estatísticas, em parte porque a pesquisa foi publicada em 2010, antes do primeiro ministro turco se tornar inescrupuloso e antes dos levantes árabes: a Turquia ocupa uma posição relativamente alta 103º lugar, o Mali 130º e a Síria 186º, a pontuação atual desses países, com certeza, seria bem mais baixa na escala do Islamicity. Organizando esses fatores, calculo que a pontuação final dos muçulmanos hoje, seria o 175º lugar.

O IslamicityIndex, quantifica de maneira prática minha teoria, dividida em duas partes (apresentada em livros publicados há mais de 30 anos sobre soldados escravos e o Islã na vida pública) sobre Islã e política: (1) As exigências do islamismo são inerentemente difíceis demais para que os governantes muçulmanos possam atingi-las, alienando as populações muçulmanas de seus governos, levando a um grande abismo entre governantes e governados e, conduzindo os autocratas gananciosos que não se interessam pelos interesses dos súditos. (2) Para piorar ainda mais as coisas, subsequentemente em mais ou menos 1800, os muçulmanos perceberam que eles estão atrás de não muçulmanos em praticamente todos os aspectos da atividade humana, causando sintomas como perda de esperança, irracionalidade, crença em teorias conspiratórias e islamismo.

Quando perguntado sobre a minha tese, o Sr, Askari discorda. Em uma carta enviada a mim, ele culpa os "líderes religiosos oportunistas" que "distorceram os ensinamentos islâmicos além de se assenhorearem da religião para benefícios próprios". Segundo ele, a ganância deles possibilitou aos "governantes tiranos e corruptos obstruírem a criação de instituições eficientes". E por último, as potências colonialistas e imperialistas "exploraram essas condições em proveito próprio". Em outras palavras, ele vê uma tríade perversa de forças religiosas, políticas e ocidentais criando um círculo vicioso impedindo o progresso.

Minha resposta: Ao depararem com o fracasso de um ideal aparentemente nobre (comunismo, lei islâmica), os devotos instintivamente culpam o fracasso humano em vez de culpar os ideais, devemos nos esforçar mais, melhorar nosso trabalho. Entretanto, em determinado ponto, quando o objetivo nunca é alcançado, se torna lógico e necessário culpar os próprios ideais. Um fracasso de quatorze séculos deveria ser considerado uma experiência levada a cabo em todos os aspectos.

Apesar da ideologia Wahhabi e controle sobre Meca, a Arábia Saudita aplica com menos fervor os ensinamentos islâmicos do que a maioria dos países.


Vejamos especificamente o caso da Arábia Saudita: se a aplicação da doutrina Wahhabi por dois séculos e meio, um governo estável e o controle de Meca e Medina por quase um século e uma riqueza natural que vai além dos sonhos de qualquer mortal ainda deixa o país em mísero 131º lugar, como é possível uma sociedade desejar alcançar os ideais islâmicos?

Askari culpa os muçulmanos; eu culpo o Islã. Essa diferença acarreta enormes implicações. Se os muçulmanos forem os culpados, os crentes não têm outra escolha senão a de continuar tentando cumprir os ensinamentos islâmicos, como vêm tentando por mais de mil anos. Se o problema for o islã, a solução é reconsiderar as interpretações tradicionais da fé e reinterpretá-las de modo que conduzam a uma vida próspera. Essa iniciativa poderia começar com uma viagem exploratória a Nova Zelândia.

Por: POR DANIEL PIPES Publicado na National Review Online.

Original em inglês: How Islamic Are Muslims?

Tradução: Joseph Skilnik


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A IMAGEM DE HITLER NA DESINTEGRAÇÃO DO OCIDENTE

Wotan, o incansável errante, o agitador, que ora aqui ora ali provoca a disputa ou exerce efeitos mágicos, foi transformado pelo cristianismo no demônio, só aparecendo como fogo fátuo em noites de tormenta ou como caçador fantasmagórico acompanhado de sua comitiva nas tradições locais cuja tendência era o desaparecimento. Sem dúvida alguma, o papel do errante sem trégua foi desempenhado, na Idade Média, pela figura então surgida de Ahasverus que não constitui uma lenda judaica e sim cristã, ou seja, o motivo do errante não incorporado por Cristo precisou ser projetado para os judeus, da mesma maneira que encontramos, nos outros, conteúdos que se tornaram inconscientes para nós. Em todo caso, a coincidência entre o anti-semitismo e o redespertar de Wotan é uma jinesse psicológica que deve ser mencionada...
Carl Jung, “Wotan” em Aspectos do drama contemporâneo

Desde a Segunda Guerra Mundial, o nome de Hitler tem sido um sinônimo de mal no Ocidente. Por ventura, ele acabou por ter o mesmo destino de Wotan conforme descrito por Jung acima. Com efeito, ele foi transformado em um demônio político durante uma era secular em que todos os conceitos religiosos foram suprimidos para darem lugar aos seculares. E Hitler foi o líder do movimento Nacional Socialista na Alemanha. E como Hitler foi um nacionalista, a partir de então passou a ser obsceno ser nacionalista. Simultaneamente, as referências ao socialismo de Hitler foram tipicamente silenciadas, isto é, a menos que um socialista queira dizer que a política econômica de Hitler (o próprio socialismo) salvou a economia alemã (que é o elogio que nos é permitido fazer a Hitler).

Ao usar a imagem de Hitler nos últimos 70 anos, fizemos um joguete com nós mesmos. Na educação de todos os cidadãos, inculcamos a seguinte visão acerca do genocídio: os genocídios organizados pelos comunistas devem ser mencionados na mídia com menos frequência do que os de Hitler. Embora os ditadores comunistas tenham matado dezenas de milhões a mais que Hitler, devemos pensar apenas em Hitler quando o assunto em discussão for assassinatos em massa. Quando Mao matou entre 50 e 60 milhões de chineses, ou quando Stálin matou 11 milhões de ucranianos, nós comumente evitamos o termo “genocídio” ou holocausto para descrever os crimes comunistas. Não queremos colocar em circulação palavras-chave que possam associar na mente das pessoas o marxismo ao assassinato em massa. Reservamos para Hitler os assassinatos em massa, para que a perversidade dele possa ser mais bem lembrada. Um exemplo disso: quantas pessoas chegaram a conhecer o termo “holodomor”? Essa é uma palavra ucraniana que significa o assassinato em massa que usa como arma a fome; essa ‘arma’ foi usada pelo governo de Stálin no começo dos anos 1930 e matou mais ucranianos do que Hitler matou judeus.

Em muitas das universidades hoje, aqueles que favorecem o comunismo tentam retratar Hitler como um mero copiador dos colonizadores que mataram índios e escravizaram africanos no século XIX. Do ponto de vista socialista, é importante que a palavra-chave ‘atrocidade’ associada a Hitler seja aplicada ainda mais fortemente aos países ocidentais do que aos países comunistas. Assim, nos textos dos livros de história atuais, as chamadas Guerras Indígenas nos Estados Unidos são descritas como “holocausto” ou “genocídio”. (Veja American Holocaust ou Sexual Violence and American Indian Genocide de David E. Stannard.) É muito importante que os crimes dos Estados Unidos pesem muito mais do que os outros crimes na história, até mais do que os crimes de Hitler. Um site marxista-leninista, o EspressoStalinist.com, diz que entre 95 e 114 milhões de americanos nativos foram assassinados por europeus desde os tempos de Colombo. Nos últimos tempos esses valores têm sido mais frequentemente repetidos, e é bem mais provável que eles sejam ensinados do que as velhas estimativas. O site supracitado também cita o biógrafo de Hitler, John Toland:

O conceito de campos de concentração, assim como a viabilização do genocídio, devem muito, diz ele, aos estudos da história inglesa e americana. Ele admirava os campos de prisioneiros bôeres na África do Sul e de índios no faroeste. Frequentemente ele louvava perante seus amigos próximos a eficiência que os americanos tinham no extermínio [...] dos selvagens de pele vermelha que não podiam ser domesticados pela prisão.

Sendo assim, ao cometer o holocausto, Hitler estava apenas mimetizando a política governamental americana que fora usada contra os índios. Nesse revisionismo histórico, o genocídio torna-se uma mácula especial na sociedade capitalista branca e na cristandade. Neste caso, passa-se um julgamento moral que condena a civilização ocidental, pois se a Alemanha nazista teve de ser destruída por suas atrocidades genocidas, então a América também tem de pagar o derradeiro preço.

Se uma nação se convence da sua própria e especial perversidade, como ela se defenderá? As pessoas normalmente não lutam e morrem por aquilo que acreditam ser errado. E se a perversidade americana é como a de Hitler, que direito tem a América de existir? Quanto a fronteira de um país assim, dificilmente pode se usar o nome ‘fronteira’ para ela. Certamente, tal fronteira é uma injustiça que deve cessar de existir. A ideia de um Estados Unidos como um país de origem europeia que se inspirou nos modelos políticos da Grécia e de Roma serve antes de qualquer coisa para culpar todos de racismo endêmico e indignidade.

Se o pano de fundo europeu da América é repreensível e racista, então o país deve lutar para se tornar “marrom”. Ele deve rejeitar a Europa e adotar incondicionalmente qualquer outra coisa. Todas as tribos, religiões e etnias precisam ser convidadas a viver na América, pois apenas assim a perversidade do colonialismo europeu pode ser expurgada. Apenas assim a mácula do racismo pode ser eliminada. Essa é a lógica de hoje que busca trocar a América por uma entidade multicultural. Aqui o socialismo está destinado a substituir o capitalismo. De agora em diante, não pode haver qualquer “cultura americana” ou qualquer identidade “americana”. De agora em diante, há apenas as tribos da Terra vivendo sob o jugo igualitarista.

A respeito da imagem de Hitler na desintegração do Ocidente, vemos o mesmo processo acontecer na Europa. Lá o muçulmano entra na Europa e ao europeu não é permitido uma palavra para se defender. A Europa deve se curvar a Alá e à sua religião. A Europa tem de se curvar à África e à Ásia. Não se discute se a Europa é para os europeus, pois isso sugeriria hitlerismo. Agora é a vez da Europa ser colonizada. Se Hitler foi um perverso racista, então as forças coloniais são más e racistas. Se Hitler não tinha direito de existir, então a própria Europa não tem direito de existir. O triunfo do liberalismo sobre Hitler determinou isso, e nós seguimos isso, pois não queremos estar do lado errado da história. Não obstante, lembro do aviso de Nietzsche, que deveria ser citado mais frequentemente:

Para toda espécie de homem que permanece vigorosa e próxima à natureza, o amor e o ódio, a gratidão e a vingança, a bondade e a cólera, o fazer e o não-fazer são inseparáveis. É-se bom com a condição de que também se saiba ser mau; é-se mau porque de outra forma não se poderia ser bom. De onde, portanto, provém esse estado doentio, essa ideologia contra a natureza, que nega esse caráter duplo, — que ensina como virtude suprema possuir somente um semivalor? [Vontade de Poder]

O liberalismo moderno definiu o que é bom, e definiu de tal maneira que tornou-se inegável essa definição às próprias coisas boas. Nossa própria história desde 1945 é a história da crescente paralisia estratégica. Primeiro devemos bombardear uma ponte. Depois temos de empreender uma guerra sem buscar a vitória. Depois não podemos dar o nome do nosso inimigo. Depois devemos dar exemplo aos outros deixando de lado nosso arsenal nuclear. Agora descobrimos que o guerreiro, que é homem, não tem permissão para ser um varão. Apenas a uma mulher é permitido ser viril. Vimos por aí que certos princípios universais substituíram o instinto humano — mas apenas no Ocidente (e em nenhum outro lugar). Também vimos que esses princípios podem ser auto-destrutivos ou auto-aniquilantes. E assim podemos afirmar que, em um grau mais profundo, aquilo que James Burnham afirmou sobre o liberalismo ter sido a ideologia do suicídio ocidental.

O que é um homem, pergunta Nietzsche, sem suas possibilidades de defesa e ataque? Ele é uma nulidade. A despeito de a nossa civilização ter funcionado por muito tempo com um conceito unilateral de bondade, hoje temos um falso ideal acerca daquilo que é “bom” que acaba por ditar uma política unilateral de desarmamento, uma tentativa de conciliação com inimigos mortais e a anulação da fronteira dos EUA. Os que se opõem a esse “suicídio do Ocidente” são chamados de racista e islamofóbicos. Comparam eles a Hitler. Eis um exemplo de adoção de um idealismo que faz com que “o homem ampute os instintos que possibilitam a ele ser um inimigo, a ser nocivo, a ter raiva e a insistir na vingança”, disse Nietzsche. “Esse método de atribuição de valores acredita-se ser “idealista”; nunca se duvida que no seu conceito de ‘homem bom’ encontra-se o seu mais alto desejo”.

Vemos evidentemente que a imagem de Hitler na desintegração do Ocidente não é a origem do nosso problema. Essa imagem é apenas mais uma arma psicológica forjada pelo liberalismo moderno, que se tornou vítima de um velhíssimo e falso sistema de valoração que Nietzsche criticou em 1888. Esse falso sistema de valoração foi mencionado por Carl Jung em seu livro Aion: Estudos do Simbolismo do Si-mesmo. Jung disse que a única maneira de livrarmo-nos do nosso dilema é “uma nova assimilação do mito tradicional”. Neste caso, o homem instintivo pode ser reconciliado com o homem racional (ou liberal). Não obstante, a assimilação do mito pressupõe, segundo Jung, “a continuidade do desenvolvimento histórico”. Jung tinha suas dúvidas acerca dessa possibilidade, e escreveu que “naturalmente, a tendência atual em destruir todo tipo de tradição... poderia interromper o processo normal de desenvolvimento por centenas de anos e poderia colocar em seu lugar a barbárie”. Logo adiante ele diz que “onde quer que prevaleça a utopia marxista, isso já aconteceu”. Por acaso não tem prevalecido na América a utopia marxista? Pois o que mais seria o estado de bem-estar social? O que seria então o Obamacare? E o sistema progressivo de impostos? E esse politicamente correto que impera em nossas universidades e escolas? Em que outro lugar essa pandemia de neuroses chegou a esse ponto? Certamente não na Rússia ou na China.

Ideias que causam confusão se espalharam como uma doença fatal por todo o meio político. O senso comum não é mais comum. A autoridade foi atenuada e as estruturas hierárquicas estão entrando em colapso. O processo avança desenfreadamente, pois a própria doença se apresenta como a cura. Sendo assim, toda cura passa a ser, por sua vez, considerada mais uma forma de doença. Os infectados são considerados os mais nobres e mais avançados em pensamento do que os que não são. A neurose passou a ser cada vez mais aguda, de modo que passou a ser o prenúncio de um colapso ainda maior, dado que as coisas não podem continuar assim para sempre. Alguma coisa tem de ceder. O que isso implica foi sugerido por Jung na seguinte passagem:

O grande Plano segundo o qual é construída a vida inconsciente da alma é tão inacessível à nossa compreensão que nunca podemos saber que mal é necessário para que se produza um bem por enantiodromia, e qual o bem que pode levar em direção ao mal. [“A fenomenologia do espírito no conto de fadas” em Os arquétipos e ο inconsciente coletivo]

Outro quebra-cabeças, outro paradoxo. A imagem de Hitler como o santo patrono dos perversos une a ideia de força com a ideia de mal, fazendo com que assim a fraqueza possa ser o único tipo admissível de bem. Apenas os fracos não oferecem perigo e, portanto, são aceitáveis. Assim, para que possamos justificar nossa existência, precisamos agora enfraquecermo-nos. Precisamos abandonar nosso bem-estar. Devemos abdicar das armas. Devemos pedir desculpa pelo sucesso. Devemos abrir nossas fronteiras. Devemos curvarmo-nos a Alá.

Eis um celeiro de grande perversidade, pois o que de bom acaba sendo produzido no final das contas? Nietzsche alerta que “Talvez não tenha existido, até o presente, ideologia mais perigosa, maior desatino in psychologicis que essa vontade do bem: fizeram desenvolver o tipo mais repugnante, o homem que não é livre...”. Mais adiante ele se pergunta “que adianta esforçar-se em declarar que a luta é má... Apesar de tudo se guerreia! não se pode fazer de outra maneira!”

O pacifista não pode forçar o seu pacifismo e, portanto, é uma nulidade. A própria benevolência se tornou uma nulidade, pois perdeu sua energia. Pergunte a si mesmo: Por que é obsceno agir em interesse próprio? por que devemos agir apenas em prol do interesse da maior nulidade de todas — humanidade? Quem exatamente é a humanidade? Como explicou Kierkegaard, o público é um monstruoso nada; e o que é “o público” senão a humanidade? Eis o perigo que circunda todo esse negócio de ideais universais. Eles são monstruosos nadas e nós, ao acreditarmos neles, nos anulamos.

Com tudo a nossa volta se desintegrando e a imagem de Hitler sobreposta no todo, nossa culpa coletiva nos engole. Passamos a ser subitamente incapazes de defender nossa civilização. Por que votamos em Obama? Por que aceitamos a negação da América em nome do estandarte do multiculturalismo? Por que nos tornamos co-conspiradores na ascensão do islã, na supremacia econômica da China, na sovietização das nossas escolas públicas, na socialização do sistema de saúde e no descuido do nosso arsenal nuclear?

Joseph Schumpeter uma vez escreveu que o liberalismo não poderia existir sem um apoio ‘iliberal’. Pois bem, removemos todos os apoios iliberais apenas para constatar que o próprio liberalismo não se sustenta. Assaltados pelo comunismo, pelo nazismo, e agora pela Quarta Teoria Política, temos de cortar todos os recursos iliberais no curso da batalha contra o super-iliberalismo (i.e. o totalitarismo). Será que Deus agora prepara uma enantiodromia (como diz Jung) em que o Oriente se torna Ocidente e o Ocidente se torna Oriente? Poderia haver, no meio da revolução ucraniana, uma renovação que liberte tanto o Ocidente quanto o Oriente? Ou estamos destinados a experimentar outra guerra catastrófica na própria imagem de Hitler?

Por:Jeffrey Nyquist  http://jrnyquist.com

Tradução: Leonildo Trombela Junior

AUMENTO DA CRIMINALIDADE EM GOIÁS SE DEVE À "SEGURANÇA PETISTA" DO GOVERNO ESTADUAL

Para fazer bonito diante do Ministério Público, Judiciário, OAB e universidades, o governo goiano aplicou cegamente a política esquerdista de transformação dos bandidos em vítimas da sociedade — o que contribui para o aumento da criminalidade no Estado.


Os assassinatos de mulheres em Goiânia, que ganharam manchetes em todo o País, não podem ficar confinados entre o sensacionalismo de parte da imprensa e o oportunismo da maioria dos políticos. Ainda que fique comprovado que foram praticados por um psicopata, esses crimes desnudam o grave problema da segurança pública no Brasil, que deveria pautar a campanha de todos os candidatos a presidente da República. Infelizmente, não é o que está ocorrendo. Em Goiás, a exemplo do que acontece também em São Paulo, a criminalidade é politizada pela esquerda, que, estando fora do poder nesses Estados, tende a atribuir aos governos locais – ambos tucanos – a responsabilidade pelo crescimento da violência.

Todavia, esse estado de completa insegurança pública que espalha o terror em todo o País está longe de ser um problema apenas dos governos estaduais. A criminalidade cresce a olhos vistos em todos os Es­ta­dos, qualquer que seja a coloração par­tidária do governo de plantão. É o que mostra o Mapa da Violência 2014, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e encampado oficialmente pela Secretaria-Geral da Presidência da República. De acordo com o estudo, a evolução histórica da mortalidade violenta no Brasil “impressiona pelos quantitativos implicados”: entre os anos 1980 e 2012, morreram no País 1.202.245 pessoas vítimas de homicídio. Por outro lado, 1.041.335 morreram em decorrência de acidentes de transporte e 216.211 suicidaram-se. As três causas somadas totalizam 2.459.791 pessoas mortas devido a causas externas.

O Mapa da Violência mostra que, nas últimas três décadas, houve uma melhoria na qualidade de vida da população, que, graças aos avanços da medicina e as políticas de saúde preventiva, viu crescer a expectativa de vida, com a redução da mortalidade infantil e a erradicação de doenças epidêmicas, que afetavam boa parte da população no passado. Todavia, uma nova forma de epidemia surge no horizonte brasileiro – as mortes violentas, motivadas por causas externas. Homicí­dios, suicídios e acidentes de trânsito cresceram significativamente nesse período, fazendo com que o ganho com a melhoria das condições de vida da população acabasse anulado pelo crescimento da violência e da criminalidade.

“Se as taxas de mortalidade para o conjunto da população caem 3,7% nesse período, as taxas por causas externas aumentam 32,8%”, constata Julio Jacobo Waiselfisz. “Quem puxa os aumentos dessas taxas são, fundamentalmente, os homicídios, que crescem 148,5%; em segundo lugar, os suicídios, que crescem 62,5%. Mas também os óbitos em acidentes de transporte aumentam 38,7%”, acrescenta. O sociólogo compara homicídios e mortes em acidentes de trânsito: “Durante toda a década de 1980, as mortes em acidentes de transporte foram sempre maiores que os homicídios e, em alguns anos, significativamente maiores: em 1980, as mortes no trânsito foram 46,4% maiores que os homicídios, diferencial que em 1996 elevou-se para 47,3%. Já a partir dos 1990, o diferencial de crescimento entre ambas faz com que os homicídios ultrapassem aceleradamente os óbitos em acidentes de transporte. Assim, já no ano 2000, esse diferencial passa para 52,7% favorável aos homicídios”.

Avanço estarrecedor da criminalidade
Essa comparação revela o avanço estarrecedor da criminalidade no País. Desde a época das carruagens, como observa Gilberto Freyre, o Brasil tem um dos trânsitos mais violentos do mundo. Os cavalos já atropelavam pedestres no Rio de Janeiro da época do Império e o genocídio sobre rodas continua ceifando vidas a cada minuto, mesmo assim, as mortes em acidentes de trânsito foram largamente superadas pelos assassinatos, como mostra o Mapa da Violência. Na década estudada, o número de homicídios cresceu em todas as regiões brasileiras, salvo na Região Sudeste, em que houve queda expressiva do número de homicídios, sobretudo em São Paulo, melhorando inclusive o índice geral do País e evitando que o Brasil se tornasse um campeão mundial de assassinatos.

Em números absolutos, o Estado campeão de homicídios é o Rio Grande do Norte, com elevação de 272,4% no número de assassinatos de 2002 para 2012. A Bahia ficou em segundo lugar, com 242,1% de aumento, seguida pelo Maranhão, com 203,6%. Goiás, felizmente, ainda não aparece nesta dantesca casa dos que tiveram mais de 200% de aumento no número de homicídios, mas já se encontra num desconfortável sétimo lugar, com 113,7% de aumento. Os outros Estados que também tiveram um aumento superior a 100% são: Pará (175%), Ceará (166,1%), Amazonas (157,2%), Paraíba (151,3%), Ala­goas (106,9%) e Tocantins (106,1%). Já em relação à taxa de homicídios por 100 mil habitantes (que melhor descreve a criminalidade por relacioná-la com a demografia), o campeão é o Rio Grande do Norte, com um crescimento de 229,1%, seguido da Bahia (221,6%), Maranhão (162,4%), Ceará (136,7%), Paraíba (130,2%), Pará (126,9%), Amazonas (112,2%), Alagoas (88,7%), Goiás (80,9%) e Tocantins (75,5%).

Por mais que a violência esteja generalizada no País, diante desses dados é preciso reconhecer – a violência em Goiás explodiu. E, para gáudio da oposição ao governo estadual, a primeira edição do Mapa da Violência data de 1998, o ano em que o tucano Marconi Perillo foi eleito governador de Goiás pela primeira vez, desbancando o reinado do PMDB no Estado. Com isso, uma das séries históricas do estudo abrange justamente o período de 1998 e 2012, que coincide com o poder tucano no Estado. Em 1998, Goiás tinha a 18ª taxa de homicídios do País, com 13,4 homicídios por 100 mil habitantes. Ou seja, era um dos menos violentos na época. Hoje, quando o líder tucano governa o Estado pela terceira vez e busca seu quarto mandato, Goiás apresenta a 4ª maior taxa de homicídios do Brasil, com 44,3 homicídios por 100 mil habitantes, perdendo apenas para Alagoas, em primeiro lugar, com 64,6; Espírito Santo, em segundo, com 47,3; e Ceará, em terceiro, com 44,6.

Tabela mostra taxas de homicídios nos Estados desde 1998,
quando teve início a publicação do Mapa da Violência
Estatísticas brasileiras não são confiáveis
Mas o PT e o PMDB, as principais vozes da oposição em Goiás, não têm muitos motivos para regozijar com a desgraça dos goianos atribuindo o fiasco da segurança pública ao governo tucano. A criminalidade é um fenômeno complexo, com as causas mais variadas, e é temerário atribuir a apenas uma delas a responsabilidade pelo crescimento da violência. Por exemplo, o Estado onde a taxa de homicídios mais cresceu entre 1998 e 2012 foi justamente o Maranhão, governado pelo PMDB de José Sarney, com um estratosférico aumento de 421% no período, quase o dobro do crescimento de 230,4% de Goiás. A Bahia, governada pelo PT desde 2007, é o quinto Estado mais violento do País. E, lá, a taxa de ho­micídios por 100 mil habitantes cres­ceu muito mais do que em Goiás – em 1998, com uma taxa de 9,7 por 100 mil habitantes, a Bahia estava numa confortável posição da lista, entre os menos violentos; hoje, o­cupa a quinta posição entre os mais violentos, com uma taxa de 41,9.

Mas nem o tucano Marconi Perillo, nem o peemedebista José Sar­ney, muito menos o petista Jacques Wagner (que chegou mais recentemente ao poder) podem ser culpados sozinhos pelo crescimento vertiginoso das taxas de homicídios em seus respetivos Estados. Co­me­çando pelo fato de que o grau de con­fiabilidade das estatísticas de mortes violentas varia de Estado para Estado. A Bahia e o Maranhão nunca tiveram índices tão baixos de violência como aparentavam ter em 1998. Suas estatísticas é que não prestavam, fazendo com que os homicídios não fossem computados na época e, agora, quando elas melhoraram, a violência parece ter explodido de forma apocalíptica. O próprio Ministério da Justiça reconhece que as estatísticas de criminalidade dos Estados nordestinos eram péssimas e, nos últimos anos, tem feito um esforço conjunto com esses Estados para melhorá-las.

Historicamente, as melhores estatísticas de criminalidade são as do Estado de São Paulo, que, devido ao seu poder econômico e ao capital cultural de suas universidades, sai na frente em todas as políticas públicas mais avançadas (ainda que muitas delas nocivas), inspirando outros Estados e o próprio governo federal a seguir o mesmo caminho. Os tucanos já vão completar 20 anos de poder no Estado e devem chegar facilmente aos 24 anos com a reeleição de Geraldo Alckmin, provavelmente no primeiro turno. Pois justamente nesse período, sob a égide dos tucanos, São Paulo conseguiu reduzir em 62% a sua taxa de homicídios, que caiu de 39,7 em 1998 (três anos depois de Mário Covas assumir o governo), para 15,1 em 2012, fazendo o Estado deixar de ser o 5º mais violento do País para se tornar o 26º, perdendo apenas para Santa Catarina que tem uma taxa de homicídios de 12,8, a menor do País, mais ainda assim acima dos índices de países desenvolvidos.

Tabela mostra o crescimento das taxas de homicídio de 2002 a 2012, em que Goiás aparece na nona posição
O escabroso caso das estatísticas do Rio
O Rio de Janeiro teve a segunda maior queda na taxa de homicídios, que foi reduzida em 48%, saindo do 3º lugar (com 55,3) para o 18º lugar (com 28,3). O problema é que as estatísticas de criminalidade do Rio não são nada confiáveis. Chegam a ser um caso de polícia. Em 2009, quando o então governador Sérgio Cabral (PMDB) estava no ápice de sua lua-de-mel com Lula e o PT elogiava as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que oficializam o crime, tratando bandido como força legítima, o Rio de Janeiro contabilizou 4.198 homicídios nas estatísticas oficiais ao mesmo tempo em que apresentou 5.647 mortes violentas sem causas conhecidas. Nunca antes na história deste País houve um caso tão grave de maquiagem de estatísticas. Creio que, num país sério, Sergio Cabral perderia o mandato.

As evidências levam a crer que as estatísticas de criminalidade do Rio de Janeiro foram deliberadamente maquiadas durante o governo Sérgio Cabral para fazer de conta que as Unidades de Polícia Pa­ci­fi­ca­dora foram bem-sucedidas, quando, na verdade, elas nunca passaram de um pacto oficial com o crime aprovado pela ideologia da esquerda. Se­não vejamos: em 2006, último ano do governo de Rosinha Garotinho, as estatísticas oficiais computaram 1.676 casos de mortes sem causas especificadas no Rio. Um número tão expressivo de mortes sem causas conhecidas num Estado altamente urbano, geograficamente pequeno e que integra a rota do turismo internacional já é, em si, um escândalo. Qualquer governante teria que trabalhar para reduzir esse índice. Mas pasmem: em 2007, no primeiro ano do governo Sérgio Cabral, as mortes sem causas especificadas saltaram para 3.191 casos, um aumento de 90,3%; e, em 2009, aumentaram para 5.647, um aumento de 236,9% em relação ao último ano do governo anterior.

Por acaso, entre o ano de 2007 e o ano de 2009, o Rio de Janeiro foi ví­tima de um terremoto, um furacão, um vulcão, um tsunami, uma epidemia, uma bomba atômica, que destruiu seus centros de estatísticas e comprometeu sua rede de saúde, impedindo os médicos legistas de examinarem os defuntos em busca da “causa mortis”, fazendo com que um inadmissível número de 5.647 cadáveres – 34,5% a mais do que o próprio número de homicídios computados – fossem enterrados sem a devida descoberta do que motivou sua morte? É um escândalo que a imprensa não tenha cobrado do governo do Rio – com insistência e indignação – uma justificativa para esse descalabro estatístico, que, obviamente, não tem explicação a não ser o desejo de falsificar o número de homicídios. A imprensa chegou a noticiar o fato na época, a partir da descoberta dessas distorções por um técnico do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mas nunca tratou o caso com a indignação que sua extrema gravidade exigia.

Tabela mostra o número de homicídios de 2002 a 2012, com destaque para queda expressiva dos homicídios em São Paulo
Prisões viraram “Esquenta” das periferias

Esse caso do Rio de Janeiro mostra que a segurança pública no Brasil – a partir da redemocratização do País e especialmente com a promulgação da Constituição de 88 – vem sendo tratada sob o viés da ideologia marxista, sob a influência de pensadores como o historiador Eric Hobsbawm, estudioso dos chamados “rebeldes primitivos” e dos “bandidos sociais”, como o cangaceiro Lampião, e, sobretudo, sob a ótica do onipresente Michel Foucault, cujo pensamento passou a ditar todas as principais políticas públicas do Estado brasileiro em áreas vitais como educação, saúde e segurança pública. E é justamente o predomínio do pensamento de esquerda na área de segurança pública que fez os índices de criminalidade do País chegarem a níveis estratosféricos. Não é o único fator, obviamente, mas é o grande diferencial das últimas décadas.

Esse fenômeno tornou-se ainda mais intenso com a chegada ao poder do consórcio tucano-petista de destruição moral da nação, que governa o Brasil há 20 anos e adota todas as políticas nefastas da ONU, que, a pretexto de edificar o “ho­mem novo”, sacrifica o homem real no altar de nocivas leis revolucionárias, como o malfadado Esta­tuto da Criança e do Adolescente, verdadeira incubadora da criminalidade juvenil. A eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, levou a falaciosa política de direitos hu­manos para o âmago das políticas de segurança pública, com o afrouxamento da legislação penal e a transformação dos presídios em quartéis-generais do crime. Para­le­la­mente, teve início a legalização branca do consumo de todas as drogas, inclusive do crack, usado a céu aberto por zumbis de todas as idades, que recebem forte subsídio estatal, contribuindo para aumentar absurdamente a criminalidade.

Por isso, o aumento da violência no País desconhece as fronteiras geográficas dos Estados e independe da competência ou incompetência dos governos locais. O principal insumo da criminalidade é o próprio sistema de Justiça brasileiro, que prioriza supostos direitos dos bandidos em detrimento da sobrevivência do cidadão de bem. Como tenho escrito exaustivamente, as penitenciárias se tornaram verdadeiros centros de convivência entre bandido e sociedade, funcionando nos finais de semana como um “Esquenta” das periferias, daí a capacidade do crime organizado em governar favelas, matar policiais e determinar queima de ônibus na hora que lhe dá na telha.
Oposição não descobriu segurança
O poder do crime organizado atinge níveis insuportáveis em todos os Estados brasileiros. Do Rio Grande do Sul ao Amazonas, passando por Goiás e Santa Catarina, os bandidos presos mandam e desmandam nas cadeias, ordenando matanças, roubos, sequestros e extorsões contra a população indefesa. Mesmo quando trancafiados em presídios de segurança máxima, os bandidos gargalham na cara das autoridades, inclusive do Ministério Público e do Judiciário, que se limitam a monitorar seus crimes durante meses, esquecendo-se que esses facínoras nem deveriam es­tar praticando novos crimes, uma vez que já estão presos. Até Santa Catarina, o Estado com o menor índice de homicídios do País, não está livre do imenso po­der dos bandidos presos. Prova dis­so é que, em novembro de 2012, eles aterrorizaram o Estado com mais de 60 queimas de ônibus e, em fevereiro de 2013, mandaram queimar mais uns 40 veículos.

Quanto mais um governo aceita e aplica essa política nefanda de direitos humanos, exacerbada pela interpretação equivocada que o Supremo faz da Constituição de 88, mais aumenta a criminalidade no País. É justamente o caso de Goiás. Se o Estado é, hoje, o quarto mais violento do Brasil, um dos fatores, ainda que não o único, é justamente o fato de que a política de segurança pública do governo tucano ser marcadamente voltado para a promoção dos direitos humanos dos presos, o que, na prática, significa dar a eles o controle das chaves da cadeia.

Para fazer bonito diante do Ministério Público, do Judiciário, da OAB e dos intelectuais universitários, governos estaduais, a pretexto de humanizar os presídios, aplicam cegamente a política esquerdista de transformação dos bandidos em vítimas da sociedade e chegaram a acabar com a revista íntima das visitas dos presos, mesmo não dispondo de outro meio para impedir a entrada de celulares nos presídios. Normal­mente esses aparelhos são transportados nas vaginas das mães, esposas, irmãs e amásias dos bandidos, que, todo santo final de semana, por medo, falta de vergonha ou as duas coisas juntas, transformam as cadeias em feiras livres, servindo de repasto nas celas para assassinos, estupradores e ladrões, muitos deles merecedores de cadeira elétrica e não de motel público pago pelo contribuinte.

É impossível não haver au­mento da criminalidade se os próprios presídios perderam sua função primordial de combater o crime, excluindo o criminoso da so­ciedade, e as autoridades se ar­voram a reeducar o bandido, oficialmente transformado em “reeducando” pela lei, num verdadeiro escárnio contra o conceito de educação. Infelizmente, é impossível mudar essa realidade no âmbito dos Estados, pois ela depende de uma mudança de mentalidade no País, envolvendo não só o Con­gres­so Nacional (o órgão mais receptivo aos anseios da sociedade, pois depende do voto direto), mas também o Ministério Público e o Judiciário, hoje fortemente in­flu­enciados pelas ideias de esquerda.

Se Aécio Neves, como principal candidato da oposição, não acordar para essa realidade e não transformar a segurança pública em sua principal bandeira de campanha, defendendo a redução da maioridade penal e o fim das regalias para os presos, seu governo, caso eleito, será como o de Goiás: tucano, mas com uma segurança pública petista – para a amargura da nação e a felicidade geral dos bandidos.
Por: José Maria e Silva é sociólgo e jornalista.  Publicado no Jornal Opção.





quinta-feira, 28 de agosto de 2014

TERRORISMO E OUTRAS NOTINHAS

A profecia de Fátima, "Os erros da Rússia se espalharão pelo mundo", faz cada vez mais sentido. Estou lendo Death Orders. The Vanguard of Modern Terrorism in Revolutionary Russia, de Anna Geifman (Praeger International, 2010), onde aprendo que o terrorismo foi de cabo a rabo uma invenção russa, que começou como um fenômeno local e hoje é um flagelo mundial.

A autora também desfaz a confusão alimentada pelos espertalhões que disseminam e pelos bobocas que repetem o lugar-comum: “O terrorista é um é, para o outro, um combatente pela liberdade.” O terrorismo, explica a Prof. Geifman, define-se por um traço inconfundível que o distingue da morte de civis causada acidentalmente em ataques a alvos militares: terrorismo é ato de violência premeditadamente, deliberadamente calculado para espalhar o terror na população civil e, assim, fomentar a desordem social com vistas a determinados fins políticos. Nivelar, para distingui-los, o “terrorista” e o “combatente pela liberdade” é uma confusão de gêneros. Disseminada pela malícia ou pela ignorância, obscurece o fato de que o terrorismo é uma tática de combate e não o motivo ideológico do combate.

Atos como a explosão de uma bomba no Aeroporto de Guararapes, em 1966, ou o atentado ao Consulado Americano em São Paulo, em 1968, foram crimes de terrorismo no sentido mais literal e exato do termo, e continuariam a sê-lo mesmo que seus autores estivessem, no seu próprio entender, “combatendo pela liberdade” e não pelo comunismo como de fato estavam.

Não há nada de inexato ou de insultuoso em chamar de terroristas pessoas como Dona Dilma Rousseff ou o srs. Franklin Martins e José Dirceu. É uma simples questão de propriedade vocabular.
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Israelenses defendem seus filhos. Os heróicos palestinos escondem-se atrás dos seus para poder acusar os judeus de matar criancinhas.

"Escudo humano" é invenção da KGB.

Terroristas "palestinos" usam o mesmo truque sujo dos vietcongues. Mesclam-se à população civil para que não seja possível combatê-los sem matar de quebra umas quantas vítimas inocentes e ser assim acusado de trucidar mulheres e crianças. A coisa é guerra assimétrica em todo o esplendor da sua malícia. 
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Hoje em dia a afetação de ódio aos anti-semitas do passado coexiste com o descarado amor aos do presente.
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A autoridade do mainstream é a autoridade da ignorância majoritária. Ninguém pode estar no meio do rebanho e à frente dele ao mesmo tempo.
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O maior problema da esquerda no Brasil é que ela não tem políticos nem empresários de direita para perseguir. Então persegue uns blogueiros e diz que está lutando contra a onipotente burguesia reacionária.
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Uma coisa é usar as expressões "desinformação", "lavagem cerebral", "manipulação de comportamento" ou "seita" como termos técnicos, para designar os fenômenos que objetivamente lhes correspondem. Outra coisa é usá-las como rótulos infamantes para dar ares de coisa maligna a alguma idéia ou conduta que você deseja destruir. Infelizmente, este é o uso mais corrente desses termos no Brasil. Esse cacoete estilístico basta, por si, para identificar um charlatão, ou, na melhor das hipóteses, um palpiteiro ignorante.

Quem quer que saiba o que é “lavagem cerebral”, por exemplo, entende que só é possível aplicá-la a um prisioneiro ou a alguém sobre o qual se tenha controle direto e permanente. Um professor não pode aplicar "lavagem cerebral" a alunos que depois da aula vão para casa, Muito menos é possível fazer "lavagem cerebral" à distância, por internet ou qualquer outro meio.
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Todas as teorias científicas do passado, sem exceção, são ensinadas nas escolas e nos manuais -- para não falar da mídia e do show business -- em versões adaptadas à mentalidade contemporânea, otimizadas, higienizadas, idealizadas, purificadas de todas as suas taras originárias. Quantos dos nossos estudantes de biologia leram A Origem das Espécies? Quantos estudantes de física aprenderam a gravitação universal diretamente nos escritos de Newton? Quantos, por jamais ter lido Galileu, acreditam que ele provou suas teses no confronto com a Inquisição? Ignorar a história da ciência que pratica parece ser uma conditio sine qua nonpara alguém falar em nome da ciência hoje em dia. O Galileu que venceu por argumentos científicos o "obscurantismo inquisitorial" é uma criação ficcional dos séculos posteriores. Na verdade ele levou uma surra intelectual memorável de S. Roberto Belarmino. Suas teses foram corroboradas mais tarde por meios que ele nem poderia imaginar.
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Quando um estudante medíocre domina suficientemente a matemática da ciência física e percebe a sua coerência com os testes empíricos, ele acredita ingenuamente que essa física corresponde à "realidade", sem notar que "realidade" não é um conceito nem físico, nem matemático (nem aliás definível nos termos dequalquer ciência experimental). É de espantar que semelhante imbecil não entenda a diferença entre colocar em dúvida a validade ontológica da relatividade e "contestar Einstein"?

Dentre todos os erros de lógica, a ignoratio elenchi -- não perceber qual o ponto em discussão -- é o mais difícil de corrigir. Nenhum argumento lógico tem o poder de infundir discernimento num cretino. Nenhuma ciência experimental pode ir além da coincidência entre teoria e experimento, o que está infinitamente aquém do necessário para estabelecer uma "realidade" -- coisa que Leibniz já ensinava no século XVIII. 
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O SOFISMA ANTISSEMITA

O antissemitismo em estado cru, aquele dos Protocolos dos Sábios do Sião, sobrevive nos subterrâneos, quase clandestino, mas seus axiomas formam o texto oculto de uma versão repaginada, publicável, da aversão aos judeus. "Israel é aberração; os judeus, não" –o título da coluna de Ricardo Melo (28/7) sintetiza essa versão, que escolhe não dizer seu nome.


O antissemita polido mobiliza um sofisma básico: a distinção entre antissemitismo e antissionismo. Israel, o fruto do sionismo, deve ser destruído, mas nada tenho contra os judeus –eis a afirmação sofística. Israel, contudo, é o Estado judeu: a expressão política de uma nação. A esmagadora maioria dos judeus, em Israel ou fora dele, defende ativamente a existência do Estado de Israel. Um século atrás, a distinção entre antissemitismo e antissionismo era um argumento político admissível; desde pelo menos 1948, não passa de camuflagem do ódio aos judeus.

O sofisma básico é protocolarmente acompanhado por um sofisma auxiliar: Israel é uma criação artificial. O antissemita polido imagina que existem Estados "naturais", um qualificativo apropriado a rios, mares e montanhas, não a obras da história humana. Todos os Estados-nações, esses produtos do nacionalismo, são "artificiais" (a "França de 15 séculos", fundada em 499, na hora do batismo de Clóvis 1º, é um mito católico do século 19). Israel é um Estado construído por colonos, que se estabeleceram em terras previamente povoadas. Alguém sugere extinguir os Estados Unidos, a Austrália ou... o Brasil?

Invariavelmente, junta-se ao sofisma auxiliar a acusação de que Israel promove o "genocídio" dos palestinos. Genocídio é o extermínio deliberado de um povo. A Alemanha de Hitler praticou genocídio contra os judeus, enviando-os às câmaras da morte. O uso abusivo do termo, escolhido por Marco Aurélio Garcia para condenar a ofensiva em curso na faixa de Gaza, tem um propósito definido: identificar Israel ao nazismo. O antissemita polido almeja apropriar-se da tragédia que vitimou milhões de judeus para convertê-la em ferramenta política de negação da legitimidade do Estado judeu.

O "genocídio palestino" só existe no discurso utilitário dos antissemitas. Na faixa de Gaza, tanto hoje quanto em 2008 e 2012, o governo israelense faz "uso desproporcional da força" e também comete crimes de guerra em área com estatuto de território ocupado, bombardeando cidades e campos de refugiados. Essa segunda acusação, mais grave, não consta da nota do Itamaraty, pois nossos "anões diplomáticos" preferem circundar a implicação lógica de estendê-la ao Hamas, que lança foguetes desgovernados sobre Israel e utiliza os civis palestinos como escudos humanos para seus combatentes. A ira santa do antissemita polido é sempre cuidadosamente seletiva.

A análise política diferencia as nações de seus governos eventuais: os governos passam, a nação fica. O antissemita polido decreta uma cláusula de exceção a essa regra quando se trata de Israel. Ele não aponta o dedo para o governo israelense, mas traça um círculo abrangente em torno do Estado judeu. Na sua peculiar gramática discursiva, o complemento necessário da distinção entre antissemitismo e antissionismo é a identificação do governo de Israel ao Estado de Israel.

O ódio aos judeus nasceu nas profundezas da Europa medieval e difundiu-se no mundo moderno, como reação ao cosmopolitismo liberal, a partir das monarquias cristãs conservadoras. "O antissemitismo é o socialismo dos idiotas." A frase, atribuída ao socialista alemão August Bebel, evidencia que a moléstia já contaminava a esquerda no outono do século 19. De lá para cá, sob o impacto do Holocausto, o vírus antissemita sofreu uma mutação, recobrindo-se com a capa de proteína do antissionismo, mas continuou a se multiplicar. Aí está a verdadeira "aberração". 
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A FORÇA DOS FATOS

A eclosão da crise global gerou análises em setores importantes no Brasil de que ela significava a falência do sistema de livre mercado e a vitória definitiva do intervencionismo governamental não só via regulação, que era necessária, mas, também, via ação direta na economia, com aumento do gasto público para impulsionar a atividade e intervenção no sistema de preços, entre outras medidas.

Essa visão, porém, não prevaleceu nos EUA e no Reino Unido, epicentros da crise, que, sintomaticamente, se recuperam melhor que os países intervencionistas.

Nos EUA, a nova regulação dos mercados reduziu o risco de crédito dos bancos e limitou a intervenção governamental ao apertar o controle das agências de crédito imobiliário paraestatais. O Congresso aprovou ainda dura contenção de gastos do governo, que não levou ao temido abismo fiscal, pelo contrário.

A economia dos EUA cresceu a taxa anualizada de 4% no segundo trimestre, uma recuperação consistente, fundamentada pela maior solidez fiscal, pelos ajustes nas empresas e pela liberdade para empreender e inovar.

Já o Reino Unido elegeu um governo conservador. Ele promoveu forte contenção fiscal, reduziu os riscos do mercado e, nas palavras de seu ministro da Fazenda, George Osborne, é desavergonhadamente pró-negócios. Resultado: o país cresceu a taxa anualizada de 3,1% no segundo trimestre.

Enquanto isso, países com tradição intervencionista, como a Itália e a França, têm economias estagnadas e dificuldades de conciliar a postura de Estado forte com a necessidade de promover investimentos privados e mais empreendedorismo.

O entendimento claro do cenário global é fundamental quando discutimos os caminhos para a retomada do crescimento no Brasil. Aqui na região, países com forte ação intervencionista enfrentam desafios ainda maiores que o resto do mundo. O exemplo mais claro é a Argentina, ameaçada de recessão e de mais crise após a controvérsia do calote técnico, que deve aumentar suas dificuldades cambiais. Já Colômbia, Chile e Peru, com economias mais abertas, crescem a taxas saudáveis.

Importante notar que o maior risco da economia global hoje vem de uma possível ação governamental do Fed (o banco central dos EUA) no mercado, com manutenção de juros muito baixos e excesso de liquidez. Esperemos que o Fed não repita os erros vistos anteriormente.

Em resumo: com o passar dos anos e dos fatos, o quadro da economia global deu uma resposta suficientemente enfática às conclusões precipitadas de alguns analistas depois da crise 2007-2008. Precisamos tomar cuidado para não seguir o caminho de alguns "hermanos". 
Por: Henrique Meirelles Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

INFLAÇÃO FIRME, INDUSTRIA FRACA, PAÍS SEM RUMO

Sem tarifaço, mas também sem crescimento econômico, o Brasil da presidente Dilma Rousseff acumulou de janeiro a julho inflação de 3,76%. Essa taxa é maior que a prevista para o ano inteiro em vários vizinhos mais dinâmicos - Chile, Colômbia, Equador e Peru. Até o fim do ano a inflação brasileira baterá também, se nenhuma grande surpresa ocorrer, a do Paraguai e a do México, segunda maior economia latino-americana. Por enquanto, o governo pode alardear mais um bom resultado parcial. No mês passado, a taxa caiu para 0,01%. A queda foi causada principalmente pelo recuo dos preços dos alimentos e pelo ajuste pós-Copa, observado, por exemplo, nas tarifas de transporte aéreo. A variação acumulada em 12 meses ficou em 6,5%, no limite da margem de tolerância.


O acumulado poderá diminuir até dezembro, mas continuará bem acima da meta, 4,5%. Para evitar um impulso maior o governo continuará contendo as tarifas de eletricidade. Poderá permitir ajustes limitados. Enquanto isso, as distribuidoras de energia, socorridas com novo empréstimo de R$ 6,6 bilhões, acumularão novas dívidas.

Haverá um repique da inflação, depois de alguns meses de recuo. Isso ocorreu em todos os anos a partir de 2010. No ano passado foi em agosto, quando a taxa passou de 0,03% para 0,24%. Neste ano, os economistas do mercado previram também para agosto o começo da nova aceleração. Poderão errar por um mês, dificilmente por dois. Os fatores inflacionários mais importantes continuam presentes. A gastança federal permanece, o crédito aumenta e o governo manteve os estímulos fiscais ao consumo. Ainda haverá muito alimento para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a referência oficial para a política anti-inflacionária. Falta saber se os juros básicos de 11% ao ano ainda produzirão efeitos e se a piora das condições de emprego assustará os consumidores e ajudará a frear os preços.

A queda de qualidade do emprego é indiscutível. A melhor empregadora, a indústria, continua demitindo. Além disso, as condições de ocupação nas fábricas estão mais precárias. No setor automobilístico, a adoção do lay-off - suspensão temporária de contratos - aumentou a insegurança. A criação de vagas tem ocorrido principalmente no comércio e nos serviços - mas a maior parte dos serviços, no Brasil, oferece condições de ocupação muito diferentes das observadas nos países desenvolvidos. O chamado emprego decente ainda é encontrado principalmente na indústria, na administração pública e no setor financeiro.

O emprego industrial aumentou 1% em 2011, diminuiu 1,4% em 2012 e encolheu mais 1,1% no ano seguinte. A redução continuou este ano. No primeiro semestre, o número de ocupados na indústria foi 2,3% menor que entre janeiro e junho do ano passado. Em junho, foi 0,5% menor que em maio e 3,1% inferior ao de um ano antes. Estes números foram divulgados na sexta-feira, pouco antes dos novos dados da inflação oficial, no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar disso, a folha de pagamento real da indústria, embora tenha diminuído em junho, ainda foi, no primeiro semestre, 1,3% maior que entre janeiro e junho do ano passado. O aumento do salário médio, portanto, superou a inflação, embora o pessoal empregado tenha diminuído. Isso se explica principalmente pela baixa oferta de mão de obra qualificada ou mesmo qualificável.

Mas o aumento real de salários e de outros custos continua afetando o poder de competição da maior parte da indústria. Apesar do forte estímulo ao consumo, a produção industrial ficou estagnada durante o atual governo. Aumentou 0,4% em 2011, diminuiu 2,3% em 2012 e cresceu apenas 2% em 2013, sem voltar ao nível de dois anos antes. No primeiro semestre deste ano ficou 2,6% abaixo do registrado até junho do ano passado.

Para a indústria a inflação alta dos últimos anos traduziu-se principalmente em custos cada vez maiores. O salário real cresceu mais que a produtividade. Os custos logísticos aumentaram, assim como o peso da burocracia estatal e dos encargos administrativos. O câmbio oscilou, mas a maior parte das fábricas foi incapaz de competir no mercado internacional mesmo nas fases de depreciação do real, quando os produtos brasileiros deveriam ficar mais baratos em dólares.

A inflação elevada atrapalhou duplamente. O efeito indireto foi a elevação de custos. O indireto ocorreu quando o Banco Central interveio no mercado para frear a valorização do dólar e atenuar os efeitos inflacionários do câmbio. Num país com inflação mais civilizada o desajuste cambial, para começar, seria menor ou nulo. Além disso, uma eventual valorização do dólar seria muito menos perigosa para a estabilidade de preços. No Brasil, o Banco Central foi criticado por intervir no câmbio para prevenir uma inflação maior. Os críticos podem ter alguma razão. Mas teriam sido mais eficientes se tivessem, há mais tempo, condenado a tolerância à inflação e cobrado medidas mais fortes e mais sérias contra o desajuste de preços.

O combate à inflação tem dependido só do Banco Central, enquanto o governo mantém o gasto excessivo e o uso ineficiente de recursos públicos. Além disso, a política industrial tem consistido, há muitos anos, de uma combinação ineficiente de protecionismo, favores a grupos e segmentos selecionados e estímulos ao consumo. Tudo isso se combinou com uma diplomacia econômica de centro acadêmico. Em 2002, as vendas de manufaturados corresponderam a 54,71% das exportações brasileiras. No ano passado essa fatia estava reduzida a 38,44%. Em parte por indução, em parte por simples comodismo, a indústria se ajustou ao papel de fornecedora do Mercosul e de mais uns poucos mercados. Consequência: hoje é incapaz de competir nessas áreas e até no mercado interno. Nada mais natural. Por: Rolf Kuntz Publicado no Jornal Estado de SP



domingo, 24 de agosto de 2014

RUMOS INDESEJÁVEIS

O governo petista de Lula da Silva que não entregará facilmente as delícias do poder está sempre pronto a demonstrar o descalabro de sua política internacional. No momento assiste-se ao aprofundamento da bananificação do Brasil, cada vez mais convertido em republiqueta de Terceiro Mundo com as conhecidas marcas esquerdistas e consequente atrelamento ao que há de pior no exterior.


Isto ficou evidente no recente encontro dos Brics, em Fortaleza, quando o governo petista sagrou-se de novo campeão de tiro no pé ou pela culatra, ao perder a presidência para a Índia do Novo Banco de Desenvolvimento criado pelo grupo. A China não abriu mão da sede da entidade ficar em Xangai e postos menos relevantes foram distribuídos ao Brasil, Rússia e África do Sul. Foi criado também o Arranjo Contingente de Reservas, uma espécie de FMI de segunda categoria para dar ajuda aos componentes do bloco. Tudo para funcionar nas calendas gregas.

Negócios da China foram feitos com a China pela governanta, mas, impressionante mesmo foram as conquistas do presidente Russo, Vladimir Putin. Alvo de sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia devido à anexação da Criméia, Putin recebeu apoio dos BRICS e adentrou-se com mais força na América Latina. No Brasil, para usar de ironia, ele poderá anexar, por exemplo, o nordeste e instalar nas paradisíacas e quentes praias nordestinas confortáveis dachas a serem usufruídas pelos camaradas da elite branca russa. Algo muito melhor do que a gelada Sibéria.

Putin, o expansionista não brinca em serviço, além de usar a cúpula dos Brics para reduzir seu isolamento internacional aproximou-se da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada pelo falecido Chávez e propôs integrá-la à União Econômica Euroasiática que inclui, além da Rússia, países de sua influência como o Casaquistão e a Bielo-Rússia. Ele defendeu muitas outras ideias, como o aumento do peso político dos BRICS através de fóruns como contraponto a ONU, às políticas norte-americanas e de seus aliados. Putin assinou vários acordos com a governanta e foi embora satisfeito com seu êxito.

Enquanto isso, a Guine Equatorial deve ser integrada à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), apoiada pelo Brasil. O país africano é governado pelo ditador Teodoro Obiang, alvo de várias denúncias de violação de direitos humanos, tortura e censura. Isto, aliás, não é novidade, pois o Brasil tem se posicionado há quase 12 anos a favor dos piores ditadores.

A última do governo brasileiro foi continuar contra Israel e a favor do grupo terrorista e radical islâmico, Hamas. Não foram levados em conta os mais de 2.000 foguetes lançados diariamente sobre Israel, os túneis cavados em Gaza e que vão dar em escolas e hospitais israelenses, a não aceitação do Hamas em fazer uma trégua. É como se o governo petista achasse que, se alguém entrasse numa casa armado com uma faca para ferir mortalmente o morador armado com um revólver esse dissesse: “Por favor, me mate, pois não vou me defender”.

O governo Rousseff mandou o Itamaraty chamar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, assim como puxou as orelhas do representante israelense em Brasília, pois considerou o uso desproporcional da força por Israel. Isto nunca foi feito com relação á Cuba, Venezuela, Bolívia ou mesmo Coreia do Norte onde Lula abriu uma embaixada. Sobre a Criméia nem uma palavra e todo apoio ao camarada Putin. De fato o Brasil atestas nanismo diplomático.

Marco Aurélio Garcia disse que o ataque a Israel é um genocídio contra os palestinos. Vejamos nossos dados que certamente o assessor da Internacional da Presidência desconhece:

Segundo matéria de Gil Alessi, (UOL, São Paulo, 27/05/2014), “conforme dados de 2012, neste ano nossa taxa de homicídio alcançou o patamar mais elevado, com 29 casos por 100 mil habitantes”. “O índice considerado ‘não epidêmico’ pela Organização Mundial da Saúde é de 10 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes”.

“Em 2012 foram 56.337 mortes, o maior número desde 1980”. “O total supera o de vítimas no confronto da Chechênia que durou de 1994 a 1996”.

Sem dúvida, é melhor o governo brasileiro se preocupar com essa situação do que meter o nariz onde não deve, pois não tem moral para isso.

Recorde-se que Israel, um pequeno país que brotou do deserto é hoje um dos mais desenvolvidos do mundo. De lá saem praticamente todos os Prêmios Nobel e o conjunto de invenções que fazem avançar a ciência, a tecnologia e a medicina para o bem da humanidade. Quanto a nós, realmente, somos muito pequenos diante disso.

Estes são alguns de nossos indesejáveis rumos internacionais, orquestrados pelo PT. Outros péssimos caminhos, inclusive, internos ficam para um próximo artigo.
Por: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga. Do site: http://www.maluvibar.blogspot.com.br/


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

FLOUXINHOS CONTEMPORÂNEOS

O medo é uma emoção básica na vida. Pequenas e grandes frustrações nos assolam por todos os lados.

Mas, já disse isso antes, acho que nunca houve uma época tão medrosa como a nossa, com um dom tão grande para negar esse medo e negar a complexidade e frustração a que estamos todos submetidos.

Associada a essa tendência, produzimos uma gama de "direitos" que mais parecem uma metafísica podre dos costumes para retardados.

Para cada frustração, alguém inventará uma derivação duvidosa da declaração dos direitos do homem. Aliás, vale lembrar que a famosa declaração dos direitos do homem foi cozida em muito sangue que correu pelas mãos dos jacobinos na Revolução Francesa. Imagino que se a revolução francesa fosse hoje, fotos nas redes sociais pedindo paz nas ruas de Paris encheriam os iPhones dos bonzinhos.

Outro dia, conversava eu com um amigo esquisito, historiador, portanto, esse tipo de pessoa que pensa "a longo prazo". Ele descreveu o que eu consideraria uma imagem de pura escatologia apocalíptica: um dia alguém vai declarar que ir ao banheiro é uma forma de repressão, e, portanto, vão inventar um movimento contra a opressão de ter que usar banheiros. "Que a rua seja o meu banheiro!"

A tipologia contemporânea de comportamentos tem crescido assustadoramente. O inteligentinho todo mundo conhece: é o tipo de pessoa que acha que problemas como o do Oriente Médio se resolveriam com um ciclo de cinema e debate sobre filmes que narram a vida de mulheres fazendo bolos ou crianças jogando futebol.

Na verdade, como sempre, a intenção "escondida" é projetar os bons sentimentos do inteligentinho para com o mundo e dizer que ele tem soluções criativas para uma humanidade que nunca foi tão inteligente como ele.

Outro tipo contemporâneo é o bonzinho. Este, com o coração ainda mais cheio de amor, costuma postar fotos dizendo "não" às guerras, de seu iPhone ou de seu MacBook Pro. Mas mais típico ainda é postar fotos de Aspen com camisetas do Che. Este tipo é normalmente teen, mesmo que já tenha passado dos quarenta. Seus pais dizem coisas como "comam menos carne vermelha para ficar menos agressivos".

Mas um novo tipo que logo estará presente nas colunas sociais em eventos culturais são os frouxinhos. Estes homens (gênero, não espécie) descobriram que é difícil ser homem, ainda mais numa época em que está na moda confessar traumas o tempo todo para garantir (supostamente) a simpatia de todos.

E, pior: vivemos numa época de mulheres que crescem profissionalmente, amadurecem publicamente e financeiramente e que, portanto, ainda metem mais medo do que sempre meteram nos homens.

Os homens não confessam, mas morrem de medo das mulheres, principalmente quando as desejam.

Façamos um breve exercício de antropologia contemporânea urbana para ver se conseguimos captar os próximos atos deste novo tipo.

Antes de tudo, um reparo técnico. Vale salientar que a descrição antropológica em questão não é financiada pelo Tea Party (como costumam dizer os bobos das redes sociais quando querem tirar o crédito de alguém que os considera ridículos), tampouco vem sustentada por uma metafísica machista fanática do tipo "homem não chora", ou "lugar de mulher é na cozinha". Risadas?

Vejo-os em passeatas, chorando, com cartazes escritos assim: "Pelo direito de brochar", "pelo direito de arrumar uma mulher que me sustente", "pelo direito de gritar quando aparecer uma barata na sala", "pelo direito de se negar a trocar o pneu", "pelo direito de ter tempo igual ao da mulher na frente do espelho", "pelo direito de ter TPM" (claro, a medicina é machista por isso nunca descreveu a TPM masculina), "pelo direito de colocar a mulher na frente do ladrão", "pelo direito de sair antes da mulher e das crianças numa situação de risco".

Meu Deus, coitadas das meninas, condenadas a ficar se virando em camas vazias com homens que não seguram o tranco da insustentável condição de insegurança, incerteza, contingência, dureza, mentira, frustração, e, finalmente, derrota, que nos assola todos a vida inteira. Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP