quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O BRASIL NÃO É A VENEZUELA

Existe hoje um clima de quase pânico em parte da elite brasileira. Sou testemunha deste fato, pois, por dever profissional, tenho contato com um grande número desses desesperados. A leitura deste pessoal é a de que estamos caminhando celeremente para o mesmo caminho trilhado pela Argentina e pela Venezuela.


O leitor sabe que não concordo com essa leitura catastrofista por várias razões. Uma delas é que a recessão que vivemos hoje nada mais representa do que o caminho natural de toda a economia de mercado depois de um período de boom econômico, como o que vivemos entre 2004 e 2011. Esse ajuste foi evitado no início do mandato da presidenta Dilma pela aplicação de doses maciças de anabolizantes com alto conteúdo de expansão do crédito dos bancos públicos e aumento dos gastos do governo.

Entre 2004 e 2007 o crédito cresceu a uma taxa de 25% ao ano nos bancos privados e de 20% no caso dos bancos públicos. Entre 2007 e 2008, esta taxa acelerou-se para mais de 35% ao ano no segmento privado, com os bancos oficiais ficando para trás, crescendo apenas 20% ao ano.

Mas, a partir do agravamento da crise americana, no segundo semestre de 2008, essas posições se inverteram, com os bancos privados pisando no freio e trazendo a taxa de expansão de seus empréstimos para menos de 10% ao ano e os bancos oficiais expandindo suas operações a uma taxa que chegou a 40% nas vésperas das eleições de 2010.

Era o governo reagindo à crise externa e defendendo a eleição de sua candidata a presidente da República. Passadas as eleições, a política econômica do governo voltou à normalidade, com os bancos públicos reduzindo a taxa de expansão de suas operações para algo próximo a 20% ao ano, a mesma verificada então nos bancos privados.

Pois foi nesse momento que a queda da atividade passou a tomar conta da economia brasileira dentro de um processo natural de ajustes, como escrevi acima. O governo, em vez de aceitá-lo -e administrar esse ajuste-, decidiu aumentar suas apostas no crescimento do consumo e, mais uma vez, os bancos públicos foram chamados a agir.

As taxas anuais de crescimento de suas operações voltaram a crescer, chegando a 30% ao ano em 2013. Neste cenário, as vendas ao consumo aumentaram, dando a impressão de que a economia -como no passado- voltaria a responder positivamente aos mesmos anabolizantes.

Ledo engano, pois as condições eram outras e a inflação apareceu com força, obrigando o Banco Central a mudar o sinal de sua política monetária. Pressionado pelos efeitos de uma inflação que, mesmo com juros mais altos, ameaçava sair do controle, o governo jogou a toalha e, nos últimos meses, ordenou que os bancos públicos normalizassem suas operações.

Hoje a taxa de expansão caiu para 18% ao ano e deve continuar a desacelerar, seguindo a direção dos bancos privados, que vem expandindo suas operações a uma taxa modestíssima para nossos padrões, de 8% ao ano.

Volto agora ao início de minha coluna e reafirmo minha posição de que esta recessão que estamos vivendo é "ainda" fruto de um ajuste natural e benéfico de nossa economia. Com uma política econômica adequada, será questão de pouco tempo voltarmos ao leito natural de crescimento, que deve ser hoje da ordem de 3% ao ano. O que nos afasta de forma clara do mesmo caminho trilhado pela Venezuela e Argentina.

E parece que essa é também a leitura do mercado internacional de capitais, pois o Brasil teve uma demanda de US$ 4,8 bilhões para a emissão de US$ 500 milhões de títulos de dez anos de prazo anunciada há poucos dias. Aproveitando-se da situação em que as ofertas de compra representaram mais de nove vezes o valor da emissão, o Tesouro vendeu um total de US$ 1 bilhão, pagando juros anuais de 3,88%, ou seja, 1,4 ponto percentual mais do que o título equivalente do Tesouro americano.

Como eu, todos os compradores destes papéis -e de outros emitidos pelo governo brasileiro no exterior e aqui no país- estão longe da histeria dos brasileiros preocupados com nosso futuro de Venezuela.
Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Publicado na Folha de SP

terça-feira, 9 de setembro de 2014

ZÉ MARIA NA TELINHA

Ele tinha 41 em 1998; fará 57, alguns dias antes do primeiro turno. Na telinha, de eleição em eleição, a quarta numa sequência só interrompida em 2006, nós o vemos envelhecer contando a mesma piada. Zé Maria não tem um programa de governo: ele nos propõe a revolução proletária. Seu PSTU distingue-se de incontáveis outros partidos, sopas de letrinhas da maravilhosa abóboda política brasileira, pois rejeita o escambo do tempo de tevê por cargos comissionados em algum escalão da administração pública. Por outro lado, como seus congêneres, o PSTU vive da extração compulsória de dinheiro dos cidadãos que o ignoram. Só no ano passado, o Fundo Partidário repassou-lhe R$ 772.404,41. Desconfio que Zé Maria será um ardoroso revolucionário até o fim de seus dias.


Não há nada de especialmente errado com o PEN, o PTN, o PROS, o SD, o PSDC, o PTC, o PHS et caterva. Seus dirigentes não fingem pretender seduzir-nos com a utopia de um mundo livre de todo o mal. Eles descobriram que nosso sistema partidário propicia um negócio lucrativo –e, de modo mais ou menos explícito, exibem-se como hábeis negociantes. O PSTU, não: em nome da História (assim com maiúscula), Zé Maria convida-nos a uma luta épica: o assalto ao Céu. A sua revolução será a da maioria, quando finalmente entendermos que ele marcha na companhia da Razão (maiúscula obrigatória). O problema é que, de fato, graças ao Fundo Partidário, ele não precisa que alguém concorde com ele. No Brasil, a Revolução (maiúscula!) tornou-se um bom negócio.

Zé Maria tem o direito de retrucar que faz o que todos fazem, sofisma celebrizado pelo PT desde o "mensalão". Preferirá, porém, se separar dos demais, alegando que explora as "contradições da democracia burguesa" para instalar a "democracia proletária". A racionalização do interesse próprio não muda a substância do problema: o uso do Fundo Partidário isenta o PSTU do imperativo político de persuadir as pessoas de que tem alguma razão (no caso, com minúsculas). Zé Maria não precisa de militantes, apoiadores ou simpatizantes: ele já tem o meu dinheiro e o seu. No Brasil, a Revolução converteu-se em álibi e pretexto.

Prevejo uma nota ensandecida do PSTU apontando-me como agente da CIA, da Santa Sé, do Mossad e da Mídia Burguesa. Como não os convencerei a desistir da ideia argumentando com a deselegância de maldizer um contribuinte financeiro, tento algo melhor: o problema não está neles, mas na nossa "democracia burguesa". Ainda que nos poupem das intragáveis letras maiúsculas, os grandes partidos também financiam suas (mais modestas) utopias pelo assalto legalizado ao bolso do público. Por que singularizar no sempiterno Zé Maria uma acusação que se aplica, com igual justiça, a Dilma, Aécio e Marina?

Na democracia sem adjetivos, partidos são entes privados; na nossa pobre democracia varguista, partidos são entes estatais. Por aqui, o meu dinheiro (e o seu) sustenta candidaturas que personificam o oposto do que quero. O PT ameaça, pelo financiamento público de campanha, ampliar ainda mais a transferência compulsória de recursos dos cidadãos para a elite política organizada em partidos. Imagine, pelo contrário, a célere transformação da paisagem partidária que decorreria da desestatização dos partidos, compelidos por esse ato a buscar dinheiro exclusivamente entre os indivíduos (isto é, as pessoas físicas) que os apoiam. Infelizmente, contudo, mesmo na oposição, ninguém –nem a Marina sonhática da "nova política"!– sugere tal iniciativa. No Brasil, o Partido dos Políticos estende-se de Zé Maria até o Pastor Everaldo.

O Zé Maria que envelhece na telinha, sempre igual a si mesmo, não é indício das "contradições da democracia burguesa", mas o certificado da perversa coerência de um sistema que corrompe a política. Não se amofine, Zé, o problema está em nós. Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

RUPTURA DA RUPTURA

Morremos porque um dia Deus puniu nossa desobediente ousadia de buscar o conhecimento, tornando-nos humanos. Eduardo Campos morreu em meio a uma trajetória política, mas, sobretudo, na hora crucial de um percurso de ruptura intelectual. Na campanha ao Planalto, o neto de Miguel Arraes e antigo protegido de Lula tentava completar algo como uma libertação pessoal, definindo seu lugar na cena brasileira. Um acaso trágico, ruptura súbita de uma ruptura progressiva, interrompeu a escritura do capítulo final da história.


"Versão moderna de um coronel nordestino tradicional" –a síntese ambígua escolhida em 2012 pela "The Economist" para classificá-lo talvez servisse como uma fotografia banal, mas não captava o fluxo da vida. O "coronel" cerca-se dos seus, distribuindo os destroços da coisa pública ao séquito dos "compadres". Campos, pelo contrário, distinguiu-se no governo de Pernambuco por um esforço persistente, nem sempre bem sucedido, para insular a máquina estatal dos interesses das camarilhas. Quando seus restos mortais baixarem à sepultura de Arraes, será tão legítimo celebrar a ruptura quanto a continuidade.

Campos provou que o Bolsa Família não congela a política. Dois anos depois de, com o respaldo de Lula, obter 83% dos votos na reeleição ao governo estadual, sua liderança catapultou Geraldo Júlio a um improvável triunfo na disputa municipal do Recife contra o candidato lulista. Naquela hora, convenceu a si mesmo, e ao mundo político, de que já não precisava ser um apêndice do presidente de fato. Ingrato, oportunista, traíra? Os epítetos lançados pelo PT, até quarta-feira incorporados à campanha dilmista e ainda reverberados pelos "companheiros de viagem", circulam na esfera da difamação. Campos ambicionava o poder, como qualquer político, mas sua ruptura refletia divergências de princípio.

No Brasil, vezes demais, sacrificamos a clareza no altar dos afetos. Um "lulismo sem Dilma", como parecia propor o candidato Campos, não era uma narrativa política viável, mas um tributo pago pelo presente ao passado –e uma renúncia voluntária à crítica justa. O fato, porém, é que o ex-ministro de Lula rejeitava a sujeição do interesse nacional à ideologia ("Nós não podemos ter diplomacia de partido. Nós temos de ter uma diplomacia de país"), acreditava na meritocracia ("Eu fiz salário variável na educação, na saúde, na segurança pública") e esboçava um desafio à partidocracia ("A nossa perspectiva é que os cargos comissionados, algo como metade deles, sejam exclusivos dos servidores de carreira").

Aprender e evoluir não é trair. Na sua ruptura, Campos pisou a fronteira do tabu ao concluir que os programas de transferência de renda devem funcionar como ponto de partida, não de chegada, e sugerir uma "política social 2.0". "Vemos as filhas do Bolsa Família serem mães do Bolsa Família. Vamos assistir a elas serem avós do Bolsa Família?", indagou com uma coragem incomum entre os políticos. O "ciclo da pobreza", explicou, só será ultrapassado pela qualificação dos serviços universais de educação e saúde. Ele não disse, nem precisaria, que os beneficiários políticos do "ciclo da pobreza" entrincheiraram o país no castelo da "política social 1.0".

O "menino de Arraes", na expressão cunhada por um rival em Pernambuco, pendurou o retrato do avô na parede, mas mordeu a maçã da desobediência, procurando uma trilha ainda não devassada. Em sua campanha ao Planalto, martelo e pregos à mão, ainda hesitante, escolhia um lugar adequado para o retrato de Lula na galeria do passado. Nessa tendência a se desviar encontram-se as fontes da saraivada de recriminações que lhe dirigiam as páginas de propaganda lulopetistas, apagadas às pressas logo depois da queda do Cessna PR-AFA.

Ruptura da ruptura, história incompleta. Cada um pode imaginar seu final preferido.
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

SOBRE O COLAPSO PARCIAL E OBSERVÁVEL DA SOCIEDADE

"Digo que os ‘clérigos’ modernos [os intelectuais] pregaram que o Estado deveria ser robusto e não se importar nem um pouco em ser justo..."

Julien Benda, A traição dos intelectuais, p. 107

"Devemos organizar os intelectuais."
Willi Munzenberg, organizador comunista, 1919

A atual situação pode ser caracterizada da seguinte maneira: Todas as nossas instituições estão entrando em colapso e o caos social surge em todos os lugares: (1) o colapso da família, da maternidade e da paternidade; (2) o colapso da moralidade, especialmente da honestidade; (3) o colapso do governo constitucional e da segurança nacional, o fenômeno do presidente impostor, legisladores covardes, generais carreiristas, oficiais de inteligência que são agentes duplos; (4) um sistema educacional que é anti-patriótico; (5) narcisismo epidêmico, egoísmo, cultura de entretenimento e materialismo. Nisso tudo vemos o colapso do indivíduo e a instauração da loucura, conforme mostrado no reforço social acima.

O colapso da integridade significa o colapso da esperança e da vontade de poder. Como disse Nietzsche, “a linha do arco humano é frouxa”. Sendo assim, o que se faz necessário é uma renovação, isto é, um reestabelecimento daquilo que se entende por homem e mulher, pais e filhos e sagrado. Disso pode advir novamente os dois pares conhecidos por ‘comunidade e nação’ e ‘constituição e liderança’. Contudo, quem pode começar esse processo de regeneração? É comum afirmar que esse começo só se dará na ocasião de uma catástrofe massiva. Um evento desses ultrapassa todos os argumentos e esmigalha toda a resistência por meio da mudança que produz no coração humano. O velho termo bíblico para isso é castigo.

E eis que chegam os russos e seus “parceiros” chineses. Na conjuntura atual, os russos aceleraram seus planos contra a Ucrânia. Não devemos subestimar o controle que eles ainda exercem sobre Kiev. Não podemos subestimar a disposição deles para assassinar qualquer um que entrar no caminho, a disposição para dividir e conquistar província atrás de província, estado atrás de estado. Seria o caso de perguntar se nesse contexto o ISIS é um instrumento deles forjado clandestinamente nas entranhas da Chechênia e no deserto da Líbia (ambos são ex campos de ação soviética). Em face disso, o Ocidente não sabe o que fazer. Como se pode lutar pela soberania ucraniana se o próprio governo ucraniano é um ponto de interrogação? Esse ponto de interrogação também confronta os guerreiros americanos. Ele confronta todos aqueles países que foram tomados pela classe de governantes refinados e de tom esquerdista, politicamente correto e igualitário. Foi Evan Sayet quem os descreveu melhor: “Para o esquerdista moderno... a única explicação para o sucesso é que o sucesso, por sua própria existência, é prova de alguma tramoia ou intolerância. O fracasso, pela sua própria existência [...] para eles é prova de que alguém foi vítima de alguma coisa”.

Nosso declínio foi sem dúvidas um processo gradual. Foi, e tem sido, um processo inorgânico; isto é dizer que houve conjuntamente conveniência,sabotagem e imposição até chegar ao estado atual. Não foi um processo natural, mas sim o resultado da efetiva interferência e oposição ao que é natural. Deve-se considerar antes de tudo que ele foi uma invenção ideológica. E os perigos que sempre estão presentes numa ideologia são: (1) seu caráter artificial cujas origens são francamente neuróticas ou psicóticas; (2) na sua sede de sangue; (3) na sua insensibilidade e (4) no seu niilismo. Eu concluo essa breve edição de feriado com uma citação do livro Double Lives de Stephen Koch: “O meio político marxista-leninista [...] é um terreno propício aos paranoicos — e é por essa razão que um homem como Stálin tenha crescido justamente dentro dele”.

POR: JEFFREY NYQUIST 
Tradução: Leonildo Trombela Junior 




domingo, 7 de setembro de 2014

DIALÉTICA DA COVARDIA

Duas ou três concessõezinhas oferecidas pela candidata à economia liberal, que no fundo em nada diferem daquelas feitas pelo primeiro mandato do sr. Lula, pouco significam em comparação com o fato de que o partido de Marina pertence ao Foro de São Paulo e, como tal, tem compromissos estratégicos internacionais.


Toda decisão covarde, quer se expresse por ação ou omissão, deixa no fundo da alma uma vergonha que, quanto menos reconhecida e confessada, mais exige rituais histéricos de compensação. Posta vergonhosamente em fuga por um golpe militar que não disparou um só tiro, a esquerda brasileira exibe até hoje os sintomas residuais do vexame enterrado, mas jamais completamente esquecido: daí sua compulsão incurável de exagerar hiperbolicamente os sofrimentos padecidos e a força ameaçadora do adversário, pintado sempre como um dragão voraz mesmo quando obviamente não passa de um cãozinho doméstico.

Exemplo típico é o historiador comunista Nelson Werneck Sodré, do qual escrevi em 2008 (v.http://www.olavodecarvalho.org/semana/080414dc.html) :

“Descrevendo no seu livro A Fúria de Calibã os horrores apocalípticos da perseguição a intelectuais logo após o golpe de 1964, que ele não hesita em nivelar ao que sucedeu na Alemanha de Hitler, acaba se traindo ao relatar que, naquele mesmo período, publicou não sei quantos livros, teve não sei quantas críticas favoráveis, algumas entusiásticas, foi brindado com alguns prêmios literários e no fim ainda recebeu uma homenagem no Instituto Brasileiro de História Militar, em cerimônia realizada na presença... do presidente da República, marechal Castelo Branco. Jamais um historiador consentiu em personificar tão escandalosamente um exemplum in contrarium da sua descrição geral dos fatos.”

Mas, evidentemente, Werneck não foi o único. A repressão foi tão violenta, tão avassaladora, que o período do governo militar (1964-1985) acabou sendo, segundo registros da Câmara Brasileira do Livro, o de maior prosperidade da indústria editorial esquerdista no país.

Paralelamente, jornalistas de esquerda dominavam as redações dos maiores jornais e eles próprios publicavam semanários “nanicos” nos quais falavam o diabo da “grande mídia burguesa”.

Intelectuais e artistas de esquerda imperavam também sobre as universidades e a indústria de espetáculos – tudo isso porque, coitadinhos, tinham sido banidos de toda atividade pública, como os dissidentes soviéticos ou cubanos. Nunca no mundo os perseguidos se refugiaram em catacumbas tão altas e vistosas.

Erik von Kuenhelt-Leddihn já ensinava que ninguém jamais entenderá a mentalidade esquerdista se não estudar muito bem o mecanismo do fingimento histérico.

Mas ninguém cairia vítima de uma neurose se dela não extraísse alguma vantagem secundária, algum lucro que pode ir muito além do mero reconforto psicológico postiço.

Exagerar o tamanho e a periculosidade do adversário dissemina entre os militantes um estado de alerta, instila neles um reflexo de autodefesa grupal que os predispõe a odiar o adversário mesmo e sobretudo quando nada sabem dele. Que partido revolucionário não precisa disso?

Quando uma compulsão neurótica se soma a um proveito objetivo, ficar cada vez mais neurótico se torna um modo de vida, uma “forma mentis” integral que acaba por absorver a personalidade inteira. Que mais pode desejar um revolucionário do que um uma engenharia cênica na qual fugir da realidade se transmuta num meio de agir sobre ela com alguma eficácia?

Dessa incongruência nasce uma segunda, também característica da mente revolucionária, que é o hábito de cantar vitória ao mesmo tempo que se imagina o adversário cada vez mais forte e indestrutível, principalmente quando este agoniza e esperneia no ar entre gemidos de impotência.

É assim que, no seu blog da "Carta Maior", o indefectível dr. Emir Sader, mais conhecido nos círculos reacionários como Marquês de Sader, explica a adesão dos liberais Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara Rezende à candidatura Marina Silva como um truque maquiavélico da direita, prenúncio da restauração conservadora, quando ela é obviamente o oposto: a autodissolução de um corpo debilitado num corpo mais forte que, ao absorvê-lo, o extingue.

Duas ou três concessõezinhas oferecidas pela candidata à economia liberal, que no fundo em nada diferem daquelas feitas pelo primeiro mandato do sr. Lula, pouco significam em comparação com o fato de que o partido de Marina pertence ao Foro de São Paulo e, como tal, tem compromissos estratégicos internacionais que, no presente momento, seus aliados liberais não compreendem e nem sequer vislumbram, e que com toda a certeza prevalecerão, a longo prazo, sobre qualquer arranjo oportunista de campanha eleitoral.

Nada mais característico da debilidade direitista no Brasil, aliás, do que a pseudo-esperteza de aderir ao que não se pode vencer, receita de Maquiavel que, praticada pelo próprio inventor, só o levou de derrota em derrota até a completa humilhação final de ter de viver, na velhice, de um empreguinho chinfrim arrumado, num gesto de caridade, por um de seus velhos inimigos.

Maquiavel é o guru dos derrotados, sempre um derrotado ele próprio. Talvez por isso exerça tanta atração sobre quem não tem a mínima vocação para a vitória nem, por isso mesmo, como diria o sr. Lula, “nenhuma perspectiva de poder”.

Interpretando a debilidade como sinal de força, o Marquês de Sader, por seu lado, foge da realidade ao mesmo tempo que age sobre a mente da sua platéia com realismo exemplar: instigando nos fortes o medo do fraco para impeli-los a torná-lo mais fraco ainda.

Entre a dialética revolucionária e as astúcias teatrais do fingidor histérico, a semelhança não é jamais mera coincidência.

Por: Olavo de Carvalho 

Publicado no Diário do Comércio.




(15/11/2010) Olavo explica única solução para decadência cultural e polí...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A ARTE DA FUGA

Quem leva a sério a opinião política dos artistas? Eu não. Deixei de o fazer com a ruína dos regimes totalitários.


Nas pinturas de Isaak Brodsky (sobre Lênin); nos filmes de Leni Riefenstahl (sobre Hitler); e nas telas de Alessandro Bruschetti (sobre Mussolini), a "arte política" deixou um testamento vergonhoso, que passou pela legitimação –melhor: pela exaltação das virtudes de psicopatas.

Exceções, sempre houve. Mas o casamento entre arte e política normalmente deu maus resultados. A "arte pela arte" não é apenas um bordão do século 19. É um conselho prudente para quem tem pretensões de se dedicar a ela.

Por isso ri alto com a carta aberta que 55 artistas enviaram à Fundação Bienal de São Paulo.

Ponto prévio: nenhuma pessoa adulta escreve cartas abertas em manada; quando falamos de artistas, ou pretensos artistas, a coisa ainda soa pior. Ou a arte vive da autonomia individual, ou não vive. Só covardes assinam em manada.

Mas os 55 revoltaram-se com o apoio financeiro que Israel concedeu à Bienal. Não querem dinheiro judeu porque acreditam que esse dinheiro, depois da guerra em Gaza, conspurca as suas integridades estéticas.

Se o dinheiro fosse da Autoridade Palestina, ou até do Hamas, talvez a conversa fosse outra. Não é. É de Israel.

Não vou regressar ao conflito entre Israel e o Hamas, que vive agora a sua trégua clássica antes do próximo confronto. Enquanto o mundo não entender direito a natureza islamita e jihadista do Hamas, não vale a pena gastar latim com o assunto.

Mas talvez não seja inútil fazer uma pergunta meramente teórica: de que vive a arte, afinal?

Arrisco uma resposta: a arte vive da liberdade. Um clichê sem grande importância?

Errado. Parafraseando Saul Bellow, eu gostaria de conhecer o Balzac dos zulus. Não conheço. Se Nova York, Londres ou Berlim são centros de excelência estética, isso deve-se à estabilidade política e à riqueza material de tais cidades.

E mesmo que a arte seja "engajada", o que já me parece uma corruptela da sua vocação, convém que o "engajamento" seja direcionado para os alvos certos.

Os 55 artistas da Bienal falham nos dois planos.

Começando pela liberdade, basta consultar os rankings da ONG Freedom House para 2014. Não vou cansar o leitor com números e mais números. Resumindo, digo apenas: Israel é o único país do Oriente Médio e do norte de África considerado "livre". O resto oscila entre "parcialmente livres" (Tunísia, Líbia, Kuait) e "não livres" (Iraque, Irã, Arábia Saudita).

E, para ficarmos na vizinhança de Israel, é a desgraça: Jordânia, Egito ou Síria continuam antros de repressão. Os 55 artistas, que deveriam defender a liberdade de expressão como quem defende o oxigênio, assinam uma carta contra o único país que respeita essa liberdade em todo o Oriente Médio.

E sobre os direitos humanos? Fato: Israel merece várias linhas de condenação nos relatórios anuais da Human Rights Watch, outra ONG independente. Mas nada que se compare ao comportamento dos mesmos países do Oriente Médio, para não falar da vizinhança em volta.

Um bom indicador do respeito pelos direitos humanos está no tema clássico da pena de morte. Israel aboliu-a para crimes civis. Do Egito à Jordânia, do Líbano à Autoridade Palestina, a execução judicial continua a verificar-se.

Digo "judicial" porque o Hamas, todos o sabemos, prefere fazer as coisas de forma "extrajudicial", fuzilando traidores no meio da rua.

De resto, será preciso dissertar sobre a diferença entre os "direitos" das mulheres ou dos homossexuais em Israel e nos países em volta? Será preciso recordar o histórico de amputações de membros e lapidações de adúlteras que existe por aquelas bandas?

E será preciso acrescentar alguma coisa à selvageria do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que pelo visto não incomoda os 55 artistas da Bienal de São Paulo?

Criticar Israel é legítimo. Nenhum governo está acima da crítica. Transformar Israel em pária internacional é uma forma de cegueira antissemita.

Eu só respeitarei a "coragem" dos 55 artistas no dia em que eles viajarem para Bagdá, Riad ou Gaza e escreverem uma carta contra os governos locais. Em defesa da liberdade e dos "direitos humanos".

Isso, claro, se ainda tiverem mãos para escrever.
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

MAIS UM CASO DE HISTERIA

O problema de muitos "formadores de opinião", no Brasil de hoje, não é a burrice em estado puro, mas aquela burrice em segunda potência que nasce do impulso histérico de criar uma frase e, ouvindo-a da própria boca, acreditar nela pela simples razão de ter conseguido dizê-la.


O histérico vive em um mundo fictício composto inteiramente de autopersuasão. Daí ao mais extremo analfabetismo funcional o passo é bem curto. Quando o histérico lê alguma coisa, não entende aquilo que está escrito, mas o que desejaria que estivesse escrito. E acredita piamente que foi isso o que leu.

Um desses, um tal de Renato Rovai, leu no meu Facebook a seguinte afirmação: "O governo torna sigilosas as investigações de acidentes aéreos e poucos dias depois já vem um acidente aéreo politicamente relevante. Ou o acaso está gozando da nossa cara, ou não é acaso." Que é que ele fez com isso? Imediatamente tascou no seu blog do Portal Forum: "Olavo de Carvalho culpa Dilma pela morte de Eduardo Campos".

Qualquer pessoa razoavelmente alfabetizada, com uma inteligência mediana não entorpecida por impulsos neuróticos incoercíveis, entende que uma sentença construída em modo alternativo sugere duas hipóteses e nenhuma certeza.

No episódio presente, um acaso irônico ou a vaga possibilidade de um crime. Transformar isso na afirmação peremptória da ocorrência de um crime, seguida da identificação positiva de um culpado, é, sem a menor dúvida possível, obra de imaginação histérica.

Com toda a certeza o sr. Rovai desejaria mesmo que eu tivesse dito a enormidade que me atribui. Assim poderia facilmente pintar-me como um caluniador fantasista, à perfeita imagem e semelhança dele próprio, e, escondendo-se por trás de um autorretrato com o meu nome, acreditar-se melhor que eu. Um histérico, na verdade, não faz outra coisa na vida senão representar cenas autolisonjeiras no seu teatrinho mental para não ter de tomar consciência da sua deplorável miséria humana.

Tão agudamente necessitado de fazer-se de superior estava o sr. Rovai, que me descreveu como alguém "que é considerado filósofo por ‘gênios’ do estilo de Roger, o ex-cantor e pretenso humorista", sem nem por um segundo levar em conta que:

(1) O sr. Roger, do qual só tive notícia ontem, não consta ter jamais emitido a menor opinião a meu respeito. A busca no Google aponta o meu nome junto a dois Rogers – Scruton e Kimball – mas não a esse.

(2) Uma breve pesquisa no meu currículo e nos documentos que o embasam (http://www.olavodecarvalho.org/english/life-and-works.html) teria bastado para mostrar que quem me considera filósofo (e até, vejam vocês, bom filósofo) não são gênios entre aspas, mas alguns dos maiores intelectuais do Brasil e do mundo, como Miguel Reale, Josué Montello, Herberto Sales, Roberto Campos, Ariano Suassuna, Alexandre Costa Leite, Romano Galeffi, David Walsh, Antoine Danchin e uma infinidade de outros, além de uns ministros de Estado e dois ex-presidentes da República.

Um jornalista sério, quando se refere a um escritor, pode falar dele bem ou mal, mas não pode esconder sob uma pueril afetação de desprezo uma identidade histórica solidamente formada e comprovada. Pode, por exemplo, não gostar de Ariano Suassuna, de Jorge Amado ou de mim, mas não pode dizer que só humoristas fracassados apreciam o que escrevemos.

Isso não é jornalismo: é fabulação histérica. Um jornalista escreve para contar algo do que vê e do que sabe. Um histérico, para compensar seus recalques com grotescos trejeitos de superioridade fingida.

Dito isto, é certo que o sr. Rovai, cujas realizações intelectuais não chegaram a ser louvadas nem mesmo por algum humorista fracassado, pela incontestável razão de que não existem, vai quase que infalivelmente tentar tirar proveito retroativo do vexame, fazendo-se de importante pelo simples fato de que lhe consagrei estas linhas.

Para tirá-lo dessa ilusão, peço-lhe que releia a primeira frase deste artigo, onde a deformação histérica da linguagem aparece como fenômeno generalizado e epidêmico, do qual ele não é senão um exemplo entre milhares, aqui escolhido precisamente porque ilustra muito bem até que ponto essa patologia intelectual pode atrofiar o julgamento e eliminar o senso de realidade.

Lembro aos leitores o diagnóstico já clássico do dr. Andrew Lobaczewski: quando um grupo de psicopatas assume o poder e controla a sociedade, o bombardeio de mentiras oficiais, debilitando na população o impulso de dizer o que vê e o que sente, e substituindo-o pela compulsão de repetir o que ouve, acaba por gerar uma multidão de apoiadores histéricos, cuja única função na vida é fingir para poder persuadir-se e persuadir-se para poder fingir.

Quando as coisas chegam a esse ponto, todos os critérios de realidade foram abolidos e toda possibilidade de ação racional eliminada: é o Império do Mal, onde o caos e o crime podem espalhar-se à vontade, sem que ninguém tenha a autoridade moral de detê-los.

A atuação pública inteira do sr. Rovai não é senão uma ilustração, especialmente miserável, desse estado de coisas.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.




terça-feira, 2 de setembro de 2014

A SOBREVIVENTE


Da morte trágica do candidato à presidência da República, Eduardo Campos, emergiu a sobrevivente, Marina Silva, que tendo se abrigado no PSB por não ter conseguido registrar o seu partido Rede Sustentabilidade seria a vice na chapa.

Como escreveu Elias Canetti em sua magistral obra, Massa e Poder: “O momento de sobreviver é o momento do poder”. “O espanto diante da visão da morte se dissolve em satisfação, pois não se é o morto”. “O morto está estendido e o sobrevivente está de pé”. “É como se um combate tivesse antecedido aquele momento, e nós mesmo tivéssemos derrubado o morto”. Canetti se referia às batalhas onde se mata e morre literalmente, mas não é uma campanha eleitoral uma espécie de batalha?

Marina, a sobrevivente, se sente ungida pela “providência divina”, segundo suas palavras. Na eleição de 2010 obteve 20 milhões de votos e ficou em terceiro lugar. Neste ano viu frustrada sua intenção de voltar à campanha presidencial por ter falhado a oficialização da Rede Sustentabilidade. Agora, por um desses acasos que ela atribui a forças sobrenaturais ei-la no centro do palco da política.

Alçada à cabeça de chapa Marina se transformou rapidamente de hóspede em hospedeira do PSB e sua primeira providência foi a de substituir os comandos da campanha por gente sua, enquanto alijava o pessoal de Eduardo Campos. Portanto, o PSB pode dar adeus às ilusões. A Rede que ainda não existe adonou-se da escalada ao Planalto e se Marina chegar lá tudo indica que não sobrará nada para os socialistas de Campos. As aspirações pesebista foram sepultadas junto com o líder morto.

Dizem em tom de brincadeira que Marina é verde por fora e vermelha por dentro. Toda brincadeira tem um fundo de verdade e não se duvide que no peito de Marina bata ainda um coração petista. A sobrevivente ungida é como o avatar de um PT já longínquo que se dizia puro, ético, a verdadeira esquerda que vinha para mudar o que estava errado.

Á frente do PT a estrela barbuda, que na quarta tentativa chegou lá depois de vestir terno Armani, aparar a barba e fazer publicar uma Carta na qual se comprometia a manter os fundamentos da nossa economia capitalista de Terceiro Mundo.

No poder os éticos e puros mostraram a que vieram e foram na nossa endêmica corrupção os mais corruptos. Incompetentes, reeditaram a inflação, a inadimplência e nos fizeram o país dos pibinhos, dos descalabros na Educação e na Saúde, da Petrobras arrebentada, da diplomacia vergonhosa que defende e custeia os mais nefastos ditadores mundiais. Para piorar o País é o lanterninha dos Brics.

O Brasil como paraíso é uma fraude gerada pela propaganda enganosa. O que de fato se tem é a herança maldita dos quase 12 anos de governo Lula, pois a bem da verdade, nos últimos desastrosos quatro anos foi o criador que mandou e a criatura somente obedeceu.
Note-se que a sobrevivente já iniciou sua metamorfose ao incorporar como vice o gaúcho Beto Albuquerque, ex-petista que agora é citado como defensor do agronegócio. Marina, como se sabe, sempre foi contra o agronegócio. Será que mudou? Afinal, ela apoia os sem-terra.

A candidata da Rede também já aceita a ideia da autonomia do Banco Central. É o que afirma a herdeira do Banco Itaú, Maria Alice Setubal, amiga e coordenadora do programa de governo da sobrevivente. Sem dúvida, um truque da candidata com o intuito de agradar o mercado, que se antes temia Lula agora a teme. Só falta a Rede lançar uma Carta para apaziguar certos ânimos.

Marina está fortalecida. Leva vantagem sobre Rousseff porque além de ser mulher representa com seu aspecto frágil um perfil bem mais feminino. E ganha de Lula porque teve como ele origem humilde, mas, como já foi dito é mulher e negra. Daqui a pouco vão dizer de modo politicamente correto que é mulher, negra e índia. Então, aí de quem criticá-la. Tal coisa será considerada não como preconceito, mas como crime de racismo, portanto, inafiançável.

A sobrevivente, que se esclareça, não é terceira via e sim o Lula de saias abanando uma bandeira vermelha. Com relação ao PT ela pode dizer: “eu sou você amanhã”. Mas, quais são seus planos de governo? Já se sabe que seu programa incluirá os tais conselhos populares idealizados pelo PT e outros canais de democracia direta. Uma quinada e tanto à esquerda que talvez o PT faça caso Rousseff ganhe.

Quanto ao PSDB nunca foi oposição ao PT por temer a popularidade do demagogo Lula. Se agora os tucanos continuarem abúlicos por conta do medo da “santa da floresta” e seguirem sacudindo seus punhos de renda contra a borduna do PT e o arco e flecha da Rede, podem jogar a toalha. Então, ecoará da Papuda a profecia de José Dirceu: “Viemos para permanecer 20 anos”. “Muito mais”, dirá Lula, “meu modelo é Fidel Castro”.
Por: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga www.maluvibar.blogspot.com.br

ENFIM, O AJUSTE RECESSIVO

O PIB no segundo trimestre do ano será certamente negativo: a dúvida dos analistas é hoje apenas a intensidade da queda.


O André Muller, economista da Quest que acompanha a nossa conjuntura -confesso que não tenho mais energia para fazer isso-, prevê que a queda tenha sido de 0,4% em relação ao primeiro trimestre. Tem gente bem mais pessimista, mas aprendi a confiar nos números do André e vou adotá-los na coluna de hoje.

O André simulou o crescimento do ano como um todo com base em números do PIB -hipotéticos- para o terceiro e o quarto trimestre. Em seu cenário, para que o PIB do ano de 2014 como um todo chegue ao medíocre 0,5%, será preciso que o crescimento nos dois últimos trimestres do ano seja também ao redor de 0,5%. Uma hipótese hoje com tintas de otimismo.

No outro extremo, para que tenhamos recessão em 2014 -isto é, PIB do ano menor do que o verificado em 2013-, o crescimento nos próximos seis meses terá que ser também negativo, o que hoje parece a mim e ao André uma hipótese pouco provável.

Mas vejamos qual seria a performance da presidenta Dilma em seu primeiro mandato, caso os números do André estejam corretos:

2011: 2,7%;
2012: 1,0%;
2013: 2,5%;
2014: 0,5%.

Essa sequência de números, para quem tem acompanhado o metabolismo da economia brasileira no período entre 2009 e 2014, traz uma mensagem muito clara: o governo Lula, em seu último ano, e o da presidenta Dilma, em seus quatro anos de mandato, tentaram de forma sistemática evitar uma queda da atividade já contratada em 2009 pela crise externa que nos atingiu.

Os principais instrumentos utilizados nessa tarefa foram: a redução dos juros pelo Banco Central, a expansão do crédito pelos bancos públicos e, finalmente, o aumento vigoroso e continuado dos gastos públicos.

Para o analista com uma visão correta dos problemas que existiam na economia brasileira no ano eleitoral de 2010, estava claro que esses instrumentos iriam provocar um aumento da inflação e uma grande volatilidade no crescimento.

Se a tentativa de reviver a economia em 2010 via respiração boca a boca fazia sentido do ponto de vista político-eleitoral, a utilização desses mesmos instrumentos quando o PIB perdeu força na passagem de 2011 para 2012 deve ser catalogada como um sério erro de política econômica.

E o preço desse erro fica claro quando, no ano eleitoral de 2014, a economia chega exangue ao momento do voto. Uma situação da qual o político com experiência foge como o diabo foge da cruz.

O PIB é uma variável de difícil compreensão da grande maioria do eleitorado -ninguém come PIB, como já disse alguém recentemente-, mas seu baixo crescimento gera situações que chegam ao cidadão comum. É o caso da criação de emprego formal na economia e da taxa de desemprego.

Pois ontem tivemos a divulgação de dois números relativos ao mercado de trabalho. O IBGE divulgou a taxa de desemprego em quatro regiões metropolitanas, mostrando que a desaceleração do PIB ainda não chegou ao mercado de trabalho.

Com alguns ajustes feitos por analistas especializados nesses números, houve um ligeiro aumento no desemprego dessas regiões metropolitanas de 4,3% da População Economicamente Ativa em junho para algo como 4,5% em julho. Esse pequeno aumento não será suficiente para mudar a sensação de pleno emprego que existe hoje no Brasil.

A segunda estatística, divulgada pelo Ministério do Trabalho e que trata da criação de vagas formais em julho, também aponta para uma pequena redução do trabalho formal no país, ainda assim apenas nos números livres das flutuações sazonais (também insuficiente para alterar o humor do brasileiro quanto ao emprego). Talvez o número que mais repercussão terá nas expectativas seja o anúncio de mais de mil demissões na GM.

Mas, independentemente do timing eleitoral, o chamado ajuste recessivo continua a tomar conta da economia brasileira neste fim de mandato presidencial.

Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Publicado na Folha de SP

domingo, 31 de agosto de 2014

O QUÃO ISLÂMICOS SÃO OS MUÇULMANOS?

A Lei Islâmica exige muito dos muçulmanos, qual o sucesso deles em atingir esses preceitos?


Scheherazade S. Rehman e Hossein Askari da Universidade de Georgetown oferecem uma resposta em um artigo publicado em 2010, "

O Quão Islâmicos são os Países Islâmicos?" Nele são listados os ensinamentos islâmicos, calculadas as maneiras como esses ensinamentos são aplicados em 208 países e territórios. Eles postulam quatro índices distintos (economia, lei e governança, direitos humanos e políticos, relações internacionais), feito isso, são organizados em um único índice geral, que eles chamam de IslamicityIndex.

EI2 significa IslamicityIndex Econômico; LGI2 IslamicityIndex de Lei e Governança; HPI2 IslamicityIndex de direitos humanos e políticos e IRI2IslamicityIndex de Relações Internacionais. Juntos formam o IslamicityIndex (I2).


Isso pode causar certa surpresa, os dez primeiros países da lista do Islamicity são, começando pelo topo da lista, Nova Zelândia, Luxemburgo, Irlanda, Islândia, Finlândia, Dinamarca, Canadá, Reino Unido, Austrália e Holanda. Os últimos dez são Maiote, Cisjordânia e Gaza, Somália, Ilha de Man, Eritréia, Sudão, Ilhas do Canal, Iraque, República Federal dos Comoros e Angola. Visto de outra maneira, nenhum dos dez primeiros países "islâmicos" possui maioria muçulmana, mas em sete dos últimos dez, metade ou mais da população é muçulmana.

Bem vindo à Nova Zelândia, o país surpresa que melhor aplica os ensinamentos islâmicos.


Em 38º lugar ficou a Malásia, país com ligeira maioria muçulmana, recebeu a mais alta posição da lista. Em 48º lugar ficou o Kuwait, fabuloso exportador de petróleo, teve a classificação mais alta para um país de absoluta maioria muçulmana. Em 77º lugar ficou a Jordânia, teve a classificação mais alta para um país de absoluta maioria muçulmana sem possuir petróleo.

Tomando como exemplo os 57 membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC) e, (ignorando o tamanho populacional de modo que as Maldivas com 300.000 habitantes tenham o mesmo peso que a Indonésia com 237 milhões), sua pontuação final foi o 139º lugar, ou seja, bem abaixo da média, 104 (ou seja, média de 208 países pesquisados). Em outras palavras, segundo o estudo, o mundo como um todo, querendo ou não, segue com mais afinco os preceitos islâmicos do que os países de maioria muçulmana.

O resultado final muçulmano encontra-se provavelmente bem abaixo do 139º lugar, em parte por razões técnicas e estatísticas, em parte porque a pesquisa foi publicada em 2010, antes do primeiro ministro turco se tornar inescrupuloso e antes dos levantes árabes: a Turquia ocupa uma posição relativamente alta 103º lugar, o Mali 130º e a Síria 186º, a pontuação atual desses países, com certeza, seria bem mais baixa na escala do Islamicity. Organizando esses fatores, calculo que a pontuação final dos muçulmanos hoje, seria o 175º lugar.

O IslamicityIndex, quantifica de maneira prática minha teoria, dividida em duas partes (apresentada em livros publicados há mais de 30 anos sobre soldados escravos e o Islã na vida pública) sobre Islã e política: (1) As exigências do islamismo são inerentemente difíceis demais para que os governantes muçulmanos possam atingi-las, alienando as populações muçulmanas de seus governos, levando a um grande abismo entre governantes e governados e, conduzindo os autocratas gananciosos que não se interessam pelos interesses dos súditos. (2) Para piorar ainda mais as coisas, subsequentemente em mais ou menos 1800, os muçulmanos perceberam que eles estão atrás de não muçulmanos em praticamente todos os aspectos da atividade humana, causando sintomas como perda de esperança, irracionalidade, crença em teorias conspiratórias e islamismo.

Quando perguntado sobre a minha tese, o Sr, Askari discorda. Em uma carta enviada a mim, ele culpa os "líderes religiosos oportunistas" que "distorceram os ensinamentos islâmicos além de se assenhorearem da religião para benefícios próprios". Segundo ele, a ganância deles possibilitou aos "governantes tiranos e corruptos obstruírem a criação de instituições eficientes". E por último, as potências colonialistas e imperialistas "exploraram essas condições em proveito próprio". Em outras palavras, ele vê uma tríade perversa de forças religiosas, políticas e ocidentais criando um círculo vicioso impedindo o progresso.

Minha resposta: Ao depararem com o fracasso de um ideal aparentemente nobre (comunismo, lei islâmica), os devotos instintivamente culpam o fracasso humano em vez de culpar os ideais, devemos nos esforçar mais, melhorar nosso trabalho. Entretanto, em determinado ponto, quando o objetivo nunca é alcançado, se torna lógico e necessário culpar os próprios ideais. Um fracasso de quatorze séculos deveria ser considerado uma experiência levada a cabo em todos os aspectos.

Apesar da ideologia Wahhabi e controle sobre Meca, a Arábia Saudita aplica com menos fervor os ensinamentos islâmicos do que a maioria dos países.


Vejamos especificamente o caso da Arábia Saudita: se a aplicação da doutrina Wahhabi por dois séculos e meio, um governo estável e o controle de Meca e Medina por quase um século e uma riqueza natural que vai além dos sonhos de qualquer mortal ainda deixa o país em mísero 131º lugar, como é possível uma sociedade desejar alcançar os ideais islâmicos?

Askari culpa os muçulmanos; eu culpo o Islã. Essa diferença acarreta enormes implicações. Se os muçulmanos forem os culpados, os crentes não têm outra escolha senão a de continuar tentando cumprir os ensinamentos islâmicos, como vêm tentando por mais de mil anos. Se o problema for o islã, a solução é reconsiderar as interpretações tradicionais da fé e reinterpretá-las de modo que conduzam a uma vida próspera. Essa iniciativa poderia começar com uma viagem exploratória a Nova Zelândia.

Por: POR DANIEL PIPES Publicado na National Review Online.

Original em inglês: How Islamic Are Muslims?

Tradução: Joseph Skilnik


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A IMAGEM DE HITLER NA DESINTEGRAÇÃO DO OCIDENTE

Wotan, o incansável errante, o agitador, que ora aqui ora ali provoca a disputa ou exerce efeitos mágicos, foi transformado pelo cristianismo no demônio, só aparecendo como fogo fátuo em noites de tormenta ou como caçador fantasmagórico acompanhado de sua comitiva nas tradições locais cuja tendência era o desaparecimento. Sem dúvida alguma, o papel do errante sem trégua foi desempenhado, na Idade Média, pela figura então surgida de Ahasverus que não constitui uma lenda judaica e sim cristã, ou seja, o motivo do errante não incorporado por Cristo precisou ser projetado para os judeus, da mesma maneira que encontramos, nos outros, conteúdos que se tornaram inconscientes para nós. Em todo caso, a coincidência entre o anti-semitismo e o redespertar de Wotan é uma jinesse psicológica que deve ser mencionada...
Carl Jung, “Wotan” em Aspectos do drama contemporâneo

Desde a Segunda Guerra Mundial, o nome de Hitler tem sido um sinônimo de mal no Ocidente. Por ventura, ele acabou por ter o mesmo destino de Wotan conforme descrito por Jung acima. Com efeito, ele foi transformado em um demônio político durante uma era secular em que todos os conceitos religiosos foram suprimidos para darem lugar aos seculares. E Hitler foi o líder do movimento Nacional Socialista na Alemanha. E como Hitler foi um nacionalista, a partir de então passou a ser obsceno ser nacionalista. Simultaneamente, as referências ao socialismo de Hitler foram tipicamente silenciadas, isto é, a menos que um socialista queira dizer que a política econômica de Hitler (o próprio socialismo) salvou a economia alemã (que é o elogio que nos é permitido fazer a Hitler).

Ao usar a imagem de Hitler nos últimos 70 anos, fizemos um joguete com nós mesmos. Na educação de todos os cidadãos, inculcamos a seguinte visão acerca do genocídio: os genocídios organizados pelos comunistas devem ser mencionados na mídia com menos frequência do que os de Hitler. Embora os ditadores comunistas tenham matado dezenas de milhões a mais que Hitler, devemos pensar apenas em Hitler quando o assunto em discussão for assassinatos em massa. Quando Mao matou entre 50 e 60 milhões de chineses, ou quando Stálin matou 11 milhões de ucranianos, nós comumente evitamos o termo “genocídio” ou holocausto para descrever os crimes comunistas. Não queremos colocar em circulação palavras-chave que possam associar na mente das pessoas o marxismo ao assassinato em massa. Reservamos para Hitler os assassinatos em massa, para que a perversidade dele possa ser mais bem lembrada. Um exemplo disso: quantas pessoas chegaram a conhecer o termo “holodomor”? Essa é uma palavra ucraniana que significa o assassinato em massa que usa como arma a fome; essa ‘arma’ foi usada pelo governo de Stálin no começo dos anos 1930 e matou mais ucranianos do que Hitler matou judeus.

Em muitas das universidades hoje, aqueles que favorecem o comunismo tentam retratar Hitler como um mero copiador dos colonizadores que mataram índios e escravizaram africanos no século XIX. Do ponto de vista socialista, é importante que a palavra-chave ‘atrocidade’ associada a Hitler seja aplicada ainda mais fortemente aos países ocidentais do que aos países comunistas. Assim, nos textos dos livros de história atuais, as chamadas Guerras Indígenas nos Estados Unidos são descritas como “holocausto” ou “genocídio”. (Veja American Holocaust ou Sexual Violence and American Indian Genocide de David E. Stannard.) É muito importante que os crimes dos Estados Unidos pesem muito mais do que os outros crimes na história, até mais do que os crimes de Hitler. Um site marxista-leninista, o EspressoStalinist.com, diz que entre 95 e 114 milhões de americanos nativos foram assassinados por europeus desde os tempos de Colombo. Nos últimos tempos esses valores têm sido mais frequentemente repetidos, e é bem mais provável que eles sejam ensinados do que as velhas estimativas. O site supracitado também cita o biógrafo de Hitler, John Toland:

O conceito de campos de concentração, assim como a viabilização do genocídio, devem muito, diz ele, aos estudos da história inglesa e americana. Ele admirava os campos de prisioneiros bôeres na África do Sul e de índios no faroeste. Frequentemente ele louvava perante seus amigos próximos a eficiência que os americanos tinham no extermínio [...] dos selvagens de pele vermelha que não podiam ser domesticados pela prisão.

Sendo assim, ao cometer o holocausto, Hitler estava apenas mimetizando a política governamental americana que fora usada contra os índios. Nesse revisionismo histórico, o genocídio torna-se uma mácula especial na sociedade capitalista branca e na cristandade. Neste caso, passa-se um julgamento moral que condena a civilização ocidental, pois se a Alemanha nazista teve de ser destruída por suas atrocidades genocidas, então a América também tem de pagar o derradeiro preço.

Se uma nação se convence da sua própria e especial perversidade, como ela se defenderá? As pessoas normalmente não lutam e morrem por aquilo que acreditam ser errado. E se a perversidade americana é como a de Hitler, que direito tem a América de existir? Quanto a fronteira de um país assim, dificilmente pode se usar o nome ‘fronteira’ para ela. Certamente, tal fronteira é uma injustiça que deve cessar de existir. A ideia de um Estados Unidos como um país de origem europeia que se inspirou nos modelos políticos da Grécia e de Roma serve antes de qualquer coisa para culpar todos de racismo endêmico e indignidade.

Se o pano de fundo europeu da América é repreensível e racista, então o país deve lutar para se tornar “marrom”. Ele deve rejeitar a Europa e adotar incondicionalmente qualquer outra coisa. Todas as tribos, religiões e etnias precisam ser convidadas a viver na América, pois apenas assim a perversidade do colonialismo europeu pode ser expurgada. Apenas assim a mácula do racismo pode ser eliminada. Essa é a lógica de hoje que busca trocar a América por uma entidade multicultural. Aqui o socialismo está destinado a substituir o capitalismo. De agora em diante, não pode haver qualquer “cultura americana” ou qualquer identidade “americana”. De agora em diante, há apenas as tribos da Terra vivendo sob o jugo igualitarista.

A respeito da imagem de Hitler na desintegração do Ocidente, vemos o mesmo processo acontecer na Europa. Lá o muçulmano entra na Europa e ao europeu não é permitido uma palavra para se defender. A Europa deve se curvar a Alá e à sua religião. A Europa tem de se curvar à África e à Ásia. Não se discute se a Europa é para os europeus, pois isso sugeriria hitlerismo. Agora é a vez da Europa ser colonizada. Se Hitler foi um perverso racista, então as forças coloniais são más e racistas. Se Hitler não tinha direito de existir, então a própria Europa não tem direito de existir. O triunfo do liberalismo sobre Hitler determinou isso, e nós seguimos isso, pois não queremos estar do lado errado da história. Não obstante, lembro do aviso de Nietzsche, que deveria ser citado mais frequentemente:

Para toda espécie de homem que permanece vigorosa e próxima à natureza, o amor e o ódio, a gratidão e a vingança, a bondade e a cólera, o fazer e o não-fazer são inseparáveis. É-se bom com a condição de que também se saiba ser mau; é-se mau porque de outra forma não se poderia ser bom. De onde, portanto, provém esse estado doentio, essa ideologia contra a natureza, que nega esse caráter duplo, — que ensina como virtude suprema possuir somente um semivalor? [Vontade de Poder]

O liberalismo moderno definiu o que é bom, e definiu de tal maneira que tornou-se inegável essa definição às próprias coisas boas. Nossa própria história desde 1945 é a história da crescente paralisia estratégica. Primeiro devemos bombardear uma ponte. Depois temos de empreender uma guerra sem buscar a vitória. Depois não podemos dar o nome do nosso inimigo. Depois devemos dar exemplo aos outros deixando de lado nosso arsenal nuclear. Agora descobrimos que o guerreiro, que é homem, não tem permissão para ser um varão. Apenas a uma mulher é permitido ser viril. Vimos por aí que certos princípios universais substituíram o instinto humano — mas apenas no Ocidente (e em nenhum outro lugar). Também vimos que esses princípios podem ser auto-destrutivos ou auto-aniquilantes. E assim podemos afirmar que, em um grau mais profundo, aquilo que James Burnham afirmou sobre o liberalismo ter sido a ideologia do suicídio ocidental.

O que é um homem, pergunta Nietzsche, sem suas possibilidades de defesa e ataque? Ele é uma nulidade. A despeito de a nossa civilização ter funcionado por muito tempo com um conceito unilateral de bondade, hoje temos um falso ideal acerca daquilo que é “bom” que acaba por ditar uma política unilateral de desarmamento, uma tentativa de conciliação com inimigos mortais e a anulação da fronteira dos EUA. Os que se opõem a esse “suicídio do Ocidente” são chamados de racista e islamofóbicos. Comparam eles a Hitler. Eis um exemplo de adoção de um idealismo que faz com que “o homem ampute os instintos que possibilitam a ele ser um inimigo, a ser nocivo, a ter raiva e a insistir na vingança”, disse Nietzsche. “Esse método de atribuição de valores acredita-se ser “idealista”; nunca se duvida que no seu conceito de ‘homem bom’ encontra-se o seu mais alto desejo”.

Vemos evidentemente que a imagem de Hitler na desintegração do Ocidente não é a origem do nosso problema. Essa imagem é apenas mais uma arma psicológica forjada pelo liberalismo moderno, que se tornou vítima de um velhíssimo e falso sistema de valoração que Nietzsche criticou em 1888. Esse falso sistema de valoração foi mencionado por Carl Jung em seu livro Aion: Estudos do Simbolismo do Si-mesmo. Jung disse que a única maneira de livrarmo-nos do nosso dilema é “uma nova assimilação do mito tradicional”. Neste caso, o homem instintivo pode ser reconciliado com o homem racional (ou liberal). Não obstante, a assimilação do mito pressupõe, segundo Jung, “a continuidade do desenvolvimento histórico”. Jung tinha suas dúvidas acerca dessa possibilidade, e escreveu que “naturalmente, a tendência atual em destruir todo tipo de tradição... poderia interromper o processo normal de desenvolvimento por centenas de anos e poderia colocar em seu lugar a barbárie”. Logo adiante ele diz que “onde quer que prevaleça a utopia marxista, isso já aconteceu”. Por acaso não tem prevalecido na América a utopia marxista? Pois o que mais seria o estado de bem-estar social? O que seria então o Obamacare? E o sistema progressivo de impostos? E esse politicamente correto que impera em nossas universidades e escolas? Em que outro lugar essa pandemia de neuroses chegou a esse ponto? Certamente não na Rússia ou na China.

Ideias que causam confusão se espalharam como uma doença fatal por todo o meio político. O senso comum não é mais comum. A autoridade foi atenuada e as estruturas hierárquicas estão entrando em colapso. O processo avança desenfreadamente, pois a própria doença se apresenta como a cura. Sendo assim, toda cura passa a ser, por sua vez, considerada mais uma forma de doença. Os infectados são considerados os mais nobres e mais avançados em pensamento do que os que não são. A neurose passou a ser cada vez mais aguda, de modo que passou a ser o prenúncio de um colapso ainda maior, dado que as coisas não podem continuar assim para sempre. Alguma coisa tem de ceder. O que isso implica foi sugerido por Jung na seguinte passagem:

O grande Plano segundo o qual é construída a vida inconsciente da alma é tão inacessível à nossa compreensão que nunca podemos saber que mal é necessário para que se produza um bem por enantiodromia, e qual o bem que pode levar em direção ao mal. [“A fenomenologia do espírito no conto de fadas” em Os arquétipos e ο inconsciente coletivo]

Outro quebra-cabeças, outro paradoxo. A imagem de Hitler como o santo patrono dos perversos une a ideia de força com a ideia de mal, fazendo com que assim a fraqueza possa ser o único tipo admissível de bem. Apenas os fracos não oferecem perigo e, portanto, são aceitáveis. Assim, para que possamos justificar nossa existência, precisamos agora enfraquecermo-nos. Precisamos abandonar nosso bem-estar. Devemos abdicar das armas. Devemos pedir desculpa pelo sucesso. Devemos abrir nossas fronteiras. Devemos curvarmo-nos a Alá.

Eis um celeiro de grande perversidade, pois o que de bom acaba sendo produzido no final das contas? Nietzsche alerta que “Talvez não tenha existido, até o presente, ideologia mais perigosa, maior desatino in psychologicis que essa vontade do bem: fizeram desenvolver o tipo mais repugnante, o homem que não é livre...”. Mais adiante ele se pergunta “que adianta esforçar-se em declarar que a luta é má... Apesar de tudo se guerreia! não se pode fazer de outra maneira!”

O pacifista não pode forçar o seu pacifismo e, portanto, é uma nulidade. A própria benevolência se tornou uma nulidade, pois perdeu sua energia. Pergunte a si mesmo: Por que é obsceno agir em interesse próprio? por que devemos agir apenas em prol do interesse da maior nulidade de todas — humanidade? Quem exatamente é a humanidade? Como explicou Kierkegaard, o público é um monstruoso nada; e o que é “o público” senão a humanidade? Eis o perigo que circunda todo esse negócio de ideais universais. Eles são monstruosos nadas e nós, ao acreditarmos neles, nos anulamos.

Com tudo a nossa volta se desintegrando e a imagem de Hitler sobreposta no todo, nossa culpa coletiva nos engole. Passamos a ser subitamente incapazes de defender nossa civilização. Por que votamos em Obama? Por que aceitamos a negação da América em nome do estandarte do multiculturalismo? Por que nos tornamos co-conspiradores na ascensão do islã, na supremacia econômica da China, na sovietização das nossas escolas públicas, na socialização do sistema de saúde e no descuido do nosso arsenal nuclear?

Joseph Schumpeter uma vez escreveu que o liberalismo não poderia existir sem um apoio ‘iliberal’. Pois bem, removemos todos os apoios iliberais apenas para constatar que o próprio liberalismo não se sustenta. Assaltados pelo comunismo, pelo nazismo, e agora pela Quarta Teoria Política, temos de cortar todos os recursos iliberais no curso da batalha contra o super-iliberalismo (i.e. o totalitarismo). Será que Deus agora prepara uma enantiodromia (como diz Jung) em que o Oriente se torna Ocidente e o Ocidente se torna Oriente? Poderia haver, no meio da revolução ucraniana, uma renovação que liberte tanto o Ocidente quanto o Oriente? Ou estamos destinados a experimentar outra guerra catastrófica na própria imagem de Hitler?

Por:Jeffrey Nyquist  http://jrnyquist.com

Tradução: Leonildo Trombela Junior

AUMENTO DA CRIMINALIDADE EM GOIÁS SE DEVE À "SEGURANÇA PETISTA" DO GOVERNO ESTADUAL

Para fazer bonito diante do Ministério Público, Judiciário, OAB e universidades, o governo goiano aplicou cegamente a política esquerdista de transformação dos bandidos em vítimas da sociedade — o que contribui para o aumento da criminalidade no Estado.


Os assassinatos de mulheres em Goiânia, que ganharam manchetes em todo o País, não podem ficar confinados entre o sensacionalismo de parte da imprensa e o oportunismo da maioria dos políticos. Ainda que fique comprovado que foram praticados por um psicopata, esses crimes desnudam o grave problema da segurança pública no Brasil, que deveria pautar a campanha de todos os candidatos a presidente da República. Infelizmente, não é o que está ocorrendo. Em Goiás, a exemplo do que acontece também em São Paulo, a criminalidade é politizada pela esquerda, que, estando fora do poder nesses Estados, tende a atribuir aos governos locais – ambos tucanos – a responsabilidade pelo crescimento da violência.

Todavia, esse estado de completa insegurança pública que espalha o terror em todo o País está longe de ser um problema apenas dos governos estaduais. A criminalidade cresce a olhos vistos em todos os Es­ta­dos, qualquer que seja a coloração par­tidária do governo de plantão. É o que mostra o Mapa da Violência 2014, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e encampado oficialmente pela Secretaria-Geral da Presidência da República. De acordo com o estudo, a evolução histórica da mortalidade violenta no Brasil “impressiona pelos quantitativos implicados”: entre os anos 1980 e 2012, morreram no País 1.202.245 pessoas vítimas de homicídio. Por outro lado, 1.041.335 morreram em decorrência de acidentes de transporte e 216.211 suicidaram-se. As três causas somadas totalizam 2.459.791 pessoas mortas devido a causas externas.

O Mapa da Violência mostra que, nas últimas três décadas, houve uma melhoria na qualidade de vida da população, que, graças aos avanços da medicina e as políticas de saúde preventiva, viu crescer a expectativa de vida, com a redução da mortalidade infantil e a erradicação de doenças epidêmicas, que afetavam boa parte da população no passado. Todavia, uma nova forma de epidemia surge no horizonte brasileiro – as mortes violentas, motivadas por causas externas. Homicí­dios, suicídios e acidentes de trânsito cresceram significativamente nesse período, fazendo com que o ganho com a melhoria das condições de vida da população acabasse anulado pelo crescimento da violência e da criminalidade.

“Se as taxas de mortalidade para o conjunto da população caem 3,7% nesse período, as taxas por causas externas aumentam 32,8%”, constata Julio Jacobo Waiselfisz. “Quem puxa os aumentos dessas taxas são, fundamentalmente, os homicídios, que crescem 148,5%; em segundo lugar, os suicídios, que crescem 62,5%. Mas também os óbitos em acidentes de transporte aumentam 38,7%”, acrescenta. O sociólogo compara homicídios e mortes em acidentes de trânsito: “Durante toda a década de 1980, as mortes em acidentes de transporte foram sempre maiores que os homicídios e, em alguns anos, significativamente maiores: em 1980, as mortes no trânsito foram 46,4% maiores que os homicídios, diferencial que em 1996 elevou-se para 47,3%. Já a partir dos 1990, o diferencial de crescimento entre ambas faz com que os homicídios ultrapassem aceleradamente os óbitos em acidentes de transporte. Assim, já no ano 2000, esse diferencial passa para 52,7% favorável aos homicídios”.

Avanço estarrecedor da criminalidade
Essa comparação revela o avanço estarrecedor da criminalidade no País. Desde a época das carruagens, como observa Gilberto Freyre, o Brasil tem um dos trânsitos mais violentos do mundo. Os cavalos já atropelavam pedestres no Rio de Janeiro da época do Império e o genocídio sobre rodas continua ceifando vidas a cada minuto, mesmo assim, as mortes em acidentes de trânsito foram largamente superadas pelos assassinatos, como mostra o Mapa da Violência. Na década estudada, o número de homicídios cresceu em todas as regiões brasileiras, salvo na Região Sudeste, em que houve queda expressiva do número de homicídios, sobretudo em São Paulo, melhorando inclusive o índice geral do País e evitando que o Brasil se tornasse um campeão mundial de assassinatos.

Em números absolutos, o Estado campeão de homicídios é o Rio Grande do Norte, com elevação de 272,4% no número de assassinatos de 2002 para 2012. A Bahia ficou em segundo lugar, com 242,1% de aumento, seguida pelo Maranhão, com 203,6%. Goiás, felizmente, ainda não aparece nesta dantesca casa dos que tiveram mais de 200% de aumento no número de homicídios, mas já se encontra num desconfortável sétimo lugar, com 113,7% de aumento. Os outros Estados que também tiveram um aumento superior a 100% são: Pará (175%), Ceará (166,1%), Amazonas (157,2%), Paraíba (151,3%), Ala­goas (106,9%) e Tocantins (106,1%). Já em relação à taxa de homicídios por 100 mil habitantes (que melhor descreve a criminalidade por relacioná-la com a demografia), o campeão é o Rio Grande do Norte, com um crescimento de 229,1%, seguido da Bahia (221,6%), Maranhão (162,4%), Ceará (136,7%), Paraíba (130,2%), Pará (126,9%), Amazonas (112,2%), Alagoas (88,7%), Goiás (80,9%) e Tocantins (75,5%).

Por mais que a violência esteja generalizada no País, diante desses dados é preciso reconhecer – a violência em Goiás explodiu. E, para gáudio da oposição ao governo estadual, a primeira edição do Mapa da Violência data de 1998, o ano em que o tucano Marconi Perillo foi eleito governador de Goiás pela primeira vez, desbancando o reinado do PMDB no Estado. Com isso, uma das séries históricas do estudo abrange justamente o período de 1998 e 2012, que coincide com o poder tucano no Estado. Em 1998, Goiás tinha a 18ª taxa de homicídios do País, com 13,4 homicídios por 100 mil habitantes. Ou seja, era um dos menos violentos na época. Hoje, quando o líder tucano governa o Estado pela terceira vez e busca seu quarto mandato, Goiás apresenta a 4ª maior taxa de homicídios do Brasil, com 44,3 homicídios por 100 mil habitantes, perdendo apenas para Alagoas, em primeiro lugar, com 64,6; Espírito Santo, em segundo, com 47,3; e Ceará, em terceiro, com 44,6.

Tabela mostra taxas de homicídios nos Estados desde 1998,
quando teve início a publicação do Mapa da Violência
Estatísticas brasileiras não são confiáveis
Mas o PT e o PMDB, as principais vozes da oposição em Goiás, não têm muitos motivos para regozijar com a desgraça dos goianos atribuindo o fiasco da segurança pública ao governo tucano. A criminalidade é um fenômeno complexo, com as causas mais variadas, e é temerário atribuir a apenas uma delas a responsabilidade pelo crescimento da violência. Por exemplo, o Estado onde a taxa de homicídios mais cresceu entre 1998 e 2012 foi justamente o Maranhão, governado pelo PMDB de José Sarney, com um estratosférico aumento de 421% no período, quase o dobro do crescimento de 230,4% de Goiás. A Bahia, governada pelo PT desde 2007, é o quinto Estado mais violento do País. E, lá, a taxa de ho­micídios por 100 mil habitantes cres­ceu muito mais do que em Goiás – em 1998, com uma taxa de 9,7 por 100 mil habitantes, a Bahia estava numa confortável posição da lista, entre os menos violentos; hoje, o­cupa a quinta posição entre os mais violentos, com uma taxa de 41,9.

Mas nem o tucano Marconi Perillo, nem o peemedebista José Sar­ney, muito menos o petista Jacques Wagner (que chegou mais recentemente ao poder) podem ser culpados sozinhos pelo crescimento vertiginoso das taxas de homicídios em seus respetivos Estados. Co­me­çando pelo fato de que o grau de con­fiabilidade das estatísticas de mortes violentas varia de Estado para Estado. A Bahia e o Maranhão nunca tiveram índices tão baixos de violência como aparentavam ter em 1998. Suas estatísticas é que não prestavam, fazendo com que os homicídios não fossem computados na época e, agora, quando elas melhoraram, a violência parece ter explodido de forma apocalíptica. O próprio Ministério da Justiça reconhece que as estatísticas de criminalidade dos Estados nordestinos eram péssimas e, nos últimos anos, tem feito um esforço conjunto com esses Estados para melhorá-las.

Historicamente, as melhores estatísticas de criminalidade são as do Estado de São Paulo, que, devido ao seu poder econômico e ao capital cultural de suas universidades, sai na frente em todas as políticas públicas mais avançadas (ainda que muitas delas nocivas), inspirando outros Estados e o próprio governo federal a seguir o mesmo caminho. Os tucanos já vão completar 20 anos de poder no Estado e devem chegar facilmente aos 24 anos com a reeleição de Geraldo Alckmin, provavelmente no primeiro turno. Pois justamente nesse período, sob a égide dos tucanos, São Paulo conseguiu reduzir em 62% a sua taxa de homicídios, que caiu de 39,7 em 1998 (três anos depois de Mário Covas assumir o governo), para 15,1 em 2012, fazendo o Estado deixar de ser o 5º mais violento do País para se tornar o 26º, perdendo apenas para Santa Catarina que tem uma taxa de homicídios de 12,8, a menor do País, mais ainda assim acima dos índices de países desenvolvidos.

Tabela mostra o crescimento das taxas de homicídio de 2002 a 2012, em que Goiás aparece na nona posição
O escabroso caso das estatísticas do Rio
O Rio de Janeiro teve a segunda maior queda na taxa de homicídios, que foi reduzida em 48%, saindo do 3º lugar (com 55,3) para o 18º lugar (com 28,3). O problema é que as estatísticas de criminalidade do Rio não são nada confiáveis. Chegam a ser um caso de polícia. Em 2009, quando o então governador Sérgio Cabral (PMDB) estava no ápice de sua lua-de-mel com Lula e o PT elogiava as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que oficializam o crime, tratando bandido como força legítima, o Rio de Janeiro contabilizou 4.198 homicídios nas estatísticas oficiais ao mesmo tempo em que apresentou 5.647 mortes violentas sem causas conhecidas. Nunca antes na história deste País houve um caso tão grave de maquiagem de estatísticas. Creio que, num país sério, Sergio Cabral perderia o mandato.

As evidências levam a crer que as estatísticas de criminalidade do Rio de Janeiro foram deliberadamente maquiadas durante o governo Sérgio Cabral para fazer de conta que as Unidades de Polícia Pa­ci­fi­ca­dora foram bem-sucedidas, quando, na verdade, elas nunca passaram de um pacto oficial com o crime aprovado pela ideologia da esquerda. Se­não vejamos: em 2006, último ano do governo de Rosinha Garotinho, as estatísticas oficiais computaram 1.676 casos de mortes sem causas especificadas no Rio. Um número tão expressivo de mortes sem causas conhecidas num Estado altamente urbano, geograficamente pequeno e que integra a rota do turismo internacional já é, em si, um escândalo. Qualquer governante teria que trabalhar para reduzir esse índice. Mas pasmem: em 2007, no primeiro ano do governo Sérgio Cabral, as mortes sem causas especificadas saltaram para 3.191 casos, um aumento de 90,3%; e, em 2009, aumentaram para 5.647, um aumento de 236,9% em relação ao último ano do governo anterior.

Por acaso, entre o ano de 2007 e o ano de 2009, o Rio de Janeiro foi ví­tima de um terremoto, um furacão, um vulcão, um tsunami, uma epidemia, uma bomba atômica, que destruiu seus centros de estatísticas e comprometeu sua rede de saúde, impedindo os médicos legistas de examinarem os defuntos em busca da “causa mortis”, fazendo com que um inadmissível número de 5.647 cadáveres – 34,5% a mais do que o próprio número de homicídios computados – fossem enterrados sem a devida descoberta do que motivou sua morte? É um escândalo que a imprensa não tenha cobrado do governo do Rio – com insistência e indignação – uma justificativa para esse descalabro estatístico, que, obviamente, não tem explicação a não ser o desejo de falsificar o número de homicídios. A imprensa chegou a noticiar o fato na época, a partir da descoberta dessas distorções por um técnico do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mas nunca tratou o caso com a indignação que sua extrema gravidade exigia.

Tabela mostra o número de homicídios de 2002 a 2012, com destaque para queda expressiva dos homicídios em São Paulo
Prisões viraram “Esquenta” das periferias

Esse caso do Rio de Janeiro mostra que a segurança pública no Brasil – a partir da redemocratização do País e especialmente com a promulgação da Constituição de 88 – vem sendo tratada sob o viés da ideologia marxista, sob a influência de pensadores como o historiador Eric Hobsbawm, estudioso dos chamados “rebeldes primitivos” e dos “bandidos sociais”, como o cangaceiro Lampião, e, sobretudo, sob a ótica do onipresente Michel Foucault, cujo pensamento passou a ditar todas as principais políticas públicas do Estado brasileiro em áreas vitais como educação, saúde e segurança pública. E é justamente o predomínio do pensamento de esquerda na área de segurança pública que fez os índices de criminalidade do País chegarem a níveis estratosféricos. Não é o único fator, obviamente, mas é o grande diferencial das últimas décadas.

Esse fenômeno tornou-se ainda mais intenso com a chegada ao poder do consórcio tucano-petista de destruição moral da nação, que governa o Brasil há 20 anos e adota todas as políticas nefastas da ONU, que, a pretexto de edificar o “ho­mem novo”, sacrifica o homem real no altar de nocivas leis revolucionárias, como o malfadado Esta­tuto da Criança e do Adolescente, verdadeira incubadora da criminalidade juvenil. A eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, levou a falaciosa política de direitos hu­manos para o âmago das políticas de segurança pública, com o afrouxamento da legislação penal e a transformação dos presídios em quartéis-generais do crime. Para­le­la­mente, teve início a legalização branca do consumo de todas as drogas, inclusive do crack, usado a céu aberto por zumbis de todas as idades, que recebem forte subsídio estatal, contribuindo para aumentar absurdamente a criminalidade.

Por isso, o aumento da violência no País desconhece as fronteiras geográficas dos Estados e independe da competência ou incompetência dos governos locais. O principal insumo da criminalidade é o próprio sistema de Justiça brasileiro, que prioriza supostos direitos dos bandidos em detrimento da sobrevivência do cidadão de bem. Como tenho escrito exaustivamente, as penitenciárias se tornaram verdadeiros centros de convivência entre bandido e sociedade, funcionando nos finais de semana como um “Esquenta” das periferias, daí a capacidade do crime organizado em governar favelas, matar policiais e determinar queima de ônibus na hora que lhe dá na telha.
Oposição não descobriu segurança
O poder do crime organizado atinge níveis insuportáveis em todos os Estados brasileiros. Do Rio Grande do Sul ao Amazonas, passando por Goiás e Santa Catarina, os bandidos presos mandam e desmandam nas cadeias, ordenando matanças, roubos, sequestros e extorsões contra a população indefesa. Mesmo quando trancafiados em presídios de segurança máxima, os bandidos gargalham na cara das autoridades, inclusive do Ministério Público e do Judiciário, que se limitam a monitorar seus crimes durante meses, esquecendo-se que esses facínoras nem deveriam es­tar praticando novos crimes, uma vez que já estão presos. Até Santa Catarina, o Estado com o menor índice de homicídios do País, não está livre do imenso po­der dos bandidos presos. Prova dis­so é que, em novembro de 2012, eles aterrorizaram o Estado com mais de 60 queimas de ônibus e, em fevereiro de 2013, mandaram queimar mais uns 40 veículos.

Quanto mais um governo aceita e aplica essa política nefanda de direitos humanos, exacerbada pela interpretação equivocada que o Supremo faz da Constituição de 88, mais aumenta a criminalidade no País. É justamente o caso de Goiás. Se o Estado é, hoje, o quarto mais violento do Brasil, um dos fatores, ainda que não o único, é justamente o fato de que a política de segurança pública do governo tucano ser marcadamente voltado para a promoção dos direitos humanos dos presos, o que, na prática, significa dar a eles o controle das chaves da cadeia.

Para fazer bonito diante do Ministério Público, do Judiciário, da OAB e dos intelectuais universitários, governos estaduais, a pretexto de humanizar os presídios, aplicam cegamente a política esquerdista de transformação dos bandidos em vítimas da sociedade e chegaram a acabar com a revista íntima das visitas dos presos, mesmo não dispondo de outro meio para impedir a entrada de celulares nos presídios. Normal­mente esses aparelhos são transportados nas vaginas das mães, esposas, irmãs e amásias dos bandidos, que, todo santo final de semana, por medo, falta de vergonha ou as duas coisas juntas, transformam as cadeias em feiras livres, servindo de repasto nas celas para assassinos, estupradores e ladrões, muitos deles merecedores de cadeira elétrica e não de motel público pago pelo contribuinte.

É impossível não haver au­mento da criminalidade se os próprios presídios perderam sua função primordial de combater o crime, excluindo o criminoso da so­ciedade, e as autoridades se ar­voram a reeducar o bandido, oficialmente transformado em “reeducando” pela lei, num verdadeiro escárnio contra o conceito de educação. Infelizmente, é impossível mudar essa realidade no âmbito dos Estados, pois ela depende de uma mudança de mentalidade no País, envolvendo não só o Con­gres­so Nacional (o órgão mais receptivo aos anseios da sociedade, pois depende do voto direto), mas também o Ministério Público e o Judiciário, hoje fortemente in­flu­enciados pelas ideias de esquerda.

Se Aécio Neves, como principal candidato da oposição, não acordar para essa realidade e não transformar a segurança pública em sua principal bandeira de campanha, defendendo a redução da maioridade penal e o fim das regalias para os presos, seu governo, caso eleito, será como o de Goiás: tucano, mas com uma segurança pública petista – para a amargura da nação e a felicidade geral dos bandidos.
Por: José Maria e Silva é sociólgo e jornalista.  Publicado no Jornal Opção.