quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

CREDIBILIDADE: CREDENCIAL PARA SER CHEFE


O caminho para uma chefia se inicia no primeiro minuto do primeiro dia do primeiro emprego. Vamos então começar com uma palavra que acompanhará uma carreira do princípio ao fim, não importe quantos anos a carreira irá durar:credibilidade. 

O grau de sucesso de um profissional depende diretamente de quanto as pessoas acreditam nele. As carreiras empacam no exato ponto em que colegas ou superiores perdem essa confiança.

Mas é importante não confundir credibilidade apenas com sinceridade. Ser sincero é um dos pilares que sustentam a credibilidade, mas não é o único. Há outros dois. 

O segundo é o pilar do conhecimento. É preciso que você demonstre que possui plenas condições técnicas para fazer o seu trabalho. E isso significa nunca deixar de estudar, de aprender, de se atualizar e se aperfeiçoar.

E o terceiro pilar é o da execução. O profissional adquire credibilidade ao fazer mais do que se espera dele, termos de tempo e de objetivos. Essa capacidade, de executar bem, é o que faz a fama de profissionais que dão a impressão de serem capazes de resolver qualquer problema que lhes for passado, e sem a necessidade de cobranças superiores durante o processo.

Finalmente, é bom ter em mente que ser um profissional com credibilidade não significa que todo mundo irá concordar com ele o tempo todo. E no início da carreira, pode ser que bem poucas pessoas estejam dispostas, sequer, a escutá-lo. Por isso, e para começar a merecer a confiança geral, ele deve começar prestando muita atenção ao terceiro pilar, o da execução, porque é o mais fácil de ser avaliado com dados concretos.
Max Gehringer, para CBN, 05/02/2015.

LUIZ CARLOS MOLION DESFAZ MITOS "VERDES" SOBRE CAUSAS DA SECA


O professor Luiz Carlos Molion, dispensa apresentação. Ele representa a América Latina na Organização Meteorológica Mundial, é pós-doutor em meteorologia, membro do Instituto de Estudos Avançados de Berlim, e leciona na Universidade Federal de Alagoas.

Em palestra que ministrou no dia 19 de dezembro aos produtores da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), o climatologista fez uma previsão de chuvas para os próximos anos.

E mais uma vez refutou a hipótese de as mudanças climáticas e o aquecimento global serem frutos da ação agrícola e industrial, segundo divulgou o site da Correpar. O renomeado climatologista utilizou dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), e mostrou 2014 choveu cerca de 70% da média prevista de 1.400 mm.

Molion defende que a atribuição da seca à ação humana sobre o meio ambiente, especialmente o desmatamento na Amazônia é um mito. “Coisa de ‘ambientalista extremista’”, afirmou. O climatologista desmistificou a importância do desmatamento da Amazônia discorrendo sobre a linha do tempo da metade do século XX até agora, onde foram registrados volumes baixíssimos de chuvas nas décadas de 50 e 60. Segundo Molion, as mesmas tendências se repetem de décadas em décadas.

Em São Paulo, há registros de seca no final do século XIX e no início do século XX, nos anos 30. Por esse motivo, é possível afirmar que não é o homem com suas atividades agrícolas e industriais o responsável pelas grandes mudanças climáticas no planeta. Até mesmo pelo fato de a porção de terra, onde habitamos, representar apenas 29% da massa no planeta, enquanto os oceanos representam 71%. 

A diminuição das chuvas coincide com o período em que o oceano Pacífico esfria ou fica "neutro". Os pluviômetros localizados apontam que há um ciclo de chuvas que dura de 50 a 60 anos.

A cada 25/30 anos chove bem, e nos próximos 25/30 anos chove pouco.

Algumas regiões do país estão passando por um período semelhante ao que houve entre os anos de 1948 e 1976, com menos dias de chuva no ano, e dias mais frios.

Entre os anos de 2015 a 2020, as chuvas estarão abaixo da média de longo prazo, ou seja, a média dos últimos 60 anos.

O que determina as variações climáticas da Terra é justamente a variação cíclica dos oceanos. Esses representam a maior parte da massa do planeta, absorvem bastante luz solar e controlam as chuvas. Quando a temperatura dos oceanos esfria, a atmosfera também esfria, porque é aquecida ou esfriada por baixo. Os oceanos esfriando, evaporam menos água e chove menos. O processo contrário, o aquecimento dos oceanos e em consequência da atmosfera, provoca mais chuvas.

O Pacífico ocupa 33% da superfície da Terra, e por isso exerce grande influência climática nos continentes lindeiros. Quando ele aquece, surge o fenômeno chamado de “El Niño” que traz muitas chuvas para o sul e o sudeste do Brasil. “La Niña” é o processo oposto. Mas, quando o oceano está neutro, não se tem previsão do que pode acontecer. E isso é o que está acontecendo: o Pacífico está neutro desde 2012.

Para analisar as variações climáticas, cerca de 70 boias estão espalhadas pelos mares no mundo todo, e medem as temperaturas das águas em até 1.000 metros de profundidade. Além disso, avançados softwares e computadores também estão dedicados às medições climáticas.

Segundo Molion, o período de chuvas ficará um pouco abaixo da média, e será vantajoso para o café, que não necessita de muita umidade.

Porém, é necessário tomar cuidado com os dias mais secos e frios que estão por vir no meio deste ano.

Tudo isso é bom senso e nada tem a ver com os exageros do aquecimentismo radical, que não pensa na natureza e nos homens, mas tem objetivos ideológicos contrários ao progresso do Brasil e da civilização, observamos nós.
Por: Luis Dufaur edita o blog Verde, a cor nova do comunismo.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O LADO OCULTO DA LUA

Blefe: 1. Mostrar falsamente confiança ou agressividade para enganar ou intimidar alguém. 2. Mostrar agressivamente os dentes como meio de intimidar outro animal.

- The Free Dictionary

Chantagem nuclear é uma modalidade de estratégia nuclear em que um agressor usa a ameaça do uso de armas nucleares para forçar um adversário a tomar alguma atitude ou fazer algumas concessões. É um tipo de extorsão.
- Wikipédia

Durante a Conferência de Segurança de Munique na sexta-feira, o ministro da Defesa da Grã-Bretanha, Michael Fallon, falou à Reuters sobre um triplo problema. Primeiro ele disse que os russos “podem ter baixado o limiar [de tolerância]” para o uso de armas nucleares. Em segundo lugar, disse que os russos estão “integrando forças convencionais e nucleares de maneira bastante ameaçadora...”. E em terceiro, “em tempo de pressão fiscal eles continuam a gastar na modernização das forças nucleares”. (v. a matéria em inglês UKb concerned over ‘threatening’ Russian nuclear strategy.)

A manchete do Guardian na sexta-feira mostrou uma imagem do presidente russo Vladimir Putin com a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente François Hollande da França. A manchete é “Temor a Vladimir Putin nas capitais da UE diante do fantasma da‘guerra total’”, que inclui um perturbador comentário de um diplomata da UE em Bruxelas dizendo que armar a Ucrânia pode significar o desencadeamento de uma guerra com a Rússia, e a Rússia está fadada a ganhar a guerra.

Eis nosso destino: viajamos uma longa estrada acreditando nas mentiras russas, e agora chegamos. Ajudamos os russos a atingir um novo patamar de supremacia. Ajudamos eles a dar todos os passos para esse caminho. Acreditamos na perestroika e na glasnost. Lisonjeamo-nos ao alegar vitória na Guerra Fria. Mordemos a isca do 11 de setembro e caímos no ataque diversionista dos islâmicos e aqui estamos: incapazes de se opor à Rússia e (como logo veremos) aos chineses. Acerca desse assunto o desertor Anatoliy Golitsyn já nos alertou em 1984 com o livro New Lies for Old [As novas mentiras pelas velhas]:

A estratégia da tesoura daria lugar à estratégia “de um só punho fechado”. Nesse ponto, a mudança na balança político-militar seria evidente para todos. A convergência não se daria entre dois lados iguais, mas conforme os termos ditados pelo bloco comunista. O argumento a favor da acomodação com a força esmagadora e irresistível do comunismo, tornar-se-ia virtualmente irrespondível. Cresceriam as pressões por mudanças no sistema político e econômico americano... Conservadores tradicionais seriam isolados e levados ao extremismo. Eles podem se tornar as vítimas de um novo “macartismo” de esquerda.

T.S. Elliot outrora escreveu sobre a União Soviética em um prefácio para um livro anonimamente escrito cujo título é O lado oculto da lua. O livro é sobre a Polônia oriental sob ocupação soviética após 17 de setembro de 1939. Os invasores russos sujeitaram os civis poloneses a deportações e execuções em massa e confisco de propriedades. Tudo isso esteve escondido sob a face mais visível que era Adolf Hitler, cuja invasão à Polônia no dia 1 de setembro de 1939 havia tido maior repercussão. Da mesma maneira, terroristas árabes começaram uma guerra mais famosa no dia 11/09/2001. Após esse fato, deixamos totalmente de estar a par de quê a Rússia estava fazendo. De novo foi um caso de “o lado oculto da lua”.

É interessante agora ver como a história se repete (e por que ela não deveria se repetir?). Especialmente se tratando de estratégias que podem ser usadas de novo e de novo, sem que ninguém perceba. Fomos manipulados em 1939-45 e fomos manipulados no período 2001-2014. Evidentemente isso não significa que Hitler ou Bin Laden fossem os mocinhos. Apenas nos permitimos gastar todas nossas energias em combater o inimigo menor e perdemos totalmente a noção de quem é o inimigo maior. Pior: esse inimigo maior manipulou-nos de maneiras que são vergonhosas demais para se permitir. De novo fizemos vistas grossas para os preparativos russos que visavam tomar a Europa; isto é, preparativos para tomar vantagem total da nossa distração.

Ano passado Moscou tomou uma parte da Criméia ucraniana. Hoje a batalha se intensifica pelo controle do leste e do sul da Ucrânia. Enquanto as tropas da OTAN chegam de maneira cautelosa em relação à Rússia, há preocupações de que não tenhamos forças suficientes, especialmente se os russos resolverem usar suas armas nucleares táticas. Essas pequenas (porém poderosas) armas mudam qualquer cenário de combate. Uma força convencional sem artilharia nuclear tática não pode com uma força que possui tal artilharia. Esse é um fato que o Ministro da Defesa da Grã-Bretanha observou e que o obrigou a acalmar o empenho dos líderes europeus [em combater os russos].

Enquanto isso na Rússia, propagandas antiamericanas e anti-OTAN seguem um padrão pré-guerra que visa “preparar a opinião pública” para a guerra. Culpam os americanos pela luta em Donbas. Culpam os americanos de tentarem destruir a Rússia. No final das contas, foram as maquinações americanas que derrubaram o presidente legalmente eleito Victor Yanukovych [segundo propagandas]. A ideia tomou tal popularidade, que até mesmo o famoso George Freeman da STRATFOR disse que a derrubada de Yanukovych foi o “mais flagrante golpe da história”. George, pelo visto, jamais entendeu os eventos da ex-União Soviética, tampouco ele entende a situação de Washington. Pergunte a si mesmo honestamente: Obama é um imperialista determinado a destruir a Rússia?

Dificilmente pode-se pensar na ideia de Obama conseguindo fazer algo como derrubar um governo estrangeiro. Isso é risível quando nos damos conta que o número de agentes russos na Ucrânia deve estar na casa dos milhares. E o que a CIA tem na Ucrânia? Talvez eles tenham uns cinquenta agentes, ou talvez uns 200 se você contar os falsos agentes-duplos russos. Por favor, não sejamos tão ignorantes ao ponto de nos equivocar acerca da natureza da realidade ucraniana pós-soviética e o quanto a CIA deve estar em desvantagem em todo o território “outrora” soviético.

Quando observamos o comportamento atual da dita “junta” de Kiev, vemos que eles, não obstante, agem de maneira que corriqueiramente beneficia a Rússia e não a Ucrânia — e menos ainda os Estados Unidos. Com efeito, pode-se pegar uma publicação como a Veterans for Peace e constatar que os perversos vilões corporativos da Monsanto estão tomando a área rural de cultivo da Ucrânia (ou algo do tipo). Pode-se até basear sua análise — como fez Eugene Chausovsky na STRATFOR — na opinião ‘especializada’ de três mecânicos de etnia russa que conheceu numa viagem à noite de trem de Sevastopol para Kiev. “Eles consideraram terroristas os manifestantes acampados na praça central de Kiev [...] completamente organizados e financiados pelos Estados Unidos e pela União Europeia” disse Chausovsky.

E o que devemos dizer da garota ucraniana que, um ano atrás, clamou por ajuda para libertar seu país? “Quero que você saiba porque, disse ela,milhares de pessoas por todo meu país estão nas ruas. Há apenas um motivo. Queremos nos livrar da ditadura... Somos pessoas civilizadas... não uma União Soviética. Queremos que nossas cortes não sejam corruptas. Queremos ser livres.”

Isso é tão difícil de acreditar?

“Sei que amanhã talvez não tenhamos telefone ou internet, e assim ficaremos sozinhos aqui, explicou a garota ucraniana. E talvez policiais nos assassinem aos montes quando estiver escuro. É por isso que eu peço que nos ajudem agora. Temos essa liberdade no coração... Você pode nos ajudar compartilhando isso com seus amigos... Mostre que você nos apoia.”

Evidentemente há muitos ucranianos do leste e do sul que não compartilham de tais sentimentos. No leste da Ucrânia as mentiras russas foram aceitas por medo do desconhecido e de um deturpado orgulho étnico. Obviamente os estrategistas russos não estão de folga na Ucrânia. Os agentes de Moscou têm estado muito ocupado desacreditando aqueles que querem verdadeira liberdade. Ao chamar os manifestantes de Kiev de “nazis” e dizendo que o objetivo deles era matar os de etnia russa, constatamos a desonestidade do “outro” lado. Precisa-se apenas de um momento de reflexão para perceber que não há como existir um movimento na Ucrânia que vise matar pessoas de etnia russa. Na verdade, a diferença entre ucranianos e russos é tão desprezível que tal campanha seria impraticável, senão risível.

A América estava enviando bilhões para ajudar os ucranianos a ganharem sua liberdade? Pode até ser verdade, embora a origem do dinheiro do Ocidente não seja invariavelmente os ‘perversos malfeitores’ da CIA. Muitos no Ocidente preferem uma economia ucraniana livre dos grilhões pós-soviéticos. Muitos querem ver verdadeira liberdade em todos os países do mundo. Contudo, encontramos esse entusiasmo na Casa Branca de Obama? Na verdade, podemos duvidar que a Casa Branca queira qualquer problema com a Rússia. Obama não odeia a Rússia. Ele não faz uma pressão por um enorme rearmamento. Ele nunca foi particularmente resiliente na causa da liberdade dos povos russo e ucraniano. A CIA também não teve um retrospecto positivo operando nessa parte do mundo. Seja quanto for que os milionários deram ou sejam quais forem os conselhos que os diplomatas deram para a Euromaidan, foi tudo de coração (i.e., daqueles que quiseram algo de bom para o povo ucraniano). Entretanto, podemos admitir que essas pessoas generosas nunca entenderam a verdadeira situação na Ucrânia, pois eles provavelmente não entenderam que Moscou sempre viu como ficção uma Ucrânia “independente”. Como explicou David Remnick, “Na cabeça de Putin, a Ucrânia não é uma nação...”, ou como disse Putin a Bush, “Você tem de entender, George. A Ucrânia sequer é um país.”

Esse é um ponto de vista que encontramos até mesmo na obra de Aleksandr Solzehnitsyn. Por outro lado, se você perguntar a um ucraniano do oeste, receberá uma resposta completamente diferente, pois dinheiro nenhum pode comprar essa resposta. Nenhum círculo de conspiradores em Langley ou no porão da Casa Branca poderia evocar essa resposta nas ruas de Kiev. Com efeito, esse movimento foi orgânico na Ucrânia. Não é um produto do dinheiro americano, mesmo que ele tenha sido usado. Declarar que o sentimento ucraniano tem algo de mercenário é mais que ignorância; envolve um cinismo cego e uma prontidão a acreditar nas novas mentiras russas. Peço que o leitor lembre que a América é signatária do Memorando de Budapeste e, portanto, está obrigada a defender a independência nacional da Ucrânia.

Considere também o rotineiro suborno dos oficiais ucranianos pela Gazprom e pelas velhas estruturas da KGB. Quantos milhões foram gastos para comprar políticos em Kiev? Quanto veneno foi usado para destruir aqueles políticos que se recusaram a receber suborno? Em relação a esse assunto: foram os americanos que derrubaram Yanukovych ou foi o Kremlin que derrubou e sequestrou-o porque ele não era o poodle que os russos imaginaram ser? Coloquemos as coisas no devido lugar. Fiquemos de olho em Julia Tymoshenko e seus cúmplices (cujos rastros levam à Gazprom). Dificilmente seria justo dizer, em última análise, que a revolta na Ucrânia foi o resultado de interferência americana. Foi o resultado de décadas de confusão provocada pelos agentes secretos russos e pelas estruturas secretas soviéticas, além de décadas de economia controlada e capitalismo de compadres.

Para se adquirir verdadeiro conhecimento da situação na Ucrânia, é necessário primeiro conhecer algo da história russa e algo da Chechênia (e sobre os primeiros eventos acontecidos na Iugoslávia). A dissolução de um país e a divisão do seu território em dois ou mais campos hostis é uma velha técnica que vem bem a calhar [para alguns]. Os britânicos usaram para governar a Índia. Os russos agora empregam o método para vencer a Ucrânia. Mas não se trata de um simples jogo de “dividir e conquistar”. É muito mais complexo e envolve outros jogos de regiões distantes da Terra. A questão trata-se também de dividir a Europa — especialmente dividir a OTAN. Deixe que tremam alemães, franceses e italianos perante o que a Rússia está preparando. Deixe que eles rompam com os americanos. Deixem que eles tracem o próprio caminho e façam seus próprios acordos. [É disso que se trata.]

Então veja e aprenda no que consiste estratégia. Ela não é simples ou óbvia no começo. Só no fim do jogo que as primeiras jogadas são entendidas. Também é importante que se olhe para outros países do mapa, como a Síria.

Da Ucrânia para a Síria
Marius Laurinavicius é analista sênior no Eastern Europe Studies Center em Vilnius, Lituânia, e sua obra merece atenção especial. No último mês ele escreveu um artigo intitulado “A Rússia de Putin: Vestígios da KGB, FSB e GRU levam ao Estado Islâmico?”. Nele são estabelecidos fatos suspeitos sobre o movimento de ressurgimento wahhabista (islâmico) na União Soviética. O autor nos provê com insights importantes sobre a relação entre Estado Islâmico (EI) e KGB/GRU, incluindo seus objetivos estratégicos; constata-se então que o movimento é uma criação da KGB, modelada nos falsos movimentos anticomunistas de outros tempos e lugares. Assim como na Operação Trust dos anos 1920, os anos 1970 (até os anos 1990) viram a criação de organizações de fachada antissoviéticas controladas pela própria KGB. Elas iam desde a Carta 77 na Tchecoslováquia até o Partido Liberal Democrático da Rússia criado por Vladimir Zhirinovsky.

Criar falsos movimentos de oposição na Rússia é uma jogada antiga. É de se esperar que Moscou criaria um ou mais fronts islâmicos controlados pela KGB. Esses fronts mostraram-se especialmente úteis a Moscou, especialmente se tratando do álibi checheno em 1999 e na situação da Síria atual.

De acordo com Laurinavicius, o EI é parte do plano moscovita. Ele cita detalhadamente uma entrevista feita em 4 de junho de 2013 com Akhmed Khalidovich Zakayev, ex-Primeiro Ministro checheno. Nessa entrevista ficamos sabendo de líderes islâmicos voltando à vida (Dokka Umarov), agentes duplos e complexas provocações. Também ficamos sabendo de islâmicos controlados pela KGB aparecendo na Síria sob a bandeira do Estado Islâmico. Alguém pode perguntar o que isso significa; Zakayev coloca a estratégia de Moscou em perspectiva com a seguinte pergunta: “Você pode imaginar em que posição os líderes ocidentais que tomaram a decisão de suspender o embargo de armas à oposição de Assad ficarão?” Subitamente, terroristas piores ainda aparecem na Síria minando efetivamente a oposição ocidental ao regime de Assad (que por sua vez é controlado pela Rússia).

O entrevistador de Zakayev, supondo que isso fosse uma paranóica teoria da conspiração, perguntou incredulamente se Dokka Umarov estava realmente conectado com os serviços especiais russos. Zakayev respondeu: “Dissemos isso tantas vezes. Em 2007, Umarov declarou guerra à América, Grã-Bretanha e Israel. Antes dessa afirmação Dokka estava sob custódia dos serviços especiais russos, porém foi solto por algum milagre... Umarov está totalmente sob comando dos serviços russos.”

Como explica Laurinavicius em seu artigo, Umarov não emergiu como o aparente líder do EI na Síria. Omar al-Shishani (também conhecido por Tarkhan Batirashvili) era o homem da vez, embora al-Shishani admita que ele tenha vindo à Síria sob ordens de Umarov. Laurinavicius também mostra os antecedentes de Shishani. O homem não era um mero soldado da Georgia que estava combatendo os russos, mas sim um agente terrorista provocador que na verdade estava ajudando os russos a justificar a anexação da Abecásia. De acordo com o pai ortodoxo cristão de al-Shishani/Batirashvili, Tarkhan não foi à Síria por causa de religião, ele apenas quer ganhar dinheiro.

O artigo anterior de Laurinavicius, “A Rússia de Putin: Porque vale a pena reconsiderar as ligações entre o Kremlin e o terrorismo internacional”, também provê informações importantes.

Assim como a Lua, a Rússia tem a face que todos veem e um lado oculto. Hoje em dia essa face não é comunista. Ela finge ser conservadora, talvez nacionalista, e até mesmo pró-cristã. Enquanto isso, o lado oculto da Rússia não é visto. Os princípios que governam a Rússia são negados; eles continuam ocultos e obscurecidos. Resta-nos deduzir esse lado oculto perante alguns fatos a se considerar.

Se quisermos entender a chantagem nuclear que está a se desenrolar na Europa, a sabotagem política ou o terrorismo que vem sendo uma constante desde o começo do século, então precisamos olhar para o lado oculto da Rússia. Lá encontraremos respostas.
Por: Jeffrey Nyquist  http://jrnyquist.com  Tradução: Leonildo Trombela Junior


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

NÃO É MUNIQUE, MAS É VIENA

Amanhã, se tudo der certo, cessa o ruído da artilharia no leste da Ucrânia. O acordo de cessar-fogo, assinado em Minsk (Belarus), está sendo descrito em círculos ultranacionalistas ucranianos como o Munique do século 21. Não é Munique 1938, longe disso, mas seu espírito guarda semelhança com Viena 1955. Alemanha e França, os padrinhos do acordo, inclinaram-se à exigência fundamental de Vladimir Putin e aceitaram traçar uma linha vermelha no mapa da Europa Central. A soberania da Ucrânia tem, agora, um limite oficial, sancionado pela União Europeia.


Munique é o nome da traição das potências europeias: o sacrifício da Tchecoslováquia no altar do apaziguamento de Hitler. Putin reproduz um fragmento do discurso hitlerista, vestindo sua razão geopolítica nos trajes elegantes da proteção dos russos étnicos "onde quer que estejam" –mas o paralelo circunscreve-se a isso. A Ucrânia não foi entregue à Grande Rússia: desde a revolução popular da praça Maidan, Kiev tem um governo pró-europeu e visceralmente anti-russo. A chave da interpretação do cessar-fogo é Viena, um modelo mencionado, entre sussurros, em Berlim, Paris e Moscou.

Na Conferência de Potsdam (1945), como a Alemanha, a Áustria foi repartida em quatro zonas de ocupação. Contudo, desviando-se do caminho seguido pelos social-democratas da zona soviética de ocupação no leste alemão, a social-democracia austríaca rejeitou união com os comunistas, um gesto que asseguraria a unidade territorial da Áustria. Em 1955, um tratado firmado em Viena encerrou o regime de ocupação e garantiu a independência austríaca. A moeda de troca, exigida por Moscou, foi a neutralização do país, consagrada constitucionalmente. Durante toda a Guerra Fria, a Áustria permaneceu à margem da Comunidade Europeia. Até hoje, ela não faz parte da OTAN. Putin almeja um estatuto similar para a Ucrânia.

O governo de Kiev sonha com um acordo final de autonomia limitada para o leste ucraniano e o controle sobre a fronteira com a Rússia. Os separatistas sonham com a independência, seguida pela incorporação à Rússia. Putin pretende evitar qualquer uma dessas soluções. Sua estratégia é perenizar a tensão, congelando em estado de latência o conflito no leste ucraniano, nos moldes aplicados à Geórgia. Por essa via, o czar pós-comunista forçaria o desenlace final: uma Ucrânia neutra por força de lei.

Um ano atrás, na praça Maidan, políticos americanos e altas autoridades europeias prometeram o apoio do Ocidente ao exercício soberano da vontade popular. A Ucrânia, disseram a milhões de manifestantes, teria seu lugar no concerto de uma Europa que não mais se move segundo a lógica das esferas de influência. Minsk é a prova de que falar não custa nada. Putin anexou a Crimeia e fabricou uma guerra separatista nas regiões povoadas por russos étnicos no leste ucraniano. Diante das sanções ocidentais, dobrou a aposta, suprindo os rebeldes com armas pesadas e deslocando forças especiais para o outro lado da fronteira. Na sua visão de mundo, Kiev vale muito mais que uma longa recessão.

O repto russo cindiu o Ocidente. Barack Obama evoluiu da hesitação para o umbral da decisão de equipar o exército ucraniano, na crença de que o espectro da escalada militar provocaria o recuo de Putin. Angela Merkel e François Hollande preferiram retroceder antes, traduzindo as intenções americanas como o prelúdio de uma guerra catastrófica. Os líderes europeus engoliram a seco as palavras solenes, pronunciadas até há pouco, sobre as preciosas diferenças entre o nosso tempo e os séculos 19 e 20. Em Minsk, numa noite de garoa gelada, eles ajudaram Putin a desenhar uma linha no mapa separando a Ucrânia da União Europeia.

A neutralidade ucraniana serve a todos –menos ao povo da Ucrânia, que assiste à dissolução de uma expectativa exagerada. 2015 é 1955.
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

domingo, 22 de fevereiro de 2015

THE MASQUE OF ANARCHY

The Masque of Anarchy, de Percy Bysshe, que descreve o desfile obsceno das figuras de poder:

E muitas outras destruições atuadas
Nessa fantasmática mascarada,
Todas disfarçadas até os olhos,
Na forma de bispos, advogados, espiões ou fidalgos.

Por último veio a Anarquia: montada
Em cavalo branco, manchada de sangue;
Até os lábios lhe eram pálidos,
Como a morte no Apocalipse.

E usava uma coroa de rei;
E segurava um certo brilhante;
E, em sua testa, vi esta marca:
"EU SOU DEUS, O REI E A LEI!"

sábado, 21 de fevereiro de 2015

HUMILDADE

A humildade é uma das virtudes mais difíceis na vida. Principalmente porque está fora de moda, confundida com baixa autoestima. Somos ensinados a buscar o orgulho como autoafirmação. Nada mais distante de uma personalidade razoavelmente madura do que o orgulho.

A humildade é uma das virtudes bíblicas. O filósofo judeu Martin Buber, quando elenca em seu maravilhoso "Hasidism and Modern Man" (Prometheus Books), de 1988, as quatro principais virtudes do místico hassídico, coloca a humildade como a máxima entre elas.

O hassidismo é uma escola judaica típica do leste europeu dos séculos 18 e 19, e o termo vem da palavra hebraica "hesed", que pode ser traduzida por "piedade".

As quatro virtudes são: êxtase na contemplação ("hitlahavut"), trabalho ("avodá"), a intenção reta do coração ("kavaná") e a humildade ("shiflut"). Segundo ele, alguém que tem intimidade com D'us (no judaísmo, não se escreve o nome de Deus completo) tem gosto pelo trabalho, seja ele qual for, porque sente que ser parte do mundo é colaborar com ele.

O êxtase é o que acontece com quem vê D'us e sua piedade com frequência. O ato de contemplar D'us -a palavra "hitlahavut", em hebraico, remete ao fogo- "incendeia a alma". A intimidade com Deus leva o místico a não conseguir mentir aquilo que sente e pensa, ele diz. Daí a ideia de um coração reto.

Por fim, a humildade. As três anteriores convergem para o que Buber se refere como a consciência de que D'us carrega o mundo na palma da Sua mão, imagem comum na Bíblia hebraica (o Velho Testamento dos cristãos).

É comum personagens como Davi e Abraão usarem essa imagem ou similares para descrever a relação entre D'us e o mundo. A humildade é marca suprema da alma que se conhece sem mentir para si mesma.

A humildade também pode ser vista como grande virtude e desafio para pessoas distantes de qualquer sensibilidade religiosa, mas que têm grande sucesso na vida.

Se você é alguém que não teve sucesso na vida, dizer que é humilde é mais falta de opção do que qualquer virtude de fato. Por isso, a humildade sempre foi cobrada de grandes guerreiros e mulheres lindas.

O sucesso, seja ele físico, financeiro, intelectual ou "imaterial", sempre foi um desafio: o risco do sucesso é deformar a alma. Sobre isso, basta ver o horror que é o mundo intelectual e seu profundo desprezo (ao contrário do que querem transparecer) pelo "povo".

A chamada "segurança de si" vai melhor com a humildade do que com o self-marketing. Qualquer pessoa sabe que não se pode falar das próprias virtudes, porque o autoelogio é signo de desespero.

A humildade é o manto com o qual a alma virtuosa se cobre e esconde sua face. E isso nada tem a ver com tristeza ou falta de percepção do sucesso. A felicidade, quando verdadeira, é sempre uma forma de generosidade.

Assim como D'us esconde a sua face, segundo o hassidismo, para nos "proteger" de sua grandeza, o virtuoso esconde seu rosto "em chamas", seja ele incendiado por D'us, seja pelo sucesso, para que não saibam que ele está acima do homem comum.

Não é outro o sentido de se dizer, no cristianismo, que Jesus era um humilde. Qualquer homem comum que fosse alçado a condição de D'us seria um miserável orgulhoso.

Porém, existe um outro tipo de humildade, de que não se costuma falar muito, mas que considero tão essencial quanto o que é mais falado no mundo da filosofia moral. Trata-se da humildade da qual fala Freud. Estranho? Nem tanto. Na psicanálise, a humildade é também essencial.

O sábio de Viena dizia que se ele conseguisse levar seu paciente a trabalhar e a amar razoavelmente, estaria satisfeito como psicanalista.

Além do fato de que grande parte dos psicanalistas é tão horrorosamente orgulhosa quanto minha tribo de filósofos e afins (em alguns casos, o orgulho de alguns beira o grotesco), acho que essa fala de Freud não serve apenas para esses profissionais, mas também para os pacientes.

Muitas vezes, se concentrar em conseguir levantar de manhã e trabalhar, conseguir olhar para as pessoas à sua volta e ser generoso, pode ser o maior dos milagres na Terra.
Por: Luiz Felipe Pondé   Publicado na Folha de SP