domingo, 12 de julho de 2015

ADOLF HITLER, LEITOR

Ah, as virtudes da leitura! Não existe político ou intelectual "engagé" que, em programas de governo ou artigos de ocasião, não fale apaixonadamente sobre a importância do ato para uma vida luminosa.


Sempre tive dúvidas. Ler não é verbo desgarrado. Nem questão de quantidade. Ler é uma questão de qualidade. Não interessa que o sujeito leia muito. Interessa que ele leia o que vale a pena. Más leituras em más cabeças costumam ter efeitos trágicos.

Adolf Hitler é um caso: 70 anos atrás, o "Führer" enfiava uma bala na cabeça. A rendição da Alemanha na Segunda Guerra Mundial viria logo a seguir.

E, nas explicações convencionais sobre a emergência do "monstro", Hitler é precisamente isso: um "monstro", sem explicação humana ou racional.

Lamento discordar: Hitler é um produto perfeitamente compreensível de uma Alemanha arruinada pela Primeira Guerra –e novamente arruinada pela Grande Depressão da década de 1930.

Além disso, a instabilidade política da República de Weimar foi terreno fértil para que um demagogo talentoso e ressentido conquistasse uma nação inteira.

Mas Hitler não se explica apenas com os conhecidos fatos da história. Aquele homem pensava, escrevia e discursava daquela maneira porque era também um leitor voraz.

Timothy W. Ryback, em livro que recomendo ("A Biblioteca Esquecida de Hitler"), permite conhecer o erudito Adolf. Quando morreu em seu bunker, Hitler deixava 16 mil volumes para a posteridade. Desses 16 mil, existem hoje uns 1.200 nos Estados Unidos.

Olhando para essas obras, e sobretudo para os sublinhados e anotações dos livros que Hitler terá realmente lido, é possível compreender melhor a sua cabeça destrutiva.

Ponto prévio: enganam-se os que pensam que o nacional-socialismo, na sua imensa boçalidade, se fez à sombra das páginas complexas de Fichte, Schopenhauer ou Nietzsche.

Desses três, Hitler retirou, quando muito, uma expressão aqui, um pensamento acolá –tudo para enfeitar os seus textos com uma ilusão de conhecimento. Hitler era um leitor voraz, repito; mas era um mau leitor voraz: porque procurava no pensamento alheio argumentos, ou pseudoargumentos, que apenas reforçassem as suas lunáticas teorias.

Mas Hitler era também um mau leitor porque, resumindo uma longa história, os seus livros de eleição eram lixo puro para qualquer intelecto civilizado.

Deixando de lado o número impressionante de obras de ocultismo e espiritismo que só reforçaram a sua messiânica paranoia, a Hitler interessava sobretudo "meditações" científicas, ou pseudocientíficas, sobre a decadência da Alemanha e a contaminação –material, intelectual, rácica– de que era vítima o povo alemão.

Isso começou logo na Primeira Guerra Mundial, quando um pequeno livro sobre Berlim, da autoria de Max Osborn (ironicamente, um autor judeu), foi lido e relido pelo então cabo austríaco.

Em "Berlin", Osborn defendia uma cidade limpa de "elementos estranhos" que pudessem degradar arquitetonicamente "uma distintiva visão teutônica". O livro teve uma influência tão profunda em Hitler que, anos mais tarde, nos seus desejos grandiosos de refazer Berlim, era no livro de Osborn que o "Führer" pensava ainda.

E quem fala em corrupção arquitetônica, fala em corrupção internacionalista. O nacionalismo de Hitler encontra-se em autores românticos como Herder ou o referido Fichte?

Não, não se encontra: está antes na prosa medíocre de um Otto Dickel que, contra o fatalismo de Oswald Spengler, apelava aos instintos mais primários da nação germânica para que regenerasse o Ocidente.

Por último, a "praga judaica": como explicar essa funesta obsessão?

Com livros, sempre com livros. Não apenas com as obras infames de Stewart Chamberlain ou Henry Ford. Mas lendo –e levando a sério– os avisos de Madison Grant, um autor de terceira categoria, para quem a "raça nórdica" (ou "ariana", como Hitler preferia chamar-lhe) se deixara abastardar pelo contato com "raças inferiores". A miscigenação que ocorreu na América Latina era a prova dessa bastardia.

Nos 70 anos da morte de Hitler, escutaremos os clichês recorrentes sobre a ascensão e queda do "monstro". Mas jamais conheceremos verdadeiramente esse "monstro" se nos esquecermos da singela observação de Walter Benjamin: a biblioteca de um homem é a sua mais fiel (auto)biografia. 
Por: João pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

quinta-feira, 9 de julho de 2015

DE OLHOS BEM FECHADOS

Os seres humanos nunca suportaram demasiada realidade, dizia o poeta. A frase transformou-se em clichê. Mas os clichês existem por um motivo: normalmente, são verdadeiros.


Passaram 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. E quando o mundo lembra 1945, eu lembro 1939. Quando tudo começou.

Historiadores vários sempre disseram que as origens da Primeira Guerra Mundial eram mais difíceis de entender do que as origens da Segunda. Talvez.

Embora, no caso de 1914-1918, o conflito sempre me pareceu uma mistura óbvia de ressentimentos nacionalistas, ingenuidade bélica –e respeito sagrado pela palavra e pelos tratados defensivos firmados, típico da era aristocrática que as trincheiras enterraram de vez.

No caso da Segunda Guerra, as origens são fáceis de entender: Hitler marchou sobre a Polônia e quebrou a última ilusão dos "apaziguadores". Mas difíceis de entender são as ilusões propriamente ditas. Será possível recuar a 1933, quando Hitler se tornou chanceler alemão, e não vislumbrar o filme todo?

Falo da política interna e da política externa da Alemanha. Em relação ao primeiro quesito, os mais cegos dos cegos ainda poderiam conceder ao tirano o benefício da dúvida.

Mas, 18 meses depois de chegar ao poder, não restavam mais dúvidas: a Alemanha era uma ditadura governada por um gângster, que dizimava opositores políticos, forças paramilitares que não controlava (os "camisas castanhas" de Ernst Röhm) –e, a partir de 1935, uma máquina de perseguição aos judeus, com as Leis de Nuremberg, em que estava todo o programa antissemita do Reich.

Mas se esses eram os sinais internos, que dizer dos ensurdecedores alarmes externos?

No seu "Mein Kampf", Hitler declarava, como os jihadistas islâmicos de hoje, o que pretendia fazer com o poder que (ainda) não tinha: rasgar o Tratado de Versalhes; unir os povos germânicos sob o seu chicote; e conseguir "espaço vital" a Leste para a grandeza perdida da Alemanha.

Uma vez mais, os mais cegos dos cegos poderiam voltar a conceder o benefício da dúvida, dizendo que o livro era um delírio de juventude. Mas, a partir de 1935, também já não havia qualquer dúvida: o livro não era um delírio de juventude.

A Alemanha, rasgando o Tratado de Versalhes, rearmava-se perante o silêncio das potências europeias; em 1936, marchava sobre a Renânia; em 1938, anexava a Áustria; com o beneplácito do Reino Unido e da França, devorava a Tchecoslováquia (primeiro, a região dos sudetos; depois, o país inteiro). A Polônia era uma questão de tempo –e uma conclusão lógica. Como foi possível tapar os olhos na década de 1930?

Conheço as explicações tradicionais: a dolorosa memória das carnificinas da Primeira Guerra, que ninguém desejava repetir; a ideia de que a Alemanha poderia ser um mal necessário para controlar a influência bolchevique no continente europeu –tudo isso pode ter paralisado a Liga das Nações e os seus vetustos membros.

Mas é preciso mais que isso: uma certa covardia moral para ver a realidade exatamente como ela é. Uma recusa do literal, digamos, que consiste em negar ao inimigo as intenções claras que ele afirma e pratica.

Escusado será dizer que essa covardia e essa recusa do literal continuam. E se falei dos jihadistas radicais não foi por acaso.

Hoje, os terroristas que matam em nome do Profeta não negam os seus objetivos –e, mais que isso, dizem com todas as letras qual é o programa de festas: a submissão dos infiéis pela força da espada e a reconstrução utópica de um Califado.

Perante isso, a reação da "intelligentsia" ocidental é semelhante à reação dos "apaziguadores" da década de 1930: uns, preferem não ver ou escutar; e aqueles que escutam normalmente apagam as palavras alheias com as suas próprias palavras.

O problema é a pobreza, dizem; ou Israel; ou os Estados Unidos; ou o Ocidente; ou o rato Mickey –tudo, exceto a declaração explícita dos fanáticos de que não admitem negociação ou compromisso.

Em 1945, o mundo tinha 60 milhões de mortos para enterrar. A loucura de Hitler explica muita coisa. Mas a covardia de gente sã, ontem como hoje, explica muito mais.
Por: João pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 6 de julho de 2015

NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA

O mundo chora de horror com os mortos do Mediterrâneo: refugiados que fogem da fome e da guerra na África para chegarem ao paraíso europeu.

Difícil discordar da comoção. Mas igualmente difícil é aceitar uma história a preto e branco. Não é possível compreender o êxodo dos desesperados sem olhar para as causas que alimentam o desespero.

E olhar para essas causas, por mais que custe ao pensamento politicamente correto, é olhar para uma longa lista de países africanos que são Estados falhados, ou em vias de, apesar dos bilhões de dólares de ajuda humanitária que o Ocidente já despejou sobre eles.

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a cifra andará hoje nos US$ 29 bilhões anuais (dados de 2013). Que, tradicionalmente, não chegam a quem precisa: acabam em contas bancárias das elites corruptas que governam esses países.

Por isso pasmo com a notícia da revista "The Economist" de que a indústria da ajuda humanitária começa a optar por modelos mais exigentes na hora de largar dinheiro. "Cash on delivery", eis o termo para um objetivo bem simples: só haverá cheque se existirem resultados.

Ou, simplificando, se o Reino Unido ou fundações privadas financiam escolas ou hospitais na África, o dinheiro dependerá sempre da construção efetiva dessas escolas e hospitais. Caso contrário, boa noite e boa sorte.

Pessoalmente, a parte chocante da notícia está em saber que essas vigilâncias só recentemente passaram a fazer parte da ajuda humanitária. Mas, por outro lado, resta a consolação de saber que os complexos coloniais não poderiam durar para sempre.

*

Osama bin Laden gostava de ler Noam Chomsky e consumir pornografia. Documentos descobertos na sua casa paquistanesa permitem desvendar esses gostos íntimos do célebre terrorista. E, por meio deles, conhecer melhor a natureza do radicalismo islamita.

Sayyid Qutb (1906""1966), o grande teórico do islamismo sunita, tinha horror a mulheres gostosas (que ele conheceu na sua viagem aos Estados Unidos) e pregava continuamente a necessidade de "descontaminar" o Oriente Médio da influência ocidental.

Certo. Mas, como dizem os brasileiros, na prática a teoria é outra: sabemos hoje que os autores dos atentados de 11 de Setembro passaram a última noite das suas vidas em clubes de striptease. As 72 virgens podem ter os seus encantos, para quem gosta do gênero. Mas, pelo sim, pelo não, há momentos na vida de um homem em que a virgindade não é o primeiro quesito que a carne pede.

Mas os gostos bibliófilos de Osama permitem mostrar mais: o ódio que ele sentia pelos Estados Unidos também era alimentado por um intelectual da República americana.

O caso não é novo: como já escrevi nesta Folha, Ian Buruma e Avishai Margalit analisaram o fenômeno no livro "Ocidentalismo". O desprezo por um Ocidente decadente, materialista e desprovido de valores espirituais ou heroicos começou por ocupar a cabeça de autores como Werner Sombart ou Oswald Spengler.

Escusado será dizer que Sombart ou Spengler foram lidos com atenção por radicais islâmicos, que encontraram nas teses antiocidentais de ambos munições teóricas para as suas próprias teses.

Que Osama fosse leitor de Chomsky, eis a conclusão lógica dessa vetusta tradição islâmica antiocidental, que bebe forte no masoquismo dos próprios ocidentais.

Aliás, se Chomsky tivesse queda para o negócio, passaria a exibir nos seus livros a frase promocional: "Um dos autores favoritos de Osama bin Laden". Há direitos de autor que merecem ser respeitados.

*

Francis Fukuyama escreveu o influente ensaio "O Fim da História" há 25 anos. Tese conhecida: com a desagregação do comunismo, o mundo marcharia triunfal para o modelo político democrático-liberal.

O ensaio foi um sucesso e, alguns anos depois, dois aviões derrubavam as Torres Gêmeas de Nova York.

Agora, Fukuyama revisita o ensaio e escreve outro no "The Wall Street Journal". Para afirmar que as premissas do primeiro texto mantêm a sua validade: não há alternativa à democracia liberal. A história chegou mesmo ao fim.

Não sei se o novo ensaio de Fukuyama foi distribuído pelo pessoal do Estado Islâmico, que já domina metade da Síria e, a prazo, chegará a Bagdá. Mas alguém deveria enviar pelo correio mais essa peça de humor para divertir o pessoal.
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

domingo, 5 de julho de 2015

PARA REALMENTE GERAREM VALOR PARA A POPULAÇÃO, EMPRESAS TÊM DE TER LUCRO

A frase a seguir é atribuída ao sindicalista Samuel Gompers, o fundador da Federação Americana do Trabalho:


O pior crime contra o povo trabalhador é uma empresa que não consegue operar lucrativamente.

Talvez nem o próprio Gompers tivesse ideia da poderosa verdade encapsulada nessa sua frase. O sindicalista, já naquela época, foi capaz de perceber algo que vários progressistas de hoje ainda não entenderam: uma economia em que não há lucros é uma economia em um profundo estado de depressão.

Ainda pior, há quem genuinamente acredite que lucros denotam um comportamento suspeito, o qual deveria ser coibido pelo governo. Para muitos, "ter lucro" é uma expressão politicamente incorreta e imoral — o que aplica apenas para terceiros, é claro; aqueles que condenam o lucro não se opõem quando são eles os ganhadores.

Eis outro comentário relacionado ao assunto:

A situação econômica das empresas terá de depender diretamente dos lucros, e os lucros não poderão cumprir sua função enquanto os preços não foram libertados das amarras dos subsídios. Ao longo dos séculos, a humanidade não encontrou nenhuma mensuração mais eficaz do trabalho do que o lucro. Somente o lucro pode mensurar a quantidade e a qualidade da atividade econômica; somente o lucro nos permite relacionar os custos de produção aos resultados de maneira efetiva e inequívoca. . . . Nossa atitude de desconfiança em relação ao lucro revela uma ignorância histórica, resultado do analfabetismo econômico das pessoas...

Essas palavras foram escritas pelo economista Nikolay Shmelyov na edição de junho de 1987 do Novy Mir, o principal jornal político e literário da então União Soviética. Os soviéticos, após anos de propaganda anti-lucros e de políticas que geraram uma economia em frangalhos, estavam dando sinais de querer reverter um pouco daquele analfabetismo econômico até então vigente.

Nos EUA, quando os Peregrinos [primeiros colonos ingleses, calvinistas, que fundaram em 1620 a colônia de Plymouth, no Nordeste dos EUA] chegaram à América, eles quase morreram de fome, pois adotaram um sistema de agricultura comunal. Cada indivíduo tinha de produzir para todos e, em troca, cada um recebia uma igual fatia da produção total. Nessa total ausência de incentivos para se buscar o lucro, vários morreram de fome. 

Ao perceber esse erro, William Bradford, líder da expedição Mayflower, reorganizou os peregrinos de Massachusetts em um regime de propriedade privada sobre a terra e de liberdade na busca pelo lucro. Os incentivos criados pela propriedade privada prontamente criaram uma impressionante reviravolta econômica. Homens e mulheres passaram a produzir visando ao lucro, e o resultado foram colheitas abundantes, com as mesas sempre repletas de alimentos.

Aqueles que condenam o lucro preferem exaltar as virtudes da abnegação e do altruísmo; eles supostamente preferem exaltar a busca pela caridade. Uma preocupação afetuosa para com seus semelhantes pode ser algo belo, especialmente quando vem genuinamente do coração. Mas a realidade econômica permanece inalterada: a busca pelo lucro gerou muito mais coisas — muito mais! — do que toda a caridade do mundo.

Apenas olhe ao seu redor, neste local em que você está agora. Se você está dentro de um imóvel, observe o mobiliário à sua volta, o próprio edifício em que você está, o computador (ou o tablet ou o smartphone) que você está utilizando, a internet que está lhe permitindo acesso ao mundo, as roupas que você está utilizando. Você realmente acredita que todos esses itens surgiram e estão à sua disposição porque alguém queria perder dinheiro (ou aceitou trabalhar em troca de nada) apenas para tornar a sua vida mais confortável? Perdoe-me a sinceridade, mas você não é tão importante assim para o resto do mundo.

Tudo isso só existe e está à sua disposição porque alguém imaginou que poderia lucrar ao inventar todas essas coisas.

Pense nisso da próxima vez em que você estiver em algum almoço de domingo com a sua família. As pessoas que cultivaram o frango, a carne bovina ou a carne suína ali presentes não fizeram isso porque amavam sua família e queriam ajudar vocês. O mesmo é válido para todas as outras pessoas que produziram todos os outros alimentos do almoço: elas não acordaram cedo, trabalharam diuturnamente e se sacrificaram apenas por algum impulso caritativo. Elas fizeram isso porque queriam melhorar a vida delas próprias. E, para melhorar a vida delas próprias, elas buscaram o lucro. E, ao buscarem o lucro, elas melhoraram a sua vida e a vida da sua família.

Eis aqui uma maneira simples e leiga de entender o lucro. Imagine que você adquiriu um material que, em seu estado bruto e inalterado, vale $100. Ato contínuo, você altera essa matéria-prima, adiciona sua criatividade e sua mão-de-obra, e gera um produto final que as pessoas irão voluntariamente querer adquirir por $150. Você gerou valor para a sociedade. Você acrescentou valor para a sociedade e auferiu um lucro por causa disso. Agora, imagine que você adquire esse mesmo material, que em seu estado bruto e inalterado vale $100, altera-o à sua maneira e gera um produto final valorado em apenas $50 pelas pessoas. Você não apenas não auferiu lucro nenhum, como na realidade subtraiu riqueza da sociedade. A sociedade ficou mais pobre por sua causa. 

Como isso pode ser considerado algo virtuoso? É exatamente por isso que empresas que geram prejuízos são deletérias para uma sociedade. Elas consomem recursos e não entregam valor. Elas, na prática, subtraem valor da sociedade. Uma empresa que opera com prejuízo é uma máquina de destruição de riqueza. (O mecanismo sinalizador que orienta todas as decisões e fornece os resultados é o sistema de preços). 

E é por isso que empresas que operam continuamente com prejuízo — por mais importantes que elas sejam para o "orgulho nacional" — devem falir e ser vendidas para novos administradores mais competentes. Falências são algo extremamente positivo para uma economia, pois permitem que aqueles concorrentes mais produtivos e mais capazes tenham a oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de barganha, permitindo-os fortalecer suas operações e voltar a criar valor para a sociedade. Um governo proteger empresas falidas ou que operam com seguidos prejuízos é a maneira mais garantida de empobrecer uma economia.

No que mais, qual dessas façanhas é mais difícil de ser alcançada seguidamente: lucros ou prejuízos? Não creio ser exagero dizer que não é necessário nenhum talento especial para se alcançar prejuízos contínuos. Agora, lucrar continuamente em uma economia livre — uma economia na qual nenhuma empresa usufrui privilégios e proteções do governo —, isso sim exige talento. Com efeito, é muito difícil até mesmo ficar no zero a zero.

Economistas veem o lucro de uma maneira mais profunda. Para eles, o lucro não é um montante amorfo que sobrou após todos os custos terem sido pagos. Segundo Ludwig Von Mises:

O que possibilita o surgimento do lucro é a ação empreendedorial em um ambiente de incerteza. Um empreendedor, por natureza, tem de estar sempre estimando quais serão os preços futuros dos bens e serviços por ele produzidos. Ao estimar os preços futuros, ele irá analisar os preços atuais dos fatores de produção necessários para produzir estes bens e serviços futuros. Caso ele avalie que os preços dos fatores de produção estão baixos em relação aos possíveis preços futuros de seus bens e serviços produzidos, ele irá adquirir estes fatores de produção. Caso sua estimação se revele correta, ele auferirá lucros.

Portanto, o que permite o surgimento do lucro é o fato de que aquele empreendedor que estima quais serão os preços futuros de alguns bens e serviços de maneira mais acurada que seus concorrentes irá comprar fatores de produção a preços que, do ponto de vista do estado futuro do mercado, estão hoje muito baixos. Consequentemente, os custos totais de produção — incluindo os juros pagos sobre o capital investido — serão menores que a receita total que o empreendedor irá receber pelo seu produto final. Esta diferença é o lucro empreendedorial.

Por outro lado, o empreendedor que estimar erroneamente os preços futuros dos bens e serviços irá comprar fatores de produção a preços que, do ponto de vista do estado futuro do mercado, estão hoje muito altos. Seu custo total de produção excederá a receita total que ele irá receber pelo seu produto final. Esta diferença é o prejuízo empreendedorial.

Assim, lucros e prejuízos são gerados pelo sucesso ou pelo fracasso de se ajustar as atividades produtivas de acordo com as mais urgentes demandas dos consumidores. [...]

Lucros e prejuízos são fenômenos que só existem constantemente porque a economia está sempre em contínua mudança, o que faz com que recorrentemente surjam novas discrepâncias entre os preços dos fatores de produção e os preços dos bens e produtos por eles produzidos, e consequentemente haja a necessidade de novos ajustes. [...]

O que cria lucros e prejuízos não é o capital empregado. Ao contrário do que pensava Marx, o capital não "gera lucro". Bens de capital são objetos sem vida que, por si sós, não realizam nada. Se eles forem utilizados de acordo com uma boa ideia, haverá lucros. Se eles forem utilizados de acordo com uma ideia equivocada, haverá prejuízos ou, na melhor das hipóteses, não haverá lucros. É a decisão empreendedorial o que cria tanto lucros quanto prejuízos. É dos atos mentais, da mente do empreendedor, que os lucros se originam, essencialmente. O lucro é um produto da mente, do sucesso de se saber antecipar o estado futuro do mercado. É um fenômeno espiritual e intelectual.

Condenar qualquer lucro como sendo 'excessivo' pode levar a situações tão absurdas quanto aplaudir uma empresa que, outrora muito lucrativa, passou a desperdiçar capital e a produzir ineficientemente a custos mais altos. Esta redução na eficiência e, consequentemente, nos lucros logrou apenas fazer com que os cidadãos fossem privados de todas as vantagens que poderiam usufruir caso os bens de capital desperdiçados por esta empresa fossem disponibilizados para a produção de outros produtos.

Ao repreender alguns lucros como sendo 'excessivos' e consequentemente penalizar empreendedores eficientes com uma elevação de impostos para "compensar" os altos lucros, a sociedade está prejudicando a si própria. Tributar lucros é o equivalente a tributar quem se mostrou bem-sucedido em servir ao público.

Quando uma determinada empresa surge no mercado com um produto novo ou altamente aprimorado, satisfazendo desejos e demandas dos consumidores, os lucros que ela passa a auferir com esse produto podem, à primeira vista, parecer enormes. Só que, quanto maiores forem esses lucros, mais eles atrairão novos concorrentes [N. do T.: a menos que o governo proíba ou dificulte ao máximo, como fazem, por exemplo, as agências reguladoras no Brasil], os quais aumentarão a oferta desse produto. Ato contínuo, a maior oferta fará com que os altos lucros da empresa se evaporem. Olhando em retrospecto, torna-se evidente que os altos lucros funcionaram como um sinal enviado aos outros produtores: "Ei, olhem para cá! As pessoas realmente querem esse produto; querem mais desse produto!".

Conclusão

A hostilidade direcionada ao lucro, seja ela motivada ou pela inveja ou pela ignorância ou pela demagogia, é irracional. Ela só é aceitável quando uma determinada empresa aufere seus lucros em decorrência de suas conexões políticas com o governo (que garante a ela subsídios, ou que a protege da concorrência externa via tarifas protecionistas, ou que impede o surgimento de concorrentes via agências reguladoras).

Fora isso, em um mercado livre, lucros representam muito mais do que a saúde financeira de uma empresa: eles indicam que a empresa está utilizando recursos escassos de maneira sensata e está satisfazendo os desejos dos consumidores; indicam que a empresa está genuinamente criando valor para a sociedade e está aprimorando a qualidade de vida e o progresso.

Lucro é aquilo que todos nós buscamos quando, ao tentar melhorar nosso bem-estar, acabamos por melhorar o bem-estar de terceiros por meio de transações comerciais pacíficas e voluntárias.

Lucro não é evidência de comportamento suspeito. Comportamento suspeito, isso sim, é fazer acusações infundadas contra o lucro.

Atualmente, há no mundo um regime voltado exclusivamente para se certificar de que nenhum indivíduo esteja auferindo qualquer tipo de lucro: a Coreia do Norte marxista. Como consequência, não há nem sequer luz elétrica para a sua população.
Por: Lawrence W. Reed é o presidente da Foundation for Economic Education
Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2113

sexta-feira, 3 de julho de 2015

ATACAR O LUXO É ATACAR O FUTURO PADRÃO DE VIDA DOS MAIS POBRES

Um dos efeitos benéficos da desigualdade da riqueza existente em nossa ordem social é que ela estimula vários indivíduos a produzirem ao máximo que consigam para tentar ascender ao padrão de vida dos mais ricos. Essa foi uma das principais forças-motrizes que fez com que a humanidade enriquecesse. 


O nosso nível atual de riqueza não é um fenômeno natural ou tecnológico, independente de todas as condições sociais; é, em sua totalidade, o resultado de nossas instituições sociais. Pelo fato de a desigualdade da riqueza ser permitida em nossa ordem social, pelo fato de ela estimular a que todos produzam o máximo, é que a humanidade hoje conta com toda a riqueza anual de que dispõe para consumo. 

Fosse tal incentivo destruído, fosse a desigualdade de renda abolida, a produtividade seria de tal forma reduzida, que a fatia de riqueza média recebida por cada indivíduo seria bem menor do que aquilo que hoje recebe mesmo o mais pobre. 

A desigualdade da distribuição da renda, contudo, tem ainda uma segunda função tão importante quanto: torna possível o luxo dos ricos. 

Muitas bobagens têm sido ditas e escritas sobre o luxo. Contra o consumo dos bens de luxo tem sido posta a objeção de que é injusto que alguns gozem da enorme abundância, enquanto outros estão na penúria. Este argumento parece ter algum mérito. Mas apenas aparenta tê-lo. Pois, se demonstrarmos que o consumo de bens de luxo executa uma função útil no sistema de cooperação social, este argumento será, então, invalidado. É isto, portanto, o que procuraremos demonstrar. 

Em primeiro lugar, a defesa do consumo de luxo não deve ser feita com o argumento de que esse tipo de consumo distribui dinheiro entre as pessoas. Segundo esse argumento, se os ricos não se permitissem usufruir do luxo, o pobre não teria renda. Isto é uma bobagem, pois se não houvesse o consumo de bens de luxo, o capital e o trabalho neles empregados seriam aplicados à produção de outros bens: artigos de consumo de massa, artigos necessários, e não "supérfluos". 

Portanto, para formar um conceito correto do significado social do consumo de luxo é necessário, acima de tudo, compreender que o conceito de luxo é inteiramente relativo. 

Luxo consiste em um modo de vida de alguém que se coloca em total contraste com o da grande massa de seus contemporâneos. O conceito de luxo é, por conseguinte, essencialmente histórico. 

Muitas das coisas que nos parecem constituir necessidades hoje em dia foram, em algum momento do passado, consideradas coisas de luxo. Quando, na Idade Média, uma senhora da aristocracia bizantina, casada com um doge veneziano, em vez de utilizar seus próprios dedos para se alimentar, fazia uso de um objeto de ouro que poderia ser considerado um precursor do garfo, os venezianos o considerariam um luxo ímpio, e considerariam muito justo se essa senhora fosse acometida de uma terrível doença. Isto seria, assim supunham, uma punição bem merecida, vinda de Deus, por esta extravagância antinatural. 

Em meados do século XIX, considerava-se um luxo ter um banheiro dentro de casa, mesmo na Inglaterra. Hoje, a casa de todo trabalhador inglês, do melhor tipo, contém um. Ao final do século XIX, não havia automóveis; no início do século XX, a posse de um desses veículos era sinal de um modo de vida particularmente luxuoso. Hoje, até um operário possui o seu. Este é o curso da história econômica. 

O luxo de hoje é a necessidade de amanhã. Cada avanço, primeiro, surge como um luxo de poucos ricos, para, daí a pouco, tornar-se uma necessidade por todos julgada indispensável. O consumo de luxo dá à indústria o estímulo para descobrir e introduzir novas coisas. É um dos fatores dinâmicos da nossa economia. A ele devemos as progressivas inovações, por meio das quais o padrão de vida de todos os estratos da população se tem elevado gradativamente. 

Ainda no final do século XIX, Jean-Gabriel de Tarde (1843-1904), o grande sociólogo francês, abordou o problema da popularização dos itens de luxo. Uma inovação industrial, disse ele, adentra o mercado para atender exclusivamente às extravagâncias de uma pequena elite; porém, com tempo, passo a passo, tal produto finalmente vai se tornando uma necessidade até que, no final, se torna um item massificado e indispensável para todos. Aquilo que antes era apenas um bem supérfluo de luxo passa a ser, com o tempo, uma necessidade.

A história da tecnologia e do comércio fornece inúmeros exemplos que confirmam a tese de Tarde. No passado, havia um considerável intervalo de tempo entre o surgimento de algo até então completamente desconhecido e sua popularização no uso cotidiano. Algumas vezes, passavam-se vários séculos até que uma inovação se tornasse amplamente aceita por todos — ao menos dentro da órbita da civilização ocidental. Pense na lenta popularização do uso de garfos, sabonetes, lenços, papeis higiênicos e inúmeras outras variedades de coisas.

Desde seus primórdios, o capitalismo demonstrou uma tendência de ir encurtando esse intervalo de tempo, até ele finalmente ser eliminado quase que por completo. Tal fenômeno não é uma característica meramente acidental da produção capitalista; trata-se de algo inerente à sua própria natureza. A essência do capitalismo é a produção em larga escala para a satisfação dos desejos das massas. Sua característica distintiva é a produção em massa feita pelas grandes empresas. 

Para o grande capital, não há a opção de produzir apenas quantias limitadas de bens que irão satisfazer apenas a uma pequena elite. Quanto maior uma empresa se torna, mais rapidamente e de maneira mais massificada ela possibilita às pessoas o acesso aos novos êxitos da tecnologia.

Séculos se passaram até que o garfo deixasse de ser um utensílio utilizado apenas por homens efeminados e se transformasse em um instrumento de uso universal. Antes visto meramente como um brinquedo de ricos ociosos, o automóvel levou mais de 20 anos para se tornar um meio de transporte utilizado universalmente. Já as meias de nylon, ao menos nos EUA, se transformaram em artigo de uso diário de todas as mulheres em pouco mais de dois ou três anos após sua invenção. 

E praticamente não houve nenhum período de tempo em que o usufruto de inovações como a televisão ou produtos da indústria de comida congelada fosse restrito a uma pequena minoria.

Os discípulos de Marx sempre se mostraram muito ávidos para descrever em seus livros os "inenarráveis horrores do capitalismo", os quais, como seu mestre havia prognosticado, resultam "de maneira tão inexorável como uma lei da natureza" no progressivo empobrecimento das "massas". O preconceito anticapitalista deles impedia que percebessem o fato de que o capitalismo tende, com o auxílio da produção em larga escala, a eliminar o notável contraste que há entre o modo de vida de uma elite afortunada e o modo de vida de todo o resto da população de um país.

A maioria de nós não tem qualquer simpatia pelo rico ocioso, que passa sua vida gozando os prazeres, sem ter trabalho algum. Mas até mesmo este cumpre uma função na vida do organismo social: dá um exemplo de luxo que faz despertar, na multidão, a consciência de novas necessidades, e dá à indústria um incentivo para satisfazê-las. 

Havia um tempo em que somente os ricos podiam se dar ao luxo de visitar países estrangeiros. O poeta Friedrich Schiller nunca viu as montanhas suíças que tornou célebres em sua peça William Tell, embora fizessem fronteira com sua terra natal, situada na Suábia. Goethe não conheceu Paris, nem Viena, nem Londres. 

Hoje, milhares de pessoas viajam por toda parte e, em breve, milhões farão o mesmo. 

O abismo que separava o homem que podia viajar de carruagem e o homem que ficava em casa porque não tinha o dinheiro para a passagem foi reduzido à diferença entre viajar de avião e viajar de ônibus.

Originalmente escrito no início da década de 1950


Por: Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

quinta-feira, 2 de julho de 2015

MOSCOU E O NAZISMO INTERNACIONAL

A atual inexplicável aliança entre comunistas e nazistas na América do Sul é melhor compreendida como um jogo complexo que remonta à penetração do Terceiro Reich por agentes soviéticos durante a guerra.


Alexander Dugin, o teórico geopolítico russo e conselheiro do presidente Putin, tem dito que o século XX foi o “século da ideologia”. Foi um século no qual, como predisse Nietzsche, ideias (e ideologias) guerrearam umas contra as outras. As três facções em guerra foram, em ordem de aparição: liberalismo (da esquerda e da direita), comunismo (assim como a social-democracia) e fascismo (incluindo o nacional-socialismo de Hitler). Estas três ideologias combateram-se mutuamente até “a morte, criando, em essência, toda a dramática e sangrenta história política do século XX”. De acordo com Dugin, o liberalismo veio a vencer no final do século XX. Ainda que vitórias deste tipo raramente sejam permanentes. Na verdade, Dugin diz-nos que o liberalismo já se desintegrou na “pós-modernidade”. Dugin argumenta que, com seu foco no indivíduo, o liberalismo conduziu à globalização, e globalização significa que o homem é “libertado de sua adesão a uma comunidade” e de qualquer identidade coletiva...” Isto aconteceu porque a massa de seres humanos, “compreendida inteiramente por indivíduos, é atraída em direção à universalidade e busca tornar-se global e unificada”. Mesmo agora este ímpeto em direção à globalização coincide com a glorificação da liberdade total “e a independência do indivíduo de qualquer tipo de limite, incluindo razão, moralidade, identidade... disciplina, e assim por diante”. O resultado, diz Dugin, é o “Fim da História” de Francis Fukuyama. Mas não nos enganemos, explica Dugin. A história não termina realmente. O que realmente aconteceu, na verdade, é que a realização do triunfo do liberalismo tem sido o desastre da humanidade. É um desastre para o indivíduo, devido ao indivíduo ter perdido seu ancoradouro. É um desastre para a liberdade, porque agora estamos sob “a tirania das maiorias”. É um desastre para nossa economia, porque a espoliação é o princípio emergente do mercado. E aqueles que desejam preservar sua identidade racial, nacional ou religiosa são apontados como inimigos pelo politicamente correto tão iludido como desumano.

Aqui Dugin parece estar ecoando James Burnham, que uma vez explicou que o liberalismo era “a ideologia do suicídio do Ocidente”. O liberalismo destrói, como argumentou Joseph Schumpeter, sua própria “sustentação iliberal”. O livro de Dugin, The Fourth Political Theory (A Quarta Teoria Política), do qual a estratégia russa agora depende, é na verdade uma versão atualizada de uma velha fórmula estratégica que uma vez tomou forma sob o Pacto Molotov-Ribbentrop. É uma tentativa de reviver e combinar as ideologias fracassadas do comunismo e do fascismo para uma batalha final. Pela união de todos os comunistas e fascistas (fascistas islâmicos inclusive) no momento do mais forte impulso suicida do liberalismo, Dugin e seus chefes russos esperam construir uma coalizão global sem precedentes. Vale lembrar que Dugin não inventou esta “nova” abordagem totalitária, porque seus elementos estavam presentes no pensamento e planejamento soviético antes que Dugin nascesse. Stalin estava usando a Quarta Teoria Política em agosto de 1939, quando enviou as delegações britânica e francesa embaladas a fim de assinar um pacto com Hitler.

Relata-se que Stalin muitas vezes disse, em perfeita seriedade, “eu poderia ter conquistado o mundo com Hitler”. Por que ele disse isso? Porque os nazistas souberam como mobilizar o apoio público para sua causa e os comunistas não. O ministro da Propaganda nazista Joseph Goebells uma vez avisou que a força bruta era insuficiente. Ele disse: “é melhor fazer com que as pessoas te amem”. Esta inversão do dictum maquiavélico, de que é melhor ser temido que amado, foi a robusta adaptação nazista. O nazismo não dizia respeito apenas ao ódio. Dizia respeito também ao amor – amor ao Führer, amor à Pátria, etc... É o que fez Hitler tão perigoso. Ele podia levar pessoas a amar coisas, e morrer por coisas, e também a matar. Em 1940, quando Stalin conspirou para apunhalar Hitler pelas costas, ele cometeu o erro de subestimar os nazistas. Os desastres militares soviéticos subsequentes, que ocorreram no verão e outono de 1941, foram sem precedentes na história da guerra.

Os sucessores de Stalin tiveram anos para reconhecer a fragilidade de seu próprio sistema e as vantagens do sistema de Hitler. Portanto, não deveríamos estranhar que o bloco comunista começasse a experimentar aspectos do nacional-socialismo tempos atrás. Pela preservação de certas tradições, e através do apelo ao nacionalismo, as pessoas podem ser motivadas a lutar – e isto é o que Dugin está tentando explorar com sua Quarta Teoria Política. O renascimento do nazismo (em forma alterada) e o florescimento do antissemitismo tem sido antecipado por Moscou há muito tempo, e Dugin tem flertado com este renascimento. Afinal, o pêndulo político balança para frente e para trás entre os extremos. Por três gerações temos ouvido sobre o Holocausto e a perversidade de Hitler. Em resposta a isto, os analistas russos desconfiam ver o triunfo da negação do Holocausto e deificação de Hitler através de um deslocamento contrário na opinião da massa.

Dugin não se aproximou dos nacionalistas brancos e proto-nazistas da Europa pelo sincero desejo de ajudar a causa deles – não mais que Stalin aliou-se a Hitler em 1939 porque concordava com o Mein Kampf. Dugin é cauteloso, e evita a adoção direta de racismo explícito. Ele diz que racismo real é o racismo americano. E então, seu encorajamento aos nacionalistas brancos e nacional-socialistas tem sido muito dissimulado, e bastante indireto. Seu propósito era e é golpear o sistema de livre mercado liberal no Ocidente conseguindo que todas as forças anti liberais oponham-se ao capitalismo americano e, por padrão, apoiem Moscou. Era uma vez, os nazistas eram um poder em ascensão e sua energia foi aproveitada por Stalin para atacar o Ocidente. Hoje Moscou vê outra onda se aproximando, e uma vez mais espera aproveitar o poder da onda – tão perigoso quanto ele possa ser.

Muitos anos atrás, a sempre perspicaz Claire Berlinski escreveu Menace in Europe (Ameaça na Europa). Ela percebeu, em um nível psicológico muito profundo, que o antissemitismo e o nazismo nunca morreram. Estes impulsos apenas tornaram-se adormecidos, e podiam reaparecer no futuro. A “desnazificação” da Alemanha no pós-guerra portanto, apenas parecia ter sido bem sucedida. Com a mistura de multiculturalismo, defesa do homossexualismo, feminismo etc..., a Europa tem sido servida de um coquetel que parece concebido para uma coisa: a saber, reviver um novo tipo de nazismo. Adicione a imigração muçulmana a esta “poção de bruxa” e o que temos? Temos uma reação nacionalista branca.

Alexander Dugin e seus chefes no Kremlin estão observando a Europa. Eles sabem que o liberalismo será responsabilizado. E isto é tão importante que eles demonstram abertura à Frente Nacional na França e ao Golden Dawn na Grécia. E por que não deveriam? Estas organizações foram alvos de infiltração e manipulação por agentes russos há muito tempo. Aqui é onde isto ajuda a conhecer a história real de fascistas e nazistas na Europa. Estes não são verdadeiros anti-comunistas, mas têm sido satélites potenciais do comunismo há décadas. Há, de fato, na história da Segunda Guerra, uma massa de questões não examinadas e movimentos mal compreendidos conectados a isto. Mesmo os fatos mais simples a respeito desta guerra têm sido mal compreendidos. E Moscou gostaria de manter desta maneira, preservando a todo custo nossas falsas suposições.

Tomemos um evento simples da guerra que mostra quão indiferente nossos melhores historiadores têm sido. Incontáveis livros têm sido escritos a respeito da morte de Hitler, mas nenhum tem feito as perguntas certas. É bem conhecido que a União Soviética ocultou todas as sólidas evidências da morte de Hitler do restante do mundo. O que os historiadores têm tido o sentido de perguntar? Na verdade, o próprio Stalin encorajou o rumor de que Hitler escapou de Berlim em Abril de 1945. Mais recentemente os russos apresentaram um esqueleto de mulher como sendo o de Hitler, com uma perfuração por bala no lugar errado. Por que eles fizeram isto? É muito simples. De um ponto de vista estratégico, o mito da sobrevivência de Hitler foi estrategicamente útil a Moscou e, como veremos, isto tem a ver com o fato de Moscou ter adquirido controle da Internacional Nazista antes do fim da guerra. Pete Bagley, um antigo oficial da CIA com acesso a documentos da KGB, escreveu: 

“O fato repugnante é que... a KGB secretamente infiltrou o êxodo nazista da Alemanha (em 1945), tomou controle de uma ou mais organizações de exílio nazista, e manipulou-as numa clássica operação “falsa bandeira”, como ferramenta despercebida em sua Guerra Fria contra o Ocidente”. 

Em Spymaster (pag. 145), Bagley nos conta de uma reunião clandestina próxima a Viena entre oficiais da KGB e o antigo chefe da Gestapo Heinrich Mueller em 1945. De acordo com a informação de Bagley, Mueller teria sido pego pelos Soviéticos ao fim da guerra, “mas ao invés de puni-lo como o pior dos criminosos de guerra”, escreveu Bagley, “eles o tomaram para o trabalho clandestino e moveram-no para a América do Sul”.

Aqueles que estão interessados nos desenvolvimentos recentes na América do Sul deveriam ter especial interesse nisto. A atual inexplicável aliança entre comunistas e nazistas na América do Sul é melhor compreendida como um jogo complexo que remonta à penetração do Terceiro Reich por agentes soviéticos durante a guerra. Para compreender a profundidade destas penetrações, é útil examinar o testemunho do chefe da agência de inteligência, Walter Schellenberg, cabeça da inteligência estrangeira (Ausland – SD) de 1941 a 1945. De acordo com Schellenberg, após a derrota do Sexto Exército em Stalingrado veio à existência dentro da hierarquia nazista uma poderosa “facção oriental”. Estes eram nazistas que sabiam que a guerra estava perdida, e que decidiram começar a trabalhar secretamente para a União Soviética como meio de assegurar a sobrevivência futura. Um dos mais proeminentes destes vira-casacas, do ponto de vantagem de Schellenberg, foi o braço direito de Hitler e chefe do partido Martin Bormann. Outro foi o chefe da Gestapo Heinrich Mueller, que pode ter trabalhado para Moscou desde 1937. Schellenberg escreveu: 

“Minha primeira suspeita séria sobre a sinceridade do trabalho de Mueller contra a Rússia foi despertada numa longa conversa que tive com ele na primavera de 1943..., imaginei porquê era tão tarde, que ele tinha estado bebendo, quando disse que queria conversar comigo”. 

Schellenberg não bebia, e era um rival burocrático de Muller. No início da “conversa”, Mueller lembrou a Schellenberg que a influência soviética não existia apenas dentro da classe trabalhadora isoladamente. Era também forte entre pessoas educadas. Mueller então disse: “vejo nisso um inevitável desenvolvimento histórico de nossa era, particularmente quando se considera a “anarquia” espiritual de nossa cultura ocidental, na qual incluo a ideologia do Terceiro Reich”.

Schellenberg foi tomado de surpresa. “Mueller estava 'falando como um livro'”. E Mueller supostamente não lia livros. Mas a próxima declaração de Mueller foi ainda mais surpreendente, porque foi traiçoeira. “O nacional-socialismo”, disse Mueller, 

“não é nada mais que um tipo de esterco neste deserto espiritual (da Europa Ocidental). Em contraste com isto, vê-se na Rússia uma revolução mundial, espiritual e material, unificada e inflexível, que oferece um tipo de carga elétrica positiva ao negativismo do ocidente”. 

Como Schellenberg explicou: 

“sentei-me aquela noite em frente a Mueller num cismar profundo. Aqui estava o homem que tinha conduzido o mais implacável e brutal esforço contra o comunismo em todas as suas formas, o homem que em sua investigação da Orquestra Vermelha não tinha deixado pedra sobre pedra para descobrir as últimas ramificações daquela conspiração. Que mudança!”

Que mudança, de fato! Mueller estava provavelmente fazendo a mesma exposição de recrutamento a outros altos oficiais nazistas. E quem ousaria denunciá-lo? Ele era o cabeça da Gestapo! Ele podia negar a conversa, ou dizer que estava testando a lealdade do interlocutor. Schellenberg estava assombrado. “Você sabe, Schellenberg”, disse Mueller, 

“isto é realmente estúpido, esta coisa entre nós. No início pensei que nos daríamos bem em nossa relação pessoal e profissional, mas não aconteceu. Você tem muitas vantagens sobre mim. Meus pais eram pobres, eu me fiz sozinho. Eu era um detetive de polícia, comecei nas batidas e aprendi na dura escola do trabalho ordinário da polícia. Agora, você é um homem educado. É um advogado, possui retaguarda cultural, você viajou. Em outras palavras, você impôs-se facilmente num sistema petrificado de tradição conservadora. Pegue, por exemplo, homens como aqueles da Orquestra Vermelha – Schulze-Boynsen ou Harnack – você sabe, eles eram intelectuais, mas de um tipo inteiramente diferente. Eles eram intelectuais puros, revolucionários progressistas, sempre procurando por uma solução final. Eles nunca se atolaram em meias medidas. E eles morreram acreditando ainda naquela solução. Há muitas concessões no nacional-socialismo para que ele ofereça uma fé como aquela, mas o comunismo espiritual pode”.

Durante sua declaração, Mueller também referiu-se a Martin Bormann como um homem “que sabe o quer”. Previamente, Mueller tinha se referido a Bormann como nada mais que um criminoso. Schellenberg estava ficando nervoso, enquanto Mueller virava um conhaque atrás do outro descrevendo a decadência do ocidente nos termos mais rudes. Schellenberg percebeu que Mueller deveria possuir informações comprometedoras de todos os altos líderes nazistas. Tendo escutas telefônicas por toda parte, Mueller conhecia os segredos sujos de todos. A apreensão de Schellenberg cresceu até que ele pensou: 

“O que Mueller deseja, este homem que estava tão cheio de rancor e ódio, repentinamente 'falando como um livro'?” Para quebrar o monólogo Schellenberg recorreu ao humor: “Certo camarada Mueller, vamos todos começar a dizer “Heil Stalin!” agora mesmo, e nosso pequeno líder Mueller se tornará o cabeça da NKVD”.

Mueller então olhou para Schellenberg com um lampejo malevolente em seus olhos. “Isso seria bom”, ele disse, “e você realmente estaria no grande salto, você e seus amigos burgueses conservadores”. O grande salto, é claro, referia-se a lançar-se do cadafalso com uma corda no pescoço. Schellenberg concluiu que Mueller era um agente soviético. O conceito de Estado e de indivíduo do chefe da Gestapo, raciocinou Schllenberg, “desde o início não tinha sido nem germânico nem nacional-socialista, mas na verdade comunista. Quem sabe quantas pessoas ele influenciou e atraiu, naquela época, para a “facção oriental”?

E então devemos ver o reavivamento recente das ideias nazistas, do antissemitismo, do nacionalismo branco - da tão propalada Nova Direita Europeia e da Nova Direita Norte-americana – como um possível coadjuvante do poder russo. Pois neste fenômeno não estamos apenas lidando com o reavivamento nazista. Podemos estar lidando com uma operação russa de “falsa bandeira” com enorme e inexplorado potencial terrorista. Há a possibilidade, é claro, de que este “movimento” escape dos russos. Mas então devemos considerar o significado do Pacto Ribbentrop-Molotov de 1939. O que quer que tenha sido, o nazismo foi inimigo da América e da liberdade no mesmo sentido que o é o fundamentalismo islâmico. Quando Alexander Dugin propõe sua Quarta Teoria Política, ele está propondo nada menos que a combinação de todas as forças anti-americanas num punho fechado.
Por: Jefrey Nyquist http://jrnyquist.com Do site: http://www.midiasemmascara.org/

Tradução: Flávio Ghetti





quarta-feira, 1 de julho de 2015

ESTAMOS EM CRISE

A crise chegou para todas as pessoas que querem ganhar a mesma coisa fazendo o que fazem há mais de 30 anos. A audiência da novela caiu. A rede Globo diz que está em crise. Como chama a crise da Globo? Netflix!


As vendas de carros caíram. A Ford e a GM dizem que estão em crise. Como chama a crise das montadoras? Bicicleta e metrô!

As vendas do McLixo caíram. O McLixo diz que está em crise. Como chama a crise do McLixo? Franquia de Japonês!

A taxa de ocupação dos hotéis Ibis está meia boca. Como chama a crise dos hotéis? AirBNB!

As vendas nas lojas de Shopping Centers estão em crise. Como chama a crise dos shopping centers? Lojas virtuais!

As vendas nos supermercados estão em crise. Como chama a crise dos supermercados? Restaurantes!

As vendas de produtos da linha branca estão em crise. Como chama a crise de vendas de geladeiras, fogões e microondas? Bom Negócio e OLX!

As vendas de corridas de táxi estão em crise. Como chama a crise dos taxistas? UBER!

O volume de matrículas nas faculdades está minguando. Como chama a crise das faculdades? YouTube!

As vendas em lojas de acessórios para eletrônicos estão em crise. Como se chama a crise dos eletrônicos? Alibaba Express!

Enquanto a China envia pedidos de compra de relógios de pulso e vestidos de noiva para a cidade de Rio Claro com frete grátis, você cobra 30 reais do seu cliente para enviar um pedido da zona sul para a zona norte dentro da sua cidade de 50 mil habitantes!

Se VOCÊ está em crise; ou se VOCÊ é do tipo que reclama da crise; é porque você faz negócios do jeito que o seu avô fazia.

Se VOCÊ está em crise, você deve ser do tipo que CULPA o governo quando está por baixo, e se diz RESPONSÁVEL PELO SEU SUCESSO quando está por cima.

A revista Exame PME publica todos os anos a lista das 250 pequenas e médias empresas que mais crescem no Brasil. No topo da lista você não encontra bancos, seguradoras, construtoras, supermercados, ou qualquer um desses negócios mais-do-mesmo.

Você tem empresas que fabricam peças para processos de automação de máquinas agrícolas (128% de crescimento), empresas que transportam resíduos industriais perigosos (110% de crescimento), empresas que elaboram projetos de telecomunicações (81% de crescimento), empresas que fornecem plataformas elevatórias para transportar máquinas (77% de crescimento), empresas que constroem estações de tratamento de água e esgoto (51% de crescimento), empresas que transportam medicamentos de alto custo (45% de crescimento), empresas que produzem pisos de alta resistência para ambientes industriais (42% de crescimento), e muito, muito mais!

Se o mundo dos negócios para você se resume ao que acontece na Avenida Paulista ou no Itaim Bibi, ou na cabeça de quem circula pela Berrini ou Faria Lima, é claro que você vai achar que tudo está ruim. Afinal, a única coisa diferente que aconteceu na cidade de São Paulo nos últimos 20 anos foi a construção da Ponte Estaiada que atravessa o Rio Pinheiros.

O futuro do Brasil não está em São Paulo. O futuro do Brasil está na sua comunidade local. Na sua pequena cidade. Nas fábricas da sua região. Nos empresários do seu bairro. O nosso país só será INCRÍVEL quando tivermos pelo menos 1.500 pequenas e médias cidades FERVILHANDO de NOVOS NEGÓCIOS espalhadas por todas as regiões do país. E isso já está acontecendo.

Enquanto você sonha com uma carreira de advogado no escritório do Pinheiro Neto para o seu filho, alguém criou uma empresa que instala plataformas de petróleo (41% de crescimento) em Curitiba; enquanto você sonha com uma carreira de médico no Hospital Albert Einstein para o seu filho, alguém criou uma empresa de consultoria de meio ambiente e planejamento urbano (40% de crescimento) no Rio de Janeiro; enquanto você sonha com uma carreira de engenheiro para o seu filho na Odebrecht, alguém criou uma empresa que oferece serviços logísticos para bancos (249% de crescimento) em Goiânia.

Crise?

Crise o escambau!

Vivemos na era mais transformadora da história do ser humano!

Para o Banco HSBC, é claro que o mercado está em crise. Para as construtoras, é claro que o mercado está em crise. Para a FIFA, é claro que o mercado está em crise.

Para quem sempre fez negócios precisando de incentivos fiscais e favores de terceiros, é claro que o mundo está em crise.

Mas as coisas estão mudando.

As pessoas de bem contam hoje com um aliado que elas nunca imaginaram: a tecnologia.

A tecnologia é a grande polícia interplanetária que vai varrer o planeta os grandes atos de corrupção. Os sistemas de informática e tecnologia vão conectar tudo que existe e fechar as portas para a bandidagem.

A tecnologia vai reduzir a corrupção no mundo público; e principalmente, no mundo privado.

Eu treino vendedores de todas as indústrias que você pode imaginar. Tem corrupção por todos os cantos desse país. Uma das maiores preocupações dos vendedores hoje em dia é saber lidar com os milhares de clientes corruptos que só compram softwares, serviços de consultoria, espaços publicitários, serviços de gestão para as suas empresas, se os vendedores pagarem uma comissão de 15-20% para eles.

Mas as coisas estão mudando.

E se você quiser acelerar essas mudanças, faça o seguinte favor a você mesmo e a sua cidade: faça negócios com as pequenas e médias empresas locais. Faça negócios com empresas que seguramente investem 100% do seu lucro na sua cidade ou comunidade. Faça negócios com pessoas honestas.

Na próxima vez que você for ao supermercado comprar uma maçã para os seus filhos, verifique a procedência da maçã. Se a maçã veio de uma plantação da sua região, compre! Caso contrário, não compre!

Você quer mudar o mundo? Você realmente quer mudar o mundo?

Invista pelo menos 50% do seu dinheiro nas empresas da sua cidade.

Você quer melhorar a sua cidade?

Incentive o seu filho a criar uma empresa na cidade em que ele nasceu para construir as coisas que a cidade tanto precisa. Te garanto que se ele for capaz de resolver o problema da sua cidade, ele estará pronto para vender a sua criação em qualquer lugar do mundo.

Se liga!

Nessa VIDA, ou você é um agente de mudanças, ou uma vítima delas.

O que você é?

NADA MENOS QUE ISSO INTERESSA!

QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E Você?

Autor: Ricardo Jordao Magalhaes  Do site: http://wp.clicrbs.com.br/cacaumenezes

terça-feira, 30 de junho de 2015

A VERDADEIRA TRAGÉDIA GREGA FOI O SEU GASTO PÚBLICO


A Grécia foi à bancarrota não porque, como dizem os entusiastas do novo governo eleito, pagou taxas de juros "usurárias" sobre sua dívida, mas sim porque se endividou despreocupadamente para que seus políticos pudessem gastar como se não houvesse amanhã.

Vamos aos números.

Se levarmos em conta o valor total de juros pago pelo governo grego em relação ao estoque total de sua dívida, temos que, desde 2006, não houve nenhum ano em que a Grécia tenha pagado mais do que 4,5% de juros sobre sua dívida total. 

Isso dificilmente pode ser classificado como "usura", principalmente quando se leva em conta que a inflação de preços média na Grécia desde 2006 foi de 2%, o que significa que o estado grego jamais pagou juros reaissuperiores a 2,5% ao ano. [Nota do IMB: a título de comparação, o governo brasileiro pagar taxas superiores a 10% sobre sua dívida total, e as taxas reais sempre estiveram acima de 4,5%].

Com efeito, no ano de 2013, a Grécia pagou sobre sua dívida pública total taxas de juros nominais inferiores até mesmo às da Alemanha: em concreto, os gregos pagaram 2,28%, sendo que os alemães pagaram 2,62%.



Gráfico 1: taxa de juros média sobre a dívida pública, 2006-2013 Fonte: Eurostat

E não é só: em 2013, a Grécia foi o quarto país da zona do euro a pagar as menores taxas de juros sobre sua dívida pública:



Gráfico 2: taxa de juros média sobre a dívida pública em 2013 Fonte: Eurostat

Em que pese todo o bombardeio propagandístico sobre juros usurários contra a Grécia, ninguém deveria se surpreender com os resultados acima, pois foi em 2012 que a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) aprovou um segundo plano de resgate para a Grécia, pelo qual o governo grego obteve condições de financiamento extremamente benéficas.

O principal culpado: o descontrole do gasto público

Antes da crise, o volume total da dívida pública grega era de 250% das receitas do governo (2,5 vezes maior). Na Alemanha, a título de comparação, esse valor era de 150%. (1,5 vez maior).

No entanto, após a crise, o valor grego pula para 350%, chegando a superar 400% (4 vezes maior) no ano de 2011. Vale notar que tanto o resgate quanto as medidas de "austeridade" começaram a ser implantados na Grécia apenas no ano de 2010, só que em 2009 o governo já tinha um volume de dívida pública totalmente descontrolado.



Gráfico 3: relação entre dívida pública e receitas do governo, 2006-2013 Fonte: Eurostat

E o que fez aumentar essa dívida pública?

Enquanto a Alemanha conseguiu manter constante, em termos reais, seu gasto público por habitante entre 1996 e 2008, a Grécia o aumentou em nada menos que 80%. 



Gráfico 4: gasto público real por habitante, 1996-2013 Fonte: Eurostat

A hipertrofia do estado grego simplesmente não possui similares na Europa, especialmente se levarmos em conta como ele se financiou: a Grécia não apenas foi um dos países que mais aumentou seu gasto público, como também foi o que recorreu com mais obsessão ao endividamento para financiá-lo.



Gráfico 5: aumento da dívida pública entre 1996 e 2008 Fonte: Eurostat

Como consequência desse enorme crescimento do endividamento (e não como consequência de altas taxas de juros), o gasto anual com os juros sobre todo esse estoque de dívida superou, até o segundo pacote de resgate, o valor de 12% das receitas do governo (em 2011, antes do resgate, o total de juros pago por ano era 17% maior do que as receitas). Compare isso à Alemanha, cujos gastos com juros se mantiveram estáveis em 6% de todas as receitas.



Gráfico 6: total de juros pagos em relação às receitas do governo, 2006-2013 Fonte: Eurostat

Vale enfatizar: o problema não foi a taxa de juros que a Grécia pagou sobre sua dívida pública, mas sim o enorme volume de sua dívida pública, o que elevou sobremaneira o valor absoluto dos juros pagos. 

Matemática básica: 50% de 10 euros são 5 euros, 1% de 1 bilhão de euros são 10 milhões de euros. Uma taxa de juros baixa não fará com que seus gastos totais com juros sejam baixos se você deve muito dinheiro.

Sendo assim, a responsabilidade pela situação financeira grega deve ser atribuída a quem gerou esse elevado volume de endividamento: os políticos gregos e todos aqueles que aplaudiam e que foram beneficiados pelas políticas de endividamento do governo (antes e depois da crise). 

O fato é que o grosso da dívida pública grega foi emitido antes que a Grécia fosse socorrida pela Troika: 90% da dívida pública grega do ano de 2010 já havia sido emitida antes de 2010. 

Nem sequer é possível culpar as políticas de suposta austeridade ("suposta" porque um governo sob austeridade genuína não pode aumentar impostos; é como dizer que um trabalhador que está praticando austeridade pode aumentar seu salário): mesmo que o governo grego tivesse sido capaz de manter o mesmo volume de receitas de 2007 (algo muito difícil em meio a uma forte recessão), o tamanho de sua dívida pública em 2011 em relação às suas receitas seria de 391% (comparado aos 403% que realmente foram, e aos 180% da Alemanha), e o peso dos juros em relação às receitas totais teria sido de 15,8% (em relação aos 17,1% que realmente foram, e aos 5,8% da Alemanha).

Portanto, é necessário honestidade: o governo da Grécia não quebrou por causa da Troika e o governo da Grécia não está financeiramente na lona por causa da Troika. O governo grego está quebrado como consequência das políticas ilustradas nos gráficos 4 e 5.

Enquanto a Alemanha estabilizou seu gasto real por habitante (isto é, descontando a inflação de preços) entre 1996 e 2007, a Grécia o aumentou em mais de 80%, e recorreu ao mero endividamento para financiar a maior parte dessa brutal expansão do seu gasto público. O governo chegou a um ponto em que simplesmente não mais consegue pagar nem mesmo as prestações dessa dívida.

A composição do gasto público grego

À luz dessa hipertrofia estatal, era óbvio que ao governo grego não restava outra solução senão cortar muito intensamente seus gastos caso quisesse sobreviver financeiramente. Mas será que mesmo isso foi feito?

O gráfico abaixo mostra a composição do gasto público grego. O gasto com educação, políticas sociais e saúde disparou de 24,6% do PIB em 2004 para 31,1% do PIB em 2012. Ou seja, não só os gastos do governo grego se concentram nos "gastos sociais", como também esta foi a rubrica que mais aumentou em termos relativos desde 1996.



Gráfico 7: composição do gasto público da Grécia, 1996-2012 Fonte: Eurostat

Sim, é verdade que, desde 2009, com as seguidas quedas do PIB, o fato de os gastos sociais terem subido em relação ao PIB não significa que eles aumentaram em termos absolutos, uma vez que o PIB vem se contraindo desde 2009. No entanto, o que isso realmente significa é que os gastos que menos foram reduzidos proporcionalmente foram justamente aqueles que mais cresceram até 2009: os gastos sociais.

Conclusão

A conclusão é fragorosa e deve servir de lição: sim, um país pode quebrar por gastar excessivamente com "políticas sociais". 

Não é questão de ideologia, mas sim de contabilidade. 

Mais ainda: para evitar essa quebra, é imprescindível que ele tenha de cortar de maneira intensa todos os gastos voltados às políticas sociais.

No entanto, longe de ter aprendido a lição e de assumir a culpa pelo próprio desastre, o novo governo grego não apenas aponta o dedo para terceiros, como ainda promete voltar a aumentar maciçamente o gasto público (estão prometendo mais benefícios sociais, energia gratuita para 300 mil gregos, e mais moradias populares).

É óbvio, portanto, que não entenderam nada.

A questão é simples: quem não pode pagar indefinidamente, não pode gastar indefinidamente. 

País nenhum.
Por: Juan Ramón Rallo, diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri. É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.  Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2017

O CELULAR E A RAINHA MÁ


Recentemente, eu estava caminhando pela calçada quando vi uma mulher vindo na minha direção. O rosto dela estava colado ao celular e não estava prestando atenção para onde estava indo. Se eu não desse um passo para o lado, trombaríamos. Como secretamente sou uma pessoa má, eu parei de repente e dei meia volta. A mulher trombou nas minhas costas, derrubando seu celular. Ela percebeu que tinha trombado em alguém que não podia vê-la e que ela é quem deveria ter se desviado. Ela balbuciou um pedido de desculpas, enquanto eu gentilmente lhe disse para não se preocupar, já que hoje em dia essas coisas acontecem o tempo todo.

Eu espero que o celular da mulher tenha quebrado quando ela o derrubou e aconselho a todos aqueles que se vejam em uma situação semelhante que façam o mesmo que fiz. Sim, eu acho que usuários compulsivos de celulares deveriam ser estrangulados ao nascer, mas não é todo dia que surge um Herodes. E, mesmo se puníssemos essas pessoas na idade adulta, elas provavelmente nunca entenderiam a profundeza do abismo no qual caíram. No final, elas persistiriam em seu hábito irritante independentemente do que fizéssemos.

Estou ciente de que muito já foi escrito sobre o uso de celulares, de modo que não há muito o que possa acrescentar aqui. Mas, se pensarmos a respeito por um momento, é espantoso o fato de quase todos nós termos sido tomados pelo mesmo frenesi. Nós mal conversamos face a face hoje em dia, nem refletimos sobre assuntos importantes de vida e morte, nem mesmo olhamos para a paisagem enquanto passa pela nossa janela. Em vez disso, nós conversamos obsessivamente em nossos celulares, raramente sobre algo particularmente urgente, desperdiçando nossas vidas em um diálogo com alguém que nem mesmo vemos.

Hoje, estamos vivendo em uma era na qual, pela primeira vez, a humanidade conseguiu realizar um dos três desejos persistentes que por séculos apenas a magia podia satisfazer. O primeiro é a capacidade de voar –-não em um avião, mas com nossos próprios corpos, batendo nossos braços.

Outro é a habilidade de afetar diretamente nossos inimigos –-ou entes queridos-– ao espetar agulhas em um boneco ou proferindo palavras arcanas. E o terceiro é a capacidade de comunicação instantânea por longas distâncias. Nós sempre quisemos ter um gênio ou objeto mágico com poder de nos transportar em um estalar de dedos de Frosinone a Pamir, de Innisfree a Timbuktu, ou de Bagdá a Poughkeepsie. E agora podemos.

Por que as pessoas demonstraram tamanha inclinação a práticas mágicas ao longo dos séculos? Pressa. A magia promete que você possa saltar instantaneamente da causa ao efeito –-do ponto A ao ponto B-– por uma espécie de atalho, sem precisar de quaisquer etapas intermediárias. Eu pronuncio uma fórmula e mudo ferro em ouro. Eu convoco anjos e envio mensagens por eles. A fé na magia não desapareceu com o advento da ciência. Não, nosso desejo de imediatismo simplesmente foi transferido para a tecnologia. Você aperta um botão em seu celular em Roma e, em segundos, está falando com um amigo em Sydney.

Nós sabemos que a ciência e a tecnologia avançam lentamente por meio de pesquisa cuidadosa –-mas mesmo assim queremos uma cura para o câncer já, não amanhã. Assim, em vez de esperar por anos, nós depositamos nossa fé no médico guru que nos oferece uma poção milagrosa que funcione instantaneamente para curar nossos males.

O relacionamento entre nosso entusiasmo pelas conveniências tecnológicas e nossa inclinação pelo pensamento mágico é muito estreito e está atado profundamente à nossa esperança religiosa na ação rápida como um raio dos milagres. Por séculos os teólogos discutiram conosco sobre os mistérios, argumentando que são concebíveis, mas insondáveis. A fé nos milagres nos mostra o numinoso, o sagrado e o divino, que funcionam sem atraso.

Será que há uma conexão entre aqueles que prometem uma cura instantânea para o câncer, místicos como o Padre Pio, celulares e a Rainha Má de "Branca de Neve"? De certo modo há. A mulher no início da minha história estava vivendo em um universo de contos de fadas, encantada pelo celular em seu ouvido, em vez de um espelho mágico.Tradutor: George El Khouri Andolfato

UMBERTO ECO

Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. É autor de "O Nome da Rosa" e "O Pêndulo de Foucalt".

domingo, 28 de junho de 2015

MONOTEÍSMOS E POLITEÍSMOS


Os ventos da guerra estão soprando e não se trata de uma pequena guerra local. O risco vem de um plano fundamentalista para islamizar o mundo inteiro, e o conflito já envolve vários continentes. Na verdade, foi relatado que a ameaça do Estado Islâmico já chegou a Roma, apesar de nenhuma bandeira do grupo estar tremulando no topo da Basílica de São Pedro.

Ao que me parece, historicamente, as grandes ameaças intercontinentais sempre vieram de religiões monoteístas. Apenas cristãos e muçulmanos se envolveram em conquistas militares em nome de seu deus.

Os gregos e romanos não queriam conquistar a Pérsia ou Cartago para impor seus deuses. Eles eram movidos principalmente por metas territoriais e econômicas, e assim que encontravam deuses diferentes dos deles, eles simplesmente incorporavam essas deidades em seu panteão. Seu povo chama você de Hermes? Tudo bem, nós chamaremos você de Mercúrio e você será um de nossos deuses. Os fenícios adoravam Astarte. Mas isso não era um problema para os egípcios, que a chamaram de Ísis, ou para os gregos, para os quais ela se tornou Afrodite. Ninguém invadiu as terras fenícias para eliminar o culto a Astarte.

Os primeiros cristãos foram martirizados não por reconhecerem o deus de Israel (afinal, esse era o negócio deles), mas porque negavam a legitimidade dos outros deuses.

Não se trata das sociedades politeístas nunca terem travado guerras, mas sim que em grande parte eram conflitos tribais que não tinham nada a ver com religião ou imposição de seus deuses aos outros. Os bárbaros do norte invadiram a Europa, e os mongóis fizeram o mesmo em terras islâmicas, mas em vez de imporem seus deuses, esses povos rapidamente se converteram às religiões locais.

Quando muito, é curioso que os bárbaros do norte, ao se tornarem cristãos e construírem um império cristão, depois montaram as cruzadas no Oriente Médio para impor seu deus aos muçulmanos, apesar de, no final do dia, ambas as culturas estarem basicamente adorando ao mesmo deus.

Eu também contaria o colonialismo como guerras de conquista travadas em nome do cristianismo. Fora os interesses econômicos que sempre as justificaram, as campanhas coloniais também incluíam o projeto virtuoso de cristianização das populações conquistadas, sejam os astecas, incas ou etíopes (independentemente do fato de que a maioria dos etíopes era cristã).

Uma exceção curiosa sempre foi o monoteísmo judeu, que por sua própria natureza não impõe a conversão religiosa a outros povos. As guerras mencionadas no Velho Testamento visavam garantir uma terra para o povo escolhido, não converter outras populações ao judaísmo. E os judeus nunca incorporaram outros cultos e crenças aos seus próprios.

Certamente não quero dizer que é mais civilizado acreditar nas deidades iorubás ou nos espíritos vodu do que na Santíssima Trindade ou no Deus único cujo profeta é Maomé. Tudo o que estou dizendo é que ninguém nunca tentou conquistar o mundo em nome dos deuses da crença afro-brasileira do Candomblé. Nem a deidade Barão Samedi do vodu exigia fieis além dos limites do Caribe.

O império chinês foi um grande conquistador territorial, mas seu povo não acreditava em um único ser que criou o mundo. E a China nunca tentou disseminar suas crenças para a Europa ou a América. Poderia ser argumentado que a China atualmente está conquistando territórios economicamente, por meio da compra de empresas e ações ocidentais. Mas se o povo fora do país acredita em Jesus, Alá ou Jeová, isso não faz a menor diferença para os interesses de negócios chineses.

Talvez as ideologias seculares do nazismo e do marxismo soviético sejam equivalentes às grandes religiões monoteístas. Mas os fascistas e soviéticos nunca tentaram hipnotizar seus seguidores com qualquer tipo de deidade ou ser sobrenatural. E, de qualquer modo, suas guerras de conquista logo chegaram ao fim.

Tradução: George El Khouri Andolfato

UMBERTO ECO

Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. É autor de "O Nome da Rosa" e "O Pêndulo de Foucalt".