terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PEQUENOS AJUSTES NÃO SÃO SUFUCIENTES

O socialismo parece reger-se pela “lei do pêndulo”: é o “ciclo econômico” descrito pelos economistas da Escola Austríaca, só que no plano político. Há duas fases.

Primeiro, o populismo desenfreado. Abre-se a fase expansiva na economia, com alta nos gastos estatais, e emissão de toneladas de papel-moeda. Protege-se a “indústria nacional”, por meio da concessão de subsídios e monopólios; desse modo criam-se empresas antieconômicas, e empregos artificiais. Aumenta o emprego estatal, e se decretam “planos sociais” para comprar votos. Além disso, relaxam-se as exigências para empréstimos, a fim de “estimular a demanda”, ou seja, o consumo, estilo Keynes.

Porém, se não há economia ou capitalização, não há desenvolvimento, nem crescimento. A economia fechada se torna ineficiente. E a bebedeira “social” termina em grande ressaca: estagflação (inflação com estagnação), desinvestimentos, com quebra ou fechamento de empresas, e desemprego em massa.

Então chegam os “neoliberais”, para a segunda fase, a “contenção”.

Tomam medidas radicais, como deve ser feito, para acabar com o estatismo? Não! “Não temos respaldo político”, dizem. “Não é viável”. Não é “politicamente factível”. Portanto, se limitam a corrigir alguns dos excessos mais grosseiros e aberrantes do socialismo. Nada mais. “Estabilização” é seu mantra favorito.

Como os bombeiros, apagam o fogo; porém, sem reformas profundas. Há abertura ao exterior, porém “não muita, não vamos chegar ao outro extremo!”, explicam.

Contudo, os “ajustes” não perduram, porque não vão à raiz do problema: não se revogam as leis más; por isso não há mudanças estruturais nem melhorias sustentáveis. Cedo ou tarde há descontentamento, que aumenta até que, na garupa da “crise”, a esquerda radical retorna ao poder com sua demagogia, mais cedo ou mais tarde. O pêndulo muda de curso. E o ciclo recomeça.

Exemplo: Argentina. Terminou agora outra fase de populismo selvagem, e chegou a cavalaria ao resgate. Já vimos esse filme, muitas vezes.

Quantas ao todo? O economista José Luis Espert nos lembra “cinco crises em meio século”. Porém, ocorreram outras, anteriores:
A primeira década peronista (1945-55) destruiu grande parte da economia argentina, ainda que muitos dos fundamentos do estatismo, como por exemplo o Banco Central, tenham sido postos pelos conservadores na década anterior. E com o presidente Aramburu, foi Raúl Prebisch, ex-funcionário de Perón, e economista não liberal, mas keynesiano, quem propôs o Plano Prebisch para “corrigir o caos”. Quase todo o país se opôs ao Plano, que embora fosse bastante intervencionista, foi qualificado de “ultra-liberal”, e nem sequer foi aplicado totalmente. Aquela “Revolução Libertadora” terminou sem cumprir a tarefa.

Porém, na prática os militares governavam em conjunto com o radical Arturo Frondizi (1958-62), através do engenheiro Álvaro Alsogaray, economista liberal encarregado de “conter” o super-ministro Rogelio Frigerio, que era partidário de uma economia nazi-stalinista.

Após a queda de Frondizi, o estica e puxa entre populismo e “ortodoxia” continuou com seu sucessor José M. Guido. Em seu breve governo interino, de 1962-63, houve até uma miniguerra civil: “azuis” versus “colorados”.

O radical Arturo Illía (1963-66) representou uma fase populista bastante moderada. E com o general Onganía, a consequente fase “neoliberal” foi encabeçada pelo ministro Krieger Vasena, e foi tão desastrosa que a crise arrastou o presidente, que foi deposto, como aconteceu nos casos anteriormente vistos; e em outros que se seguiram.

Após os descalabros nazi-socialistas de Galtieri e Cámpora, o populismo “montonero” seguiu com Ber Gelbard, já sob Juan Perón (1973-74). Até que María Estela Martínez chamou aos mais ortodoxos (?) Alfredo Gómez Morales e Celestino Rodrigo, para clean up the mess (limpar a sujeira). Não conseguiram.

O general Videla trouxe, em 1976, a José A. Martínez de Hoz, um “ultraliberal” que estatizou uma companhia elétrica, a CIAE. Outro fracasso, que terminou na crise financeira de 1980, a qual também levou consigo o presidente, em março de 1981. Nada puderam seus sucessores “liberais”, Lorenzo Sigaut, Roberto Alemann e Jorge Wehbe. Mesmo filme, atores diferentes.

Como era de se esperar, “o retorno da democracia” trouxe consigo uma fase populista muito aguda, ao ponto do radical Raúl Alfonsín ter de entregar o cargo antecipadamente a Carlos Menem em 1989, em meio à hiperinflação. Com Domingo Cavallo, o peronista Menem realizou a experiência “neoliberal” mais estável e comparativamente exitosa: toda uma década, os anos 1990.

Por isso o radical Fernando de la Rúa (1999-2001) quis reeditar o menemismo, incluindo Cavallo. Porém, não o pôde, e como Frondizi, a crise explodiu em seu colo: não terminou seu mandato. A “estabilização” chegou com o presidente Eduardo Duhalde e seu ministro “ortodoxo”, Roberto Lavagna (2002-03). E logo outra vez a louca economia montonera: os Kirchner. Até agora.

Oito antecedentes, todos muito similares, que o senhor Macri deveria revisar, não acham?
Por: Alberto Mansueti, advogado e cientista político.
Tradução: Márcio Santana Sobrinho

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O VAZIO DA EXPRESSÃO "DIREITOS HUMANOS"



Para Jean Wyllys, todo e qualquer projeto que envolva a demografia LGBT é necessariamente uma defesa dos direitos humanos. Para Jair Bolsonaro, direitos humanos são uma defesa de bandidos.

Dada a inexistência de um escopo amplamente aceito, qualquer projeto de governo pode ser incorporado pela Secretaria de Direitos Humanos, pois a corrente jurídica socialista fez com que essa expressão não significasse absolutamente nada.

Factualmente, ela se tornou um enfeite que pode ser colocado — literalmente — em qualquer contexto para decorar uma ideia, normalmente com consequências negativas.

Um pouco da história

Tecnicamente, os direitos humanos podem ser divididos nas chamadas "gerações". Teóricos conseguem pensar em inúmeras gerações. Contudo, historicamente, podemos dividir os autointitulados direitos humanos em duas correntes distintas sob o ponto de vista econômico.

A primeira, com origem na filosofia liberal, consiste basicamente em direitos negativos: o indivíduo tem o direito de que não tirem sua vida, não restrinjam sua liberdade, e não confisquem sua propriedade honestamente adquirida. Destes direitos negativos derivam-se direitos positivos, como liberdade de expressão, religião e associação; direito ao porte de armas; devido processo legal; direito de livre iniciativa; entre outros.

Um dos principais documentos que denotam essa geração é o Bill of Rights norte-americano, dentro do contexto histórico. No cenário internacional, essa geração foi incorporada parcialmente no International Convenant on Civil and Political Rights (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos).

A segunda geração de direitos humanos tem base filosófica explicada na obra Sobre a Questão Judaica, de Karl Marx. Escrita em 1843 e publicada em 1844, a publicação adquire especial relevância uma vez que o autor faz uma reflexão acerca da situação dos judeus na Prússia, sedimentando então a concepção de materialismo histórico.

Especificamente, encontra-se nessa obra a visão teórica de direitos dos homens pela perspectiva socialista de Marx, a qual se expandiria em um corpo bem definido e chegaria ao ápice ao servir de base para as constituições da União Soviética.

Conforme Marx expôs, segundo Joy Gordon:[1]

Nenhum dos chamados direitos do homem vai além do homem egoísta; o homem como ele é, na sociedade civil, é como um indivíduo se esquivando por trás de seus interesses privados e caprichos, e separado da comunidade.

No decorrer da obra, Marx propõe que os direitos são detidos por aqueles que o conquistam; ou seja, não se aplicam igualmente a todos. Além disso, eles são uma conquista de classe e, por isso, coletivos. Conhecidos como "direitos sociais", têm uma conotação de prestação positiva, os quais devem ser fornecidos por meio da alocação de recursos do estado: direito à saúde, à educação, à moradia, à alimentação etc. — a lista é longa, pois a expansão (política) só depende da caneta do legislador.

Exemplos de positivação dessa geração encontram-se no artigo 6º da Constituição Federal Brasileira.

No cenário internacional, seria a Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) — nunca ratificado pelos EUA.

Mas como foi que chegamos a esse ponto político em que os "direitos humanos" servem como embasamento para discursos que versam sobre basicamente qualquer proposição?

A transmutação

Para se analisar precisamente este fenômeno deve-se fazer uma investigação geral de sua formação.

Como assevera Paul Gordon Laurem,

Ideias de justiça e direitos humanos possuem uma longa e rica história. Elas não se originaram exclusivamente em uma única região geográfica do mundo, em um único país, em um único século, em uma única forma, ou mesmo em uma única forma política de governo ou de sistema legal.[2]

Tal proposição confirma a ideia de universalidade do conceito de direitos humanos, relacionando-se inclusive com a proposição jusnaturalista, que diz que o indivíduo possui direitos negativos pelo simples fato de existir e de ser dotado da faculdade da razão.[3]

As mais antigas das codificações dos direitos humanos incluem os seguintes textos: Sumerian Code of Ur-Nammu(c 2100-2050 BCE), codex of Lipit-Ishtar (c 1930 BCE), e o Akkadian Laws of Eshnunna (c 1770 BCE).[4]

Tais codificações foram seguidas pelo famoso Código de Hamurabi, que cobriu certos aspectos do que hoje chamaríamos de direitos humanos.[5]

De fato, o referido código apresentou um dos primeiros exemplos do direito à liberdade de expressão, presunção da inocência, direito de defesa e devido processo legal[6] — todos hoje considerados a primeira geração de direitos humanos, de características individuais e majoritariamente negativas.

Mas a formação do conceito não ficou restrita tão somente à formação da sociedade ocidental. Também se verificou fenômenos parecidos na antiga China, com a filosofia de Confúcio,[7] e na antiga Índia, com oArthashastra (~300 AC).

A ideia de jusnaturalismo emerge na Grécia Antiga desde Platão,[8] sendo reforçada por Aristóteles, o qual arguiu pela importância de que a lei positivada deveria se amoldar aos direitos naturais.[9] O Direito Romano manteve essa visão, como denotado pelo filósofo e jusdoutrinador Marco Túlio Cícero.[10]

O período Medieval, sobretudo na antiga Britânia, é marcado pela Magna Carta, que demandou a supremacia do "rule of law" sobre o direito do monarca soberano, abrindo caminho para os avanços ocorridos na Idade Moderna por meio da delineação de algo mais próximo do sistema que temos hoje.

Tais ideias se aprofundaram ainda mais no Iluminismo, inclusive com Hugo Grócio, considerado o "pai do moderno direito internacional". De forma surpreendente, exatamente no mesmo período, Huang Zongxi professava ideias similares na China.[11]

O capitalismo foi o responsável direto pelo surgimento e solidificação dos direitos humanos individuais,[12]conforme vislumbra Paul Gorden Lauren:

Na Europa, o declínio do feudalismo, com sua rígida hierarquia e economia monopolista, gradualmente abriu caminho para a ascensão de mercados livres e de uma classe média, fortalecendo, assim, o conceito de direito individual à propriedade privada. Este conceito, por sua vez, levou ao desejo de transformar os direitos econômicos pessoais em direitos políticos e civis mais amplos.[13]

Sem dúvidas, o principal justeórico da corrente liberal foi o filósofo John Locke, o qual argumentou primeiramente pela liberdade de religião e consciência, para então em sua clássica obra, Second Treatise of Government, datada de 1690, lançar as bases fundamentais da teoria hoje vigente. Segundo Locke, um direito humano é:

Um direito à perfeita liberdade, e a um incontrolável gozo de todos os direitos e privilégios da lei natural, igualmente com cada outro homem ou grupo de pessoas do mundo, tendo por natureza um poder não só para proteger sua propriedade — vida, liberdade e patrimônio — contra agressões, mas também para julgar e punir as violações da lei natural por outros.[14]

A Inglaterra foi o terreno fértil para a solidificação desses direitos, e a existência de textos como a Magna Carta de 1215, a Petição de Direitos de 1627, o Ato de Direitos de 1668 e o Ato de Sucessão de 1701. Contudo, a codificação mais notável dos direitos humanos liberais veio através da Bill of Rights, as dez primeiras emendas à Constituição Americana.[15]

No que concerne à segunda geração de direitos humanos, a União Soviética, durante sua existência, possuiu três Constituições, datadas respectivamente de 1924, 1936 e 1977. De acordo com Jean Morange,[16] as concepções de direitos nas mesmas foram concebidas sob orientação burocrática, não tendo, de forma alguma, o objetivo de permitir a cada um levar sua vida segundo o que lhe dita a consciência, mas sim favorecer sua participação na sociedade de economia socialista.

A Constituição Soviética de 1924 não trazia nenhuma menção aos direitos aplicáveis à sua população, limitando-se a usar o termo para denominar alguns dos direitos que usufruíam as repúblicas que formaram a sua União.[17]Os estados eram literalmente os únicos dotados de qualquer direito sob a primeira constituição socialista da história.

Erigida 12 anos mais tarde, a Constituição da União Soviética de 1936 (também conhecida como "a Constituição de Stalin"), ao contrário de sua antecessora, ganhou um capítulo específico para tratar da questão de direitos e deveres fundamentais dos cidadãos.[18]

Inaugurado pelo artigo 118, o Capítulo X da referida Constituição protegia o direito a um salário estabelecido de acordo com a quantidade e a qualidade do mesmo; direito ao descanso, estabelecido desde já no texto constitucional por meio de políticas como férias, atividades de lazer, clubes etc.; direito à seguridade social;[19]direito à educação; direito à igualdade de direitos concernentes às esferas econômicas, estatais, culturais, sociais e políticas; entre outros.

E, finalmente, estabelecia também uma breve lista de deveres a serem observados para a implementação desses direitos, que incluem o dever de disciplina de trabalho; respeito às regras socialistas; dever de proteger a propriedade do sistema soviético e dever militar universal.

Em 1964, um artigo intitulado La protection des droits des citoyens en U.R.S.S.,[20] escrito por M. S. Strogovitch, o membro da Academia de Ciências da União Soviética, descreveu o sistema de direitos que eram previstos no campo legal à população do referido país. Segundo o autor:

Os direitos dos cidadãos, direitos individuais (subjetivos) de acordo com o termo empregado na teoria do direito, não são considerados na URSS como concedidos pelo Estado, na medida em que ele pode, a seu critério, retirá-los. De acordo com a teoria comumente aceita, direito subjetivo nada mais é do que um reflexo do direito objetivo. Como consequência, para o Estado, e para a jurisprudência soviética, essa teoria é inaceitável, sendo antidemocrática por natureza.

Teórica e praticamente, os direitos dos cidadãos e a liberdade do indivíduo não existem na URSS — existe apenas a expressão jurídica da situação que o trabalhador ocupa no seio da sociedade socialista.

Os direitos beneficiam o cidadão que confirma a lei, ao mesmo tempo em que seus deveres para com o Estado, para com a sociedade e para com os outros cidadãos constituem o estatuto jurídico do cidadão soviético, sua situação jurídica no Estado e na sociedade.[21]

Durante a guerra fria, ambas as visões do que eram Direitos Humanos para os EUA e a União Soviética inevitavelmente se conflitaram.

De um lado, a visão individualista buscava a consolidação da democracia liberal. De outro, a perspectiva da União Soviética puxava pelo completo desprezo pelos indivíduos, muitos confinados em campos de concentração (gulags) para que o regime conseguisse expandir a infraestrutura do país, já que a economia socialista soviética não era capaz de gerar crescimento econômico a partir de seu modelo.

A situação no Brasil

Desmembrada a questão histórica, como os juízes brasileiros resolvem hoje um conflito entre direitos advindos dessas gerações opostas de direitos humanos?

Quando esse tipo de conflito ocorre, as decisões da justiça nacional dão notável preferência aos direitos sociais.


Ainda que a Constituição defenda o direito de propriedade, movimentos terroristas como o MTST não apenas invadem propriedade privada, como ainda conseguem se manter com a posse de imóveis invadidos.

Ainda que tenhamos o direito de não dar satisfação aos outros sobre o que fazemos sem prejudicar terceiros, municípios não encontram dificuldades em restringir o que fazemos com nossas residências, terrenos e estabelecimentos.

A lista é longa e a justificativa para a supremacia dos "direitos" de segunda geração é sempre a mesma: preocupação social.

"Social" é a poderosa palavra que garante um passe-livre para qualquer causa política. Adicione o advérbio "socialmente" a uma frase, e qualquer expressão se torna mais "palatável":
O transporte coletivo é necessário.
O transporte coletivo é socialmente necessário.

Qual a diferença?

Palavras sem significado sempre foram a base dos discursos dos demagogos — especialmente na filosofia que mais os gera: o socialismo.

Um exemplo interessante foi a participação de Dilma Rousseff nos debates das eleições presidenciais de 2010. Para que fosse mais fácil para a presidente exercer seu "pensamento" durante as falas, a mesma foi instruída a usar a palavra "sistematicamente" sempre que possível.

Essa palavra foi — sistematicamente — repetida centenas de vezes pela candidata em um mesmo debate. Veja o efeito:
"Nosso governo vai investir em infraestrutura."
"Nosso governo vai, sistematicamente, investir em infraestrutura."

Não é novidade que o socialismo seja a regra filosófica dos acadêmicos de direito no Brasil. Seja na corrente marxista, no ecoambientalismo, no latinismo etc., essa tendência acabou por trazer o "demagogismo" inerente a ela, e destruir uma das áreas mais importantes: a defesa do indivíduo, incorporada nos direitos humanos.

Assim, absolutamente qualquer coisa virou "direitos humanos", independente de sua base teórica histórica e suas filosofias.

E pior: a cada nova política, o fator de igualdade (formal, no sentido liberal) acaba se deteriorando. Consequentemente, as políticas não apenas causam divisões e conflito de demografias, como também estimulam o ódio, pois os indivíduos acuados tendem a votar em políticos populistas. Essa é a regra de conduta entre os socialistas.

Por tudo isso, é urgente resgatar o verdadeiro sentido dos direitos humanos. Neste (re)nascimento do movimento liberal/libertário no Brasil, eis aí uma bandeira pela qual se vale a pena lutar.



[1] GORDON, Joy. The Concept Of Human Rights: The History And Meaning Of Its Politicization. Brooklyn Journal of International Law. 23 Brooklyn J. Int'l L. 689. 1998,
[2] SHELTON, Dinah. The Oxford Handbook of International Human Rights Law. ISBN 9780199640133 Londres: OUP Oxford, 2013, tradução nossa)
[3] Especificamente no que se denota à filosofia jusnaturalista (tecnicamente objetivista) de Ayn Rand, e outros.
[4] SHELTON, op. cit., cap. II
[5] SHELTON, op. cit., cap. II
[6] CODE OF HAMMURABI. The Avalon Project. Disponível em: <http://avalon.law.yale.edu/ancient/hamframe.asphttp://avalon.law.yale.edu/ancient/hamframe.asp> Acesso em: 14 set. 2014
[7] Nome real Kong Qiu, estima-se que viveu na região hoje conhecida como China entre 551-479 AC. SHELTON, op. cit., cap. II
[8] PLATO. The Laws (2013, apud SHELTON, op. cit., cap. II).
[9] SHELTON, op. cit., cap. II
[10] CICERO, Marcus Tullius. The Republic and The Laws.Londres: OUP,  1998. (2013, apud SHELTON, op. cit., cap. II).
[11] STRUVE, Lynn. Huang Zongxi in Context: A Reappraisal of His Major Writings. Journal of Asian Studies, 1998. (2013, apud SHELTON, op. cit., cap. II).
[12] Importante ressaltar que autores marxistas consideraram os direitos humanos como uma "arma de guerra ideológica a serviço de uma classe social". Ver mais em MORANGE, Jean. Direitos Humanos e Liberdades Públicas. 5º Ed. Barueri – SP: Manole, 2004. p. 3
[13] (SHELTON, op. cit., cap. II, tradução nossa)
[14] Locke, John. Second Treatise on Government. Tradução Nossa.
[15] Lamentavelmente, o conceito de indivíduo não foi estendido a toda a população, e a escravidão continuou vigente até a Guerra Civil de 1861.
[16] MORANGE, Jean. Direitos Humanos e Liberdades Públicas. 5º Ed. Barueri – SP: Manole, 2004.
[17]UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS. Constituição da União Soviética de 1924. Traduzida para o Inglês. Disponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/Constitution_of_the_Soviet_Union > Acesso em: 17 de out. 2014
[18] UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS. Constituição da União Soviética de 1936. Traduzida para o Inglês. Disponível em <http://www.departments.bucknell.edu/russian/const/36cons04.html#chap10> Acesso em: 17 de out. de 2014
[19] Em tradução ao inglês: "ARTICLE 120. Citizens of the U.S.S.R. have the right to maintenance in old age and also in case of sickness or loss of capacity to work. This right is ensured by the extensive development of social insurance of workers and employees at state expense, free medical service for the working people and the provision of a wide network of health resorts for the use of the working people."
[20] STROGOVITCH, M.S. La protection des droits des citoyensen U.R.S.S. In: Revue internationale de droit comparé. Vol. 16 N°2, Avril-juin 1964. pp. 297-306. Disponível em http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/ridc_0035-3337_1964_num_16_2_13937
> Acesso em: 17 de out. 2014.
[21] Ibid., des., tradução própria.

Geanluca Lorenzon é Chief Operating Officer (C.O.O.) do Instituto Mises Brasil. Advogado, administrador e consultor. Pós-graduado em Competitividade Global pela Georgetown University. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em Organizações Políticas pela Theodor Heuss Akademie.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O QUE ESTOU FAZENDO AQUI

O que neste país se chama de “debate político” é de uma miséria intelectual indescritível, que por si só já fornece a explicação suficiente do fracasso nacional em todos os domínios


A característica fundamental das ideologias é o seu caráter normativo, a ênfase no “dever ser”. Todos os demais elementos do seu discurso, por mais denso ou mais ralo que pareça o seu conteúdo descritivo, analítico ou explicativo, concorrem a esse fim e são por ele determinados, ao ponto de que as normas e valores adotados decidem retroativamente o perfil da realidade descrita, e não ao inverso.

Isso não quer dizer que às ideologias falte racionalidade: ao contrário, elas são edifícios racionais, às vezes primores de argumentação lógica, mas construídos em cima de premissas valorativas e opções seletivas que jamais podem ser colocadas em questão.

Daí que, como diz A. James Gregor, o grande estudioso do fenômeno revolucionário moderno, o discurso ideológico seja “enganosamente descritivo”: quando parece estar falando da realidade, nada mais faz do que buscar superfícies de contraste e pontos de apoio para o “mundo melhor” cuja realização é seu objetivo e sua razão de ser.

Se o cidadão optou pelo socialismo, ele descreverá o capitalismo como antecessor e adversário, suprimindo tudo aquilo que, na sociedade capitalista, não possa ser descrito nesses termos.

Se escolheu a visão iluminista da democracia como filha e culminação da razão científica, descreverá o fascismo como truculência irracional pura, suprimindo da História as décadas de argumentação fascista – tão racional quanto qualquer outro discurso ideológico – que prepararam o advento de Mussolini ao poder.

Tendo isso em vista, a coisa mais óbvia do mundo é que nenhum dos meus escritos e nada do que eu tenha ensinado em aula tem caráter ideológico, e que descrever-me como “ideólogo da direita”, ou ideólogo do que quer que seja, só vale como pejorativo difamatório, tentativa de me reduzir à estatura mental do anão que assim me rotula.

Podem procurar nos meus livros, artigos e aulas. Não encontrarão qualquer especulação sobre a “boa sociedade”, muito menos um modelo dela.

Posso, no máximo, ter subscrito aqui ou ali, de passagem e sem lhe prestar grande atenção, este ou aquele preceito normativo menor em economia, em educação, em política eleitoral ou em qualquer outro domínio especializado, sem nenhuma tentativa de articulá-los e muito menos de sistematizá-los numa concepção geral, numa “ideologia”.

Isso deveria ser claro para qualquer pessoa que saiba ler, e de fato o seria se a fusão de analfabetismo funcional, malícia e medo caipira do desconhecido não formasse aquele composto indissolúvel e inalteravelmente fedorento que constitui a forma mentis dos nossos “formadores de opinião” hoje em dia (refiro-me, é claro, aos mais populares e vistosos e à sua vasta plateia de repetidores no universo bloguístico, não às exceções tão honrosas quanto obscuras, das quais encontro alguns exemplos neste mesmo Diário do Comércio).

É óbvio que essas pessoas são incapazes de raciocinar na clave do discurso descritivo. Não dizem uma palavra que não seja para “tomar posição”, ou melhor, para ostentar uma auto-imagem lisonjeira perante os leitores, devendo, para isso, contrastá-la com algum antimodelo odioso que, se não for encontrado, tem de ser inventado com deboches, caricaturações pueris e retalhos de aparências.

A coisa mais importante na vida, para essas criaturas, é personificar ante os holofotes alguns valores tidos como bons e desejáveis, como por exemplo “a democracia”, “os direitos humanos”, “a ordem constitucional”, “a defesa das minorias”, etc. e tal, colocando nos antípodas dessas coisas excelentíssimas qualquer palavra que lhes desagrade.

Alguns desses indivíduos tiveram as suas personalidades tão completamente engolidas por esses símbolos convencionais do bem, que chegam a tomar qualquer reclamação, insulto ou crítica que se dirija às suas distintas pessoas como um atentado contra a democracia, um virtual golpe de Estado.

O desejo de personificar coisas bonitas como a democracia e a ordem constitucional é aí tão intenso que, no confronto entre esquerda e direita, os dois lados se acusam mutualmente de “golpistas” e “fascistas”. Melhor prova de que se trata de meros discursos ideológicos não se poderia exigir.

Da minha parte, meus escritos políticos dividem-se entre a busca de conceitos descritivos cientificamente fundados e a aplicação desses conceitos ao diagnóstico de situações concretas, complementado às vezes por prognósticos que, ao longo de mais de vinte anos, jamais deixaram de se cumprir.

Dessas duas partes, a primeira está documentada nas minhas apostilas de aulas (especialmente dos cursos que dei na PUC do Paraná), a segunda nos meus artigos de jornal.

Os leitores destes últimos não têm acesso direto à fundamentação teórica, mas encontram neles indicações suficientes de que ela existe, de que não se trata de opiniões soltas no ar, mas, como observou Martin Pagnan, de ciência política no sentido estrito em que a compreendia o seu mestre e amigo, Eric Voegelin.

Não há, entre os mais incensados “formadores de opinião” deste país -- jornalísticos ou universitários --, um só que tenha a capacidade requerida, já não digo para discutir esse material, mas para apreendê-lo como conjunto.

Descrevo aí as coisas como as vejo por meio de instrumentos científicos de observação, pouco me importando se vou “dar a impressão” de ser democrata ou fascista, socialista, neocon, sionista, católico tradicionalista, gnóstico ou muçulmano.

Tanto que já fui chamado de todas essas coisas, o que por si já demonstra que os rotuladores não estão interessados em diagnósticos da realidade, mas apenas em inventar, naquilo que lêem, o perfil oculto do amigo ou do inimigo, para saber se, na luta ideológica, devem louvá-lo ou achincalhá-lo.

A variedade mesma das ideologias que me atribuem é a prova cabal de que não subscrevo nenhuma delas, mas falo numa clave cuja compreensão escapa ao estreito horizonte de consciência dos ideólogos que hoje ocupam o espaço inteiro da mídia e das cátedras universitárias.

Suas reações histéricas e odientas, suas poses fingidas de superioridade olímpica, sua invencionice entre maliciosa e pueril, seus afagos teatrais de condescendência paternalista entremeados de insinuações pérfidas, são os sintomas vivos de uma inépcia coletiva monstruosa, como jamais se viu antes em qualquer época ou nação.

O que neste país se chama de “debate político” é de uma miséria intelectual indescritível, que por si só já fornece a explicação suficiente do fracasso nacional em todos os domínios – economia, segurança pública, justiça, educação, saúde, relações internacionais etc.

Digo isso porque a intelectualidade falante demarca a envergadura e a altitude máximas da consciência de um povo. Sua incapacidade e sua baixeza, que venho documentando desde os tempos do Imbecil Coletivo (1996), mas que depois dessa época vieram saltando do alarmante ao calamitoso e daí ao catastrófico e ao infernal, refletem-se na degradação mental e moral da população inteira.

De todos os bens humanos, a inteligência –e inteligência não quer dizer senão consciência –se distingue dos demais por um traço distintivo peculiar: quanto mais a perdemos, menos damos pela sua falta. Aí as mais óbvias conexões de causa e efeito se tornam um mistério inacessível, um segredo esotérico impensável. A conduta desencontrada e absurda torna-se, então, a norma geral.

Durante quarenta anos, os brasileiros deixaram, sem reclamar, que seu país se transformasse no maior consumidor de drogas da América Latina; deixaram que suas escolas se tornassem centrais de propaganda comunista e bordéis para crianças; deixaram, sem reclamar, que sua cultura superior fosse substituída pelo império de farsantes semi-analfabetos; deixaram, sem reclamar, que sua religião tradicional se prostituísse no leito do comunismo, e correram para buscar abrigo fictício em pseudo-igrejas improvisadas onde se vendiam falsos milagres por alto preço; deixaram, sem reclamar, que seus irmãos fossem assassinados em quantidades cada vez maiores, até que toda a nação tivesse medo de sair às ruas e começasse a aprisionar-se a si própria atrás de grades impotentes para protegê-la; deixaram, sem reclamar, que o governo tomasse as suas armas, e até se apressaram em entregá-las, largando suas famílias desprotegidas, para mostrar o quanto eram bonzinhos e obedientes. Depois de tudo isso, descobriram que os políticos estavam desviando verbas do Estado, e aí explodiram num grito de revolta: "Não! No nosso rico e santo dinheirinho ninguém mexe!"

A rebelião popular contra os comunolarápios não nasce de nenhuma indignação moral legítima, mas emana da mesma mentalidade dinheirista que inspira os corruptos mais cínicos.

Não só o dinheiro é aí o valor mais alto, talvez o único, mas tudo parece inspirar-se na regra: “Eu também quero, senão eu conto para todo mundo.” É óbvio que, se essa mentalidade não prevalecesse no nosso meio social, jamais a corrupção teria subido aos níveis estratosféricos que alcançou com o Mensalão, o Petrolão etc.

O ódio ao mal não é sinal de bondade e honradez: faz parte da dialética do mal odiar-se a si mesmo, mover guerra a si mesmo e proliferar por cissiparidade.

O mais significativo de tudo é que fenômeno de teratologia moral tão patente, tão visível e tão escandaloso não mereça sequer um comentariozinho num jornal, quando deveria ser matéria de mil estudos sociológicos.

Querem maior prova de que os luminares da mídia e das universidades não têm o menor interesse em conhecer a realidade, mas somente em promover suas malditas agendas ideológicas?

Foi por isso que, mais de vinte anos atrás, cheguei à conclusão de que toda solução política para os males do país estava, desde a raiz, inviabilizada pelo caráter fútil e perverso das discussões públicas.

Só havia um meio – difícil e trabalhoso, mas realista -- de mudar para melhor o curso das coisas neste país, e esse curso não passava pela ação político-eleitoral. Era preciso seguir, “sem parar, sem precipitar e sem retroceder”, como ensinava o Paulo Mercadante, as seguintes etapas:

1. Revigorar a cultura superior, treinando jovens para que pudessem produzir obras à altura daquilo que o Brasil tinha até os anos 50-60 do século passado.

2. Higienizar, assim, o mercado editorial e a mídia cultural, criando aos poucos um novo ambiente consumidor de alta cultura e saneando, dessa maneira, os debates públicos.

3. Sanear a grande mídia, mediante pressão, boicote e ocupação de espaços.

4. Sanear o ambiente religioso -- católico e protestante.

5. Sanear, gradativamente, as instituições de ensino.

6. Por fim, elevar o nível do debate político, fazendo-o tocar nas realidades do país em vez de perder-se em chavões imateriais e tiradas de retórica vazia. Esta etapa não seria atingida em menos de vinte ou trinta anos, mas não existe “caminho das pedras”, não há solução política, não há fórmula ideológica salvadora. Ou se percorrem todas essas etapas, com paciência, determinação e firmeza, ou tudo não passará de uma sucessão patética de ejaculações precoces.

Esse é o projeto a que dediquei minha vida, e do qual os artigos que publico na mídia não são senão uma amostra parcial e fragmentária. Imaginar que fiz tudo o que fiz só para criar um “movimento de direita” é, na mais generosa das hipóteses, uma estupidez intolerável.

Quanto ao ítem número um, não se impressionem com os apressadinhos que, tendo absorvido superficialmente alguns ensinamentos meus, já quiseram sair por aí, brilhando e pontificando, numa ânsia frenética de aparecer como substitutos melhorados do Olavo de Carvalho.

Esses são apenas a espuma, bolhas de sabão que o tempo se encarregará de desfazer. Tenho ainda uma boa quantidade de alunos sérios que continuam se preparando, em silêncio, para fazer o bom trabalho no tempo devido.

Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio


domingo, 14 de fevereiro de 2016

O ERRO IDEOLÓGICO DE FHC

A desgraça do Brasil é que temos visto sucessivos governos esquerdistas buscando sua utopia às custas dos brasileiros de bem, que são roubados, vilipendiados, submetidos à tirania burocrática mais vil.

Não sei se se pode falar em “erro ideológico”, mas não encontro outra expressão para designar a persistência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de reafirmar suas crenças socialistas e distributivistas ao tempo em que faz críticas aos governos do PT, a quem chama de lulopetismo, certamente uma forma de descaracterizar a gênese do PT, supostamente contaminada pelo personalismo de Lula. A fé na igualdade que FHC carrega é cega e estúpida e incompatível com a realidade, mas ele certamente morrerá abraçado com ela. Não beijará a cruz na hora derradeira. O ex-presidente voltou à carga no artigo Certo e Errado, publicado no Estadão.

O virtuosismo sofista de FHC se ressalta no artigo ao buscar apoio em dois soldados de sua corriola, um vivo e um morto. Citou a entrevista de José de Souza Martins às páginas amarelas da revista Veja, que disse que a visão dicotômica do PT se deve à sua suposta origem católica. Ora, essa é uma perversão de conceitos. O PT, se teve apoio de setores católicos na origem, foi daqueles setores que abraçaram o marxismo e, portanto, não mais eram católicos. Mais apoios teve entre os integrantes das esquerdas revolucionárias. Estas sempre viram o mundo de forma dicotômica, é da essência dos partidos revolucionários dizer que os membros do partido são os redentores do povo, os bons, os que têm o sentido da história, e os demais, inclusive o povo, são os maus que precisam ser ou reformados ou exterminados.

Esse mundo em preto e branco é típico dos revolucionários que pregam a igualdade e a sua implantação por diferentes formas. FHC pensa exatamente assim, embora esteja treinado para fazer discurso apaziguador “democrático”, tolerante. Essencialmente não há diferença de programa entre FHC e o PT.

O outro autor a que apela, morto, é Sérgio Buarque, que aqui se torna veículo para o sociólogo exibir sua erudição suposta, tomando dele de empréstimo a expressão “atrasado” para impingir ao PT, como se isso fosse algum conceito e explicasse alguma coisa. Ora, todo o socialismo é o atraso ele mesmo, a derrocada espiritual, o descenso civilizacional, a negação as coisas naturais ao homem. É a tentativa de inventar o “homem novo” e, ao fazê-lo, construir o inferno na terra que faz de alguém socialista. É a veia de salão de FHC quase preconceituosa contra o PT. No fundo, a crítica ao PT é a crítica de todos os líderes do PSDB: a da competência técnica para governar supostamente portada pela socialdemocracia ante a notória incompetência administrativa do PT.

Ora, o PT é apenas mais coerente e mais urgente na perseguição da sua utopia, daí porque o desastre aparece mais rápido e mais nitidamente nos seus governos. Em favor de si FHC tem o Plano Real, sim, mas esse é um ponto fora da curva. No seu governo tivemos a gênese das políticas compensatórias do PT, a vã tentativa de fazer reforma agrária ao tempo em que a população já nem mais estava nos campos, fez crescer imensamente e rapidamente a carga tributária, uma verdadeira herança maldita. O Plano Real foi apenas um pingo de sensatez num mar de insensatez socialista que foi o governo de FHC, os dois.

Daí FHC poder fazer a sua magna conclusão: “cabe aos políticos de oposição, na luta ideológica, continuar a desmantelar as fortalezas do atraso.” Ou seja, a ele mesmo e a sua corriola, que são a oposição consentida e aceita por todos os socialistas que se aboletaram no poder. Por isso FHC pode ensinar: 

“Erros que não remetem à divisão esquerda/direita, mas se explicam pelo atraso na compreensão da política econômica e pelo interesse em manter o poder e os bolsos dos partidos e de alguns de seus dirigentes recheados com dinheiro alheio, dinheiro do povo. ” 

Entenda-se: não é errado ser de esquerda, é certo ser de esquerda, mas não da esquerda aloprada e incompetente que é o PT. É o discurso do autoengano mais sonso que já vi escrito por FHC.

Diga-se de uma vez: a desgraça do Brasil é que temos visto sucessivos governos esquerdistas buscando sua utopia às custas dos brasileiros de bem, que são roubados, vilipendiados, submetidos à tirania burocrática mais vil e impedidos de construir de forma livre seu próprio destino. FHC é o grande arquiteto dessa tragédia nacional. O PT sempre foi seu filho dileto. FHC passou a faixa de presidente a Lula com a maior satisfação, embora os brasileiros despertos soubessem que seria um passo errado em direção a um oclocracia, como se revelou. Não porque Lula era o atraso, mas porque representava o passo adiante em direção ao “verdadeiro” socialismo.

O cinismo ideológico de FHC chega a ser comovente e quase convincente. Contudo, a utopia da igualdade já está suficientemente desmascarada para seduzir quem pode pensar por si mesmo. FHC, nesse sentido e no plano teórico mais geral, é um grande mentiroso. E se acha o tal da cocada preta. Daria dó tal pretensão se não tivesse tido o poder de cometer tanta maldade contra os brasileiros e, pior, ter condições de voltar ao poder para repeti-las.


Por: Nivaldo Cordeiro - 08 de fevereiro de 2016

Do site: www.nivaldocordeiro.net

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA COMPLETA 98 ANOS





O dia 7 de novembro marca o aniversário da Revolução de Outubro, ocorrida na Rússia em 1917. Os acontecimentos ocorridos na época consolidaram o Partido Bolchevique no poder, iniciando o processo que culminou na formação da União Soviética em 1922.

Por que exatamente o evento se chama Revolução de Outubro, se faz aniversário em novembro? O estranho descasamento entre nome e data tem seu motivo. À época, a Rússia era um dos poucos países europeus a ainda utilizar o calendário juliano, sistema de contagem de datas implantado em 46 a.C. por Júlio César (daí o nome) e que antecedeu o calendário gregoriano, adotado na maior parte do Ocidente em 1582 e nos anos seguintes. Devido a falhas na contagem dos anos bissextos, o calendário juliano acumula uma diferença de 13 dias em relação a seu sucessor: desse modo, a data que a maior parte da Europa conheceu como “7 de novembro de 1917” foi, na Rússia, o dia 25 de outubro de 1917.

A história da Revolução começou oito meses antes, com a derrubada do regime do czar Nicolau II (Revolução de Fevereiro). A abdicação do soberano foi seguida pela formação de umGoverno Provisório, constituído principalmente por nobres e aristocratas, e de vários conselhos de trabalhadores (sovietes), formado por “deputados” ligados a partidos de esquerda (bolcheviques, mencheviques e socialistas-revolucionários). O principal soviete foi instalado na capital do país, Petrogrado.

Embora o Governo Provisório ocupasse nominalmente o poder, grande parte de sua atividade se reportava à aprovação dos sovietes – instituições em tese informais, mas que na prática influenciavam decisivamente setores fundamentais da população russa, como os trabalhadores industriais e o exército. Esse regime, no qual o poder concreto foi repartido entre Governo Provisório e sovietes, se chamou “poder dual” – “dvoevlastie”, em russo. Esse sistema imperou na Rússia de março/1917 até a Revolução de Outubro, capitaneada pelo Partido Bolchevique – grupo de esquerda que detinha influência decisiva sobre os sovietes. Nesse processo, foi decisiva a figura do líder do partido, um tal Vladimir Ilyich Ulyanov. Não reconheceu o nome? Talvez seja ligeiramente mais familiar o apelido que Vladimir adotou em 1901, e que lhe acompanhou até o fim da sua vida: Lênin.

No início de 1917, Lênin (embora a origem seja incerta, acredita-se que o apelido tenha sua origem no Rio Lena, que atravessa a Sibéria) vivia no exílio em Zurique, tendo ouvido falar da derrubada do czar por intermédio de um amigo. Ele já era uma figura de destaque no Partido Bolchevique, autor de diversas obras a respeito do papel do Estado e da revolução socialista. Seu potencial como líder revolucionário atraiu a atenção do governo alemão, interessado em desestabilizar a Rússia com o objetivo de obter a vitória no front oriental da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha, assim, ofereceu a Lênin diversas garantias diplomáticas e financeiras para seu retorno a Petrogrado.

Lênin não frustrou as expectativas: assim que pôs os pés em solo russo, começou a trabalhar incessantemente para a derrubada do Governo Provisório e a passagem de “todo o poder aos sovietes”. Esse evento ocorreria em outubro (ou novembro, como preferir), quando um golpe militar levado a cabo pelos bolcheviques, juntamente com uma série de manobras eleitorais dentro do sistema dos sovietes, garantiu ao partido a assunção do poder na Rússia.

Apesar de ter causado consequências históricas profundas, a Revolução de Outubro não foi um evento de grandes dimensões: a propaganda soviética as aumentaria consideravelmente nos anos posteriores. Seu momento-chave, ocorrido no dia 7 de novembro de 1917, foi a tomada do Palácio de Inverno de Petrogrado (sede do Governo Provisório) pelas tropas vermelhas. Embora a propaganda oficial (principalmente o filme Outubro, lançado em 1927 por Sergei Eisenstein) a retrate como um acontecimento de grande porte, na realidade o Palácio era parcamente defendido. Poucas tropas foram necessárias, e quase nenhum tiro precisou ser disparado na ocasião.

Deixemos o resto da história ser contado visualmente – para isso, separamos 18 imagens que retratam momentos essenciais desse processo que mudou decisivamente toda a história do planeta nos anos posteriores.
1. LÊNIN


Além de principal líder do Partido Bolchevique, Lênin foi o intelectual que articulou todo o processo de tomada do poder pelos comunistas em 1917. Na foto, tirada em algum momento incerto anterior à Revolução, ele aparece discursando em Petrogrado para um grupo de correligionários. A figura em destaque à direita do balcão é Leon Trotsky – um de seus potenciais sucessores, que acabaria sendo suplantado por Stalin, enviado para o exílio e posteriormente assassinado.
2. O EXÉRCITO


O exército russo foi um dos principais alvos da propaganda dos partidos de esquerda nos anos que antecederam à Revolução – como mostra essa foto, em que soldados simpáticos aos bolcheviques carregam faixas com slogans marxistas. O meio militar foi um terreno extremamente fértil para a propagação de ideais revolucionários, uma vez que o discurso de “exploração” encontrava grande aceitação entre soldados que não se conformavam com a luta na Primeira Guerra Mundial, travada em condições precárias e contra um inimigo mais forte. Após a Revolução, Lênin pretendia substituir a máquina estatal existente por outra inteiramente nova (veja o capítulo “Socialismo e Estado” deste artigo), processo que incluiria o exército. A realidade, porém, se mostraria mais forte do que as teorias de Lênin: estima-se que mais de 80% dos oficiais que lutaram a Guerra Civil ao lado dos bolcheviques pertencessem às antigas forças czaristas.
3. “DIAS DE JULHO”


Parte do processo que desembocaria na Revolução de Outubro, os “dias de julho” foram inicialmente manifestações espontâneas de militares em Petrogrado, estimulados por uma recente derrota sofrida contra a Alemanha. A intelligentsia bolchevique aproveitou-se desse movimento, tomando sua liderança e introduzindo nas manifestações as palavras de ordem “vsia vlast’ sovietam” (“todo o poder aos sovietes”), como pode ser observado na faixa na fotografia acima. A manifestação foi contida e o Governo Provisório ordenou a prisão de vários líderes bolcheviques – entre os quais Lênin, que fugiu para a Finlândia, retornando à Rússia em seguida.
4. SOVIETE DE PETROGRADO


Basicamente, os sovietes eram conselhos de trabalhadores – na verdade, deputados escolhidos aleatoriamente nas fábricas e quarteis – que se propunham a deliberar sobre questões relativas à política russa. As fotos retratam o principal deles, o Soviete de Petrogrado, formado na capital do país e que em 15 dias de existência reuniu mais de 3 mil membros.


O número enorme de deputados tornava as sessões caóticas. Por esse motivo, não tardou até que as decisões do Soviete passassem a ser tomadas inicialmente por seu comitê executivo, conhecido como Ispolkom, e posteriormente levadas à aclamação dos participantes. Os sovietes eram integrados por membros ligados a três partidos de esquerda (bolcheviques, mencheviques e socialistas-revolucionários), os quais divergiam seriamente quanto a diversos temas. A primeira foto é um exemplo – na faixa do canto superior esquerdo, lê-se “Fora Lênin!”.
5. TOMADA DO PALÁCIO DE INVERNO


A primeira foto mostra as tropas da Guarda Vermelha se preparando para o assalto ao Palácio de Inverno, em Petrogrado – sede do antigo governo czarista e do Governo Provisório que lhe sucedeu.


Na segunda foto, um desfile de tropas leais aos bolcheviques é realizado na frente da construção, após sua tomada – operação que é considerada o marco inicial da Revolução de Outubro e do governo comunista.


A terceira foto, embora seja comumente divulgada como um registro histórico do evento, trata-se na verdade de uma reencenação – a invasão do palácio ocorreu à noite, e não havia câmeras por perto.
6. NOVO GOVERNO


Proclamação do Milrevcom de Petrogrado na qual é anunciada a derrubada do Governo Provisório. Os Milrevcom (Comitês Militares Revolucionários) foram órgãos militares criados pelo Partido Bolchevique para conduzir a tomada do governo russo. Mais de 40 comitês foram criados e distribuídos ao longo de todo o território russo.
7. NOVA CAPITAL


Lênin, alguns comandantes militares e o exército marcham na Praça Vermelha, em Moscou. Moscou foi tomada pelos bolcheviques em 15 de novembro de 1915, e sua captura passou por combates mais violentos do que os ocorridos em Petrogrado – alguns historiadores russos os consideram como as primeiras batalhas da Guerra Civil. Posteriormente, a cidade se tornaria a capital do país. A transferência ocorreu em março de 1918, temendo-se agitações em Petrogrado (cidade que depois foi renomeada como Leningrado, e hoje é conhecida como São Petersburgo).
8. FIM DO CZARISMO


Na primeira foto, retratos do czar e da família imperial são removidos das paredes em Petrogrado. Após sua abdicação em fevereiro de 1917, Nicolau II e sua família foram aprisionados – primeiro na Tsarskoye Sielo (“aldeia do czar”), uma mansão imperial nos subúrbios de Petrogrado, depois na Dom Kuklina (“casa de Kuklin”), residência localizada em Tobolsk.


Finalmente, foram transferidos para a Dom Ipat’ieva (“casa de Ipatiev”), localizada em Yekaterinburg, no centro do país, onde foi tirada a segunda foto. Temendo que a antiga família imperial pudesse ser libertada e provocar agitações contra o novo regime, os bolcheviques executaram o czar, sua esposa, seus cinco filhos e toda sua comitiva em maio de 1918. Os corpos seriam descobertos apenas em 1979.
9. PRAVDA


Fundado em 1912, o Pravda (“verdade”, em russo) era o jornal do Partido Bolchevique. Inicialmente perseguido pelo czarismo (o jornal chegou a mudar de nome oito vezes entre 1914 e 1917), o Pravda voltou a seu nome original em 1917 e, após a Revolução, tornou-se a publicação oficial do novo regime, status que manteria até 1991. O jornal foi fechado por Boris Yeltsin em 1991, mas logo após uma publicação de mesmo nome foi criada por um grupo de jornalistas russos. O novo Pravda foi então adquirido por empresários gregos e, em 1997, voltou às mãos do Partido Comunista Russo. Se você quiser adicionar mais um veículo de comunicação de nome russo à sua leitura diária, saiba que há inclusive uma versão em português do jornal, que pode ser acessada aqui.
10. ELEIÇÃO PARA A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE


A intenção declarada do Governo Provisório proclamado em fevereiro/1917 era organizar eleições para uma Assembleia Constituinte, que deveria determinar os rumos do país após o fim do czarismo. Mesmo com o golpe bolchevique, as eleições de fato chegaram a ser realizadas – o que ocorreu em 25 de novembro, com a vitória do Partido Socialista Revolucionário (41% dos votos). Os bolcheviques ficaram em segundo lugar, com 23,5% dos votos. A Assembleia se reuniria uma única vez, em 18/19 de janeiro de 1918: temendo a derrota de suas propostas, os bolcheviques fecharam-na à força.
11. GUERRA CIVIL


Travada entre 1918 e 1922, a Guerra Civil Russa opôs os bolcheviques (“vermelhos”) a diversas forças de oposição, geralmente agrupadas sob o nome de “exércitos brancos”. O estudo do conflito é extremamente complexo: não bastassem os fatos de o exército vermelho ser um grupo em formação e de não haver coesão entre os diferentes fronts nos quais os “brancos” lutavam, a história da Guerra Civil ainda envolve a invasão germânica no final da Primeira Guerra Mundial, a existência de grupos não alinhados com nenhum dos dois lados (guerrilheiros rurais “verdes” e anarquistas “negros”), intervenções de países estrangeiros, contratações de mercenários e a atuação de movimentos separatistas (a qual resultaria na independência de nações como a Polônia e os países bálticos). Na foto, soldados pertencentes aos “vermelhos” – grupo vitorioso ao final do conflito – marcham em Kharkov, localizada na atual Ucrânia.
12. ESCASSEZ


O comunismo, quem diria, não obteve os resultados prometidos: logo após a tomada do poder pelos bolcheviques, a economia russa entrou em colapso, com a falta de produtos básicos e uma inflação exorbitante (motivada principalmente pelo desejo dos comunistas em se acabar com o dinheiro, que em sua visão seria um instrumento para a exploração do proletariado). Inicialmente as falhas foram atribuídas à Guerra Civil, e criou-se a expressão “comunismo de guerra” para se designar a política econômica dos primeiros anos após a Revolução. Em 1921, Lênin substituiria o “comunismo de guerra” pela Novaya Ekonomicheskaya Politika (Nova Política Econômica), que basicamente era o que hoje chamamos de “capitalismo de Estado”. Na NEP, revogada por Stalin em 1928, era permitida a propriedade privada de alguns negócios, enquanto o crédito, o comércio exterior e as grandes indústrias eram controladas pelo Estado. Soa familiar?
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