sexta-feira, 20 de maio de 2016

O IMPEACHMENT E A "TEORIA DA NARRATIVA"


Um dos expedientes mais abusados pelos revolucionários é o da "teoria da narrativa", que parte da ideia central de que, na história, o que vence não são os fatos, mas a narrativa dos mesmos.

Essa ideia é parcialmente verdadeira. Parcialmente porque a narrativa não é um princípio. Princípio são os fatos. Ou seja, construí-la a despeito destes é excogitar um artifício fantasioso, incapaz de convencer pessoas com sua faculdade cognitiva em ordem, e são justamente essas que dão solidez à história, mesmo que a não protagonizem.

Mas os revolucionários sabem disso. Mentem em coro para inibirem a apreensão dos fatos pela imposição coletiva de factóides. Nem eles o creem! Fingem e, do fingimento, passam para a repetição de refrões que, desconectados da realidade, passam a se tornar a única realidade que admitem. É a histeria em gestação. O verbal substitui o real, e a realidade torna-se um "em si" inacessível.

Agora, no Brasil, é exatamente este o processo da "narrativa do golpe". A realidade é simples:

- No Brasil, o impeachment é um julgamento simultaneamente político e jurídico.

- Do ponto de vista jurídico, a presidente cometeu um presumível crime de responsabilidade, por causa das pedaladas, que ela mesma confessou (os outros governos também o fizeram, mas em quantidade muitíssimo menor, o que não é juridicamente irrelevante -- pelo princípio da relevância, um roubo de milhares não se pode comparar a um roubo de milhões);

- Do ponto de vista político, porém, a presidente não tem mais credibilidade (o que os outros presidentes possuíam e, por isso, não foram impedidos).

Contudo, com as denúncias provenientes da própria esquerda, as investigações da Polícia Federal, os crimes constatados, as flagrantes obstruções da justiça, os favorecimentos ilícitos, os julgamentos, e tudo aliado a uma crise econômica sem precedentes, à queda livre do país, simplesmente não há clima de confiabilidade, nacional e internacional. Politicamente, a presidente não governava mais os fatos, era governada pelos mesmos. E, por causa disso, foi afastada.

Essa é a diferença básica. Apenas o eventual crime não basta; é necessário que haja ausência de respaldo político para que a presidente caia, e, numa democracia, esse respaldo emana também do povo.

Note-se, porém, a inversão da realidade. Nega-se que sejam crime as confessadas pedaladas, que são o mais patente de todos os fatos, e ignora-se a ausência absoluta de apoio político, como se esse houvesse. Dos 54 milhões que votaram, a quase totalidade se arrependeu, pois as promessas foram desmentidas pelos atos governamentais, e as mentiras de campanha foram desmascaradas pelos números.

A narrativa não pode vencer, nesse caso. Ela não é crível. Passará para a história como piada, e será afogada pelos julgamentos que virão, e as condenações, e as prisões.

De tudo isso, a ironia mais desconcertante está no fato de que nós, que não votamos em Temer (porque não votamos em Dilma), estamos torcendo para que faça um bom governo, pelo bem do país; e eles, que nele votaram, torcem por seu desgoverno, em favor do partido. De fato, essa é a prova cabal de que não tinham um projeto de nação, mas, sim, um projeto para devorá-la, projeto que começou a ser derrotado, mas que ainda dista de ser totalmente sepultado, pois para sê-lo necessita-se, antes, da cura da nação, que seja sarada da histeria e volte a gozar de bom senso, para que retorne definitivamente ao caminho da sabedoria.
POR PE. JOSÉ EDUARDO | 15 MAIO 2016 
Do site: http://www.midiasemmascara.org

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O NASCIMENTO DO SOCIOCONSTRUTIVISMO

“Tínhamos duas grandes utopias, a pátria e a revolução, e eu sou daqueles que acordam todos os dias e se alegram quando lembram que essas coisas acabaram. O maoismo matou milhões de pessoas. Qual é a nostalgia que se pode ter por isso? O que admirávamos era lixo.” – Luc Ferry, ex-ministro da Educação da França


O historiador holandês Luuk Van Middelaar faz uma narração do nascimento daquele que seria considerado um dos males dos nossos tempos: o socioconstrutivismo. Em seu livro “Politicídio – O assassinato da política na filosofia francesa”, Middelaar ilustra como autores como Simone de Bevoir, Jean Paul-Sartre e Maurice Merleau-Ponty deixaram influências na cultura, na educação e na política internacional, tendo como nascimento o período conhecido como Maio de 68, período em que estabelecem greves gerais na França lideradas por estudantes de orientação maoísta e que foi se alastrando por todo o país gaulês.

Middelaar tem sido considerado um dos melhores pensadores europeus da nova geração, contribuindo de maneira decisiva para a difusão de ideias liberais-conservadoras por todo o Velho Continente. O livro faz uma tenaz análise da gênese socioconstrutivismo suas relações com o filósofo alemão Friderich Hegel, interpretações do influente Alexandre Kojève e incluindo doses do pensamento maoista, culminando com a geração de pesadores ligados ao existencialismo e a autora Simone de Bevoir. Pensadores como Kojève, Sartre e Merleau-Ponty eram devotos das teorias de outros autores além de Hegel, como Karl Marx e Martin Heidegger, outros como os filósofos Gilles Deleuze e Michel Foucault, conhecidos como “filósofos da suspeita”, decidiram aprofundar-se nas obras associando Marx, Friderich Nietzsche e Sigmund Freud.

Uma das grandes virtudes do holandês na obra é o fato é explicar as ideias hegelianas sob a observação de Kojève e as interpretações realizadas por Sartre e Deleuze sem recorrer a jargões, sempre apoiando-se nos textos dos autores e não se deixando levar por preferências políticas. Tal obra por essa característica se torna indispensável para a atualidade de nosso país, pois se é recorrente a onda de interesse pela desmistificação do pensamento de esquerda, porém com pouco material para estudo e com alguns panfletários que fazem um trabalho ruim, com níveis intelectuais que não são piores quanto o seu manejo do português.

O historiador mostra com exímia precisão o modo que os badalados pensadores franceses do século XX dedicaram-se a defesa da tirania maoista, justificando os campos de concentração e a celebração da violência como forma genuína de fazer política. De certo modo o debate político na França é influenciado pelo uso do terror desde os desdobramentos da Revolução Francesa, em 1789, entretanto, ao se introduzir de forma maciça o pensamento de Hegel pelas lentes de Kojève nessa equação, o resultado torna-se surpreendente. Se o alemão Hegel achava que a história se concretizara com a figura nababesca de Napoleão Bonaparte, coube ao franco-russo divergir e propor a seus discípulos que o verdadeiro realizador máximo da história não seria Napoeão, mas, sim, o açougueiro soviético Josef Stálin. Ensinados com a fonte inspiradora de Robespierre, apreenderam que a verdadeira liberdade deveria se propagar pelo terror e que o verdadeiro Estado deveria assegurar o direito político à morte aos cidadãos. Sartre, que não escondia de ninguém seu fascínio a Stálin e a Mao Tsé-Tung, escreveu que os expurgos e as execuções na União Soviética e na China eram apenas uma fase na luta política.

Novamente, não dá para se pensar no atual estágio de nosso país, ainda refém de intelectuais que ainda se fazem de arautos da chamada “violência emancipadora”, como no livro “A esquerda que não teme dizer seu nome”. A obra do holandês Middelaar é uma armadura de sapiência e bom-senso a proteger-nos das imposturas intelectuais e das fantasias políticas que as seguem.
Por Jefferson Viana, publicado pelo Instituto Liberal Do site: http://www.institutoliberal.org.br/blog/o-nascimento-do-socioconstrutivismo/

quarta-feira, 11 de maio de 2016

ACABAR EM PIZZA

Tenho um amigo de infância que ainda vive na casa dos pais. Estranho? Talvez, se tivermos em conta que ele tem 40 anos.


E, antes que o leitor imagine o personagem como uma triste figura –um nerd coberto de acne, com tendência para o onanismo e para o merchandising de "Star Wars" (uma redundância, eu sei)–, por favor, não se iluda.

O rapaz está em excelente forma. A vida sentimental sempre foi como a cabeça de Carmen Miranda –colorida e suculenta. E, economicamente falando, o desgraçado é mais rico do que eu.

Mas o pior não são estas evidências. É escutá-lo sobre a situação doméstica, que ele relata com uma serenidade oriental. A questão é perfeitamente simples –e razoável. Os pais sempre insistiram para que ele "voasse para fora do ninho". Mas ele, mais inteligente que os pais, começou a fazer contas. E ficou no ninho.

Um apartamento custa dinheiro. Uma empregada para tratar da roupa e da limpeza da casa também não é grátis. Os cozinhados da mãe suplantam qualquer produto congelado. E, quando existem encontros românticos, nada se compara a um bom hotel –com um bom room service. Além disso, as poupanças de viver com os pais permitem-lhe trabalhar a meio-termo.

"E se um dia surgir uma mulher permanente?", pergunto eu, desesperado. A resposta é lógica: "A casa é suficientemente grande para todos".

Escuto tudo com uma mistura de pasmo e inveja. E depois penso: a sorte dele é não viver na Itália.

Alguns números: na pátria do "dolce far niente", 65% dos italianos entre os 18 e os 34 anos ainda vivem na casa dos pais (uma enormidade em termos europeus). São os chamados "mammone" –uma palavra que expressa a ligação umbilical dos filhos adultos às respectivas mães.

E esses meninos da mamãe não são diferentes do meu amigo. Com uma diferença: no caso dos italianos, a trilogia cama-mesa-roupa lavada não chega. É preciso acrescentar também uma mesada.

Felizmente, os pais italianos começam a reagir contra os abusos da descendência. E todos os anos há milhares –repito: milhares– de processos em tribunal com os pais a implorar ao juiz para que o filho seja expulso de casa.

Nem sempre conseguem: relata o "Daily Telegraph" que em Modena (uma simpática cidade da Emília-Romanha) um pai foi judicialmente obrigado pelo filho a continuar a sustentar os seus "estudos". O filho tem 28 anos. E só em Modena há 8.000 processos anuais de filhos contra pais por motivos de mesadas.

É nesses momentos que penso na minha incorrigível estupidez. Quando cheguei aos 22 anos, depois do curso universitário, comuniquei aos meus pais que era hora de abandonar o lar.

Minto, minto. Não foi bem assim. Foram eles que sempre me estimularam a "voar para fora do ninho" (um clássico).

E eu voei. Mudei de cidade. Arranjei um apartamento. E, iludido pela liberdade da idade adulta, comecei uma vida de empregada doméstica.

Aprendi a engomar. Decorei o nome dos melhores detergentes. E passei fome, genuína fome, quando contemplava os meus jantares transformados em pedaços de carvão. Cresci como homem? Cresci como ser humano?

Não. Emagreci. E desconfio que comecei a ter problemas de coluna e alguns surtos alérgicos devido a minha luta semanal contra os ácaros.

Em matéria financeira, prefiro nem falar: hoje, com quase 40 anos, poderia ser um pequeno magnata a caminho da aposentadoria. Tragicamente, esbanjei o patrimônio em pizzas congeladas e exércitos de aspiradores.

Sim, eu sei: como no fado lusitano, o tempo não volta para trás. E regressar à casa paterna não tem o mesmo sabor do que nunca ter saído dela. Sem falar da impossibilidade do ato: os meus pais já mudaram as fechaduras entretanto.

Mas confrontado com a vida do meu amigo, e inspirado pela litigância italiana, pondero processar a família por publicidade enganosa. É importante "voar para fora do ninho"?

Querido e jovem leitor: não se iluda. A emancipação dos filhos é um dos grandes mitos promovidos pelos pais.

Se o meu processo fizer doutrina, haverá esperança para todos: quem não mamou os cozinhados da mãe poderá mamar uma indenização filial. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O QUE A ESQUERDA ESTÁ QUERENDO AINDA FAZER COM O BRASIL?

Dei aula de Análise de Demonstrativos Financeiros por vinte anos na USP, e nas primeiras aulas, sempre práticas, eu distribuía os demonstrativos da Empresa do Ano.

Depois de meia hora eu perguntava aos alunos, a maioria esquerdista já devidamente endoutrinada no primeiro ano, o significado da conta “Capital Social” da empresa.

Espero que você já tenha visto isto também na sua vida.

Lembre-se que Social é o termo politicamente correto para Socialista.

“Por que existe o termo Capital Socialista, num demonstrativo capitalista?”

Nenhum soube responder.

Nenhum Petista ou Marxista sabe responder. 

O idiota do Marx se tivesse estudado administração e não economia, jamais teria escrito a bobagem que escreveu – “Das Capital”.

E levado 100 milhões de pessoas à morte devido ao ódio que ele gerou nos “capitalistas socialistas”.

Dilma e seus Boulos, Stédiles, Wagners e Lulas estão querendo incendiar este país pelo seu ódio ao capitalista, sem saber que todo capital é socialista.

O Capital Socialista é o dinheiro que nós capitalistas oferecemos para a sociedade, trabalhadores, fornecedores e clientes para lhes dar conforto em aceitar nossas ideias malucas.

“Sabemos que esta ideia é maluca e podemos errar.”

Ford dizia que na época todos queriam cavalos mais rápidos e não um carro a motor.

“Por isto estamos oferecendo R$ 100.000.000,00 como garantia. Se não der certo, este dinheiro garante vocês em primeiro lugar.”

O capital do capitalismo não pertence ao capitalista, enquanto empresa.

Pertence à sociedade.

É contra isto que vocês petistas e marxistas estão ameaçando incendiar o país?

E 90% das vezes este capital nunca volta ao capitalista.

Ou porque a empresa quebrou, ou porque ela continua sólida.

Por isto privatizar é uma bandeira furada, porque o capital sempre será socialista, da sociedade, nem do governo nem do setor privado.

Uma empresa estatal gerida por administradores profissionais não me causaria repulsa.

Incendiar este país por não ter tido uma aula elementar de administração é o cúmulo da ignorância.

Mandar 100 milhões de pessoas à morte, subjugar um bilhão de pessoas na Rússia e China por nunca ter lido um livro de Contabilidade é arrogância.

Acreditar num único livro, o “Das Capital”, de um professor maluco de economia, é a tragédia monumental dos últimos 200 anos.

Como podem tantos intelectuais marxistas serem tão arrogantes e ignorantes ao mesmo tempo? Por: Stephen Kanitz  Do site: http://blog.kanitz.com.br/

sexta-feira, 6 de maio de 2016

UM DIÁLOGO SOCRÁTICO SOBRE AS CAUSAS DA CORRUPÇÃO


Certo dia, um conhecido me revelou, com um ar de superioridade, que a solução para acabar com a corrupção era "criar novas leis". 

Imediatamente espantei-me com seu desconhecimento da máxima de Tácito, que já dizia que "quanto mais corrupto o estado, maior o número de leis". Mas decidi entender melhor seu raciocínio.

Perguntei a ele onde ocorria a corrupção, se na esfera estatal ou na iniciativa privada? Triunfantemente, ele soltou a resposta que julgava definitiva: "acontece dentro da esfera estatal, mas quem corrompe é sempre a iniciativa privada".

Foi então que decidi vestir uma daquelas ridículas roupas gregas da época, colocar uma barba postiça, pegar no braço de meu interlocutor, e levá-lo para uma caminhada regada por um diálogo baseado no método socrático.

E comecei as perguntas:

— Qual origem da corrupção?

— O capitalismo.

— Quem corrompe?

— Os empresários que querem assaltar o dinheiro público.

— Quem são os corrompidos?

— Os corruptos que trabalham para ou dentro do estado.

— Quem são esses corruptos passivos?

— Políticos, membros do governo, servidores, membros do partido no poder nomeados para cargos comissionados, integrantes do judiciário etc.

— Quer dizer então que os corruptos passivos estão entranhados na estrutura do estado, dificultando a sua identificação individual, ao passo que os corruptores são perfeitamente identificáveis?

— Sim.

— E quer dizer que os corruptos entranhados na estrutura do estado, além da dificuldade de serem identificados, ainda contam com a estrutura do próprio estado para não serem identificados? E, caso sejam identificados, provavelmente conseguirão a proteção daqueles a que estão vinculados?

— Sim, mas, veja bem ...

— Então quer dizer que você considera mais perniciosos os corruptores ativos, os quais podem ser facilmente identificados, e que só conseguem agir assim por causa dos incentivos formais e informais decorrentes da ação daqueles corruptos passivos entranhados na estrutura do estado, os quais são responsáveis diretos por construir esse ambiente que estimula e potencializa a corrupção e do qual são beneficiários?

— Sim, mas, veja bem...

— Então quer dizer que, sob o aspecto moral, você hierarquiza aqueles que criam o ambiente institucional e legal para dele se beneficiarem e coloca no topo da sordidez aqueles que agem como corruptos ativos porque se aproveitam desse ambiente criado pelos corruptores?

— O assunto é bem mais complexo do que você quer fazer parecer...

— Diga-me como é possível, se é possível, você defender o combate à corrupção ao mesmo tempo em que defende mais poderes para aqueles mesmos agentes que operam dentro do estado e que constroem todo um ambiente legal e institucional que os beneficia e que os permite transferir a responsabilidade da corrupção aos agentes artificialmente ativos da corrupção?

— É tudo uma questão de elegermos as pessoas certas...

— Volto a perguntar: por que há corrupção?

— Por causa da ganância dos empresários e dos maus agentes políticos.

— Bom, agora, além dos empresários, você responsabiliza os agentes políticos qualificados de forma negativa?

— Sim. Eles também são culpados.

— Vamos então partir para um exemplo prático: o que foi o Petrolão?

— Um grupo de empreiteiros pagou propina para políticos para serem eles, os empreiteiros, os escolhidos para fazer obras superfaturadas para a Petrobras.

— E de onde veio o dinheiro da propina paga pelos empreiteiros aos políticos?

— Da própria Petrobras, que, ao pagar pelas obras superfaturadas, garantiu um trocado extra para os empreiteiros, os quais então utilizaram esse trocado extra para "agradecer" aos políticos, que são conhecidos como seus "operadores".

— Ou seja, na prática, todo o dinheiro era da estatal, por isso a Petrobras ficou descapitalizada.

— É...

— Então você próprio admite que o que está dando sustento à corrupção é o dinheiro de uma estatal.

— Sim, mas, veja bem...

— Permita-me outra pergunta: você concorda que só há corrupção porque há uma entidade com o poder de decidir e de escolher ganhadores e perdedores, e que essa entidade, por ter dinheiro em abundância (dinheiro esse expropriado das riquezas produzidas por essa sociedade), se torna um verdadeiro pote de ouro?

— Sim, mas, veja bem...

— Permita-me interrompê-lo para seguirmos adiante. Você diria que uma entidade que concentra o poder de escolher ganhadores e perdedores, que possui o poder final de decisão sobre aquilo que se pode ou não fazer, e que obtém uma fonte intermitente de dinheiro porque expropria riquezas da sociedade, é uma entidade extremamente visada?

— Sim, mas é possível limitar o acesso a essa entidade.

— Como?

— Votando nas pessoas certas.

— Tá, permita-me prosseguir: você diria que aqueles agentes privados que são, de uma forma ou de outra, seduzidos por esse poder descomunal e se tornam agentes ativos da corrupção, são mais ou menos nefastos do que os próprios políticos corruptos?

— Mais nefastos.

— Como é possível estabelecer uma hierarquia que determine que estes entes são mais nefastos do que aqueles que estão dentro do estado?

— É possível sim porque o estado nos representa! E aqueles que trabalham para o estado defendem a sociedade, a coisa pública!

— Mas se o estado nos representa e aqueles que trabalham para o estado defendem a sociedade e a coisa pública, como é que podem estimular a corrupção, serem dela beneficiários e assim serem menos nefastos?

— Ah, estou sacando o seu jogo. Você está querendo me confundir e fazer sua propaganda anti-estado!

— Não quero lhe confundir nem nada. Quero entender como funciona uma mentalidade estatista.

— Você está me ofendendo...

— Imagina!

— Afinal, qual é o seu ponto?

— Meu ponto é que, quanto maior e mais poderoso um governo, quanto mais leis e regulamentações ele cria e quanto mais obras públicas ele faz, mais os empresários poderosos e com boas conexões políticas irão se aglomerar em torno dele para obter privilégios à custa dos concorrentes e da população como um todo. 

Por meio de favores pessoais ou de propinas, estes empresários não apenas conseguirão licitações favoráveis (sendo pagos com dinheiro público), como também conseguirão se isentar de seguir as leis e regulamentações criadas pelo estado ao mesmo tempo em que defenderão a imposição destas leis e regulamentações sobre seus concorrentes. 

— Sim, mas esse jogo sujo é a essência do capitalismo!

— Não, esse arranjo é a essência do mercantilismo, do "privilegismo", do compadrio. Aliás, esta é exatamente a característica precípua de um regime fascista, no qual tudo deve estar dentro do estado e nada deve estar fora do estado. Desnecessário dizer que essa é a antítese do livre mercado.

— Bruno, afinal, o que você defende?— A redução máxima do estado, deixando de lhe reconhecer autoridade política sobre várias atividades que hoje ele exerce. Esse é o caminho para se lutar contra a corrupção, contra os grupos de interesse e contra os lobbies empresariais. Por outro lado, com estado grande, intervencionista e ultra-regulador como esse que temos, lobbies, grupos de interesse e subornos empresariais sempre serão a regra. E isso não será mudado apenas "elegendo as pessoas certas".

— Bruno, você é um reacionário neoliberal fascista!



Bruno Garschagen é autor do best seller "Pare de Acreditar no Governo - Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado" (Editora Record). É graduado em Direito, Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e Universidade de Oxford (visiting student), professor de Ciência Política, tradutor, blogger (www.brunogarschagen.com), podcaster do Instituto Mises Brasil e membro do conselho editorial da MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia.Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2400

segunda-feira, 2 de maio de 2016

COBRIR AS MULHERES: A ARMA PODEROSA DOS ISLAMITAS

A primeira vítima da guerra islamista na Argélia foi Katia Bengana, uma menina que se recusou a usar o véu, que mesmo quando diante dos carrascos que apontavam as armas para a sua cabeça permaneceu fiel aos seus princípios. Em 1994, Argel acordou, literalmente, com pôsteres colados nos muros anunciando a execução de mulheres sem véus.


Em abril de 1947 a Princesa Lalla Aisha fez um pronunciamento em Tânger, as pessoas ficaram estupefatas com aquela menina sem véu. Em questão de semanas, mulheres por todo o país se recusaram a usar o véu. Hoje o Marrocos é um dos países mais liberais do mundo árabe.

Em meados dos anos 1980 a Lei Islâmica (Sharia) foi introduzida em diversos países, as mulheres no Oriente Médio foram colocadas em uma prisão portátil e na Europa voltaram a usar o véu para recuperar sua "identidade", vale dizer, a recusa em assimilar valores ocidentais e a islamização de muitas cidades européias.

Em primeiro lugar as mulheres foram obrigadas a usar véus, feito isso, os islamistas iniciaram a jihad contra o Ocidente.

Laurence Rossignol, Ministra da Família, Juventude e Direitos das Mulheres da França, incitou a ira no tocante à proliferação do véu islâmico em seu país ao comparar as mulheres que usam lenços de cabeça com os "negros americanos que aceitaram a escravidão". Concomitantemente, Elisabeth Badinter, uma das feministas mais famosas da França, chegou a defender o boicote contra as empresas européias ligadas à moda, como a Uniqlo e a Dolce & Gabbana, que estão desenvolvendo vestuário islamicamente correto (em 2013, os muçulmanos gastaram US$266 bilhões com vestuário e a cifra poderá atingir US$484 bilhões até 2019).

Uma nova tendência também está emergindo na cultura popular ocidental, cultura esta praticamente desconhecida da mídia há uma década: mulheres usando lenços de cabeça também estão presentes em programas de TV como o MasterChef.

A cultura predominante já considera "normal" as mulheres com lenços de cabeça. Recentemente a companhia aérea Air France solicitou às funcionárias que usassem véus enquanto estiverem no Irã. Recentemente o governo italiano cobriu as esculturas de nus no Museu Capitolino de Roma durante a visita do Presidente do Irã Hassan Rouhani, em sinal de "respeito" no tocante às suas suscetibilidades.

No mundo árabe/islâmico, no entanto, durante um longo período, as mulheres que se cobriam eram a exceção.

É difícil de acreditar que até o início dos anos 1990, a maioria das mulheres na Argélia não usavam véus. Em 13 de maio de 1958 na Place du Gouvernement em Argel, dezenas de mulheres arrancaram seus véus. Minissaias inundaram as ruas.

A revolução iraniana reverteu essa tendência: o primeiro véu apareceu no início dos anos 1980 juntamente com a ascensão dos movimentos islâmicos nas universidades argelinas e nos bairros pobres. A hijab foi distribuída pela embaixada iraniana em Argel.

Em 1990, a Argélia estava à beira de um longo período de medo e morte: a guerra civil, com o fantasma da invasão islâmica (100.000 mortos). As pessoas sabiam que algo terrível estava para acontecer, bastava ver o número de véus nas ruas.

A primeira vítima da guerra islamista na Argélia foi Katia Bengana, uma menina que se recusou a usar o véu. Mesmo com os carrascos apontando as armas para a sua cabeça ela permaneceu fiel aos seus princípios. Em 1994, Argel acordou, literalmente, com pôsteres islamistas colados nos muros anunciando a execução de mulheres sem véus. Nos dias de hoje pouquíssimas mulheres ousam sair de casa sem a hijab ou o xador.

Veja as fotografias de Cabul dos anos de 1960, 1970 e 1980 e você verá muitas mulheres sem véus. Aí veio o Talibã e fez com que elas se cobrissem por inteiro. A emancipação no Marrocos foi desencadeada pela Princesa Lalla Aisha, filha do Sultão Mohamed Ben Youssef, que se autodenominou rei tão logo o país proclamou a independência. Em abril de 1947, Lalla fez um pronunciamento em Tânger, as pessoas ficaram estupefatas com aquela menina sem véu. Em questão de semanas, mulheres por todo o país se recusaram a usar o véu. Hoje o Marrocos é um dos países mais liberais do mundo árabe.

Veja as fotografias de Cabul dos anos de 1960, 1970 e 1980 e você verá muitas mulheres sem véus. Aí veio o Talibã e fez com que elas se cobrissem por inteiro.

No Egito, nos idos dos anos de 1950, o Presidente Gamal Abdel Nasser foi à TV para zombar do pedido da Irmandade Muçulmana para cobrir as mulheres. Tahia, sua esposa, não usava véu, nem nas fotos oficiais. Hoje, de acordo com a estudiosa Mona Abaza, 80% das mulheres egípcias já usam véus. Somente nos anos 1990 foi que a rígida versão wahhabista do Islã chegou ao Egito, trazida por milhões de egípcios que foram trabalhar na Arábia Saudita e nos demais países do Golfo. Enquanto isso, os movimentos políticos islamistas foram ganhando terreno. Logo as mulheres egípcias começaram a ostentar o véu.

No Irã, a tradicional manta preta que cobre as mulheres iranianas da cabeça aos tornozelos inundou o país, comandado pelo Aiatolá Khomeini. Ele afirmou categoricamente que o xador é a "bandeira da revolução" e a impôs a todas as mulheres.

Em 1926, portanto cinquenta anos antes, o Xá Reza providenciou proteção policial às mulheres que optassem por não usar o véu. Em 7 de janeiro de 1936, o Xá ordenou a todas as professoras, esposas de ministros e funcionários do governo que "aparecessem com roupas européias". O Xá pediu a sua mulher e filhas que não usassem o véu em público. Estas e outras reformas no estilo ocidental foram apoiadas pelo Xá Muhammad Reza Pahlavi, que sucedeu seu pai em setembro de 1941, instituindo o banimento de mulheres cobertas em público.

Na Turquia, Mustafa Kemal Ataturk discursava entusiasticamente para as multidões femininas, estimulando-as a darem o exemplo: tirar o véu significa agilizar a necessária reaproximação entre a Turquia e a civilização ocidental. Durante cinquenta anos, a Turquia recusou o véu, até 1997, quando o governo encabeçado pelo islamista Necmettin Erbakan revogou o banimento do uso do véu em lugares públicos.

Erdogan, atual presidente da Turquia, usou a bandeira do véu para impulsionar a desenfreada islamização da sociedade turca.

Por outro lado, o Presidente da Tunísia Habib Bourguiba, emitiu uma circular banindo o uso da hijab em escolas e repartições públicas. Ele chamou o véu de "detestável farrapo", promovendo seu país a um dos mais evoluídos das nações árabes.

Não foi apenas o mundo muçulmano que, por um longo período, recusou esse símbolo. Antes do alastramento do Islã radical, a minissaia, um dos símbolos da cultura ocidental, também podia ser vista em todo o Oriente Médio. Há muitas fotografias que nos lembram deste longo período: aeromoças da companhia aérea afegã usando saias, sem véus (que ironia a Air France de hoje querer que elas usem o véu); o concurso de beleza que o Rei Hussein da Jordânia organizou no Hotel Philadelphia; o time de futebol feminino iraniano; a atleta síria Silvana Shaheen; as mulheres líbias, sem véus, marchando pelas ruas; as estudantes da Universidade Palestina Birzeit e as jovens egípcias na praia (naquela época, o burkini seria rejeitado como se fosse uma gaiola).

Então em meados dos anos 1980, de repente, tudo mudou. A Lei Islâmica (Sharia) foi introduzida em diversos países, as mulheres no Oriente Médio foram colocadas em uma prisão portátil e na Europa voltaram a usar o véu para recuperar sua "identidade", vale dizer, a recusa em assimilar valores ocidentais e a islamização de muitas cidades européias.

Em primeiro lugar as mulheres foram obrigadas a usar véus, feito isso, os islamistas iniciaram a jihad contra o Ocidente.

Primeiramente nós traímos essas mulheres ao aceitarmos sua escravidão como uma "liberação", aí a Air France começou a vestir as mulheres com véus enquanto estivessem no Irã em sinal de "respeito". Fora tudo isso, também é bastante revelador a hipocrisia da maioria das feministas ocidentais, sempre de prontidão em repudiar os cristãos homofóbicos e o machismo nos EUA, mas permanecem caladas no tocante aos crimes sexuais do Islã radical. Nas palavras da feminista Rebecca Brink Vipond: "eu não vou morder a isca de defender um chamamento para que as feministas deixem de lado seus objetivos nos Estados Unidos para abordarem problemas nas teocracias muçulmanas". São as mesmas feministas que abandonaram Ayaan Hirsi Ali, a corajosa dissidente do Islã, holandesa/somali, a sua própria sorte mesmo depois que ela conseguiu se refugiar nos EUA: elas impediram que ela discursasse na Universidade de Brandeis.

Por quanto tempo mais iremos manter o banimento à mutilação genital feminina (FGM)? Um estudo que acaba de ser publicado nos Estados Unidos indica que permitir certas formas mais "leves" de mutilação feminina, que afeta 200 milhões de mulheres ao redor do mundo, é mais "culturalmente sensitivo" do que a proibição da prática e que um ritual de um "cortezinho" nas vaginas das meninas poderia evitar a prática de uma mutilação mais radical. A proposta não foi apresentada por Tariq Ramadan ou algum tribunal islâmico do Sudão e sim por dois ginecologistas americanos Kavita Shah Arora e Allan J. Jacobs, que publicaram o estudo em uma das mais importantes revistas científicas, o Journal of Medical Ethics.

O estudo é um testemunho que vai às profundezas, assinalando até que ponto se pode chegar, de acordo com o que o "novo filósofo" francês Pascal Bruckner, chamou de "as lágrimas de homens Brancos", com seu masoquismo, covardia e relativismo cínico. Então por que também não justificar o apedrejamento islâmico de mulheres acusadas de adultério? É como se nós não conseguíssemos capitular rápido o suficiente.
Por: Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
27 de Abril de 2016
Original em inglês: Veiling Women: Islamists' Most Powerful Weapon
Tradução: Joseph Skilnik
Do site: http://pt.gatestoneinstitute.org/7928/cobrir-mulheres




sexta-feira, 29 de abril de 2016

E AGORA, BRASIL?

Há tempos, venho afirmando que se o governo Dilma não fosse capaz de colocar as contas públicas em ordem e retomar a confiança de investidores, empresários e consumidores – como, infelizmente, não foi – dificilmente a Presidente chegaria ao final de seu mandato. A decisão de ontem da Câmara dos Deputados de aprovar o pedido de impeachment da Presidente torna uma transição política em um horizonte relativamente breve praticamente inevitável.

Até meados de maio, o Senado deve aprovar por maioria simples – 41 ou mais dos 81 Senadores - a instauração do processo contra a Presidente. A partir daí, o Senado terá até novembro para julgar o mérito do processo. Neste momento, a aprovação vai requerer os votos de pelo menos 54 dos 81 senadores. O fundamental é que a instauração do processo no Senado é praticamente certa. Ela já afastaria Dilma da Presidência por 180 dias do cargo, na prática antecipando a transição do poder ao atual vice-presidente Michel Temer. Exatamente por isso, o Vice-Presidente já começou a discutir medidas e composição da equipe caso efetivamente venha a assumir a Presidência.

É importante lembrar também que nos dias 2 e 30 de outubro, teremos o primeiro e segundo turnos das eleições municipais e parte dos senadores governistas talvez prefira antecipar o trâmite de todo o processo de impeachment – como querem os oposicionistas – a ir às eleições municipais como defensores da manutenção no poder de uma Presidente comum único dígito de taxa de aprovação popular.

Até por isso, alguns senadores petistas, com o apoio de ministros do atual governo, pretendem enviar ao Senado um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que anteciparia o fim do mandato do atual governo federal para o final deste ano, alongaria o mandato do próximo presidente de quatro para seis anos e anteciparia as próximas eleições presidenciais para as mesmas datas das eleições municipais.

Se esta solução tivesse sido proposta no ano passado ou ao menos antes do início do andamento do processo de impeachment da Presidente na Câmara dos Deputados, talvez as crises política e econômica não tivessem tomado proporções tão graves e a perspectiva de eleição de um Presidente com um mandato mais longo e, portanto, mais poderoso, talvez criasse condições mais propícias para o avanço de reformas estruturais fundamentais para o desenvolvimento brasileiro, como as reformas da previdência, trabalhista, tributária e política.

Neste momento, parece mais uma tentativa desesperada para fugir de uma provável derrota do governo no Senado, ou um golpe, para usar um jargão petista. Além disso, como os próprios autores da PEC reconhecem, mesmo que aprovada pelo Congresso, para não criar um limbo jurídico, a proposta de encurtamento dos mandatos atuais teria de ter o aval da Presidente Dilma e do Vice-Presidente Temer. Talvez, a Presidente Dilma concordasse com isso, o que está longe de ser certeza, dada sua personalidade aguerrida, mas é bastante possível em função da sua falta de apoio mesmo entre governistas, como ficou evidente na votação de ontem. No entanto, no momento atual, o Vice-Presidente Temer certamente não concordará.

Restam ainda as ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que dinheiro de corrupção foi usado no financiamento da campanha eleitoral de Dilma e Temer – fato já confirmado por alguns dos financiadores da campanha eleitoral – que, a princípio começariam a ser julgadas já em maio. Se uma delas for aprovada, haveria a cassação tanto de Dilma quanto de Temer e, provavelmente, novas eleições seriam chamadas. Estas ações foram impetradas pelo PSDB, partido que se aliou a Temer para dar andamento ao Impeachment e já publicou uma carta de intenções para apoiar e eventualmente até participar da composição do governo Temer. Entretanto, ainda não é clara qual será a postura do partido em relação a elas caso Temer assuma a Presidência, em particular considerando-se que os três principais caciques do partido - Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin – têm interesses divergentes em relação ao grau de sucesso de um eventual governo Temer.

Em resumo, as incertezas políticas continuam grandes. Se quer não apenas assumir a Presidência, mas ter condições de tirar o país do fundo do buraco, cabe a Temer a difícil tarefa de costurar uma base de sustentação suficientemente ampla e coesa para conseguir avançar no Congresso as reformas estruturais. Além delas, cortes de gastos públicos, medidas administrativas que melhorem o ambiente de negócios e a eficiência da economia brasileira - têm de ser parte de um pacote de retomada da confiança.

A habilidade de Temer de costurar estas alianças – que provavelmente incluirá um acordo onde ele se comprometa a um papel de transição, não participando das eleições de 2018 - será seu primeiro e principal teste. Vencendo-o, Temer aumenta não só suas chances de efetivamente chegar à Presidência, mas de ser bem sucedido ao longo do governo. Caso contrário, a hipótese de eleições em breve, em função do julgamento do TSE ou mesmo da PEC – cresce em probabilidade.

Enfim, os desafios para Temer e o país não são poucos, mas assim como aconteceu na Argentina após a saída de Cristina Kirchner e a posse de Mauricio Macri na Presidência, Temer deve contar com o apoio de uma classe empresarial que há muito perdeu a confiança em Dilma e que está ávida por ver a economia, os resultados de suas empresas e os valores de seus negócios se recuperarem. Além disso, em um mundo em que os países desenvolvidos vivem nas palavras do ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, uma “estagnação secular” e a maioria dos países emergentes tem mercados pequenos demais para fazerem individualmente diferenças significativas nos resultados de grandes empresas globais, o Brasil e os outros poucos países emergentes com mercados grandes e bom potencial de crescimento de longo prazo encontram-se em uma posição privilegiada para atrair investimentos estrangeiros. Junte-se a isso a moeda desvalorizada e o baixo valor atual das empresas brasileiras, que coloca o país em liquidação do ponto de vista de investidores estrangeiros e está completo o quadro para uma avalanche de investimentos produtivos uma vez que a confiança tiver sido retomada.

Para completar, nos últimos meses apareceram sinais - ainda incipientes - de que, talvez, o dólar tenha revertido seu ciclo de valorização dos últimos anos, o que tem colaborado para uma elevação dos preços das commodities internacionais – grãos, metais, fontes de energia. Essa elevação beneficia a economia brasileira e, junto com a perspectiva de transição política, levou a uma apreciação recente do Real de quase 20%, que aliás só não foi maior porque o Banco Central vendeu mais de US$30 bilhões de dólares em derivativos cambiais desde a semana passada. A apreciação do Real e a intensidade da recessão já fizeram a inflação no Brasil dar os primeiros sinais de queda recentemente. Esta tendência não deve se alterar se o Real continuar a se fortalecer, o que poderá levar a taxa de juros a começar a cair entre o final deste ano e o ano que vem, permitindo a recuperação do crédito e expansão de investimentos, consumo e geração de empregos. Considerando que a taxa básica de juros SELIC é hoje de 14,25% ao ano no Brasil e a taxa média mundial equivalente é hoje de apenas 0,2% ao ano, o potencial de atração de capitais estrangeiros, queda da taxa de juros e estímulo econômico no Brasil, quando ocorrer a retomada da confiança, é brutal.

Em resumo, os desafios são muitos, mas como venho defendendo, a probabilidade de uma recuperação econômica cíclica por alguns anos que surpreenda pela força uma vez retomada a confiança é muito maior do que temem os pessimistas.

Por outro lado, a sustentação desta recuperação inicial e a aceleração do potencial de crescimento brasileiro exigirá reformas estruturais, melhora de nossa infraestrutura e ambiente de negócios, maior qualificação da mão de obra e mecanização da economia brasileira entre outros avanços.

Além disso, avanços recentes, em particular no combate à corrupção não podem se perder. O impeachment da Presidente por crime de responsabilidade em função das pedaladas fiscais tem de ser apenas o maior passo até agora de uma mudança de mentalidade no país. A prisão de importantes empresários envolvidos em corrupção foi outro passo fundamental. É importante que os políticos envolvidos em corrupção, incluindo vários pesos pesados dos Poderes Executivo e Legislativo, independentemente dos partidos a que pertencem, tenham o mesmo fim.

Em resumo, cabe a nós, brasileiros, garantir que o grande potencial de melhoras institucionais, a recuperação econômica e a construção e um país melhor e mais justo se materializem. Sem a nossa pressão, as chances diminuem bastante. Recentemente, aprendemos a cobrar a classe política e a questionar como nossos próprios atos colaboram para criar os problemas que criticamos. Não podemos perder estes hábitos. Aliás, devemos levá-los também para dentro de casa e das empresas.

Por: Ricardo Amorim, autor do livro Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, presidente da Ricam Consultoria, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.

Do site: https://www.linkedin.com/pulse/e-agora-brasil-ricardo-amorim?trk=eml-b2_content_ecosystem_digest-recommended_articles-69-null&midToken=AQFwZyCklrH7jw&fromEmail=fromEmail&ut=1BBlcePOJDN7c1




quinta-feira, 28 de abril de 2016

A PEDALADA FISCAL DO PT É DE R$ TRILHÕES. ISTO MESMO.

Crime Perfeito é quando o próprio roubado não sabe que foi lesado para correr atrás.

A pedalada fiscal do PT é muito maior do que estes R$ 90 bilhões, detectados pelo TCU.

A pedalada até agora é de R$ 5 trilhões, e só este mês pedalaram mais R$ 30 bilhões.

E mês que vem serão mais R$ 30 bilhões, e assim por diante mês após mês, a farra continua.

Se alguém estava na dúvida se as pedaladas de um governo anterior davam impeachment, vocês do Vem Pra Rua, MBL, Endireita Brasil, Revoltados On Line, têm agora um prato cheio pela frente.

Mas assustador não é este valor colossal.

O assustador é que depois de mais de um ano de noticiário diário sobre pedaladas, vocês nem saibam disso.

É um número mais de 500 vezes maior do que o noticiado, e ninguém sabe e comenta?

Como um valor desta monta, e que continua todo mês, pode ser “pedalado” e nenhuma instituição do Brasil, TCU, Congresso, Ordem dos Advogados, IPEA, USP, Unicamp, se manifesta?

E não é de hoje.

Desde a gestão do Ministro Maílson da Nóbrega, que foi quem inventou esta pedalada fiscal, ela ocorre todo ano, todo mês, desde 1988.

Um dos meus primeiros artigos na Veja, 30 anos atrás, tocava neste assunto.

Só no governo PSDB, que todos acham um bando de intelectuais brilhantes e inocentes, a pedalada total foi de mais uns R$ 3 trilhões.

Não posso precisar o número total certo justamente porque ela foi pedalada, mas uma estimativa por cima são R$ 16 trilhões.

Pior que a pedalada foi gastar a grana e não contabilizar uma dívida que vai quebrar ou já quebrou o Brasil.

Vou dar uma dica, a pedalada foi registrar como Receita o que deveriam ter registrado como uma Dívida.

E quem souber do que estou falando, responda nos comentários, qual deveria ter sido o valor do Débito que não registraram.

Registraram o débito como Despesas, que é o que eles queriam, gastar, gastar, gastar, mas deveriam ter registrado como ………..?

Aposto que um ou dois somente irão acertar.

Nossos Ministros da Fazenda dos últimos 25 anos, nem ao menos fizeram uma nota explicativa para os seus sucessores do tipo:

“Não se esqueçam de devolver a pedalada que fizemos, senão no futuro vai faltar para alguém.”

E este “alguém” são vocês próprios que me leem.

E nem sabem?

Estes Ministros da Fazenda e seus Contadores Públicos, que teriam a obrigação de recusar, cometeram o crime perfeito.

Crime perfeito é quando o próprio roubado não sabe que foi lesado para correr atrás.

É isso que me deixa em pânico.

Nem o TCU, nem o Sérgio Moro, nem o Vem Pra Rua, nem a Folha, nem a Unicamp, sabem do que estou falando.

Quando explico esta pedalada a engenheiros, a advogados, a economistas, a jornalistas que acham que entendem de contabilidade e administração, eles imediatamente me dizem, “ah mas isto é impagável”.

Como ninguém é formado em finanças, acham que uma dívida impagável de R$ 16 trilhões viraria zero imediatamente.

Claro que não!

Quem tem a receber vai, via Receita Federal, tirar o que puder.

Talvez não consigam arrancar os R$ 16 trilhões, de fato, mas vão tentar 15, 14, 13, o que puderem. A Receita Federal está aí para isto.

Alguém me explica como é possível tão poucos Ministros da Fazenda enganarem tantos brasileiros por tanto tempo?

E como é possível vocês terem sido roubados todos estes anos e nenhum jornalista progressista, professor da Unicamp, da USP, da FGV, do PT e do PSDB comentarem, muito menos agirem?
Agradeço antecipadamente.
Por: Stefen Kanitz do site:http://blog.kanitz.com.br/

Os Jesuitas e a Perpetuação da Ignorância

segunda-feira, 25 de abril de 2016

ESQUERDA VERSUS DIREITA

Não perca tempo com Esquerda versus Direita - apenas defenda a liberdade

Não perca seu tempo classificando as pessoas, os partidos e as bandeiras entre esquerda e direita. A classificação existe apenas no discurso, não na realidade, e é uma ferramenta retórica para criar conflitos, marcar posições e demonizar adversários.

Mais do que isso, falar em esquerda e direita é participar de um jogo. Um jogo retórico que serve aos interesses de apenas um dos jogadores. Quase sempre, quem dá as cartas é a esquerda. 

Funciona assim: o primeiro lance é da (autodeclarada) esquerda. Ela olha uma dada situação social vista como problemática e a interpreta como uma instância de luta de classes: um lado mais forte que oprime um lado mais fraco. A esquerda então arroga para si a defesa do lado mais fraco/oprimido, que envolve algum tipo de compensação para esse lado e punição do lado opressor. 

E a direita, o que faz? Fica com a inglória incumbência, que ela aparentemente aceita de bom grado, de defender o lado mais forte contra o ataque da esquerda que quer balançar o status quo. 

Isso vale desde os casos clássicos do conflito, como a situação dos trabalhadores. A esquerda arroga para si a defesa da causa dos operários e a direita fica com a defesa dos empresários. 

No entanto, sabemos que na prática não é nada disso: há vários empresários de esquerda e há também sindicalistas de direita. Além disso, essa conveniente dicotomia exclui muita gente: o desempregado, o informal, o pequeno empreendedor, o autônomo, o profissional liberal etc. 

Mesmo assim, a leitura "pega", e acaba sendo a lente básica pela qual muitos leem a realidade e se posicionam. 

O mesmo jogo serve também para contextos totalmente díspares e nos quais encontrar um oprimido e um opressor é bem menos claro. Penso em dois bem aplicáveis ao Brasil, que mostram como é arbitrária essa divisão. 

O primeiro é o aborto. A narrativa dominante nesse tema é a que pinta a mulher como vítima e os homens ou a sociedade machista patriarcal como opressores, que não querem que a mulher seja dona de si, seja feliz etc. Mas a própria esquerda brasileira, que tem em suas raízes ainda muito da teologia da libertação católica (ferrenhamente anti-aborto), oferece uma narrativa alternativa: o aborto é uma situação dramática na qual a mulher é jogada por um sistema injusto (pois, tendo condições, ninguém decidiria abortar), e as grandes empresas que ofertam e lucram com o aborto clandestino são parte do aparato opressor do capitalismo global. 

De que lado ficar? Dos que negam direitos reprodutivos ou dos que apoiam a agenda de multinacionais? 

Ou pensemos no caso do transporte. Há luta de classes aí? Não havia, não precisava haver, mas agora há. Ônibus, usado pela maioria pobre, e bicicletas — preferência de uma minoria rica e bacan — são o lado oprimido. Quem aposta neles é esquerda. Os egoístas motoristas de carro (mesmo os motoristas de um Fusca ou uma Brasília) são os opressores; quem os defende é a direita. 

Há uma série de questões que revelam o absurdo dos termos esquerda e direita: ambientalismo, industrialização (ironicamente, defender as grandes indústrias com tarifas protecionistas e subsídios virou bandeira da esquerda), povos indígenas e tradicionais, agricultura familiar versus agronegócio, grande empresariado (beneficiado por políticas protecionistas e de subsídios, que virou uma agenda da esquerda), política externa, e muitas outras etc. 

O pobre recostado recebendo bolsa-família e fazendo filhos, o maconheiro de Humanas que anda de bicicleta e quer revolução, o proletário pelego, o negro racista, a feminista beligerante: figuras que a direita adora odiar. Todos têm alguma base numa realidade parcial — assim como os estereótipos que a esquerda adora odiar! — mas são, antes de tudo, criações da imaginação ideológica. E nessa guerra de ódios, foi dado à direita o lado perdedor: o lado do mais forte, que naturalmente não desperta a simpatia popular. 

Quer combater a mentalidade esquerdista? A maneira certa está em se recusar a participar do jogo da luta de classes; está em apresentar soluções que não passem nem pela defesa de um grupo e nem pela demonização de outro. Está em descobrir as lógicas que desarmam esse discurso que só enxerga opressores e oprimidos. 

A realidade social não é fundamentalmente uma realidade de exploração, de transações perde-ganha. Essas existem, mas são abusos. A luta de classes (ou melhor, de grupos) é a realidade básica apenas em um campo da vida social: a política, que instaura cabos de guerra por onde passa. 

Fora da política, o padrão de interação humana em uma sociedade que reconhece direitos individuais é o darelação voluntária, que gera uma situação em que ambos os lados envolvidos ganham, sem soma zero. As transações que ocorrem voluntariamente no mercado são uma modalidade desse tipo de interação. 

Cada transação acontece como um acordo voluntário entre duas pessoas ou entre grupos de pessoas. Esses dois indivíduos (ou grupo de pessoas) trocam dois bens econômicos: serviços ou bens (tangíveis ou intangíveis) e dinheiro. Ambas as partes empreendem a troca porque cada parte espera ganhar com ela. Você faz algo positivo para mim — como, por exemplo, me ofertar um bem ou serviço — e eu, em troca, faço algo positivo para você, dando-lhe dinheiro. 

A minha situação melhorou, pois, para mim, o bem ou o serviço vele mais que o dinheiro que lhe dei (se não valessem, eu não estaria incorrendo nessa troca). E a sua situação também melhorou, pois você valoriza meu dinheiro mais do que o bem ou serviço que me vendeu (se não valorizasse, não os estaria vendendo). 

Nós dois ganhamos. 

Essa é a única relação que deve ser estimulada e que deve ganhar cada vez mais espaço — em vez de lutas de classe, de gênero, de cor, de preferência sexual, de distribuição de privilégios estatais etc. —, pois é ela que eleva a qualidade de vida de todos no longo prazo. 

Nem esquerda nem direita defendem exclusivamente esta relação. 

Por fim, como bem disse Leonard Read: 

"Esquerda" e "direita" descrevem, cada uma, posições autoritárias. A liberdade não possui relação horizontal com o autoritarismo. A relação do libertarianismo com o autoritarismo é vertical; está muito acima dessa podridão de homens escravizando indivíduos. [...]

O libertário não pode querer nada com "esquerda" ou "direita" simplesmente porque ele desdenha qualquer forma de autoritarismo: o uso do aparato estatal para tolher e controlar a criatividade e o empreendedorismo do indivíduo. [...]

E como também desdenha todas as formas de igualitarismo forçado, o libertário quer distância de comunismo, fascismo, nazismo, fabianismo e assistencialismo.

O libertário está acima de toda esta degradação. Sua posição no espectro ideológico, se fossemos usar analogias direcionais, seria acima — como um vapor que se separa do esterco e sobe a uma atmosfera saudável. Se a idéia de extremismo for aplicada a um libertário, que seja baseada em quão extrema é a sua oposição às crenças e tentações autoritárias. 
Por: Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com." Siga-o no Twitter: @JoelPinheiro85 
Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2391

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O QUE É O SOCIALISMO FABIANO - E POR QUE ELE IMPORTA


Antes da Revolução Russa, o Partido Comunista tinha duas alas:Bolchevique e Menchevique.

Os Bolcheviques acreditavam na imediata imposição do socialismo por meios violentos, com confisco armado das propriedades, das fábricas, e das fazendas, e o assassinato dos burgueses e reacionários que porventura oferecessem resistência. 

Já os Mencheviques (que também se auto-rotulavam social-democratas) defendiam uma abordagem mais gradual, não-violenta e não-revolucionária para o mesmo objetivo. Para estes, a liberdade e a propriedade deveriam ser abolidas pelo voto da maioria.

Os Bolcheviques venceram a Revolução Russa e implantaram o terror. No entanto, após cometerem crimes inimagináveis, eles praticamente desapareceram do cenário. Já os Mencheviques, no entanto, não apenas seguem vivos como também se fortaleceram e se expandiram, e estão no poder de boa parte dos países democráticos.

Os mencheviques modernos seguem, em sua essência, as mesmas táticas dos Mencheviques russos: em vez de abolirem a propriedade privada e a economia de mercado, como queriam os Bolcheviques, os atuais mencheviques entenderam ser muito melhor um arranjo em que a propriedade privada e o sistema de preços são mantidos, mas o estado mantém os capitalistas e uma truncada economia de mercado sob total controle, regulando, tributando, restringindo e submetendo todos os empreendedores às ordens do estado. 

Para os mencheviques atuais, tradições burguesas como propriedade privada e economia de mercado devem ser toleradas, mas a economia tem de ser rigidamente regulada e tributada. Políticas redistributivistas são inegociáveis. Uma fatia da renda dos indivíduos produtivos da sociedade deve ser confiscada e redistribuída para os não-produtivos. Grandes empresários devem ser submissos aos interesses do regime e, em troca, devem ser beneficiados por subsídios e políticas industriais, e também protegidos por tarifas protecionistas. 

Acima de tudo, cabe aos burocratas do governo — os próprios mencheviques — intervir no mercado para redistribuir toda a riqueza e manter a economia funcionando de acordo com seus desígnios. 

No entanto, a estratégia menchevique não se resume à economia. A questão cultural é tão ou mais importante. Para os mencheviques atuais, a cultura burguesa deve ser substituída por uma nova mentalidade condicionada ao modo de pensar social-democrata, e a estratégia para isso consiste na imposição lenta e gradual de uma revolução cultural.

Os mencheviques, fiéis ao seu ideal "democrático", sempre se sentiram desconfortáveis com a ideia de revolução, preferindo muito mais a "evolução" gradual produzida pelas eleições democráticas. O estado deve ser totalmente aparelhado por intelectuais partidários e simpatizantes, de modo a garantir uma tomada hegemônica das instituições culturais e sociais do país. Daí a desconsideração pelos gulags e pela revolução armada.

Como tudo começou

As raízes do menchevismo atual não estão na Rússia de Lênin, mas sim na Londres de 1883, quando um grupo de socialistas adeptos do gradualismo fundou a Sociedade Fabiana. Liderada por um cidadão chamado Hubert Bland, os mais famosos membros da sociedade eram o dramaturgo George Bernard Shaw, os autores Sidney e Beatrice Webb, e o artista William Morris.

A Sociedade Fabiana tem este nome em homenagem a Quintus Fabius Maximus, político, ditador e general da República Romana (275-203 a.C.) que conseguiu derrotar Aníbal na Segunda Guerra Púnica adotando a estratégia de não fazer confrontos diretos e em larga escala (nos quais os romanos haviam sido derrotados contra Aníbal), mas sim de incorrer apenas em pequenas e graduais ações, as quais ele sabia que podia vencer, não importa o tanto que ele tivesse de esperar.

Em suma, Quintus Fabius Maximus era um estrategista militar que evitava qualquer confrontação aberta e decisiva; em vez disso, ele preferia fatigar seus oponentes com táticas procrastinadoras e cansativas, manobras enganadoras e assédios contínuos.

Fundada exatamente no ano da morte de Marx com o intuito de promover as idéias do filósofo alemão por meio do gradualismo, a Sociedade Fabiana almejava "condicionar" a sociedade, como disse a fabiana Margaret Cole, por meio de medidas socialistas disfarçadas. Ao atenuar e minimizar seus objetivos, a Sociedade Fabiana tinha o intuito de não incitar os inimigos do socialismo, tornando-os menos combativos.

Ao contrário dos revolucionários marxistas, os socialistas fabianos conheciam muito bem o funcionamento das políticas públicas britânicas. Sendo os especialistas originais, eles fizeram várias pesquisas, elaboraram planos, publicaram panfletos e livros, e criaram várias propostas legislativas, sempre contando com a ajuda de aliados nas universidades, igrejas e jornais. Eles também treinaram oradores, escritores e políticos. Sidney Webb foi além e fundou a London School of Economics em 1895 para ser o quartel-general desse trabalho.

Embora a Sociedade Fabiana jamais houvesse tido mais do que 4.000 membros, foram eles que criaram, promoveram e conduziram pelo Parlamento a maior parte das políticas sociais britânicas até o início da década de 1980. O resultado foi uma economia em frangalhos e uma sociedade esclerosada, situação esta que só começou a ser revertida quando Margaret Thatcher começou a "desfabianizar" a Inglaterra.

Os fabianos foram bem-sucedidos em seu objetivo de criar um "estado provedor", um estado assistencialista que cuidaria não apenas dos pobres, mas também da classe média, do berço ao túmulo.

Seja na forma de compensações trabalhistas, ou de pensões e aposentadorias, seguro-desemprego e medicina socializada, os fabianos sempre enfatizaram a "reforma social". Segundo o escritor John T. Flynn, os fabianos

Perceberam prematuramente o imenso valor das reformas sociais em acostumar os cidadãos a ver o estado como a ferramenta para curar todas as suas doenças e inquietudes. Eles viram que uma agitação em prol de um estado assistencialista poderia se tornar o veículo ideal para incutir idéias socialistas nas mentes do cidadão comum.

Outra inovação fabiana: reformas sociais invariavelmente envolviam algum tipo de "seguridade". As pessoas seriam induzidas a aceitar o socialismo caso este fosse apresentado por meio de modelos oriundos das ciências atuariais, tendo empresas de seguro como base.

Empresas de seguro genuínas, baseando-se em estatísticas de distribuição aleatória de acidentes, coletam dinheiro de seus segurados na forma de um consórcio e concentram-no em um fundo, desta forma tornando o mundo menos incerto para seus membros. Os fabianos, muito espertamente, pegaram esse modelo e disseram: concentremos a riqueza de todos nas mãos do estado e seremos felizes, saudáveis e teremos uma vida melhor.

Aneurin Bevan, o ministro da saúde fabiano do governo trabalhista dos pós-guerra, que criou o National Health Service — o sistema estatal de saúde britânico (veja algumas notícias recentes da saúde britânica estatal aqui,aqui, aqui e aqui) —, chegou realmente a argumentar que tal modelo iria drasticamente aumentar a expectativa de vida de todos, chegando ao ponto de postergar a morte indefinidamente.

Mas a verdadeira visão fabiana do estado foi mais bem explicitada no livro de Sidney e Beatrice Webb intituladoSoviet Communism: A New Civilization?, publicado em 1935 (o ponto de interrogação foi removido do título após a primeira edição). O livro glorificava a URSS de Stalin como se fosse virtualmente um paraíso na terra.

Como marxistas, embora de uma outra estirpe, os Webbs aprovavam o stalinismo — se não os meios, os fins. "Os fabianos eram, de uma certa forma, marxistas mais bem treinados do que o próprio Marx", disse Joseph Schumpeter. Que continuou:

Concentrar-se nos problemas que podem ser alterados por métodos políticos práticos, adaptar-se à evolução das questões sociais, e deixar o objetivo supremo ser alcançado automaticamente [por meio da alteração cultural das massas] é algo que está muito mais de acordo com a doutrina fundamental de Marx do que a ideologia revolucionária que ele próprio propôs.

Conclusão

No linguajar fabiano, impostos são "contribuições", gastos do governo são "investimentos", criticar o governo é "entreguismo" ou "falta de patriotismo", donos de propriedades são "elites", "reacionários" e "privilegiados", e "mudança" significa " socialismo".

Quando os atuais social-democratas pedem "sacrifícios" da população em prol dos "ajustes" do governo, tenha em mente que os fabianos diziam exatamente o mesmo, defendendo, segundo as próprias palavras de Beatrice Webb, a "transferência" da "emoção do serviço sacrificante" de Deus para o estado.

Para os fabianos, o estado (seus burocratas e toda a sua mentalidade) é o único deus por quem a população deve se sacrificar.

Por fim, vale ressaltar que o desaparecimento dos bolcheviques nunca foi lamentado pelos social-democratas fabianos. Muito pelo contrário: os social-democratas fabianos agora detêm o monopólio da marcha "progressista" da história rumo à Utopia.

A janela de vidro pintada que adorna a casa de Beatrice Webb em Surrey, Inglaterra, mostra George Bernard Shaw e Sidney Webb remodelando o mundo com uma bigorna, tendo ao fundo o brasão da Sociedade Fabiana: um lobo em pele de cordeiro. Aquele lobo está hoje entre nós. 

Por: Lew Rockwell,  chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State
Tradução de Leandro Roque
Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2331