terça-feira, 15 de novembro de 2016

VOCÊ SABE O QUE REALMENTE SIGNIFICA "NEOLIBERALISMO"?

Aquilo que a esquerda chama de neoliberalismo é, na verdade, um não-liberalismo.

Na moderna discussão política, não há termo mais abusado e sobreutilizado do que 'neoliberalismo'.

O curioso é que, se você questionar o significado exato deste termo à pessoa que o pronuncia — sempre em tom vituperativo —, ela demonstrará não ter a mais mínima ideia.

O que é 'neoliberalismo'? Bom, pelo menos entre seus críticos, 'neoliberalismo' normalmente nada mais é do que um xingamento para liberalismo.

"Neoliberalismo" virou um termo pejorativo para o liberalismo laissez-faire
Segundo a Wikipédia, 'neoliberalismo' é simplesmente sinônimo de liberalismo:

Neoliberalismo é um termo controverso que se refere primordialmente ao ressurgimento, no século XX, de idéias do século XIX associadas ao liberalismo econômico laissez-faire. Tais ideias abrangem amplas políticas de liberalização econômica, como privatização, austeridade fiscal, desregulamentação, livre comércio, e reduções nos gastos do governo com o intuito de aumentar o papel do setor privado na economia.

E por que é um 'termo controverso'? Porque ele é usado quase que exclusivamente de forma pejorativa, e não como um termo descritivo para denotar imparcialmente uma ideologia.

Após estudarem 148 artigos de economia política que utilizam tal termo, os cientistas políticos Taylor Boas e Jordan Gans-Morse chegaram à conclusão que o termo "neoliberalismo" praticamente nunca é utilizado positivamente. O termo é majoritariamente usado por teóricos contrários ao livre mercado, mas nunca lhe é dado alguma definição: "O significado de neoliberalismo jamais é debatido e, pior ainda, jamais é sequer definido. Como consequência, o problema nem é que haja muitas definições para o termo, mas sim que não haja nenhuma", dizem os autores.

Ademais, como já dito, ao termo não é dado um rótulo neutro; ao contrário, seu emprego é feito majoritariamente por pessoas que se opõem ao livre mercado. Dizem os autores: "Os resultados de nossa análise de ensaios acadêmicos confirmam que o uso negativo do termo 'neoliberalismo' supera esmagadoramente seus escassos e eventuais empregos positivos".

Em outras palavras, "neoliberalismo" significa simplesmente um slogan anti-liberalismo. Nada mais é do que um termo esvaziado de conteúdo distintivo.

Boas e Gans-Morse prosseguem:

Um forte indicador das conotações negativas do termo é o fato de que praticamente ninguém se auto-identifica como 'neoliberal', ainda que acadêmicos frequentemente rotulem os outros — políticos, economistas, e até mesmo colegas de trabalho — com este termo. Embora, em nossa amostra, um quinto dos artigos era sobre os autores se referindo a outras pessoas como 'neoliberais', o fato é que, em toda a nossa pesquisa, não encontramos um único exemplo contemporâneo de um autor que tenha utilizado esse termo para se auto-descrever...

Adicionalmente, como observam Boas e Gans-Morse, "neoliberalismo" é frequentemente utilizado para "denotar... uma radical e abrangente aplicação dos princípios do livre mercado, de uma maneira sem precedentes em termos de velocidade, escopo e ambição." Para aqueles que desejam parecer "sensatos", "equilibrados" ou "não-radicais", as conotações do termo 'neoliberalismo' como sendo algo radicalmente em prol do livre mercado fornece uma razão adicional para evitar ser identificado com o termo.

O que realmente é o neoliberalismo?

Mas a verdade é que a ideologia neoliberal de fato existe — embora ninguém se identifique como tal — e possui um significado (um tanto amorfo, mas possui). E ela nada tem a ver com o genuíno liberalismo. Há uma clara — e intransponível — distinção entre o liberalismo clássico da Escola Austríaca e o neoliberalismo.

Poucos sabem, mas o neoliberalismo surgiu como uma terceira via entre o socialismo e o liberalismo. Como explicou Jorg Guido Hülsmann:

As raízes da ideologia neoliberal remetem às décadas de 1880 e 1890, quando os economistas alemães da Escola historicista alemã de economia e seus discípulos americanos convenceram-se de que a concentração industrial tinha efeitos prejudiciais para a economia e que, por isso, algum tipo de moderação por meio da intervenção governamental fazia-se necessária. Uma das consequências visíveis dessa mentalidade foi o Sherman Act (Lei Sherman antitruste), que desde então substituiu o poder dos consumidores pelo poder dos burocratas.

Na Alemanha, a filosofia da terceira via generalizou-se durante a 'Sozialpolitik' estimulada pelo Kaiser Wilhelm II. A França copiou o modelo, invocando a necessidade de uma 'tierce solution', assim como também fizeram os Estados Unidos sob o New Deal.

Entretanto, as primeiras declarações programáticas do neoliberalismo foram publicadas somente na década de 1930 — novamente, e previsivelmente, na Alemanha e nos Estados Unidos. O manifesto mais influente veio do economista de Chicago Henry Simons, que, em 1934, fez circular uma monografia intitulada A Positive Program for Laissez Faire (Um Programa Positivo para o Laissez-Faire) — no qual a palavra "positivo" indicava que esse programa justificava amplas intervenções governamentais, ao passo que o laissez-faire clássico era um programa "negativo", no sentido de que ele não fornecia tal justificativa.

Simons exortava o governo a regular a oferta monetária e o sistema bancário, a impedir a formação de monopólios, e a fornecer uma renda mínima para os destituídos — um desvio e tanto do liberalismo laissez-faire.

Essas ideias expressavam perfeitamente os sentimentos de uma geração de economistas que haviam sido criados em um ambiente intelectual inteiramente estatista, mas que no entanto conheciam as lições ensinadas pelos liberais clássicos. [...] Seu neoliberalismo animou o trabalho daquelas instituições que surgiram no pós-guerra com o intuito de estancar o crescimento do estatismo — mais especificamente a Mont Pèlerin Society e o Institute for Economic Affairs de Londres.

O neoliberalismo, portanto, surgiu entre ex-socialistas que haviam percebido que o socialismo não funcionava, mas que também não queriam abraçar inteiramente o liberalismo clássico.

O neoliberalismo possui uma agenda abertamente intervencionista, ainda que menos intervencionista que o próprio socialismo. Historicamente, neoliberais defendem monopólio estatal da moeda por um Banco Central, agências reguladoras para controlar determinados setores da economia, programas de redistribuição de renda, leis e regulações anti-truste, concessões em vez de genuínas privatizações e desestatizações, ajustes fiscais por meio de aumentos de impostos, além, é claro, de monopólio estatal da justiça, e saúde e educação fornecidas pelo estado.

O próprio Ludwig von Mises batalhou contra um grupo de economistas da Mont Pèlerin Society que, na década de 1940, poderiam ser rotulados de 'neoliberais'. Para Mises, esses neoliberais eram apenas relativamente liberais — comparados aos doutrinários socialistas —, mas ainda eram intervencionistas que defendiam o monopólio estatal da moeda por um Banco Central, programas assistencialistas, e todo aquele supracitado aparato regulatório e burocrático comandado pelo estado.

Mises havia argumentado que uma divisão racional do trabalho poderia ocorrer apenas se houvesse preços de mercado para os fatores de produção — algo que, por sua vez, requeria a propriedade privada desses fatores. Em contraposição, os neoliberais centraram-se exclusivamente nos preços em si, menosprezando exatamente as condições que permitiam o fenômeno da livre formação de preços.

Mises já havia demonstrado que o socialismo é impossível de existir porque tal arranjo não permite a formação de preços e o conseqüente cálculo de custos, lucros e prejuízos. Porém, para os neoliberais, a conclusão prática deste argumento da impossibilidade do cálculo sob o socialismo não era a de que o governo não deveria interferir na propriedade, mas sim a de que ele deveria abster-se de intervir nos preços especificamente.

Como explicou Hülsmann:

Ao passo que Mises havia simplesmente declarado que uma divisão do trabalho baseada no cálculo de preços poderia ocorrer apenas onde existisse a propriedade privada, os neoliberais planejavam manipular os sistemas institucional e jurídico com o intuito de "aprimorar" a divisão espontânea do trabalho gerada naturalmente pelo laissez-faire.

Para os neoliberais, o mercado era importante, mas eles acreditavam que a intervenção governamental poderia acentuar a "eficiência" e a "imparcialidade" do processo de mercado. Ao contrário dos socialistas, os neoliberais acreditavam que o mercado levaria a sociedade à direção correta; porém, ao contrário dos liberais clássicos, eles acreditavam que um mercado livre e desimpedido geraria resultados aquém do seu verdadeiro potencial.

Neoliberais, portanto, acreditam existir "intervenções capazes de aprimorar o mercado".

Sucintamente, pode-se dizer que neoliberalismo é uma mistura de social-democracia, keynesianismo e alguma liberdade de mercado em termos microeconômicos.

Para aqueles que acompanham o debate de idéias, a distinção entre neoliberais e liberais clássicos é explícita. Já para esquerdistas anti-liberais, que observam tudo de fora, austríacos, chicaguistas e neoclássicos são exatamente a mesma coisa. Para eles, todos esses "neoliberais" são igualmente a favor do livre mercado e do livre comércio, portanto todos eles concordam com os neoliberais do FMI (cuja presidência, aliás, já pertenceu ao líder do Partido Socialista francês).

Em algumas raras ocasiões, os críticos do neoliberalismo acabam acertando por acidente. Por exemplo, quando eles (corretamente) se opõem a acordos comerciais gerenciados pelo governo, como o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, em sua sigla em inglês). Mas eles acertam pelas razões erradas. Eles se opõem a esses acordos comerciais não porque eles são acordos gerenciadas e controlados pelo governo; não porque eles representam uma extensão do estado regulatório e corporativista; mas sim porque eles erroneamente acreditam que acordos comerciais gerenciados e controlados por governos representam um genuíno livre comércio.

Opondo-se tanto aos neoliberais quanto aos intervencionistas

A única conclusão é que os defensores consistentes do laissez-faire estão cercados, de um lado, pelos reais neoliberais e, do outro, pela esquerda anti-capitalista e anti-neoliberal.

Se pudesse, a esquerda anti-neoliberalismo alegremente expropriaria várias empresas. O empreendedorismo seria sufocado, as pequenas empresas seriam reguladas ao ponto de fecharem as portas, e o setor financeiro ficaria — mais ainda do que já é hoje — sob completo controle do estado.

Por outro lado, os neoliberais continuariam manipulando a economia por meio de suas políticas monetárias e fiscais, regulando vários setores da economia por meio de suas agências reguladoras, ajudando e protegendo grandes empresas, evitando genuínas desestatizações em favor de falsas privatizações, de concessões com prazo determinado, e de parcerias público-privadas, e, acima de tudo, expandindo ainda mais o estado assistencialista.

E ambos os grupos dariam as mãos em sua defesa da saúde e da educação sob controle do estado, divergindo apenas no fato de que os neoliberais ao menos aceitam que também haja saúde e educação privada em paralelo.

Ambos os grupos constituem ameaças significativas à causa do laissez-faire.

De resto, aquilo que a esquerda chama de neoliberalismo é, na verdade, um não-liberalismo.
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Ryan McMaken, editor do Mises Institute americano.

Por: Juan Ramón Rallo, diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri. É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.

Leandro Roque, editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.
Do site: www.mises.com.br 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

NOSSA FALTA DE AMBIÇÃO E DE LÓGICA EXPLICA O NOSSO ATRASO


No Brasil, as coisas são curiosas.

Votar é seu direito, mas é obrigatório.

FGTS é seu direito, mas é obrigatório ficar retido pelo governo, rendendo menos que a inflação.

Optar por ser representado ou não por um sindicato é seu direito, mas a contribuiçãosindical é obrigatória para sustentar sindicalistas.


Mais de 70% dos empregos no Brasil são gerados por micro e pequenas empresas, mas empresário é só um explorador.

Político que voa de jatinho e se hospeda em hotel 5 estrelas com dinheiro de impostos pagos pelo povo e por empreendedores é alguém com "consciência social". Já o empreendedor que rala para pagar esses impostos e empregar o povo é a "elite".

Num país com esta "lógica matemática", quem acaba sofrendo mesmo são os pobres, manipulados por políticos e seus discursos populistas. Caindo nessa conversa mole, o mais provável é que, infelizmente, permaneçam pobres pelo resto da vida.

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Levei meu filho de 6 anos de idade em seu primeiro dia de aula aqui nos EUA, há algumas semanas. Escola nova, vida nova, país novo, tudo novo na cabecinha de uma criança cheia de brilho nos olhos. Estava eu lá, ao seu lado, curtindo este momento.

Logo na entrada, havia uma placa eletrônica que, a cada dia, apresenta avisos importantes e estabelece um canal de comunicação instantâneo com os pais e alunos ao entrarem na escola.

Neste dia, havia uma mensagem que me chamou muita atenção e que me fez refletir bastante. A mensagem foi a seguinte:

WELCOME BACK [bem vindo de volta]

BE AMBITIOUS [seja ambicioso]

As duas frases apareciam, uma de cada vez, trocada eletronicamente e lida por cada pai e aluno que entrava na escola em seu primeiro dia de aula.

Pra pensar:

1. Você acha provável que a frase "seja ambicioso" fosse colocada na frente de uma escola no Brasil?

2. Caso fosse, que tipo de reação geraria?

3. Que tipo de mentalidade é desenvolvida com este tipo de ideologia (seja ambicioso) ensinada para as crianças desde cedo?

4. Que tipo de mentalidade é desenvolvida na nova geração por meio de ideologias que introjetam o vitimismo e o coitadismo?

Ser ambicioso é diferente de ser ganancioso. Ser ambicioso é ter o desejo de crescer, de evoluir, de construir, de fazer a diferença, de ser o melhor no que se faz; é nivelar por cima, é aumentar os seus referenciais, é pensar grande.

Se meu filho não tivesse acesso a este ensino na escola, eu mesmo o ensinaria. Infelizmente, este tipo de mentalidade tem sido rejeitada em muitos países, inclusive no Brasil. Também tem sido deixada de lado por muitas famílias que, infelizmente, pensam que ser ambicioso é sinônimo de ter um comportamento negativo. Consequência: a mediocrização do destino.

Você tem até o direito de não gostar com a frase "seja ambicioso", porém o mundo em que vivemos é resultado de pessoas ambiciosas que revolucionaram processos; empreendedores que construíram grandes empresas e criaram produtos dos quais você não desgruda; cientistas com novas descobertas; pesquisadores que promoveram o aumento de sua expectativa de vida etc.

Mesmo não gostando ou concordando com essa frase, você desfruta de uma vida que é resultado de pessoas e países que foram ambiciosos em vez de terem escolhido viver acomodados.

SEJA AMBICIOSO.

Acredite, não é pecado.

Por: Flavio Augusto Do site: http://www.mises.org.br/

domingo, 13 de novembro de 2016

A MENTIRA SOVIÉTICO-PALESTINA

- "A OLP foi idealizada pela KGB, que tinha tinha forte inclinação por organizações de libertação. — Ion Mihai Pacepa, ex-chefe do Serviço de Inteligência da Romênia.


- "A primeira providência da KGB foi destruir os registros oficiais de nascimento de Arafat no Cairo, substituindo-os por registros falsos, segundo os quais ele havia nascido em Jerusalém e era, portanto, um palestino de nascença". — Ion Mihai Pacepa.

- "O mundo islâmico era uma placa de Petri a postos na qual havia condições de cultivar uma cepa virulenta de ódio aos Estados Unidos, cultivada a partir da bactéria do pensamento marxista-leninista. O antissemitismo islâmico corria solto... A única coisa a fazer era ficar repetindo nossos lemas -- que os Estados Unidos e Israel eram "países fascistas, sionistas-imperialistas" financiados pelos judeus ricos". — Yuri Andropov, ex-chefe da KGB.

- Já em 1965, a URSS propôs formalmente uma resolução nas Nações Unidas condenando o sionismo como forma de colonialismo e racismo. Embora não tivesse tido sucesso em sua primeira investida, a ONU acabou por se mostrar uma organização extremamente receptiva à propaganda e ao preconceito soviético. Em novembro de 1975, a Resolução 3379 condenando o sionismo como "uma forma de racismo e discriminação racial" foi finalmente aprovada.


A recente descoberta que Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (AP), era espião da KGB em Damasco em 1983, foi descartada por muitos na grande mídia como uma "curiosidade histórica...", só que a notícia emergiu em um momento particularmente inoportuno em que o Presidente Vladimir Putin estava procurando organizar novas conversações entre Abbas e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Como era de se esperar, a Autoridade Palestina imediatamente refutou a notícia. Nabil Shaath, alto funcionário da Fatah afirmou que Abbas jamais foi agente da KGB e classificou a alegação de"campanha difamatória."

A revelação, longe de ser uma "curiosidade histórica", é um aspecto de uma das muitas peças do quebra-cabeça no tocante às origens do terrorismo islâmico dos séculos XX e XXI. As origens são quase sempre ofuscadas e obscurecidas nas tentativas mal acobertadas em apresentar uma narrativa peculiar em relação às causas do terrorismo contemporâneo, ao mesmo tempo desacreditando todas e quaisquer evidências em contrário como "teorias da conspiração".

Não há nada de conspiratório acerca da última revelação. Ela consta em um documento nos arquivos Mitrokhin no Churchill Archives Center da Universidade de Cambridge do Reino Unido. Vasili Mitrokhin era ex-oficial de alta patente do Serviço de Inteligência, que mais tarde foi rebaixado a arquivista da KGB. Correndo perigo de vida gigantesco, ele passou 12 anos diligentemente copiando aqueles arquivos secretos da KGB, que se não fosse por meio de seu trabalho eles continuariam indisponíveis para o público (os arquivos sobre a inteligência estrangeira da KGB permanecem lacrados para o público, apesar do fim da União Soviética). Quando Mitrokhin desertou da Rússia em 1992, trouxe a cópia dos arquivos para o Reino Unido. Os trechos que deixaram de ser secretos dos arquivos Mitrokhin foram liberados ao público nos textos do professor da Universidade de Cambridge Christopher Andrew, que juntamente com o desertor soviético escreveram The Mitrokhin Archive (publicado em dois volumes). Os arquivos de Mitrokhin levaram, entre outras coisas, à descoberta de muitos espiões da KGB no Ocidente e em outras regiões.

Lamentavelmente a história da verdadeira dimensão das operações de influência e desinformação da KGB não é compreendida como deveria ser, considerando-se o imenso peso que a KGB exercia sobre assuntos internacionais. A KGB conduzia operações hostis contra a OTAN como um todo, contra a dissidência democrática dentro do bloco soviético e preparava e conduzia operações subversivas na América Latina e no Oriente Médio, que ressoam até os dias de hoje.

Além disso, a KGB atuava com extrema dedicação na criação de movimentos assim chamados de libertação na América Latina e no Oriente Médio, movimentos estes que levaram a efeito o terrorismo devastador − conforme documentado no The Mitrokhin Archive, entre outros lugares, bem como nos livros e textos de Ion Mihai Pacepa, o oficial comunista de mais alta patente a desertar do antigo bloco soviético.

Pacepa foi chefe do Serviço de Inteligência da Romênia e conselheiro pessoal do líder comunista romeno Nicolae Ceausescu antes de desertar para os Estados Unidos em 1978. Pacepa trabalhou por mais de 10 anos com a CIA para derrubar o comunismo, a Agênciadescreveu sua colaboração como "uma importante e singular contribuição para os Estados Unidos".

Em entrevista concedida em 2004 ao FrontPage Magazine, Pacepa ressaltou:

A OLP foi idealizada pela KGB, que tinha tinha forte inclinação por organizações de "libertação". A KGB criou o Exército de Libertação Nacional da Bolívia, em 1964 com a ajuda de Ernesto "Che" Guevara... a KGB também criou a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, que realizou atentados à bomba... Em 1964 o primeiro conselho da OLP composto por 422 representantes palestinos escolhidos a dedo pela KGB aprovou a Carta Nacional Palestina − documento este elaborado em Moscou. O Pacto Nacional Palestino e a Constituição Palestina também nasceram em Moscou, com a ajuda de Ahmed Shuqairy, agente influenciador da KGB que se tornou o primeiro presidente da OLP...

No Wall Street Journal, Pacepa explicou como a KGB construiu Arafat − ou seja, na linguagem corrente, como ela construiu uma narrativa para ele:

Ele era um burguês egípcio, mas foi transformado em dedicado marxista pela inteligência da KGB. A KGB o treinou em sua escola de operações especiais Balashikha na região leste de Moscou e em meados da década de 1960 decidiu prepará-lo como futuro líder de OLP. A primeira providência da KGB foi destruir os registros oficiais de nascimento de Arafat no Cairo, substituindo-os por registros falsos, segundo os quais ele havia nascido em Jerusalém e era, portanto, um palestino de nascença.

Conforme o já falecido historiador Robert S. Wistrich ressaltou em A Lethal Obsession (A Obsessão Fatal), a Guerra dos Seis Dias desencadeou uma campanha intensiva e prolongada por parte da União Soviética para deslegitimar Israel e o movimento de autodeterminação judaica, conhecido como sionismo. A manobra tinha como objetivo corrigir o dano causado ao prestígio da União Soviética depois que Israel derrotou seus aliados árabes:

Depois de 1967, a União Soviética começou a inundar o mundo com um fluxo constante de propaganda antissionista... Somente os nazistas em seus doze anos de poder tinham conseguido produzir um fluxo sustentado dessa magnitude de difamações e calúnias como instrumento de política nacional e externa[1].

Para tanto a URSS empregou uma série de palavras gatilho nazistas para descrever a derrota que os israelenses impuseram à agressão árabe de 1967, muitas das quais ainda são empregadas pela esquerda do Ocidente nos dias de hoje, quando se trata de Israel, tais como "praticantes de genocídio", "racistas", "campos de concentração" e "limpeza étnica".

Além disso, a URSS se envolveu em uma campanha internacional de calúnias e difamações no mundo árabe. Em 1972, a União Soviética lançou a operação "SIG" (Sionistskiye Gosudarstva, isto é: "Os Governos Sionistas"), com o objetivo de retratar os Estados Unidos como um "arrogante e esnobe feudo judaico, financiado pelo dinheiro judeu e gerido por políticos judeus, cujo objetivo era o de dominar todo o mundo islâmico". Cerca de 4.000 agentes foram enviados do bloco soviético para o mundo islâmico, armados com milhares de cópias da antiga farsa da Rússia czarista Os Protocolos dos Sábios de Sião. Segundo o chefe da KGB Yuri Andropov: o mundo islâmico era uma placa de Petri a postos na qual havia condições de cultivar uma cepa virulenta de ódio aos Estados Unidos, cultivada a partir da bactéria do pensamento marxista-leninista. O antissemitismo islâmico corria solto... A única coisa a fazer era ficar repetindo nossos lemas — que os Estados Unidos e Israel eram "países fascistas, sionistas-imperialistas" financiados pelos judeus ricos. O Islã, obcecado em impedir a ocupação de seu território pelos infiéis, seria extremamente suscetível à nossa caracterização do Congresso dos EUA como um órgão sionista ganancioso, que tinha como objetivo transformar o mundo em um feudo judaico.

Já em 1965, a URSS propôs formalmente uma resolução nas Nações Unidas condenando o sionismo como forma de colonialismo e racismo. Embora não tivesse tido sucesso em sua primeira investida, a ONU acabou por se mostrar uma organização extremamente receptiva à propaganda e ao preconceito soviético. Em novembro de 1975, a Resolução 3379 condenando o sionismo como "uma forma de racismo e discriminação racial" foi finalmente aprovada. A conquista se seguiu a quase uma década de diligente propaganda soviética dirigida ao Terceiro Mundo, retratando Israel como um Cavalo de Troia do imperialismo e racismo do Ocidente. A campanha foi criada para edificar suporte à política externa soviética na África e no Oriente Médio. [2] Outra tática era fazer comparações visuais e verbais, consistente e incessantemente, na mídia soviética entre Israel e a África do Sul (esta é a origem dos boatos sem o menor fundamento do "Apartheid israelense").

Não só no terceiro mundo, mas também a esquerda ocidental acreditaram piamente em toda essa propaganda soviética. A esquerda do Ocidente continua disseminando grandes parcelas dela até os dias de hoje. A bem da verdade, difamar alguém, quem quer que seja de racista, tornou-se uma das principais armas da esquerda contra aqueles que discordam dela.

Entre as táticas soviéticas para isolar Israel foi fazer com que a OLP parecesse "respeitável". De acordo com Pacepa, o dirigente romeno Nicolae Ceausescu foi incumbido desta tarefa, ele que já tinha conseguido a quase impossível façanha de propaganda de retratar ao Ocidente o implacável estado policial romeno como país comunista "moderado". Isso não tinha absolutamente nada a ver com a realidade, como foi finalmente revelado no julgamento contra Nicolae Ceausescu e sua esposa Elena em 1989, que culminou com a execução de ambos.
Yasser Arafat (esquerda) com o presidente romeno Nicolae Ceausescu durante uma visita a Bucareste em 1974. (imagem: Museu de História Nacional da Romênia)

Pacepa salientou no Wall Street Journal:

Em março de 1978, eu levei Arafat secretamente para Bucareste para as instruções finais sobre como se comportar em Washington. "Você simplesmente tem que continuar fazendo de conta que vai romper com o terrorismo e reconhecer Israel − repetir, repetir e repetir essa mesma ladainha," disse Ceausescu a Arafat... Ceausescu estava eufórico com a perspectiva de que Arafat e ele poderiam estar em condições de abocanhar o Prêmio Nobel da Paz, com suas exposições fraudulentas mostrando o ramo de Oliveira.

... Ceausescu não conseguiu ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Mas Arafat o conseguiu em 1994 − somente porque ele continuou desempenhando com perfeição o papel que lhe demos. Ele transformou sua organização terrorista OLP em um governo no exílio (Autoridade Palestina), sempre fingindo estar disposto a pôr fim ao terrorismo palestino, ao passo que na realidade o deixava correr solto. Dois anos depois da assinatura dos acordos de Oslo, o número de israelenses mortos por terroristas palestinos saltou 73%.

Em seu livro Red Horizons, Pacepa revelou o que Arafat lhe disse em uma reunião no quartel general da OLP em Beirute, isso na mesma época em que Ceausescu estava tentando tornar a OLP "respeitável":

Sou um revolucionário. Dediquei toda a minha vida à causa palestina e à destruição de Israel. Não vou mudar ou fechar um acordo. Eu não concordo com nada que reconheça Israel como um estado. Nunca... Mas estou sempre disposto a fazer com que o Ocidente acredite que eu quero o que o Irmão Ceausescu quer que eu faça. [3]

A propaganda abriu primorosamente o caminho para o terrorismo, explicou Pacepa naNational Review:

O General Aleksandr Sakharovsky, que montou a estrutura de inteligência comunista da Romênia, então sendo alçado para chefiar toda a inteligência externa da Rússia Soviética, muitas vezes me disse: "no mundo de hoje, quando armas nucleares tornaram obsoleta a força militar, o terrorismo deverá se tornar a nossa principal arma".

O general soviético não estava brincando. Somente em 1969, houve 82 sequestros de aviões em todo o mundo. Segundo Pacepa, a maioria desses sequestros foi cometida pela OLP ou por grupos associados, todos apoiados pela KGB. Em 1971, quando Pacepa visitou Sakharovsky em seu gabinete em Lubyanka (sede da KGB), o general se vangloriou: "sequestro de avião é minha invenção". A Al Qaeda praticou sequestros de aviões em 11 de setembro quando usaram os próprios aviões para explodir edifícios.

Dito isso, onde Mahmoud Abbas se encaixa nisso tudo? Em 1982 Mahmoud Abbas estudou em Moscou no Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da URSS. (Em 1983 ele se tornou espião da KGB). Lá ele escreveu sua tese, publicada em árabe com o título O Outro Lado: O Segredo das Relações Entre o Nazismo e a Liderança do Movimento Sionista.Nela ele nega a existência das câmaras de gás nos campos de concentração e questiona o número de vítimas do Holocausto, sustentando que os 6 milhões de judeus que tinham sido mortos "uma mentira fantasiosa", simultaneamente culpando os judeus pelo Holocausto. Seu orientador de tese foi Yevgeny Primakov, que mais tarde se tornou Ministro das Relações Exteriores da Rússia. Mesmo depois de terminada a tese, Abbas manteve laços estreitos com a liderança soviética, militares e membros dos serviços de segurança. Em janeiro de 1989, foi nomeado Copresidente do Grupo de Trabalho Palestino Soviético (depois Russo Palestino) sobre o Oriente Médio.

Quando o atual dirigente dos árabes palestinos era acólito da KGB − cujas maquinações custaram a vida de milhares de pessoas somente no Oriente Médio − isto não pode ser considerado como "curiosidade histórica", mesmo que os formadores de opinião contemporâneos queiram que seja visto desta maneira.

Embora Pacepa e Mitrokhin soaram o alarme há muitos anos, poucas pessoas se interessaram em ouvi-los. Mas deveriam tê-los ouvido.

Judith Bergman é escritora, colunista, advogada e analista política. 26 de Outubro de 2016

Original em inglês: The Soviet-Palestinian Lie
Tradução: Joseph Skilnik Do site:https://pt.gatestoneinstitute.org

OS ALEMÃES ESTÃO DEIXANDO EM MASSA A ALEMANHA

- Mais de 1.5 milhão de alemães, muitos deles altamente qualificados, deixaram a Alemanha na década passada. — Die Welt.


- A Alemanha está diante de uma escalada de crimes cometidos por migrantes, incluindo uma epidemia de estupros e ataques sexuais. A migração em massa também está acelerando a islamização da Alemanha. Muitos alemães parecem estar perdendo a esperança em relação à futura direção que o país irá seguir.

- "Nós, refugiados... não queremos viver no mesmo país que vocês. Vocês podem, e eu acho que deveriam deixar a Alemanha. E por favor, levem a Saxônia e a Alternativa para a Alemanha (AfD) com vocês... Por que vocês não vão para outro país? Nós estamos cheios de vocês!" — Aras Bacho, migrante sírio de 18 anos de idade, no jornal Der Freitag, outubro de 2016.

- Uma corretora de imóveis em uma cidade perto do Lago Balaton, um destino turístico muito procurado no oeste da Hungria, contou que 80% dos alemães que estão mudando para lá culpam a crise migratória como o principal motivo que os incentiva a deixarem a Alemanha.

- "Eu acredito que não há lugar para o Islã na Alemanha. Eu considero o Islã uma entidade estrangeira que trouxe mais problemas do que benefícios ao Ocidente. Na minha opinião, muitos seguidores desta religião são mal-educados, exigentes e desprezam a Alemanha." — Um cidadão alemão que emigrou da Alemanha, em uma "Carta Aberta ao Governo Alemão."

- "Eu acredito que a imigração está causando mudanças importantes e irreversíveis na sociedade alemã. Estou furioso que isso esteja acontecendo sem a aprovação direta dos cidadãos alemães... Eu acredito que é uma vergonha que os judeus da Alemanha devam, de novo, ter medo de serem judeus." — Um cidadão alemão que emigrou da Alemanha, em uma "Carta Aberta ao Governo Alemão."
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Um número cada vez maior de alemães está abandonando os bairros nos quais residiram a vida inteira enquanto outros estão deixando a Alemanha para sempre à medida que a imigração em massa vem transformando regiões do país radicalmente, a ponto de ficarem irreconhecíveis.

Dados da agência de estatísticas alemã Destatis, mostram que 138.000 alemães deixaram a Alemanha em 2015. A expectativa é que mais emigrem em 2016. Em um artigo sobre a fuga de cérebros intitulado "O talento alemão está deixando em massa o país", o jornal Die Weltreportou que mais de 1.5 milhão de alemães, muitos deles altamente qualificados, deixaram a Alemanha na década passada.

As estatísticas não dizem o porquê dos alemães estarem emigrando, mas segundo rumores muitos estão acordando para o verdadeiro custo — financeiro, social e cultural — da decisão da Chanceler Angela Merkel de permitir a entrada no país de mais de um milhão de migrantes, em sua maioria muçulmanos, em 2015. A expectativa é a de que pelo menos 300.000 migrantes cheguem à Alemanha em 2016, de acordo com Frank-Jürgen Weise, chefe do departamento de migração do país, BAMF.

A migração em massa tem — entre os inúmeros problemas que o país está enfrentando — contribuído para a crescente sensação de insegurança na Alemanha, que está diante de uma escalada de crimes cometidos por migrantes, incluindo a epidemia de estupros e ataques sexuais. A migração em massa também está acelerando a islamização da Alemanha. Muitos alemães parecem estar perdendo a esperança em relação à futura direção que o país irá seguir.
No auge da crise migratória em outubro de 2015, cerca de 800 cidadãos se aglomeraram na câmara municipal em Kassel/Lohfelden para protestar contra uma decisão unilateral do governo local de erguer abrigos para migrantes na cidade. O Presidente de Kassel, Walter Lübcke, respondeu àqueles que não concordam com a política de portas abertas para a imigração do governo que eles são "livres para deixarem a Alemanha assim que o desejarem".

Esta resposta ecoou em um audacioso ensaio publicado em outubro de 2016 pelo jornal Der Freitag, (também publicado pela Huffington Post Deutschland, que posteriormente excluiu o post). No artigo, Aras Bacho, imigrante sírio de 18 anos de idade sugeriu aos alemães que estão furiosos com a crise migratória que deixem a Alemanha. Ele ressaltou:


"Nós, refugiados... estamos fartos dos cidadãos furiosos (Wutbürger). Eles insultam e incitam como loucos... Sempre há esses incitamentos de desempregados racistas (Wutbürgern), que passam o tempo todo na Internet esperando até que apareça um artigo sobre refugiados. Depois começam a pipocar os vergonhosos comentários...

"Olá, vocês furiosos cidadãos desempregados (Wutbürger) na Internet. Como está a educação de vocês? Por quanto mais tempo vocês vão continuar distorcendo a verdade? Vocês não sabem que estão espalhando mentiras todo santo dia? O que vocês fariam se estivessem na pele deles? Bem, vocês teriam fugido!

"Nós, refugiados... não queremos viver no mesmo país que vocês. Vocês podem, e eu acho que deveriam deixar a Alemanha. E por favor, levem a Saxônia e a Alternativa para a Alemanha (AfD) com vocês.

"A Alemanha não serve para vocês, por que você moram aqui? Por que vocês não vão para outro país? Se este é o seu país, prezados cidadãos furiosos (Wutbürger), então se comportem civilizadamente. Caso contrário, vocês podem simplesmente fugir da Alemanha e procurar um novo lar. Vão para os Estados Unidos, para Donald Trump, ele vai amar muito vocês. Nós estamos cheios de vocês!"

Em maio de 2016 a revista semanal Focus, relatou que os alemães estão se mudando para a Hungria. Uma corretora de imóveis em uma cidade perto do Lago Balaton, um destino turístico muito procurado no oeste da Hungria, contou que 80% dos alemães que estão mudando para lá culpam a crise migratória como o principal motivo que os incentiva a deixarem a Alemanha.

Um cidadão alemão, que emigrou da Alemanha recentemente e que pediu para não ser identificado escreveu uma "Carta Aberta ao Governo Alemão". O documento, que foi publicado no site Politically Incorrect, afirma:

"Há poucos meses eu emigrei da Alemanha. Minha decisão não foi tomada por motivos financeiros e sim, principalmente, devido à minha insatisfação com a atual situação política e social em minha terra natal. Em outras palavras, acredito que eu e especialmente meus filhos terão uma vida melhor em outro lugar. Melhorpara mim neste contexto significa, acima de tudo, uma vida em que eu possa desfrutar da liberdade, autodeterminação e salários dignos, no que diz respeito à tributação.

"Entretanto eu não quero fechar as portas e apenas ir embora discretamente. Eu gostaria, por meio desta, explicar de uma forma construtiva porque eu decidi deixar a Alemanha.

1. "Eu acredito que não há lugar para o Islã na Alemanha. Eu considero o Islã uma entidade estrangeira que trouxe mais problemas do que benefícios ao Ocidente. Na minha opinião muitos seguidores desta religião são mal-educados, exigentes e desprezam a Alemanha. Em vez de darem um basta à islamização na Alemanha (e ao consequente fim da nossa cultura e liberdade), a maioria dos políticos, ao que tudo indica, está mais preocupada em ser reeleita e, consequentemente prefere ignorar ou minimizar o problema do Islã.

2. "Eu acredito que as ruas alemãs são menos seguras do que deveriam ser, dadas as nossas oportunidades tecnológicas, legais e financeiras.

3. "Eu acredito que a UE tem uma deficiência democrática que limita a minha influência como cidadão democrático.

4. "Eu acredito que a imigração está causando mudanças importantes e irreversíveis na sociedade alemã. Estou furioso que isso esteja acontecendo sem a aprovação direta dos cidadãos alemães, mas mesmo assim está sendo imposta por vocês aos cidadãos alemães e à próxima geração.

5. "Eu acredito que a mídia alemã está desistindo cada vez mais da sua neutralidade e que a liberdade de expressão neste país só existe de forma limitada.

6. "Eu acredito que na Alemanha os preguiçosos estão sendo bajulados enquanto os trabalhadores estão sendo punidos.

7. "Eu acredito que é uma vergonha que os judeus da Alemanha devam, de novo, ter medo de serem judeus."

Muitos alemães têm notado a tendência de uma integração inversa, na qual se espera que as famílias alemãs se adaptem aos costumes e hábitos sociais dos migrantes, e não o contrário.

Em 14 de outubro, o jornal Tageszeitung de Munique publicou uma carta profundamente emotiva e sincera de uma mulher chamada "Anna", mãe de dois filhos, que escreveu sobre a sua decisão de mudar com a família para fora da cidade porque os migrantes estavam tornando sua vida insuportável. Na carta, dirigida ao prefeito de Munique Dieter Reiter, ela assinala:

"Hoje eu quero escrever-lhe uma espécie de carta de despedida (Abschiedsbrief) explicando porque eu juntamente com a minha família estamos deixando a cidade, mesmo que, provavelmente, ninguém se incomode.

"Eu tenho 35 anos de idade, moro aqui com meus dois filhos ainda pequenos e meu marido em uma luxuosa casa geminada com garagem. Portanto, poder-se-ia dizer que estamos muito bem segundo os padrões de Munique ... Moramos em uma casa muito confortável com muito espaço ao lado de um parque com muito verde. Então por que uma família como a nossa iria resolver mudar de cidade? ....

"Suponho que seus filhos não fazem uso de espaços públicos, que eles não usam transporte público e que não frequentam escolas públicas em "áreas problemáticas". Também imagino que vocês e outros políticos raramente, se é que algum dia deram uma volta por aqui.

"Continuando, em uma manhã de segunda-feira eu participei de um pequeno café da manhã para mulheres do bairro patrocinado pela Cidade de Munique. No café da manhã eu me encontrei com 6 ou 8 mães, algumas vieram com seus filhos. Todas usavam véus e nenhuma falava alemão. Os organizadores do evento rapidamente me informaram que provavelmente eu iria ter dificuldade em me integrar (ipsis litteris!!!). Devo salientar que sou alemã. Falo alemão fluente... e não uso véu. De modo que dei um breve sorriso e disse que gostaria de tentar me integrar. Infelizmente, pelo fato de que foi pedido a todas que trouxessem algo para beliscar, eu trouxe um sanduíche de salame e presunto para o café da manhã, . Então é claro que assim eu tinha ainda menos chance de me integrar.

"Não foi possível falar alemão com ninguém no café da manhã das mulheres, que na verdade foi organizado com o intuito de promover a integração, mas ninguém estava interessado nisso. Os organizadores não insistiram que se falasse alemão e as mulheres, que pareciam fazer parte de um grupo árabe/turco, simplesmente queriam usar o recinto.

"Então perguntei acerca do brunch familiar... Fui avisada que o brunch seria realizado em recintos separados. Homens em um recinto e mulheres em outro. No começo pensei que se tratava de uma piada de mau gosto. Infelizmente, não era...

"De modo que a minha impressão em relação a esses eventos para promover a integração é lastimável. Não há nenhum tipo de interação!!! Como é possível a cidade de Munique tolerar uma coisa dessas? Na minha opinião, todo o conceito desses eventos para promover a integração deve ser questionado... Fui informada que não posso incluir carne de porco na lancheira do meu filho!!! Olá?! Nós estamos aqui na Alemanha! ....

"Resumindo, eu acho que a situação faz com que eu sinta que nós somos realmente indesejados aqui. Que a nossa família realmente não se enquadra aqui. Às vezes meu marido diz que ele tem a sensação de que agora somos a maior minoria sem nenhum lobby. Para cada grupo há uma instituição, um local, um interesse público, mas para nós, um casal heterossexual, casado, com dois filhos, não desempregado, nem deficiente nem islâmico, para pessoas como nós não há mais nenhum interesse.

"Quando eu disse na escola do meu filho que estávamos pensando em sair da cidade e as razões que nos levaram a isso, fui veementemente atacada pela direção da escola. Por causa de pessoas como nós, disseram eles, é que a integração não funciona, precisamente porque nós tiramos nossos filhos. Pelo menos duas mães se exasperaram de maneira ofensiva. A direção da escola me tachou de "xenófoba".

"É exatamente por esta razão que pessoas como eu perderam a paciência e resolveram votar para outros partidos políticos... Sendo bem franca, visitei cerca de 50% dos países do mundo, tenho mais amigos estrangeiros que alemães e não tenho absolutamente nenhum preconceito ou aversão a pessoas por conta de sua origem. Vi muitas coisas mundo afora e sei que a forma com que a integração está sendo conduzida aqui fará com que outros também cheguem a este tipo de conclusão: ou mandamos nossos filhos para escolas particulares, jardins de infância ou mudamos para outras comunidades. Bem, então, até logo!!!"

Por: Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter. 25 de Outubro de 2016
Tradução: Joseph Skilnik Do site:https://pt.gatestoneinstitute.org

sábado, 12 de novembro de 2016

Como Aproveitar Seu Ensino Superior ao Máximo

PARANOIA COM O ESTADO DO CORPO SÓ VAI PIORAR COM O PROGRESSO DA CIÊNCIA

Mark Zuckerberg, o rei do Facebook, pretende investir US$ 3 bilhões para curar todas as doenças existentes na Terra.

Não sei como é possível levar a sério uma proclamação dessas: acreditar que as maleitas existentes desaparecem por obra e graça de US$ 3 bilhões só faz sentido na cabeça adolescente de um eterno adolescente como Zuckerberg. Mas entendo a ambição dele e a moda em que ele se inspirou.

Semanas atrás, a revista "The Economist" dedicou amplo espaço ao assunto: e se, no futuro próximo, for possível prolongar a vida humana até aos 120 anos (mínimo)?

E se novos tratamentos permitirem substituir órgãos finitos (coração, rins, fígado etc.) por novos exemplares a partir do nosso "armazém" genético?

Enfim, e se a imortalidade estiver ao alcance do engenho humano?

A "The Economist" concede o benefício da dúvida para todas as utopias da ciência e depois alerta para dois problemas, para além dos óbvios (demográficos, econômicos, ambientais etc.).

Em primeiro lugar, só vale a pena viver mais quando se vive bem (os autores clássicos sabiam disso; será preciso lembrar o destino da Sibila de Cumas?).

Por outro lado, os tratamentos anti-envelhecimento teriam que estar disponíveis para todas as bolsas. Caso contrário, haveria um fosso ainda mais intolerável do que aquele que separa pobres e ricos; seria o abismo entre seres mortais e imortais.

Fatalmente, a revista esqueceu um efeito perverso mais imediato: se a morte por "causas naturais" se transformar em artigo raro, que espécie de conduta teria a humanidade para evitar todas as outras fatalidades (crimes, acidentes etc.) que poderiam acabar com uma vida teoricamente infindável?

Hoje, a paranoia com o estado do corpo excede os limites da sanidade. Num mundo de seres (quase) imortais, imagino que essa paranoia hipocondríaca seria tão aguda que só o suicídio seria capaz de nos aliviar.

*

"Nasci adulta e morrerei criança" –assim falava a escritora lusa Agustina Bessa-Luís (que tem o seu "Breviário do Brasil" finalmente editado pela Tinta da China). Essa confissão, no melhor espírito Benjamin Button, começa a fazer sentido quando chego a meio da jornada (escrevo "meio da jornada" com a esperança razoável, ou talvez irrazoável, de ter mais 40 anos pela frente).

Isso é visível nas pequenas rotinas: observo o meu filho (de 15 meses) e compreendo a beleza daquela vida. As dormidas. As comidas. E as tropelias que ele gosta de fazer nos entretantos.

Então olho para mim e concluo que não é apenas ele que é parecido comigo (fisicamente). Eu também sou parecido com ele (espiritualmente). Deplorava um prato de sopa - e agora não consigo viver sem ela. Deplorava a perda de tempo com o sono - e agora não dispenso a minha sesta.

E, em matéria de tropelias, o velho sentimento de culpa que sempre me acompanhava quando havia trabalho para fazer deu lugar a um ócio limpo, lúdico. Infantil.

Mas não é apenas nas dormidas e comidas que me torno mais jovem à medida que envelheço. Ainda me lembro do meu horror ao sol. Adolescente pretensioso, repetia mentalmente as palavras de Paulo Francis ("Intelectual não vai à praia; intelectual bebe") e hibernava durante o Verão.

Quando o Outono chegava, como agora chega ao hemisfério norte, saía da toca e, ao som de Tony Bennett ("Maybe September / I'll Love Again"), recebia as primeiras chuvas como certas tribos primitivas: grato e festivo. Só faltava dançar.

Não mais. Essa alegria está reservada para a Primavera, que agora chega ao hemisfério sul; e atinge o seu apogeu quando há calor e areia e mar.

Não sei que estranhos comportamentos me esperam no futuro. Mas se o leitor irónico está a pensar nas fraldas que as crianças também usam, só posso responder: não excluo nada até lá chegar.

*

Em inícios do século 20, Thomas Hardy (1840 - 1928) escreveu um dos seus poemas mais perturbantes. Intitula-se "God's Funeral" e, como o título indica, é uma marcha fúnebre sobre o enterro de Deus.

Os homens, em perfeita evocação de Feuerbach, falam do "defunto" como uma projecção mental dos medos e frustrações da humanidade. Mas palpita ainda entre alguns dos presentes a nostalgia da crença - os dias que começavam com a oração dos simples e o sentimento de confiança que repousava sobre eles.

No poema, Thomas Hardy junta-se melancolicamente ao cortejo. Não é possível defender o indefensável depois do triunfo do materialismo e do niilismo.

Uma pergunta, porém, resiste ao enterro: se Deus está a sete palmos, que será dos homens que ficam cá em cima? Foram vários os teóricos políticos que se ocuparam questão.

No século 18, Edmund Burke (1729 - 1797) já tinha alertado para as consequências da "descrença": os jacobinos atacavam o cristianismo mas os homens, "animais religiosos" por definição, rapidamente procurariam novos dogmas para preencher o vazio interior. A França do Terror e da Virtude, com o grotesco culto do Ser Supremo, foi a resposta sanguinária ao "enterro de Deus".

De igual forma, Alexis de Tocqueville (1805 - 1959) regressaria ao cemitério no século seguinte: se a "era da igualdade" era imparável, a única forma de impedir que a igualdade degenerasse em tirania era aprender alguma coisa com a religiosidade dos americanos –essa espécie de fortaleza interior mas também comunitária que se opunha aos abusos do poder central.

É nesta linhagem que se situa Raymond Aron (1905 - 1983). Sobretudo o Raymond Aron de "O Ópio dos Intelectuais", um clássico que a 3 Estrelas publicou.

Uma digressão: lembro-me de ler algures que uma das primeiras medidas dos bolcheviques, depois da Revolução de 1917, foi substituir nas casas da plebe russa as figuras do Cristo Pantocrator por retratos de Karl Marx. A história talvez seja apócrifa e, aqui entre nós, convenientemente capilar: entre a barba de um e de outro, venha o camponês e escolha.

Mas o episódio, real ou imaginário, capta o espírito da "religião secular" tal como Aron o apresenta: o "funeral de Deus" não deu lugar ao luto prolongado ou à euforia libertadora.

"As necessidades do coração", para usar uma expressão do próprio Aron, rapidamente levaram os homens, e sobretudo os intelectuais, a procurarem os alicerces consoladores de uma nova religião.

O comunismo (e o nazi-fascismo) cumpriu esse papel ao conceder um sentido e um fim para as almas perdidas da modernidade. O proletariado (ou a raça) seria o novo messias; a "sociedade sem classes" (ou um Reich de mil anos), um novo reino celestial; e os intelectuais, os mesmos que transportaram o caixão de Deus até à última morada, surgiam como os guardiões da nova "fé" –e como os "inquisidores" contra os novos "cismas" e os novos "hereges".

Eu sempre soube que o comunismo, o fascismo ou o nazismo eram "heresias" contra a dignidade básica do ser humano. Depois de ler Raymond Aron, a palavra "heresia" ganhou contornos ainda mais precisos, mais literais –e mais letais.
Por: Paulo Pereia Coutinho  Do site: http://www1.folha.uol.com.br/

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

GLOBALIZAÇÃO X GLOBALISMO

A CIVILIZAÇAO SÓ EXISTE PELA RECUSA DA TRANSPARÊNCIA TOTALITÁRIA


Li há tempos que já existem banheiros transparentes na via pública. Não brinco. Seria na Ásia? Na China? Talvez, talvez. Mas o meu ponto é outro: qual é o problema de termos um vaso sanitário para uso (nosso) e contemplação (dos outros)?

Os moralistas dirão: é falta de pudor. Ou, melhor ainda, é uma redução da nossa humanidade ao estado mais animalesco. Concordo. Mas os moralistas não entendem que vivemos na "sociedade da transparência"?

Uso essa expressão porque ela é o título de um ensaio –mais um, primoroso– do filósofo Byung-Chul Han. E, a páginas tantas, o professor Han cita Jean-Jacques Rousseau (quem mais?). Escrevia Rousseau as palavras que se seguem: "Só um mandamento da moral pode suplantar todos os outros, a saber, este: nunca faças nem digas seja o que for que o mundo inteiro não possa escutar."
Binho Barreto/Binho Barreto/Editoria de Arte/Folhapress 

E conclui o genebrino, em antecipação do banheiro transparente: "Eu, pelo meu lado, sempre considerei como sendo o mais digno de apreço de entre os homens esse romano cujo desejo era que a sua casa estivesse construída de maneira a poder ver-se tudo o que nela se passava."

As palavras de Rousseau fazem parte do seu particular programa filosófico: uma crítica radical às mentiras da "civilização" –e uma apologia da vida "autêntica" que existiria no estado da natureza.

Sim, eu sei: Rousseau nunca defendeu um regresso à selva. Mas as suas propostas transportam ainda o aroma selvático de um tempo em que o homem não precisava de "artifícios" (como portas opacas ou papel higiênico, imagino eu) para conhecer a felicidade pura.

Como relembra Byung-Chul Han, Rousseau tinha uma preferência por cidades pequenas, onde "cada um está sempre sob os olhos do público, o censor nato dos costumes dos outros" e onde "a polícia exerce uma vigilância fácil sobre todos".

Arrepiado, leitor? Não esteja. Se o banheiro transparente ainda é um exclusivo asiático, o Ocidente já cultiva há muito os seus próprios banheiros transparentes. Basta olhar para as "redes sociais", onde a maioria gosta de expor a intimidade com a mesma naturalidade com que um animal defeca no mato.

A esse respeito, recordo sempre um amigo que me dizia ter cortado relações com um cunhado porque ele publicara as fotos do filho bebê no Facebook. Fotos do bebê vestido, despido; brincando, dormindo, tomando banho; não sei se havia um penico no portfólio, mas você entende a ideia. O meu amigo considerava o gesto aberrante; o familiar discordava e, mais, nem percebia onde estava o erro.

O nosso mundo é o mundo sonhado por Rousseau. "A polícia exerce uma vigilância oficial sobre todos?" Afirmativo. Vivemos em democracia. Mas o Estado, pelos usos e abusos da tecnologia, sabe mais sobre os cidadãos do que em qualquer outra era histórica. Sabe quanto você ganha ou gasta; com quem vive, com quem fala; para onde viaja, onde fica; e, nas matérias mais íntimas, não é preciso uma polícia política. O cidadão revela voluntariamente o que sobra da sua existência.

Imagino um ex-agente da Pide portuguesa ou da KGB soviética a suspirar de nostalgia: "Tivemos tanto trabalho com vigilâncias, grampos, torturas –e agora tudo isso é grátis!"

Mas não é apenas o Estado que vive dentro do nosso banheiro transparente. "Cada um está sempre sob os olhos do público, o censor nato dos costumes dos outros"?

Afirmativo novamente. Como escreve Byung-Chul Han, a "sociedade da transparência" consegue a proeza de nos transformar em seres vigiados e vigilantes ao mesmo tempo. Não apenas por uma autoridade externa –um Big Brother clássico. Mas porque esse Big Brother, agora, somos nós.

"E qual é o problema?", pergunta o leitor que gosta de publicar fotos dos filhos no Facebook.

O problema é que a nossa civilização só existe pela recusa da transparência totalitária. "A arte é a natureza do homem", dizia Burke.

Traduzindo: aquilo que nos separa dos animais é o artifício, as convenções, até as repressões. É desse artifício que brota a arte, o conhecimento, a sedução, a paz possível.

E é também por causa dessa "cortina" que nos podemos retirar do mundo para dar descanso à vida: a vida que pensa, sente, imagina, planifica.

Rousseau escrevia que o luxo da civilização corrompia o homem.

A "sociedade da transparência" considera que a civilização já é um luxo. O futuro dos banheiros transparentes não terá nem civilização, nem luxo, nem homens.
Por: Joao Pereia Coutinho  Do site: http://www1.folha.uol.com.br/

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PESSOAS IGNORANTES EM POLÍTICA DEVEM TER DIREITO DE VOTAR?

Vamos ser honestos? A democracia não é o melhor regime político. Você sabe disso. As maiorias, muitas vezes, elegem governos incompetentes, mentirosos, corruptos. Até autoritários. Devemos conceder o direito de voto a quem não tem inteligência suficiente para escolhas responsáveis?


O cientista político Jason Brennan defende que não. O livro, que provocou polêmica nos Estados Unidos, intitula-se "Against Democracy" ("contra a democracia"). Não é um panfleto populista contra o populismo circunstancial de Donald Trump. É um estudo acadêmico com toneladas de bibliografia científica.

Tese do dr. Brennan: em todas as pesquisas disponíveis, os eleitores americanos são comprovadamente ignorantes sobre os assuntos da República. Desconhecem coisas básicas, como identificar qual dos partidos controla o Congresso. Para usar a terminologia de Brennan, a maioria dos eleitores se divide em "hobbits" e "hooligans".
Binho Barreto/Editoria de Arte/Folhapress 

Os "hobbits" são apáticos, apedeutas, raramente votam –e, quando votam, votam com a cabeça vazia.

Os "hooligans" são o contrário: fanáticos, como os torcedores do futebol, defendendo os seus "clubes" de uma forma irracional, ou seja, tribal. É possível perguntar a um "hooligan" democrata se ele concorda com uma política de Bush e antecipar a resposta. (É contra, claro.)

E depois, quando o pesquisador comunica ao "hooligan" que a referida política, afinal, é de Obama, o "hooligan" muda de opinião; ou afasta-se; ou indigna-se. Como dizia T. S. Eliot sobre Henry James, a cabeça de um "hooligan" é tão dura que nenhuma ideia é capaz de violá-la.

O eleitor ideal, para Brennan, é um "vulcan": alguém que pensa cientificamente sobre os assuntos. Mas os "vulcans" são artigo raro. Em democracia, somos obrigados a suportar as escolhas de "hobbits" e "hooligans".

Felizmente, Jason Brennan tem uma solução: se as pessoas precisam de uma licença para dirigir, o mesmo deveria acontecer para votar. "Epistocracia", eis a proposta. O governo dos conhecedores. Antes de votar, é preciso provar.

Existem vários modelos de epistocracia. Dois exemplos: todos teriam direito a um voto e depois, com a progressão acadêmica, haveria votos extra; ou, em alternativa, só haveria votos para quem tivesse boa nota em exame de política. Faz sentido?

Não, leitor, não faz. Seria possível escrever várias páginas de jornal a desconstruir o livro de Jason Brennan. Por falta de espaço, concentro-me na sua falha básica: Brennan, um cientista político, não compreende a natureza da política.

Como um bom racionalista, Brennan acredita que os fatos políticos são neutros; consequentemente, as escolhas do eleitor podem ser "científicas".

Acontece que nunca são: a política, ao contrário da matemática ou da geometria, lida com a complexidade e a imperfeição da vida humana.

Um "exame" de política, por exemplo, dependeria sempre das preferências políticas dos examinadores –nas perguntas e na correção das respostas. Brennan até pode defender perguntas "factuais" para respostas "factuais". Mas a simples escolha de certos temas (mais economia) em prejuízo de outros (menos história) já é uma escolha política.

Além disso, acreditar que diplomas acadêmicos conferem a alguém um poder especial em política é desconhecer o papel que os "intelectuais" tiveram nos horrores do século 20.

Ou, para não irmos tão longe, é ignorar o estado de fanatismo ideológico que as universidades, hoje, produzem e promovem.

Por último, não contesto que a maioria desconhece informação política relevante. Mas as pessoas não precisam de um Ph.D. para votarem. Basta que vivam em sociedade. Que sintam na pele o estado dos serviços públicos. O dinheiro que sobra (ou não sobra) no final do mês. A segurança que sentem (ou não sentem) nos seus bairros, nas suas cidades, nos seus países. E etc. etc.

Como lembrava o filósofo Michael Oakeshott, não se combatem ditadores com a balança comercial. Tradução: a política não depende apenas de um conhecimento técnico; é preciso um conhecimento prático, tradicional, vivencial. O conhecimento que só a experiência garante.

A democracia pode não ser o regime ideal para seres humanos ideais. Infelizmente, eu não conheço seres humanos ideais. No dia em que Jason Brennan me mostrar onde eles vivem, eu prometo jogar a democracia no lixo.
Por: Joao Pereira Coutinho  Do site: http://www1.folha.uol.com.br/

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

CIVILIZAÇÃO ENTROU EM DECLÍNIO QUANDO SE ABOLIRAM OS DUELOS PÚBLICOS


Foi paixão à primeira vista. Falo de Nassim Nicholas Taleb, um dos maiores pensadores vivos. Finalmente, aqui estava alguém capaz de enfrentar a "ovelha negra" (ou, nas palavras do próprio, o "cisne negro") do otimismo racionalista.

Sim, podemos elaborar as mais perfeitas teorias sobre o mundo. Mas existe uma margem de "contingência" que escapa à razão humana –e, em muitos casos, determina o que somos e não somos.

Esta verdade, que era pacífica para os autores greco-latinos, deixou de o ser para o "autismo pós-iluminista ingênuo e pseudocientífico", como afirma Taleb. Resultado? Somos como Procusto, a figura mitológica que sequestrava os viajantes e tentava que eles encaixassem perfeitamente na sua cama. Os viajantes mais altos tinham as pernas cortadas. Os mais baixos eram esticados.
Editoria de Arte/Folhapress 

A obsessão de Procusto simboliza a nossa obsessão em adaptar a realidade aos nossos conceitos –e não ao contrário.

E se falo de Procusto é porque ele surge no título do livro de aforismos de Taleb, "The Bed of Procrustes" (a cama de Procusto). Porque Taleb, para além de tratados filosóficos sublimes como "Antifrágil", é também um aforista que podemos comparar aos melhores (La Bruyère, Pascal, Cioran etc.). Escolho dez aforismos –os meus dez, como quem se olha no espelho para conversar com uma alma gêmea.

Escreve Taleb: "Nunca se ganha uma discussão até começarem a atacar a nossa pessoa".

Comentário: Quando os meus críticos usam argumentos racionais, eu deprimo e medito onde falhei. Quando me insultam, sorrio com prazer e saboreio a vitória.

Escreve Taleb: "Pergunto-me se um inimigo ressentido ficaria com ciúmes se descobrisse que eu odiava outra pessoa".

Comentário: Não deixa de ser um mistério que a literatura seja pródiga em paixões não correspondidas –mas não em ódios não correspondidos.

Escreve Taleb: "Algumas pessoas só têm graça quando tentam ser sérias".

Comentário: Gosto de fazer análise política porque o material nunca desilude.

Escreve Taleb: "As pessoas concentram-se nos bons modelos; mas é mais eficaz encontrar antimodelos –pessoas com quem não nos queremos parecer quando crescermos".

Comentário: Uma educação civilizada não se faz por adição –mas por subtração.

Escreve Taleb: "Os homens destroem-se uns aos outros durante a guerra; e a si mesmos em tempo de paz".

Comentário: O instinto pela sobrevivência é um caso de psicologia invertida: quanto mais o mundo conspira para nos matar, mais intensamente desejamos viver. A estatística suporta a psicologia.

Escreve Taleb: "Nunca liberte ninguém de uma ilusão se não conseguir substituí-la por outra ilusão. (Mas não se esforce demasiado; a ilusão substituta nem precisa de ser mais convincente do que a inicial)".

Comentário: Todos conhecemos radicais de esquerda que se converteram à direita (o inverso é mais raro). "Conversão", aqui, é a palavra: há espíritos que não suportam a orfandade da religião ideológica.

Escreve Taleb: "Quando batemos fisicamente em alguém, fazemos exercício físico e descarregamos a tensão; quando o insultamos verbalmente na internet, só nos prejudicamos a nós próprios".

Comentário: A civilização entrou em declínio quando as sociedades aboliram os duelos públicos.

Escreve Taleb: "Para Sêneca, o sábio estoico devia abandonar os esforços públicos quando fosse ignorado ou quando o Estado fosse irremediavelmente corrupto. É mais sábio esperar pela autodestruição".

Comentário: O que é válido para os Estados também é válido para as pessoas. A violência da inação é a forma mais elegante de vingança.

Escreve Taleb: "Um dos problemas das redes sociais é que está a tornar-se cada vez mais difícil para os outros queixarem-se de nós nas nossas costas".

Comentário: "Gosto que me critiquem na cara", dizem pessoas sem maneiras ou imaginação. Prefiro não saber nem estar presente para não estragar a liberdade criativa de ninguém.

Escreve Taleb: "Existem homens que se rodeiam de mulheres (e procuram riqueza) para ostentação; outros fazem-no maioritariamente para consumo; raramente são os mesmos".

Comentário: Nunca tive particular apetência por mulheres-troféu. Sempre parti do pressuposto, provavelmente errado, de que eu próprio já era o troféu.
Por: Joao Pereira Coutinho  Do site: http://www1.folha.uol.com.br/

terça-feira, 8 de novembro de 2016

FRANÇA: A BOMBA-RELÓGIO DA ISLAMIZAÇÃO

O último grupo, definido como "Ultras", representa 28% dos entrevistados caracterizados como os de perfil mais autoritário. Eles afirmam preferir viver longe dos valores republicanos. Para eles, os valores islâmicos e a lei islâmica, ou seja, a sharia vem em primeiro lugar, antes mesmo da lei consuetudinária da República. Eles aprovam a poligamia e o uso da niqabe e da burca. 

"Estes 28% abraçam o Islã na sua versão mais retrógrada, que se tornou para eles uma espécie de identidade. O Islã é o esteio da sua revolta e essa revolta está incorporada em um Islã de ruptura, teorias da conspiração e antissemitismo" de acordo com Hamid el Karoui durante uma entrevista concedida ao Journal du Dimanche. 

Mais importante ainda é que estes 28% se encontram predominantemente entre os jovens (50% estão abaixo dos 25 anos de idade). Em outras palavras, um em cada dois jovens franceses muçulmanos é um salafista do tipo mais radical, ainda que não esteja filiado a uma mesquita. 

É inacreditável que as únicas ferramentas a nossa disposição são as inadequadas pesquisas de opinião. Sem conhecimento, nenhuma ação política — ou qualquer outra ação — será possível. É uma situação que beneficia, incomensuravelmente, os agressivos políticos islamistas. 

Cegueira deliberada é a mãe da guerra civil que está por vir − a não ser que o povo francês opte por sucumbir ao Islã sem esboçar nenhuma reação. 

Recentemente foram publicados na França dois estudos importantes sobre os muçulmanos franceses. O primeiro, com o título otimista: "É Possível um Islã Francês", foi publicado sob os auspícios do Institut Montaigne, um instituto francês, independente, interdisciplinar de estudos francês.

O segundo estudo, intitulado: "Trabalho, Empresa e Questão Religiosa", é a quarta análise conjunta que ocorre anualmente entre o Randstad Institute (uma empresa de recrutamento) e o Observatório da Experiência Religiosa no Trabalho Observatoire du fait religieux en entreprise, OFRE), uma empresa de pesquisa.

Os dois estudos preenchem uma enorme lacuna na esfera da demografia religiosa e étnica e foram amplamente divulgados na mídia. A França é um país que conta com bons demógrafos, estudiosos, professores e institutos de pesquisa, contudo, a coleta de dados oficiais ou estatísticas com base na raça, origem ou religião é proibida por lei.

A população da França é de 66,6 milhões de habitantes, de acordo com um relatório datado de 1º de janeiro de 2016 do Instituto Nacional de Estatística (Insee). No entanto, os questionários do censo proíbem qualquer pergunta sobre raça, origem ou religião. De modo que na França é impossível saber quantos muçulmanos, negros, brancos, católicos, árabes, judeus, etc. vivem no país.

A proibição está calcada em um antigo e saudável princípio que tem como objetivo evitar qualquer tipo de discriminação em um país onde a "assimilação" é o preceito. A assimilação, no estilo francês, significa que qualquer estrangeiro que queira viver no país deve seguir o código comportamental da população local e casar com um autóctone o mais rápido possível. Este modelo de assimilação funcionou perfeitamente para os descendentes de espanhóis, portugueses ou poloneses. Mas com os árabes e muçulmanos, não.

Agora, no entanto, apesar de todas as boas intenções, o preceito que proíbe a coleta de dados que possa levar à discriminação, se tornou um problema de segurança nacional.

Quando um grupo de pessoas, sem papas na língua, que agem com base na religião ou etnia, começam a combater de forma violenta os fundamentos da sociedade em que você vive, é necessário − na realidade urgente - saber que religiões e etnias são essas e quantas pessoas elas representam.

Consequentemente os dois estudos em questão não se baseiam em dados do censo e sim em pesquisas de opinião. O estudo realizado pelo Institut Montaigne, por exemplo, assinala que os muçulmanos representam 5,6% da população metropolitana da França, mais precisamente 3 milhões. No entanto, Michèle Tribalat, demógrafa, especializada em problemas de imigração, realçou que a marca dos 5 milhões já tinha sido ultrapassada por volta de 2014. O Pew Research Center estima que em meados de 2010 a população muçulmana da França era de 4,7 milhões. Outros estudiosos, como Azouz Begag, ex-ministro da igualdade (deixou o governo em 2007) estima que o número de muçulmanos na França gira em torno de 15 milhões.
Estudo do Institut Montaigne: A Secessão dos Muçulmanos Franceses

O estudo realizado pelo Institut Montaigne, divulgado em 18 de setembro, baseia-se em uma pesquisa conduzida pelo Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública), que entrevistou 1.029 muçulmanos. O autor do estudo é o consultor Hakim el Karoui, ex-assessor do então primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin (de 2002 a 2005).

Foram destacados três principais perfis muçulmanos:

No topo encontra-se o assim chamado perfil "secular" (46%). Os indivíduos que se encaixam neste perfil afirmaram ser "totalmente seculares, mesmo quando a religião ocupa um lugar importante em suas vidas". Embora afirmem serem seculares, muitos pertencem ao grupo que é a favor do uso da hijab por todas as mulheres muçulmanas (58% dos homens e 70% das mulheres). Eles também se sobrepõem ao grupo (60%) que apoia o uso da hijab na escola, embora a hijab esteja proibida nas escolas desde 2004. Muitos destes "seculares" tambémpertencem a 70% dos muçulmanos que "sempre" consomem carne halal (somente 6% nunca a consomem). De acordo com o estudo, usar a hijab e comer somente carne halal são considerados, pelos próprios muçulmanos, "traços" significativos da identidade muçulmana.

O segundo grupo de muçulmanos, "Grupo Orgulho Islâmico", representa um quarto (25%) dos aproximadamente 1.000 entrevistados. Eles se definem acima de tudo como muçulmanos e reivindicam o direito de praticar sua religião (reduzida principalmente à hijab e alimentos halal) em público. No entanto, eles rejeitam a niqabe e a poligamia. Eles dizem respeitar o secularismo e as leis da República, mas a maioria diz não aceitar a proibição da hijab nas escolas.

O último grupo, definido como "Ultras", representa 28% dos entrevistados caracterizados como os de perfil mais autoritário. Eles afirmam preferir viver longe dos valores republicanos. Para eles, os valores islâmicos e a lei islâmica, ou seja, a sharia, vem em primeiro lugar, antes mesmo da lei consuetudinária da República. Eles aprovam a poligamia e o uso da niqabe e da burca.

"Estes 28% abraçam o Islã na sua versão mais retrógrada, que se tornou para eles uma espécie de identidade. O Islã é o esteio da sua revolta e essa revolta está incorporada em um Islã de ruptura, teorias da conspiração e antissemitismo" de acordo com Hamid el Karoui durante uma entrevista concedida ao Journal du Dimanche.

Hamid el Karoui, falando sobre as opiniões dos muçulmanos franceses em uma entrevista concedida ao Journal du Dimanche ressaltou: "estes 28% aderem ao Islã na sua versão mais retrógrada, que se tornou para eles uma espécie de identidade. O Islã é o esteio da sua revolta e essa revolta está incorporada em um Islã de ruptura, teorias da conspiração e antissemitismo." 

Mais importante ainda é que estes 28% se encontram predominantemente entre os jovens (50% estão abaixo dos 25 anos de idade). Em outras palavras, um em cada dois jovens franceses muçulmanos é um salafista do tipo mais radical, ainda que não esteja filiado a uma mesquita.

A pergunta é: quantos eles serão em cinco anos, dez anos, vinte anos? É importante perguntar porque as pesquisas sempre apontam para um determinado momento, o momento congelado de uma situação. Quando podemos observar que as restrições do véu e dos alimentos halal são impostas a toda a família pelos "big brothers", temos que nos conscientizar que há um processo em andamento, um processo de separação devido à re-islamização de toda a comunidade muçulmana pelos jovens.

A jornalista e autora Elisabeth Schemla assinalou no Le Figaro: para que se possa entender o significado da re-islamização é necessário que haja uma definição do islamismo. A definição mais precisa é dada por um de seus defensores mais fervorosos, o Conselheiro de Estado Thierry Tuot, um dos três juízes escolhidos neste verão para determinar a proibição ou não do uso do burquíni na praia (...). O islamismo, salienta ele, é a "declaração pública de um comportamento social apresentado como uma exigência divina que invade o cenário público e político." Em face desta definição, o relatório de Al Karoui mostra que o islamismo está inexoravelmente se espalhando.
O Islã em Atividade, o Islamismo em Movimento

Esta bomba-relógio está andando silenciosamente... funcionando.

Uma pesquisa de opinião, conduzida entre os meses de abril e junho de 2016 pelo Randstad Institute e pelo Observatory of the Religious Experience at Work (OFRE) Observatório da Experiência Religiosa no Trabalho, que entrevistou 1.405 executivos de diferentes empresas, revelou que de cada três executivos dois (65%) responderam que o "comportamento religioso" é uma manifestação normal no local de trabalho − um salto de 50% se comparado com 2015.

O professor Lyonel Honoré, diretor da OFRE e autor do estudo, reconhece de maneira discreta que "em 95% dos casos", o "comportamento religioso no trabalho está relacionado aos muçulmanos".

Para que se possa entender melhor a importância deste "Islã visível" presente nos escritórios e fábricas francesas nos dias de hoje, temos que levar em conta que, tradicionalmente, o local de trabalho era considerado espaço neutro. A lei não proíbe nenhum tipo de manifestação religiosa ou política no local de trabalho, mas segundo a praxe, tanto empregados quanto empregadores consideravam fundamental a discrição de todos no exercício de sua liberdade religiosa.

O estudo do Ranstad de 2016 mostra que a tradição acabou. Símbolos religiosos proliferam no local de trabalho e 95% dos símbolos visíveis são islâmicos. Expressões explícitas e símbolos do cristianismo e do judaísmo também estão presentes no local de trabalho, sem dúvida, mas são insignificantes se comparados com os do Islã.

O levantamento leva em consideração dois tipos de manifestações das convicções religiosas: 
Práticas pessoais, como por exemplo: direito de faltar ao trabalho nos feriados religiosos, horários de trabalho flexíveis, direito de rezar durante os intervalos do trabalho e direito de usar símbolos religiosos. 
Distúrbios durante o horário de trabalho ou quebra das normas, como a recusa dos homens de trabalharem com uma mulher ou obedecer ordens de uma executiva, recusa de trabalhar com pessoas que não são da mesma religião, recusa de executar tarefas específicas e proselitismo durante o horário de trabalho. 

"Em 2016", segundo o estudo, "o uso de símbolos religiosos (hijab) se transformou na expressão máxima da fé religiosa (21% dos casos, comparado com 17% em 2015 e 10% em 2014). Pedidos para se ausentar do trabalho por conta de feriados religiosos (18%) continua estável mas já ocupa o segundo lugar."

No item "perturbações no trabalho", este estudo politicamente correto observa que os conflitos entre empregados e empregadores por motivos religiosos são poucos: um "evento minoritário", "apenas" 9% dos distúrbios religiosos ocorridos em 2016. Mas apesar disso o número de conflitos aumentou cerca de 50%, se comparado aos 6% em 2015. Os conflitos também triplicaram desde 2014 (3%) e quase quintuplicaram desde 2013 (2%).

Eric Manca, advogado do escritório de advocacia August & Debouzy, especializado em legislação trabalhista, que participava de uma entrevista coletiva, assinalou que quando um conflito é em sua essência religioso e se transforma em litígio, "é invariavelmente um problema relacionado ao Islã. Cristãos e judeus nunca recorrem ao tribunal contra o seu empregador por motivos religiosos". Quando islamistas processam seus empregadores, a jurisprudência mostra que a acusação sempre se baseia em "racismo" e "discriminação" − acusações que, acima de tudo, só podem fazer com os empregadores lamentem tê-los contratado.

As raízes dos conflitos apresentados a seguir englobam o proselitismo (6%) e a recusa de executar tarefas (6%) — por exemplo: recusa do entregador entregar bebidas alcoólicas aos clientes, recusa de trabalhar com uma mulher ou sob a direção de uma mulher (5%) e solicitar trabalhar somente com muçulmanos (1%). Casos como os acima citados concentram-se em setores empresariais "como fornecedores de auto-peças, construção civil, tratamento de resíduos, supermercados... e estão localizados nas periferias das grandes cidades".
Conclusões

O modelo francês de assimilação está acabado. Conforme demonstrado, funciona para todos, menos para os muçulmanos franceses e, ao que tudo indica, as escolas públicas não têm mais condições de transmitir os valores republicanos, especialmente aos jovens muçulmanos. De acordo com Hakim el Karoui:


"Os muçulmanos franceses estão vivendo no olho do furacão com diversas crises ao mesmo tempo. A Síria, como não podia deixar de ser, é a que abala o espírito. Mas também a transformação das sociedades árabes, nas quais as mulheres estão assumindo um novo lugar: o número de estudantes do sexo feminino já ultrapassa o do sexo masculino, as meninas estão recebendo mais educação do que seus pais. A religião, em sua versão autoritária, é uma arma reacionária contra o processo de desenvolvimento. E finalmente, há a crise social: no caso dos muçulmanos, em que dois terços dos trabalhadores e empregados são menores de idade, são as primeiras vítimas da desindustrialização".

A islamização está se expandindo por todos os lados. Nos centros urbanos a maioria das mulheres árabes usa véu e nos bairros mais afastados, as burcas e os nicabes são cada vez mais comuns. No local de trabalho, onde o comportamento não religioso era normalmente a regra, os encarregados tentam aprender a lidar com as exigências islâmicas. Em grandes corporações, como a Orange (telecom), um "diretor de diversidade" foi encarregado de gerir as exigências e os conflitos. Nas pequenas empresas, os encarregados estão desnorteados. Conflitos e litígios estão se multiplicando.

O silêncio dos políticos. Apesar da ampla cobertura da mídia em relação a esses dois estudos, um impressionante silêncio foi a única coisa que se ouviu por parte dos políticos. Isto é muito preocupante, uma vez que também fazia parte do estudo realizado pelo Institut Montaigne algumas propostas para a edificação do "Islã da França", como por exemplo pôr um fim ao financiamento estrangeiro de mesquitas e a formação local de líderes civis e religiosos. Outras ideias, como lecionar árabe em escolas seculares "para evitar que os pais mandem seus filhos para escolas islâmicas" é muito estranho, porque isso iria perpetuar a estratégia fracassada de integrar o islamismo através das instituições. Jovens franceses muçulmanos, mesmo aqueles que nasceram na França, têm dificuldade em falar e escrever francês adequadamente. É por isso que eles precisam, antes da mais nada, falar e escrever francês corretamente.

Os dois estudos, embora sejam apenas um começo, são incrivelmente insatisfatórios. Políticos, jornalistas e todo cidadão precisa saber mais sobre o Islã, seus princípios e seus objetivos no país. É inacreditável que as únicas ferramentas a nossa disposição são as inadequadas pesquisas de opinião. Sem conhecimento, nenhuma ação política — ou qualquer outra ação — será possível. É uma situação que beneficia incomensuravelmente os agressivos políticos islamistas.

Sem mais conhecimento, a negação da islamização e a imobilidade em abordá-la fará com que ela avance. Cegueira deliberada é a mãe da guerra civil que está por vir − a não ser que o povo e os políticos optem por sucumbir ao Islã sem esboçar nenhuma reação.

Por: Yves Mamou, radicado na França, trabalhou por duas décadas como jornalista para o Le Monde. 13 de Outubro de 2016
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org