segunda-feira, 28 de abril de 2014

QUANDO OS CONSERVADORES ADOTAM O ERRO

Pat Buchanan tornou-se um companheiro de viagem e idiota útil.


Ele não pode – e nem poderia – ver que as mentiras de Moscou evoluíram para engolir tanto a direita quanto a esquerda.

O desertor Konstantin Preobrazhensky avisou que a religião conservadora se tornou fio condutor da subversão russa.

Blaise Pascal escreveu que o homem é repleto de erros. “Esse erro é natural”, explicou Pascal, “infausto e indelével. Nada mostra a ele a verdade; tudo o engana”. Em linhas similares, Frederico o Grande disse: “O homem foi feito para o erro. O erro entra em sua mente naturalmente e nós descobrimos apenas algumas verdades após muito esforço”. Os conservadores são especialmente culpados de errar quando se trata da União das Repúblicas Socialistas Soviética, Rússia e o comunismo. Para entender as complexas realidades subjacentes, deve-se primeiro descobrir o caráter enganoso da própria coisa. Um comunista é um ser humano com o poder de uma pessoa. Como outros humanos políticos, ele não muda suas crenças com a mesma frequência que troca de roupa. Ele não desiste facilmente e se torna de repente um capitalista. Por outro lado, é totalmente normal para um comunista se disfarçar de capitalista. Lênin fez isso na década de 1920 e Stálin fez seus arranjos com o capitalismo na década de 1940. Houve uma “coexistência pacífica” nos anos 1950 sob Krushchev, um détente sob Brezhnev e a perestroika com Gorbachev; E hoje, em Moscou, Vladimir Putin finge ser um cristão. Quem seria ingênuo o bastante para acreditar nesta última ilusão? Dentre todos, essa pessoa é Patrick J. Buchanan, que escreveu um artigo intitulado "Deus agora está do lado da Rússia?"

Nessa coluna, Buchanan cita uma passagem de um discurso do presidente Putin: “Muitos dos países euro-atlânticos afastaram-se das suas raízes, inclusive dos valores cristãos”, disse o ditador russo. “Buscam-se as políticas que colocam no mesmo patamar uma família cheia de crianças com uma dupla homossexual; a fé em um Deus e a crença em Satã. Esse é o caminho da degradação”. Buchanan então pergunta se vimos algum líder ocidental “falar desta forma recentemente (?)”. É evidente que não vimos. Buchanan então conclui que “na guerra cultural pelo futuro da humanidade, Putin está armando firmemente a bandeira russa ao lado do cristianismo tradicional”. Ai de mim! Isso certamente seria verdadeiro, caso as palavras fossem sempre usadas para fazer referência direta à realidade. Entretanto, os ditadores russos mentem de maneira tão promíscua e tão copiosa, que não podemos tomar o que eles dizem pelo valor de face.

Buchanan parece ignorar tudo isso – e parece ignorar também a realidade pós-soviética. Como praticamente todos analistas, ele não leu muito, tampouco pensou em profundidade acerca do assunto Rússia. Como vários outros nomes famosos de décadas anteriores, Buchanan tornou-se um companheiro de viagem e idiota útil. O idiota útil é aquele que inconscientemente promove a propaganda russa sob a ingênua suposição de que Moscou é uma força do bem. Todavia, Moscou não é uma força do bem. A Rússia é um regime baseado em mentiras – e Buchanan caiu nelas. Como isso é possível? Buchanan pertence aos conservadores, um grupo que se fragmentou e degenerou ao longo dos anos. William F. Buckley pode ter sido a figura representante dessa tendência fragmentária e degenerativa. Foi Buckley quem iniciou um racha entre os setores conservadores e conservadores antissemitas, sendo que Buchanan (dentre outros) caiu na conta dos segundos de acordo com Buckley. Talvez Buckley tenha detectado em Buchanan uma ambivalência a respeito do hitlerismo; um tempo depois, inclusive, Buchanan expressou a opinião de que a América provocou o Japão antes de Pearl Harbor e que a guerra contra Hitler foi trágica e fútil. A mesma análise agora é aplicada por Buchanan para se referir à Rússia e Putin. Buchanan acredita que o Ocidente está pressionando a Rússia para começar uma Terceira Guerra Mundial. Ele não vê de forma alguma o lado da Rússia. Ela está defendendo a cristandade, diz ele. Ela está defendendo todos aqueles valores que a América abriu mão, tais como a santidade da família. Buchanan esquece que o próprio Putin se divorciou recentemente e que a Rússia foi o primeiro país na história a permitir o aborto sob todas as circunstâncias, tendo o maior número de abortos por mulher em idade fértil do mundo em 2010. Buchanan esquece também que a Rússia é um grande centro internacional do crime organizado, prostituição e tráfico de drogas. Como noticiou a CNN, a pornografia infantil é legal na Rússia, de modo que o país se tornou um abrigo de pedófilos. Moscou não é nem de longe a Brilhante Cidade de Deus que Buchanan quer fazer parecer. É a metrópole da enganação. Moscou apóia os revolucionários comunistas africanos e latino-americanos até hoje.

Como um esquerdista da Guerra Fria, Buchanan também não tem qualquer conhecimento prévio de estratégia, não faz ideia como opera a KGB, como funcionam as “medidas ativas” ou quão profundamente penetrado está o Ocidente de redes de agentes russos. Ele não sabe que a Guerra Fria nunca acabou e que muitos dos desertores disseram isso publicamente. Ele de alguma forma se esqueceu que a Rússia é o único país que pode destruir os EUA em menos de uma hora. Por que eles mantiveram essa capacidade destrutiva e por que se aliaram com a China vermelha? Ele não pensa nisso. Ao acreditar que era verdadeiro o colapso soviético ele confundiu a apresentação do fato com o próprio fato, a aparência com a essência. Um nome não é uma coisa, é apenas seu rótulo. Remover o rótulo soviético não foi um colapso. Foi uma mudança. Um nome foi colocado em lugar do outro, mas a realidade subjacente continuou a mesma. Como ele pôde deixar passar isso? Eis que a respeito da análise de Buchanan, estamos perante um entendimento surpreendentemente materialista do mundo. Na entrevisão de Buchanan, não há um fantasma na máquina – nenhuma teleologia ou ideologia na Grande Besta. Ele não leva em consideração a alma do negócio, pois ele concentra sua atenção nas aparências externas. Para ele, o discernimento se tornou impossível porque ele não sabe detectar as revelações do espírito. Toda a loucura mecanicista newtoniana está em Buchanan, cuja fé cristã não interpenetrou seu intelecto secular. A realidade interna do comunismo e seu significado religioso sempre estiveram além do seu entendimento. Para ele o que vale é o rótulo – um rótulo sem uma realidade subjacente. Sendo assim, tão logo o rótulo foi removido, ele se tornou incapaz de rastrear as futuras maquinações da coisa em si. Para Buchanan, nunca houve um coração ou alma comunista para se considerar. O comunismo, como sistema de crenças, era um mero epifenômeno. O verdadeiro comunismo era uma aparência externa, insignificante internamente. Não tendo discernimento espiritual ele não pôde vislumbrar o empedernido coração da elite soviética. Ele não pode – e nem poderia – ver que as mentiras de Moscou evoluíram para engolir tanto a direita quanto a esquerda. Ele não pode ver que o mal é sempre parte interna e não uma função das expressões externas. Portanto, Buchanan foi engalfinhado pela retórica de Putin. Ele caiu nas novas mentiras que substituíram as velhas.

Quanto a nossa corrupção interna, alguém se lembra que os movimentos radicais gays e feministas eram liderados por comunistas aliados a Moscou? Mas não, é impossível que alguém tenha pretendido levar a cabo uma revolução sexual. É impossível que algum inimigo estivesse tentando enfraquecer nossa moral para fins estratégicos. Graças a Freud, passamos a acreditar no inconsciente a tal ponto que esquecemos completamente de acreditar nas intenções conscientes – especialmente as intenções russas ou comunistas. Embora muitos desertores tenham tentando nos avisar dos planos de longo prazo de Moscou – e desertores mais recentes continuam a fazê-lo – não estamos prontos para acreditar que temos tal tipo de inimigo; isto é, um inimigo com um plano de longo prazo recheado de intenções mortais. Um plano real de longo alcance significaria a continuidade política. Tal continuidade é inimaginável a pessoas que não leram a história. Novamente eu digo: Buchanan não percebe que há uma alma na máquina russa, e almas possuem intencionalidade. Assim, se estivéssemos prestando atenção aos sinais que as ações representam, veríamos que Lênin continua desenterrado. Veríamos que a Rússia e a China estavam se armando enquanto a América estava engajada numa “guerra contra o terror”. Veríamos que a Rússia ainda apoia regimes comunistas e insurgências na África e América Latina. Uma Rússia puramente nacionalista não teria razão para fazer qualquer uma dessas coisas. Apenas se o núcleo soviético tiver se mantido por baixo de uma “mudança de placas” podemos explicar os comportamentos observados. 

Buchanan esqueceu que a Força Estratégica de Mísseis Soviéticos continua em seu lugar, com a única diferença que agora tem uma placa escrita “Federação Russa” no lugar. A troca de um rótulo pelo outro foi superficial; os comunistas já fizeram esse truque antes com Lênin e sua Nova Política Econômica nos anos 1920. Agora a história se repete. Temos documentos do arquivo soviético (nas mãos de Vladimir Bukovsky) mostrando que o “colapso” do comunismo foi parte de um plano (exatamente como o Major da KGB, Anatoliy Golitsyn, havia avisado). Temos o testemunho de outros ex-oficiais da KGB como Victor Kalashnikov, Konstantin Preobrazhensky e Sergei Tretyakov, que também avisaram acerca da contínua subversão russa. Preobrazhensky não apenas avisou que a religião conservadora se tornou fio condutor da subversão russa, mas ele também insistiu que os “oligarcas” capitalistas russos eram testa de ferro da KGB que foram simplesmente elevados ao status de bilionários pela agência. Além disso, seja qual for a extensão da auto ocultação do falso colapso, sabemos que o núcleo comunista oculto continuou a reforçar seus objetivos. Isso é absolutamente certo, levando-se em conta o que podemos ver hoje. A política russa foi política soviética desde o primeiro dia. Subversão e revolução, preparações para a guerra e propaganda antiamericana continuaram mesmo quando Putin estava apertando a mão de George W. Bush e tentando ser prestativo após o 11 de setembro. Até mesmo George W. Bush não acredita mais na honestidade ou sinceridade de Putin, conforme ficou evidente no livro de memórias de Bush onde ele conta sua própria ingenuidade ao lidar com o ditador russo. Mas como alguém disse uma vez, “um imbecil nasce a cada minuto”. O imbecil de hoje é Patrick Buchanan. Apenas espero que ele acorde para a verdade a tempo de ajudar. 
Por: POR JEFFREY NYQUIST http://jrnyquist.com/
Tradução: Leonildo Trombela Junior


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