O conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito.
Uma amiga minha, a quem chamaremos senhorita Worth, teve uma conversa com uma vizinha – senhora Williams, digamos – que, no dia anterior, havia vendido um belo prédio antigo, há muito tempo pertencente à sua família, o qual seria demolido para que muitos automóveis usados fossem postos a venda no lugar. A senhora Williams tinha certos arrependimentos; mas, disse ela em caráter definitivo, “você não pode parar o progresso”. Ela ficou surpresa com a resposta da senhorita Worth, que foi esta: “Não, muitas vezes não; mas você pode tentar”.
A Senhorita Worth não acreditava que o Progresso, com P maiúsculo, é uma coisa boa em si mesma. O Progresso pode ser bom ou mau, dependendo da direção a qual se está progredindo. É perfeitamente possível, e não raramente ocorre, de se progredir em direção à beira de um precipício. O pensamento conservador, jovem ou antigo, acredita que todos nós devemos obedecer à lei universal da mudança; mas muitas vezes está em nosso poder escolher quais mudanças aceitaremos e quais mudanças rejeitaremos. O conservador é uma pessoa que se esforça para conservar o que há de melhor em nossas tradições e em nossas instituições, conciliando o que é melhor com a reforma necessária de tempos em tempos.
“Conservar” significa “salvar”... (Considere) a maldição do cupido:
“Aqueles que mudam o amor antigo pelo novo, oram aos deuses para mudá-lo para pior.”
Um conservador não é, por definição, um egoísta ou uma pessoa estúpida; em vez disso, ele é uma pessoa que acredita que há alguma coisa em nossa vida que vale a pena salvar.
Conservadorismo, na verdade, é uma palavra com um significado antigo e honrado – mas, um significado quase esquecido pelos americanos até anos recentes. Abraham Lincoln queria ser conhecido como um conservador. “O que é o conservadorismo?”, disse ele. “Não é a preferência pelo antigo e experimentado, acima do novo e do não testado?” É isso; e é também um corpo de convicções éticas e sociais. Porém, a palavra “liberalismo” tem sido preferida entre nós por duas ou três décadas. Mesmo hoje em dia, embora haja um bom número de conservadores nas políticas nacional e estadual, em nenhum grande partido muitos líderes políticos descrevem a si mesmos como “conservadores”. Paradoxalmente, o povo dos Estados Unidos se tornou a principal nação conservadora do mundo exatamente quando deixou de chamar a si mesmo de conservador em seu próprio país.
No entanto, com a nossa severa oposição ao radicalismo dos soviéticos e nosso repúdio nacional do coletivismo em todas as suas variedades, um bom número de americanos agora têm muitas dúvidas quanto ao desejo de serem chamados liberais ou radicais. Os liberais, por um bom tempo, foram derivando para a esquerda em direção a seus primos radicais; e o liberalismo, nos últimos anos, passou a significar um anexo para o Estado centralizado e para a impessoalidade sombria do Brave New World, de Huxley, ou de 1984, de Orwell. Homens e mulheres que não se consideram liberais ou radicais estão começando a perguntar a si mesmos no que acreditam e do que deveriam se chamar. O sistema de ideias opostas ao liberalismo e ao radicalismo é a filosofia política conservadora.
O que é o Conservadorismo?
O conservadorismo moderno tomou forma por volta do início da Revolução Francesa, quando homens de grande visão na Inglaterra e na América perceberam que, se a humanidade existe para conservação dos elementos da civilização que tornam a vida digna de ser vivida, algum corpo coerente de ideias deve resistir ao nivelamento e ao impulso destrutivo de revolucionários fanáticos. Na Inglaterra, o fundador do verdadeiro conservadorismo foi Edmund Burke, cujas Reflections on the Revolution in France mudaram o rumo da opinião pública britânica e influenciaram incalculáveis líderes da sociedade no Continente e na América. Nos recém-criados Estados Unidos, os fundadores da República, conservadores por formação e por experiência prática, estavam determinados a moldar a Constituição que deveria guiar a sua posteridade em caminhos duradouros de justiça e liberdade. Nossa Guerra de Independência Americana não foi uma revolução real, mas antes uma separação da Inglaterra; estadistas de Massachusetts e da Virgínia não desejavam virar a sociedade de cabeça para baixo. Em seus escritos, sobretudo nos trabalhos de John Adams, Alexander Hamilton e James Madison, nós encontramos um conservadorismo sóbrio e provado, fundado sobre uma compreensão da história e da natureza humana. A Constituição que os líderes daquela geração elaboraram tem provado ser o dispositivo conservador mais bem sucedido em toda a história.
Os líderes conservadores, desde Burke e Adams, subscreveram certas ideias que podemos demonstrar, resumidamente, mediante definição. Os conservadores desconfiam do que Burke chamou “abstrações” - isto é, absolutos dogmas políticos divorciados da experiência prática e das circunstâncias particulares. Eles acreditam, todavia, na existência de certas verdades permanentes que regem a conduta da sociedade humana. Talvez, os princípios mais importantes que têm caracterizado o pensamento conservador americano são estes:
1. Homens e nações são governados por leis morais; e essas leis têm a sua origem em uma sabedoria superior à humana – a justiça divina. No fundo, problemas políticos são problemas morais e religiosos. O estadista sábio procura apreender a lei moral e reger sua conduta adequadamente. Nós temos uma dívida moral para com nossos antepassados, que nos concederam nossa civilização, e um dever moral para as gerações que virão depois de nós. Esta dívida foi ordenada por Deus. Portanto, não temos o direito de, impudentemente, mexer com a natureza humana ou com tecido delicado de nossa ordem social civil.
2. Variedade e diversidade são as características de uma grande civilização. Uniformidade e igualdade absoluta são a morte de todo verdadeiro vigor e liberdade na existência. Conservadores resistem, com imparcial virilidade, à uniformidade de um tirano ou de uma oligarquia e à uniformidade a qual Tocqueville chamou “despotismo democrático”.
3. Justiça significa que todo homem e toda mulher têm direito ao que lhes é próprio – às coisas que melhor se adaptam à sua própria natureza, às recompensas de sua capacidade e integridade, à sua propriedade e à sua personalidade. A sociedade civilizada requer que todos os homens e mulheres tenham direitos iguais diante da lei, mas essa igualdade não deve se estender à igualdade de condição: isto é, a sociedade é uma grande associação, na qual todos têm direitos iguais – mas não para igualar coisas. A sociedade justa requer liderança sólida, recompensas diferentes para habilidades diferentes e um senso de respeito e dever.
4. Propriedade e liberdade são inseparavelmente conectadas; nivelamento econômico não é progresso econômico. Os conservadores valorizam a propriedade para seu próprio interesse, é claro; mas a valorizam muito mais porque, sem ela, todos os homens e mulheres estão a mercê de um governo onipotente.
5. O poder é repleto de perigos; portanto, o bom estado é aquele no qual o poder é controlado e equilibrado, restringido por constituições e costumes sólidos. Na medida do possível, o poder político deve ser mantido nas mãos de instituições privadas e locais. A centralização é normalmente um sinal de decadência social.
6. O passado é um grande depósito de sabedoria; como Burke disse, “o indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia.” Os conservadores acreditam que precisamos nos guiar pelas tradições morais, pela experiência social e por todo o complexo corpo de conhecimentos legados a nós por nossos antepassados. Os apelos conservadores estão para além da opinião precipitada do momento, pela qual Chesterton os denominava de “a democracia dos mortos” - isto é, as opiniões consideradas dos homens e mulheres sábios que morreram antes de nosso tempo, a experiência da espécie humana. O conservador, em suma, sabe que não nasceu ontem.
7. A sociedade moderna necessita urgentemente de uma verdadeira comunidade: e verdadeira comunidade é um mundo distante do coletivismo. A comunidade autêntica é regida por amor e caridade, não por força. Através de igrejas, associações voluntárias, governos locais e uma variedade de instituições, os conservadores se esforçam para manter a comunidade saudável. Os conservadores não são egoístas, mas zelosos do bem-estar público. Eles sabem que o coletivismo significa o fim da comunidade genuína, e substituem uniformidade por variedade e força por cooperação voluntária.
8. Nos assuntos das nações, o conservador americano acredita que seu país deve ser um exemplo para o mundo, mas que não deve tentar reconstruir o mundo à sua imagem. É uma lei da política, bem como da biologia, que todo ser vivente ama, acima de tudo – até mesmo acima de sua própria vida –, sua identidade distintiva, que o diferencia de todos os outros seres. O conservador não aspira à dominação do mundo, nem aprecia a perspectiva de um mundo reduzido a um padrão único de governo e de civilização.
9. Os conservadores sabem que homens e mulheres não são perfectíveis; e nem o são as instituições políticas. Nós não podemos criar um paraíso na Terra, embora possamos fazer um inferno. Somos todos criaturas nas quais bem e mal estão misturados; e, quando as boas instituições negligenciam e ignoram os antigos princípios morais, o mal tende a predominar em nós. Por isso, o conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito. Quando o progresso é alcançado, o é através do reconhecimento prudente das limitações da natureza humana.
10. Os conservadores estão convencidos de que mudança e reforma não são idênticas: inovação política e moral pode ser tanto destrutiva como benéfica; e se a inovação é empreendida com espírito de presunção e entusiasmo, provavelmente será desastrosa. Todas as instituições humanas, em certa medida, se alteram de época para época, pois o lento processo de mudança é o meio de conservar a sociedade, exatamente como é, para o corpo humano, o meio de sua renovação. Mas, os conservadores americanos se esforçam para conciliar o crescimento e as modificações essenciais para nossa vida com a força de nossas tradições sociais e morais. Com Lord Falkland, eles dizem: “quando não é necessário mudar, é necessário não mudar.” Eles entendem que homens e mulheres são mais satisfeitos quando podem sentir que vivem em um mundo estável de valores duradouros.
O conservadorismo, então, não é simplesmente o interesse das pessoas que têm muitas propriedades e influência; não é simplesmente a defesa de privilégios e de status. A maioria dos conservadores não são nem ricos nem poderosos. Porém, eles fazem até mesmo o mais simples deles obter grandes benefícios de nossa República estabelecida. Eles têm liberdade, segurança pessoal e de sua casa, igual proteção das leis, o direito aos frutos de sua indústria e oportunidade para fazer o melhor que neles há. Eles têm um direito de personalidade em vida e um direito de consolo na morte. Os princípios conservadores são o abrigo das esperanças de todos na sociedade. E o conservadorismo é um importante conceito social para todo aquele que deseja justiça igualitária e liberdade pessoal e todos os amáveis caminhos antigos da humanidade. O conservadorismo não é simplesmente uma defesa do “capitalismo”.
(“Capitalismo”, na verdade, é uma palavra cunhada por Karl Marx, projetada desde o início para significar que a única coisa defendida pelos conservadores é a grande acumulação de capital privado.) Mas, o que o verdadeiro conservador faz corajosamente é defender a propriedade privada e uma liberdade econômica, ambas para seu próprio bem e porque elas são meios para atingir grandes fins.
Esses grandes fins são mais do que econômicos e políticos. Eles envolvem dignidade humana, personalidade humana, felicidade humana. Eles envolvem até mesmo o relacionamento entre Deus e o homem. Pois o coletivismo radical de nossa época é ferozmente hostil a qualquer outra autoridade: o radicalismo moderno detesta a fé religiosa, a virtude privada, a individualidade tradicional e a vida de satisfações simples. Tudo o que vale a pena ser conservado está ameaçado em nossa geração. A mera oposição negativa e irracional à corrente de acontecimentos, agarrando-se com desespero ao que ainda mantemos, não será suficiente nesta época. Um conservadorismo de instinto deve ser reforçado por um conservadorismo de pensamento e imaginação.
Original adaptado de The Intelligent Woman’s Guide to Conservatism (New York: The Devin-Adair Company, 1957).
Do Russell Kirk Center.
Tradução: José Junio Souza da Costa
QUANDO TUDO O QUE SE ESCREVE TIVER SE DESFEITO EM FARRAPOS, QUANDO ATÉ MESMO OS MELHORES TIVEREM SE TORNADO APENAS VERBETES DE ENCICLOPÉDIA JAMAIS CONSULTADA, AS PALAVRAS DE UM PENSADOR AINDA ESTARÃO VIVAS PARA MOSTRAR, SOBRE RUÍNAS DOS TEMPOS, A PERENIDADE DO ESPÍRITO HUMANO.
sábado, 2 de junho de 2012
A TEMIDA GREVE DA ALIMENTAÇÃO PÚBLICA
Um exercício de imaginação: como seria se a alimentação, feito o transporte público, fosse gerida pelo governo? Má qualidade, filas e corrupção
Depois de uma semana de greves de metrôs e ônibus pelo país, políticos e especialistas voltaram a repetir as opiniões de sempre.
Dizem que é preciso haver mais planejamento do poder público, que o governo precisa investir mais no transporte coletivo, que a mobilidade urbana deve ser prioridade etc.
Recomendações assim são como oferecer uísque a alcoólatras: o remédio que se receita é precisamente a causa do problema.
O que impede a melhoria do transporte não é a falta de cuidado do governo, e sim o monopólio público sobre o transporte coletivo. Para chegar a essa constatação, basta imaginar uma notícia comum nos últimos dias tratando de outro serviço essencial: a alimentação.
“A semana foi de muito transtorno para quem precisa se alimentar fora de casa. Greves de garçons e cozinheiros paralisaram os serviços de mais de 30 mil restaurantes, padarias e lanchonetes que formam o sistema de alimentação pública municipal. Os trabalhadores pedem aumento real e reajuste dos abonos salariais. Não houve acordo entre o governo e o sindicato até o fim da noite de ontem.
Na capital, 6 milhões de pessoas utilizam diariamente o serviço de alimentação coletiva.
Todos os estabelecimentos que vendem comida pronta são operados sob concessão por apenas 16 consórcios e cooperativas. A prefeitura e o governo estadual supervisionam a distribuição dos prato feitos e comerciais, planejam o sistema e realizam os repasses para as concessionárias.
Sem ter a quem recorrer diante da paralisação dos serviços, usuários chegaram a depredar bares e restaurantes. Outros se arriscaram em lanchonetes clandestinas, aquelas que não foram escolhidas nas licitações do governo e por isso atuam à margem do sistema de abastecimento da cidade.
O que impede a melhoria do transporte não é a falta de cuidado do governo, e sim o monopólio público sobre o transporte coletivo
A prefeitura alerta que esses serviços, além de ilegais, trazem diversos riscos para os usuários.
O sistema oficial, porém, é mal avaliado pelos cidadãos. Pesquisa recente mostra que o número total de queixas à prefeitura contra as comedorias saltou de 119.755, em 2010, para 143.901, em 2011.
A demora no atendimento ficou em primeiro lugar entre as dez principais reclamações. Outras queixas comuns são o desrespeito dos garçons, a pouca variação do cardápio e a falta de limpeza nas instalações.
O prefeito prometeu ontem mais investimentos na área. ‘Até 2013, esperamos reduzir para 40 minutos o tempo de espera para o almoço’, disse. Ele negou que o aumento dos salários dos garçons e cozinheiros resulte em aumento da tarifa do prato feito, hoje em R$ 30.
O Ministério Público investiga supostos repasses ilegais da prefeitura a concessionárias, que fizeram expressivas doações de campanha na última eleição. Os promotores acreditam que esses repasses seriam o principal motivo para a comida custar tão caro mesmo sendo subsidiada pelo governo.
Analistas afirmam que seria melhor que o governo deixasse para a iniciativa privada toda a venda de comida pronta. A concorrência entre padarias, botecos e restaurantes, argumentam eles, levaria diversidade e qualidade ao setor, atrairia a classe média e ainda baixaria o custo do serviço popular, como acontece em centenas de outros ramos da economia.
Para os analistas, a livre iniciativa e a concorrência poderiam até fazer a cidade ser mundialmente conhecida por seus restaurantes.
O sindicato dos garçons, a prefeitura, a associação das concessionárias, o Ministério Público e o governo estadual reagiram veementemente a essa proposta, que qualificaram de ‘irresponsável e neoliberal’.
Para as entidades, a ausência do Estado na alimentação poderia resultar na falta de lanchonetes em áreas distantes, além do desabastecimento de comida na cidade. ‘Se algum dia entregarmos o setor de restaurantes a empresários comprometidos apenas com o lucro, criaremos um completo caos’, disse o prefeito.” Por:Por Leandro Narloch, Rodrigo Constantino e Anthony Ling
Fonte: Folha de S. Paulo, 31/05/2012
O MAIS CRUEL DOS DIAS...
O mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório confirma que a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono.
Neste sábado, os leitores de VEJA serão confrontados com informações que renovam o prazo de validade da lição de Tancredo Neves: a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono.
Provas documentais obtidas pela revista atestam que os arquitetos da CPI do Cachoeira, concebida para embaralhar o julgamento do mensalão, montaram uma lista de alvos prioritários que incluiu ministro Gilmar Mendes, o procurador-geral Roberto Gurgel e jornalistas independentes.
Ruins de mira, os artilheiros trapalhões acabaram acertando o próprio pé ou a testa de bandidos de estimação.
Depois da quebra do sigilo bancário e fiscal da Construtora Delta, o que deveria ser uma devassa restrita ao estado de Goiás escapou do controle dos parteiros.
A cachoeira de patifarias vai se mostrando suficientemente caudalosa para alcançar pecadores em qualquer ponto do país ─ e provocar estragos de bom tamanho no coração do poder.
No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, o Brasil soube que o empreiteiro Fernando Cavendish utilizou empresas fantasmas, “laranjas” e notas frias para justificar a saída de dinheiro destinado a figurões incumbidos de ampliar a coleção de contratos multimilionários com o PAC e com governos estaduais.
Cavendish valeu-se dessas vigarices para alugar, por exemplo, os serviços de “consultoria” do mensaleiro José Dirceu, escalado para aumentar a fatia reservada à Delta entre os fornecedores da Petrobras.
Dirceu, uma usina de ideias de jerico, foi um dos mais vibrantes defensores da instauração da CPI.
Não vai dormir por alguns dias. Talvez o console a certeza de que é só mais um na multidão de companheiros afetados pela epidemia de insônia.Por: Augusto Nunes
RITMO DE EXPANSÃO DO BRASIL PERDE ATÉ PARA NAÇÕES EM CRISE
Quando se toma o ritmo de expansão das economias no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, o Brasil figura apenas na 22ª posição entre os 33 países que já divulgaram os seus dados. E se distancia de seus pares do Brics (grupo das cinco maiores economias emergentes, Rússia, Índia, China e África do Sul), aproximando-se das economias mais afetadas pela turbulência europeia, como os Estados Unidos (2,1%) e Alemanha (1,7%). A China, que cresceu 8,1% de janeiro a março, aparece no topo do ranking, com a Índia em quarto (5,3%) e a Rússia em quinto (4,9%). Com expansão de 2,1%, a África do Sul é a 14 no ranking, oito postos à frente do Brasil.
No fim da lista, que tem a Grécia como lanterna (em 33 lugar, com retração de 6,2% no PIB trimestral), estão ainda Portugal (32 colocação e queda de 2,2%), a Itália (31 lugar e PIB negativo de 1,3%) e a Holanda (30 colocação, cujo PIB encolheu 1,1%).”O Brasil é um país com características semelhantes às dos grandes emergentes mas que cresce no ritmo dos europeus”, compara Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que compilou os dados para o ranking dos PIBs do primeiro trimestre. “Isso é reflexo dos problemas estruturais (Previdência, estrutura tributária, inexistência de planejamento de longo prazo) que persistem no país, cuja solução é adiada governo após governo”.
Mesmo com a economia quase estagnada no primeiro trimestre, o Brasil conseguiu se manter à frente do Reino Unido como a sexta maior economia do mundo. Mas a diferença conseguida no fim do ano passado, quando deslocou os britânicos para a sexta posição, agora é bem pequena: enquanto o PIB brasileiro acumulado nos quatro trimestres encerrados em março somava US$ 2,483 trilhões, o do Reino Unido era de US$ 2,417 trilhões. O cálculo é do banco WestLb e leva em conta o dólar médio do primeiro trimestre. Com a alta da moeda americana ante o real nos últimos dois meses, ressalva o banco, o país muito provavelmente voltaria para a sétima posição. “Não houve alteração no ranking comparando-se com o resultado fechado de 2011, apesar da diferença em relação ao Reino Unido ter diminuído. Mas o efeito do câmbio depreciado deve ser maior neste segundo trimestre”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLb.
Estados Unidos se mantêm como maior economia
No agregado dos quatro trimestres até março, os Estados Unidos se mantêm com folga no posto de maior economia do mundo, com PIB de US$ 15,4 trilhões, seguidos da China (US$ 7,56 trilhões), e do Japão (US$ 5,95 trilhões). Apesar do agravamento da crise na Europa, a Alemanha se mantém como a quarta economia, com geração de riquezas de US$ 3,5 trilhões. O PIB de US$ 2,76 trilhões garante a permanência da França em quinto.Por Ronaldo D’Ercole, no Globo
RATOS E COBRAS
Leio no caderno de Ciência do jornal O Globo sobre a grande conquista da neurociência: “Rato paralítico volta a andar”. Diz a matéria: “Uma técnica revolucionária que une estimulação neuronal e reabilitação com auxílio de uma espécie de vestimenta cibernética permitiu que ratos que perderam os movimentos das patas por causa de lesões graves na medula voltassem a anda e até correr em pouco tempo, uma esperança para pessoas com paralisia”.
Fantástico! Por outro lado, o mesmo jornal noticia que certo Ratinho, com aspecto humano, recebeu o ex-presidente Lula para “entrevista” em seu programa no SBT. Não há estímulo neuronal ou vestimenta cibernética que faça esse Ratinho andar! Sua vocação é rastejar mesmo, como fazem as cobras. Conforme divulgou Lauro Jardim em sua coluna do Radar on-line, a primeira entrevista de Lula após o tratamento do câncer não foi capaz de alterar o ibope do programa, de apenas 8 pontos.
Por falar em cobra, o ex-presidente Lula levou a tiracolo o candidato Fernando Haddad ao programa. Haddad, para quem não lembra, é aquele do “Kit Gay”, o ministro da Educação que conseguiu desmoralizar de vez com o Enem. É também autor de tese de mestrado sobre o sistema soviético, e de doutorado sobre Marx.
O programa de entrevista acabou se transfigurando em campanha política do candidato esquerdista, em pleno ano eleitoral. Haddad teve até a cara-de-pau de lançar plataformas de campanha à prefeitura de São Paulo durante o programa, para tentar sair dos míseros 3% de intenção de votos até o momento. Já Lula, que preferiu não comentar as acusações do ministro Gilmar Mendes, encontrou espaço para afirmar que não vai “permitir” novamente um tucano na presidência.
Todos sabem que o PT em geral e Lula em particular nunca demonstraram muito apreço pelas instituições republicanas, pela divisão de poderes e pelas leis eleitorais. Ainda assim, quando eu soube disso tudo, bateu-me um espírito de Galvão Bueno e automaticamente perguntei: Pode isso, Arnaldo?! Arnaldo não respondeu, mas sei o que qualquer juiz sério diria: cartão vermelho para eles! Por: Rodrigo Constantino
ECONOMIA BRASILEIRA VOLA AO PADRÃO DO VOO DA GALINHA
Com queda dos investimentos das empresas e do governo, o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre ficou abaixo das expectativas mais pessimistas -e os dados não prenunciam uma aceleração tão cedo.
Segundo divulgou o IBGE, a produção nacional, reunindo indústria, agricultura e serviços, praticamente não cresceu no período e se mantém perto da estagnação desde a metade do ano passado, a despeito da queda dos juros e da sucessão de pacotes oficiais de estímulo.
Tudo somado, o Produto Interno Bruto -ou seja, toda a renda gerada no país- medido de janeiro a março foi apenas 0,2% superior ao dos três meses anteriores. As previsões mais comuns no mercado e em Brasília variavam de 0,3% a 0,6%.
O resultado não só é incompatível com a meta do governo Dilma Rousseff de um crescimento de 4,5% neste ano, já sepultada, como põe em risco até o prêmio de consolação de uma taxa acima dos modestos 2,7% de 2011.
Não há um cenário de alarme, porque o desemprego se mantém baixo, preserva o consumo das famílias e atenua o desgaste político.
Mas a estagnação ameaça as promessas de um caminho mais curto rumo ao desenvolvimento: desde o início do mandato da presidente, foram cinco trimestres consecutivos de expansão abaixo de 1%, o que não acontecia desde o final dos anos 90.
PIOR FORA DA EUROPA
Entre as maiores economias que já divulgaram os resultados do trimestre, o desempenho brasileiro é o pior fora da Europa.
Detalhados, os números evidenciam o impacto da crise global sobre um dos calcanhares de aquiles da economia nacional: a escassez de investimentos para ampliar a capacidade produtiva.
Diante das incertezas do quadro internacional, as obras de infraestrutura e as compras de máquinas e equipamentos tiveram a maior queda desde o colapso do final de 2008, no momento mais agudo da crise.
Apenas 18,7% da renda nacional foram destinados aos investimentos, abaixo dos 19,5% há um ano. A política econômica tem como meta uma taxa de 25%, para que o crescimento do consumo interno possa ser atendido sem uma escalada da inflação ou das importações.
"VOO DE GALINHA"
Motor do crescimento na era Lula e alvo principal dos recentes pacotes de Dilma, o consumo das famílias se mantém em alta, mas não exibe mais o antigo fôlego.
Para Armando Castelar, da Fundação Getúlio Vargas, o modelo de estimular o consumo de bens duráveis está esgotado. "As famílias estão endividadas. A inadimplência está em alta, apesar da queda do desemprego."
Em consequência, o ritmo de expansão anual da economia é decrescente desde o salto de 7,5% comemorado em 2010. "Voltamos ao padrão do voo de galinha."
O consumo é insuficiente para uma retomada vigorosa do comércio e dos serviços, que respondem por quase 70% do PIB e são os setores mais resistentes a crises.
Para piorar, a agricultura teve resultado desastroso no trimestre em razão dos efeitos da seca no Sul em lavouras de soja. A indústria, setor mais afetado pela freada, teve crescimento, mas graças à comparação com o fraco desempenho no final de 2011. Sábado, Junho 02, 2012 Folha de S. Paulo
O PROBLEMA DA GRÉCIA É OUTRO! IGUAL AO DO BRASIL
O mundo está cansado de ler análises de acadêmicos, uns sugerindo que a Grécia saia do Euro, tipo Paul Krugman, e outros sugerindo que fique mas não acate as demandas da Alemanha, por exemplo.
Este lenga lenga da Grécia já dura quase dois anos, e já são pelo menos quatro anos que seus problemas são conhecidos.
Digamos que você é um Eike Batista, disposto a investir. Responda a uma destas questões.
1. Você investiria na Grécia sabendo que ela decidiu não sair do Euro, e já faz seis meses que está seguindo o prometido?
2. Você investiria na Grécia sabendo que ela já saiu do Euro, e já se passaram os piores seis meses e as coisas estão melhorando?
3. Você investiria na Grécia não sabendo se ela fica ou sai do Euro, e lendo todas estas análises pró e contra?
O problema da Grécia é que ela não toma decisões.
E quem não toma decisões permite que problemas acumulem, não só para si, mas para os outros, como agora a Espanha.
A inércia de um único país com menos que 2% do PIB da Europa, está começando a contaminar os 98% restantes. Por quê?
A Grécia também é gerida por amadores e acadêmicos perfeccionistas que preferem tomar decisões 100% certas, mesmo que demorem quatro anos, do que tomar decisões 80% certas, e rapidamente, correndo o risco de não analisar uma saída academicamente perfeita.
O Brasil vem acumulando problemas, minha gente, como a Grécia.
Como faz falta um Henrique Meirelles neste governo, que pelo jeito abandonou o seu sonho de ser político.
Dilma está agora consultando acadêmicos que acham que o Brasil é a fabrica de alfinetes da época de Adam Smith, onde uma intervenção aqui e ali de fato funcionava.
Acontece que a economia brasileira é muito mais complexa do que isto, e intervir sem entender direito as consequências não previstas é um crime administrativo.
Investidores internacionais estão fugindo em pânico do Brasil, razão desta queda de 69.000 para 53.000 pontos da Bolsa.
A prisão dos executivos da Chevron, a ajuda parcial à Ford e GM, o SuperCade, o BNDES, estão mostrando que seremos novamente um país comandado não por regras éticas, mas por caprichos acadêmicos de desenvolvimentistas que nunca trabalharam na vida, mas sabem tudo do assunto. Por: Stephen Kanitz
sexta-feira, 1 de junho de 2012
A GRANDE CHANCE DO PLANETA
Sendo mais velhos, estivemos envolvidos na vida pública por um longo período. Sabemos que mudanças levam tempo. Mas nosso otimismo está sendo testado pela falta de urgência na reta final para a Rio+20, este mês. O encontro é uma oportunidade histórica de traçar um futuro sustentável. Mas, neste momento, há uma real chance de esta oportunidade ser desperdiçada.
Os países estão divididos sobre meios e fins. A situação causa profunda preocupação. O sucesso, ou o fracasso, da Rio+20 terá profundas repercussões: definirá as aspirações de 3,5 milhões de jovens e dará forma ao mundo que deixaremos às futuras gerações.
Foi, é claro, na primeira Cúpula da Terra, há 20 anos, no Rio, que nossa geração de líderes admitiu que focar apenas no crescimento econômico não era mais possível. Num notável rompimento com o passado, reconheceu-se que, num mundo de recursos finitos, o desenvolvimento teria de ir junto com o progresso social e a proteção ao meio ambiente, respeitando o direito de cada país se desenvolver.
Nas últimas duas décadas, a ideia do desenvolvimento sustentável revolucionou o pensamento de milhões. O entendimento de nossa responsabilidade comum ajudou a levar 189 líderes mundiais a concordar, em 2000, com a Declaração do Milênio, que abriu caminho às Metas de Desenvolvimento do Milênio. Em muitos países, testemunhamos ação determinada para reduzir a poluição e investir em energia renovável.
Quanto mais aprendemos, mais entendemos a gravidade do desafio. E ainda não vimos a necessária coragem e vontade política para transformar boas intenções em ação coletiva efetiva. O resultado de nossa inação está por toda parte. Padrões insustentáveis de produção e consumo continuam a impor demanda excessiva sobre recursos naturais, como a água. A desigualdade entre os países, e dentro deles, aumenta. Crise financeira e preços elevados dos alimentos ampliam o desafio: uma em cada sete pessoas não tem o bastante para comer hoje.
A Rio+20 dá aos líderes internacionais a oportunidade de se reunirem para acelerar o progresso das duas últimas décadas. Em primeiro lugar, precisamos aprender com o sucesso das Metas de Desenvolvimento do Milênio. O esforço deve ser intensificado nos anos que restam até 2015. Em segundo, é necessário achar formas de manter o desenvolvimento sustentável no topo da agenda global. Acreditamos que a criação de um conselho, com posição proeminente na ONU, um mandato claro, capacidade e autoridade, poderia fazer a diferença. Em terceiro, a iniciativa energia Sustentável para Todos, do secretário-geral da ONU, requer apoio mais decisivo. A poluição continua sendo um dos maiores problemas mundiais de saúde pública. Precisamos de investimentos para reduzir o uso de combustíveis baseados no carbono e aumentar a eficiência energética.
Finalmente, o verdadeiro desenvolvimento sustentável se articula com progresso mais rápido em direção à igualdade de gêneros. Em todo o mundo, as mulheres ainda enfrentam barreiras que as impedem de exercer em plenitude seu papel em nossas economias, parlamentos e sociedades. Se desperdiçamos metade do talento e do potencial mundial, simplesmente não podemos ter sucesso.
É nossa responsabilidade - como empresas, membros da sociedade civil e indivíduos - ajudar o crescimento de nossas economias de uma forma que beneficie a todos e salvaguarde o planeta para as futuras gerações. Mas apenas os governos, juntos, podem criar condições para que os esforços sejam bem-sucedidos. Esta é a razão pela qual a Rio+20 é um momento para coragem e visão.
Por:FERNANDO HENRIQUE CARDOSO é ex-presidente do Brasil e GRO HARLEM BRUNDTLAND foi primeira-ministra da Noruega.
ATO FALHO
A coisa mais óbvia do mundo é que o golpe de 1964 no Brasil nunca teria acontecido se o presidente João Goulart não tivesse se acumpliciado a Fidel Castro nos seus planos de revolução continental.
Um precedente histórico sangrento pode ilustrar a deformidade mental que inspira os trabalhos da Começão de Dinheiro Público, a que um lance de humorismo macabro deu o nome de "Comissão da Verdade".
O mundo inteiro sabe do genocídio ruandês ocorrido em 1994, quando, segundo a versão consagrada, a maioria de raça hutu matou a tiros, facadas e machadadas 75% da minoria tutsi – mais de um milhão de pessoas.
No curso do morticínio, os tutsis também cometeram crimes, mas o Tribunal Penal Internacional decidiu não investigá-los, sob o pretexto edificante de que estavam previamente justificados como reações compreensíveis da minoria oprimida à violência da maioria agressora.
Resultado: os hutus e principalmente seus comandantes militares entraram para os anais da crueldade universal como autores únicos e exclusivos de um massacre despropositado, politicamente inútil e moralmente abjeto.
Bernard Lugan, o maior historiador de assuntos africanos que o Ocidente já conheceu, atualmente professor da Universidade de Lyon, trabalhou como consultor do Tribunal e publicou dois livros a respeito da tragédia ruandesa, subscrevendo a narrativa oficial.
Decorridos treze anos da sentença, Lugan teve acesso a uma documentação mais completa e, num exemplo raro de coragem e honradez intelectual, confessou que ele e o Tribunal estavam completamente errados:
1) Quem começou a briga foi o general tutsi Paul Kagame, que mandou explodir com dois mísseis soviéticos o avião em que viajava o presidente ruandês Juvenal Habyarimana e, por meio de um golpe de Estado, se fez presidente de Ruanda com o apoio de uma minoria eleitoral ínfima.
2) O massacre não foi iniciativa unilateral dos hutus, mas um conflito generalizado em que as duas facções combatentes agiram de maneira igualmente criminosa: no fim das contas, morreram 600 mil tutsis e 500 mil hutus. A denominação mesma de "genocídio" acaba se revelando inadequada para descrever os acontecimentos, mais propriamente definidos, portanto, como genuína guerra civil.
3) Na confusão que se seguiu ao assassinato do presidente Habyarimana, os militares hutus não cederam a nenhuma tentação de golpe de Estado, mas fizeram o possível para manter a ordem constitucional, acabando por perecer como vítimas de um legalismo abstrato que, naquelas condições, se revelou incapaz de controlar a fúria popular.
4) A minoria tutsi havia governado Ruanda pacificamente durante séculos, amparada num prestígio de casta que a maioria aceitava sem reclamar. Foi a ONU que introduziu à força o critério democrático do "governo da maioria", quebrando de repente a ordem tradicional e desencadeando a crise que culminaria na guerra civil. O resultado final do conflito foi a derrota da democracia impossível e o retorno ao velho sistema africano do governo de casta... com o apoio da própria ONU.
5) A pressão do movimento anticolonialista internacional, em que a URSS e os EUA se deram as mãos, numa estratégia conjunta para a destruição das potências coloniais europeias, forçou o exército francês a se retirar de Ruanda em dezembro de 1993, deixando o país à mercê de tropas nacionais obviamente incapazes de manter a ordem: quatro meses depois, começava a guerra civil, que jamais teria acontecido se os soldados franceses ainda estivessem ali presentes.
Ao recusar-se a investigar os crimes cometidos pelos tutsis, a ONU não fez senão camuflar, sob a infalível retórica humanitária , a sua própria parcela de responsabilidade – a maior de todas, sem dúvida -- na produção do morticínio.
Se puderem, leiam Rwanda: Contre-Enquête sur le Genocide, Toulouse, Éditions Privat, 2007, onde o grande historiador se revela também um grande homem.
Mutatis mutandis, a coisa mais óbvia do mundo é que o golpe de 1964 no Brasil nunca teria acontecido se o presidente João Goulart não tivesse se acumpliciado a Fidel Castro nos seus planos de revolução continental, chegando a acobertar as guerrilhas que já em 1963 estavam em plena atividade no Nordeste brasileiro, orientadas diretamente desde Cuba e sob a direção local do chefe das Ligas Camponesas, Francisco Julião.
Quando exclui do seu campo de investigações os crimes cometidos pela esquerda terrorista, a “Comissão da Verdade”, que não passa de uma vulgar equipe de propaganda a serviço da esquerda dominante, busca varrer para baixo do tapete fatos essenciais que, divulgados como merecem, desfariam em pó a lenda de que as guerrilhas nacionais foram uma reação "democrática" ao regime militar instalado no País em abril de 1964 – quase um ano depois de descoberta a guerrilha de Julião.
Ao inaugurar a porcaria, o ex-ministro José Carlos Dias, que tem uma longa folha de serviços prestados à esquerda revolucionária, incorreu num ato falho freudiano quando declarou: "Não seremos os donos da verdade, mas seus perseguidores obstinados." O verbo "perseguir" tem às vezes a acepção de "buscar", porém mais frequentemente significa, segundo o dicionário Caldas Aulete, "atormentar, castigar, punir, fazer violência". A Comissão, portanto, já começou a mostrar serviço. Perseguida e acossada, a verdade histórica não tem ali a menor chance de prevalecer.ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO Publicado no Diário do Comércio.
JURISTAS LEGALIZAM CHUVA
A Comissão de Juristas do Senado, que discute mudanças no Código Penal, aprovou ontem proposta para descriminalizar o porte de drogas para consumo próprio. Pelo texto, não haveria mais crime se um cidadão fosse flagrado usando entorpecentes. Atualmente, a conduta ainda é considerada crime, mas sujeita à aplicação de penas alternativas. É o que leio nos jornais.
Os doutos senhores, ao que tudo indica, acabam de declarar que a chuva é legal. Em todas as metrópoles do país, zumbis fumam crack a céu aberto, muitas vezes com a presença complacente da polícia, e uma Comissão de Juristas vem agora propor a descriminalização das drogas. O senhores juristas incorrem no mesmo ridículo das passeatas da maconha, que pretendem legalizar o que há muito é permissível. A lei que criminalizava o uso das drogas desde há muito virou letra morta e só agora os legisladores parecem ter percebido a mudança.
Nada de novo tenho a dizer sobre o assunto. Ano passado, a Veja nos trazia a surpreendente revelação de que drogas eram consumidas livremente no principal prédio da Universidade de Brasília, inclusive em salas de aula. O site publicava um vídeo com flagrantes de uma festa organizada por alunos da Biologia, onde cerca de 3.000 pessoas participavam do evento, que teve a apresentação de bandas de rock.
“Um breve passeio era suficiente para constatar a disseminação da droga no local. Jovens não se preocupavam em esconder a prática e preparavam cigarros de maconha na frente de todos. Grupos usavam salas de aula para dividir os entorpecentes. Tudo dentro do Instituto Central de Ciências (ICC), o prédio-símbolo da universidade.
“A Polícia Militar não foi vista no mal iluminado câmpus Darcy Ribeiro, localizado a quatro quilômetros do Congresso Nacional. Em greve, agentes de segurança da universidade também não incomodaram os usuários. Dois porteiros do prédio pareciam cochilar. Não havia qualquer controle que impedisse a presença de menores de idade no local”.
Desde há muito as drogas vêm sendo consumidas livremente nas universidades de todo o país. Os campi constituem verdadeiros templos onde os drogados buscam refúgio. Os alunos da USP, sem ir mais longe, preferem arriscar-se a assaltos e estupros a serem perturbados pela presença da polícia. A universidade, no Brasil, é o foco disseminador de duas pragas, as drogas e o marxismo. Isso sem falar em outros males gálicos, como o estruturalismo, lacanismo, desconstrutivismo. Estes, pelo menos não tão letais.
As drogas se popularizaram no Brasil através da universidade. Nos tempos em que vivi na Fronteira gaúcha, maconha ou cocaína eram coisas da capital. Bastou a universidade chegar lá e as ruas foram tomadas, à noite, por bandos de jovens drogados. Que o digam Dom Pedrito, Bagé, Livramento. Assim como a universidade, a droga chegou na Campanha para ficar.
No final dos anos 50, droga era coisa de marginais. Lembro de ter visto reportagem na revista Cruzeiro, em que um repórter deixava crescer a barba para infiltrar-se junto a presidiários. Na época, antes ainda da tomada do poder em Cuba por Castro e Guevara, barba era distintivo de bandido. Era preciso descer ao “tenebroso mundo do crime” para se conhecer os meandros do mundo da droga. A maconha era conhecida como a erva do diabo. Só tornou-se coisa de gente fina quando passou a ser consumida pelos universitários americanos. Com um nome que indicava sua procedência mexicana, marijuana. Com os Woodstocks e Beatles e roqueiros da vida, a cannabis ganhou status acadêmico. Não por acaso o fumacê brasiliense era animado por bandas de rock. Rock e drogas sempre andaram juntos.
Como pretendem as autoridades combater as drogas quando o país recebe de braços abertos Beatles, Rolling Stones et caterva, os grandes difusores internacionais das drogas? Obviamente, nenhum dos alunos que participaram da festa regada a drogas na UnB foi desligado da universidade. Como não foram desligados da PUC de São Paulo, nem da Estácio de Sá no Rio, nem da USP, nem da UFSC ou da UFRGS, nem da Urcamp ou da Funba.
Curta é a memória das gentes. Droga se tornou uma questão de equilíbrio social. Pelo jeito ninguém mais lembra quando, em 2003, Anthony Garotinho, então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, ficou seriamente preocupado com o caos social decorrente do fim do tráfico: "Imagine se nós conseguíssemos fechar todas as bocas-de-fumo por uma semana e não fosse vendido um papelote de cocaína ou um grama de maconha? O que aconteceria com 700 mil pessoas depois de três dias sem usar droga, em crise de abstinência?”
Toda política de repressão às drogas tem redundado em rotundo fracasso. Nos fins de semana em São Paulo – ou em qualquer capital do país – é mais fácil encontrar um baseado do que um melhoral. Que esperam as autoridades para legalizar o consumo de drogas?
Ora, direis, então se não se pode combater o roubo e o assassinato, legalize-se tanto o roubo como o assassinato. O argumento não procede. O assassinato tira uma vida, o roubo subtrai bens. A droga não tira nada de ninguém. É o que se chama de crime sem vítima. Não faltará quem argumente que vítima sempre há, no caso o usuário. Pode ser. Mas suicídio não está tipificado como crime em nosso Código Penal. Se suicídio não é crime, porque criminalizar a pressa com que uma pessoa se suicida?
A douta Comissão do Senado sugeriu, porém, uma ressalva para a hipótese do uso de drogas. A pessoa poderá responder a processo caso consuma "ostensivamente substância entorpecente em locais públicos, nas imediações de escola ou outros locais de concentração de crianças ou adolescentes ou na presença destes". Nessa hipótese, o usuário ficará sujeito a cumprir uma pena alternativa, se for condenado. A pena envolveria uma advertência sobre os efeitos do consumo de drogas, prestação de serviços à comunidade ou medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Alguém vai proibir raves ou shows de rock no país, que reúnem multidões de adolescentes? Duvido. Na última Virada Cultural organizada pela prefeitura paulistana, a droga correu nas ruas de São Paulo. Proibirá um dia a prefeitura a distribuição generalizada de drogas que ela própria patrocina?
Os doutos juristas decidiram que, pela proposta, o simples fato de ser realizada venda de uma substância entorpecente seria considerado tráfico de drogas.
— Se a pessoa é surpreendida vendendo, não importa a quantidade, é tráfico — disse o relator.
Pelo jeito, estão propugnando a distribuição gratuita de drogas. Como comprar se não há quem venda? A elite de nossos juristas está agindo como formigas enlouquecidas ante um temporal, que já nem sabem para onde vão.Por Janer Cristaldo
SOBRIEDADE
Só não há uma crise institucional no país porque a presidente Dilma está tratando a disputa entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Gilmar Mendes de maneira equilibrada, sem envolver o governo. Da mesma maneira, o presidente do Supremo, Ayres Britto, está cuidando de não dar ao fato a dimensão que ele realmente tem, na tentativa de esvaziar suas consequências.
O ministro Gilmar Mendes foi apenas o que denunciou a manobra de Lula para adiar o julgamento do mensalão, mas pelo menos outros dois ministros do Supremo estiveram com Lula nos últimos meses: o ministro revisor Ricardo Lewandowski e o ministro Dias Toffoli.
E Lula, no relato da conversa por Gilmar Mendes, revelou o que tratou com os dois. Considero a essência do relato do ministro verdadeira, pois só os ingênuos podem acreditar que Lula convidasse um ministro do Supremo para um encontro sem que o assunto principal fosse o julgamento do mensalão.
Outros, que fingem acreditar na versão edulcorada de que a reunião foi uma conversa de amigos sobre generalidades, são militantes petistas, empenhados no mesmo movimento de Lula: constranger o Supremo a adiar o julgamento do mensalão, ou pôr em dúvida o seu resultado.
Junto a Toffoli, Lula defendeu a tese de que ele deveria participar do julgamento, quando setores jurídicos consideram que deveria se declarar impedido, pois boa parte de sua carreira foi feita no PT.
De 1995 até 2000 foi assessor parlamentar da Liderança do PT na Câmara. Nas campanhas presidenciais de Lula em 1998, 2002 e 2006, foi o advogado do partido. Foi subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil de 2003 a 2005, durante a gestão de José Dirceu, acusado pela Procuradoria Geral da República de ser o chefe da quadrilha do mensalão. Em 2007 assumiu a Advocacia Geral da União a convite de Lula, de onde saiu para ser ministro do Supremo.
Além de todo esse currículo petista, a namorada de Toffoli foi advogada de mensaleiros.
Lula se referiu a Lewandowski, dizendo que ele somente entregaria seu voto de revisor, sem o qual o processo não pode entrar em julgamento, no segundo semestre, mas está sendo pressionado a entregá-lo este mês. Como esteve com Lewandowski recentemente, depreende-se que Lula soube dessa mudança de atitude do revisor do mensalão através do próprio, cuja família tem relação de amizade com a da ex-primeira-dama dona Marisa, em São Bernardo do Campo.
O estrago está feito pelo voluntarismo de Lula, que não sabe fazer outra coisa a não ser politizar todas as relações.
Um julgamento no Supremo tem, na visão de Lula, só um lado, o do prejuízo que pode causar aos seus projetos políticos.
Ele não está preocupado do ponto de vista institucional com as consequências do mensalão, e muito menos com a preservação do Supremo, mas teme que o PT seja atingido nas urnas em caso de condenação de seus membros mais importantes envolvidos no processo, como Dirceu, Genoino ou João Paulo Cunha.
Lula não apenas não ‘desencarnou’ do papel de presidente como está encarnando outro personagem, o do soberano que tudo pode
Assim como primeiro pediu desculpas ao país pelo que acontecera, em cadeia de TV, para depois afirmar que o mensalão sequer existiu, sendo tentativa de golpe contra seu governo, Lula agora desmente o que prometeu ao sair do Planato. Disse que “desencarnaria” do papel de presidente e não se meteria em política, em crítica à atuação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pois Lula não apenas não “desencarnou” do papel de presidente como está encarnando outro personagem, o do soberano que tudo pode.
Nunca esteve tão ativo politicamente, apesar de seu estado físico evidentemente precário. Como a confirmar que tudo para ele é política, ontem a única referência que fez aos últimos acontecimentos foi oblíqua, dizendo que tem “muita gente” que não gosta dele e que precisa “tomar cuidado” com essa “minoria”. Isso para explicar que falaria em pé para que não dissessem que estava doente. Como se fosse possível, e até desejável, unanimidade em torno de sua figura política, ou que os que são contra ele lhe desejam mal.
Tanto Dilma quanto Ayres Britto tiveram a sensatez de não alimentar a disputa pública em que se envolveram Lula e um ministro do Supremo. Ambos presidem Poderes que estão em confronto devido a uma atitude desastrada do expresidente Lula, que mais uma vez demonstra que não tem os cuidados que deveria com a separação e o equilíbrio de poderes, tentando usar sua força política para constranger ministros do STF.
Em vários momentos de seu governo, ele agiu assim, notadamente durante as campanhas eleitorais. A presidente Dilma, descrita normalmente como uma pessoa de pavio curto, está se revelando uma hábil política no exercício da Presidência da República.
Ao reverenciar as políticas sociais do presidente Lula, ela ressaltou o aspecto positivo da sua liderança política, deixando de lado as questões polêmicas em que anda se envolvendo.
A homenagem teve a justa medida de demonstrar sua solidariedade em um momento em que a liderança de Lula está fragilizada, por seus gestos temerários, e a lucidez de não envolver o governo no episódio.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, não tem razão para se indignar com a ilação de que a quebra de sigilo da empreiteira Delta pode justificar sua convocação para a CPI do Cachoeira.
Ele criou as condições para que essas ilações não sejam irresponsáveis, pois sua relação pessoal com Fernando Cavendish quando este era o presidente da Delta dá uma sensação de promiscuidade entre opúblico e o privado que seu próprio governo critica no recentíssimo código de ética.
O Código da Alta Administração determina que funcionários do alto escalão devem guardar“distância social conveniente no trato com fornecedores de materiais ou contratantes de prestação de serviços ao Estado, abstendo-se, tanto quanto possível, de frequentar os mesmos lugares e de aparentar intimidade”.Por: Merval Pereira
Fonte: O Globo, 31/05/2012
A ECONOMIA DAS FALÁCIAS
O governo brasileiro vem promovendo uma verdadeira marcha à ré em termos de intromissão nas liberdades individuais e econômica. A "coisa" chega a impressionar pela intensidade, pela atrocidade e — naturalmente — pela necedade (um eufemismo para burrice). Semanalmente, para não dizermos diariamente, somos surpreendidos por medidas governamentais que nos fazem pensar que voltamos à metade do século passado, àquele período em que ainda se acreditava que as teorias ditas "desenvolvimentistas" da Cepal poderiam produzir resultados bons. Haja paciência!
Neste artigo, vamos apenas mencionar algumas falácias que serviram de base para muitas dessas medidas, ressaltando a tristeza com que escrevemos isso, já que coisas assim deveriam fazer parte apenas de livros de história, para servirem como exemplo daquilo que não deve ser feito.
A primeira é a ideia de que A é pobre porque B é rico, A e B podendo ser pessoas, regiões, países, etnias, gêneros, etc. Tal bobagem, derivada da teoria da exploração de Marx, simplesmente desconhece (ou finge desconhecer) que a história é dinâmica. Conduz, por exemplo, à política externa do PT, que parece guiada por um pretenso teorema, segundo o qual o somatório das pobrezas seria igual à riqueza...
A segunda deriva da primeira. É a crença de que a tributação deve ser "progressiva", algo como um "corolário ou lema de Robin Hood"... Ora, todo e qualquer tributo nada mais é do que uma extorsão praticada por um agressor, no caso, o estado, contra cidadãos e empresas. Se você é rico, a agressão deverá ser maior do que se você for pobre, segundo os gênios que defendem essa teoria (e não são poucos). Se assim é, para que trabalhar ou empreender para ser rico, então? Mas essa pergunta não passa pela cabeça dos que acreditam nesse conto da floresta de Sherwood...
Estas duas primeiras falácias ilustram perfeitamente como é grande a ignorância a respeito das causas da riqueza, que são as recíprocas das causas da pobreza, bem como a absoluta falta de compreensão de que a economia não é um jogo de soma zero.
Uma terceira falácia é a ideia de que a legislação trabalhista e seus penduricalhos, como o salário mínimo, os encargos e os sindicatos protegem os trabalhadores, o que, em um governo que tem nos sindicalistas uma de suas bases de apoio, tem sido levado às últimas consequências. Na verdade, como escreveram Mises, Rothbard, Hayek e praticamente todos os austríacos, essa legislação apenas prejudica os trabalhadores, além de provocar desemprego.
A quarta é que políticas industriais seriam boas para o crescimento da economia. Ora, essas políticas nada mais representam do que escolhas, por parte dos que detêm o poder, de quais setores serão beneficiados e, consequentemente, de quais serão prejudicados. Além disso, partem do pressuposto teórico de que os burocratas são mais bem informados do que o processo de mercado, para ditarem quais setores são merecedores da ajuda do governo e quais devem ser punidos. Claramente, é um convite a lobistas, um desvio da função empresarial e um convite à corrupção.
A quinta é que o protecionismo é bom para enfrentar a concorrência estrangeira. Sem dúvida, esta é uma proposição que mostra que o mercantilismo está mais vivo do que nunca. Querem que você, consumidor, compre, digamos, um carro ou um computador produzido no Brasil, de qualidade duvidosa e preço exorbitante, quando poderia comprar um modelo importado, melhor e mais barato. Ou que voe em duas empresas que oferecem serviços precários e cobram caro, quando poderia voar em outras empresas estrangeiras, com serviços melhores e mais baratos. Sua opção restringe-se a: aceita uma balinha ou uma barra de cereais, senhor?
A sexta é que exportar é "bom" e importar é "ruim", tolice que equivale a afirmar que "vender é melhor do que comprar". Haja paciência para suportar tanta ignorância. Em artigo recente, Leandro Roque mostrou a situação ridícula criada pela Receita Federal, que resolveu intensificar a fiscalização nos aeroportos internacionais brasileiros, para evitar que tragamos produtos de "alta periculosidade para a segurança nacional", como computadores, camisas, vinhos e outros produtos de qualidade superior e que podem ser comprados a preços baixos no exterior. A falácia de que comprar é ruim e vender é bom é, pura e simplesmente, mais um exemplo de mercantilismo regado a teorias "macroeconômicas" de sabor keynesiano. Ou seja, duas bobagens em uma! Mamma mia, será que esses caras não conseguem perceber que países não compram e nem vendem nada? Que quem faz isso são pessoas físicas e empresas? E que, em transações livres, quem compra sai satisfeito, assim como quem vende? Ah, o déficit externo, dirão alguns... Caramba, que se dane o déficit (ou o superávit) externo das "contas nacionais", até porque, se a taxa de câmbio for flutuante, a tendência é que eles sejam eliminados!
Uma sétima falácia vem sendo usada para sustentar diversos pacotes do governo desde o segundo mandato de Lula: a de que as políticas de estímulos ao consumo seriam ótimas para o crescimento da economia e, de tabela, para esconjurar a maldita "crise internacional". Ora, assim como Esaú, que trocou os privilégios de sua primogenitura por um mero prato de lentilhas, essas políticas conseguem no máximo proporcionar um boom artificial, logo seguido por recessão ou por uma mistura de recessão com inflação, conforme a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE) não se cansa de ensinar.
Uma derivada dessa falácia é a crença de que o governo é que deve determinar qual deve ser a taxa de juros. E que, se a presidente do país obrigar os bancos oficiais a reduzirem os juros (leia-se, a trabalharem no vermelho), os bancos privados também reduzirão suas taxas de juros. Aquela senhora de Brasília parece desconhecer, primeiro, as verdadeiras causas das altas taxas de juros no Brasil (déficit público, inadimplência, elevada taxa de recolhimento compulsório e altos impostos); segundo, que as taxas reais de juros não obedecem a comandos ou ordens de alguma "sargentona", mas sim a forças de demanda e oferta de fundos; e terceiro, que se pode perfeitamente levar um cavalo até a beira de um rio, mas não se pode obrigá-lo a beber água... Por fim, mostra também absoluto desconhecimento da TACE — o que não é de se estranhar. Juros artificialmente baixos hoje significam necessariamente juros altos amanhã, cara senhora!
Finalmente, a falácia mãe, a de que o estado deve ser o "indutor" do crescimento. Com certeza, os mercados são "burros" e os burocratas iluminados, para quem acredita nisso! Além disso, o conhecimento dos burocratas das circunstâncias de tempo e lugar é infinitamente superior aos dos agentes individuais... Ah, quanta pretensão! Não precisamos mais do que um argumento para rebater prontamente essa falácia: quando alguém lhe disser isso, reaja perguntando a seu interlocutor se ele conhece algum exemplo de economia que conseguiu se desenvolver sob a tutela do estado. Fale da antiga URSS, de Cuba, do caos que está vivendo a Venezuela, da ilusão que foi a Suécia. Enfim, há dezenas de exemplos para refutar essa bobagem estatista.
Dói saber que a economia do Brasil vem progressivamente, sob a batuta do PT, submergindo nessas falácias e nas políticas que elas geram. Vamos precisar, depois, de décadas para consertar tantas asneiras...
Estamos em plena era da economia das falácias. Sinceramente, eu não aguento mais!
Por: Ubiratan Jorge Iorio é economista e professor de UERJ.
LULA: MAIS UM RETRATO
Estou republicando este artigo que saiu n'O Globo de 13 de julho de 2010.
Obsessão pelo poder :
Como é sabido, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980. Contudo, muito antes da sua fundação, foi precedido de um amplo processo de crítica das diversas correntes de esquerda realizada na universidade e no calor dos debates políticos. A ação partidária, os sindicatos e as estratégias políticas adotadas durante o populismo (1945-1964) foram duramente atacados. Sem que houvesse um contraponto eficaz, fez-se tábula rasa do passado. A história da esquerda brasileira estaria começando com a fundação do PT. O ocorrido antes de 1980 não teria passado de uma pré-história eivada de conciliações com a burguesia e marcada pelo descompromisso em relação ao destino histórico da classe trabalhadora.
O processo de desconstrução do passado permaneceu durante vinte anos, até o final do século XX. As pesquisas universitárias continuaram dando o sustentáculo "científico" de que o PT era um marco na história política brasileira, o primeiro partido de trabalhadores. O estilo stalinista de fazer história se estendeu para o movimento operário. Tudo teria começado no ABC. Mas não só: a história do sindicalismo "independente" teve um momento de partida, a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para a presidência do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1975 (na posse, estava presente o governador Paulo Egydio, fato único naquela época). Toda história anterior, desde os anarquistas, tinha sido somente uma preparação para o surgimento do maior líder operário da história do Brasil.
A repetição sistemática de que em São Bernardo foi gestada uma ruptura acabou ganhando foro de verdade científica, indiscutível. Lula tinha de negar e desqualificar a história para surgir como uma espécie de "esperado", o "ungido". Não podia por si só realizar esta tarefa. Para isso contou com o apoio entusiástico dos intelectuais, ironicamente, ele que sempre desdenhou do conhecimento, da leitura e da reflexão. E muitos desses intelectuais que construíram o mito acabaram rompendo com o PT depois de 2003, quando a criatura adquiriu vida própria e se revoltou contra os criadores.
Mas não bastou apagar o passado. Foi necessário eliminar as lideranças que surgiram, tanto no sindicato, como no PT. E Lula foi um mestre. Os que não se submeteram, aceitando um papel subalterno, acabaram não tendo mais espaço político. Este processo foi se desenvolvendo sem que os embates e as rupturas desgastassem a figura de líder inconteste do partido. Ao dissidente era reservado o opróbrio eterno.
A permanência na liderança, sem contestação, não se deu por um choque de ideias. Pelo contrário. Lula sempre desprezou o debate político. Sabia que neste terreno seria derrotado. Optou sempre pela despolitização. Como nada tinha escrito, a divergência não podia percorrer o caminho tradicional da luta política, o enfrentamento de textos e ideias, seguindo a clássica tradição dos partidos de esquerda desde o final do século XIX. Desta forma, ele transformou a discordância em uma questão pessoal. E, como a sua figura era intocável, tudo acabava sem ter começado.
A vontade pessoal, fortalecida pelo culto da personalidade, fomentado desde os anos 70 pelos intelectuais, se transformou em obsessão. O processo se agravou ainda mais após a vitória de 2002. Afinal, não só o Brasil, mas o mundo se curvou frente ao presidente operário. Seus defeitos foram ainda mais transformados em qualidades. Qualquer crítica virou um crime de lesa-majestade. O desejo de eliminar as vozes discordantes acabou como política de Estado. Quem não louvava o presidente era considerado um inimigo.
Os conservadores brasileiros - conservadores não no sentido político, mas como defensores da manutenção de privilégios antirrepublicanos - logo entenderam o funcionamento da personalidade do presidente. Começaram a louvar suas realizações, suas palavras, seus mínimos gestos. Enfim, o que o presidente falava ou agia passou a ser considerado algo genial. Não é preciso dizer que Lula transformou os antigos "picaretas" em aliados incondicionais. Afinal, eles reconheciam publicamente seus feitos, suas qualidades. E mereceram benesses como nunca tiveram em outros governos.
É só esta obsessão pelo poder e pelo mando sem qualquer questionamento que pode ser uma das chaves explicativas da escolha de Dilma Rousseff como sua candidata.
Marco Antonio Villa é historiador.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
O ESTUPRO DE MENDOCA
A coisa foi mais ou menos assim:
Mendoca, uma moça muito requisitada por seus poderes de vidente e pela força de sua opinião, recebeu um convite para visitar uma senhora aposentada muito rica que necessitava consultar-lhe sobre assuntos de mulher, amenidades como a educação dos filhos e também assuntos mais sérios, como a vantagem do tarô sobre as runas. O que Mendoca não sabia é que esta senhora, a famigerada Nelsona, tinha uma atividade oculta no submundo: alugava quartos para encontros secretos. Ao chegar na casa de Nelsona, Mendoca fora enfiada numa das alcovas sórdidas e lá dentro, a esperá-la, com a boca salivando antevendo o estupro, estava Calamar. Este famoso bandido, o Calamar, tinha hábitos contrastantes em sua personalidade. Esforçava-se por apresentar fachada respeitável, de ser visto como boa praça, simpático, e a maioria das pessoas compravam seu disfarce, mas tinha uma perversão que o dominava na calada da noite: era um estuprador compulsivo, amava o risco e gostava de testar seu poder de simulação que julgava ilimitado. Havia estuprado anteriormente todo um convento de freiras prostitutas em Brasília e seus companheiros coniventes foram pegos e estavam para ser presos. Entraram no convento numa Land Rover dirigida pelo temido facínora Zé Desceu. Os companheiros de Calamar não o deixavam esquecer que não pagariam sozinhos pelo estupro. Mendoca fazia parte de uma confraria de videntes que, em seu poder de antever as coisas, já sabia o destino dos meliantes companheiros e diante disso, Calamar que estava desesperado, teve mais uma de suas ideias geniais, aquelas que só os desesperados têm: resolveu esconder um estupro com outro. Saltou como um polvo sobre a doce Mendoca, estendendo seus tentáculos vermelhos em forma de estrela sobre a pobre criatura, ameaçou espalhar que ela viajara a Pomerode, cidade de origem germânica, com um apontador de jogo do bicho se não ficasse quieta e parasse de ver coisas. Mendoca, que não era boba, imediatamente, cerca de um mês depois, começou a gritar e fazer escândalo. Como todo estuprador, Calamar fez cara de paisagem, que não sabia de nada; “Até broxa eu sou.”, teria dito. Nelsona, claro, negou que houvesse estupro. Sua atuação de alcoviteira não poderia chegar aos ouvidos das outras videntes e revelar seus ofícios da penumbra, ainda mais que já chefiara a confraria. Tentou abafar os gritos de Mendoca usando inclusive um sino que surrupiara no início de sua longa carreira. Juventude faz cada coisa, mas o tempo é senhor da amnésia.
A verdade é que Mendoca tirou disso tudo uma lição que deverá ser entendida por toda a sua confraria:
MOÇA DIREITA NÃO DEVE DAR CONSULTORIA EM PUTEIRO.
Por: Jackson Busato
PARÁBOLAS ITALIANAS
Entre 12 e 20 de maio, Veneza hospedou a America's Cup -a competição dos catamarãs que são, hoje, a Fórmula 1 da navegação a vela. Houve regatas em mar aberto e outras na bacia de São Marcos.
Milhares de iates e barcos mais ou menos luxuosos se reuniram para assistir às regatas de perto, no meio do mar.
Mas quem fez mesmo a festa foi a polícia financeira italiana, que, ao longo da semana, parou e controlou mais de 1.400 embarcações, constatando irregularidades fiscais em 135. Um exemplo que repercutiu na imprensa local foi o de um barco de 14 metros (valendo R$ 350 mil), cujo dono, em sua última declaração de renda, dissera ganhar menos de R$ 15 mil por ano.
Como o atual governo considera que um dos grandes vícios italianos é a evasão fiscal, só resta celebrar a ação da polícia financeira.
No entanto, na semana de regatas, alguns venezianos mais humildes, donos de barcos pequenos (que aqui são o equivalente de um carro popular 1.0), arredondaram seu fim do mês alugando assentos a quem quisesse passar o dia no mar, no meio das competições.
A polícia financeira fez que não viu. Mas alguns desses venezianos, na hora do almoço, serviram a seus clientes um refrigerante e um sanduíche. Nesse caso, a polícia os parou e multou, por servirem bebidas e comida sem a necessária licença (como se tivessem aberto restaurantes flutuantes).
Outra parábola. O senhor Mário, meu vizinho, é incomodado pela presença crescente de trabalhadores clandestinos, sobretudo chineses, nos restaurantes e cafés de nossa rua. Ele suspeita que até alguns pequenos empreendedores sejam imigrantes ilegais.
Na hora em que saio para comprar o jornal, Mário está lá, na esquina, para comentar: "Você viu? No bar lá mais adiante, é uma família inteira...". Há, na sua inquietude, uma parte de xenofobia e há também uma preocupação com as consequências fiscais do trabalho clandestino: se ninguém paga as contribuições obrigatórias, de onde virá o dinheiro para as aposentadorias? Sem contar que os clandestinos aceitam salários de fome e estragam o mercado...
Mário gostaria de denunciar os clandestinos do bar perto de nossa casa. Pelas declarações do governo atual, ele seria assim um cidadão consciente, e não um dedo-duro. Note-se, aliás, que a Comissão da União Europeia critica o governo italiano por não estar fazendo tudo o que deveria para sair da crise e, especialmente, para acabar com a evasão fiscal e com a economia informal e clandestina.
Em contrapartida, eis outro fato de crônica local. Na semana passada, um vilarejo do Vêneto foi etapa do "Giro d'Italia". O bar ao lado da chegada da famosa competição do ciclismo mundial conheceria assim um de seus "grandes" dias; para esse dia, o casal que possui e administra o pequeno estabelecimento pediu ajuda a dois parentes próximos.
Pois bem, a polícia financeira multou o casal por ter usado trabalho informal e o obrigou a empregar formalmente os dois parentes por, no mínimo, um mês. O casal declarou falência e colocou o ponto à venda.
A primeira moral dessas histórias se aplica (em parte) ao Brasil: a Itália está perseguindo evasão fiscal e trabalho informal como se fossem os grandes responsáveis pela crise atual. A história é outra: que a gente ache isso edificante ou não, a evasão fiscal e o trabalho informal foram ingredientes cruciais da receita do crescimento italiano depois da Segunda Guerra, porque também foram as reações que a sociedade inventou contra um Estado gigantesco e, muitas vezes, parasita e corrupto.
Tratar a evasão fiscal e a informalidade como uma praga é ingênuo; tratá-los como a ÚNICA praga italiana significa proteger um Estado arcaico contra todas críticas e reformas possíveis.
O outro sentido dessas histórias é mais geral e diz que talvez regras e normas nunca mereçam ser absolutas. Mais um exemplo. No dia da final da America's Cup, domingo retrasado, não muito longe da bacia de São Marcos, enquanto os catamarãs competiam, dois corpos de pescadores profissionais boiavam na água.
Proibidos de pescar a menos de três milhas da costa e tendo perdido seu barco de pesca por causa de uma multa, sobrou aos dois, para tentar ganhar o pão para suas famílias, encarar o largo numa casca de noz.
Proibir a pesca perto da costa é certo e ecologicamente necessário. Mas, como disse antes, talvez as regras nunca mereçam ser absolutas. Por: Contardo Calligaris, Folha de SP
CANDIDATO A D. PEDRO III
Cinco dias de silêncio demonstraram que o candidato a D. Pedro III aprendeu a lição de D. João VI: ‘Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada’
Sem contar o período de tratamento contra o câncer na laringe, ressalva o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, Lula só emudeceu por mais de três dias em 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão, e em julho de 2007, depois do acidente com o avião da TAM na pista de Congonhas. Abalroado pela descoberta de que virou achacador de ministros do Supremo Tribunal Federal, o mais falante presidente da história perdeu deliberadamente a voz no último sábado, assim que começou a ser distribuída a edição de VEJA.
“Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada”, vivia recomendando D. João VI. O candidato a D. Pedro III resolveu ouvir o conselho do avô do imperador que rebatizou de “Dom Predo” num comício em que prometeu para 2010 a transposição das águas do Rio São Francisco ─ que continuam onde sempre estiveram. “O silêncio de Lula está impressionantemente, absurdamente ensurdecedor”, espanta-se Sérgio Vaz no artigo reproduzido na seção Feira Livre.
O cronista Paulo Sant’Ana, em sua coluna no jornal Zero Hora, ficou intrigado com a inovadora reação do palanque ambulante: em vez de berrar que está indignado, o ex-presidente valeu-se do bisonho comunicado divulgado pelo Instituto Lula para comunicar ao país que está indignado. “Diz a nota que ele está indignado”, escreveu Paulo Sant’Ana nesta quarta-feira. “Quem está indignado não escreve uma nota dizendo que está indignado. Quem está indignado fica indignado. E vem para a televisão dar murros na mesa e na tela e gritar que está indignado”.
A indignação silenciosa grita que Lula é culpado. Os milhares de minutos de silêncio registram a despedida do estrategista genial que nunca existiu. Nascido e criado na imaginação dos devotos, o mito do intuitivo infalível, tão consistente quanto o Brasil Maravilha do cartório, sucumbiu aos dois últimos disparos do canhão sem mira. Ambos deveriam levar os inimigos à capitulação e livrar do camburão a tropa de mensaleiros. Ambos vão provocando estragos e baixas no exército liderado pelo general trapalhão.
O primeiro tiro foi a instauração da CPI do Cachoeira. Além de desviar para o Congresso os holofotes concentrados no julgamento do mensalão, a CPI seria o instrumento perfeito para que Lula se vingasse do governador Marconi Perillo e do senador Demóstenes Torres. Nesta quarta-feira, Perillo entrou na lista de depoentes, mas ao lado do companheiro Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Logo chegará a vez do governador Sérgio Cabral, condenado ao mergulho no pântano pela aprovação da quebra do sigilo bancário da construtora Delta. O segundo tiro foi a intensificação do assédio aos ministros do Supremo. O disparo que deveria adiar o julgamento dos mensaleiros só serviu para apressá-lo.
Louco por um microfone, Lula emergiu da mudez nesta quarta-feira, num comício improvisado em Brasília. Recuperou a fala mas perdeu um pedaço da memória: não consegue lembrar-se do que houve neste fim de maio. Tratou de uma penca de assuntos, menos do que interessa. Não tocou no nome de Gilmar Mendes, passou ao largo do STF e esqueceu o mensalão. O surto de amnésia conveniente talvez seja interrompido nesta quinta-feira, durante a entrevista prometida ao apresentador Ratinho, do SBT.
Caso lhes reste algum juízo, os réus do mensalão vão torcer para que a audiência do programa fique perto do traço. Se muita gente ouvir a discurseira forjada para justificar o injustificável, os sinais de perigo poderão multiplicar-se. Dependendo do que Lula disser, a turma de José Dirceu será obrigada a sair do desespero para afundar no pânico.Por: Augusto Nunes
Do tribalismo à transparência
O registro é de Tony Judt, em “Passado imperfeito: um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa no pós-guerra” (1992): “Toda uma geração de intelectuais franceses foi tragada pelo vórtice do comunismo. Seu engajamento político trouxelhes um pesado custo moral. Não podemos ler sem constrangimento sua ambivalência moral e sua leniência diante do sofrimento humano e da violência comunista. Escreveram e disseram muitas coisas surpreendentemente tolas. Por que defenderam posições tão estúpidas? Como permaneceram tão preeminentes e respeitados? O que os cegou às coisas que estavam diante de seus próprios olhos? Interesso-me por sua notável falta de preocupação com a ética pública ou com a moralidade política. Este livro é um ensaio sobre a irresponsabilidade intelectual, um estudo sobre a condição moral da intelligentsia na França do pós-guerra.”
A formação de uma tribo ideológica e sua parcialidade inescrupulosa em avaliações relativas a questões de justiça, de moralidade, de terror e de violação dos direitos individuais sofre agora um julgamento da História. O mesmo olhar histórico haverá um dia de se derramar sobre nossas práticas políticas contemporâneas. A condescendência com malfeitos, quer no julgamento do mensalão, quer nas investigações da CPI do Cachoeira, poderá ser futuramente condenada como cumplicidade.
A transparência nos assuntos públicos é uma exigência da Grande Sociedade Aberta em construção
A reunião de homens em grupos é biologicamente compreensível. Nossos congressistas seguem práticas milenares. “O tribalismo é um atributo fundamental da condição humana. Nesse sentido, todos os grupos modernos descendem de bandos de hominídeos primitivos. Defendem-se visceralmente de grupos rivais. Lutam por supremacia”, explica o notável biólogo naturalista Edward O. Wilson, em “A conquista social da Terra” (2012).
Ambas as tribos, os intelectuais franceses no pós-guerra e nossos atuais congressistas brasileiros, admitiremos, trabalhavam com as melhores intenções. Lá em nome da solidariedade, aqui da governabilidade, mas sempre em busca de uma sociedade melhor. O problema é que não bastam as boas intenções quanto aos fins. Os meios são também importantes, como bem demonstrado por experimentos totalitaristas à “esquerda” e à “direita”. Lei de Acesso à Informação, Comissão da Verdade, CPI do Cachoeira e julgamento do mensalão: a transparência nos assuntos públicos é uma exigência da Grande Sociedade Aberta em construção.Por: Autor: Paulo Guedes
Fonte: O Globo, 18/05/2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
A DOENÇA HOLANDESA E A PUNIÇÃO DO SUCESSO
Tem-se afirmado que o Brasil pegou a doença holandesa, ou seja, o efeito de descobertas ou aumento de preços de recursos naturais, que valorizam a taxa de câmbio e por isso acarretam desindustrialização. A ideia foi criada pela revista The Economist em 1977, inspirada no surgimento das reservas de gás da Holanda. Pesquisas acadêmicas comprovaram que ocorre a valorização cambial, mas não ficou claro se tal doença causa desindustrialização ou redução do crescimento econômico.
Na Holanda, o boom da exportação de gás valorizou a taxa de câmbio. Ao mesmo tempo, a indústria têxtil e de vestuário praticamente desapareceu e a produção de veículos e navios diminuiu. Foi daí que veio a doença holandesa. Mas, segundo José Alexandre Scheinkamn, “o desempenho da indústria holandesa nas décadas de 70 e 80 não foi muito diferente daquele da Alemanha ou da França, parceiros comerciais que compartilhavam muitas das outras características da Holanda, mas que não beneficiaram de descobertas de recursos naturais”.
No Brasil, diz-se que a valorização cambial decorrente da expansão das exportações de commodities evidenciaria a tese da doença holandesa e da desindustrialização. Nada disso tem comprovação. Em sua tese de doutoramento em economia pela USP (2009), Cristiano Ricardo Siqueira de Souza mostrou que a indústria cresceu 38,8% entre 1999 e 2008, apesar da valorização cambial. Na maior parte do período, o emprego industrial cresceu mais do que o de serviços. “A observação de diversas variáveis ligadas ao crescimento de produção, emprego, produtividade e salário não mostrou evidências claras de possíveis sintomas da doença holandesa no Brasil.”
Os ganhos no comércio exterior foram, de fato, uma das principais fontes de valorização cambial. Tais ganhos vieram da maior demanda da China e de outros mercados emergentes por commodities e da grande competitividade do Brasil, derivada dos avanços em tecnologia tropical e de extração e transporte de minérios, da estabilidade macroeconômica e da melhoria de gestão.
Hoje, produzir e exportar carne, frango, soja, celulose e outras commodities é atividade complexa, com elevado poder de irradiação para o restante da economia. Movimenta-se extensa cadeia de bens e serviços: máquinas e equipamentos, crédito, melhoramento genético, fertilizantes, rações, medicamentos, armazenagem, ferrovias, portos, rodovias e assim por diante.
Estudo recente do FMI indicou que booms de exportação que valorizam a taxa de câmbio não são necessariamente negativos. A valorização é uma consequência não intencional dos ganhos de comércio e da abundância de recursos externos, mas não se pode duvidar de seus resultados positivos. “O melhor seria aproveitar as vantagens do boom e simultaneamente lidar com suas indesejáveis consequências." Não há evidências, diz o FMI, de que a doença holandesa prejudique o crescimento. O estudo, que faz uma ampla resenha da literatura sobre o assunto, pode ser acessado na internet (http://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2010/wp10271.pdf).
O aumento das exportações de commodities reflete o sucesso do agronegócio e da mineração. A decorrente valorização cambial agrava a perda de competitividade da indústria, mas não é a causa principal dessa perda. Outros fatores relevantes são o péssimo sistema tributário, a deteriorada infraestrutura, o aumento dos custos trabalhistas da mão de obra e sua baixa qualificação, e os juros altos. Tudo isso neutraliza ou reduz os ganhos de competitividade derivados de avanços tecnológicas e de gestão nas empresas.
Seria necessário, assim, adotar medidas para aumentar a produtividade da economia, particularmente na indústria. A lista de reformas com tal objetivo é conhecida. O desequilíbrio provocado pelo êxito do agronegócio e da mineração seria revertido por ganhos de competitividade dos outros segmentos. O país galgaria um patamar mais alto de crescimento. A proposta dos que afirmam que pegamos a doença holandesa é tributar as exportações de commodities. O efeito da valorização cambial seria compensado pela punição do sucesso. O equilíbrio seria restabelecido pela redução do patamar. Pode? Por: MAÍLSON DA NÓBREGA Revista Veja
RECICLAGEM, CONSERVAÇÃO, SUSTENTABILIDADE E REALIDADE
A reciclagem adquiriu um status moral quase que inquestionável, em grande parte porque crianças e adolescentes, doutrinados pela propaganda ambientalista continuamente regurgitada pelas escolas e universidades, chegam às suas casas munidos de informações falaciosas e as utilizam para intimidar seus pais. Não seria exagero algum dizer que mais de 70% da juventude quer que seus pais reciclem.
Porém, aqui vai meu humilde conselho aos pais: não se envergonhem e não se deixem intimidar! Joguem fora todo e qualquer lixo. Não há nenhuma virtude em reciclar algo que o mercado não está disposto a lhe pagar. Se reciclagem fosse realmente uma necessidade premente, tal ato teria um enorme preço de mercado, e as pessoas seriam pagas para incorrer em tal atividade. O que nossas crianças e adolescentes estão aprendendo nada mais é do que ideologia esquerdista, sem nenhum respaldo em fatos ou na ciência.
Um dos argumentos utilizados em prol da reciclagem é que o mundo está ficando sem aterros sanitários, pois o espaço para eles estaria acabando. Os meios de comunicação se esmeram em propagandear, principalmente em canais voltados para o público infantil, imagens sombrias de cidades soterradas sob seu próprio lixo. É exatamente isto o que se passa por educação ambientalista no mundo atual.
Porém, a realidade é que não há e nem nunca houve qualquer escassez de espaço para a construção de aterros. Se houvesse de fato tal escassez, o preço de mercado para tal espaço seria tão astronômico, que as pessoas estariam demolindo suas próprias casas para construir aterros em seus lugares. Ato contínuo, elas iriam embolsar o lucro e comprariam mansões. No entanto, a verdade é que se todo o lixo sólido a ser produzido nos próximos mil anos fosse concentrado em um único lugar, ele ocuparia apenas 114 quilômetros quadrados — o equivalente a 0,001% de toda a área dos EUA.
E o que dizer sobre a tão propalada alegação de que a reciclagem, principalmente a de papel, irá "salvar a vida" de várias árvores? Toda criança tem este mantra na ponta da língua. O papel, afinal, é feito da madeira das árvores. Por que não produzir papel novo utilizando papel antigo e, assim, evitar que mais árvores sejam derrubadas? Simplesmente porque não é assim que funciona a lógica econômica. A oferta sempre será comandada pela demanda. Se amanhã repentinamente pararmos de utilizar trigo para fazer pão, haveria menos trigo no mundo daqui a um ano. A oferta de trigo cairia drasticamente. Não mais haveria incentivos de mercado para se cultivar trigos, seus preços despencariam e o cultivo de trigo seria uma atividade totalmente deficitária. Da mesma forma, se todo o mundo parasse de comer frango, a população de frango diminuiria, e não aumentaria, como supõem quase todos os ambientalistas.
A mesma lógica se aplica à relação entre papel e árvores. Se pararmos de utilizar papel, menos árvores seriam plantadas. Não haveria incentivos de mercado para a conservação de florestas. Na indústria papeleira, 87% das árvores utilizadas são plantadas para a produção de papel. Isto significa que, de cada 13 árvores que seriam "salvas" pela reciclagem, 87 jamais seriam plantadas. É exatamente por causa da demanda por papel que o número de árvores plantadas no mundo aumentou nos últimos 60 anos. Eis, portanto, uma lição incômoda para os ambientalistas: se o seu objetivo é maximizar o número de árvores, não recicle papel. Outra lição: se você quer aumentar o número de árvores, defenda o capitalismo e a propriedade privada. Quando se é dono da sua própria terra, há vários incentivos econômicos para se cuidar muito bem desta sua terra. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, o proprietário de uma floresta, por exemplo, irá permitir que uma madeireira ceife apenas um número limitado de árvores, pois ele não apenas terá de replantar todas as que foram ceifadas, como também terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.
Outras declarações feitas por defensores da reciclagem são igualmente problemáticas. Reciclar não poupa recursos. Pelo contrário, desperdiça recursos valiosos. Em geral, reciclar é mais caro do que construir aterros, com a única exceção para esta regra sendo o alumínio. As crianças também são doutrinadas a acreditar que reciclar irá reduzir a poluição. Mas a elas não é dito que o processo de reciclagem é, em si, extremamente poluente. A reciclagem de jornais, por exemplo, requer que a tinta velha utilizada nos jornais seja retirada das páginas. Este é um processo quimicamente intensivo que gera enormes quantidades de lixo tóxico. Muito mais "ambientalmente saudável" seria simplesmente jogar os jornais fora.
Adicionalmente, um programa de coleta de recicláveis exige o uso de caminhões diferentes dos caminhões utilizados para a coleta de lixo comum. Isto, por sua vez, significa mais caminhões circulando diariamente (ou semanalmente) nas cidades. E isto, por sua vez, significa mais poluição do ar. Em Nova York, por exemplo, após instituir a reciclagem compulsória, a prefeitura teve de acrescentar duas coletas adicionais por semana. Já em Los Angeles, a prefeitura teve de duplicar sua frota de caminhões de lixo.
Mas o fato é que os recicladores têm uma agenda muito mais ambiciosa do que aquela com que doutrinam as crianças e os adolescentes. No livro Waste Management: Towards a Sustainable Society, seus autores, O.P. Kharband and E.A. Stallworthy, chegam a reclamar que as construtoras descartam pregos envergados e que os hospitais utilizam seringas descartáveis. "O chamado 'padrão de vida'", concluem os autores, "terá de ser reduzido".
Eis aí o real objetivo da elite defensora de programas compulsórios de reciclagem. E, tragicamente, esta redução no padrão de vida já foi alcançada em várias cidades que construíram monstruosas e caras fábricas de reciclagem, o que levou a desperdícios inacreditáveis, impostos mais altos, e prefeituras financeiramente estropiadas.
A realidade econômica do debate ambientalista
Debates sobre questões ambientais nada mais são do que debates sobre como estamos precificando o futuro. Em economês, diz-se que estamos atribuindo ao futuro um valor presente muito descontado. Questões sobre "o mundo que estamos deixando para nossos filhos" e reclamações sobre a suposta miopia das gerações atuais são, em última instância, alegações de que estamos precificando o futuro de maneira incorreta e inapropriada — ou, mais especificamente, que estamos descontando acentuadamente o valor presente do futuro.
Em seu livro The Armchair Economist, Steven Landsburg apresentou um excelente ponto sobre a alegação de que temos de conservar a terra para as gerações futuras. Ele pergunta como podemos saber com total certeza se nossos filhos e netos irão preferir uma floresta a toda a renda e riqueza que seriam geradas por, digamos, um estacionamento ou um shopping. E a resposta é que nós simplesmente não sabemos, pois, novamente recorrendo ao economês, é impossível fazer comparações interpessoais de utilidade. Mas podemos utilizar o princípio da preferência temporal para nortear nossas decisões.
Alguns dizem que não podemos precificar o futuro de maneira tão baixa — ou que, se o fizermos, deveríamos descontar seu valor presente de uma maneira extremamente ínfima. Tais pessoas argumentam que, ao fazermos nossos cálculos ambientais de hoje, as gerações futuras deveriam ser incluídas nele e consideradas como tendo o mesmo peso da geração atual. Certo, mas qual a consequência real e lógica de tal postura? Ora, se realmente fizermos isso para todos os assuntos envolvendo o ambiente, então qualquer questão sobre a proteção do planeta irá se tornar irrelevante por causa de um fato incômodo e perturbador já apontado pelo economista Walter Block: em algum momento futuro, o sol irá desaparecer, e o planeta com o qual estamos tão preocupados hoje irá simplesmente desaparecer. E isso é um fato para o qual não há alternativas.
Logo, se estamos tão preocupados com a preservação das espécies, e se já sambemos de antemão que, um dia, o planeta Terra irá inevitavelmente desaparecer, então temos de buscar um conjunto de ideias radicalmente distintas e uma abordagem radicalmente diferente da atual maneira de se pensar o ambiente. Temos de levar em conta que haverá um momento em que o principal problema ambiental a ser enfrentado pela humanidade não será como reduzir a poluição da terra, do ar e do mar, mas sim como sair deste planeta ou como alterar sua posição no sistema solar, duas tarefas que estão muito além das fronteiras da nossa atual capacidade tecnológica, mas que podem ser alcançadas, pelo menos em princípio.
Uma solução para este inevitável problema seria o acúmulo de recursos e capital, algo que requer um nível muito maior de criatividade e engenho humano, e uma divisão do trabalho muito mais acentuada que a atual, de modo que as pessoas possam se concentrar nos problemas e desafios gerados por uma viagem interplanetária. Isto significa que seriam necessárias mais pessoas habitando o planeta, e elas teriam de ser muito mais ricas do que são hoje, e teriam de enriquecer de maneira bem mais acelerada, pois isso liberaria o recursos necessários para solucionar todos estes problemas.
Embora isto — aumento populacional e enriquecimento acelerado — seja algo que vá exatamente contra as ideias ambientalistas convencionais, trata-se exatamente da consequência lógica de se dizer que as gerações futuras devem ser consideradas como tendo o mesmo valor da nossa geração atual. A tese de que não devemos dar ao futuro — e às gerações futuras — um valor presente descontado implica que todos os outros problemas atuais devem ser relegados a segundo plano, dando-se prioridade ao urgente problema de como impedir a inevitável extinção humana que irá ocorrer quando o sol morrer.
Conclusão
À primeira vista, o objetivo de se reciclar mais e de se conservar mais pode parecer muito apropriado, até mesmo desejável. No entanto, os defensores de tais práticas não possuem as informações econômicas necessárias para se tomar as decisões corretas nestas questões, pois não há direitos de propriedade claramente definidos sobre os recursos naturais escassos. Não há propriedade privada sobre aterros sanitários e não há livre mercado para a reciclagem de lixo. Adicionalmente, como mostra o exemplo de Block, se realmente nos importamos com as gerações futuras, se dermos a ela exatamente a mesma importância que damos a nós mesmos e, consequentemente, se estamos dispostos a nos sacrificar por ela — pois, afinal, damos a ela o mesmo valor que damos a nós mesmos —, então o inevitável fato de que o sol irá morrer um dia significa que, em vez de estarmos hoje preocupados com a reciclagem de lixo, deveríamos, isto sim, estar preocupados em construir colônias planetárias, exatamente como no seriado Battlestar Galáctica. Quem for contra isso, ou achar que se trata de um exagero, então tal pessoa realmente não está preocupada com as gerações futuras que presumivelmente irão habitar a terra daqui a vários bilhões de anos.
Recicladores e ambientalistas não são cidadãos melhores ou mais bem intencionados. São apenas mal informados. Quer salvar árvores e diminuir a poluição? Enfie seus papeis em uma grande sacola plástica e jogue-a fora.
Colaborou para este artigo Art Carden.
Por: Roy Cordato, vice-presidente para pesquisas e acadêmico residente da John Locke Foundation. É também pesquisador adjunto do Mises Institute.
Tradução de Leandro Roque
Assinar:
Postagens (Atom)