quinta-feira, 31 de maio de 2012

O ESTUPRO DE MENDOCA

A coisa foi mais ou menos assim: Mendoca, uma moça muito requisitada por seus poderes de vidente e pela força de sua opinião, recebeu um convite para visitar uma senhora aposentada muito rica que necessitava consultar-lhe sobre assuntos de mulher, amenidades como a educação dos filhos e também assuntos mais sérios, como a vantagem do tarô sobre as runas. O que Mendoca não sabia é que esta senhora, a famigerada Nelsona, tinha uma atividade oculta no submundo: alugava quartos para encontros secretos. Ao chegar na casa de Nelsona, Mendoca fora enfiada numa das alcovas sórdidas e lá dentro, a esperá-la, com a boca salivando antevendo o estupro, estava Calamar. Este famoso bandido, o Calamar, tinha hábitos contrastantes em sua personalidade. Esforçava-se por apresentar fachada respeitável, de ser visto como boa praça, simpático, e a maioria das pessoas compravam seu disfarce, mas tinha uma perversão que o dominava na calada da noite: era um estuprador compulsivo, amava o risco e gostava de testar seu poder de simulação que julgava ilimitado. Havia estuprado anteriormente todo um convento de freiras prostitutas em Brasília e seus companheiros coniventes foram pegos e estavam para ser presos. Entraram no convento numa Land Rover dirigida pelo temido facínora Zé Desceu. Os companheiros de Calamar não o deixavam esquecer que não pagariam sozinhos pelo estupro. Mendoca fazia parte de uma confraria de videntes que, em seu poder de antever as coisas, já sabia o destino dos meliantes companheiros e diante disso, Calamar que estava desesperado, teve mais uma de suas ideias geniais, aquelas que só os desesperados têm: resolveu esconder um estupro com outro. Saltou como um polvo sobre a doce Mendoca, estendendo seus tentáculos vermelhos em forma de estrela sobre a pobre criatura, ameaçou espalhar que ela viajara a Pomerode, cidade de origem germânica, com um apontador de jogo do bicho se não ficasse quieta e parasse de ver coisas. Mendoca, que não era boba, imediatamente, cerca de um mês depois, começou a gritar e fazer escândalo. Como todo estuprador, Calamar fez cara de paisagem, que não sabia de nada; “Até broxa eu sou.”, teria dito. Nelsona, claro, negou que houvesse estupro. Sua atuação de alcoviteira não poderia chegar aos ouvidos das outras videntes e revelar seus ofícios da penumbra, ainda mais que já chefiara a confraria. Tentou abafar os gritos de Mendoca usando inclusive um sino que surrupiara no início de sua longa carreira. Juventude faz cada coisa, mas o tempo é senhor da amnésia. A verdade é que Mendoca tirou disso tudo uma lição que deverá ser entendida por toda a sua confraria: MOÇA DIREITA NÃO DEVE DAR CONSULTORIA EM PUTEIRO. Por: Jackson Busato