quinta-feira, 5 de julho de 2012

"PARTÍCULA DE DEUS"


‘Nunca pensei que viveria para ver essa descoberta’

Aos 83 anos, autor da teoria que foi em grande parte confirmada espera que modelo tenha conexão com a cosmologia

04 de julho de 2012 | 22h 30
  • NotíciaJamil Chade; correspondente em Genebra
 “Nunca pensei que viveria para ver essa descoberta.” A frase emocionada é de Peter Ware Higgs, autor da teoria que foi em grande parte confirmada por uma máquina que custou US$ 8 bilhões e quase 50 anos de estudos. Com 83 anos, dificuldade para ouvir, com uma voz fraca e problemas para andar, o cientista da Universidade de Edimburgo não escondia sua emoção na sede do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern).

O físico teórico Peter Higgs, autor da teoria - Efe
Efe
O físico teórico Peter Higgs, autor da teoria
A descoberta deverá abrir caminho para que ele, ao lado de seus colegas, receba o prêmio Nobel da Física. “É tudo muito incrível. Não creio que tenha vivido algo assim”, disse ao Estado, cercado por seguranças, como uma verdadeira estrela.
Higgs não teve uma infância fácil. A 2.ª Guerra obrigou sua família a deixar sua região, na Escócia. O jovem Peter foi obrigado a ter aulas em casa, mas logo se interessaria pela matemática.
A presença de Higgs no Cern teve uma pitada de ironia. Ele contou ter enviado um paper para a revista de física do Cern, que na época era a principal publicação científica, com a descoberta – e o material foi rejeitado, sob alegação de que a teoria proposta não tinha fundamento. Cinco décadas depois, a mesma instituição construiu o acelerador para provar sua teoria.
Ateu e claramente irritado por sua descoberta ter ganhado o apelido de “partícula de Deus”, Higgs abandonou o Greenpeace depois que a entidade passou a se opor a sementes geneticamente modificadas.
Ontem, Higgs era ovacionado pelos cientistas que passaram a noite na fila para obter pela manhã um lugar no auditório onde a descoberta seria realizada. A sala vibrava como uma arquibancada de um ginásio lotado numa final de campeonato, com aplausos, gritos e abraços. Higgs não disfarçava sua timidez, insistindo que os cientistas do Cern eram as estrelas, e não ele.
Higgs falou a um grupo de jornalistas. Eis os principais trechos da entrevista:
Qual a importância da descoberta para o sr. e para a física?
É uma confirmação de algo que fiz há 48 anos e dá muita satisfação ser provado que estava certo. Quando elaborei a teoria, não fui muito específico. Não estou preocupado se encontraram apenas um bóson de Higgs ou vários. Do ponto de vista da física, parece que é o fim de uma era e completamos o modelo. Mas o mais importante é que o estudo do que se descobriu hoje levará ao que está por trás do modelo que explica a física. E espero que haja conexão mais interessante com a cosmologia.
O sr. espera um prêmio Nobel por conta disso?
Eu não tenho ideia. Não tenho amigos próximos dentro do comitê do Nobel.
O sr. achou que um dia veria isso?
Não fiquei sonhando durante 48 anos porque tinha mais o que fazer na vida. No começo, não tinha nenhuma esperança de ver essa comprovação durante minha vida. Mas quando aceleradores do tamanho desse de Genebra começaram a aparecer, pensei que talvez haveria alguma chance.
Como o sr. se sente?
Bem tonto, mas muito feliz.
Buracos negros, antimatéria… O sr. acredita que isso tudo é ficção científica?
Vocês podem chamar de ficção científica. Mas para mim são teorias especulativas que existem há algum tempo e só agora começam a ser testadas. Assim como no caso do bóson de Higgs, há muita motivação teórica para que partes dessas teorias sejam verdadeiras.
Em especial a supersimetria, que acho que muitos acreditam que seja necessária em qualquer teoria e poderá unificar o Modelo Padrão com a gravidade. No momento, não parece ser nem mesmo suficiente, mas um passo necessário.
Se não unirmos essas teorias com a da gravidade, então nada divertido ocorrerá. Isso porque a gravidade por si só não se encaixa com a teoria quântica.

SUICÍDIO


Criciúma | Especial

Suicídio é segunda causa de mortes na região. Prevenção está na família

As ocorrências de suicídios ocupam o 2º lugar em causas de mortes na região, só ficando atrás dos acidentes de trânsito. Prevenção e atenção são palavras de ordem quando se trata de um suicida.
03/07/2012 20:10:59 - Atualizado em 03/07/2012 18:00:56
Douglas Saviato /Profª orientadora Marli Vitali (SC0903JP)
Perdas, problemas financeiros, dificuldades não superadas são exemplos de uma série de fatores que podem levar uma pessoa a tirar sua própria vida. Em 90% dos casos a depressão, uma das doenças que mais atinge pessoas no mundo, está ligada ao suicídio.
A região de Criciúma vem registrando mais casos de suicídio a cada ano. Muitos não conseguem vencer estas dificuldades, na maioria dos casos, é na mente dessas pessoas que fica alojado o pensamento de parar de viver. A intenção desta reportagem especial não é mostrar números, mesmo que ao longo da matéria eles surjam, mas sim focar na prevenção, evitando que mais pessoas venham a tirar sua própria vida.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

FIM DA UTOPIA

São inúmeras as explicações para os atuais problemas europeus. Uns apontam para a rigidez com que o BCE administra o Euro, outros para especulação dos mercados ou para a moderna engenharia financeira. Até mesmo o surrado espantalho neoliberal aparece de vez em quando como culpado. Embora evidências saltem aos olhos, essas análises constumam ignorar que, muito além de mera crise monetária ou de crédito, o que está em xeque é o próprio modelo de bem estar social, sob o qual sucessivos governos, tanto à direita quanto à esquerda, têm financiado “direitos” generosos com altos impostos e pilhas enormes de dívidas. Tudo isso sem que as economias do velho continente consigam crescer o bastante para manter a farra.

Malgrado sua concepção eminentemente coletivista, a experiência social-democrata que floresceu na Europa Ocidental após a Segunda Guerra manteve o modelo econômico capitalista, pelo menos no sentido de que a propriedade privada dos meios de produção era permitida, ainda que altamente concentrada nas mãos de poucos. O arquétipo do “capitalismo selvagem” foi substituído por um sistema híbrido, que combina grandes conglomerados industriais e financeiros, freqüentemente patrocinados e tutelados pelo Estado, uma agricultura altamente subsidiada, além de empresas miúdas – quase sempre comerciais ou de prestação de serviços. Para completar, a hipertrofia dos governos formou um enorme contingente de funcionários públicos que, em alguns países, chega perto de 50% da população economicamente ativa.

O apogeu da social-democracia européia ocorreu em meio à Guerra Fria, num período marcado pela limitação à livre movimentação de pessoas, capitais e produtos, quase sempre mediante rígidos controles burocráticos e barreiras tarifárias. Com queda do Muro de Berlim e a aceleração do processo de globalização, conseqüência direta da profusão de novas tecnologias que permitiram a movimentação muito mais dinâmica da informação, dos capitais, dos produtos e do próprio trabalho, as sociedades européias se viram, da noite para o dia, numa sinuca de bico, obrigadas a promover uma reavaliação profunda do modelo, algo até então impensável.

E não é para menos: enquanto a taxa de natalidade não pára de cair e os velhos vivem cada vez mais, os gastos com saúde e aposentadorias ficam cada vez mais caros. Por outro lado, a relação entre trabalhadores ativos e inativos segue diminuindo rapidamente. Tudo isso em meio ao baixo crescimento econômico que já dura décadas. Uma eventual mudança de rumo, entretanto, não deixará de ser traumática, notadamente para aqueles que se acostumaram com privilégios “sociais” abundantes e pouco trabalho.

Uma das primeiras a entender que as políticas da social-democracia precisavam ser revistas foi Margareth Thatcher, que compreendia a natureza daquela armadilha econômica em seus dois aspectos principais. Em primeiro lugar, não é possível manter um mercado de trabalho baseado na estabilidade do emprego, especialmente em vista da evolução tecnológica que cria e destrói ofícios e profissões numa velocidade tremenda. Em segundo lugar, as instituições de proteção social, concebidas fundamentalmente para compensar o fracasso individual, fomentam de modo inexorável a ineficiência, num mundo globalizado cada vez mais competitivo.

Thatcher concluiu, há trinta anos, que as premissas do “marco social” – que imperou a partir da 2ª Guerra – haviam sido derrubadas e, a menos que o modelo então vigente se transformasse profundamente, seria varrido pelo furacão da globalização. As reformas liberais que seu governo produziu, no entanto, se deram algum fôlego à economia britânica por algum tempo, já foram completamente revertidas pelos governos esquerdistas que o sucederam - preocupados, como sempre, não com os baixos índices de crescimento e produtividade, mais com a utopia do “bem comum”.

Evidentemente, a falência do “welfare state” não se dá de forma uniforme. Dependendo das instituições e da cultura de cada país, ela é mais lenta ou mais rápida. O modelo é mais resistente nos países nórdicos, germânicos e anglo-saxãos - ancorados numa ética severa, na primazia da responsabilidade individual e na valorização do trabalho - do que nos países mediterrâneos, mais chegados ao patrimonialismo e à cultura de privilégios. Mas não se iludam: a médio prazo, mesmo esses países precisarão promover mudanças liberalizantes que tornem suas economias mais dinâmicas e competitivas. Por: João Luiz Mauad, O GLOBO

RAIOS DE SOL ENTRE NUVENS CARREGADAS

Junho tinha tudo para ser mais um mês pesado para os mercados. As eleições gregas tiveram resultado positivo pela ótica dos investidores, com a derrota da esquerda radical representada pelo Syriza. Mas a alegria durou pouco e os mercados seguiram estressados. A Espanha anunciou novo pacote de ajuda aos bancos, na casa dos 100 bilhões de euros, mas nem isso foi suficiente para sustentar uma recuperação. Os títulos do governo espanhol de 5 anos chegaram a abrir 50 pontos-base durante o mês. Tudo parecia indicar a continuação do bear market, com os agentes rejeitando até as boas notícias.

Até que aos 45 minutos do segundo tempo a Europa conseguiu marcar um gol importante. O desempenho positivo de junho foi todo feito no último dia útil do mês, após o comunicado do novo (o 19o) summit dos países do euro. A principal mensagem extraída do novo acordo foi a sinalização de que a Alemanha havia cedido mais do que parecia disposta, ao concordar com a criação de um mecanismo único de supervisão bancária e com o uso do European Stability Mechanism (ESM) para recapitalizar os bancos diretamente.

Com o mercado cansado de cair e leve, a notícia foi a deixa para o rali que salvou o fechamento do primeiro semestre do ano. O petróleo subiu 7% só no dia 29, ainda assim fechando com queda de 4% no mês. O S&P 500 subiu 4% e o DAX 2,5%, quase tudo no último dia de junho.

Mas será que o acordo desta vez foi realmente um game changer? Ou será que estamos diante de “mais do mesmo”, ou seja, um jogo de xadrez em que a Alemanha morde e assopra ao mesmo tempo, sem, entretanto, mergulhar de vez no caminho da união fiscal e dos euro-bonds? Esta parece ser a pergunta mais relevante, pois boa parte do mercado sonha com a emissão de bonds comunitários, enquanto Angela Merkel, poucas horas antes do resultado do summit, ainda afirmava que esta não seria a solução durante o tempo em que ela estivesse viva. São palavras fortes. Será que suas ações contradizem sua retórica?

Analisando o acordo com mais cuidado, talvez não exista motivo para tanto otimismo assim. É preciso lembrar que não houve aumento de capacidade de recursos no ESM, ou seja, a Alemanha não aceitou colocar novos recursos no bolo comum para resgatar bancos periféricos. Além disso, Merkel disse que só aceita recapitalizar esses bancos após um novo regime regulatório organizado pelo ECB, o que deve ocorrer somente no final do ano. Restam vários entraves a este passo, a começar pela Inglaterra aceitar que seus bancos sejam regulados pelo ECB. O diabo, como sempre, está nos detalhes. E estes só serão decididos no summit do dia 9 de julho.

Muitos investidores ainda alimentam a expectativa de que, no final do dia, a Alemanha terá que ceder às principais demandas dos demais e sucumbir ao projeto comunitário que criaria, na prática, os Estados Unidos da Europa. A própria Merkel parece desejar isso, desde que a Alemanha consiga, no processo, impor reformas estruturais que tornariam os outros países mais competitivos e parecidos com a própria Alemanha. Por ela reconhecer que dificilmente isso se dará durante sua gestão, a retórica de que não haverá euro-bonds enquanto ela estiver viva (politicamente) pode fazer sentido. O problema é que a economia não anda no passo lento da política.

O tempo joga contra este projeto, pois cada vez as divergências econômicas ficam maiores. O risco de vitória do Syriza na Grécia já foi um efeito disso. As tensões sociais se agravam, os ajustes impostos são muito dolorosos, e partidos radicais terão cada vez mais audiência para suas “soluções mágicas”. Os socialistas liderados por François Hollande tiveram expressiva vitória no Parlamento em junho também, marcando de vez a mudança de rumo na segunda maior economia da região. Em outras palavras, as reformas estruturais e de austeridade já subiram no telhado, e a Alemanha está totalmente isolada. As divergências devem aumentar daqui para frente.

A dúvida surge automaticamente: se a Alemanha tiver que antecipar o projeto comunitário mesmo sem as reformas estruturais dos outros, será que ela aceita? Será que o alemão aceita custos tão explícitos para transferir riqueza aos demais? Será que os alemães, os holandeses e os finlandeses deixarão o nacionalismo para trás e passarão a enxergar somente europeus em volta?

Considero esta hipótese bastante remota. Projetos paridos na elite e impostos de cima para baixo raramente vingam. São vítimas daquilo que Hayek chamou de “arrogância fatal”, e não contam com o apoio legítimo do povo. Não podemos esquecer que a Europa ainda possui democracias plenas em seus países membros. O antagonismo entre o euro e a democracia fica evidente quando se chega perto das eleições, principalmente nos elos mais fracos do grupo.

Eventualmente, na própria Alemanha isso poderá ocorrer, quando ficar mais claro o tamanho da conta que seus pagadores de impostos terão de arcar. Por isso muitos defendiam e ainda defendem o ECB como a única saída politicamente viável, ou seja, a rota disfarçada da inflação, que demora mais a escancarar a magnitude da fatura dos que são “convidados” a assumir os rombos.

Minha visão é de que o euro é um projeto fracassado. A questão que surge é a seguinte: insistir em seu salvamento com mais manipulações beneficia a Europa? Penso que não. Assim como a União Soviética, postergar o dia do julgamento faz apenas com que a dor seja maior depois. Quanto mais tempo levar para a ruptura do euro, maiores serão as divergências entre seus membros. E, por tabela, maior será a necessidade de transferências dos mais ricos para os mais pobres. Isso é socialismo. Ele nunca funciona.

Como um viciado em drogas, porém, o mercado celebra euforicamente cada nova rodada de estímulo das autoridades, ainda que a nova onda tenha menor intensidade e duração. Até o dia em que o organismo não agüenta mais.

A crise europeia está muito longe do fim. Haverá momentos de tranqüilidade aparente e até de otimismo. Um futuro sombrio aguarda a Europa. Não vamos nos enganar com alguns raios de sol esporádicos que surgem no horizonte. Por: Rodrigo Constantino

ONDE ESTÁ A GERENTE?

A economia vai da mal a pior 
 Produção industrial cai 3,4% e leva mercado a rebaixar previsão para o PIB 


Com resultado de maio, analistas já projetam alta do PIB de só 1,7% em 2012; Banco Central vai intervir no câmbio para ajudar a indústria 03 de julho de 2012 | 22h 35 Mônica Ciarelli, da Agência Estado RIO - Os números de maio da produção industrial divulgados na terça-feira pelo IBGE acentuam o atual quadro de retração do setor em 2012. Em queda há nove meses, o indicador amargou em maio perda de 4,3% frente ao mesmo período do ano passado. Foi o pior resultado desde setembro de 2009, quando a produção caiu 7,6%. Diante desse cenário, consultorias já começam a revisar para baixo as projeções de crescimento para o PIB em 2012. "O dólar abaixo desse nível de R$ 2 pode não ser bom para a indústria", disse o diretor de política monetária, Aldo Mendes, em entrevista à Agência Estado.O Banco Central deu um recado claro sobre a estratégia do governo para ajudar a indústria. Pela primeira vez, o BC admitiu que pode intervir no câmbio e evitar o fortalecimento do real, que prejudica a competitividade dos produtos brasileiros. Até então, o banco dizia que só atuava no câmbio para evitar oscilações bruscas e que sua missão era evitar a alta da inflação, e não proteger a produção. ‘Pibinho’. Cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a produção industrial precisaria crescer 1,6% ao mês de junho a dezembro para fechar 2012 no azul. "Ainda não há indícios de que a aceleração começou a acontecer, mas esperamos que as políticas monetária e fiscal tenham algum efeito no segundo semestre", disse Leonardo Mello, técnico do Ipea. "Infelizmente teremos um ‘pibinho’ este ano", previu a sócia da MB Associados, Tereza Fernandez. Por causa do fraco desempenho da indústria, a MB rebaixou a expectativa de alta do PIB de 3,5% para 2,0%, com viés de baixa. Mesmo sem a revisão concluída, a Rosemberg & Associados já considera a possibilidade de uma queda dos atuais 2,3% para 1,7%. "Dificilmente veremos melhora na produção industrial neste ano", disse a economista-chefe da Rosemberg, Thaís Zara. "A primeira impressão é que os dados da indústria jogam por água abaixo os esforços do Planalto e da Fazenda em dar suporte ao humor empresarial", afirmou, em relatório, o economista da Gradual Investimentos, André Perfeito. Segundo o gerente de coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, as medidas de estímulo adotadas pelo governo foram insuficientes. Tanto que a produção caiu 0,9% de abril para maio, acumulando perda de 3,4% em 2012. O efeito das medidas, lembrou, foi apenas pontual, com melhoria de resultado em segmentos como linha branca e móveis, que trabalham com IPI reduzido há mais tempo. A produção da linha branca subiu 8,5% na comparação com maior de 2011, enquanto a de móveis teve alta de 22,3%. "Os números de maio dizem que o perfil da indústria é de uma queda generalizada (...) Há uma predominância de resultados negativos em qualquer comparação que se faça." O setor automotivo é o que mais sofre com a retração da indústria. Para Macedo, a redução do IPI anunciada em 21 de maio ainda não se refletiu na produção. A resposta mais lenta em relação ao que já ocorreu no passado se deve ao cenário de aumento da inadimplência, de maior comprometimento da renda das famílias e também de maior restrição do crédito. A produção caiu 5,3% em relação a maio de 2011. Como a redução do IPI ainda é recente, Macedo afirma que não dá para prever se o crescimento das vendas informado pela Fenabrave - recorde para o mês de junho - será suficiente para "queimar" estoques e estimular um incremento da produção. (Colaboraram Daniela Amorim, Gustavo Porto e Francisco Carlos de Assis)Por: Marco Antonio Villa O Estado de S Paulo

IMPLANTAÇÃO DO COMUNISMO NA AMÉRICA LATINA


Quarta-feira, Julho 04, 2012

SOB O DOMÍNIO DO PT, BRASIL PROMOVE A IMPLANTAÇÃO DO COMUNISMO EM TODO OS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

A questão que se coloca para a América Latina atualmente é de natureza eminentemente política: ou repudia o ataque comunista ou sucumbe aos seus algozes. Se alguém tinha alguma dúvida sobre isso basta analisar o noticiário internacional desta quarta-feira. O episódio da destituição do ex-bispo comunista da presidência do Paraguai trouxe à tona, além do fato em si mesmo, a brutal realidade que conspira contra a democracia em todo o continente latino-americano. 
No final de semana noticiei com exclusividade aqui no blog a presença de 210 militares venezuelanos no Uruguai, quando foram protagonistas de um evento dentro do Instituto Militar daquele país reivindicando "pátria socialista" num ato típico de doutrinação do chavismo que leva a política para dentro dos quartéis, agora não apenas na Venezuela, mas nos demais países latino-americanos.
Nesta terça-feira, como noticiei aqui no blog, o Ministério da Defesa do Paraguai revelou ao mundo um vídeo mostrando o chanceler Nicolás Maduro, a mando de Hugo Chávez, numa reunião com o alto comando militar paraguaio, enquanto  o Congresso dava seqüência ao julgamento de Fernando Lugo. Mais tarde o comando militar emitiu uma nota em que se perfilava ao lado da legalidade em obediência à Constituição do país.
Não é a primeira vez que Chávez se intromete em outros países para levar avante a sua loucura comuno-bolivariana. Fez isso em Honduras no caso da deposição do caricato aprendiz de tiranete Manuel Zelaya, que comia pelas mão do tiranete de Caracas.
Naquela funesto episódio o Brasil sob o domínio do PT repatriou Zelaya que já estava no exterior e o hospedou dentro da embaixada Brasileira em Tegucigalpa, transformando a representação diplomática brasileira num bizarro bunker dos comunitas cucarachas. 
Agora, em decorrência da crise paraguaia o Brasil é acusado pelo chanceler uruguaio, de ter pressionado os países do Mercosul a suspender o Paraguai do bloco regional. Aliás, a reação do Brasil quando explodiu a crise no vizinho país foi ridícula, quando acusou a existência de um golpe, para logo depois tergiversar através de nota do Itamaraty amansando o discurso.
Entretanto, na reunião do Mercosul, por trás dos panos, o Brasil foi protagonista de uma ação vegonhosa ao patrocinar a inclusão da Venezuela no Mercosul, quando se sabe que Chávez pisoteia sem cerimônia a cláusula democrática do tratado do bloco. Sob o tacão de Hugo Chávez a Venezuela, como todos sabem, já não é há muito tempo uma Nação democrática. 
O que está ocorrendo e a grande mídia continua escamoteando de forma miserável é que todos esses eventos fazem parte do plano estratégico de implantação do comunismo em toda a América Latina, sendo o Brasil, sob o domínio do PT, o principal artífice. A imprensa não alude ao fato da existência do Foro de São Paulo, entidade fundada por Lula no início dos anos 90 e que atua de forma sincronizada em todo a América Latina. Tanto é que no início do ano houve uma reunião do Foro de São Paulo no México, quando o secretário dessa organização, o petista Valter Pomar, leu ao final do evento um manifesto de apoio a Lopez Obrador, o candidato esquerdista à presidência do México, que derrotado agora esperneia acusando, sem qualquer prova, que teria havido fraude na eleição mexicana.
Em resumo: o Brasil sob governo do PT e berço do famigerado Foro de São Paulo é o principal ator dessa ação diabólica que tem em  mira transformar a América Latina numa versão da URSS do século XXI. 
As mirradas oposições nos países latino-americanos foram praticamente aniquiladas e são incapazes de trazer ao debate e denunciar o que estou delineando aqui e agora. Submetem-se covardemente à patrulha do Foro de São Paulo e têm medo de pronunciar a palavra "comunismo"!, quando se sabe pela evidêncica irretorquível dos fatos que a bandalha comunista já venceu pelo menos a metade da batalha. 
Como já afirmei aqui no blog em análise análoga, o movimento comunista internacional está mais vivo do que nunca, entretanto mudou o discurso, maquiou conceitos, adotou o pensamento politicamente correto, vestiu-se de verde e costuma ridicularizar todos aqueles que ousam denunciá-lo. Normalmente os comunistas saem-se com esta: "o comunismo não existe mais", o que é uma deslavada e sórdida mentira. 
Acreditem: Hugo Chávez é apenas um verme a serviço do Foro de São Paulo. A cabeca do monstrengo que dirige e organiza a implantação do comunismo na América Latina está aqui no Brasil, chama-se PT, o criador do Foro de São Paulo e seu dono absoluto. Tanto é que os marketeiros do PT atuam nas campanhas eleitorais de seus congêneres em todo o continente latino-americano. Que o digam Hugo Chávez, Olanta Humala, Lopez Obrador, Evo Moralles, o vovô tupamaro e o bispo comunista.
Como a grande imprensa escamoteia tudo isso esse artigo que você acaba de ler, prezado leitor, pode soar como mais uma teoria conspiratória. Antes fosse. O pior é que traduz a verdade absoluta.

O ESCÂNDALO DA TAXAS DE JUROS

Há mais de 30 anos venho criticando aqueles acadêmicos que defendem um sistema financeiro baseado em taxas Selic, TR e Libor, este precificava a nossa dívida externa no passado. Como todo advogado, psicólogo, engenheiro podem perceber sem ter tido uma única aula de Economia, Selic, TR e Libor não são números como 5%, mas são Letras. Ou seja, contratos com Selic, TR e Libor rezam que os juros irão flutuar APÓS a assinatura do contrato e os números revelados a posteriori. A cláusula de juros da famosa dívida externa Brasileira, e interna por sinal, reza que o Governo do Brasil pagará a taxa LIBOR, ou SELIC, QUALQUER QUE VENHA A SER ESSA TAXA NO FUTURO. Você assinaria um contrato desses? Desde 1964, dezenas de ministros e secretários da Fazenda assinaram sem pestanejar. A lista de acadêmicos que assinaram cheques em branco é assustadora, nem posso enumerá-los. Assinaram contratos indeterminados com relação aos juros. Um crime e tanto. Economistas assinam este tipo de dívida porque eles acham natural que juros flutuem ao sabor de mercado. Isto faz parte das premissas da Ciência Econômica. Economistas, especialmente liberais e neoliberais, são contra taxas de juros fixas, como 5% ou 7%. Administradores, por outro lado, jamais assinariam contratos com juros indeterminados e incertos. Isto é assinar um cheque em branco, proibido pelo bom senso administrativo. Perguntei ao melhor economista que tivemos, Mario Henrique Simonsen, por que ele assinara esses contratos flutuantes: "A ciência econômica não tinha meios de prever esse aumento excepcional dos juros." Concordo plenamente, mas essa é justamente uma razão para não assinar esse tipo de contrato. O resto da administração pública tem de se preocupar com o Orçamento da União, a Lei de Licitação, o Tribunal de Contas, de pagar preço fixo em tudo, enquanto um Ministério, o da Fazenda, tem carta branca para assinar preço incerto? Em 1986 fui trabalhar para o Ministério do Planejamento, a pedido do ministro João Sayad, para tentar cancelar esses contratos com juros flutuantes e negociar contratos com juros reais fixos pela duração do contrato, ou seja, criar uma alternativa. A revista Euromoney ficou sabendo do plano e, para minha grande surpresa, o endossou com o editorial intitulado "Entra em Cena o Alquimista". Os "alquimistas" éramos nós, do Ministério do Planejamento, que na opinião da publicação, estávamos transformando lixo em ouro, apresentando um plano ganha-ganha - além de reduzir os juros para 3% reais, fixos e imutáveis, e eliminar o risco da flutuação desestabilizadora. O editorial completo está em meu site, www.kanitz.com.br. Em 2000, economistas da escola nominalista de FHC pioraram a situação lançando o Global Bond 40, com juros nominais fixos de 13% ao ano por quarenta anos, meses antes de a taxa Libor começar a cair para o atual patamar de 1,8%. Que lógica é essa? Não seria melhor lançar títulos com juros reais fixos, como incentivou a Euromoney vinte anos atrás, medida posteriormente adotada pelo governo americano, o que lhe permitiu lançar títulos com juros reais de 3%, os famosos TIPS? (Revista Veja, Editora Abril, edição 1861, ano 37, nº 27, 7 de julho de 2004, página 22) Isto escrevi há mais de 20 anos, até na Veja. Agora vem o pior. Como se calcula a taxa Libor? São os próprios Bancos. Uma média feita pela Thompson Reuters que telefona de manhã para alguns bancos e faz a seguinte pergunta: “At what rate could you borrow funds, were you to do so by asking for and then accepting inter-bank offers in a reasonable market size just prior to 11 am?” Uma pesquisa oral, onde podem mentir quase à vontade, mas é mais sutil do que isto. Todo dia bancos ficam com um saldo positivo ou negativo de dinheiro, que precisam zerar até o final do dia. Por isto telefonam entre si, oferecendo ou tomando bilhões de dinheiro. Existem bancos atacadistas que se especializam nesta intermediação, e você liga para um deles e eles têm a obrigação de dar duas taxas: 1. A Libor, taxa pela qual eles oferecem te emprestar dinheiro, digamos 8,25%. 2. A Libid, taxa pela qual eles aceitam tomar o seu dinheiro, digamos 8,00%. Se você quiser manipular por uma hora a taxa Libor, bastaria você dizer 8,45%-8,00% que você estaria seguro. Ninguém provavelmente iria aceitar a sua oferta de 8,45%, somente os pesquisadores da Thompson Reuters, que anotariam o valor. Quando eu estive no Ministério do Planejamento assessorando os economistas da época em questões financeiras, recomendei que eles assinassem contratos com a taxa LIBID, e não a taxa LIBOR. Por que? Porque esta seria impossível de ser manipulada. Se você aumentasse a taxa LIBID, mesmo por uma única hora, os bancos estariam lhe socando dinheiro a uma taxa superior à do mercado, aquele que você está tentando manipular. Vejamos. - Nossas taxas são 8,25%-8,23%. - 8,23%? Cinco minutos atrás era 8,00%, fechado, estamos lhes transferindo 4 bilhões, para aplicação de 6 meses. Ou seja, manipular a LIBID daria prejuízo, manipular a LIBOR não. Adivinha qual será mais manipulada? Infelizmente, não consegui o meu intento. Todos os contratos assinados pelos nossos Ministros da Fazenda continuaram em Libor, que somente hoje a imprensa americana descobriu que são manipulados. Na época eu expliquei ao jornalista Bernardo Kusinski tudo isto, único que entendia de Dívida Externa, mas ele não publicou nada sobre o assunto. Como ninguém mais, apesar do óbvio que era esta manipulação. Agora 30 anos depois, depois do Brasil pagar alguns décimos de juros a mais do que deveria, a imprensa inglesa publica o que deveria ser feito. Suggestions for change have included: Uso de empréstimos efetivados e não cotações. Basing figures on actual trades – as there are very few long term trades, this would probably require using an overnight rate. This would be of limited use to the markets and is likely to skew figures as, in reality, only the most credit worthy institutions can obtain funding Auditoria independente Opening the process to independent verification – this does not solve the problem of figures being provided on a hypothetical basis but creating safeguards to ensure the consistency of a bank’s submissions may provide a useful control. Libid e não LIbor Asking two banks at what rate they would lend to each other, rather than at what rate they borrow at – it would be difficult for banks to be generic in answering this question as the answer depends on the risk profile of each borrower. Quando teremos administradores financeiros administrando as finanças deste país? Quantos bilhões vocês advogados, engenheiros, psicólogos, médicos querem pagar a mais, por esta discriminação profissional que ocorre há 500 anos neste país? Por: Stephen Kanitz

A HISTÓRIA DO BRASIL ESCRITA PELOS PERDEDORES


A história do Brasil escrita pelos perdedores transfere para a turma da bolsa-ditadura a vitória da resistência democrática

O presidente da República que não sabe escrever ─ e rabiscou em mais de 60 anos menos de cinco bilhetes de aluno de jardim da infância ─ assinou o tratado da reforma ortográfica. O ex-presidente que nunca leu um livro ─ e compara uma virada de páginas a exercício em esteira ─ virou colecionador de títulos de doutor honoris causa.
A presidente que não conseguiu administrar a lojinha em Porto Alegre foi promovida pelo padrinho a supergerente de país. A chefe de governo que nomeou um ministério infestado de corruptos é aplaudida por demissões feitas a contragosto pela única faxineira do mundo que gosta de lixo por perto. E as vítimas dos pitos da mulher rabugenta fazem de conta que estão ouvindo a voz que identifica a estadista enérgica.
O ex-ministro da Educação continua convencido de que está certo falar errado ─ “Nós pega os peixe”, por exemplo. O ministro da Fazenda acha que o Brasil fica melhor depois de cada crise econômica. O ministro da Pesca não sabe colocar minhoca em anzol. O ministro da Indústria apressou a falência de uma fábrica de tubaína com meia dúzia de conselhos. O ex-ministro da Justiça apadrinha terroristas italianos e, como atesta a portaria publicada na seção O País quer Saber, promove a anistiado político o assassino confesso de um companheiro.
No país anestesiado pela rotina do absurdo, é natural que uma Comissão da Verdade subscreva a História escrita pelos perdedores, confunda fato com fantasia e eternize mentiras. Entre tantas, uma das mais obscenas é a que atribui aos grupos que naufragaram na luta armada contra o regime dos generais uma relevância que jamais tiveram.
Essa visão deliberadamente distorcida permite enxergar mártires da liberdade onde só houve gente disposta a tudo para substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado. Quem não sofre de miopia malandra sabe que os marighelas, lamarcas, clementes e demais liberticidas só contribuíram para prolongar o período autoritário. A liberdade foi resgatada não pela turma da bolsa-ditadura, mas por milhões de brasileiros engajados na resistência democrática.
Como resume o título do post republicado na seção Vale Reprise, os democratas vitoriosos ao fim de 20 anos de luta garantiram a sobrevivência de centenas de devotos do partido único que erram a escolha na encruzilhada. Nós não lhes devemos nada. Eles nos devem tudo, a começar pela vida. E ainda assim afrontam seus salvadores com a tentativa de expropriação do triunfo do que foi, é e será para sempre dos democratas que resistiram.
Resistiram sem bravatas, sem rompantes juvenis. Resistiram com a tenacidade, a paciência e a bravura de quem aprendeu que duelos desse porte não são para moleques que mal aprenderam a manusear metralhadoras. É coisa a ser resolvida por combatentes adultos.

O BRASIL PRECISA MUDAR


Brasil precisa mudar de estratégia e focar na produtividade

Para os autores do livro "Além da Euforia", Armando Castelar e Fábio Giambiagi, investir em educação, infraestrutura e poupança é o caminho para o PIB continuar avançando

Anna Carolina Rodrigues
Economistas Fabio Giambiagi e Armando Castelar, autores do livro "Além da Euforia"
Fabio Giambiagi e Armando Castelar, autores do livro "Além da Euforia" (Oscar Cabral e Anna Carolina Negri)
"O Brasil precisa depender menos do capital e mais da produtividade" – Armando Castelar
O governo federal anunciou na última quarta-feira mais um pacote com o intuito de tentar salvar a economia brasileira de um “pibinho”. A nova tentativa vem num momento em que o mercado - e o próprio Banco Central - rebaixa suas estimativas para 2012. Faltaram ousadia e visão à equipe da presidente Dilma, que apelou, uma vez mais, para a batida fórmula de tentar “salvar” o PIB com base na ampliação do consumo. A estratégia – que se mostrou bem-sucedida enquanto milhões de brasileiros ainda não tinham ascendido à classe média e não possuíam acesso ao crédito – dá hoje sinais de esgotamento. O país tampouco pode ser dar ao luxo de contar com o cenário externo. Por uma década, o Brasil foi favorecido pela crescente demanda por suas commodities e pelo amplo acesso ao  financiamento barato no mercado internacional. A combinação desses fatores resultou em crescimento e, de 2006 a 2010, euforia. Contudo, a dificuldade de reverter o quadro negativo que se arrasta desde a metade do ano passado começa a lançar por terra esse entusiasmo.
No pacote da semana passada, o governo resolveu oferecer seu próprio poder comprador para tentar estimular o PIB. A opção deixa antever que está perdendo fôlego o apoio do consumo ao crescimento.  De um lado, as famílias, limitadas por um endividamento recorde, não se sentem compelidas a comprar mais – mesmo com prorrogação do IPI reduzido de eletrodomésticos e móveis, automóveis mais baratos, estímulo ao crédito via bancos públicos, etc. De outro, o empresário, amedrontado pela deterioração da economia global, tem se arriscado pouco a investir. Para destravar o setor privado de nada têm adiantado a postura cada vez mais intervencionista do governo no campo microeconômico – regras que mudam a todo o momento, exigência cada vez maior de conteúdo nacional nas fábricas – e o fechamento “branco” do país à concorrência externa. 
O problema apontado por analistas é que será pífio o impacto de tais compras governamentais na economia. O volume anunciado de 8,4 bilhões de reais em aquisições de caminhões, tratores, retroescavadeiras, equipamentos hospitalares, etc, representa só 0,2% do PIB. O comentário mais comum entre os economistas é que o governo criou um ‘pacote’ apenas para fazer propaganda e atender os interesses corporativistas de meia dúzia de indústrias – coincidentemente aquelas para as quais a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vinha fazendo lobby escancarado.
O cenário que se coloca hoje diante dos brasileiros felizmente não é catastrófico, mas se distancia daquela visão do “Brasil maravilha” dos últimos anos. Para mudar a perspectiva de taxas baixas de crescimento nas próximas décadas, o governo federal tem de começar a atacar os problemas estruturais da nação. Políticas de longo prazo para melhoria da educação, da taxa de poupança e da infraestrutura precisam ser bem estruturadas e postas em prática ainda que seus resultados não se mostrem visíveis no curto prazo. Essas ações é que tornarão o Brasil uma nação mais produtiva, isto é, capaz de gerar riqueza com maior eficiência.
A discussão sobre o que ainda precisa ser feito – a chamada "metade vazia do copo" – é o ponto central do livro Além da Euforia - Riscos e Lacunas do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento (Editora Elsevier-Campus, 312 páginas), de Armando Castelar e Fábio Giambiagi, que será lançado oficialmente em 11 de julho, mas já pode ser encontrado em algumas livrarias. Os economistas falaram ao site de VEJA.
Por que o livro se chama “Além da Euforia”?
Armando Castelar – É uma referência ao fato de o Brasil ter vivido um período de euforia entre 2004 e 2010. Mas esse momento não vai perdurar indefinidamente. No livro, discutimos as razões disso. É preciso que haja um debate sobre o que precisa ser feito para melhorar a situação que virá depois que essa euforia passar.
Por que essa euforia vai passar?
Giambiagi – O Brasil teve condições excepcionais e favoráveis ao crescimento neste período. Duas delas são associadas ao cenário externo. Primeiramente, temos o índice de preço das exportações. Para se ter ideia, entre 1997 e 2002, esse indicador teve queda acumulada de 23%. Entre 2002 e 2011, contudo, houve um aumento impressionante de 165%. A segunda condição é o baixo nível das taxas de juros internacionais. Essa configuração de preços “nas nuvens” com uma taxa de juros externa pequena tirou a possibilidade de aumentar a absorção doméstica sem que fosse gerada uma situação muito dramática no balanço de pagamentos – ao contrário do que ocorreu em outros ciclos de expansão históricos.
Castelar – Parte do cenário externo favorável ao Brasil deriva da China, cujo quadro doméstico complicou um pouco nos últimos tempos. Os preços das exportações pararam de aumentar do jeito que vinham subindo e decaíram um pouco neste início de ano. O país começa a ter um pouco de dificuldade de crescimento internamente. Ainda assim, a situação dos preços continua bastante favorável ao Brasil conforme os padrões históricos. É preciso lembrar, contudo, da importância do cenário externo. Toda a América Latina teve melhora de desempenho muito semelhante à de nossa economia. Os países da região estão vivendo níveis recordes de baixa de desemprego, segundo dados recentes da Cepal. O mérito não é exclusivamente brasileiro.
No capítulo sobre produtividade, o livro afirma que a parcela dos economistas que defende estímulos ao consumo para alavancar o crescimento tem resistência a acreditar que o país começa a enfrentar limitações de oferta. Por que há tanta resistência?
Castelar – Isso é um corte histórico que data dos anos 1950 para cá. Prevalece a ideia de que se for aumentada a demanda, a oferta vai se apresentar. No livro, defendemos que é preciso ter políticas explicitas para o lado da oferta. Melhorar a produtividade, melhorar o ambiente de negócios, cuidar de ciência e tecnologia, etc.
Giambiagi – Eu e Armando destacamos no livro que a filosofia econômica hoje dominante no Brasil é aquela inspirada nas ideias do economista John Maynard Keynes, que publicou em 1936 a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Essa grande obra foi escrita no contexto da crise dos anos 1930 – período em que a indústria estava com grande capacidade ociosa –, fornecendo o conteúdo teórico para o presidente americano Franklin Roosevelt adotar a política do New Deal, que ajudou a tirar os Estados Unidos da sua situação de penúria. A prescrição de políticas ditas keynesianas, calcada no estímulo à demanda, pode se justificar por essa situação de abundância de capacidade ociosa, como aconteceu no mundo em 2008 e hoje se vê na Europa, por exemplo. Mas uma vez que o Brasil está ‘batendo no teto’ de ocupação de recursos físicos, nosso entendimento é que é preciso ‘mudar o software’ para enfatizar a importância da expansão da oferta. Estamos vivendo uma situação inédita nos últimos 30 anos.
O que acontecerá se o Brasil não mudar esse ‘software’?
Castelar – Capacidade ociosa significa que existem fábricas e trabalhadores treinados que não estão sendo utilizados. É algo bem diferente de quando já se está usando todo o potencial e é necessário aumentá-lo para conseguir expandir a produção. Essa ampliação de capacidade não é um processo rápido. O investimento privado no Brasil é inibido pela falta de infraestrutura, pelo ambiente de negócios e pela escassez de mão de obra capacitada. Em outras palavras, temos energia elétrica insuficiente e cara; estradas, portos e aeroportos congestionados; entre outros problemas. Tudo isso limita o crescimento uma vez que o custo aumenta e o investimento fica menos interessante. A empresa cresce mais devagar. No tocante à demanda, existem outras restrições. Uma é a poupança, que é dificultada quando existe grande aumento de consumo. A segunda é confluência de expansão do consumo e do investimento, o que tende a gerar um déficit mais elevado nas transações correntes do Brasil com o exterior. Esse déficit só não estourou nos últimos anos por conta do cenário externo favorável. Além disso, com o aumento forte do consumo interno, a taxa de câmbio evolui de maneira a se apreciar – e o país torna-se menos interessante aos investimentos, como por exemplo, se dá hoje no setor industrial. É preciso trabalhar essas questões para continuar crescendo. Resolvê-las é fundamental para eliminar essa crise de produtividade do Brasil.

No livro, vocês analisam que o crescimento do produto potencial brasileiro nas últimas décadas foi possível justamente pela elevação da produtividade. O que causou esse aumento e por que ele não continuou?
Castelar – No período áureo de crescimento do Brasil, entre os anos 1950 a 1980, houve sim um aumento razoável da produtividade graças ao investimento. Nessa época, a infraestrutura se expandiu muito. Em segundo lugar, a indústria também contribuiu. Da década de 1980 até 1994, com a crise da dívida pública, a produtividade andou para trás e ficou negativa. A economia ficou mais fechada, a inflação era muito alta e havia uma intervenção estatal gigantesca. Começou então uma série de reformas estruturais, com abertura da economia, privatização e desregulamentação de uma série de atividades. Em 1994, com a estabilização proporcionada pelo Plano Real, a produtividade recuperou-se parcialmente. Desde então, nunca mais se conseguiu reproduzir esse investimento e o capital deixou de ter contribuição relevante para o crescimento do PIB. No período mais recente, o que contribuiu para melhorar a produtividade brasileira foi o emprego, isto é, há mais gente trabalhando. Atualmente, o desemprego está baixo e uma transição demográfica está em curso. Podemos prever, no entanto, que essa fonte de crescimento vai secar na frente. Então, as outras duas – capital e produtividade – passam a ser mais importantes.
Giambiagi – Este ponto do mercado de trabalho é muito importante. Nos últimos dez anos tivemos um crescimento anual do PIB da ordem de 4% e uma ampliação da população ocupada de cerca de 2,5%. A diferença está no conceito de produtividade por trabalhador. Naquele período, a população economicamente ativa (PEA) crescia mais ou menos 1,5% ao ano. Em suma, o emprego aumentava em ritmo mais intenso que o da própria PEA, o que diminuía o desemprego. No entanto, a partir do momento em que o país esbarra no limite do pleno emprego, que se estima que seja algo próximo a 5%, a população ocupada só poderá se expandir na mesma taxa de crescimento da PEA, que caminha para ficar em 1,1% daqui a uns anos, segundo dados do IBGE. No período de 2010-2050, o número de trabalhadores deve ficar estável, ou seja, todo o aumento da produção nesse período terá de vir de produtividade porque as pessoas que vão gerar o PIB serão “as mesmas”.
Além de melhorar a produtividade do trabalho, o livro aponta que há um longo trabalho para elevar a taxa de poupança interna. Por que este ponto também precisa ser atacado?
Castelar – O Brasil tem sérios problemas em relação a isso. A poupança aqui é muito baixa – o último dado mostra que está em 15,7% do PIB – e o ambiente de negócios não ajuda o investimento. É muito comum as pessoas apontarem a Coreia do Sul como modelo, mas eles investem cerca de 30% do PIB, quase o dobro do Brasil. Isso só é possível porque possuem uma taxa de poupança muito alta. Nossa média dos últimos 20 anos foi 16,5%. Provavelmente, vamos precisar recorrer à poupança externa, mas isso tem certo limite, pois aumenta o déficit em conta corrente. O Brasil precisa depender menos do capital e mais da produtividade.
Se o Brasil tivesse conseguido manter os níveis de produtividade que foram observados até os anos 1980, como o país estaria?
Giambiagi – Seríamos uma Coreia. Tínhamos a mesma renda per capita que eles em 1980.
Em que medida a alta carga tributária agrava o problema de produtividade?
Giambiagi – As duas palavras-chave são escala e impostos. Quando se produz algo para o mercado mundial, distribuem-se os custos por um número muito maior de unidades, o que reduz o custo unitário. Lá fora, a carga de impostos é muito menor que a daqui.
Castelar – Ambos os pontos estão relacionados. O imposto aumenta muito o preço e a empresa vende menos. Consequentemente, tem menor escala. Então, parte do problema da escala tem a ver com o tamanho gigantesco da carga tributária no Brasil.
Diante de tantos desafios, que esperam para o país nos próximos anos?
Giambiagi – Nosso livro buscar servir de alerta. Os sinais estão se avolumando. De certa forma, estão corroborando nossa tese central de que a economia brasileira encontra-se num ciclo que dá manifestações crescentes de esgotamento. Vemos um 2012 fraco, com crescimento em torno de 2%. Desde que não aconteça nenhuma hecatombe na Europa, deve haver melhoria no segundo semestre. Mesmo assim, nada espetacular. Já 2013 começará com uma perspectiva mais razoável – que talvez se estique ao ano seguinte devido ao conjunto de obras que terá de ser tocado para a Copa do Mundo. Fechado esse ciclo, a partir de 2014, nossa impressão é de que o 'software' utilizado nos últimos anos, de estímulo à demanda, terá de ser trocado por estímulos à oferta com uma preocupação crescente com a produtividade e a competitividade. Associada a isso está a necessidade de colocar na agenda política do país a retomada das reformas que foram, de certa forma, abandonadas há dez anos.
Castelar - Não consigo me classificar numa escala de pessimista a otimista. Vejo que o país tem oportunidades importantes. Fizemos avanços nos últimos vinte anos, mas, por outro lado, olhando a história do Brasil e da América Latina, penso que o país já esteve nessa posição antes. Já houve muito otimismo com relação às nossas perspectivas, como nos anos 70 quando a economia crescia 10% ao ano. Não surpreendentemente a América Latina vive esse tipo de ciclo quando os preços de produtos exportados estão altos e o acesso ao crédito está fácil. Tenho esperança que nossa classe política consiga aproveitar essa oportunidade para fazer diferente do que fez no passado. Agora, há preocupação também porque nossos governantes não têm uma boa visão de quão importante o cenário externo é. Aquilo que, efetivamente, no passado fez a América Latina perder o bonde foi não perceber que existe um componente fora do controle do país que está dando uma ajuda muito grande.
Em que medida os líderes políticos podem contribuir para melhorar a produtividade brasileira?
Giambiagi – Na nossa visão, os avanços necessários não vão decorrer de propostas que emanem do Legislativo. Ele possui contradições internas e tende a não ter essa visão geral do conjunto, que é mais natural do Executivo, que tem dentro de si a restrição orçamentária e está sujeito a demandas políticas e sociais de todo o tipo. Destacamos no livro quatro elementos que nos parecem fundamentais. Primeiro, é preciso ter uma visão de longo prazo: tomar medidas não pensando apenas nos próximos dois ou três anos, mas saber onde se deseja levar o país dentro de 30 anos. Segundo, a essa visão de longo prazo tem de estar associada a certa capacidade de tolerância. Obviamente, estamos numa democracia e todo o partido político busca se eleger.  Contudo, se todas as ações políticas forem guiadas única e exclusivamente pelo objetivo de vencer a próxima eleição, questões mais controversas nunca terão vez. Outro ponto importante é a capacidade de explicar as deficiências estruturais da nação à população. Nos últimos dois períodos de governo, tivemos dois comunicadores talentosíssimos. No caso de Fernando Henrique Cardoso, não tanto o presidente, mas sim o ministro da Fazenda que conseguiu explicar um plano maluco para as pessoas e assim garantir o êxito do Plano Real. No caso do ex-presidente Lula, nem se fala. O quarto elemento é a capacidade de articulação. No governo Dilma, por exemplo, houve o caso do salário mínimo em 2011, em que o governo conseguiu vencer no Congresso com sua proposta de reajuste real zero. Quando o governo fixa uma pauta e se empenha, tem boa chance de êxito.
Castelar  – O brasileiro, às vezes, tem a sensação de que o planeta está parado e que nós estamos andando. Na verdade, o mundo também está caminhando e ele já está na nossa frente. Em outros lugares estão andando muito rápido. Por isso, o que talvez soe como avanço pode ser pouco. Acho notável como as expectativas relativas ao que a Copa do Mundo vai deixar estão sendo cada vez mais desinfladas. Tudo aponta que ficarão apenas estádios de futebol novos.
Podemos dizer que essa crise da produtividade que o Brasil começa a enfrentar é o que se vê hoje também na Europa, com os países menos eficientes com dificuldade para resolver seus problemas?
Giambiagi – O que acontece é a confluência de três crises: uma fiscal, em função de má administração em alguns países; outra financeira, devido à situação dos bancos; e outra associada à insuficiência de se ter uma mesma moeda para regiões muito díspares – problema que já era conhecido, mas que se revelou mais dramático do que se supunha no lançamento do euro.
Castelar – Há sim um elemento de crescimentos díspares de custos unitários do trabalho. Na Alemanha, a produtividade cresceu bastante e os salários subiram pouco, ao passo que em alguns países da periferia europeia (Grécia, Portugal e Espanha, em especial) ocorreu o oposto. Com isso, esses países têm dificuldade de crescer exportando, pois não são competitivos. A falta de crescimento complica o problema fiscal e de crédito.

terça-feira, 3 de julho de 2012

MORRE SERGIO PININFARINA


Morre Sergio Pininfarina



Sérgio Pininfarina, designer que criou carros glamourosos para Ferrari, Cadillac e Fiat, morreu nesta terça-feira, aos 85 anos, em sua casa em Turim, na Itália
Foto: AP

Sérgio Pininfarina, designer que criou carros glamourosos para Ferrari, Cadillac e Fiat, morreu nesta terça-feira, aos 85 anos, em sua casa em Turim, na ItáliaAP
RIO - Morreu nesta terça-feira, aos 85 anos, o renomado designer de automóveis Sergio Pininfarina. Filho do fundador do famoso estúdio italiano, Battista Farina, Sergio foi apontado como um dos mais criativos projetistas da indústria automobilística, com desenhos assinados para as mais diferentes marcas de veículos.
Formado em engenharia mecânica, Sergio assumiu o comando da Carrozzeria Pininfarina em 1966. Por quatro décadas, desenhou carros considerados obras de arte sobre rodas. Suas “crias” mais famosas são para a Ferrari, da qual foi membro do conselho executivo durante 40 anos.
Modelos da marca italiana de esportivos, como F40, Enzo e Testarossa foram idealizados por Sergio. Mas a galeria do desenhista inclui outros carros emblemáticos, como Peugeot 406 Coupé, Alfa Romeo Spider e Maserati Quattroporte.
Sergio também foi figura atuante na política da Itália. Pelo Partido Liberal, se elegeu deputado do parlamento europeu no fim da década de 70 e foi nomeado senador vitalício italiano em 2005.
Em 2006, passou o cargo de CEO da Pininfarina para o filho Andrea, que morreu dois anos depois. Nesta época, a empresa começou a enfrentar problemas financeiros, agravados pela crise econômica de 2008. No ano passado a Pininfarina anunciou que abandonaria a fabricação própria de automóveis para se dedicar apenas a projetos de desenho e engenharia. Ele morreu em sua casa em Turim, na Itáliasobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/morre-sergio-pininfarina-designer-que-criava-carros-como-arte-5383337#ixzz1zcNrbPbW2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

O FANATISMOS DE ROUSEAU

“Ó Liberdade! Quantos crimes são cometidos em seu nome!” (Madame Roland, guilhotinada durante a Revolução Francesa) 

Isaiah Berlin dissecou diversos pensadores da era romântica, e um dos alvos preferidos foi Rousseau. Embalados pelos avanços nas ciências naturais, liderados por Newton, muitos filósofos do século XVIII aderiram a um discurso que apelava para a autoridade da “natureza” no que se refere às ciências sociais também. Sem essa linguagem nova e “científica”, as teorias sociais perdiam credibilidade. Rousseau foi o mais influente desses pensadores, e mereceu atenção especial nas análises de Berlin. Rousseau denunciava os falsos profetas, acreditava Berlin, porque eles usurpavam um direito que era só seu: “a natureza realmente falava, mas só ele ouvia sua voz clara e forte, e podia dizer aos outros como aprender a escutar e obedecer”. Tratava-se de um monopólio dos fins. Berlin desfere seu ataque fulminante: “Sua polêmica contra a babel de vozes que afirmavam falar em nome da natureza é arguta, divertida e convincente, até nos darmos conta de que ele é como o lunático que rejeita as pretensões de outros internos do hospício que dizem ser Napoleão porque ele próprio é Napoleão”. Alguns motivos do estrondoso sucesso do pensamento de Rousseau nas gerações seguintes, segundo Berlin, foram sua fala direcionada às emoções e seu estilo sentimental e até carregado de uma intensidade violenta. Seu escrito era demagogo, apaixonado. Rousseau declarou a Diderot que estava sufocado pela sofisticação corrupta das grandes cidades e pela tagarelice dos intelectuais. Ele recorria então à sabedoria das pessoas simples, como camponeses e crianças. Este discurso repetia aquilo que muito cristão deve ter dito antes dele, algo que se tornou lugar-comum depois. O “homem bom” era aquele mais distante dos avanços da civilização, eram os seres mais simples. A ignorância é uma bênção, sinônimo de pureza do coração. Isaiah Berlin tenta colocar Rousseau num divã imaginário para extrair possíveis traços psicológicos de sua personalidade. Ele não era um proletário, mas sim um membro característico da respeitável classe média baixa da Suíça, que “se afastou de seu meio e tornou-se um aventureiro boêmio sem ocupação fixa em revolta contra a sociedade, mas ainda com o temperamento e as crenças de um petit bourgeois provinciano”. Para Berlin, as investidas de Rousseau contra a aristocracia, o refinamento nas artes, a pesquisa científica desinteressada, era menos um grito por justiça do que a “desconfiança perene em relação à liberdade e à independência moral ou intelectual nutrida por certos representantes suspeitos da classe média”. A lupa de Berlin continua vendo melhor por trás do véu aparente de nobreza: “Rousseau é um sociólogo pobre, ou melhor, um sociólogo deliberadamente sem visão, que lançou areia nos olhos de muitas gerações ao representar como idílio rústico ou simplicidade espartana — a sabedoria imemorial da terra — o que de fato não passa de uma expressão daquela perspectiva burguesa e impregnada de consciência de classe das pequenas cidades, reconhecidamente numa condição anormal e doentia, que o fez peculiarmente consciente dos vícios e erros dos últimos dias de uma ordem feudal em derrocada e peculiarmente cego às deficiências daquela perspectiva social e daquelas idéias que seu gênio impetuoso tanto contribuiu para entronizar no seu lugar”. A vida em sociedade exige concessões, a liberdade não pode ser plena, absoluta, e algum tipo de compromisso utilitário se faz necessário. Não podemos ter tudo, sendo o homem o que é, e esta tem sido a visão da maioria dos reformadores de bom-senso. Mas Rousseau não poderia aceitar este “meio-termo”, esta contemporização. A revolta em Rousseau o leva a deificar a liberdade como “algo de tal ordem que corrompê-la é a suprema estultificação; qualquer tentativa de restringi-la, atingi-la, é um sacrilégio; o valor da liberdade é absoluto”. Enquanto alguns filósofos pensam em sacrificar parte da liberdade para ter ordem, ou vice-versa, Rousseau não admite sacrificar nenhuma das duas coisas. Ele precisa encontrar, portanto, uma solução, um ponto central, e somente um, no qual os desejos do indivíduo e as necessidades da sociedade coincidem com precisão, um ponto no qual a liberdade de um homem não entra em conflito com a liberdade de qualquer outro. Neste ponto, os homens escolhem livre e voluntariamente uma ordem rigorosamente determinada, e assim eles são plenamente livres e obedecem inteiramente às leis. A liberdade total se torna idêntica à conformidade total. Rousseau procura este ponto único “com a astúcia fanática de um maníaco”. Para diversos pensadores, a fronteira na qual a liberdade individual termina para dar legitimidade à autoridade constituída é mutável, depende de ajustes, compromissos, e sempre será imperfeita devido à própria imperfeição humana. Para Rousseau, a liberdade era um valor absoluto, ainda que tal conceito não fosse tão claro assim. Berlin faz uma analogia interessante, afirmando que “a liberdade humana era para ele o que a posse de uma alma imortal era para o cristão ortodoxo, e na verdade tinha um significado quase idêntico a seus olhos”. A solução encontrada por Rousseau para seu dilema está em seu “Contrato Social”, e se resume à doutrina da “vontade geral”. Para Berlin, ele a prega com “o peculiar fanatismo com que um homem propõe uma solução que descobriu por si mesmo, e com a intensidade quase lunática de um visionário um tanto maluco que demonstrou alguma solução cósmica de forma convincente por meio de alguma aritmética privada peculiar”. Os homens devem desejar livremente “aquilo que é a única coisa correta a desejar, e tal coisa deve ser igual para todos os homens justos”. O homem continua livre porque obedece a regras que não foram impostas de fora, mas impostas por ele mesmo, e ele acredita nelas. Não há mais um equilíbrio instável entre liberdade e ordem, com fronteiras incertas entre as duas, preservadas precariamente por instituições imperfeitas; liberdade e autoridade “não só não são incompatíveis, como em seu estado puro coincidem de forma total; são uma só e idênticas”. E se os homens agirem racionalmente, eles vão compreender isso, tal como Rousseau compreendeu. Quem objetar a esse tipo de libertação plena só pode ser irracional, incapaz de saber o que é liberdade verdadeira. Surge então a poderosa — e perigosa — ideia de que podemos forçar alguém a ser livre. Não existe espaço para discordância do que é adequado entre liberdade e conformidade, tampouco há tolerância com divergências ou compatibilidade com qualquer forma de empirismo. Os fins são racionais, apriorísticos, incontestáveis, e todo homem racional deve concordar com eles. Rousseau trata sua grande descoberta “como uma espécie de pedra filosofal que ele próprio encontrou, um adamo que transmuta todas as coisas em ouro, e a ela então se agarra com uma intensidade fanática”. Por cima de uma natureza perturbada, imaginativa e violentamente impressionável, ele joga a “camisa de força de um aparato lógico rígido, em cujos termos fingem formular argumentos de um tipo enganosamente claro, sistemático e racional”. Em suma, Rousseau é “um louco com um sistema”. E são inúmeros os seus herdeiros desde então, espalhando fanatismo ideológico seguido, muitas vezes, do sangue das vitimas inocentes sacrificadas no altar da busca utópica pelo modelo perfeito, pela liberdade plena.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O MAL E O CAPITALISMO

Para que se possa melhor compreender os atuais debates em torno das questões ambientais, com reflexos na vida das cidades e do campo, torna-se necessário compreender a mentalidade dos ambientalistas radicais. Em vez de ponderações científicas, observamos cada vez mais concepções de fundo religioso, em que os seus agentes, como uma espécie de profetas, defendem a sua causa de uma maneira absoluta. Argumentos científicos são cada vez mais relegados a segundo plano, embora, sob a forma do disfarce, esse tipo de ambientalista diz representar avanços científicos. O que está, na verdade, em questão é uma mentalidade teológico-política, em tudo avessa ao pensamento crítico. Vejamos os pontos estruturantes dessa mentalidade: a) o fim do mundo; b) os profetas; c) o mal; d) a salvação. O fim do mundo. Os ambientalistas radicais ou religiosos - o que é a mesma coisa - vivem anunciando o fim do mundo. Se não forem ouvidos ou atendidos, o planeta estará caminhando inexoravelmente para a catástrofe final, que já se anuncia nos dias presentes. O que falam: "Se vocês não nos ouvirem, o pecado ambiental os fulminará!" Um dos seus cavalos de batalha reside no anúncio do "aquecimento global", que estaria produzindo resultados que confirmariam suas profecias. Curioso nesse caso é que exercem tal influência sobre a opinião pública que nenhuma contestação é autorizada, principalmente as científicas. Tornou-se "normal" falar do aquecimento global planetário como se fosse uma verdade inconteste. Quem discorda é anatematizado. Cientistas que defendem essas posições, também chamados ecocéticos, têm, mesmo, dificuldades em publicar seus artigos. Os ecorreligiosos procuram, de todas as maneiras, fazer valer as suas posições. Em entrevista ao jornal O GLOBO (20/6/2012), Richard Lindzen, cientista renomado do MIT, antes defensor das previsões alarmantes do aquecimento global, contesta atualmente esse catastrofismo, tendo se tornado um ecocético, ou seja, assumindo posições propriamente científicas. Entre outros pontos, assinala que não houve um aquecimento significativo nos últimos 15 anos e, desde 1995, a temperatura média global do planeta pouco variou. No entanto, os anúncios proféticos do aquecimento global não cessam, embora não exista aquecimento que conduza ao anunciado desastre final. Profetas. Nos últimos 150 anos, a temperatura média global variou entre 0,7 e 0,8 grau Celsius, o que invalidaria qualquer catastrofismo. No entanto, os profetas do fim do mundo continuam com previsões cada vez mais sombrias. Essas previsões são incessantemente desmentidas pelos fatos, porém sempre inventam novas, com supostos aquecimentos progressivos que tornarão o planeta inabitável em poucas décadas. Em um curto espaço de tempo, catástrofes naturais tomariam conta do mundo. Não houve nenhuma grande catástrofe natural, mas seus anúncios apocalípticos continuam. A mentalidade religiosa reveste-se, contudo, de uma roupagem científica. Agem religiosamente e, de acordo com a concepção moderna, procuram lhe conferir um ar de cientificidade. O mal. Note-se que essas previsões do desastre final têm um foco determinado, um objetivo que estrutura sua ação política: o capitalismo. Ou seja, o fim do mundo é consequência do pecado, do fato de as pessoas viverem e agirem segundo os valores de uma sociedade baseada na economia de mercado, no direito de propriedade e no ganho, denominado pejorativamente de lucro. Os ecorreligiosos estruturam-se em ONGs nacionais e internacionais respaldadas militantemente pelos movimentos sociais. Observe-se que esses, por exemplo, são apoiados, inclusive organizativamente, pela Igreja Católica e, em menor medida, pela Luterana. No Brasil, a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) verbalizam, mesmo, essa postura profética, advogando pela eliminação da propriedade privada como o grande mal. O MST e organizações afins seguem a mesma posição. A propriedade privada e a economia de mercado seriam responsáveis pela pobreza e pelo desastre ambiental. Uma vez o capitalismo eliminado, o mal extirpado, o fim do mundo não se consumaria, e o socialismo/comunismo ocuparia o seu lugar. A catástrofe ambiental, o apocalipse, seria evitada. Note-se que símbolos do mal são o agronegócio e a produção de energia. As lutas desses ambientalistas e movimentos sociais estruturam-se segundo essas bandeiras. Na verdade, pretendem aumentar a pobreza com alimentos mais caros, que poderia tornar a vida humana insustentável no planeta. Querem que se produza menos, quando há mais bocas no mundo para serem alimentadas. Defendem uma energia mais cara, combatendo Belo Monte, que oferecerá energia renovável e barata. Posicionam-se contra as plantações de cana-de-açúcar e a produção de etanol, outro exemplo de energia renovável. Os ecorreligiosos têm também a versão dos ambientalistas chiques, que adotam essas posições em nome do politicamente correto. Gostam de aparecer como corretíssimos, em seus carros poluidores, utilizando celulares e vivendo em grandes apartamentos e mansões. Não deveriam ler jornais nem livros, nem utilizar papéis de qualquer espécie, pois são feitos de celulose, oriunda de florestas plantadas. Não se esqueçam que o agronegócio é símbolo do mal. Salvação. A salvação está, no entanto, à mão de todos os que seguirem os profetas. Basta lutar contra o capitalismo, desrespeitar a propriedade privada, organizar-se militantemente contras as hidrelétricas, invadir grandes propriedades, pois, assim, o novo mundo estará ao alcance de todos. Outro mundo é possível, eis o lema que é a todo momento realçado. Todos os habitantes do planeta deveriam se dispor à conversão para a vida simples e primitiva, aquela que ganha, inclusive, a forma utópica - e falsa - da solidariedade originária. Abandonem a civilização e nos sigam: nós somos o caminho, a floresta originária o destino. DENIS LERRER ROSENFIELD é professor de filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

SEM ESCOLA, NÃO HÁ CIDADANIA

A política é a média cívica de um povo: quanto mais alta, maior a consciência democrática; quanto mais baixa, menor o apreço republicano. Não há dúvida de que os costumes nacionais estão sofrendo com dura invernada; quando pensamos que chegamos ao limite do tolerável, a audácia do abuso faz com que as cercas caminhem durante a madrugada. E, de garrote em garrote, a honra vai sendo usucapida pela contumácia da imoralidade. A degenerescência ética é tamanha, que o malufismo foi regenerado das cinzas, vindo a merecer foto colorida em ambiente de festa. Ora, o exemplo paulistano é claro indicativo de que, no atual jogo político, vale tudo, mesmo que o “tudo” seja um nada moral. Ou seria um tudo imoral? Enquanto a resposta não chega, precisamos ir adiante. Apesar de todas as agruras e dificuldades, este é o país que temos que ajudar a consolidar os preceitos de uma nação verdadeira. E não existe formação cívica sem Ensino Fundamental. Daí o porquê de termos que investir urgentemente em escolas e valorizar o trabalho dos professores. Afinal, a escola é um lugar santo, capaz de levar o milagre do afeto a crianças que não tiveram a graça de um lar com amor. Na escola, se aprende a amizade, o dever de respeitar o mestre e a responsabilidade de fazer a lição. Nesse ambiente construtivo, a criança vai compreendendo gradativamente a complexidade da vida para que, lá na frente, tenha condições de colaborar para um mundo melhor e uma humanidade mais digna. A escola pública foi demolida no Brasil. Em questão de décadas, a arte de ensinar foi reduzida a pó, e o professor condenado a um salário aviltante. O inacreditável dos fatos é que a escola pública foi demolida no Brasil. Em questão de décadas, a arte de ensinar foi reduzida a pó, e o professor condenado a um salário aviltante. Nesse clima de arrocho, o aluno foi esquecido e o futuro da criança tornou-se opaco. Por que e para quê? Será que o país ficou mais sábio com a desestruturação do ensino público? Ou será que a intenção era a de justamente proliferar a miséria da ignorância para que o povo pense que a urna é uma cartola para tirar coelhos? Afinal, quanto menor o espírito crítico de um cidadão, mais fácil se torna manobrá-lo, fazendo do embuste um instrumento de acesso ao poder. Aqueles que tiveram a sorte e a graça de pais com condições podem, naturalmente, buscar o socorro do ensino privado. Sabidamente, no entanto, a via privada é exceção, sendo um primeiro dever dos governos resgatar imediatamente a dignidade do ensino público. O problema é que fazer escola nem sempre dá voto, pois o saber desnuda a mentira dos demagogos. Eis a sinuca de bico da democracia brasileira: apenas temos projetos eleitorais passageiros, mas não temos um ideal permanente de nação. Nesse contexto, a política enterra e só o ensino é capaz de salvar. Investir na criança é acreditar no milagre da vida, pois educar é construir um futuro melhor. Mas será que para a política o melhor não é o pior? Por: Sebastião Ventura Pereira Da Paixão Jr Fonte: Zero Hora, 28/06/2012