domingo, 23 de setembro de 2012

A FOLIA DO "BEM HELICÓPTERO"


Ben Bernanke provavelmente passará à história como o homem que teve a coragem de testar uma teoria além dos limites do razoável.

Estudou nos livros de Milton Friedman, quem mais investigou os efeitos positivos ou perniciosos das emissões de dinheiro na economia. E, como aluno destacado, está agora testando na prática o que antes era apenas uma hipótese de trabalho acadêmico. Friedman descreveu o processo inflacionário pela imagem radical de um helicóptero pairando sobre uma comunidade isolada em que a aeronave despeja uma grande quantidade de dinheiro para quem quiser pegar e usar. Evidentemente, o resultado final dessa história de ficção econômica é a inflação de todos os preços naquela comunidade.

Bernanke está disposto a testar a teoria do helicóptero de Friedman na vida real e muito além do limite razoável. A comunidade fictícia de Friedman passou a ser o território americano e o mundo. Meu professor em Chicago, Friedman descreveu a teoria do helicóptero num contexto em que buscava uma regra de ouro para a quantidade ótima de emissão de dinheiro numa economia de características simplificadas e sem sistema bancário alavancando a moeda básica emitida. Bernanke, ou "Ben Helicóptero", agora quer testar os limites da emissão descontrolada de dinheiro pelo Fed. Alguma chance disso dar certo? Por algum tempo, a impressão será que isso pode até funcionar bem.

A folia de Bernanke é querer reduzir a qualquer custo o nível de desemprego fazendo as pessoas gastarem mais. Para isso, ele recorre ao truque de gerar riqueza artificial, emitindo mais dinheiro, cuja circulação provocará de imediato uma alta de todos os preços de ativos expressos em dólares, pois os bancos venderão a Bernanke seus créditos problemáticos de hipotecas e irão à luta comprando tudo que seja especulativo, de fundos de commodities a papéis em bolsas, a moedas de países considerados seguros, imóveis e objetos raros ou exóticos, inclusive petróleo, trazendo elevação do custo de vida para o americano médio. Isso quebrará parte do efeito de sensação de aumento de riqueza que o pirotécnico Ben gostaria de provocar.

Aliás, você deverá estar se perguntando qual aumento de riqueza, afinal, Bernanke pretende se, tudo somado, ninguém terá ficado mais rico ou menos endividado. Só haverá mais papel pintado de dinheiro circulando na praça. De fato, o efeito de aumentar riqueza e bem-estar mediante emissões é temporário e quase sempre ilusório. Quando o entorpecimento provocado pela euforia da liquidez começa a cessar e a música para de tocar, nunca há cadeiras para todos se sentarem. Alguns perceberão que ficaram até mais pobres e que o dinheiro sem lastro é o culpado.

Nessa hora, sobrevirá a inflação e seus efeitos deletérios. Não sabemos se Bernanke ainda estará no cargo quando os desdobramentos finais de suas experiências inéditas acontecerem. Um economista raramente responde por seus atos. Muito menos em tribunais, por crimes cometidos contra o patrimônio ou a segurança pública. Os economistas têm a imunidade concedida aos comprovadamente loucos. Assim foi nos 20 anos de megainflação no Brasil. Nos EUA, não será diferente. Se fosse, o antecessor de Bernanke também estaria, hoje, respondendo a processo. Por: 
Paulo Rabello de Castro - BRASIL ECONÔMICO

MR. M. APRESENTA. A NOVA CLASSE MÉDIA

A imprensa estampou a incrível notícia: Mais de 100 milhões de brasileiros, ou seja, mais da metade da população já fazem parte da classe média. O estudo “Vozes da classe média”, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, divulgou os dados para o espanto de muita gente.


Há só um pequeno detalhe: a pesquisa classifica como classe média os que vivem em famílias com renda per capita mensal entre R$ 291 e R$ 1.019 e tem baixa probabilidade de passar a ser pobre no futuro próximo. É isso mesmo. O leitor não está enganado. Para o governo, classe média é um casal sem filhos que ganha R$ 582 mensais, ou seja, menos até do que um salário mínimo!

Segundo o IBGE, o rendimento mensal domiciliar per capita do Brasil era R$ 668 em 2010. O Distrito Federal, oásis dos políticos, é o lugar mais rico, com renda per capita de R$ 1.404. O estado mais pobre, feudo particular dos Sarney, tinha renda per capita de R$ 319.

Ou seja, o governo diz que pertence à classe média brasileira qualquer um que ganha menos de um terço da média do rendimento nacional. O leitor entendeu? É da classe média qualquer um que recebe 70% do rendimento médio do estado mais pobre do país, o Maranhão. Não é incrível?

Não bastasse essa “mágica”, há outra: aproximadamente 80% dos novos integrantes da classe média brasileira são negros. Como o diabo está nos detalhes, eis o truque: pardo é negro! Como 40% dos brasileiros miscigenados se declaram pardos, eis que, em um passe de mágica, a maioria que entrou na nova classe média é de negros!

São coisas que só vemos no Brasil mesmo. O Mr. M. deveria ser convocado pelo governo para as Olimpíadas. Bastaria reduzir pela metade a distância da corrida dos 100 metros dos brasileiros que não teria Bolt que pudesse levar o nosso ouro. É só correr 100m em 50m! E, para o leitor, fica esta ótima notícia para o fim de semana: se você ganha mais de R$ 1.020 mensais, você é membro da classe alta brasileira! Você era rico e nem sabia... 
Por: Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

GRITOS PRESIDENCIAIS NÃO OCULTAM FRACASSOS


A oposição viu em Dilma uma estadista que até romperia com Lula. Era fantasia. Lá está ela, demitindo ministro para ajeitar eleição, economia pífia ao fundo.

O sonho acabou. Sonho ingênuo, registre-se. Durante quase dois anos, a oposição -quase toda ela- tentou transformar Dilma Rousseff em uma estadista, como se vivêssemos em uma república. Ela seria mais "institucional" que Lula. Desejava ter autonomia e se afastar do PT. E até poderia, no limite, romper politicamente com seu criador.


Mas os fatos, sempre os fatos, atrapalharam a fantasia construída pela oposição -e não por Dilma, a bem da verdade.

Nunca na história republicana um sucessor conversou tanto com seu antecessor. E foram muito mais que conversas. A presidente não se encontrou com Lula para simplesmente ouvir sugestões. Não, foi receber ordens, que a boa educação chamou de conselhos.

Para dar um ar "republicano", a maioria das reuniões não ocorreu em Brasília. Foi em São Paulo ou em São Bernardo do Campo que a presidente recebeu as determinações do seu criador. Os últimos acontecimentos, estreitamente vinculados à campanha municipal, reforçaram essa anomalia criada pelo PT, a dupla presidência.

Dilma transformou seu governo em instrumento político-eleitoral. Cada ato está relacionado diretamente à pequena política. Nos últimos meses, a eleição municipal acabou pautado suas ações.

Demitiu ministro para ajeitar a eleição em São Paulo. Em rede nacional de rádio e televisão, aproveitou o Dia da Independência para fazer propaganda eleitoral e atacar a oposição. Um telespectador desavisado poderia achar que estava assistindo um programa eleitoral da campanha de 2010. Mas não, quem estava na TV era a presidente do Brasil.

É o velho problema: o PT não consegue separar Estado, governo e partido. Tudo, absolutamente tudo, tem de seguir a lógica partidária. As instituições não passam de mera correia de transmissão do partido.

Dilma chegou a responder em nota oficial a um simples artigo de jornal que a elogiava, tecendo amenas considerações críticas ao seu antecessor. Como uma criatura disciplinada, retrucou, defendendo e exaltando seu criador.

O governo é ruim. O crescimento é pífio, a qualidade da gestão dos ministros é sofrível. Os programas "estruturantes" estão atrasados. O modelo econômico se esgotou.
Edita pacotes e mais pacotes a cada quinzena, sinal que não tem um consistente programa. E o que faz a presidente? Cercada de auxiliares subservientes e incapazes, de Lobões, Idelis e Cardozos, grita. Como se os gritos ocultassem os fracassos.

O Brasil que ainda cresce é aquele sem relação direta com as ações governamentais. É graças a essa eficiência empresarial que não estamos em uma situação ainda pior. Mas também isso tem limite.

O crescimento brasileiro do último trimestre, comparativamente com os dos outros países dos Brics (Rússia, Índia e China) ou do Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), é decepcionante. E o governo não sabe o que fazer.

Acredita que elevar ou baixar a taxa de juros ou suspender momentaneamente alguns impostos tem algum significado duradouro. Sem originalidade, muito menos ousadia, não consegue pensar no novo. Somente manteve, com um ou outro aperfeiçoamento, o que foi organizado no final do século passado.

E a oposição? Sussurra algumas críticas, quase pedindo desculpas.
Ela tem no escândalo do mensalão um excelente instrumento eleitoral para desgastar o governo, mas pouco faz. Não quer fazer política. Optou por esperar que algo sobrenatural aconteça, que o governo se desmanche sem ser combatido. Ao renunciar à política, abdica do Brasil.

MARCO ANTONIO VILLA, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

UMA ANATOMIA DA LOUCURA DE LULA



Os deuses primeiro tiram a razão daqueles a quem querem destruir. “Quos volunt di perdere dementant prius.” Já lembrei aqui este adágio latino a Lula, mas ele, claro!, não me ouve. No que, do seu ponto de vista, faz muito bem! Se ouvisse, creio que não teria sido eleito presidente da República, porque eu, por óbvio, teria reprovado, como reprovo, os métodos a que recorreu para construir seu partido, para se eleger e para se manter no poder. E é assim não é de hoje — desde quando, ainda bem jovem, rasguei a minha filiação, apostando que ele chegaria ao poder. Foi quando criei a expressão “burguês do capital alheio” (eu ainda era de esquerda) — e, aí sim, tive uma antevisão: não será bom para as instituições e para a verdade dos fatos.

Em seus oito anos de mandato, Lula já havia depredado a história o bastante. Um dia, creio, a onda estupidificante petista na academia reflui, e se poderá, então, serenamente, narrar o que se deu. De todo modo, o Apedeuta encerrou seus oito anos de poder elegendo sua sucessora, o que é uma conquista e tanto. Uma aposentadoria política digníssima se lhe afigurava, com o mito relativamente preservado. MAS NÃO! O DIABO É QUE, NA CABEÇA DE LULA, SUA OBRA ESTÁ INCOMPLETA.

Ainda há no Brasil, vejam que ousadia!, quem lhe faça oposição intelectual — não me refiro aos partidos, não! — e quem não esteja disposto a se ajoelhar a seus pés. Ainda há no Brasil setores que ele considera recalcitrantes, que merecem a pecha de “golpistas” porque ousam não concordar com ele. Ainda há no Brasil, por exemplo, uma imprensa livre também no espírito, não apenas na letra da lei. Se o PT foi malsucedido no seu esforço de criar um mecanismo de censura, sabe, no entanto, que foi muito bem sucedido em tornar influentes alguns de seus valores, hoje bovinamente repetidos por franjas engajadas também da grande imprensa. Há dias, li em dois grandes jornais textos de “analistas” que afirmavam, por exemplo, literalmente, que “ninguém ganha com a guerra entra bandidos e polícia em São Paulo”. Ainda preciso escrever um texto só sobre esse assunto. Imaginem vocês… Quando alguém escreve essa enormidade, está a igualar os dois lados da suposta “guerra”, vislumbrando, então, a necessidade de uma “pax”; o que se está a pedir é uma solução negociada com os… bandidos! Mas não quero me desviar do foco.

Lula poderia estar exercendo dignamente o seu papel de ex-presidente — ele prometeu, como sempre, ser muito melhor do FHC nisso também… É o que vemos? Não! Dias antes de encerrar seu mandato, anunciou que ele próprio investigaria essa história de mensalão, sustentando ser uma grande tramoia da oposição. Passou a se articular freneticamente nos bastidores para impedir que o Supremo Tribunal Federal cumprisse seu papel. No encontro com um ministro, falou abertamente a língua da chantagem. Conversas de Marcos Valério, reveladas por reportagem de VEJA, informam que aquele que sempre esteve no controle do mensalão (segundo o publicitário), dava garantias que só poderiam sair da boca de um tirano. O Supremo estaria no bolso.

Em associação com José Dirceu e com outros “duros” do PT, armou a CPI do Cachoeira não para investigar falcatruas — o que seria meritório; mas está aí a Delta, protegida pelos petistas —, mas para intimidar a oposição e, de novo!, a imprensa. Lula apostou tudo na comissão. Era o seu bilhete premiado para as eleições de 2012 e de 2014! Não haveria de sobrar pedra sobre pedra dos oposicionistas, da imprensa livre, da Procuradoria-Geral da República — lembrem-se de que Collor foi o escalado para atacar Roberto Gurgel — e do próprio Supremo.

Dos bastidores, chegavam os ecos trevosos: “Não haverá julgamento! Isso irá para a 2013 e, de 2013, para nunca mais!”. Ao mesmo tempo, ainda que a presidente Dilma negue (e ela nega), o seu próprio governo passou a entrar no radar do lulismo. O Apedeuta não concordava com a ideia de uma “faxina ética”, na qual a presidente surfou. Isso fazia parecer que seu governo era condescendente (ora vejam!) com a corrupção.

O Babalorixá de Banânia, como sabem, havia prometido “desencarnar”, para empregar o verbo a que ele próprio recorreu, mas quê… Foi tomado, assim, por uma espécie, se me permitem, de paixão carnal do espírito. A história política de Lula também poderia ser contada a partir dos seus ódios. E poucos são capazes de odiar como ele. Ao longo de sua trajetória política, à diferença do que muitos pensam, não liquidou apenas adversários políticos, não! Também destruiu aliados. Para tanto, bastava-lhe ser contrariado. E, como ninguém, soube, desde os tempos de sindicato, usar as falhas alheias e as circunstâncias em benefício próprio e na construção de sua própria mitologia.

Lula poderia, reitero, estar curtindo a sua aposentadoria, mesmo depois do drama pessoal que viveu com a doença — e até por isso também —, mas ele não se entende fora do poder e da disputa pelo poder. Reparem que passou oito anos demonizando FHC, usando a estrutura do estado para atingir a reputação do antecessor. Como nunca, vimos uma máquina de publicidade oficial dedicada de modo contumaz à mentira. Lula tem menos prazer em vencer do que em derrotar o outro. Isso distingue, devo lembrar, um governante virtuoso de um tirano. E Lula só não é esse tirano porque as instituições que herdou não lhe permitiram. Ele as depredou e infiltrou nelas germens do mal — inclusive no Supremo —, mas não conseguiu subordiná-las a suas vontades.

Enlouquecendo
Tentou fazer da CPI a razia final contra o que resta de oposição e contra a imprensa. Não deu! Tentou destruir a reputação do procurador-geral da República. Não deu. Tentou macular a independência do Supremo. Não deu. Tentou se construir como a alternativa a Dilma (“caso ela não queira disputar a reeleição”, ele sugeriu…). Não deu. Tentou impedir o julgamento dos mensaleiros. Não deu. Tentou criar uma mentira sobre aqueles fatos escabrosos. Não deu. Tenta agora eleger Fernando Haddad em São Paulo para ter como chantagear depois o próprio governo Dilma. O jogo não está jogado, mas está difícil. Sai Brasil afora a vociferar contra candidatos a prefeito de partidos de oposição, numa espécie de guerra santa desesperada contra os dragões da maldade. O resultado, por enquanto ao menos, não é muito animador. Ainda que seu projeto paulistano dê certo — não parece que vá —, o PT pode sair dessa disputa municipal menor do que entrou.

E eu ousaria dizer que o principal culpado pelas dificuldades que o partido passou a enfrentar é Lula. Acostumado a jamais ser contestado — e pobre daquele que a tanto ousar —; incensado como dotado de uma intuição genial, que lhe teria sido transmitida pelo leite materno por mãe nascida analfabeta (a minha já nasceu citando Schopenhauer no original…); aplaudido por gente como Marilena Chaui como aquele que, ao falar, ilumina o mundo; recentemente reverenciado por Marta Suplicy como o próprio “Deus” (nada menos!), Lula foi perdendo a razão, caminho certo para a autodestruição.

É claro que ele não vai acabar. Continuará a ser uma pessoa influente na política e no PT por muito tempo. Mas é o mito que passa — e, nesse particular, sua loucura é um bem para o país — por um processo acelerado de corrosão. Talvez ainda se elegesse presidente no primeiro turno (em São Paulo, quem está na frente é Russomanno, afinal…), mas são as suas virtudes demiúrgicas junto a setores influentes da política que estão se esfarelando.

Lula errou feio. Errou quando decidiu emparedar o Supremo. Errou quando decidiu emparedar a imprensa livre. Errou quando decidiu usar uma CPI como instrumento de vingança. Errou quando decidiu que basta mandar para o eleitor obedecer. Errou quando decidiu ser um condestável da República, disputando influência com a própria presidente da República.

Errou feio, em suma, quando acreditou que, de fato, era Deus. E ele é apenas um homem, mais falível, em muitos aspectos, do que a esmagadora maioria. Afinal, o destino lhe sorriu e lhe foi dado governar um país por oito anos. Poderia ter seguido seu antecessor num particular: entregar instituições mais sólidas do que encontrou. Ele preferiu depredá-las de forma sistemática, contínua e dedicada.

Lula, quem diria?, ainda será o melhor biógrafo de Lula. A ambição desmedida do homem acabará por revelar os pés de barro do mito.Por Reinaldo Azevedo

O CHEFE DO MENSALÃO




O chefe do mensalão só poderia ter sido o mandão que sempre se meteu em tudo


Autoritário desde a infância, espaçoso desde a adolescência, mandão desde sempre, Lula só faz o que lhe dá na telha, só ouve quem lhe convém e só consulta os que estão prontos para dizer amém. Sozinho, o presidente de sindicato escolhia os parceiros de diretoria, negociava com os patrões, decretava o começo ou o fim da greve. Sozinho, o dono do PT decidiu que o vermelho seria a cor e a estrela seria o símbolo da seita, escolheu os fundadores do clube, distribuiu as carteirinhas de sócio, confiscou-as quando bem entendeu, promoveu-se a presidente de honra e, depois, nomeou-se candidato perpétuo ao Palácio do Planalto.

O presidente da República montou o ministério à sua imagem e semelhança, empregou e demitiu quem quis, intrometeu-se em assuntos que mal conhecia ou ignorava completamente, elegeu novos amigos de infância, afastou-se de velhos amigos da mocidade, proclamou-se consultor-geral das nações em crise e virou conselheiro do mundo.O ex-presidente é o mais feliz dos portadores da síndrome de Deus. Dá ordens à sucessora, indica ministros, dá palpites na economia, elogia o Brasil Maravilha de cartório, interfere na escalação do Corinthians e negocia a construção do Itaquerão. Fora o resto.

Desde o começo do ano, entre um ataque a FHC e um pontapé em José Serra, o Lula palanqueiro escolhe candidatos a prefeito, vereador ou síndico. Fechou negócio com Paulo Maluf, aposentou Marta Suplicy por antiguidade, botou na cabeça que Fernando Haddad deve governar São Paulo, arrumou confusão com o PSB, decidiu que Humberto Costa será o derrotado no Recife e Patrus Ananias merece naufragar em Belo Horizonte. Pelo andar da carruagem, o PT amargará o maior fracasso eleitoral desde a fundação. E nem assim os companheiros ousam discordar do intuitivo genial.

Quem manda é ele, o oráculo infalível, o guia incomparável, o Cara. Por isso se mete em tudo e deve ser ouvido por todos. É sempre dele a última palavra. Sem o aval do mestre, nada deve ser feito. No caso do mensalão, por exemplo, ele decidiu o que o Executivo e o Legislativo deveriam fazer para livrar da cadeia os culpados. E avisou que cuidaria de enquadrar os ministros do Supremo.

Não deu certo, comprovam a fila dos condenados e as revelações de Marcos Valério divulgadas por VEJA. O Lula retratado pelo diretor-financeiro do bando não surpreendeu ninguém. Assombrado pela roubalheira sem precedentes, ele continua fingindo que, pela primeira vez na vida, não soube de nada, não se envolveu em nada, não lhe contaram nada. Nem desconfiou do que ocorria na sala ao lado.

Conversa de gente com culpa no cartório. Quem o conhece sabe que, como sempre, também no esquema do mensalão o chefe foi Lula.Por: Augusto Nunes

COTAS: BELAS INTENÇÕES. RESULTADOS PERVERSOS


Antes que o leitor fique indignado e pule o artigo, por favor leia.


Sou a favor de políticas compensatórias para várias corrigir várias iniqüidade, sejam elas de passado remoto ou recente.

Governos, em geral tomam as piores decisões porque, quando o fazem, pensam a curto prazo, não analisam as consequências de médio e longo prazos, nem olham para os problemas com lentes do tipo “grande angular,” para ver quem vai de fato ser beneficiado ou prejudicado. Isso nos ensinou Henry Hazlitt em “Economia em uma lição”.

Tomam decisões ruins, também porque como o governo e os políticos nada produzem, apenas gastam o dinheiro dos outros (nosso), não importam nas decisões dele, nem o preço das decisões, nem a qualidade dos resultados da decisão. Isso nos ensinou Milton Friedman. A rigor, o único resultado que importa para os políticos é o resultado das próximas eleições. Para os burocratas que implementam as políticas só importam garantir o emprego e ter mais verbas.

Agora vai o desafio à sua criatividade. Depois que você terminar de ler o artigo, por favor me mande suas sugestões para resolver o problema e evitar os resultados perversos que vou apontar a seguir.

As universidades brasileiras estatais (vamos parar de chamá-las de públicas, por favor) até recentemente só admitiam alunos de classes média e alta, porque negros e pobres não tinham tido um ensino primário e secundário de boa qualidade.

O racismo e a discriminação social eram perfeitos: cortavam pobres, negros, índios, etc., na entrada da escola secundária. Como uma vez me disse um coronel negro do exército: “O racismo brasileiro é perfeito. Ele não precisa de lei. Corta na raiz.”

Pois bem, apesar disso tudo muitos negros e pobres foram, ao longo de muitas décadas e muito sacrifício, conseguindo passar do corte pela raiz e chegaram à porta da universidade, que estava, social e educacionalmente, fechada através do regime de vestibular (que justficava sua razão de existir porque havia mais candidatos do que vagas).

Agora vamos para a lente grande angular e mais complicada: quando havia poucos automóveis no Brasil (e poucas motos), o transporte público dos bairros ricos e de classe média era razoavelmente bom. O dos bairros pobres era ruim.

As escolas públicas primárias e secundárias sofriam do mesmo mal, se suas clientelas, por causa da localização, eram ricas e de classe média as escolas eram boas. Se eram para pobres as escolas eram ruins.

Virtudes privadas, vícios públicos: ainda que muitas pessoas limpa e honestamente se declarassem não racistas e não discriminatórias contra os pobres, no coletivo elas agiam como racistas e discriminadoras.


Como as sociedades politicamente democráticas que deixam o capitalismo funcionar, mesmo que só um pouco, como é o caso do Brasil, gradualmente, pobres e negros foram conseguindo passar da raiz, chegaram ao fim de seus cursos nas escolas secundárias. Que aconteceu? Começaram a entrar para as universidades. Primeiro, alguns conseguiam passar no vestibular. Depois, graças à política de cotas, passaram a entrar para as universidades. Resultado: os filhos dos ricos e da classe média começaram a abandonar as faculdades públicas. Que, como “viraram coisas para pobre” começaram a ser abandonadas não só pela clientela, mas também pelos governos.

O resultado financeiro para os ricos foi significativo. Antes não precisavam preocupar-se com pobres e negros na universidades estatais que eram gratuitas. Quando passaram a querer soluções educacionais de não compartilhamento nas universidades, passaram a ter que pagar pelo ensino universitário privado. Foi uma grande pancada numa das políticas mais regressivas dos governos brasileiros que garantiam ensino universitário grátis desde que o cidadão passasse no vestibular. Como passaram a entrar pessoas que não eram necessariamente “desejáveis,” do ponto de vista dos alunos de classes média e alta, estes começaram a buscar soluções nas universidades privadas e pagas.

Governos são maus, sempre. Não importa que governantes sejam bons individualmente. Como grupo, eles são maus porque não pensam nos resultados dos seus atos. Resultado, as universidades privadas começaram seletivamente a melhorar e as universidades públicas começaram a piorar (nem todas, justiça seja feita).

Por que aconteceu isso? Porque tudo o que é governamental e é para pobre é abandonado e torna-se ruim. Este é um fato da vida.

Com o transporte público aconteceu a mesma coisa. Com o crescimento da indústria automobilística o transporte público os ricos e a classe média passaram a usar o carro e o transporte público, como era para pobre piorou, dramaticamente.

E não há razão para imaginar que nas universidades vai ser diferente. A discriminação começa com os professores, que apesar de se dizerem ‘progressistas” não querem dar aulas para pobres e negros porque dizem que o rendimento não é o mesmo.

No caso das novas filiais de universidades estatais que estão sendo abertas em bairros pobres, as vagas de professores estão sendo preenchidas por professores novos e recém admitidos, porque os velhos professores preferem ficar encastelados nas suas confortáveis posições, nas sedes antigas,

Os pobres moram em bairros diferentes dos ricos. Em São Paulo e Brasília, isso é absolutamente claro. No Rio, os morros e as favelas cuidaram da exceção à regra. Pobres e ricos moram no mesmo bairro (mas em espaços diferentes).

Olhe o rabo da porca torcendo novamente: os professores antigos não querem sair de seus bairros confortáveis e engarrafar-se por horas a fio para chegar aos alunos em campi mais remotos e em zonas mais pobres. Então começam as crueldades da organização social. Como estão entrando muitos pobres e negros nas universidades estatais, ainda que eles estejam se saindo bem academicamente, estão incomdando a classe média e os ricos, mas têm mais dificuldades de acesso aos professores mais experientes porque estes preferiram evitar o contato com pobres e negros (porque os pobres e negros tendem a ir para os novos campi em áreas de baixa renda, porque é mais perto de onde moram os pobres).

Outra novidade: Empresas da área educacional estão abrindo mais e mais faculdades e universidades para atender a uma demanda crescente e naturalmente está concorrendo uma seleção econômica. Algumas destas estão melhorando sua qualidade (que desmente o mito brasileiro que faculdade particular tem que ser ruim) para atender aos ricos e à classe média que querem uma educação melhor e que “apostam”que a educação junto com os pobres e negros não será tão boa.

As pessoas são malvadas por fazerem isso? Não. Individualmente são boas, mas no agregado agem de maneira socialmente cruel.

Brasília, planejada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer é o maior exemplo brasileiro da falência da engenharia social de esquerda.

Já na construção criaram cotas. Nas superquadras morariam, juntos, ricos, médios e pobres. Os prédios foram construídos e distribuídos com este critério e para isso. Os prédios dos pobres eram menores, mais mal acabados, mais baixos e sem elevador. Os dos médios e dos ricos eram o inverso: maiores, mais bem acabados e com elevadores.

Em Brasília houve, no início, uma inversão da maldade intrínseca do projeto (de autoria de arquitetos e planejadores “de esquerda”). O pobres, rapidamente, perceberam que seus apartamentos, apesar de menores e piores tinham um valor maior por serem vizinhos imediatos dos ricos, passaram os apartamentos nos cobres e foram morar em casas mais confortáveis, mais longe da cidade. Ganharam no dinheiro, mas perderam tempo e conforto no transporte público escasso e ruim. Mas foi uma escolha deles.

Assim meu caro leitor, reafirmo que sou a favor de políticas compensatórias, só não sei se as cotas são a solução.

Apesar de não me cansar de dizer que devemos sempre ter medo de pessoas bem intencionadas, sobretudo quando em grandes grupos e, mais ainda, quando no governo, faço um apelo para mais ideias, criativas sobre o tema. Acredito na sabedoria de muitas pessoas bem intencionadas – fora do governo – para ajudar-me a encaminhar soluções para o problema. Não prometo resultados. Mas com mais ideias, talvez me torne mais sábio.

Por: Alexandre Barros    OrdemLivre.org

VITÓRIA DA ALEMANHA




A sorrateira e despercebida vitória da Alemanha sobre o Banco Central Europeu


eurozone-germany.jpg
Na primeira semana de setembro, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou aquilo que vários ao redor do mundo esperavam que ele anunciasse: um plano que permitiria ao Banco "fazer todo o necessário" para dar sustentação ao euro. Sem nenhuma surpresa, as bolsas nos EUA e na Europa subiram vigorosamente em decorrência da sensação de que o BCE havia finalmente se juntado em definitivo ao Fed para que ambos coordenassem seus esforços de reflacionar suas respectivas economias por meio de uma infinita criação de dinheiro. 

Vários analistas e comentaristas econômicos saudaram a nova posição do BCE como se ela representasse uma fundamental e inegável derrota para o Bundesbank, o banco central alemão, ferrenho e inflexível defensor da austeridade monetária na zona do euro. 

A realidade, no entanto, parece ser um pouco diferente do que se imagina.

O novo plano do BCE contém várias concessões ao ponto de vista da Alemanha. Talvez a mais importante seja a revogação do objetivo anterior do BCE, que era o de 'estipular um teto' para os juros dos títulos dos países membros da zona do euro. Em vez do compromisso aberto de agir como um ilimitado "comprador de última instância", o que faria com que os juros dos títulos de países problemáticos se mantivessem artificialmente baixos, o novo plano agora estipula condições bem mais estritas e uma seletividade muito mais rigorosa para a compra de títulos — bem ao estilo alemão. 

Houve também várias outras grandes concessões à Alemanha. As principais:
Qualquer país membro da zona do euro que queira recorrer ao BCE para que este compre seus títulos no mercado secundário — ou seja, quando os títulos estão em posse do sistema bancário — terá de fazer um pedido formal por escrito. Naturalmente, tal requerimento público trará custos políticos, constrangimento, desconfiança e até mesmo uma mácula para o governo em questão. Considerando-se que os preços de ativos, como ações e títulos públicos, são influenciados pela percepção, tal pressão irá dissuadir vários países de recorrerem a esta medida.
Todo e qualquer país requerente terá de concordar em apresentar uma redução germânica em seus déficits e um completo programa de reestruturação econômica, ambos os quais provavelmente virão acompanhados de grandes custos políticos e uma grande dose de turbulência econômica no curto prazo.
O BCE irá comprar títulos no mercado secundário para ajudar países problemáticos somente se o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, ambos os quais estão bastante carentes de recursos, se comprometerem a atuar em conjunto e utilizar seus fundos na operação. O Bundesbank há muito tempo vem afirmando que o BCE não deve ter carta branca para abusar de seu poder de criar dinheiro artificial. Sempre que isso for feito, os custos serão espalhados para o resto da Europa e também para o resto do mundo através do FMI.
O apoio do BCE será limitado à compra de títulos com vencimento máximo de três anos. Desnecessário dizer que nenhum membro problemático da zona do euro conseguirá resolver seu problema de endividamento excessivo caso se limite a tomar continuamente empréstimos de curto prazo na esperança de que esta ação do BCE irá ajudá-lo.
Todas as compras de títulos realizadas pelo BCE serão executadas exclusivamente no mercado secundário, desta forma realizando o objetivo alemão de fazer com que o BCE não permita que um país seja compulsoriamente obrigado a financiar diretamente qualquer outro membro da zona do euro (para entender como funciona esse financiamento involuntário, veja aqui).

Enquanto vários comentaristas econômicos conjeturaram que a Alemanha havia finalmente cedido às demandas keynesianas de dinheiro farto e barato de seus países vizinhos, a realidade parece indicar o contrário: a Alemanha foi especialmente bem-sucedida em impor sua vontade financeira ao resto da zona do euro.

Estas substanciais e importantes concessões feitas à Alemanha passaram amplamente despercebidas pela grande mídia. Longe de oferecer um alívio instantâneo aos países devedores da zona do euro, o novo pacote tornará mais provável uma austeridade de inspiração alemã. Esta austeridade, caso seja feita por meio da típica elevação de impostos — em vez do corte de gastos — fará com que a recessão na Europa continue, ao menos no curto prazo. Isso, por sua vez, fará com que os bancos centrais da Europa e de todo o continente americano continuem injetando dinheiro em suas economias. E isso pode ser bom para quem investiu em metais preciosos.

A continuidade da fraqueza econômica da Europa pode, por sua vez, estimular políticos europeus e até mesmo seus eleitores a aceitarem um controle político alemão cada vez maior em troca daquilo que poderá acabar sendo visto como um financiamento direto e 'redentor' da Alemanha. A principal implicação de curto prazo dessa vitória alemã será a continuidade da recessão caso a austeridade se dê por meio da elevação de impostos. Já os resultados de longo prazo do controle alemão do continente europeu são bem mais difíceis de prever.

Qualquer investidor ou mero curioso que queira tentar entender as maquinações políticas, econômicas e financeiras da zona do euro e da União Europeia faria bem em concentrar-se nas ações alemãs, as quais são frequentemente ocultadas pelos pronunciamentos do BCE. Muito frequentemente, as posições e ações que realmente importam são completamente negligenciadas pela grande mídia.

John Browne é consultor econômico sênior da Euro Pacific Capital, Inc., corretora de Peter Schiff. Formado na Harvard Business School, John tem experiência de 37 anos no mundo financeiro e empresarial, tendo trabalhado no Morgan Stanley & Co, no Barclays e no Citigroup, além de ter participado do conselho diretor de vários bancos e corporações internacionais.

MATRIOSKA



“Ninguém pode usar uma máscara por muito tempo: o fingimento retorna rápido à sua própria natureza.” (Sêneca)

Ganhei de presente uma daquelas bonecas russas que é a cara da presidente Dilma. Não seria minha escolha natural, mas não havia como trocar, então fui tentar apreciá-la. A impressão inicial que ela causou foi a de firmeza, alguém com bastante autoconfiança. Uma boa gestora, enfim.

Resolvi ver se tinha algo por trás daquela imagem, e qual não foi minha surpresa ao descobrir que era apenas uma camada superficial e oca! A presidente jamais tinha gerido coisa alguma com eficiência para colocar no currículo, só uma loja de produtos baratos que foi à falência. Mas nem tudo estava perdido.

A nova imagem que me saltava aos olhos era a de uma resoluta faxineira da ética. Agora sim, pensei, essa mulher corajosa vai bater de frente com todos os corruptos que circulam em volta do governo como moscas ao redor do mel.

Doce ilusão. Era apenas mais uma camada oca. Lembrei de que Erenice Guerra, ex-braço direito de Dilma e acusada de nepotismo, estava lá, bem ao lado da presidente, no dia de sua posse.

Todos os ministros (escolhidos por Dilma) que saíram no começo de seu mandato por escândalos de corrupção foram expostos pela imprensa. Não havia um combate ativo à corrupção por parte do governo.

Desiludido, arranquei mais esta camada fora, e consegui esboçar um sorriso. A nova figura tinha pinta de que, se não faria uma faxina ética, ao menos não iria compactuar com o fisiologismo de seu antecessor.

A empolgação durou pouco. Um bispo que só entende de fisgar crentes foi apontado como ministro da Pesca, e uma sexóloga “progressista”, ícone da tal esquerda caviar, foi brindada com o Ministério da Cultura em troca de apoio ao candidato a prefeito em São Paulo. Toma lá da cá, como sempre.

As camadas ocas iam sendo retiradas como uma cebola descascada, e lágrimas de desapontamento surgiam em meus olhos.

Mas pude vislumbrar na nova face uma ponta de esperança: aquela era a imagem de alguém disposta a enfrentar os grandes desafios para colocar nossa economia na rota do crescimento sustentável.

Esperei, em vão, pelas reformas estruturais, como a previdenciária, a trabalhista e a tributária. Nada. Parecia que o único instrumento conhecido pela presidente era o estímulo ao consumo por meio do crédito público. Trata-se de um modelo esgotado, pois o endividamento das famílias chegou ao seu limite. Resultado: crescimento medíocre, inflação elevada.

Triste, joguei fora esta camada, mas vi que talvez nem tudo estivesse perdido. Privatização! Era o que aquela nova imagem irradiava para a alegria de todos aqueles cansados da incompetência e da roubalheira nas estatais. Finalmente, comemorei. Antes tarde do que nunca! Mas o diabo está nos detalhes...

Dilma é do PT, e privatização não combina com o petismo. Fizeram tudo de forma acanhada, envergonhada e, portanto, repleta de equívocos.

O intervencionismo estatal ainda estaria presente em demasia, no financiamento, na regulação, na limitação do retorno ao investimento, na garantia de compras do que não tivesse demanda no setor privado. Enfim, uma onda de privatização com ares de estatização.

Com visível mau humor, tirei fora mais esta camada e me lembrei da caixa de Pandora: a esperança é a última que morre. Lá estava um rosto impávido, que passava a determinação de quem não teme enfrentar as máfias sindicais e os marajás do setor público.

Greves daqueles que já ganham bem mais que os trabalhadores da iniciativa privada e gozam de inúmeros privilégios, como estabilidade de emprego e auxílios até não poder mais? Nem pensar! Thatcher iria se incorporar em Dilma e desafiar essa gente que transformou o povo em refém.

A esperança pode ser a última que morre, mas ela também é mortal. O governo sucumbiu e os grevistas ganharam bons aumentos de salário, indexando sua renda à inflação que o próprio setor público produz com seus gastos excessivos.

Os gastos públicos sobem sem parar desde que o PT assumiu o poder. É a principal causa do tal Custo Brasil: falta dinheiro para investimento, impede redução dos impostos e pressiona a taxa de juros.

Melancólico, retirei feito um autômato aquela que parecia a última camada da minha matrioska. Que susto!

Confesso que tive até de pegar uma lupa para verificar se meus olhos não me traíam. Aquela pequena boneca não se parecia mais com a presidente Dilma. Olhei bem perto para confirmar: era a cara do ex-presidente Lula! Embaixo, em letras minúsculas, estava escrito: “Made in Russia.”

Por: Rodrigo Constantino, O Globo

PRIMAVERAS OU INVERNOS?


Um filme amador sobre a vida do profeta Maomé incendiou a sempre pacífica "rua árabe". O embaixador americano na Líbia foi morto. Embaixadas americanas no Oriente Médio foram atacadas. E até lanchonetes da Kentucky Fried Chicken tiveram a sua dose de violência e destruição.


Confesso: eu já almocei na KFC. Também tive vontade de a destruir depois de provar o menu da casa. Mas será que a qualidade do produto merece um ato tresloucado?

Escutei Barack Obama. Escutei Hillary Clinton. Escutei o secretário-geral da ONU, um nome impronunciável que não vou checar. Escutei toda gente que é gente e a sentença, sem surpresa, é a mesma: o filme é nojento, ofensivo, ignorante; mas nada disso justifica a violência que ele provocou.

Concordo com a segunda parte. Só não concordo com a primeira porque não sabia que Obama, Clinton, Ban Ki-moon (sim, chequei) e "tutti quanti" eram críticos de cinema.

É indiferente saber se o filme é bom ou mau, nojento ou refinado, ofensivo ou altamente elogioso para o islã. Não é função de nenhum chefe político tecer comentários sobre a qualidade do que se diz, faz ou pensa em países ocidentais, onde a liberdade de expressão é um valor sacramental.

E a liberdade de expressão comporta tudo: o repelente, o ofensivo, o ignorante, o sacrílego. Se existem fanáticos que não gostam desse modo de vida, o problema não é do Ocidente. O problema é dos fanáticos.

Claro que, para além da violência superficial que se espalhou pelo Oriente Médio, existem questões mais perversas: e se os atos dos fanáticos não estiverem apenas relacionados com o filme?

E se o ódio ao Ocidente for a verdadeira gasolina que faz arder esses atos? E se a Primavera Árabe, afinal, foi apenas uma forma de trocar velhos tiranos por novos?

A mídia ocidental, que cavalgou romanticamente a Primavera Árabe, recua de horror ante a possibilidade. Na Líbia do detestável Gaddafi, no Egito do detestável Mubarak, ou na Tunísia do detestável Ben Ali, só podem florescer democracias civilizadas, respeitadoras dos direitos humanos e onde a liberdade individual não tem preço.

Eis a suprema falácia do pensamento progressista, que o filósofo John Gray, em artigo recente para a BBC, destruiu sem piedade: o fato de derrubarmos um ditador não significa necessariamente que as alternativas serão melhores. E por quê?

Aqui, Gray faz o que melhor sabe: mamar forte no pensamento do seu pai espiritual, o historiador das ideias Isaiah Berlin (1909 - 1997).

No ensaio clássico "Dois Conceitos de Liberdade", que pode ser lido no livro "Estudos sobre a Humanidade" (Companhia das Letras), Berlin já tinha avisado que os valores mais importantes em política não podem ser confundidos uns com os outros.

Liberdade é liberdade, não é igualdade. Igualdade é igualdade, não é liberdade. Democracia é democracia, não é justiça.

Por outras palavras: o voto da maioria pode ser uma condição para a existência de regimes livres.

Mas pode também ser o contrário: uma forma de liquidar a liberdade individual. Basta que a maioria, por exemplo, opte por um regime baseado na sharia islâmica, e não pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

E essa perversão nem sequer é uma exclusividade do islã. Será preciso recordar que Adolf Hitler é o exemplo mais eloquente de alguém que usou a democracia para liquidar a democracia?

Hoje, no mundo islâmico, sabemos que ditaduras criminosas foram derrubadas. Mas também sabemos que islamitas tomaram o poder no Egito ou na Tunísia. E que várias facções, com vários graus de radicalismo fundamentalista, lutam pelo poder dentro de cada um desses países.

O que não sabemos nem escutamos são vozes liberais dentro do Egito ou da Tunísia defendendo regimes democráticos respeitadores dos direitos humanos e da liberdade individual.

Na década de 1960, perguntaram ao premiê chinês Zhou Enlai o que ele pensava sobre a Revolução Francesa de 1789. Resposta: "Ainda é muito cedo para dizer".

Faço minhas as palavras dele sobre as primaveras que podem virar invernos.

Por: João Pereira Coutinho, Folha de SP

A DESTRUIÇÃO DAS NOSSAS CHANCES DE CRESCER




Impressionante, como a Dilma em dois anos conseguiu incompatibilizar-se com todos os setores de infraestrutura deste país, prejudicando seriamente a nossa possibilidade de termos investimentos em infraestrutura. 

O Estado Brasileiro está falido há mais de 30 anos. Não consegue investir o necessário para garantir o nosso crescimento, apesar de retirar 40% em impostos da população, e ainda por cima controlar o BNDES, Eletrobrás, Petrobras, Infraero e assim por diante. 

É preciso de Parcerias Público Privadas, para que o setor Privado faça o que o Público teria obrigação de fazer. 

Nesta semana, por total desconhecimento dos princípios elementares de administração, ela afugentou milhares de investidores do setor de Energia Elétrica, que literalmente fugiram e venderam seus investimentos fazendo as ações das Cias. de Energia Elétrica despencarem entre 30% a 40%. 

Veja acima o gráfico desastroso das ações da CESP. 

Simplesmente, Dilma e seu principal assessor aumentaram o Custo de Capital destas empresas em 80%, como neste caso da CESP, para os próximos 20 anos. 

Ações de Cias. Elétricas são conhecidas como ações de viúvas. Viúvas não querem, nem podem, ter sustos como estes de perderem 30% da suas poupanças em dois dias. 

Cias. Elétricas sabem disto, e são notórias por darem dividendos certos e constantes, apropriadas para este tipo de investidor. Por isto cobram caro pelas suas ações, o que significa que conseguem um custo de capital barato. 

Em uma semana, Dilma e seu assessor conseguiram destruir os Fundos de Dividendos do Brasil, que jamais vão comprar no futuro ações de Cias. Elétricas, por 30 anos pelo menos. 

Até estes gestores morrerem, e uma nova geração que não estudou História da Administração Brasileira assumirem seus lugares. 

Como ocorreu com a famosa Moratória da Dívida Externa, dos Ministros Funaro e Sayad, que afugentou investimentos externos do Brasil por 20 anos, que só agora retornaram. 

Investir em energia, ferrovias, portos, infraestrutura, com as MPs e mudanças das regras do jogo e este "micromanagement", se tornou assunto arriscado. 

Não é mais para vocês, viúvas e investidores conservadores que aceitam remuneração mais baixa mas constante. 

Agora, só especuladores, oligarcas russos, e investidores que cobram caro, vão investir, se tanto, em infraestrutura em países e governos temperamentais como da DIlma. 

Em vez de reduzir o custo da capital, algo que vinha fazendo com elogios constantes meus nestes últimos tempos, ouvindo seu assessor predileto ela está inadvertidamente destruindo o futuro deste país. 

Coisa muito séria que a imprensa e os seus futuros eleitores por alguma razão não perceberam. Ainda. 

FED




O Banco Central americano quer realmente acabar com o dólar

XaiUx.gif
Vídeo de Ben Bernanke ainda criança

Com o anúncio, na semana passada, de que o Federal Reserve irá "aumentar sua política de acomodação monetária comprando títulos hipotecários a um ritmo de US$40 bilhões por mês", o presidente da instituição, Ben Bernanke finalmente — e decisivamente — jogou suas cartas na mesa. E confirmando aquilo que eu venho dizendo há anos, tudo o que ele tinha para apresentar no final era mais do mesmo: retórica e vácuo. 

Indo mais longe do que jamais fora até então, ele deixou claro que irá, de maneira permanente, amarrar a economia americana a uma estratégia perdedora. Como resultado, o dia 13 de setembro de 2012 pode ser considerado o dia em que os EUA finalmente jogaram a toalha.

Eis um esboço do plano do Fed: comprar centenas de bilhões de hipotecas anualmente com o intuito de reduzir os juros das hipotecas e, com isso, estimular os preços dos imóveis, desta forma encorajando as pessoas a construir e a comprar imóveis. A ideia por trás de tudo é repetir exatamente o mesmo erro consumista que causou a crise: sempre que seus imóveis se apreciarem, o indivíduo deverá ir ao banco e, utilizando como colateral a valorização do seu imóvel, conseguir uma linha de crédito para gastar com bens de consumo.

Adicionalmente, o Fed espera que esse dinheiro extremamente barato irá estimular os preços das ações de modo que Wall Street e demais compradores de ações se sintam mais ricos e saiam gastando desvairadamente. É claro que ninguém do Fed irá admitir que essa é a intenção, mas, em vez de construir uma economia baseada na produtividade, na produção e na acumulação de riqueza, Bernanke está tentando construir uma nova economia baseada na alavancagem, na confiança e em preços crescentes de ativos. Em outras palavras, o Fed prefere a ilusão do crescimento à reestruturação necessária para permitir o crescimento genuíno.

O problema que passou despercebido pelos jornalistas é que tal estratégia não tem nada de nova: ela já foi tentada antes e terminou em desastre. Foi uma política monetária frouxa o que criou a bolha imobiliária e a bolha do mercado de ações da última década, cujos estouros quase destruíram a economia americana. Aparentemente, para Bernanke e sua corte, "quase" ainda não é o bastante. É preciso mais. Por isso, eles estão de volta com tudo, ávidos para finalizar o serviço que ainda não conseguiram realizar. Mas, desta vez, eles estão portando armas de calibre muito maior. Não somente eles querem derrubar os juros das hipotecas para níveis históricos, como também irão comprar todas as hipotecas!

Ano passado, o Fed lançou a chamada "Operation Twist", a qual havia sido criada para reduzir as taxas de juros de longo prazo e, com isso, tornar mais plana a curva de rendimento dos juros [tecnicamente chamada de yield curveou até mesmo de 'estrutura a termo das taxas de juros']. Sem criar qualquer benefício real para a economia, a medida expôs os pagadores de impostos americanos, bem como todos os detentores de ativos denominados em dólares, aos riscos de se reduzir a data de vencimento de US$16 trilhões da dívida do governo americano. Tal reposicionamento serviu apenas para deixar o Tesouro ainda mais exposto às inevitáveis consequências dolorosas que ocorrerão quando houver um aumento nas taxas de juros. 

No entanto, as políticas anunciadas na semana passada causarão ainda mais estragos do que a "Operation Twist". Não tenha dúvidas: qualquer um que esteja em posse de dólares, de títulos do Tesouro americano, ou que esteja vivendo de renda fixa terá seu poder de compra roubado por estas ações.

Como previsto pela teoria, as rodadas anteriores de "afrouxamento quantitativo" (quantitative easing — QE), mero eufemismo para injeção de dinheiro na economia, nada fizeram para restaurar a economia americana ou para sequer colocá-la no caminho da recuperação real. O país está hoje mais endividado, com mais pessoas sem emprego, e com problemas fiscais muito mais sérios e profundos do que aqueles que existiam antes de o Fed embarcar neste caminho ruinoso. Tudo o que os defensores do ativismo monetário do Fed têm a dizer é que as coisas teriam sido piores sem os estímulos. Embora argumentos contrafatuais sejam difíceis de serem provados, não tenho dúvidas de que as coisas teriam de fato sido mais dolorosas no curto prazo caso as autoridades tivessem permitido que os desequilíbrios da economia se corrigissem sozinhos. No entanto, em troca desta dor de curto prazo, a economia americana já estaria hoje no caminho da recuperação real. Em vez disso, no entanto, preferiu-se sustentar um modelo artificial de endividamento e gastança que jogou o país para ainda mais longe dos fundamentos sólidos necessários para uma recuperação.

Em decorrência do fato de as iniciais de quantitative easing — QE — terem trazido à mente os famosos navios de cruzeiro Queen Elizabeth, várias pessoas compararam as medidas do Fed a embarcações gigantes que são carregadas e então lançadas ao mar. Porém, levando-se em conta os planos recém-anunciados, a analogia não mais se aplica. Dado que os novos compromissos assumidos pelo Fed são de duração declaradamente ilimitada, a nova rodada (a terceira) de quantitative easing pode ser mais corretamente comparada a uma esteira rolante que despeja dinheiro farto e barato na economia. A única variável que se altera é a velocidade em que a esteira irá se movimentar.

Felizmente, as toscas limitações desta única ferramenta que o Fed pode utilizar — imprimir dinheiro — estão se tornando mais explícitas para os mercados. Se formos nos ater às metáforas náuticas, o QE3 afundou antes mesmo de ter deixado o porto. A medida havia sido explicitamente planejada para reduzir as taxas de juros de longo prazo, mas estas aumentaram de maneira significativa imediatamente após o anúncio. Os investidores finalmente se deram conta de que um compromisso ilimitado de comprar títulos significa que a inflação e o enfraquecimento do dólar irão destruir quaisquer ganhos nominais porventura fornecidos pelos títulos. Como que para ressaltar este ponto, o anúncio do Fed também provocou uma acentuada venda de títulos do governo americano e de dólares, além de uma forte corrida para as commodities, especialmente para metais preciosos.

Considerando-se que as taxas de juros fixas das hipotecas de 30 anos já estão em seus mínimos históricos, há muito pouca confiança de que o novo plano será bem-sucedido em derrubá-las ainda mais, especialmente quando se leva em conta a disparada que ocorreu imediatamente após o anúncio. Em vez disso, é provável que Bernanke esteja tentando encorajar os proprietários de imóveis a trocar suas hipotecas de taxas de juros fixas por empréstimos de juros menores porém reajustáveis — o que liberaria mais dinheiro para o consumismo. Bernanke quer que os proprietários de imóveis façam eles mesmos um twist na curva de juros. Se ele obtiver êxito em sua tentativa, mais proprietários de imóveis ficarão vulneráveis a qualquer aumento futuro que porventura ocorra nas taxas de juros. E tal possibilidade, por si só, irá limitar ainda mais a capacidade e a vontade do Fed de aumentar os juros para combater a inflação de preços.

O objetivo do plano de Bernanke, como dito, é estimular o consumo por meio de um aumento nos valores dos imóveis e dos preços das ações. Mas ninguém parece estar levando em conta a possibilidade de que um QE infinito, em vez de elevar os preços dos imóveis, das ações e dos títulos, acabe elevando os preços dos alimentos, da energia e de outros bens de consumo. Se isso ocorrer, os consumidores americanos terão menos poder de compra em decorrência dos esforços de Bernanke, e não mais.

A decisão do Fed veio ao mesmo tempo em que a situação na Europa parece estar finalmente saindo do modo 'crise urgente'. Embora eu não creia que a decisão anunciada pelo Banco Central Europeu — de comprar mais títulos da dívida soberana de países problemáticos da União Europeia — irá funcionar no longo prazo, pelo menos estas medidas vieram com várias restrições impostas pelos alemães (para importantes detalhes sobre isso, veja o artigo de nosso analista econômico sênior, John Browne). Como consequência, imagino que a atenção dos investidores e compradores de moedas irá agora se voltar para os débeis fundamentos do dólar americano, e não mais para um potencial colapso do euro.

Enquanto isso, as implicações para aqueles que investem nos EUA já deveriam estar claras. O Fed irá tentar suscitar uma recuperação por meio da desvalorização do dólar. Ele não irá interromper ou alterar seu curso de ação. Se a economia americana não reagir às drogas, Bernanke irá simplesmente aumentar a dosagem. Com efeito, ele está tão convencido de que os americanos permanecerão dependentes do afrouxamento quantitativo, que ele explicitamente afirmou que não fechará as torneiras mesmo que as coisas visivelmente não melhorem. Em outras palavras, o dólar está condenado.

Peter Schiff 
é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear MarketsCrash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes.  Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico.  Veja o vídeo.  Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português 
Tradução de Leandro Roque

O QUE OS AMANTES DA LIBERDADE DEVEM FAZER?



total-freedom.jpg
Como seria possível você combinar sua vida profissional com a defesa e a promoção da liberdade? 

É claro que seria demasiado presunçoso oferecer uma resposta definitiva a essa pergunta, uma vez que todos os empregos e carreiras na economia de mercado estão sujeitos às forças da divisão do trabalho. Mas só porque uma pessoa se concentra em uma determinada tarefa não significa que ela não seja boa em várias outras atividades; significa apenas que os ganhos mais produtivos para todos são gerados ao se dividir as tarefas entre várias pessoas de variados talentos.

O mesmo ocorre com o movimento em prol da liberdade. Quanto maior for o número de pessoas interessadas em promover a liberdade, melhores serão os resultados caso haja especialização, caso todos cooperem por meio das trocas. Quanto maior a divisão do trabalho, maior será o impacto alcançado. Não há como saber antecipadamente o que será melhor para cada pessoa específica fazer; há vários caminhos formidáveis a serem seguidos (os quais discutirei mais abaixo). Mas há algo que podemos saber com certeza: a resposta mais comum — entrar no governo e tentar modificá-lo — é a mais errada. Várias mentes brilhantes já foram corrompidas e arruinadas ao decidirem seguir este caminho fatídico.

É bastante comum vermos um movimento ideológico fazer grandes esforços por meio da educação, da organização e da influência cultural, mas terminar efetuando aquele salto ideológico de acreditar que a política e a influência política — o que normalmente significa arrumar empregos dentro da máquina burocrática — são os próximos degraus na escada do sucesso. Tornar-se um burocrata para combater a burocracia, juntar-se ao estado com o intuito de reduzir seu poder, faz tanto sentido quanto tentar combater um incêndio com fósforos e gasolina. Foi exatamente isso o que ocorreu com a direita cristã nos EUA da década de 1980. Eles se envolveram na política com o intuito de acabar com a opressão do estado. Hoje, trinta anos depois, várias destas pessoas estão trabalhando no Ministério da Educação e em várias agências reguladoras, imaginando novas leis, novas regulamentações, novas imposições de costumes e novos impostos. Isso representa um desastroso e irreversível desperdício de capital intelectual.

É de essencial importância que os defensores da liberdade não incorram neste caminho. Trabalhar para o governo sempre foi a carreira escolhida por socialistas, reformistas sociais e keynesianos, pessoas sem nenhuma propensão a prestar bons serviços na iniciativa privada e no livre mercado. O governo é o lar natural deles porque, além de ser o lar natural dos tiranos e dos incompetentes, é no governo que eles podem satisfazer sua ambição de controlar a sociedade. Trata-se de um instinto natural querer controlar aquilo em que não se consegue ser bem-sucedido. Trabalhar para o governo é algo que funciona para eles mas que não funciona para nós.

Na primeira metade do século XX, os libertários sabiam realmente como se opor ao estatismo. Eles se tornavam empreendedores ou iam trabalhar em jornais influentes. Eles escreviam livros. Eles agitavam a arena cultural. Eles acumulavam fortunas para ajudar a financiar jornais, escolas, fundações, institutos e organizações voltadas para a educação econômica do público. Eles ampliavam seus empreendimentos comerciais para servirem de baluarte contra o planejamento central. Eles se tornavam professores e, sempre que possível, educadores. Eles cultivavam belas famílias e se concentravam na educação de seus filhos.

É uma batalha longa e difícil, mas a batalha pela liberdade sempre foi assim. Porém, em algum ponto da batalha, algumas pessoas, seduzidas pela perspectiva de um caminho mais rápido para as reformas, repensaram esta ideia. 'Talvez devêssemos tentar a mesma técnica da esquerda', matutaram alguns. Talvez devêssemos infiltrar nossa gente no poder e desalojar os inimigos. Assim poderemos produzir mais rapidamente a mudança em prol da liberdade. Aliás, não seria este o objetivo mais importante de todos? Enquanto a esquerda estiver controlando o estado, este irá se expandir de maneiras incompatíveis com a liberdade. Por isso, temos de tomar de volta o controle do estado.

Assim rezava a lógica. Qual o problema com ela? Simples. A única função do estado é ser um aparato de coerção e compulsão. Esta é a sua marca distintiva. É isso que torna o estado o que ele realmente é. Da mesma maneira que o estado responde bem a argumentos de que ele deveria ser maior e mais poderoso, ele é institucionalmente hostil a qualquer um que diga que ele deveria ser menos poderoso e menos coercivo. Isso não quer dizer que algum trabalho feito "de dentro" não possa gerar algo de bom, em algum momento. Porém, é muito mais provável o estado converter o libertário do que o libertário converter o estado.

Todos nós já vimos isso milhares de vezes. Dificilmente são necessários mais do que alguns poucos meses para que um intelectual libertário que tenha ido para o governo "amadureça" e se dê conta de que seus ideais eram 'muito pueris' e 'insuficientemente realistas'. Um político prometendo tornar o governo mais manso e mais submisso rapidamente se torna um proeminente especialista em criar novas maneiras de tornar o estado mais eficiente no confisco da riqueza alheia. Tão logo este fatídico passo é tomado, não há mais limites. Conheço pessoalmente um burocrata americano que havia jurado fidelidade à filosofia libertária e, mais tarde, ajudou a implantar lei marcial no Iraque.

A razão de tudo está ligada à ambição, algo que normalmente não é um impulso ruim. A cultura do estado, no entanto, requer que a ambição funcione apenas de maneira a prestar a máxima deferência possível ao poder consolidado. A princípio, essa postura é fácil de ser justificada pelo libertário infiltrado no estado: 'qual outra maneira de o estado ser convertido senão pela nossa demonstração de simpatia por ele? Sim, o estado é nosso inimigo, mas, por ora, temos de fingir sermos seu amigo.' No entanto, com o tempo, os sonhos de mudança vão sendo substituídos por essa necessidade diária de bajular. No final, o indivíduo acaba se tornando exatamente aquele tipo de pessoa que ele mais desprezava. (Para os fãs de O Senhor dos Anéis, é como ser pedido para carregar o anel por algum tempo; você não vai querer largá-lo mais).

Ao longo de minha vida, conheci várias pessoas que tomaram esse caminho e, um belo dia, se olharam no espelho, fizeram um julgamento honesto sobre si próprias e não gostaram nada do que viram. Elas me disseram que se enganaram completamente ao pensar que tal estratégia poderia funcionar. Elas não perceberam a tempo as maneiras sutis como o poder as estava seduzindo, envolvendo e arrastando para seus esquemas sórdidos. Elas reconheceram a futilidade de se pedir educadamente ao estado, dia após dia, para que ele permitisse um pouco mais de liberdade aqui e ali. No final, o que sempre acontece é que você acaba tendo de estruturar seus argumentos em termos daquilo que é bom apenas para o estado. E a realidade é que a liberdade não é boa para o estado. Assim, sua retórica começa a mudar sem você perceber. Finalmente, todo o seu objetivo se altera e você nem se dá conta. E, quando percebe, já é tarde demais. Os mais mentalmente sãos abandonam o aparato estatal e qualquer tentativa ulterior de persuasão. Já os corruptíveis incorporam de vez o modus operandi do estado e nele se encastelam.

O estado está aberto à persuasão, sem dúvida, mas ele normalmente age por temor, e não por amizade. Se os burocratas e políticos temerem uma revolta e uma reação adversa, eles não irão aumentar impostos ou regulamentações. Se eles sentirem que há um grau demasiado alto de indignação pública, eles irão até mesmo revogar controles e programas. Um bom exemplo foi o fim da Lei Seca. Ela foi abolida porque os políticos e burocratas sentiram que continuar a impingi-la traria um custo alto demais.

O problema da estratégia foi algo que sempre fascinou Murray Rothbard, que escreveu vários e importantes artigos sobre a necessidade de jamais contemporizar e fazer concessões; de jamais, por meio do processo político, trocar o objetivo de longo prazo por um ganho de curto prazo. Isso não significa que não deveríamos saudar e acolher positivamente um corte de 1 ponto percentual nos impostos ou a revogação de uma seção de alguma lei. Mas jamais devemos nos deixar ser tragados pela trapaça da condescendência: por exemplo, 'vamos abolir este imposto ruim para colocar em seu lugar este imposto melhor.' Isto seria utilizar um meio (um imposto) que contradiz o objetivo final (a eliminação da tributação).

A abordagem rothbardiana para uma estratégia pró-liberdade pode ser resumida pelas quatro afirmações a seguir:


1. A vitória da liberdade é o mais elevado objetivo político;

2. O fundamento adequado para este objetivo é um ardor moral e inflexível pela justiça e pela ética;

3. O objetivo deve ser alcançado pelos meios mais rápidos e eficazes possíveis; nada de gradualismos;

4. O meio escolhido jamais deve contradizer o objetivo — "seja a defesa do gradualismo, o uso ou a defesa de qualquer agressão contra a liberdade, a defesa de programas de planejamento central, o não aproveitamento de qualquer oportunidade de reduzir o poder do estado, ou a defesa de algum programa que implique seu agigantamento em alguma área da economia ou da vida privada."

Libertários sempre devem ter isso em mente. A questão da estratégia não é simples. E o poder sempre será tentador. Foi George Washington quem certa vez disse que "as tentações para se entrar na vida política eram tão fascinantes, que eu estive muito próximo de ceder por completo". Qualquer análise mais detida da burocracia revela que Washington estava certo desde aquela época. A esmagadora maioria das pessoas que entram para o governo é formada por gente que está ali ou porque quer uma vida fácil, ou porque quer controlar a vida dos outros, ou porque quer uma vida fácil que ao mesmo tempo permite controlar a vida dos outros.

Sempre foi e sempre será assim. O estado mastiga as pessoas e, no final, ou ele engole ou ele cospe aquelas que entraram ali com o nobre intuito de promover a liberdade. 

Esta é a lição. Os milhares de jovens que hoje estão pela primeira vez descobrindo as ideias da liberdade devem ficar de fora da máquina estatal e de todo o seu encantamento e fascinação letais. Em vez de tentar se infiltrar no estado, eles devem perseguir seus ideais por meio do comércio, da educação, do empreendimento, das artes, da divulgação de ideias, do debate etc. Liderem e exerçam influência por meio do respeito alcançado por suas realizações. Estas são áreas que oferecem genuínas promessas e altos retornos.

Quando um libertário me diz que está fazendo coisas boas em algum ministério ou em alguma agência reguladora, não tenho motivos para duvidar de suas palavras. Porém, quão melhor seria caso ele renunciasse a este emprego e escrevesse um livro expondo toda a mamata, charlatanice e roubalheira da burocracia? Um golpe bem colocado contra um órgão do governo pode produzir mais reformas, e gerar mais benefícios para a sociedade, do que décadas de tentativas de infiltração e subversão.

Existem políticos que fazem coisas boas? Em toda a minha vida, conheci apenas um: Ron Paul. Mas todo o bem que ele faz não adveio exclusivamente de seu trabalho como legislador, mas sim de seu trabalho como um educador que possuía uma proeminente plataforma da qual emitir suas opiniões. Cada voto negativo seu a uma nova lei ou nova regulamentação é uma lição para as multidões. Precisamos de mais Ron Pauls ao redor do mundo.

Mas Ron Paul é o primeiro a afirmar que, ainda mais importante do que legisladores expressando ideias libertárias, são necessários mais educadores, empreendedores, pais e mães, líderes religiosos e empresariais divulgando as ideias da liberdade. Defensores da genuína liberdade amam o comércio e a cultura, e não o estado. Comércio e cultura são o nosso lar e nossa plataforma de lançamento para as reformas em prol da liberdade. Apenas a divulgação de ideias sólidas pode nos libertar em definitivo do jugo opressor do estado. Fingir amizade com um inimigo mais poderoso é uma postura que beneficiará exclusivamente a ele.

Lew Rockwell 
é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.


Tradução de Leandro Roque

20 DE SETEMBRO NUNCA MAIS

Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.

Mostremos valor, constância,
nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda terra.

Entre nós revive Atenas
para assombro dos tiranos;
sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos.

Mas não basta p’ra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.

Nossas façanhas? Que façanhas? Que aurora precursora? Que farol da divindade? A propósito, que divindade? Que Atenas revive entre os gaúchos para assombro dos tiranos, logo num Estado cuja capital até hoje homenageia um de seus ditadores, Borges de Medeiros, o presidente do Rio Grande do Sul durante 25 anos? O hino rio-grandense, como em geral todos os hinos, é de um ridículo atroz. 20 de setembro é data inventada pelos palhaços e parasitas de Estado, que um dia criaram os ridículos CTGs. A celebração se opõe ao 7 de setembro. É curioso ver esta chusma de chupins, que se pretendem brasileiros, comemorando na tal de Semana Farroupilha um movimento que pretendia separar o Rio Grande do Sul do Brasil.

Mas o 20 de setembro é data para mim muito cara. Não pelas fanfarronices dos rio-grandenses que se dizem gaúchos. Mas por algo mais singelo, o encontro com a mulher que mais amei. Não prometi nada na ocasião. Pode ser que amanhã isto não se repita. Pode ser que se repita pelo resto dos anos. Faz hoje 45 anos. Repetiu-se por 38 anos, e mais não se repetiu porque a vida não quis. Vinte de setembro era para nós, não o dia da independência gaúcha, mas de nossa independência. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. As nossas, bem entendido. Não as supostas façanhas dos sedizentes gaúchos.

Como o 20 de agosto, data em que ela partiu, o 20 de setembro também me machuca. Eu tinha 17 anos, ela 18. Adolescente, não imaginava que naquele dia estava elegendo a companheira de toda uma vida. A cada 20 de setembro, cantávamos: “foi no 20 de setembro...” Mas não estávamos comemorando nenhuma efeméride gaúcha. 

Trinta e oito anos. É mais vida que a de Alexandre, que só viveu trinta e três. Certo, o peoniano conquistou mais mundos do que eu. Admiro Alexandre, é um de meus heróis. Mas não o invejo. Conquistá-la alegrou mais minha vida do que se tivesse conquistado impérios.

De lá para cá, se passaram mais sete anos. Quando ela partiu, imaginei que não sobrevivesse muito. No entanto, cá estou. Como dizia Fierro,

solo queda al desgraciao,
lamentar el bien perdido


Percorremos o mundo naqueles anos. De Roma a Estocolmo, de Lisboa a Viena, De Nova York ao Quebec, de Buenos Aires a Santiago, de Atenas ao Cairo, do Assekrem a São Petersburgo. Quando morei em Estocolmo, ela ficou em Porto Alegre. Nos encontramos, aos prantos, no Rio. Quando morei em Madri, ela estava em Paris. A cada quinze dias, alguém pegava um trem e atravessava França e Espanha, para fazer a festa. 

Com ela, me despedi chorando de Madri. Estavámos em uma bodega na Huertas, mulheres cantando e dançando, bom vinho e cheiro bom de assado. Quando senti que em duas horas estaria em Barajas, voltando para o Brasil, comecei a chorar. Não pela perspectiva de voltar ao Brasil. Mas por estar abandonando a festa. Fui chorando até o aeroporto e o taxista não entendia por quê. Estava abandonando uma mulher que muito amava, a Espanha.

Por alguns anos, viagens nos separaram. Voltávamos correndo um para o outro. A cada vez que o avião decolava, ela me apertava a mão e me interrogava, com um sorriso que até hoje me faz chorar: “on y va?”. Sim, on y va. Agora, on n’y va plus. A vida continua. Se feliz ou infelizmente, ainda não decidi.

“Fazes falta? – pergunta Pessoa –. Ó sombra fútil chamada gente! Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... Sem ti correrá tudo sem ti”. Não é bem assim. Pessoas fazem falta, meu caro Pessoa. Sei do que falo. Cada 20 de setembro me pesa como toneladas sobre a alma. Muitas vezes me perguntei se não seria melhor ter como companheira uma mulher abominável. Quando ela morresse, seria como uma libertação. Pergunta besta. Melhor ter uma mulher adorável, mesmo que se sofra depois. Já que falei de Pessoa, recorro à sua tradução soberba de Poe:

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
perdido murmurei lento, “Amigos, sonhos – mortais
todos – já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo: “Nunca mais”.
 

Sei, amanhã também me irei. E não será tarde demais. Iremos nós todos. Até lá, resta afagar os bons 20 de setembro que um dia tive. Que não voltarão jamais. Por: Janer Cristaldo