domingo, 23 de setembro de 2012

COTAS: BELAS INTENÇÕES. RESULTADOS PERVERSOS


Antes que o leitor fique indignado e pule o artigo, por favor leia.


Sou a favor de políticas compensatórias para várias corrigir várias iniqüidade, sejam elas de passado remoto ou recente.

Governos, em geral tomam as piores decisões porque, quando o fazem, pensam a curto prazo, não analisam as consequências de médio e longo prazos, nem olham para os problemas com lentes do tipo “grande angular,” para ver quem vai de fato ser beneficiado ou prejudicado. Isso nos ensinou Henry Hazlitt em “Economia em uma lição”.

Tomam decisões ruins, também porque como o governo e os políticos nada produzem, apenas gastam o dinheiro dos outros (nosso), não importam nas decisões dele, nem o preço das decisões, nem a qualidade dos resultados da decisão. Isso nos ensinou Milton Friedman. A rigor, o único resultado que importa para os políticos é o resultado das próximas eleições. Para os burocratas que implementam as políticas só importam garantir o emprego e ter mais verbas.

Agora vai o desafio à sua criatividade. Depois que você terminar de ler o artigo, por favor me mande suas sugestões para resolver o problema e evitar os resultados perversos que vou apontar a seguir.

As universidades brasileiras estatais (vamos parar de chamá-las de públicas, por favor) até recentemente só admitiam alunos de classes média e alta, porque negros e pobres não tinham tido um ensino primário e secundário de boa qualidade.

O racismo e a discriminação social eram perfeitos: cortavam pobres, negros, índios, etc., na entrada da escola secundária. Como uma vez me disse um coronel negro do exército: “O racismo brasileiro é perfeito. Ele não precisa de lei. Corta na raiz.”

Pois bem, apesar disso tudo muitos negros e pobres foram, ao longo de muitas décadas e muito sacrifício, conseguindo passar do corte pela raiz e chegaram à porta da universidade, que estava, social e educacionalmente, fechada através do regime de vestibular (que justficava sua razão de existir porque havia mais candidatos do que vagas).

Agora vamos para a lente grande angular e mais complicada: quando havia poucos automóveis no Brasil (e poucas motos), o transporte público dos bairros ricos e de classe média era razoavelmente bom. O dos bairros pobres era ruim.

As escolas públicas primárias e secundárias sofriam do mesmo mal, se suas clientelas, por causa da localização, eram ricas e de classe média as escolas eram boas. Se eram para pobres as escolas eram ruins.

Virtudes privadas, vícios públicos: ainda que muitas pessoas limpa e honestamente se declarassem não racistas e não discriminatórias contra os pobres, no coletivo elas agiam como racistas e discriminadoras.


Como as sociedades politicamente democráticas que deixam o capitalismo funcionar, mesmo que só um pouco, como é o caso do Brasil, gradualmente, pobres e negros foram conseguindo passar da raiz, chegaram ao fim de seus cursos nas escolas secundárias. Que aconteceu? Começaram a entrar para as universidades. Primeiro, alguns conseguiam passar no vestibular. Depois, graças à política de cotas, passaram a entrar para as universidades. Resultado: os filhos dos ricos e da classe média começaram a abandonar as faculdades públicas. Que, como “viraram coisas para pobre” começaram a ser abandonadas não só pela clientela, mas também pelos governos.

O resultado financeiro para os ricos foi significativo. Antes não precisavam preocupar-se com pobres e negros na universidades estatais que eram gratuitas. Quando passaram a querer soluções educacionais de não compartilhamento nas universidades, passaram a ter que pagar pelo ensino universitário privado. Foi uma grande pancada numa das políticas mais regressivas dos governos brasileiros que garantiam ensino universitário grátis desde que o cidadão passasse no vestibular. Como passaram a entrar pessoas que não eram necessariamente “desejáveis,” do ponto de vista dos alunos de classes média e alta, estes começaram a buscar soluções nas universidades privadas e pagas.

Governos são maus, sempre. Não importa que governantes sejam bons individualmente. Como grupo, eles são maus porque não pensam nos resultados dos seus atos. Resultado, as universidades privadas começaram seletivamente a melhorar e as universidades públicas começaram a piorar (nem todas, justiça seja feita).

Por que aconteceu isso? Porque tudo o que é governamental e é para pobre é abandonado e torna-se ruim. Este é um fato da vida.

Com o transporte público aconteceu a mesma coisa. Com o crescimento da indústria automobilística o transporte público os ricos e a classe média passaram a usar o carro e o transporte público, como era para pobre piorou, dramaticamente.

E não há razão para imaginar que nas universidades vai ser diferente. A discriminação começa com os professores, que apesar de se dizerem ‘progressistas” não querem dar aulas para pobres e negros porque dizem que o rendimento não é o mesmo.

No caso das novas filiais de universidades estatais que estão sendo abertas em bairros pobres, as vagas de professores estão sendo preenchidas por professores novos e recém admitidos, porque os velhos professores preferem ficar encastelados nas suas confortáveis posições, nas sedes antigas,

Os pobres moram em bairros diferentes dos ricos. Em São Paulo e Brasília, isso é absolutamente claro. No Rio, os morros e as favelas cuidaram da exceção à regra. Pobres e ricos moram no mesmo bairro (mas em espaços diferentes).

Olhe o rabo da porca torcendo novamente: os professores antigos não querem sair de seus bairros confortáveis e engarrafar-se por horas a fio para chegar aos alunos em campi mais remotos e em zonas mais pobres. Então começam as crueldades da organização social. Como estão entrando muitos pobres e negros nas universidades estatais, ainda que eles estejam se saindo bem academicamente, estão incomdando a classe média e os ricos, mas têm mais dificuldades de acesso aos professores mais experientes porque estes preferiram evitar o contato com pobres e negros (porque os pobres e negros tendem a ir para os novos campi em áreas de baixa renda, porque é mais perto de onde moram os pobres).

Outra novidade: Empresas da área educacional estão abrindo mais e mais faculdades e universidades para atender a uma demanda crescente e naturalmente está concorrendo uma seleção econômica. Algumas destas estão melhorando sua qualidade (que desmente o mito brasileiro que faculdade particular tem que ser ruim) para atender aos ricos e à classe média que querem uma educação melhor e que “apostam”que a educação junto com os pobres e negros não será tão boa.

As pessoas são malvadas por fazerem isso? Não. Individualmente são boas, mas no agregado agem de maneira socialmente cruel.

Brasília, planejada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer é o maior exemplo brasileiro da falência da engenharia social de esquerda.

Já na construção criaram cotas. Nas superquadras morariam, juntos, ricos, médios e pobres. Os prédios foram construídos e distribuídos com este critério e para isso. Os prédios dos pobres eram menores, mais mal acabados, mais baixos e sem elevador. Os dos médios e dos ricos eram o inverso: maiores, mais bem acabados e com elevadores.

Em Brasília houve, no início, uma inversão da maldade intrínseca do projeto (de autoria de arquitetos e planejadores “de esquerda”). O pobres, rapidamente, perceberam que seus apartamentos, apesar de menores e piores tinham um valor maior por serem vizinhos imediatos dos ricos, passaram os apartamentos nos cobres e foram morar em casas mais confortáveis, mais longe da cidade. Ganharam no dinheiro, mas perderam tempo e conforto no transporte público escasso e ruim. Mas foi uma escolha deles.

Assim meu caro leitor, reafirmo que sou a favor de políticas compensatórias, só não sei se as cotas são a solução.

Apesar de não me cansar de dizer que devemos sempre ter medo de pessoas bem intencionadas, sobretudo quando em grandes grupos e, mais ainda, quando no governo, faço um apelo para mais ideias, criativas sobre o tema. Acredito na sabedoria de muitas pessoas bem intencionadas – fora do governo – para ajudar-me a encaminhar soluções para o problema. Não prometo resultados. Mas com mais ideias, talvez me torne mais sábio.

Por: Alexandre Barros    OrdemLivre.org

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