sábado, 30 de março de 2013

'AQUELA SENHORA ESTÁ TORNANDO IMPOSSÍVEL INVESTIR NO BRASIL'

Parceiro de George Soros nos anos 70, americano diz que não investe mais no País porque governo Dilma é contra o capital

O economista James B. Rogers ou Jim Rogers, como prefere ser chamado, é um dos emblemáticos investidores americanos das últimas décadas. Prestes a fazer 71 anos, Rogers se juntou ao amigo George Soros nos anos 70 para fundar o Quantum Fund. Fez fortuna, largou tudo e foi dar a volta ao mundo de moto. Pelas façanhas como viajante, entrou duas vezes para o Guinness Book.

Com suas gravatas borboletas coloridas e a língua afiada para críticas, Rogers é figura constante no noticiário econômico da TV e jornais dos Estados Unidos. Ele está pessimista em relação às perspectivas para os Estados Unidos, o Chipre e toda a zona do euro e mais crítico do que nunca em relação ao Brasil. "Aquela senhora está tornando impossível investir no Brasil", diz, referindo-se à presidente Dilma Rousseff.

Em entrevista por telefone concedida de Santiago, no Chile, Rogers disse que o Brasil poderia ser aquele país promissor que muitos imaginaram. Mas não é, por causa dos erros do governo, especialmente no que diz respeito a tentar controlar a entrada de capitais.

"Ela (Dilma) está tornando ilegal investir no Brasil", critica, dizendo ainda que não investe mais no País - nem pretende voltar a fazê-lo tão cedo.

Autor de várias obras, Rogers lançou este ano o livro Street Smarts: Adventures on the Road and in the Markets (em tradução livre, Os inteligentes das ruas: Aventuras nas Estradas e nos Mercados), ainda inédito no Brasil. No livro, ele fala de suas experiências em Wall Street e nos mercados asiáticos. Entusiasta das commodities, escolheu viver com a família em Cingapura em 2002 para que sua filha pudesse aprender chinês. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Que saída o Brasil tem para conseguir um bom desempenho econômico? O que nossa presidente pode fazer?

Ela poderia parar de impedir capital novo de entrar no País. Aquela senhora que governa o País está promovendo guerra cambial, tornando impossível investir no Brasil, tornando ilegal para os estrangeiros investirem no País. Ela coloca obstáculos para chineses e coreanos, aqueles que são grandes clientes do Brasil. Ela tem de tornar o País mais acessível! Ela tem de parar com o controle da moeda. Ela não está ajudando o Brasil, está prejudicando. Deveria haver uma abertura maior do País, uma abertura maior para o capital. Desse modo, o Brasil poderia ser um dos grandes países do mundo. Mas esta senhora é uma das muitas pessoas que têm impedido que o Brasil seja uma das principais economias do mundo.

O senhor não tem dinheiro no Brasil?

Não. Já tive, mas não tenho agora. Já houve tempos de investir no Brasil. Mas, quando você tem alguém que é contra expertise, contra capital, que ataca seus parceiros, alguém com esse tipo de atitude, não dá para investir no Brasil. Mas, se isso mudar, voltarei a colocar meu dinheiro aí.

Como vê o resgate do Chipre?

É ultrajante o que está acontecendo lá. As pessoas falam que vão colocar dinheiro no banco, porque é garantido. De repente, o governo está roubando o dinheiro deles. Espero que todos estejam mesmo preocupados com o que estão fazendo, pois isso cria um precedente. Na próxima vez que isso acontecer a outro país, eles vão dizer: o FMI, a União Europeia disseram que a gente pode tirar dinheiro dos bancos. É preciso muito cuidado, senão isso vai acontecer de novo e de novo.

Esse resgate vai evitar o contágio para outros países da zona do euro?

Claro que não. Isso não resolve o problema da zona do euro. Todos os países da Europa vão ter déficits maiores este ano do que tiveram no ano passado, e esses déficit vão continuar crescendo até que os problemas sejam resolvidos. Os problemas estão sendo postergados, mas não resolvidos.

Quem se beneficiaria com a saída do Chipre da zona do euro?

Ninguém se beneficiaria. Talvez alguns investidores espertos encontrassem modos de ganhar dinheiro às custas disso. Mas, se o Chipre deixar o euro, não será bom para o Chipre nem para a zona do euro. Isso só pioraria as coisas. Com certeza não ajudaria o Chipre. Ninguém vai querer investir no Chipre se estiver fora da zona do euro. Ninguém vai investir na moeda que eles tiverem.

Como vê a situação global?

Cada vez pior. A América está em declínio e a China será o país que mais impressionará nos próximo século.

Isso significa que vamos ter essa crise global por muito mais tempo do que se pensava?

Bom, no Japão a crise dura 23 anos. Sim, é claro que vai durar muitos anos.

Nos momentos de nervosismo nos mercados, os investidores continuam correndo para o dólar americano e o ouro. Eles ainda são um porto seguro?

Não existe isso de porto seguro. Gostaria de conhecer algo que fosse seguro e, se você souber, por favor, me diga. Mas, de qualquer modo, é para onde todo mundo vai e eu também tenho dólares no momento.

Quais serão as commodities mais promissoras?

Estou mais otimista em relação às commodities agrícolas do que todas as demais. Por: LUCIANA XAVIER - O Estado de S.Paulo

sexta-feira, 29 de março de 2013

EMPREENDER É UMA ARTE OU CIÊNCIA?




Professor já mudou algumas de suas crenças sobre empreendedorismo


Empreendedorismo é uma palavra nova no Brasil. Apareceu nos dicionários na década de 2000. Alguns livros publicados no país já utilizam o termo na década de 1980 e 1990. Antes disso, o termo entrepreneur era traduzido como empresário e empreendedorismo, às vezes, aparecia como empresarização como ocorreu no livro Prática da Administração de Empresas de Peter Drucker publicado pela primeira vez no Brasil em 1955.

Mas até hoje, o uso do termo ainda gera debates polêmicos. Só porque o sujeito abriu um negócio, é empreendedor? É possível ser empreendedor mesmo sendo empregado? Há empreendedorismo por oportunidade e por necessidade? É possível “fabricar” empreendedores em salas de aula? A pessoa “nasce” empreendedora? Empreendedorismo é uma ciência? Ou é uma arte?

Há respostas que concordam e discordam para todas estas questões, daí o debate! Há muita pesquisa e muito achismo sobre o assunto, daí a polêmica. Eu também tenho as minhas convicções e os meus achismos sobre o empreendedorismo e já mudei algumas das minhas crenças diante de algumas constatações.
No campo da ciência, de tempos em tempos aparece algo que muda a crença vigente. Thomas Kuhn chamou isto de quebra de paradigma, termo que depois de popularizou e virou sinônimo de qualquer tipo de alteração de parâmetro.

Mas uma quebra de paradigma kuhneriana no campo do empreendedorismo foi a proposição da Teoria do Effectuation proposto pela Professora Saras em 2001. O Effectuation questionou a abordagem vigente daquele empreendedor que planeja tudo antes, identifica a melhor oportunidade de negócio, mede o risco e o retorno detalhadamente. É claro que este empreendedor existe (em número cada vez maior), mas a imensa maioria das pessoas começa um negócio a partir daquilo que ela é, quem ela conhece e o que sabe fazer. Este é a primeira parte do ciclo do Effectuation. Quando escolhe algo que sabe fazer, passa a interagir com pessoas do seu relacionamento.

Eventualmente, estas duas primeiras etapas podem ocorrer de forma simultânea, quando alguém da sua rede de relacionamento pede algo que você sabe fazer. Mas o negócio passa, literalmente, a ganhar corpo quando pessoas conhecidas ou conhecidas das conhecidas passam a fazer pedidos. Mais pessoas entram em contato com o seu produto ou serviço e pessoas totalmente desconhecidas tornam-se clientes. O Effectuation tende a ser algo óbvio e pode não explicar tudo, mas foi uma contribuição científica para avançarmos o conhecimento do empreendedorismo. Novas abordagens como Lean Startup e Customer Development se alinham ao Effectuation.

Mas o empreendedorismo também pode ser uma arte, uma expressão da genialidade individual que, muitas vezes, a ciência ainda não consegue explicar. E a arte empreendedora está associada a muitas capacidades como empatia, visão, execução, design, simplicidade, entre outras.

Nesta semana, meus colegas empreendedores blogueiros postaram dilemas e desafios que podem ser discutidos a partir da ciência ou da arte empreendedora. Pedro Chiamulera da ClearSale falou da importância de uma tecnologia simples e amigável para os clientes e citou sua inspiração na Teoria do Fluxo proposto pelo psicólogo de sobrenome impronunciável , Mihály Csíkszentmihályi. A Teoria do Fluxo, apesar de não ser muito conhecida no Brasil, tem influenciado muitas pessoas no Vale do Silício, inclusive David Kelley, o celebrado fundador da Ideo.

Juliana Motter da Maria Brigadeiro apresentou um exemplo de “telefone sem fio” na sua empresa, uma situação em que ela fala algo que é compreendido de forma totalmente diferente pelos seus colaboradores. Como fazer com que os colaboradores entendam o que o empreendedor realmente disse? Há muitas teorias sobre comunicação eficaz, mas aqui pode entrar um pouco da arte empreendedora, mais especificamente a sabedoria empreendedora.

Bernardo Hees, quando ainda era presidente da América Latina Logística, implementou a Regra dos 7 na qual, qualquer comunicado para os colaboradores deveria ser simples e direta a ponto de uma criança de 7 anos entender. Alberto Saraiva, do Habib’s, foi mais direto: criou um sistema de provas em que todos os colaboradores, incluindo os diretores, deveriam prestar. Assim garantiu que todos estudassem e demonstrassem seu conhecimento sobre a empresa.

Adriane Silveira da Nanny Dog apresentou suas reflexões obtidas durante o primeiro ano de vida da sua empresa. E reconheceu que a empresa tem muitos pontos fortes, mas precisa melhorar a capacidade de planejamento. É uma ótima constatação! Muitos empreendedores começam pela lógica do Effectuation, mas depois se dão conta de que precisam planejar formalmente o negócio. É o momento em que o empreendedor se vê na necessidade de ter capacidades de gestor.

Em alguns casos, o empreendedor se torna um bom gestor, mas quando isto não ocorre, é preciso ter um sócio ou colaborador que execute muito bem esta função. Material para ajudar o empreendedor nesta situação não falta. No Brasil, Vicente Falconi é um dos grandes pensadores (e executores) do planejamento estratégico. Seu livro O Verdadeiro Poder pode ser muito útil para empreendedores que estão se tornando gestores.

Por fim, o desafio que considero o mais difícil e narrado pelo Renato Steinberg da Fashion.me. Como ter bons colaboradores na sua empresa? Jim Collins, um dos poucos que conseguem alinhar ciência e arte da administração, expande este questionamento colocando outros: Quantas pessoas certas vocês têm na sua empresa? Quantas estão nos cargos-chave? Quantos cargos-chave existem na companhia? São questionamentos que acompanharão o empreendedor durante toda a sua trajetória profissional. E no final descobrirão que o que realmente importa é o foco e as pessoas que o ajudaram a atingir seus objetivos.

Mas o questionamento do Renato ainda permanece sem uma boa resposta para boa parte dos empreendedores. Por mais que haja muita teoria sobre o recrutamento de pessoas, ainda me alinho, humildemente, ao que defende Beto Sicupira, empreendedor da AB/Inbev e de tantas outras empresas: “Contrate pessoas melhores do que você, com qualidades e conhecimentos diferentes dos seus!”. Para empreendedores chegarem a esta consideração, precisam antes ter a sabedoria de reconhecer e apostar em talentos que sabem que não têm.

Por: Marcelo NaKagawa, Insper    O Estado de SP

quinta-feira, 28 de março de 2013

"O BIGODE DE ANGELA MERKEL"

"Saia de nosso país", lia-se no cartaz, sob uma foto do rosto de Angela Merkel, ao qual se acrescentara um bigode à Hitler. Diante do Parlamento cipriota, em Nicósia, a manifestante - uma pacata senhora de meia-idade - repetia um gesto banalizado nas praças de Atenas, Lisboa, Madri e até Roma. Entre os manifestantes, a chefe de governo da Alemanha personifica a "Europa", essa entidade geopolítica ainda mais abstrata que um Estado-nação. A identificação esclarece as raízes da crise da União Europeia (UE).

Chipre é um caso singular, mas também uma lição eloquente sobre o que está em jogo. Seu setor financeiro, que faliu em decorrência da quebra grega, possuía ativos oito vezes maiores que o PIB e operava como lavanderia do dinheiro sujo das máfias russas. Por isso a UE se desviou dos modelos aplicados nos demais países endividados, exigindo como contrapartida do pacote de resgate um confisco parcial dos depósitos bancários no país. A solução original, contudo, implicava a violação da promessa solene, anunciada no início da crise do euro, de preservar os direitos dos depositantes, em valores inferiores a 100 mil euros. O precedente conta: se euros podem ser confiscados na ilhota do Mediterrâneo oriental, o que impede que sejam confiscados em Portugal ou na Espanha?

"Este é um ato indisfarçável de expropriação - em outras palavras, algo do arsenal da luta de classes dos bolcheviques, não da política econômica civilizada", reagiu o Moskovskiy Komsomolets. O jornal, um porta-voz quase explícito do Kremlin numa Rússia que realizou o sonho petista do "controle social da mídia", defendia cinicamente os interesses das máfias russas, mas tocava no nervo sensível da confiança.

Confiança é o outro nome do dinheiro: o verdadeiro lastro de todas as moedas do mundo. Em Chipre, o cristal da confiança no euro foi trincado pela segunda vez. A primeira, na Grécia, derivou da "expropriação" das instituições financeiras detentoras de títulos da dívida pública. No país insular, o plano original, rejeitado pelos parlamentares, era mais grave: atingia cidadãos comuns, junto com mafiosos estrangeiros. Já o plano definitivo, que expropria massivamente os grandes depositantes russos e nem mesmo foi submetido a voto no Parlamento, equivale à destruição do motor da economia cipriota. Nenhum investidor voltará a colocar dinheiro naquela ilha em futuro previsível - e muitos pensarão duas vezes antes de comprar ativos financeiros denominados em euros.

Angela Merkel maneja, de fato, o timão da "Europa" abalada pela crise do euro. Sua estratégia deflacionária de austeridade provoca implosões sucessivas nos pilares que sustentam o edifício europeu. O bigode de Hitler, contudo, não lhe cai bem: a "ditadura" exercida pela "troika" - UE, Banco Central Europeu (BCE) e FMI - sobre os governos nacionais eleitos não deriva da vontade da Alemanha, mas precisamente da frustração da vontade alemã na hora do tratado da união econômica e monetária.

O ano era 1990, meses depois da queda do Muro de Berlim e apenas semanas antes da reunificação alemã. Do presidente François Mitterrand emergira a proposta da união monetária, um preço que a Alemanha deveria pagar pela restauração da unidade nacional. Cedendo à posição francesa, o primeiro-ministro Helmut Kohl contrariou o BundesBank, o banco central de seu país, que não escondia o temor causado pela lendária irresponsabilidade fiscal dos países do Mediterrâneo. A moeda comum serviria para soldar os destinos alemães aos da "Europa", um objetivo geopolítico que valia a dolorosa renúncia ao marco.

Kohl conhecia os riscos e tinha uma solução. "A união política é a contrapartida essencial da união econômica e monetária", explicou numa sessão do Bundestag, o Parlamento alemão, em novembro de 1991, durante as negociações do Tratado de Maastricht. "A História recente, e não apenas da Alemanha, ensina-nos que é absurdo imaginar que se possa manter a união econômica e monetária, a longo prazo, sem uma união política". União política era sua senha para a criação de um organismo europeu de fiscalização e controle dos orçamentos dos governos nacionais. A ideia, todavia, quebrou-se de encontro ao rochedo da oposição de Mitterrand. A França almejava partilhar o controle sobre a moeda alemã, mas não contemplava a hipótese de ceder à Alemanha o controle sobre o orçamento francês. Do impasse nasceu o euro, uma "criança enferma", na expressão de Timothy Garton Ash, embalada no berço dos "critérios de convergência" de Maastricht, o nome pomposo de uma promessa vazia de responsabilidade fiscal.

O poder de emitir dinheiro é inseparável do poder de emitir dívida. O Tratado de Maastricht, porém, separou um do outro, entregando o primeiro ao BCE e conservando o segundo nas mãos dos governos nacionais. A cisão, que Kohl qualificava como "absurda", reflete a tensão entre o projeto supranacional da "Europa" e a persistência dos Estados nacionais europeus. A crise do euro, derivada daquela cisão, pode ser descrita como uma dupla recusa: a rejeição alemã a uma "união da dívida" e a rejeição dos demais países à cessão do poder soberano de emitir dívida.

A UE foi concebida em 1952, quando a Alemanha aceitou compartilhar a soberania sobre seus recursos siderúrgicos, e assumiu a forma atual em 1992, quando a Alemanha aceitou compartilhar a soberania sobre sua moeda. Os dois passos, separados por quatro décadas, obedeceram ao imperativo político de construir uma "Alemanha europeia", conjurando para sempre o espectro de uma "Europa alemã". Ironicamente, porém, o fruto final deles foi o surgimento de uma "Alemanha europeia" no timão de uma "Europa alemã". Desenhar um bigode em Angela Merkel pode não ser justo, mas expressa emblematicamente a frustração provocada por esse fruto inesperado do projeto supranacional europeu. Por: Demétrio Magnoli O Estado de SP

quarta-feira, 27 de março de 2013

SOBRE FALSOS HERÓIS

Que heróis são esses que ergueram massasPregando o fim de alheias propriedades?
Tramando golpes com base em mentiras,
Ideologias de falsa igualdade.

Que heróis fajutos, que com mil falácias
Organizaram hordas de iludidos.
Disseminando ódio entre as classes
Com seus conceitos falsos e falidos.

Que heróis de araque que até hoje guiam
Servos que travam inúteis contendas;
E assim militam por ruas e becos,
E cortam cercas pra invadir fazendas.

Que heróis bandidos que pregaram roubo
E caridade com dinheiro alheio.
Mas cujo os bolsos de seus seguidores
Não se abstende a se manterem cheios.

Legado tosco o destes heróis,
Que greves tolas vão influenciando.
Pelas escolas, poluindo livros;
Nas faculdades, mitos se tornando.

E os seguidores dos heróis de barro,
Que alcançando pleno poder,
Confiscam armas do povo que, assim,
Nem mais a vida pode defender.

Sagaz macabras as destes heróis,
Cujos ideais, pátrias degeneram.
Destroem jovens, corrompendo mentes
Com utopias que nunca prosperam.

São cultuados em todas as partes;
Cidades, campus e universidades.
E assim, aos poucos, seus servis soldados
Calam as vozes que falam verdades.

Triste destino o dos que lutaram
Nas intentonas dos heróis falsários.
Fortalecendo o perigo vermelho,
Feito de ódio e rancor proletário.

Pobre cabeça que acata as ideias
De um falso herói mal-intencionado.
Pobre do homem, que iludido entrega
Sua devoção aos heróis errados.

Letra da música; Sobre Falsos Heróis de José Fiqhera Salgado

PIB, OLHANDO PARA A FRENTE

Não se deve esperar medida mais heroica do governo no sentido de enfrentar os desafios estruturais


Em nosso encontro passado, chamei a atenção do leitor para o medíocre crescimento da economia em 2012 e fiz uma previsão de dias melhores para este ano. Os dados já disponíveis sobre o comportamento da economia neste primeiro trimestre caminham nessa direção.

O Banco Central divulgou recentemente que o PIB que mede mensalmente, relativo ao mês de janeiro passado, cresceu 1,3% em relação ao mês anterior. Embora a correlação entre esse número e o PIB calculado pelo IBGE tenha sido muito baixa no período recente, esse índice IBC-BR ainda faz parte de um grupo de indicadores utilizados pelo mercado para estimar o crescimento da economia.

Outros números que funcionam como indicadores antecedentes do PIB apontam também para um crescimento mais forte neste trimestre que se encerra. Dois deles me chamaram a atenção e devem ser destaques quando o número oficial for conhecido: o crescimento da produção agrícola e o da produção e da venda de caminhões.

Fernando Montero, um dos analistas que acompanho regularmente, prevê para 2013 um crescimento do PIB agrícola de 8%. Mas, para o primeiro trimestre, em razão da sazonalidade da agricultura, o crescimento pode chegar a 13% em relação ao mesmo período de 2012.

Como o peso da agricultura no PIB é da ordem de 5%, somente esse item deve gerar um crescimento de cerca de 0,6%.

Outro setor da economia que vem mostrando um crescimento elevado, neste início de ano, é o de caminhões, bom indicador da formação bruta de capital, nome complexo do investimento nas contas nacionais do IBGE.

Com isso, mantendo o crescimento do setor de serviços na faixa dos 2,5% ao ano e projetando uma recuperação da indústria da ordem de 3%, chegamos a um crescimento no trimestre -em relação ao trimestre anterior- da ordem de 1,3%, ou seja, 5,2% anuais.

Mas, com a sazonalidade da agricultura, a taxa de crescimento dos trimestres seguintes deve se reduzir para algo como 0,8%, ou seja, 3,2% ao ano. Com isso, o número final de crescimento do PIB em 2013 será -se suas avaliações estiverem corretas- de 3,3%, com os serviços crescendo 2,6%, a indústria, 3,0%, e a agropecuária, 8,3%.

Outro economista que acompanho nas avaliações de conjuntura de curto prazo é Fabio Ramos, da Quest Investimentos. Suas previsões estão na mesma direção de Fernando Montero, mas com uma velocidade de crescimento mais baixa. Seus números hoje são 1% de crescimento para o primeiro trimestre deste ano e 2,9% a 3,2% para o ano como um todo.

Se confirmadas essas previsões, dois comentários se impõem: o primeiro é que, dado o crescimento medíocre de 2012, esses números ainda mostram uma economia com extrema dificuldade de retomar a velocidade de crescimento do período de ouro de Lula.

A segunda observação é a que essa velocidade de crescimento será suficiente para manter a geração de emprego no nível mínimo necessário para perenizar o nível atual do desemprego.

Portanto, a correção dos salários nos próximos meses deve se manter acima da inflação, garantindo aumentos reais aos trabalhadores.

Como já entramos no radar das eleições presidenciais do próximo ano, não se deve esperar nenhuma medida mais heroica do governo no sentido de enfrentar os desafios estruturais que dominam a economia brasileira hoje. Essa velocidade de crescimento e a manutenção da situação de quase pleno emprego devem ser suficientes para garantir a reeleição da presidente.

Por isso vamos continuar a ver -e a conviver- por muito tempo ainda as filas absurdas de caminhões nos principais portos do país, bem como os atrasos de dias para que os navios possam embarcar suas cargas, onerando nossas exportações.

Também as pressões inflacionárias que começam a crescer em razão de descompassos de oferta em mercados importantes serão enfrentadas com medidas paliativas, como redução de impostos na ponta do consumo. Até mesmo a política de superavit fiscais primários, que têm permitido uma redução continuada da dívida pública, será imolada no altar da reeleição. Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Folha de SP

terça-feira, 26 de março de 2013

DEZ ANOS DE GUERRA DO IRAQUE


Kofi Annan da ONU cumprimenta Saddam Hussein

Dez anos de Guerra do Iraque. O que você "sabe" é que Bush mentiu para ir à guerra e terminar o serviço começado pelo pai, certo? O que você talvez não saiba é que Saddam Hussein ignorou o acordo de inspeção com a ONU após anos brincando de "gato e rato" com os inspetores; que Hans Blix foi feito de idiota e a ONU tinha a obrigação de agir para não ser desmoralizada; que Saddam abrigou o terrorista que atacou o WTC em 1993; que deu proteção a outros terroristas como Abu Abbas e Abu Nidal; que financiou ataques suicidas no Oriente Médio; que usou gás de mostarda contra população indefesa; que tinha esquema de corrupção com gente graúda da própria ONU (no programa “Oil for Food”); que o presidente Bill Clinton, antes de Bush, assinou a autorização para o país buscar remover Saddam do poder e substituí-lo por um regime democrático; que tal medida contou com aprovação maciça da maioria do Congresso, incluindo do Partido Democrata (157 a favor x 20 contra); que o governo Clinton efetivamente iniciou ação militar, ainda sob pressão pelo escândalo Monica Lewinsky, bombardeando intensamente por quatro dias instalações iraquianas na Operação Raposa do Deserto (na Wikipedia não aparece o nome do presidente Clinton!).


ISSO tudo você sabia? Mas a imagem que ficou foi a de um cowboy beligerante resolvendo issues familiares ou em busca do petróleo (e então, como anda a colonização no Iraque hoje?). Criticar a guerra é absolutamente legítimo. O que NÃO é legítimo é ignorar todo o contexto e acusar somente Bush sem entender o que estava em jogo. Vale notar que a reação estridente veio ANTES até da guerra do Afeganistão, essa sim, absolutamente justa pela ótica americana, quando lembramos que o Talibã dava guarida aos terroristas do ataque de 11 de setembro. Compare isso com a reação após Pearl Harbor em 1941! E entenda que a máquina de propaganda esquerdista tomou conta da América, em uma estranha e nefasta simbiose com os radicais islâmicos.

Leitura recomendada: Unholy Alliance: RadicalIslam And the American Left, de David Horowitz. Por: Rodrigo Constantino



O MITO DA PRESIDENTE WORKAHOLIC

Ao longo dos últimos dois anos, os propagandistas de Dilma Rousseff construíram vários figurinos, todos fracassados pela dura realidade dos fatos. O último foi o da presidente workaholic. Trabalharia diuturnamente, seria superexigente, realizaria constantes reuniões com os ministros, analisaria detidamente os projetos e cobraria impiedosamente resultados. Porém, os dados oficias da sua agenda, disponibilizados na internet, provam justamente o contrário.


Em agosto despachou com 17 ministros. Um terço deles, apenas uma vez (como Aldo Rebelo e Celso Amorim). Deu preferência a Paulo Sérgio Passos, Gleisi Hoffman e especialmente para Guido Mantega, recebido 9 vezes. Se a a maioria deles não teve um minuto de atenção da presidente, o mesmo não se aplica a Rui Falcão, presidente do PT, e até ao presidente da UNE, Daniel Iliescu, que foram ouvidos a 9 e 22 de agosto, respectivamente.

Dilma pouco se deslocou de Brasília. Numa delas foi a São Paulo, no dia 6. Saiu às 11h30m direto para o escritório da Presidência da República na capital paulista, à época ainda sob a responsabilidade de Rosemary Noronha. Dilma foi se encontrar com Lula. Passaram horas discutindo política. Às 18h40m, retornou a Brasília. Foi a única atividade do dia.

Em setembro recebeu 14 ministros. Os mais assíduos foram os que despacham no Palácio do Planalto (Miriam Belchior, Gleisi Hoffman e Ideli Salvatti; as duas últimas, quatro vezes, e a primeira, três) e Aldo Rebelo (Esportes), três vezes. Uma sequência de 12 dias com pouquíssima atividade chama a atenção. No dia 5 recebeu um ministro (Edison Lobão) às 9h e não há mais qualquer registro. No dia seguinte trabalhou das 10h às 12h. E só. No feriado compareceu ao tradicional desfile. Na segunda-feira, dia 10, só registrou duas audiências, uma às 10h e outra às 15h.

Dois dias depois, foi uma espécie de “quarta maluca”. A presidente teve apenas dois compromissos e nenhum administrativo: às 15h, recebeu o presidente do PCdoB, “o partido do socialismo”, Renato Rabelo, e uma hora depois, mostrando o amplo arco de apoio do governo – e haja arco! -, o megaempresário Jorge Gerdau. E mais nada. No dia seguinte compareceu à posse de um ministro e ao lançamento de um programa de incentivo do esporte de alto rendimento. Na sexta-feira (14), anotou na agenda às 10h um despacho interno e rumou, no início da tarde, para Porto Alegre, onde permaneceu o fim de semana e a segunda-feira – neste dia visitando dois estaleiros.

Nada mudou em outubro. Despachou com 19 ministros. Fez uma breve viagem ao Peru, visitou São Luís e São Paulo (duas vezes: uma delas novamente ao escritório da Presidência da República e para mais um encontro com Lula). Se muitos ministros, em três meses, não foram recebidos pela presidente, o mesmo não ocorreu com Renato Rabelo. O presidente do PCdoB teve mais uma audiência, a segunda em dois meses. Dilma teve tempo para ouvir Fernando Haddad, prefeito eleito de São Paulo, no dia 29, e, dois dias depois, o de Goiânia. Ambos do PT.

Curiosamente a agenda não registrou – caso único – onde a presidente esteve nos dias 27 e 28, fim de semana.

Dilma manteve em novembro sua estranha rotina de trabalho. Recebeu 15 ministros. Dois pela primeira vez, nos últimos 4 meses: Paulo Bernardo e Antonio Patriota. Concedeu duas audiências a prefeitos eleitos: de Niterói, Rodrigo Neves, do PT; e Curitiba, Gustavo Fruet, do PDT e apoiado pelo PT. Fez uma longa viagem à Espanha e uma breve à Argentina. Mas três dias se destacam pelas curiosas prioridades: 21, 22 e 23. Na quarta-feira (21), a presidente não recebeu nenhum ministro e não efetuou qualquer despacho administrativo. Dedicou o dia a José Sarney, Gim Argello, Eduardo Braga e ao seu vice-presidente, Michel Temer.

Como ninguém é de ferro, à noite assistiu o filme “O palhaço”. No dia seguinte, a agenda registrou três compromissos, um só com ministro (o dos Portos), a posse do presidente e vice-presidente do STF e um encontro com a apresentadora Regina Casé. E na sexta-feira? Somente duas audiências e no período da tarde.

Dilma incorporou o péssimo hábito de que o mês de dezembro é “de festas”. Fez duas viagens ao exterior (França e Rússia) e despachou com apenas 9 ministros. Antecipou o réveillon para o dia 28, suspendendo as atividades por 13 dias, até 9 de janeiro.

Iniciou o novo ano com a mesma disposição do anterior: pouquíssimos despachos, audiências ou reuniões de trabalho. Em janeiro, despachou com 11 ministros. Lobão foi o recordista: quatro vezes. E, por incrível que pareça, e sempre de acordo com a agenda oficial, concedeu pela primeira vez em um semestre uma audiência para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Melhor sorte teve o ex-jornalista Franklin Martins: esteve duas vezes, em apenas quatro meses, com Dilma.

Nesse semestre (agosto de 2012/janeiro de 2013), nove ministros – cerca de um quarto do ministério – nunca foram recebidos pela presidente: Marcelo Crivella, Aguinaldo Ribeiro, Garibaldi Alves Filho, Brizola Neto, Gastão Vieira, Maria do Rosário, Eleonora Menicucci, José Elito e Alexandre Tombini (presidente do Banco Central, mas com status de ministro). Outros não mais que uma vez. Uma reunião entre a presidente e alguns ministros de áreas correlatas nunca foi realizada. Em alguns dias (como a 16 de janeiro), não concedeu nenhuma audiência e nem efetuou despachos internos. Pior ocorreu duas semanas depois, a 30 de janeiro, uma quarta-feira: está sem nenhum compromisso. É uma agenda de uma workahloic? Por: Marco Antonio Villa O globo

segunda-feira, 25 de março de 2013

IGUALDADE: O IDEAL DESCONHECIDO


Todos os homens são criados iguais.

Quando Thomas Jefferson, na Declaração de Independência dos EUA, enunciou os princípios filosóficos que fundamentaram a Revolução Americana, este foi o primeiro princípio que ele anunciou. Tal princípio seria a base e a justificativa para todo o resto. Igualdade — e não liberdade, como seria de se esperar.

A versão original da Declaração dava ênfase à importância da igualdade de forma ainda mais percuciente. A versão final e mais conhecida declara:

Consideramos estas verdades como auto-evidentes: que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

Mas o que Jefferson originalmente escreveu foi isso:

Consideramos estas verdades sagradas e inegáveis: que todos os homens são criados iguais e independentes; que desta criação igual resulta que eles possuem direitos inerentes e inalienáveis, dentre os quais estão a preservação da vida e da liberdade, e a busca da felicidade.

Até onde sei, as palavras foram alteradas não por motivos substantivos, mas sim estilísticos. A versão final de fato flui mais suavemente. Porém, a versão original é mais filosoficamente precisa. Em comparação à versão final, em que igualdade e liberdade são apresentados como sendo apenas dois princípios fundamentais — sendo que a relação de um com o outro é vaga e obscura —, na versão original o valor da liberdade é explicitamente formulado como sendo secundário ao valor da igualdade. Mais ainda: é formulado como sendo derivado da igualdade.

No entanto, nós libertários não falamos tão frequentemente, ou tão calorosamente, sobre igualdade. Em vez disso, falamos sobre liberdade; é por isso que nos chamamos de libertários, e não de igualitários. Por outro lado, aqueles que com mais frequência invocam a questão da igualdade nos discursos políticos atuais tendem a ser inimigos dos princípios libertários que nós esposamos. Sendo assim, e tomando por base as palavras de Jefferson, como pode a igualdade ser nosso ideal, se é também o ideal deles?

A resposta está no fato de que é necessário especificar conceitos: igualdade de quê? Igualdade em relação a quê? Nossos oponentes igualitários defendem a igualdade socioeconômica — algumas vezes interpretada como igualdade de oportunidades socioeconômicas, e algumas vezes interpretada como igualdade de resultadossocioeconômicos. (Nos dias de hoje, a diferença entre as duas está cada vez mais obscura, uma vez que a desigualdade de resultados é interpretada como evidência indiscutível da desigualdade de oportunidades). Que tipo de igualdade nós defendemos?

Com alguma frequência, sugere-se que a versão libertária de igualdade refere-se à igualdade legal — isto é, igualdade perante a lei. De fato, é verdade que o ideal de igualdade legal é constantemente invocado por libertários contra vários programas que apresentam uma linhagem socioeconomicamente igualitária (tais como leis trabalhistas e leis antidiscriminação que dão aos empregados, ao mesmo tempo em que negam aos empregadores, o direito de terminar a relação empregador-empregado de acordo com sua vontade).

Porém, uma igualdade legal deste tipo é muito limitada para constituir o ideal libertário. Assim como os igualitários socioeconômicos consideram que a igualdade legal é inadequada porque (na memorável frase de Anatole France) proíbe tanto os ricos quanto os pobres de dormir embaixo de viadutos, os libertários também não ganhariam muitos aplausos caso, por exemplo, ampliassem a injustiça do recrutamento militar obrigatório também para as mulheres — isso seria um avanço em termos de igualdade legal, mas dificilmente um avanço em termos de liberdade. Como disse Murray Rothbard,



A justiça da igualdade de tratamento depende acima de tudo da própria justiça deste tratamento. Suponhamos, por exemplo, que João, com sua comitiva, proponha-se a escravizar um grupo de pessoas. Devemos afirmar que a "justiça" exige que cada um seja escravizado igualmente? E suponhamos que alguém tenha a sorte de escapar. Devemos condenar este fugitivo pelo fato de ele ter se esquivado da 'igualdade de justiça' dada aos seus companheiros?

Similarmente, o conceito de igualdade de liberdade também é incapaz de capturar todo o ideal libertário. Um mundo no qual todos os indivíduos tivessem uma ínfima e idêntica quantia de liberdade não seria um mundo libertário. Podemos falar, como fez Herbert Spencer, sobre uma lei que estipulasse uma liberdade idêntica para todos (Lei de Igual Liberdade), mas tal lei especificaria não apenas a equalização da liberdade, mas também a suamaximização; não é o quesito 'igual' quem efetua o verdadeiro trabalho. A lei da liberdade idêntica trata a igualdade como sendo, na melhor das hipóteses, uma restrição sobre a liberdade máxima, e não a sua base.

Digo "na melhor das hipóteses" porque a liberdade idêntica para todos é uma consequência lógica da liberdade máxima, e não algum tipo de restrição sobre ela. Citando Rothbard novamente:

Caso uma pessoa deseje obrigar todos os homens a comprar um carro, ela pode formular tal objetivo da seguinte maneira: "Todo homem deve comprar um carro", em vez de usar termos como: "Todos os homens devem ter igualdade na compra de um carro". . . . A Lei de Igual Liberdade de Spencer é redundante. Pois, se cada homem tem a liberdade de fazer tudo o que queira, infere-se desta mesma premissa que a liberdade de nenhum outro homem foi infringida ou invadida. . . . O conceito de "igualdade" não tem lugar legítimo na "Lei de Igual Liberdade", podendo ser substituído pelo determinante lógico "todo". A "Lei de Igual Liberdade" poderia muito bem ser renomeada "Lei da Liberdade Total".

Mas se nem a igualdade legal e nem a igualdade de liberdade são suficientes para uma sociedade livre, então em que sentido podemos deduzir que temos o direito à liberdade do mero fato de termos sido criados iguais?

Para obtermos a resposta a esta questão, temos de ir à fonte de Jefferson, John Locke, que nos diz exatamente o que é "igualdade" no sentido libertário: mais especificamente, trata-se de uma condição onde a reciprocidade determina todo o poder e toda a jurisdição, ninguém tendo mais que os outros; evidentemente, seres criados da mesma espécie e da mesma condição, que, desde seu nascimento, desfrutam juntos de todas as vantagens comuns da natureza e do uso das mesmas faculdades, devem ainda ser iguais entre si, sem subordinação ou sujeição. . . .

Em suma, a igualdade de que Locke e Jefferson falam é a igualdade de autoridade: a proibição de qualquer "subordinação ou sujeição" de um indivíduo a outro. Dado que qualquer interferência de A na liberdade de B constitui uma subordinação ou sujeição de B a A, o direito à liberdade advém diretamente da igualdade de "poder e jurisdição". Como explica Locke:

Sendo todos iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, sua liberdade ou seus bens. . . . Dotados de faculdades similares, dividindo tudo em uma única comunidade da natureza, não se pode conceber que exista entre nós uma "hierarquia" que nos autorizaria a nos destruir uns aos outros, como se tivéssemos sido feitos para servir de instrumento às necessidades uns dos outros, da mesma maneira que as ordens inferiores da criação são destinadas a servir de instrumento às nossas.

Esta é uma notável declaração pré-kantiana do princípio de que seres humanos não devem ser tratados como meros meios para a consecução dos fins almejados por outros. (Observe, também, como tanto Locke quanto Jefferson invocam a independência como sendo um corolário de igualdade de autoridade).

Podemos entender agora por que tanto a igualdade socioeconômica quanto a igualdade legal são insuficientes para se chegar ao radicalismo da igualdade lockeana. Nenhuma destas duas formas de igualdade questiona a autoridade daqueles que administram o sistema legal; tais administradores são requeridos meramente para garantir igualdade entre os administrados. Assim, comparada à igualdade legal, a igualdade socioeconômica, não obstante as arrojadas alegações de seus partidários, não representa nenhum desafio adicional ao poder vigente. Ambas as formas de igualdade apelam a esta estrutura de poder para que ela tome determinadas medidas; e, ao fazerem isso, ambas pressupõem — na verdade, pedem por — uma desigualdade de autoridade entre aqueles que administram o arcabouço legal e aqueles que são os administrados.

A versão libertária da igualdade não é limitada desta maneira. Na visão de Locke, igualdade de autoridade significa negar aos administradores do sistema legal — e consequentemente ao próprio sistema legal — quaisquer poderes além daqueles em posse dos indivíduos comuns:

Cabe a cada um, neste estado, assegurar a "execução" da lei da natureza, o que implica que cada um tem o direito de punir os transgressores desta lei com uma severidade tal que venha a impedir sua violação. . . . Pois nesse estado de perfeita igualdade, onde naturalmente não há superioridade ou jurisdição de um sobre o outro, o que um pode fazer para garantir essa lei, todos devem ter o direito de fazê-lo.

A igualdade lockeana envolve não apenas uma igualdade perante os legisladores, os juízes e a polícia, como também, e de maneira ainda mais crucial, uma igualdade junto aos legisladores, juízes e policiais.

Por este critério, Murray Rothbard, em sua defesa do anarcocapitalismo, acaba se revelando um dos mais consistentes e completos teóricos igualitários de nossa era. Sendo ele o autor do ensaio O igualitarismo é uma revolta contra a natureza, Rothbard pode muito bem estar se revirando em seu túmulo ao ouvir tal descrição a respeito de si próprio. Porém, como veremos, aquilo que Ayn Rand costumava dizer sobre o capitalismo — que o capitalismo é um ideal desconhecido — se aplica a fortiori para a igualdade: o conceito de igualdade, propriamente entendido, é também de várias maneiras um ideal desconhecido — desconhecido tanto para seus defensores quanto para seus detratores.

Desde a época de Locke, libertários têm se dividido em dois campos. Alguns, como Rothbard, adotaram a igualdade lockeana como sendo um padrão absoluto para todo e qualquer sistema legal. Outros, seguindo o próprio Locke, consideraram que a igualdade lockeana pura gera uma restrição impraticável sobre um sistema legal. Sendo assim, eles defenderam abrir mão de uma determinada quantidade de igualdade lockeana com o intuito de tornar praticável a proteção legal da igualdade lockeana que restasse.

Minha afinidade está com o primeiro grupo. Da maneira como vejo, os argumentos de Locke para a incompatibilidade da igualdade lockeana com uma ordem legal operante incorrem na falácia da composição ou na falácia da reificação. Por exemplo, da alegação de que todo mundo deveria submeter suas contendas a uma entidade externa, Locke falaciosamente infere que deveria haver uma entidade externa para quem todo mundo submeteria suas contendas. Isso é semelhante a dizer que da afirmação todo mundo gosta de pelo menos um programa de TV, pode-se inferir que existe apenas um programa de TV do qual todo mundo gosta.

No entanto, mesmo que o segundo grupo esteja certo, e de fato fosse necessário abrir mão de uma determinada quantidade de igualdade lockeana com o intuito de proteger o que restasse, ainda assim seria verdade que quaisquer poderes exclusivos do governo que fossem além do que é estritamente necessário para o funcionamento de um sistema legal constituiriam uma injustificável afronta à igualdade humana. Ambos os grupos procuram, de qualquer forma, minimizar qualquer afastamento da igualdade lockeana. Sendo assim, os libertários tradicionalmente direcionam sua ira contra as desigualdades de autoridade que existem entre, de um lado, o cidadão comum, e, do outro, os administradores do sistema legal (bem como os grupos de interesses privados que, por meio de lobbies e contratos, se beneficiam com os privilégios concedidos pelo governo).

A escritora Wendy McElroy pesquisou a interação dentro do movimento feminista de três ideais igualitários distintos: um ideal "convencional" — igualdade perante a lei — e dois ideais mais "radicais" — igualdade socioeconômica, a qual McElroy identifica como sendo um ideal socialista ou marxista, e aquilo que venho chamando de 'igualdade de autoridade', o qual McElroy identifica como sendo um ideal individualista ou libertário:

O significado de igualdade diverge dentro do movimento feminista. Ao longo de grande parte de sua história, o feminismo convencional considerou a igualdade como sendo tratamento igualitário sob as leis vigentes e representação igualitária dentro das instituições vigentes. O objetivo não era mudar o status quo, mas sim ser incluído nele. As feministas mais radicais protestaram dizendo que as leis e as instituições vigentes eram a fonte de todas as injustiças, e, sendo assim, não poderiam ser reformadas. [...] 

Seus conceitos de igualdade refletiam isto. Para o individualista, igualdade era um termo político que se referia à proteção dos direitos individuais; ou seja, proteção da jurisdição moral que todo ser humano possui sobre seu corpo. Para as feministas-socialistas, era um termo sócio-econômico. ... Ao passo que a análise de classe marxista utiliza como ponto de referência a relação de uma determinada classe para com o modo de produção, a análise de classe libertária utiliza como critério a relação de uma determinada classe para com os meios políticos. A sociedade é dividida em duas classes: aqueles que utilizam os meios políticos — que é a força — para adquirir riqueza e poder, e aqueles que utilizam os meios econômicos, os quais requerem interação voluntária. A primeira classe é a classe dominante, que vive à custa do trabalho e da riqueza da outra classe.

De uma perspectiva libertária, os igualitários socioeconômicos acabam se revelando, de forma muito embaraçosa, apologistas da classe dominante.

A resistência libertária a propostas socioeconomicamente igualitárias é ela própria baseada em um ideal igualitário. Isso é algo raramente reconhecido, mas é uma verdade. O único igualitário socioeconômico que sei que reconhece isto é Amartya Sen. Não obstante, Sen é a exceção que comprova a regra. Pois ele também não entendeu o ponto: ele interpreta igualdade libertária com igualdade de liberdade, uma interpretação que já vimos ser inadequada. Eis como Sen vê a questão:

Os pensadores libertários [...] não apenas são vistos como anti-igualitários, como também são considerados anti-igualitários precisamente por causa do seu interesse prioritário na liberdade. ... [E]ste modo de ver a relação entre a igualdade e a liberdade é completamente inadequada. Os libertários devem considerar importante que as pessoas devam ter liberdade. Dado isso, imediatamente surgem perguntas como:quem, quanto, distribuída como, quão igual? Por isso, o problema da igualdade aparece imediatamente como um complemento da afirmação da importância da liberdade. A proposta libertária tem de ser complementada passando-se a caracterizar a distribuição de direitos entre as pessoas envolvidas. Com efeito, as demandas libertárias por mais liberdade tipicamente incluem características importantes de "liberdade igual", por exemplo, a insistência na igual imunidade à interferência de terceiros. ... A liberdade está entre os possíveis campos de aplicação da igualdade, e a igualdade está entre os possíveis padrões de distribuição da liberdade.

A análise de Sen é confusa neste ponto, e por dois motivos. Primeiro, como já vimos, igualdade de liberdade não é um complemento ao valor da liberdade, mas simplesmente advém do ideal de liberdade total. (A incapacidade de Sen de reconhecer isto pode ser devido ao fato de ele pensar a liberdade em termos positivos, como liberdade de fazer isso ou aquilo, em cujo caso a necessidade de se respeitar a liberdade de terceiros seria uma limitação à própria liberdade do indivíduo, desta forma fazendo com que a liberdade para todos seja impossível. Porém, se a liberdade for entendida em termos negativos, ou seja, liberdade de não sofrer interferências coercivas, então a liberdade total para todos é perfeitamente possível). Segundo, Sen trata a liberdade como sendo algo que os libertários valorizam por algum acaso, e à qual subsequentemente aplicam considerações igualitárias — não reconhecendo que a própria liberdade está fundamentada em uma preocupação com a igualdade no sentido lockeano.

Como já dito, o argumento contra legislações socioeconomicamente igualitárias é, por si mesmo, igualitário; tais legislações invariavelmente envolvem a coerciva subordinação ou sujeição de indivíduos dissidentes aos tributos e regulamentações impostos pelas autoridades estatais, e desta forma pressupõem uma desigualdade de autoridade entre governantes e governados. Como escreveu Ludwig Von Mises:

É importante lembrar que intervenção do governo significa sempre ou ação violenta ou ameaça de ação violenta. Os fundos gastos pelo governo em qualquer de suas atividades são obtidos por meio de impostos. E os impostos são pagos porque os contribuintes não se atrevem a desobedecer aos agentes do governo; eles sabem que qualquer desobediência ou resistência seria inútil. Enquanto perdurar esse estado de coisas, o governo tem a possibilidade de arrecadar tanto quanto queira para suas despesas.

Governo é, em última instância, o emprego de homens armados, de policiais, guardas, soldados e carrascos. A característica essencial do governo é a de impingir os seus decretos por meio do espancamento, do encarceramento e do assassinato. Quem pede maior intervenção estatal está, em última análise, pedindo mais coerção e menos liberdade.

Tampouco iria uma versão anarquista de socialismo funcionar melhor; enquanto algumas pessoas detiverem o privilégio de impor políticas redistributivas à força ou pela ameaça da força sobre terceiros que discordam de tal ideia, haverá desigualdade de autoridade entre os repressores e os coagidos, não importando se aqueles que estão praticando a coerção são cidadãos públicos ou indivíduos privados, e independentemente de eles representarem uma maioria ou uma minoria. Tampouco iria uma selva hobbesiana, na qual qualquer um está livre para impor seu desejo sobre todos os outros, representar a igualdade de autoridade. Pois sempre que uma pessoa for bem sucedida em subjugar uma outra, estará havendo uma desigualdade de autoridade.

A selva hobbesiana pode representar uma igual oportunidade de autoridade, mas neste contexto o libertário defende a igualdade de resultados. (Incidentalmente, é por isso que o direito à liberdade é inalienável). Somente o uso defensivo de força é justificável, uma vez que tal uso, em vez de violar, restaura a igualdade de autoridade. Da mesma maneira, uma democracia idealizada, na qual cada cidadão possui a mesma chance de ascender a uma posição de poder político, também representa apenas uma igual oportunidade de autoridade, e não uma igualdade de resultados; sendo assim, seria também uma afronta à igualdade lockeana. Para um libertário, o ditado "qualquer um pode se tornar presidente", se fosse verdadeiro, teria o mesmo sentido de "qualquer um pode ser o próximo a assaltar você."

Desigualdade de autoridade é muito mais ofensivo, do ponto de vista moral, do que a mera desigualdade socioeconômica; logo, sempre que demandas por igualdade socioeconômica entrarem em conflito com demandas por igualdade libertária — algo que geralmente ocorre —, deve-se dar preferência a esta última.

Os igualitários socioeconômicos comprovam — se não por suas palavras, por suas ações — que eles consideram a desigualdade de autoridade um mal maior do que a desigualdade socioeconômica. A maioria dos igualitários socioeconômicos que conheço certamente ficaria mais ultrajada em ser assaltada por um colega do que em saber que tal colega está recebendo um salário maior. Logo, na prática, eles claramente reconhecem qual destas desigualdades é um mal maior. Com efeito, a maioria dos igualitários socioeconômicos conduz suas interações pessoais diárias de acordo com uma escrupulosa aderência a princípios libertários, e espera receber o mesmo tratamento em retorno.

Os igualitários socioeconômicos também dizem que a desigualdade socioeconômica é em si mesma uma forma de desigualdade de autoridade, tendo portanto de ser proibida. Porém, como afirmou Rothbard, esta combinação de ideias é inconsistente:

O indivíduo A recusa-se a realizar uma troca com B. O que devemos dizer ... caso B mostre uma arma e ordene A a realizar a troca? ... B está cometendo violência; não há dúvidas quanto a isso. ... [E]ssa violência tanto é invasiva e, portanto, injusta, ou defensiva, e portanto, justa. Caso adotemos o argumento do "poder econômico", devemos escolher a última postura. Caso o rejeitemos, temos de adotar a primeira. ... O estatista "moderado" não pode logicamente dizer que há "muitas formas" de coerção injustificada. Ele deve escolher uma ou outra, e manifestar-se conforme a postura escolhida. Ou ele deve dizer que há uma única forma de coerção ilegal — a violência física evidente — ou deve dizer que só há uma forma de coerção ilegal: a recusa de se fazer uma troca.

Para expandir este argumento de Rothbard: uma proibição sobre todos — ou mesmo sobre quase todos — os casos de desigualdade lockeana não é consistente com o fato de que tanto a desigualdade socioeconômicaquanto a iniciação de força são formas de desigualdade lockeana, pois um banimento efetivo da desigualdade socioeconômica requer o endosso de uma sistemática iniciação de força em escala maciça. Logo, igualitários socioeconômicos, caso queiram ser consistentes, podem oferecer seu ideal somente como um substituto para a igualdade lockeana, e não como uma extensão dela. (O mesmo ponto se aplica àqueles estatistas que dizem que direitos negativos são muito bons, mas que precisamos também de direitos positivos — como se cada direito positivo acrescentado não significasse um direito negativo removido).

Dada a vasta desigualdade de autoridade entre o aparato estatal e seus súditos — ou seja, dada a vasta desigualdade socioeconômica entre eles —, como é possível que aqueles que se consideram tão dedicados à igualdade humana prontamente se tornem apologistas do estado? Isso é algo que atordoa os libertários. Não dá para entender como é que aqueles que demonstram tamanha sensibilidade em relação a restrições de escolha e a diferenças de poder de barganha, quando estas derivam de fatores de mercado, se tornam tão incrivelmente cegos para as restrições de escolha e os desiguais poderes de barganha gerados pelo braço armado do estado, o qual tem plenos poderes para impingir suas demandas por meio da violência legalizada.

O filósofo chinês do século V a.C., Mo-tzu, certa vez observou que, se alguém é capaz de reconhecer um ato de agressão injusta quando este é perpetrado por um indivíduo contra outro, mas não é capaz de reconhecer a mesma injustiça quando o mesmo ato é perpetrado por um grupo organizado de indivíduos, então tal pessoa deve ter uma mente confusa em relação ao que é certo e ao que é errado. Igualitários socioeconômicos, portanto, devem viver sob algum tipo de confusão mental. Mas por quê?

Um cínico poderia responder dizendo que os igualitários socioeconômicos não são de modo algum confusos; sua suposta devoção à igualdade seria simplesmente um disfarce para se conseguir mais poder, sendo que eles isentam o estado de suas críticas porque planejam algum dia estar em seu comando, ou pelo menos estar em boas relações com quem está no comando. Essa me parece ser uma análise sensata de alguns — mas somente de alguns — igualitários socioeconômicos. A maioria dos igualitários socioeconômicos que conheço pessoalmente é sincera em seu igualitarismo e bem intencionada em seu estatismo.

Não estou com isso querendo dizer que eles são totalmente inocentes; afinal, um estatista inocente seria aquele que dissesse: "Eu reconheço — e quem não reconheceria? — que a coerciva subjugação de indivíduos ao estado por meio da violência legalizada ou da ameaça dela é um grande mal. Mas este mal, infelizmente, é necessário para se prevenir males ainda maiores". Um estatista que assumisse este ponto de vista não poderia se sentir jubiloso em relação ao seu estatismo; ao contrário, ele teria de se comportar com a trágica solenidade de Agamenon, que sacrificou sua filha para salvar a frota.

Igualmente, o inocente estatista dificilmente poderia se permitir chegar a esta lúgubre conclusão sem antes investigar as possíveis alternativas — as quais, para um estatista na academia, teria de envolver pesquisas cuidadosas e tentativas de refutação de (e ele desesperadamente esperaria não conseguir refutar) toda a rica literatura libertária que argumenta que a maioria dos outros males que ele cita pode ser evitada por meios não-estatistas. Por estes critérios, poucos estatistas se qualificam como inocentes. Buscar por alternativas à desigualdade de autoridade seria reconhecer que o estatismo envolve tal desigualdade. Pior ainda: seria reconhecer isso antes de se certificar de que existem alternativas. Isso forçaria o estatista a ter de fazer uma desagradável escolha, a qual ele prefere evitar. Logo, considero o estatismo como sendo, pelo menos na maioria dos casos, um vício moral, e não um mero erro cognitivo, da mesma maneira que o racismo e o sexismo são vícios morais, e não meros erros cognitivos.

Porém — e, novamente, assim como o racismo e o sexismo —, o estatismo é um tipo de vício moral que tende a adentrar a alma por meio do auto-engano, por meio de uma osmose semi-consciente. O estatismo é um tipo de banalidade arendtiana. Não é algo que você abraça por meio da aceitação direta. É uma forma de cegueira espiritual que pode, e de fato consegue, infectar até mesmo aqueles são realmente sinceros e bem intencionados (Não estou aqui sugerindo que libertários são geralmente mais virtuosos do que estatistas. A justiça é apenas uma virtude dentre várias, e o libertarianismo é apenas uma aplicação da justiça; portanto, a única moral autocongratulatória que podemos nos permitir é que somos melhores do que nossos colegas em um aspecto de uma virtude).

Qual forma essa cegueira espiritual assume? De um lado, a ideologia estatista tem de fazer com que a violência do estado se torne invisível. Somente assim a afronta à igualdade que tal ideologia diz representar será encoberta. Assim, estatistas tendem a tratar as ordens governamentais como se fossem feitiçarias, algo que passa diretamente do decreto para o resultado, sem a inconveniência dos meios; dado que, no mundo real, o principal meio empregado pelo governo é a violência — tanto sua ameaça quanto sua efetivação —, encarar os decretos estatais e sua violenta implantação como uma espécie de magia serve para disfarçar tanto a imoralidadequanto a ineficiência do estatismo, uma vez que tal postura simplesmente ignora todo o estrago deixado no caminho entre o decreto e o resultado.

No entanto, por outro lado, a efetividade de decretos governamentais depende exatamente de as pessoas estarem perfeitamente cientes da força que está por trás destes decretos. Sendo assim, o estatismo pode manter sua plausibilidade somente ao implicitamente projetar um tipo de paródia grotesca da doutrina católica da transubstanciação: assim como o pão e o vinho devem ser transformados em sua essência no corpo e no sangue de Cristo para desempenharem seu papel espiritual necessário, ao mesmo tempo em que devem manter a aparência externa de pão e vinho para efetuarem seu papel prático necessário, a violência do estado, para ser justificada, tem de ser transubstanciada em sua essência em uma pacífica feitiçaria, ao mesmo tempo em que, para ser efetiva, deve manter a aparência externa de violência. (Esta sacralização da violência do estado explica como, por exemplo, os defensores do desarmamento se consideram genuínos oponentes da violência ao mesmo tempo em que ameaçam maciça e sistemática violência contra cidadãos pacíficos.)

Porém, ignorar ou mascarar a violência sobre a qual a legislação socioeconômica necessariamente se baseia é aquiescer à injusta subjugação e sujeição que tal violência personifica. É tratar aqueles subjugados e sujeitados como meros meios para os fins almejados por aqueles que fazem a subjugação, e assim pressupor que há uma desigualdade legítima de poder e de jurisdição entre os dois grupos. A repulsa libertária contra tal arrogante pressuposição é ipso facto um impulso igualitário. Aqueles que não sentem nenhuma repulsa não devem esperar que suas credenciais igualitárias não sejam questionadas; eles podem até reverenciar a igualdade na teoria, mas são incapazes de reconhecê-la na prática.

Pois, à medida que passávamos, e contemplávamos a devoção daquelas pessoas, vimos um altar com esta inscrição: PARA O IDEAL DESCONHECIDO. Aquilo que eles ignorantemente veneravam, era aquilo que nós havíamos imposto a eles. Por muito tempo, permitimos que nossos confusos oponentes monopolizassem a bandeira da igualdade. Temos mais direito a ela do que eles. Já passou da hora de tomarmos essa bandeira de volta.

[1] Murray N. Rothbard, Governo e Mercado: a economia da intervenção estatal (Instituto Mises Brasil, 2012), p. 160.[2] Rothbard, Governo e Mercado, p. 233
[3] John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo II. 4.
[4] John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo II. 6.
[5] John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo II. 7.
[6] "Introduction: The Roots of Individualist Feminism in 19th-Century America," pp. 3, 23, in Wendy McElroy, ed., Freedom, Feminism, and the State, 2nd ed. (New York: Holmes & Meier, 1991), pp. 3-26.
[7] Amartya Sen, Inequality Reexamined (Cambridge: Harvard University Press, 1992), pp. 21-23.
[8] Ludwig von Mises, Ação Humana XXVII. 2.
[9] Rothbard, Governo e Mercado, pp. 245-246
[10] Burton Watson, ed. & trans., Mo Tzu: Basic Writings (New York: Columbia University Press, 1963), pp. 50-51.

Roderick T. Long é membro sênior do Ludwig von Mises Institute, professor de filosofia na Universidade de Auburn, Alabama, e autor do livro Reason and Value: Aristotle Versus Rand. Ele preside o Molinari Institute e a Molinari Society.

O IDH E O CONTO DO IMPERADOR SEM ROUPA

Na fábula de Hans Christian Andersen apenas as pessoas inteligentes poderiam ver o tecido especial (que não existia) com o qual se faria a "roupa nova do imperador". Mas sem ser avisada, uma criança notou que o imperador estava sem roupa. Desde a sua criação em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem feito o papel da criança na fábula ao chamar a atenção das sociedades para como elas estão "vestindo-se" com as peças básicas do desenvolvimento humano.


Com a notícia oficial de que o Brasil continua estável no ranking do IDH, parece que o imperador continua vestido, mas uma olhada mais detalhada nos números trazidos pelo IDH e sua nova metodologia sugere pelo menos a existência de três conjuntos de razões para preocupar-nos com a roupa do imperador, mesmo correndo o risco de parecermos pouco inteligentes para a corte.

O primeiro conjunto de razões é sobre a tendência agregada do ranking do Brasil no longo-prazo. Quando comparamos a evolução do IDH desde a sua criação notamos que o Brasil já esteve muito melhor posicionado no ranking, por exemplo 51º em 1990, 58º em 1996 e 63º em 2005. De fato, desde esse último ano, o ranking do Brasil no IDH vem caindo, atingindo o seu ranking mais baixo de toda a história justamente em 2012. Pode-se contra-argumentar que em outros anos não foram incluídos 187 países como em 2012 e 2011 (a média histórica é de 175 países), mas o fato é que a maior parte das inclusões ao longo do tempo foram abaixo do Brasil.

Nos últimos 10 anos, o Peru ultrapassou o Brasil no ranking e em 2012 o Brasil ultrapassou o Equador. Outros países, aparte das quedas da Argentina e Costa Rica, se mantiveram estáveis no ranking, o que não é uma boa notícia para o Brasil: a desaceleração do crescimento do IDH do país é mais significativa do que a de outros países latino-americanos e não se vislumbra possibilidades do Brasil alcançar o IDH de países como Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, Panamá, México, Costa Rica e mesmo Venezuela no médio prazo.

Argumentos do tipo "a taxa de crescimento do IDH brasileiro de 1990 a 2012 foi de 24%, maior que a do Chile, Argentina e México" infelizmente ignoram que se considerados outros períodos, por exemplo nos últimos 5 anos, a taxa de crescimento do IDH da Argentina e de outros 7 países latino-americanos é superior a do Brasil. O problema não é que o Brasil não tenha melhorado no longo-prazo, o problema é a desaceleração recente do crescimento do IDH brasileiro, principalmente levando-se em consideração que países como o Brasil na 85º posição deveriam crescer mais do que países como Chile (40º) e Argentina (45º) pela simples razão que têm mais espaço para crescer dentro da escala zero a um do IDH.

O segundo conjunto de razões é sobre as deficiências estruturais que seguem no país, principalmente nas áreas da saúde e da educação. Dentro de um conjunto de 12 países latino-americanos que estão no mesmo grupo de desenvolvimento do Brasil, mais Chile e Argentina, pode-se notar que o Brasil é o país que tem a taxa de expectativa de vida mais baixa de todos. Enquanto vivemos em média 74 anos, pessoas que vivem no Chile vivem 79,3 anos, na Argentina 76,1 anos, no Uruguai 77,2 anos, etc. O Brasil é um dos países latino-americanos onde a distribuição da expectativa de vida é mais desigual, com perdas de 14,4% no IDH-saúde. Também é o país com o pior índice de satisfação com a saúde, com apenas 44% de aprovação. Na educação, temos a maior taxa de abandono do primário (24,3%) e uma das menores taxas de matrícula no terciário (36,1%) dentre os países latino-americanos no mesmo grupo de desenvolvimento. O dados do IDH revelam que enquanto o país não investir pesadamente em saúde e educação, não deve haver evolução relativa no ranking do IDH. Associado ao primeiro conjunto de razões, não deve haver convergência também em relação aos países latino-americanos melhor posicionados no ranking.

O terceiro conjunto de razões é metodológico. Atualmente há muita dificuldade para se entender e interpretar o índice. Existem dois problemas principais que explicam essa dificuldade: o IDH passou a ser calculado em 2010 a partir de "postos variáveis", isto é, com base nos valores máximos e mínimos observáveis anualmente para todos países. Com isso, o valor absoluto per se do IDH deixou de ter valor. É preciso agora um recálculo do índice para que ele possa ser comparado ano a ano. E aí vem o segundo problema. Quando esse recálculo é feito, grande parte da variação do IDH que poderia ser observada esse ano (já que não foi registrada no ano anterior), fica computada no ano contra-factual, ou seja, no ano ajustado, que de fato nunca existiu e nem vai existir. O recálculo do valor absoluto do índice em si não é o problema, mas o do ranking sim. Com isso passa desapercebida a queda do Brasil no ranking do IDH no longo prazo. Por que não dizemos que caímos uma posição no ranking em 2012 e caímos 11 posições em 2011? (parcialmente pela entrada de 7 novos países a frente do Brasil?) Fica o medo talvez de dizermos que o imperador está sem roupa.

Seria injusto qualificar os programas sociais brasileiros de uma "linda roupa" feita com o tecido especial do alfaiate de Christian Andersen. Há muita coisa boa feita no país e elogios são devidos às várias políticas públicas nacionais, principalmente as que se preocupam com as pessoas mais pobres. A questão não parece ser "o quê", mas o "como" dessas políticas, porque vistas sob a ótica do IDH elas têm produzido o impacto do imperador sem roupa. Possivelmente os programas sociais focam demais na renda como critério de seleção e avaliação de impacto dos mesmos. Moral da história: olhe, olhe de novo, olhe de novo, de novo, precisamos da coragem das crianças e do que é dito pelo IDH para que enfrentar o óbvio e para que todos tenhamos um futuro melhor no nosso país. Por: Flavio Comim Valor Econômico

domingo, 24 de março de 2013

UM VÍDEO QUE ILUSTRA O MELHOR ARTIGO JÁ ESCRITO SOBRE O LIVRE MERCADO

O homem é capaz de manejar ferramentas. Com muito treino e dedicação, ele pode ser capaz de manejá-las com total exímio. Ele pode se tornar produtivo e atingir limites que parecem impossíveis para terceiros. 

Mas um homem sozinho não pode fazer muita coisa. Sua qualidade de vida será extremamente baixa caso não haja uma divisão do trabalho, isto é, caso outros indivíduos também dediquem suas habilidades àquilo que sabem fazer melhor. 

Segundo Ludwig von Mises,

Tão logo o trabalho é dividido, a própria divisão passa a exercer uma influência diferenciadora. O fato de o trabalho ser dividido possibilita um maior aperfeiçoamento do talento individual, o que por si só já faz com que a cooperação seja ainda mais produtiva. 

Por meio da cooperação, os homens são capazes de alcançar aquilo que estaria além de suas capacidades enquanto indivíduos; e até mesmo o trabalho que um indivíduo é capaz de realizar sozinho se torna mais produtivo. 

Porém, tudo isto só pode ser entendido em toda a sua complexidade quando as condições que governam o aumento da produtividade sob a cooperação são especificadas com precisão analítica.

E foi justamente visando a analisar toda essa complexidade permitida pela divisão do trabalho, que Leonard E. Read, fundador do instituto Foundation for Economic Education — o primeiro moderno think tank libertário dos EUA —, escreveu em 1958 aquele que é considerado até hoje o melhor e mais sucinto artigo sobre o funcionamento do livre mercado e sobre os milagres operados pela divisão do trabalho: Eu, o lápis.

O artigo mostra por que ninguém é capaz de construir sozinho um objeto tão aparentemente simples quanto um lápis. Um simples lápis é um instrumento tão complexo, que todo o processo de coordenação e cooperação necessário para fabricá-lo está muito além da capacidade de imaginação de um ser humano comum.

Esta constatação foi capaz de persuadir inúmeras pessoas acerca do poder e da criatividade do livre mercado. 

Desde que foi escrito, há mais de meio século, este artigo permanece a pedra no sapato coletivista de keynesianos e marxistas: os primeiros consideram o livre mercado um arranjo ineficiente em termos de produção, um arranjo no qual o governo tem de interferir e regular de modo a direcionar a produção para aqueles setores que os burocratas do governo consideram mais importantes; já os últimos defendem que a produção só será eficiente se o governo for o proprietário de dos meios de produção e dos recursos naturais. O artigo de Read, ao apresentar tanto a teoria quanto a realidade, mostra o quão parvas são as afirmações destas duas ideologias.

Adam Smith tornou-se famoso por apresentar o conceito da mão invisível do mercado, a qual possibilitava a cooperação sem coerção. Já Friedrich Hayek deu ênfase tanto à importância do conhecimento disperso pela sociedade quanto à função do sistema de preços em emitir informações que farão com que os indivíduos façam as coisas desejáveis sem que nenhum comitê central tenha de ditar ordens. Nenhum outro artigo consegue, de maneira tão sucinta, tão persuasiva e tão eficaz, ilustrar o funcionamento prático de todos estes conceitos.

O livre mercado, ao ampliar a divisão do trabalho, ao estimular a destreza, a aptidão e a maestria suprema das pessoas, e ao permitir e estimular a criatividade em larga escala, faz com que todas as civilizações se beneficiem dos esforços de indivíduos. Vemos diariamente os resultados produzidos por estes incentivos. Sentimos diariamente os resultados trazidos pela divisão do trabalho e pela criatividade. Tudo isto está multiplicado por bilhões de participantes. São poucas as pessoas que realmente entendem como este sistema funciona. 

A melhor maneira de entender esta mágica é vendo o vídeo abaixo, que é uma animação do artigo de Read. 

sábado, 23 de março de 2013

O PLANO E O FATO

O que o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já fizeram e que já está em plena vigência neste país.

O caso do “Dicionário Crítico”, que lembrei no artigo “Devotos de um vigarista”, é apenas a figura mais extrema, caricatural e grotesca que o fenômeno assume no Terceiro Mundo, mas ignorar o pensamento do adversário e tampar os ouvidos às objeções são hábitos gerais e infalíveis da intelectualidade esquerdista em toda parte.

Em Thinkers of the New Left (1985), onde examina os principais expoentes de uma escola de pensamento que ainda é a mais influente na esquerda hoje em dia, Roger Scruton observa que nenhum deles jamais deu o menor sinal de querer responder às críticas feitas à teoria marxista por Max Weber, Werner Sombart, F. W. Maitland, Raymond Aron, W. H. Mattlock, Böhm-Bawerk, Popper, Hayek ou von Mises.

Poderia acrescentar Eric Voegelin, Cornelio Fabro, Rosenstock-Huessy, Norman Cohn, Dietrich von Hildebrand, Alain Besançon e uma infinidade de outros autores merecidamente tidos também como clássicos.

No Brasil você não verá nenhum marxista discutindo as objeções de Gilberto Freyre, Mário Ferreira dos Santos, J. O. de Meira Penna, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Orlando Tambosi, Ricardo Velez Rodriguez, Gustavo Corção, João Camilo de Oliveira Torres, José Guilherme Merquior.

O marxismo universitário vive e prospera de ignorar a cultura universal das idéias e sonegá-la aos estudantes. Ao mesmo tempo, infunde neles a impressão sedutora e enganosa de que, por terem lido os autores aprovados pelo Partido, são muito cultos.

É a forma mais extrema e radical da incultura organizada, da ignorância obrigatória, da burrice prepotente e intolerante.

Enquanto os anticomunistas de todos os matizes não cessam de analisar e refutar o marxismo, escrevendo milhares de livros a respeito, os marxistas fogem sistematicamente ao debate. Quando não se contentam em baixar sobre os adversários a mais pesada cortina de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas costas, inventando a respeito as histórias mais escabrosas, tratando-os como criminosos, colocando-os em “listas de inimigos” e cumprindo à risca a regra de Lênin: não discutir com o contestador, mas destrui-lo politicamente, socialmente e, se possível, fisicamente.

Que maior prova se poderia exigir de que essas pessoas, que se atribuem o monopólio de todas as virtudes, são as mais perversas, malignas e desprezíveis que já infestaram a profissão intelectual?

A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil.

Com ares de escândalo e indignação, a Folha noticia a descoberta de um plano do governo militar, concebido pelo ministro Alfredo Buzaid nos anos 70, para refrear a infiltração comunista nas universidades e órgãos de mídia. O plano não foi levado a efeito, tanto que a era dos militares foi o período de maior prosperidade da indústria do livro esquerdista no Brasil e a época da conquista da mídia pelos comunistas. Mas o jornal do sr. Frias não perdoa nem a simples idéia. Que horror, que coisa mais tirânica, mais nazista, pensar em impedir o acesso dos comunistas a todas as cátedras, a todas as páginas de jornais, a todos os megafones!

O que o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já fizeram e que já está em plena vigência neste país, com uma amplitude e uma rigidez que ultrapassa tudo o que os militares pudessem ter sonhado em matéria de controle hegemônico dos canais de comunicação e ensino.

As gerações mais novas, que não conheceram o Brasil dos anos 50-60, já nasceram dentro dessa atmosfera, que lhes parece normal, e não notam a diferença. Mas um simples detalhe basta para mostrar o que aconteceu: o ponto de vista cristão-conservador, que era oficialmente o do Estadão, do Globo e parcialmente da própria Folha naquela época, está totalmente excluído, proibido e criminalizado em toda a mídia. Os editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de Mesquita Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho minoritário, é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a pura crítica de esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do governo petista. Se até essa oposição mole e parcial é hoje abertamente condenada como “extremismo de direita”, é notório que a medida geral de aferição mudou, e quem a mudou foi a própria mídia. E se jornais e canais de TV dão alguma cobertura à Sra. Yoani Sanchez, é precisamente porque esta é anticastrista sem ser anticomunista e suas críticas ao governo cubano são brandas e autocensuradas em comparação com as de outros dissidentes, que contam a história inteira. Estes jamais aparecerão no Globoou na Folha. E alguém é capaz de imaginar, hoje em dia, uma novela da Globo defendendo os valores cristãos que eram tão caros ao sr. Roberto Marinho?

Por que uma simples intenção não realizada do governo militar deveria ser considerada mais repugnante e assustadora do que o fato consumado, a mesmíssima intenção realizada em muito maior escala pela esquerda triunfante e dominadora, senhora absoluta das páginas da própria Folha? A simples redação dessa mesma notícia já não revela a inversão de critérios, imposta como norma universal e inquestionável que só loucos e extremistas ousariam contestar? O sr. Frias não sabe ler o seu próprio jornal? Não enxerga que ele mesmo foi, em pessoa, um dos artífices do plano do ministro Buzaid realizado com signo oposto? Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.