domingo, 21 de outubro de 2012

EXEMPLOS TERMINAIS

O que não me mata me fortalece. Assim falava Nietzsche. E assim pensamos nós.


Sempre que o teto desaba, o lema serve de consolo. Se passarmos por isto, chegaremos ao outro lado mais fortes.

Talvez sem o saber, o mais anticristão dos pensadores modernos reatualizava, em linguagem secular, uma velha promessa cristã: a ideia de que existe um sentido último para o calvário da vida. Nietzsche, o supremo iconoclasta, não resistiu à tentação de erguer uma estátua a si próprio.

Christopher Hitchens discorda de Nietzsche. Eu concordo com Hitchens. O sofrimento não nos torna mais fortes. Aquilo que concede uma ilusão de força é a evidência prosaica de que, às vezes, sobrevivemos para contar.

É essa espantosa confluência de alívio e surpresa que alimenta em nós a crença infantil de que estamos um pouco mais indestrutíveis.

Nenhuma dessas ilusões habita "Últimas Palavras" (Globo Livros, R$ 24,90, 96 págs.), que são de fato as últimas palavras que Christopher Hitchens escreveu. Eis o mérito do livro: a doença que o visitou em 2010 e o matou em 2011 --um câncer no esôfago-- não merece nenhum tratado metafísico.

A pergunta não é "por que a mim?", esclarece ele. A pergunta é outra: "E por que não a mim?"

Aceitar essa premissa é a primeira vitória sobre a morte: não há nada que mais enfureça a Velha Senhora do que a forma natural como lhe abrimos a porta.

Claro que o medo e o sentimentalismo espreitam sempre. Hitchens gostaria de assistir ao casamento dos filhos (ainda) pequenos. E de visitar o World Trade Center, novamente ao alto em Manhattan. E de escrever os obituários de Henry Kissinger ou Joseph Ratzinger.

Sem falar do resto: preservar ainda a voz; preservar ainda a capacidade de escrever; preservar, no fundo, um sentido de identidade --ou, no mais literal sentido da frase, de "liberdade de expressão".

Mas as coisas não funcionam assim no planeta câncer. Nesse planeta, tudo é negócio, conta Hitchens: se estivermos dispostos a ceder o paladar, a digestão, a voz, a força anímica, o cabelo, a capacidade de concentração e outras matérias mais íntimas, então talvez tenhamos mais uns meses, ou anos, de vida.

Hitchens aceitou o negócio e, nas páginas seguintes, vai descrevendo todas as etapas da doença --os tratamentos, as esperanças, as desesperanças-- com uma mistura de resignação estoica e elegantíssima ironia. É a segunda vitória sobre a morte: não há nada que mais enfureça a Velha Senhora do que a forma sorridente como a convidamos para tomar chá na sala.

Então os dias passam a ser divididos em duas metades: a manhã para os advogados, as tardes para os médicos. Que o mesmo é dizer: dias repartidos entre a preparação para o pior e a preparação para evitar o pior.

Se Scott Fitzgerald tinha razão ao afirmar que a marca de um intelecto superior está na capacidade de manter duas ideias contraditórias na cabeça e, apesar disso, continuar a funcionar, Hitchens passa no teste com distinção.

Finalmente, o tema inevitável: Deus. Quando se soube da doença, percorreu por um certo mundo crente o frêmito de que a doença era um castigo de Deus a um ateu militante e, atendendo à localização do tumor, vociferante.

Essa foi a primeira versão do regozijo fanático. Mas houve outra, em variação mefistofélica: o câncer era um teste último para que o mais famoso ateu do planeta renunciasse às suas "blasfêmias" e abraçasse uma qualquer espécie de fé, digamos, terminal.

Em relação aos primeiros, Hitchens pergunta, sem o tom histérico de panfletos anteriores, que tipo de Deus seria esse, capaz de fulminar um incréu com algo tão banal e entediante como um câncer. Mais que isso, banal, entediante e teologicamente democrático: santos ou pecadores, todos eles podem conhecer a mesma barca.

Em relação aos segundos, Hitchens prefere evocar Voltaire, que na hora da morte foi convidado a renunciar ao diabo. Resposta do francês: este não é o momento de arranjar novos inimigos.

Voltaire sabia, como Hitchens soube, que a morte não passa de um fato sem grandeza. Porque de nós, do que fomos ou fizemos, tudo o que restará é apenas o exemplo.
Por: João Pereira Coutinho, Folha de SP

OS MÍSSEIS CUBANOS



“Não consigo entender o ponto de vista deles. É um maldito mistério para mim. Não conheço a União Soviética o suficiente”. Estas foram as palavras de JFK há exatos 50 anos, no dia 16 de outubro de 1962, quando soube dos mísseis que os soviéticos enviaram para Cuba.

Aqueles foram os dias mais tensos da Guerra Fria. Uma versão hollywoodiana pintou os irmãos Kennedy como heróis corajosos que impediram a grande desgraça. O que pouca gente sabe é o papel de Fidel Castro no episódio, e a profunda incompetência das autoridades americanas durante os acontecimentos.

O presidente americano, em 11 de setembro daquele ano, decidiu restringir os vôos do U-2 para inspeções na ilha caribenha. Quatro dias depois, os primeiros mísseis soviéticos chegaram ao porto de Mariel, em Cuba. A CIA rejeitou categoricamente a possibilidade de que os soviéticos estivessem instalando áreas nucleares no país.

Em “Legado de Cinzas”, Tim Weiner relata as peripécias da agência de espionagem americana. As transcrições das reuniões sobre a crise dos mísseis só foram divulgadas 40 anos depois. Por todo esse período, “o mundo acreditou que somente a calma determinação do presidente Kennedy e o firme compromisso de seu irmão com uma solução pacífica haviam salvado a nação de uma guerra nuclear”.

Na verdade, JFK cedeu às chantagens soviéticas e aceitou retirar os mísseis americanos da Turquia, exigindo segredo total sobre o acordo, pois sabia que seria humilhante torná-lo público. Outra parte do trato foi aceitar jamais invadir Cuba. Era o fim do sonho de libertação do povo cubano, escravizado até hoje.

Kruschev chegou a escrever que seria ridículo entrar em guerra por causa de Cuba. A guerra era impensável para o líder soviético. A superioridade nuclear dos americanos era gigantesca na época: 5 mil ogivas contra 300 dos soviéticos. Kruschev usou Cuba como instrumento para negociar a retirada dos mísseis da Turquia, e JFK, perplexo, caiu no blefe. Mas nem todos blefavam...

Conforme relata Humberto Fontova em “Fidel: o tirano mais amado do mundo”, o ditador cubano teria ”enlouquecido” após Kruschev retirar os mísseis de Cuba. Fidel “chutou paredes e quebrou vidros, janelas e espelhos”.

Seu comparsa Che Guevara revelava o motivo da fúria: “Se os mísseis permanecessem, nós os teríamos utilizado contra o coração dos Estados Unidos, incluindo Nova York. Não devemos jamais estabelecer uma coexistência pacífica. Nessa luta até a morte de dois sistemas, devemos conquistar a vitória definitiva. Devemos andar pelo caminho da libertação, mesmo que isso custe milhões de vidas”.

Se Kruschev encarava Cuba como moeda de barganha diplomática, Fidel e Che, por outro lado, levavam muito a sério a ideia de mandar Nova York pelos ares, sonho patológico de muito antiamericano concretizado por Bin Laden em setembro de 2001.

Ironia das ironias, muitos “pacifistas” gostam de estampar a foto de Che em suas camisetas. 

Os Estados Unidos costumam ser o alvo predileto desses ativistas, enquanto o regime iraniano, cujo líder autoritário propaga abertamente seu desejo de “varrer Israel do mapa”, segue tranquilamente seu avanço rumo ao poderio nuclear. 

Certos idealistas realmente chocam pelo quanto de violência estão dispostos a aceitar como meio para seu “nobre” fim. O recém-falecido Eric Hobsbawm, por exemplo, respondeu “sim” ao canadense Michael Ignatieff, quando este perguntou se 20 milhões de mortes seriam justificáveis caso a utopia comunista tivesse sido criada.

Não custa lembrar que a pomba foi eternizada como símbolo da paz por um cartaz impresso com uma litografia de Picasso para um congresso patrocinado pelos assassinos de Moscou. O pintor foi vencedor por duas vezes do Prêmio Lênin da Paz. Lênin, que deliberadamente usou a guerra civil e a fome como armas para sua consolidação do poder, e que declarou: “Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores – uma bala na cabeça, imediatamente – não chegaremos a lugar algum!”

O pior é que, apesar de tudo, ainda tem quem defenda o socialismo. Nelson Rodrigues foi direto ao ponto: “Quem é a favor do mundo socialista, da Rússia, ou da China, ou de Cuba, é também a favor do Estado Assassino”.

Com isso em mente, é alvissareira a condenação pelo STF de José Dirceu, “soldado” treinado em Cuba que liderou o maior ataque à democracia da nossa história. Pela reação dos petistas, fica claro que o ranço autoritário, inspirado no nefasto modelo cubano, ainda sobrevive neles. Os brasileiros agradecem ao STF por renovar as esperanças em um país melhor.
Por: Rodrigo Constantino, O GLOBO

A PERSEGUIÇÃO DO CAPITAL


Com a degradação das altas esferas da educação e o profundo ativismo dos ambientalistas, o futuro não pode mais ser facilmente delineado.


Pouco mais de cem anos atrás, Gustave Le Bon escreveu: “Um líder raramente segue a opinião pública; quase sempre ele se abraça a todos seus erros”. Nos dias de hoje, nossos líderes cada vez mais seguem pesquisas em vez de princípios. De certo modo eles não são tão líderes como são aqueles citados anteriormente. Foi o escritor dinamarquês Søren Kierkegaard quem fez uma objeção do “público” como conceito. Ele denominou-o como uma espécie de fantasma, “uma abstração...”. Na realidade, a política é o objetivo de algumas minorias que simulam a fala “do povo”. E algumas dessas minorias se especializam na perseguição ao capital.

Como Le Bon explicou, “capital é trabalho – seja material ou intelectual – acumulado”. Mais adiante ele afirmou: “É o capital que livrou o homem da escravidão da Idade Média, e sobretudo, da escravidão da natureza e ele constitui nos dias de hoje a base fundamental de toda a civilização”. De qualquer modo, é o capital intelectual da modernidade que merece boa parte dos créditos. Mesmo assim, o capital e os capitalistas são sempre aqueles que sempre são culpados quando algo dá errado. Nos disseram que o capital não vale o quinhão que lhe é atribuído. Mesmo assim, devemos perguntar se haveria qualquer quinhão para distribuir se não fosse pelo capital.

O ataque ao capital – e consequentemente à própria civilização – agora se encampa nas boas agências e departamentos da “democracia”. Por conta dos princípios do livre mercado serem difíceis de compreender para um cidadão médio, como um eleitorado composto de homens médios evitará o chamado da sirene para linchar os capitalistas e saquear seus capitais? Pode-se ganhar centenas de eleições em favor do capital, mas para o desastre se materializar, basta apenas uma eleição contra o capital. Além disso, não devemos esquecer da possibilidade da “morte pelos mil cortes”.

O perigo real da democracia, escreveu Le Bon, reside nos inevitáveis excessos orcamentários. Assim, Le Bon explicou em seu livro Psychology of Socialism que a “...democracia está destinada a tornar-se o mais caro de todos os sistemas de governo”. A prodigalidade do governo democrático agora é famosa e irrefutável. De acordo com Le Bon, o voto universal sempre tende a resultar em: “desastrosas promessas de subsídios; criação de empregos supérfluos e o desmedido crescimento do setor público […] No Parlamento, eles retribuem a generosidade prometida, ocupando-se por beneficiar seu eleitorado, à custa do orçamento...”

Talvez o exemplo mais notável disso esteja na Califórnia, a maior economia dentre os 50 estados. De acordo com uma notícia no site Breitbart.com, “Êxodo: Carga tributária na Califórnia atinge 22%”, o “Estado de Ouro” (Golden State) está matando a galinha que botou os ovos de ouro. As mentes medíocres que governam a Califórnia estão agora propondo o aumento dos impostos para compensar a queda na arrecadação (veja Jerry Brown’s California Tax Increase Initiative para mais detalhes). Eles não entendem que a alta tributação pode matar milhares de negócios. E isso é exatamente o que está acontecendo na Califórnia.

Como observado pela California Taxpayers Association, “a Califórnia é um estado de alta carga tributária, com uma das mais altas taxas sobre vendas, ganhos pessoais e empresas de toda a nação”. O estado tem a maior tributação sobre vendas do país inteiro (7, 25%); a segunda maior tributação sobre a gasolina de todo o país (48,6% por galão); a segunda maior tributação sobre ganhos pessoais com 10,3%; a maior taxa sobre ganhos corporativos de todo o Oeste; e apesar da Proposição 13, as taxas sobre propriedade na Califórnia posicionam o estado no 14º lugar.

Como consequência dessa tributação e por conta de outras regulamentações, o estado da Califórnia perdeu 4.600 empresas no ano passado e é o pior gerador de empregos entre os 50 estados. Após a Bing Energy sair de Chino na Califórnia para a Flórida, o prefeito da cidade californiana foi citado no Los Angeles Times dizendo: “Eu entendo completamente porquê eles saíram. Com um governador Democrata eleito, além de todas as restrições ambientais, banco de horas e folgas dos trabalhadores, impostos sobre vendas e taxas sobre licenciamento de veículos... As companhias estão saindo aos montes...”. Quanto ao investimento na Califórnia, considere a matéria de Wendell Cox para o Wall Street Journal Online, ‘Califórnia declara guerra à classe suburbana’. Wendell explica porque a Califórnia está em direção a um penhasco fiscal. Os políticos daquele estado declararam guerra às famílias com casa própria “tudo em nome da salvação do planeta”.

O custo da regulamentação ambiental representa uma taxa oculta de força de destruição incalculável. O ambientalismo é uma arma com a qual se golpeia o empreendedorismo no seu cerne. Considere, por exemplo, o Global Warming Solutions Act assinado pelo ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger. É uma guerra declarada ao consumidor, corporações e indústrias, pois é contra a energia barata e a sólida economia. E tudo isso tornou-se inevitável – ou até mesmo imparável – por conta de um eleitorado que foi persuadido a cometer suicídio por causa de uma falsa teoria.

Com a degradação das altas esferas da educação e o profundo ativismo dos ambientalistas, o futuro não pode mais ser facilmente delineado. Com uma economia já estagnada, frágil e pouco disposta à recuperação, colocou-se a tarefa de resolver problemas sociais e ambientais que ou não existem ou não podem ser solucionados pelo governo. O que está sendo completamente negado é o serviço provido pelos capitalistas que reduzem o custo de produção e beneficiam a humanidade nesse processo. “Perseguir o capital”, disse Le Bon, “é forçá-lo a desaparecer ou se esconder e, ao mesmo tempo (e na mesma tacada), matar a indústria, de modo que ela não aguentaria mais se sustentar, suprimindo assim os investimentos.”

Atualmente podemos ver que estão matando o setor industrial, os investimentos estão sendo suprimidos e o capital está sumindo ou se escondendo. Se quisermos reverter essa tendência, devemos nos opor à perseguição ao capital. Ao contrário, devemos defender o capital e a liberdade necessária para acumulá-lo.

Por:  JEFFREY NYQUIST Publicado no Financial Sense.

sábado, 20 de outubro de 2012

CAPITALISTAS X TRABALHADORES




É verdade que os capitalistas possuem maior poder de barganha que os trabalhadores?



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Em resposta ao meu artigo anterior, no qual expliquei por que foi o capitalismo, e não os sindicatos, quem nos propiciou mais tempo de lazer, menos horas de trabalho e maior remuneração (o número de horas de trabalho necessárias para se obter os mesmos bens e serviços caiu acentuadamente ao longo tempo), várias pessoas entraram em contato comigo para me perguntar: "Mas não estariam os trabalhadores em desvantagem caso negociassem individualmente por salários? Não seria exatamente por esse motivo que os sindicatos são valiosos?"

Apenas para deixar claro, jamais disse que sindicatos, em teoria, não possuem valor algum. Porém, ainda assim, a resposta para esta pergunta é um inequívoco "não".

O argumento do "maior poder de barganha" sempre foi o mais importante argumento em prol do sindicalismo e de todos os privilégios legislativos que os sindicatos desfrutam. Como Mises escreveu em Ação Humana, essas "ideias deturpadas são o principal fundamento ideológico do sindicalismo operário e da política trabalhista de todos os governos . . ."

As ideias são deturpadas porque elas são tipicamente defendidas por propagandistas sindicais ou por seus defensores acadêmicos que não possuem nenhum conhecimento econômico mais profundo. É claro que todos os empregadores querem pagar o menor preço possível pelas coisas que compram — como os serviços de mão-de-obra —, e cobrar o maior preço possível pelas coisas que vendem. Quem não quer? Todos queremos. Porém, a realidade econômica impõe limites a estas quimeras.

Nos mercados de trabalho, a concorrência entre os empreendedores garante que haja uma íntima relação entre os salários e a 'produtividade marginal da mão-de-obra'. A produtividade marginal da mão-de-obra mensura o aumento da produção (ou seja, a produção marginal) em decorrência do emprego de uma unidade adicional de um fator de produção — um bem de capital como uma máquina, por exemplo.

Esse produto adicional, ao ser vendido, trará um aumento da "receita marginal", que é justamente a receita trazida pela venda dessa produção adicional. 

A multiplicação da produção marginal — bens ou serviços que o trabalhador produziu em um determinado período de tempo — pelos preços finais pagos pelos consumidores por estes produtos fornece a 'receita marginal da produção', que é o que irá determinar os salários dos trabalhadores. 

Para resumir toda esta ladainha microeconômica: quanto maior a produtividade de um empregado, mais bens ele produz utilizando os mesmos insumos. Consequentemente, mais bens a empresa pode vender. Consequentemente, maior será a sua receita. E quanto maior a receita de uma empresa, maior tende a ser o salário de seus trabalhadores. 

Os trabalhadores, portanto, se tornam mais valiosos para os empregadores se a sua produtividade aumentar. E as medidas que aumentam a produtividade são o investimento em capital feito pelos empregadores (o que torna a mão-de-obra mais produtiva e, consequentemente, mais valiosa), o aperfeiçoamento tecnológico (os quais normalmente são o resultado de investimentos feitos pelos empregadores em pesquisa e desenvolvimento) e a melhora do capital humano, que é resultado da educação, do treinamento, da experiência e de aprendizagens de todos os tipos.

Se, em um ambiente capitalista e competitivo, um empregador tentar explorar alguns ou todos os seus empregados, ele irá simplesmente criar uma oportunidade de lucro para seus rivais, desta forma prejudicando seu próprio empreendimento. Se a receita marginal do produto de um empregado é, por exemplo, $2.000 por mês de trabalho, mas este empregado estiver recebendo de salário apenas $1.000, então será lucrativo para um empreendedor concorrente contratar este trabalhador por $1.200, $1.300 ou até mais, pois ele ainda assim conseguirá obter lucro e, principalmente, irá tomar a mão-de-obra de seu concorrente. Como escreveu Mises, "Rapidamente surgirão pessoas ávidas para se aproveitar da diferença entre o nível de salários existente e a produtividade marginal da mão-de-obra. Sua demanda por mão-de-obra fará com que os salários voltem ao nível compatível com a produtividade marginal da mão-de-obra."

Mesmo que alguns empregadores de fato optem por explorar seus empregados pagando-lhes salários muito abaixo de sua receita marginal, ainda assim não é possível provar que isso irá lhes beneficiar. Se houver uma intensa concorrência de mercado entre os bens produzidos pela economia, essa concorrência pode obrigar estes empreendedores a repassar esta poupança de custos para os consumidores na forma de preços mais baixos, e isso irá beneficiar todos os assalariados da economia. Daí a importância de se manter a economia a mais aberta e desburocratizada possível para a livre concorrência. 

A única maneira concebível de uma exploração de trabalhadores durar é se houvesse um cartel universal de empregadores e tal cartel fosse inquebrantável, com todos os participantes se comprometendo a não romper o acordo e a pagar salários muito abaixo dos níveis da produtividade marginal. Mas o único exemplo conhecido de um arranjo assim — um cartel com a exploração universal dos trabalhadores — foi justamente o socialismo, arranjo em que o estado é o empregador monopolístico. Tal arranjo jamais ocorreu — e jamais poderia ocorrer — sob o capitalismo por causa dos bem conhecidos incentivos individuais para se romper o cartel, vender mais barato, atrair mais demanda e aumentar as receitas. "Em nenhuma época e em nenhum lugar há exemplos da existência de tais cartéis em uma economia livre. Um monopólio de demanda de mão-de-obra não pode existir, e não existe, num mercado livre e não obstruído. Só pode existir em decorrência de restrições institucionais que impeçam o acesso à atividade empresarial", escreveu Mises.

Outra razão para a falácia do "maior poder de barganha" é que aqueles que recorrem a esta dúbia teoria falam como se a "mão-de-obra" fosse homogênea, quando ela inequivocamente não é. Mises explicou o problema deste raciocínio com o brilhantismo de sempre:

O que é comprado e vendido no mercado de trabalho não é "trabalho em geral", mas sim determinado tipo de trabalho capaz de prestar determinados serviços. Cada empresário está à procura de trabalhadores que sejam capazes de executar tarefas específicas, necessárias à realização de seus planos. Para contratar esses especialistas, ele precisa convencê-los a deixar a ocupação a que se dedicam no momento. O único meio de consegui-lo é oferecendo maior remuneração. Toda inovação que um empresário pretenda realizar . . . requer o emprego de trabalhadores que até então trabalhavam em algum outro lugar.

A realidade é que, contrariamente às afirmações dos proponentes da falácia do "maior poder de barganha", a representação sindical prejudica a maioria dos trabalhadores. Sindicatos podem beneficiar apenas alguns de seus membros: aqueles mais bem capacitados que não são desalojados do mercado de trabalho em decorrência da exigência sindical de salários acima dos de livre mercado. Tais trabalhadores, por serem mais capacitados, não se tornam demasiados caros para seus empregadores, mesmo com seu salário artificialmente elevado pelos sindicatos. 

Mas a inevitável consequência disso é que os outros membros dos sindicatos, tipicamente aqueles com menor experiência de trabalho e menos habilidosos, perderão seus empregos nestas áreas. Afinal, dado que o piso salarial foi artificialmente elevado, contratar os menos capacitados implica prejuízos certos.

Consequentemente, estes trabalhadores menos capacitados irão procurar empregos em outras áreas, principalmente naquelas em que não há trabalhadores sindicalizados. Por conseguinte, este aumento da oferta de mão-de-obra nestas áreas irá reduzir os salários pagos nestes setores, prejudicando os trabalhadores não-sindicalizados. 

Ou seja, no geral, praticamente todos os ganhos de trabalhadores sindicalizados vêm em detrimento dos salários dos trabalhadores não-sindicalizados que foram privados de oportunidades de emprego pelo poder sindical.

Adicionalmente, em vários países, há uma lei chamada "exclusividade", que dá a um sindicato o monopólio legal da representação de seus afiliados, isto é, das negociações salariais. Com isso, torna-se ilegal para um empregado membro de um sindicato fazer acordos individuais com seu empregador, ou utilizar um outro agente como mediador para este acordo, mesmo que seja outro sindicato.

Uma consequência destas leis de representação exclusiva é que os trabalhadores mais produtivos de um setor sindicalizado acabam ficando em pior situação por estarem legalmente proibidos de receber um salário mais alto do que aquele da escala sindical. Com efeito, o efeito da sindicalização foi o de reduzir a dispersão dos salários, isto é, reduzir os salários pagos aos trabalhadores mais produtivos e ao mesmo tempo aumentar os salários dos menos produtivos. 

Em outras palavras, o monopólio sindical das negociações salariais faz com que os melhores trabalhadores sejam prejudicados e os menos produtivos sejam beneficiados. Este é um dos vários motivos por que os patrões se esforçam ao máximo para impedir a sindicalização de sua mão-de-obra: premiar a mediocridade e penalizar o desempenho superior não é exatamente a melhor maneira de permanecer competitivo em uma economia global.

DEPOIS DO MENSALÃO


Que foi, afinal, o Mensalão? Uma gigantesca operação de compra de consciências para neutralizar o Legislativo e concentrar todo o poder nas mãos do Executivo, portanto do Partido dominante. Que pode haver de mais leal, de mais coerente com a tradição marxista?


Agora que os mensaleiros estão no fundo do poço, não cessam de erguer-se vozes indignadas de petistas, comunistas e socialistas fiéis que os condenam como oportunistas e traidores. Mas por que deveria algum líder ou militante ser atirado à execração pública pela simples razão de ter cumprido à risca a sua obrigação de revolucionário?

Não é certo que a estratégia marxista-leninista ordena e determina não só atacar o Estado burguês desde fora, mas corrompê-lo desde dentro sempre que possível para em seguida acusá-lo de depravado e ladrão e substituí-lo pelo Partido-Estado?

Não é notório que, na concepção mais ampla e sutil de Antonio Gramsci, inspirador e guia da nossa esquerda há meio século, a corrupção do Estado não basta, sendo preciso estendê-la a toda a sociedade, quebrantar e embaralhar todos os critérios morais e jurídicos para que, na confusão geral, só reste como último símbolo de autoridade a vontade de ferro da vanguarda partidária?

Não é óbvio e patente que, se na perspectiva gramsciana o Partido é "o novo Príncipe", ele tem a obrigação estrita de seguir os ensinamentos de Maquiavel, usando da mentira, da trapaça, da extorsão, do roubo e do homicídio na medida necessária para concentrar em si todo o poder, derrubando pelo caminho leis, instituições e valores? 

Na perspectiva marxista, nenhum dos artífices do Mensalão fez nada de errado, exceto o crime hediondo de deixar-se descobrir no final, pondo em risco o que há de mais intocável e sagrado: a boa imagem do Partido e da esquerda em geral.

Para não perceber uma coisa tão evidente, é preciso desviar os olhos para os aspectos mais periféricos e folclóricos do episódio, apagando da memória a essência, a natureza mesma do crime cometido.

Que foi, afinal, o Mensalão? Uma gigantesca operação de compra de consciências. E para que as consciências foram compradas? Para enriquecer os srs. José Dirceu, Genoíno, Valério e mais alguns outros? De maneira alguma. Foram compradas para neutralizar o Legislativo e concentrar todo o poder nas mãos do Executivo, portanto do Partido dominante. Que pode haver de mais leal, de mais coerente com a tradição marxista?

Toda a geração que, cinquentona ou sessentona, chegou ao poder nas últimas décadas foi educada num sistema moral onde as culpas pessoais são insubstantivas em si mesmas, dependendo tão somente da cor política e transmutando-se em virtudes tão logo tragam vantagem ao "lado certo" do espectro ideológico.

Bem ao contrário: segundo o que essa gente aprendeu desde os tempos da universidade, qualquer concessão à "moral burguesa", se não é útil como jogo de cena provisório, é delito maior que a consciência revolucionária não pode tolerar. Nessa ótica, que pode haver de mau ou condenável em juntar dinheiro por meios ilícitos para comprar consciências burguesas e forçá-las a trabalhar, volens nolens , para o Partido Príncipe?

Uma vez que se abandonou a via da revolução armada – não por reverência ante a vida humana, mas por mera oportunidade estratégica –, que outro meio existe de instaurar a "autoridade onipresente e invisível" senão a corrupção sistemática dos adversários e concorrentes?

Não faltará quem, movido pela incapacidade geral brasileira de conceber que um político, ao meter-se em tal embrulho, o faça movido por ambições muito mais vastas que o mero desejo de dinheiro, levante aqui a objeção: mas os mensaleiros não ficaram ricos?

Ficaram, é claro, mas desejariam vocês que eles depositassem todo o dinheiro sujo na conta do Partido, atraindo suspeitas sobre a própria organização em vez de protegê-la sob suas contas pessoais como bons agentes e testas de ferro? Ou desejariam que, de posse de imensas quantias, continuassem levando existências modestas, dando a entender que eram apenas paus mandados em vez de expor-se como vigaristas autônomos e bandidos comuns sem cor política, que é como agora são vistos por uma opinião pública supremamente inculta, sonsa e – novamente – ludibriada?

Pois induzir o povo a vê-los exatamente assim, salvaguardando a boa reputação do esquema de poder partidário que os criou e ao qual serviram, é precisamente o objetivo de toda essa corja de moralistas improvisados que agora os cobre de impropérios em nome da pureza e idoneidade da esquerda.

Os mensaleiros não são, é claro, bodes expiatórios inocentes. São culpados parciais incumbidos de pagar sozinhos pela culpa geral de uma organização que há trinta anos vem usando do discurso moral, com notável eficiência, como disfarce e instrumento do crime.

Os que agora tentam se limpar neles são ainda piores que eles. Pois o que fazem é tentar levar o povo a esquecer que os mensaleiros de hoje são os moralistas de ontem, os mesmos que, nas CPIs dos anos 90, brilharam como paladinos da lei e da ordem, enquanto já iam preparando, sob esse manto cor de rosa, o esquema de poder monopolístico do qual o Mensalão viria ser nada mais que instrumento. E para que fariam isso, se não fosse para aplanar o terreno para novos e maiores crimes?

Se os indignados porta-vozes do antimensalismo esquerdista tivessem um pingo de sinceridade, teriam se insurgido, anos atrás, contra o acobertamento petista das FARC, organização terrorista e assassina, perto de cujos crimes o Mensalão se reduz às proporções de um roubo de picolés num carrinho da Kibon.

Como não o fizeram, a narcoguerrilha colombiana cresceu até tornar-se, sob a proteção do Foro de São Paulo, a maior distribuidora de drogas no mundo, prestes a receber do sr. Juan Manuel Santos, sabe-se lá em troca de que, as chaves do poder político. POR OLAVO DE CARVALHO Publicado no Diário do Comércio.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O GOVERNOS DESMONTA AS INSTITUIÇÕES FISCAIS

O orçamento público aprovado pelo parlamento, particularmente no mundo ocidental, é parte relevante das ações que deram fim ao absolutismo e à tirania, modernizaram instituições fiscais e permitiram o planejamento da atividade do governo.

No Brasil, infelizmente, orçamento é procedimento meramente burocrático, sem raízes na sociedade ou maior importância na definição dos rumos do governo e da economia.

Nos últimos anos, o governo tem contribuído para agravar esse problema, ao desestruturar as instituições de finanças públicas construídas desde a redemocratização.

As reformas institucionais dos anos 80 puseram fim ao atraso que permitia a existência de orçamentos múltiplos. A maioria era aprovada pelo próprio Executivo, contendo aberrações como a "conta de movimento" do Banco do Brasil, pela qual o banco era suprido de recursos públicos sem autorização legislativa.

Esse grande avanço não foi suficiente, todavia, para evitar que o orçamento continuasse a ser uma peça de certa forma fictícia.

Sua discussão no Congresso e posterior execução servem para o fisiologismo e para o desperdício de recursos. Seus termos são em grande parte desprezados pelo Executivo, com apoio de parlamentares e de formadores de opinião, sob o argumento equivocado de que o orçamento é "autorizativo" e, como tal, não precisa ser cumprido pelo Executivo.

No governo Lula, esse quadro institucional piorou. Com a crise de 2008/2009 como pretexto, o governo iniciou o aumento de gastos e a redução de metas de superávit primário com argumentos supostamente keynesianos.

Na realidade, com o apoio entusiasmado do ministro da Fazenda, orquestrou-se uma expansão generalizada da despesa. Criou-se a possibilidade de abater vultosos recursos da meta fiscal anual, fixada em lei: na prática, são descontados do cálculo todos os gastos com o PAC. Em 2009 e 2010, as metas de superávit primário somente foram cumpridas por meio deste subterfúgio.

O exercício de 2012 deverá assistir, de novo, à estratégia de cumprimento de "metas descontadas", ou seja, de "não cumprir cumprindo".

Outro erro se deu em 2010, quando da capitalização da Petrobras e da cessão onerosa das reservas do pré-sal pela União a ela. À época, o governo conseguiu considerar no cálculo do superávit primário uma receita ainda inexistente, que apenas surgirá ao longo dos anos, fruto da exploração do petróleo. A manobra permitiu que a execução financeira do governo central ganhasse um reforço, em 2010, de 0,85% do PIB, cerca de R$ 40 bilhões.

O terceiro mecanismo de degradação institucional é a não contabilização como despesa primária dos subsídios ao Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH) e ao BNDES.

A quarta perda de qualidade das instituições fiscais é a concessão de empréstimos ao BNDES. Desde 2008, os volumes de títulos emitidos com esse objetivo aumentaram fortemente, elevando o endividamento federal e, portanto, caracterizando a política fiscal como ainda mais expansionista, sem mencionar os efeitos negativos sobre o crédito e sobre a política monetária.

Some-se a isso o custo dos subsídios implícitos nas operações do BNDES (a diferença entre a taxa de juros pela qual o Tesouro se financia, mais alta, e a taxa de juros a ele paga pelo BNDES, mais baixa; na sua maior parte, esse benefício é transferido às empresas) em favor do relativamente pequeno número das empresas "escolhidas" por sua burocracia. Ela é de cerca de R$ 14 bilhões, se considerarmos os cerca de R$ 280 bilhões já aprovados ou emitidos para o BNDES nos últimos anos. Este valor corresponde, como lembrou Eduardo Giannetti da Fonseca, ao orçamento anual do programa Bolsa Família, que beneficia cerca de 45 milhões de brasileiros.

Mais do que tudo isso, com o aumento do volume de crédito do BNDES, seus resultados são maiores e, consequentemente, maior será a distribuição de dividendos. Como as receitas de dividendos da União são, equivocadamente, consideradas no cálculo do superávit primário, o governo expande o resultado primário sem um efetivo esforço de contenção fiscal. (Os subsídios implícitos, escondidos do orçamento, não são contabilizados como despesa primária. Logo, os dividendos gerados pela mesma operação não deveriam ser considerados como receita primária.)

Esse retrocesso institucional enfraquece a democracia, turva as estatísticas, piora a alocação dos recursos e reintroduz práticas orçamentárias que se imaginava banidas. Tal ataque à responsabilidade fiscal precisa ser abandonado o quanto antes. Por:Mailson da Nóbrega e Felipe Salto, Folha de SP



ALINHAMENTO DOS ASTROS EM 2013

Já estamos na parte final do ano e os olhos dos analistas se voltam para 2013. A grande pergunta que se coloca é se a economia mundial vai entrar -ou não- em processo sistêmico de recuperação.

O cenário de "Fim do Mundo" -que teve um grande número de adeptos até recentemente- não me parece mais uma alternativa com credibilidade no mercado. Embora exista ainda o risco pontual de uma tragédia fiscal nos EUA depois das eleições, a aposta maior contempla um acordo entre os republicanos e democratas que a evite.

A maioria dos pessimistas de plantão está trocando para 2013 o cenário de "Fim do Mundo" pelo de mais um ano de crescimento muito baixo e continuidade do pessimismo entre os investidores e empresas. Nesse cenário, a volta dos investimentos não vai se realizar, e a recuperação da economia mundial vai demorar ainda para acontecer.

O Brasil é um dos exemplos mais claros de como o pessimismo em relação ao crescimento econômico do mundo está afetando a taxa de investimentos. Mesmo longe das áreas mais críticas, como Europa e EUA, e tendo o consumo interno como a grande força por trás de seu crescimento, estamos vivendo uma desaceleração muito forte por conta do verdadeiro colapso da chamada formação bruta de capital fixo.

Tivemos nesta semana mais uma prova disso, com o aumento do número dos postos formais de trabalho em setembro caindo 75% em relação aos números anteriores a 2011 e igualando-se, depois de muitos anos, ao número de novos entrantes no mercado de trabalho.

Gostaria de trazer hoje ao leitor da Folha um cenário alternativo para 2013. Tenho dado a ele o nome de "O Alinhamento dos Astros", em homenagem à minha mulher, que gosta de olhar para o Universo como fonte de inspiração profissional.

Na astrologia, o alinhamento dos astros pode ser associado a condições favoráveis para os acontecimentos humanos futuros. No caso da economia brasileira, os astros relevantes são as economias da China, dos EUA e, em menor importância, da União Europeia. Em minha opinião, eles podem se alinhar no próximo ano, criando condições mais favoráveis para o Brasil.

O astro China é o que tem a maior importância sobre nós, via o canal dos preços dos principais produtos primários exportados pelo Brasil. O economista Fabio Ramos, da Quest, tem um intensivo trabalho de pesquisa sobre a correlação entre o crescimento do PIB brasileiro e o índice CRB de commodities. Os números impressionam...

Nesse sentido, os dados divulgados anteontem sobre a economia chinesa, ao mostrar tendência sutil de recuperação da atividade industrial, do consumo e do investimento em infraestrutura econômica, reforçam esse meu cenário de recuperação. Embora sejam sinais ainda muito precários, um grande número de analistas considerou-os como indicadores de que a economia vai voltar a um crescimento sustentável.

Também nos EUA os mais recentes dados sobre o mercado de trabalho, a construção civil e a produção industrial apontam para uma economia mais sustentada do que a do passado recente. Se ocorrer o esperado acordo político sobre a questão fiscal para 2013, o processo de cura que está ocorrendo na maior economia do mundo vai se fortalecer e levar a uma retomada dos investimentos privados.

Na Europa -terceiro astro de minha imagem-, vivemos um período de maior otimismo em relação à estabilidade do euro e de menor pessimismo em relação aos títulos soberanos dos países mais endividados do mediterrâneo. Embora a maioria dos países vá continuar em recessão econômica, para o alinhamento dos astros que visualizo, esse cenário de estabilidade institucional, sem colapso de sua moeda única, já é suficiente.

Se estiver certo sobre o cenário para o próximo ano, as empresas brasileiras devem retomar os investimentos para compensar o tempo perdido, pois o consumo interno deve crescer 6% em 2012 e repetir a dose em 2013.

Se o governo sair de seu labirinto ideológico e acelerar o processo de concessões ao setor privado, o investimento privado pode voltar a colocar o crescimento econômico brasileiro na rota, que foi perdida nos últimos anos. Por: Luis Carlos Mendonça de Barros

A ERA DAS LEIS RACIAIS




Os Estados Unidos aboliram a escravidão em 1865, mas só cem anos depois deram cabo das leis de discriminação racial. O Brasil extinguiu a escravidão, e com ela qualquer distinção legal em razão da cor da pele, em 1888. Mais de um século depois, reintroduzem-se aqui instituições segregacionistas, agora a título de promover os negros.

Dissemina-se a pressão pelas cotas, amparada no Estatuto da Igualdade Racial, de 2010, e na decisão do Supremo Tribunal Federal que em abril passado referendou a reserva de vagas no ensino superior. Até o final do ano, o governo federal pretende estender as cotas por critério de cor aos concursos do funcionalismo.

Trata-se de uma onda avassaladora, a induzir silêncio e autocensura nos que se opõem a sua implantação.

Pelo estatuto racial do século 21, é considerado negro todo brasileiro que declare ser parda ou preta a cor de sua pele. Estranho estratagema. Por que não determinar ao IBGE que restrinja as suas categorias a "negro" e "branco" --suprimindo-se o "pardo" e o "preto"--, a fim de saber ao certo o grau de negritude no Brasil?

Já que imitamos os EUA no diagnóstico e no tratamento da questão, por que não importar também a nomenclatura dualista das raças imiscíveis? Obriguem-se 82 milhões de brasileiros (43% da população) autodeclarados pardos a tomar partido. Que os próprios cidadãos se pronunciem nos termos do jogo proposto.

A sociedade dividida à força entre brancos e negros consumaria o retrocesso histórico da recidiva das leis raciais no Brasil. Chame-as de "racistas" ou "racialistas", na língua da moda, elas exumam e validam termos de velhos adversários da modernidade quando instituem privilégios baseados em atributos corporais. O sangue, a cor, a linhagem.

Desta vez é para fazer o bem e reparar o mal, argumenta-se. Tenho dúvidas --e saudades do tempo em que ser moderno era não discriminar nem aceitar discriminação. Por: Vinícius Mota, Folha de SP

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O USO DA CIÊNCIA



Pouca gente sabe, mas há bons indícios de que a teoria da relatividade esteja sendo revista. Cientistas do CERN – Organização Européia para Pesquisa Nuclear – estão analisando evidências de que algumas partículas subatômicas são capazes de locomover-se em velocidades superiores a da luz, algo que seria impossível, segundo Einstein. Caso confirmada, tal descoberta viria atestar, mais uma vez, que a verdadeira ciência é um processo contínuo, raramente conclusivo e, acima de tudo, despolitizado. Ciência não é matéria sujeita a consensos ou escrutínios. Ao contrário, espera-se que as teorias sejam constantemente testadas e, se for o caso, falseadas. Imagine como seria a física hoje se Galileu não tivesse questionado a teoria aristotélica, se Newton não tivesse estendido e generalizado o trabalho de Galileu e Einstein estivesse plenamente satisfeito com as conclusões de Newton. Na verdade, o esforço para “negar” as teorias científicas é tão antigo e saudável quanto a própria ciência.

É assim que as ciências da natureza trabalham. Observações levam a hipóteses. Hipóteses são testadas através de experimentos. Os resultados são divulgados, examinados e duplicados antes que uma boa teoria seja divulgada. Certezas são raras, leis são muito poucas. Ciência não é fonte de autoridade, mas de conhecimento.

Cientistas não são deuses. São seres humanos sujeitos aos mesmos impulsos que todos nós. Einstein, por exemplo, queria tanto demonstrar que a teoria quântica era determinística e não probabilística que chegou a invocar o Todo-Poderoso: “Deus não joga dados com o universo”, teria dito o alemão, gerando a resposta jocosa de seu colega Nils Bohr: “Einstein, pare de dizer a Deus o que fazer”.

Esses mesmos impulsos humanos quase sempre nos levem a acreditar que estamos certos, ou pelo menos do lado certo. No entanto, isso não é desculpa para endossar métodos e comportamentos não científicos. Muitos cientistas subscrevem a teoria do Aquecimento Global Antropogênico sem que tenham feito qualquer pesquisa ou estudo mais aprofundado a respeito. Adotam tal postura simplesmente porque este seria o lado “in” da questão. Na maioria dos casos, é assim que o chamado “consenso” científico é estabelecido.

Infelizmente, estamos cercados de gente que diz saber muito mais do que realmente sabe. Quando essas pessoas sonham e fazem projetos contando com seu próprio tempo e dinheiro, tudo bem. O problema é que muitas dessas pessoas confiam tanto na própria sabedoria que pretendem impor aos demais os seus planos, utilizando-se para isso da força dos governos. Esses indivíduos sentem-se capazes de planejar cada detalhe de nossas vidas, não importa quão bem (ou mal) planejem as suas.

O antídoto contra o uso político da ciência é realçar a própria falibilidade científica, além de estimular o ceticismo. Não é justo, nem inteligente, sair por aí chamando de herético quem desconfia da atividade humana como causa do aquecimento global, ou duvida das catastróficas previsões dos computadores. Heresia tem a ver com fé, e ciência não é assunto de fé. A ciência não prescreve dogmas, nem evolui conforme a opinião da maioria. Por: João Luiz Mauad, O GLOBO 




terça-feira, 16 de outubro de 2012

QUEM NÃO BEBE.....




Beber é essencial para ter uma carreira profissional promissora e, conseguentemente, ganhar dinheiro. A afirmação é do jornal mais influente do mundo, o The New York Times, que, em reportagem publicada, afirma que quem não bebe álcool é visto com desconfiança e dificilmente consegue fechar um bom negócio.

Dizendo até que a cerveja é um dos ingredientes importantes de Obama na corrida à releeição nos EUA, a reportagem afirma que “as pesquisas apoiam a ideia de que os que não bebem têm dificuldades para subir na hierarquia corporativa. Vários estudos demonstraram que as pessoas que bebem ganham mais dinheiro do que as que não bebem.”

“Esperam que você beba, e beber é parte do que você faz; as pessoas ficam meio sérias se você disser que não bebe”, disse Link Christin, diretor de um programa de tratamento especial para advogados que faz parte de um centro de recuperação contra álcool e drogas que fica no estado de Minnesota. “Se disser que não bebe, você tem que lidar com a suspeita de que não sabe jogar.”

Segundo John Crepsac, um terapeuta de Nova York, em Wall Street, os investidores que não bebem “queixam-se de que não conseguem fechar negócios, não conseguem mesmo entrar nas negociações iniciais porque não entram no comportamento de beber.”

Foto: Andrew Scrivani for The New York Times

HORA DE COLOCAR O TIME EM CAMPO



Com a Copa das Confederações programada para 2013 no Brasil, o mundo poderá avaliar melhor as condições em que se realizará aqui, em 2014, a Copa do Mundo. O ano de 2013 vai ser um teste importante rumo a 2014 também na economia, mas aqui o desafio será outro: como segurar a inflação. A alta dos preços pode se tornar uma dor de cabeça bem pior do que se imagina. O risco é a inflação ultrapassar o teto oficial de tolerância de 6,5% no próximo ano, e se aproximar da marca de 7%. O consenso entre os analistas tem ficado emperrado perto de 5,5% por um bom tempo. O centro da meta oficial é de 4,5%.

Vários fatores conspiram para empurrar a inflação para cima em 2013. 

- Primeiro, os salários estão crescendo velozmente, acima de qualquer estimativa razoável de ganhos de produtividade, em um mercado de trabalho apertado, com desemprego perto das mínimas históricas. 

- Segundo, as expectativas de inflação estão desancoradas da meta oficial de 4,5%. 

- Terceiro, há o fim de alguns fatores temporários que ajudaram a segurar a inflação em 2012. 

- Quarto, os preços elevados de commodities (alimentos) no mercado internacional. 

- Quinto, não se pode mais contar com muita valorização cambial para conter a inflação, pelo menos enquanto o governo estiver engajado em uma "guerra cambial" contra a valorização do real.

Para começo de conversa, o quadro atual de inflação já não é lá grande coisa. Em sua menor marca recente, a inflação desacelerou para 4,9% em junho. Mesmo no nível mais baixo, a alta ainda corre acima do centro da meta oficial de 4,5%, apesar do crescimento fraco no primeiro semestre e da ajuda de fatores pontuais específicos (redução de IPI sobre automóveis e bens duráveis e a mudança favorável nos critério de pesos para composição da cesta do IPCA).


Em outras palavras, o dilema entre crescimento e inflação parece pior do que o governo gostaria. Entre os fatores a serem avaliados, o agravamento desse dilema pode ser reflexo de uma queda da taxa de crescimento potencial da economia - um tema mais amplo, que não se limita a apenas ao Brasil. Na verdade, como o banco central americano, o Federal Reserve (Fed) disse recentemente, o ritmo moderado da recuperação dos EUA pode estar apontando para uma redução mais substancial na própria trajetória do produto potencial. Em particular, segundo alguns diretores do Fed, esperava-se que a inflação tivesse caído mais nos últimos anos, se a folga aberta pelo desvio da atividade econômica abaixo do "potencial" tivesse sido tão grande como as medidas usuais sugerem. Ou seja, talvez o potencial de crescimento da economia (sem inflação) não seja tão alto hoje em dia como antes se supunha.

Em economias desenvolvidas, como a dos EUA, e em mercados emergentes, como o brasileiro, um tema comum é que a inflação não caiu tanto quanto a desaceleração do crescimento poderia sugerir. Olhando para frente, a lenta recuperação global e a ampla ociosidade nas economias desenvolvidas sugerem que ainda pode demorar algum tempo antes que a inflação se torne uma questão importante para os bancos centrais de mercados desenvolvidos.

No entanto, em mercados emergentes, menor ociosidade na utilização dos recursos da economia e a recuperação mais rápida da economia sugerem que a inflação pode se tornar uma preocupação maior bem antes do que muitos esperam. Esse é o caso do Brasil, temo. Com a economia ganhando fôlego nos próximos trimestres, a tendência subjacente da inflação dificilmente cai muito. Pelo contrário, o risco é a alta dos preços se tornar uma questão mais espinhosa do que se imagina.

O que está errado com o consenso? A projeção praticamente unânime entre os analistas para a inflação de 2013 tinha subido, já há algum tempo, para 5,5%, descolando da previsão inicial de 4,5% que se imaginava inicialmente. Parece ter se difundido a percepção (correta ou não), de que o governo estaria satisfeito com a inflação em algum lugar na banda superior do intervalo de tolerância. Ou seja, em algum lugar entre o centro da meta de 4,5% e o teto de tolerância de 6,5%. A marca de 5,5% fica exatamente no ponto médio dessa banda superior. 

Assim, não é por acaso que o consenso tenha mirado nesse número, como a verdadeira nova meta de inflação na prática, pelo menos na percepção do mercado. Entretanto, o risco pela frente parece ser de inflação maior, a julgar por modelos de projeção sob determinadas hipóteses, assumindo preços de commodities em alta, taxa de câmbio relativamente estável, recuperação forte do crescimento doméstico, mercado de trabalho apertado, e expectativas de inflação ainda acima do centro da meta. Mas e as reduções de impostos, como o corte do custo de energia elétrica, não podem reduzir a inflação? Um problema com esse tipo de medida é que isso certamente ajuda a mitigar temporariamente a medida oficial de inflação, mas não resolve as pressões latentes de inflação. Aspirinas aliviam sintomas, mas não curam doenças.

O foco do mercado financeiro no Brasil deve mudar nos próximos trimestres. Se o tema de 2012 foi "crescimento baixo", talvez o tema em 2013 seja "inflação alta". Ou seja, as preocupações com crescimento fraco na primeira metade de 2012 cada vez mais podem dar lugar a preocupações sobre inflação no ano que vem.

Em resumo, na economia como no futebol, 2013 será um teste importante. Em ambos os casos, será hora de colocar o time em campo.
Marcelo Carvalho é economista-chefe para a América Latina do Banco BNP Paribas.

A RIQUEZA DAS NAÇÕES


Riqueza das nacoes


Por mais de 10.000 anos, a renda per capita do mundo era de uns míseros US 2 por dia, e olhe lá! 

Mesmo depois de publicado o livro "A Riqueza das Nações" em 1776, de Adam Smith, as ideias contidas no livro fizeram pouco para melhorar a pobreza do mundo.

A pobreza começa a ser realmente reduzida a partir de 1900, e de forma exponencial. 

Milhares de livros já foram escritos sobre o motivo deste crescimento - educação, investimentos do Estado e infraestrutura.

GOVERNO E MERCADO


Se você detesta o estado, leia este livro. Se você ama o estado, leia esse livro!



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INSTRUÇÕES PARA USOSe você detesta o estado, leia este livro. Se você ama o estado, leia esse livro! Estudantes, pesquisadores e demais pessoas instruídas poderão se beneficiar com a leitura de Governo e Mercado. No presente volume, Murray N. Rothbard (1926-1995), usa a teoria econômica para analisar diferentes projetos e propostas visando alterar ou eliminar as soluções de mercado. Num cenário no qual os partidários da ação governamental apresentam inúmeros motivos pelos quais o governo "precisa" fazer isso ou aquilo, Rothbard põe limites às fantasias políticas. Ele demonstra como o estado não é uma entidade benigna que poderá facilmente corrigir os problemas no mundo. Ao contrário, o estado é um aparato imperfeito e inerentemente coercitivo.

O presente livro, após trinta e cinco anos da primeira edição, ainda é a mais sistemática análise da intervenção governamental. Man, Economy, and State [Homem, economia e estado], o principal tratado de Rothbard, descreve as trocas na economia de mercado, ao passo queGoverno e Mercado analisa a economia da intervenção governamental. Rothbard deixa claro que a economia é desprovida de juízos morais, não oferecendo nenhum julgamento ético final, ao mesmo tempo em que, também, aponta como a ciência econômica pode ser utilizada para criticar determinados posicionamentos morais, da seguinte forma: "Caso a autocontradição e a impossibilidade conceitual de execução de uma finalidade ética possam ser demonstradas, então nitidamente tal fim é um absurdo e deve ser abandonado por todos". Em certos aspectos, o livro poderia ser considerado um dos primeiros exemplos de economia da escolha pública, porque utiliza o instrumental econômico para analisar governo, e certamente elimina as visões românticas sobre a política. No entanto, Rothbard diferia dos economistas da escolha pública, tais como James M. Buchanan e Gordon Tullock — e, a esse respeito, de todos os seus contemporâneos —, pois sempre viu o estado como um agente coercitivo, uma instituição que não foi criada para fazer o bem.

Os capítulos centrais de Governo e Mercado oferecem uma tipologia e debatem os diferentes tipos de intervenção estatal. A intervenção binária ocorre quando o estado interfere diretamente num grupo privado (por exemplo, impostos e gastos do governo), e a intervenção triangular ocorre quando o estado interfere na interação de dois grupos (por exemplo, controles de preços ou regulamentos de produtos). As pessoas estão em melhor situação quando o estado tutela o dinheiro delas contra a sua própria vontade? As pessoas estão em melhor situação quando o estado gasta o seu dinheiro em algo que você não teria comprado por conta própria? As entidades privadas se tornam melhores quando são impedidas de se envolver em trocas que consideram mutuamente benéficas? Dica: A resposta correta é não! Leia os capítulos III, IV e V para ver as análises de Rothbard.

Ao longo desse volume, Rothbard descreve o porquê do governo não ser uma força benigna, como muitos defensores dessa instituição acreditam. O governo é um aparato de coerção que interfere nas relações voluntárias no mercado. Apenas para se ter uma ideia de até onde vai a lógica do autor, Rothbard inicia já no capítulo I com uma argumentação sobre o porquê do governo ser desnecessário! Governo e Mercado é importante pois "é a primeira análise da economia governamental a argumentar que o fornecimento de bens ou serviços não requer a existência de governos". Antes de Rothbard, até mesmo a maioria dos teóricos do livre mercado, tais como Ludwig von Mises (1881-1973), Henry Hazlitt (1894-1993), Ayn Rand (1905-1982) e Friedrich Hayek (1899-1992) pressupunham simplesmente que os serviços, assim como a aplicação da lei, deveriam ser fornecidos pelo estado. Rothbard entende que a aplicação da lei deve ser analisada em termos de unidades marginais e, como outros bens, essas unidades podem ser fornecidas por agentes privados. Ele menciona brevemente alguns exemplos históricos da aplicação privada da lei e, em seguida, especula como um sistema puramente privado poderia funcionar. A proposta de Rothbard é demasiado utópica? Ele responde:

O conceito apresentado é bem mais funcional do que a ideia verdadeiramente utópica de um governo rigorosamente limitado; uma ideia que nunca funcionou na história. E é muito compreensível, pois o monopólio da agressão e a ausência de freios de mercado inerentes à estrutura estatal, possibilitaram a destruição de quaisquer amarras que indivíduos bem intencionados tentaram aplicar a um governo limitado

O anarquismo libertário de Murray Rothbard influenciou muitos pensadores subsequentes, que, desde então, escreveram vários artigos e livros sobre o porquê do governo ser desnecessário.


Além de desbravar novos caminhos na sua época, o livro é extremamente relevante para a economia política hoje. Por exemplo, o capítulo final de Governo e Mercado é uma crítica contundente da ética antimercado, que se manteve como resquício de uma visão pré-moderna e que vem ganhando popularidade em nossos dias. Tomemos como exemplo a visão de muitos economistas comportamentais que argumentam que a sociedade não deve confiar no livre mercado, porque as pessoas nem sempre sabem o que é melhor para elas. Rothbard concorda que muitas vezes as pessoas cometem erros, mas discorda se isso é motivo para a existência do paternalismo. Se as pessoas não sabem o que é melhor para elas, como podem estar aptas para eleger líderes que tomarão as decisões por elas? O livro serve para desmitificar a visão popular de muitos economistas da escolha pública que argumentam em favor da aplicação da coerção governamental porque a natureza humana é imperfeita. Rothbard concorda que os homens não são anjos, mas isso não justifica, para ele, o governo. Se os seres humanos são tão ruins, como podemos esperar que um governo coercitivo composto de seres humanos melhore a situação? Rothbard adota esses argumentos e muitos mais.

Em Governo e Mercado, nenhum aspecto da intervenção governamental é poupado. Os argumentos de Rothbard podem servir como uma pausa e meio de reflexão para as pessoas que desejam resolver os problemas sociais usando meios políticos. Para Rothbard, o estado não é perfeito, desejável, ou necessário, é totalmente o oposto! O estado, em todas as suas formas, é prejudicial para a sociedade civil, e se realmente queremos melhorar o mundo, devemos olhar para além do governo. Soluções reais não estão no poder político, mas nas forças do livre mercado.

[1] O presente volume foi originalmente escrito como a terceira e última parte do manuscrito de 1.500 páginas deMan, Economy and State.  O tamanho do manuscrito e o fato das conclusões políticas de Rothbard divergirem das visões dominantes sobre a análise do papel do governo na sociedade foram demais para alguns, por isso, Man, Economy, and State Power and Market foram publicados como volumes separados em 1962 e em 1970.  Ver: STROMBERG, Joseph. "Introduction to Man, Economy, and State with Power and Market". In: ROTHBARD, Murray N. Man, Economy, and State with Power and Market: Scholar's edition. Auburn: Mises Institute, 2004. pp. lxv—lxxi.
[2] ROTHBARD. Power and Market. p. 251. Na presente edição, Capítulo VI (primeiro parágrafo).
[3] A visão dos economistas da Public Choice [escolha pública] sobre o governo e a anarquia são apresentados em: STRINGHAM, Edward (Ed.). Anarchy, State, and Public Choice. Cheltenham: Edward Elgar, 2006.
[4] ROTHBARD. Power and Market. p. 9. (Capítulo I).
[5] Ver por exemplo: BARNETT, Randy. The Structure of Liberty: Justice and the Rule of Law. Oxford: Clarendon Press, 1998; BENSON, Bruce. The Enterprise of Law: Justice Without the State. San Francisco: Pacific Research Institute for Public Policy, 1990; BENSON, Bruce. To Serve and Protect: Privatization and Community in Criminal Justice. New York: New York University Press, 1998; HOPPE, Hans-Hermann. Theory of Socialism and Capitalism. Boston: Kluwer, 1989; HOPPE, Hans-Hermann. Democracy — The God That Failed: The Economic and Politics of Monarchy, Democracy, and Natural Order. New Brunswick: Transaction Publishers, 2001; HOPPE, Hans-Hermann. (Ed.). The Myth of National Defense: Essays on the Theory and History of Security Production. Auburn: Mises Institute, 2003; DE JASAY, Anthony. Against Politics: On Government, Anarchy, and Order. London: Routledge, 1997; STRINGHAM, Edward (Ed.). Anarchy, State, and Public Choice. Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2006; e STRINGHAM, Edward (Ed.). Anarchy and the Law: The Political Economy of Choice. New Brunswick: Transaction Publishers, 2006.
[6] THALER, Richard H. & SUNSTEIN, Cass R. "Libertarian Paternalism". American Economic Review, Volume 93, Number 2 (May 2003): 175-79.
[7] ROTHBARD. Power and Market. p. 254. (Capítulo VI).
[8] Ver: McGUIRE, Martin C. & OLSON, Mancur. "The Economics of Autocracy and Majority Rule: The Invisible Hand and the Use of Force". Journal of Economic Literature, Volume 34, Number 1 (March 1996): 72-96. O argumento libertário sobre o ponto de vista dos economistas da escolha pública aparece na já citada obraAnarchy, State, and Public Choice organizada por Edward Stringham.
[9] ROTHBARD. Power and Market. p. 260. (Capítulo VI). Ver também: POWELL, Benjamin & COYNE, Christopher. "Do Pessimistic Assumptions About Human Behavior Justify Government?" Journal of Libertarian Studies, Volume 17 (Fall, 2003): 17-38.
[10] A abrangência de muitos tópicos impediu que Rothbard descesse a minúcias em qualquer um deles. Essa amplitude de tópicos, no entanto, é parte do atrativo do livro.  Desta perspectiva, a obra de Rothbard pode ser vista como um trampolim para o aprofundamento de muitos tópicos do moderno libertarianismo.  Rothbard escreveu: "A argumentação ao longo deste livro é, primariamente, teórica. Não foi feita nenhuma tentativa de enumerar exemplos institucionais de intervenção governamental no mundo de hoje, uma tentativa que, é claro, iria requerer muitíssimos volumes" (Power and Market [1970], p. vii).  A boa notícia é que o salvo-conduto inicial de Rothbard deu aos estudiosos do libertarianismo de hoje oportunidade para ilustrar ou ampliar as ideias teóricas de Governo e Mercado.  Por exemplo, muitos de meus artigos sobre a coercibilidade das regras privadas tentam mostrar exatamente isso: STRINGHAM, Edward. "Market Chosen Law". Journal of Libertarian Studies, Volume 14, Number 1 (Winter, 1998-1999): 53-77; STRINGHAM, Edward. "The Emergence of the London Stock Exchange as a Self-Policing Club". Journal of Private Enterprise, Volume 17, Number 2 (2002): 1-19; STRINGHAM, Edward. "The Extralegal Development of Securities Trading in Seventeenth Century Amsterdam". Quarterly Review of Economics and Finance, Volume 43, Number 2 (Summer, 2003): 321-44; BRYAN, Caplan & STRINGHAM, Edward. "Networks, Law, and the Paradox of Cooperation". Review of Austrian Economics, Volume 16, Number 4 (December 2003): 309-26; STRINGHAM, Edward. "Overlapping Jurisdictions, Proprietary Communities, and Competition in the Realm of Law". Journal of Institutional and Theoretical Economics, Volume 162, Number 3 (September 2006): 516-34.

[Este artigo foi extraído do prefácio do livro Governo e Mercado: a economia da intervenção estatal, que está sendo lançado hoje pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil]
Edward P. Stringham ocupa a cadeira Lloyd Hackley Endowed de Estudos Sobre o Capitalismo e Livre Iniciativa na Fayetteville State University. Mande um e-mail para ele.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

SEXTA LIÇÃO

Dez lições de economia para iniciantes - Sexta lição: lucros, perdas e empreendedorismo

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Duas das palavras mais amaldiçoadas pelos socialistas e comunistas são: lucro e empresário. Essa gente, entre os quais muitos professores de História, cujos conhecimentos de economia são nulos, repetem como papagaios que os que ganham lucros são ladrões, exploradores do povo, tubarões e outras bobagens desse gênero; da mesma forma identificam os empresários, pois, afinal, são eles que ganham lucros...

Pois saiba você que a pessoa que inventou o computador pessoal e as que o aperfeiçoaram, assim como as que desenvolveram a Internet, ganharam muitos milhões de lucros por suas invenções e que, se não fossem esses "ladrões e exploradores", você e muitos milhões de pessoas no mundo inteiro não teriam acesso a muitas facilidades que tornaram a sua vida muito mais interessante do que na época em que não existiam computadores pessoais e nem Internet! Então, sempre que alguém xingar gratuitamente os empresários ou falar mal dos lucros, pense nisso e dê esse exemplo. Garanto que essa pessoa ficará desconcertada e não terá argumentos para rebater a verdade que você lhe disse.

Os lucros representam a remuneração dos empreendedores, que são aqueles empresários que, por meio de sua ação nos mercados, criam novas informações e as transmitem, coordenam as ações dos agentes econômicos, e descobrem oportunidades de lucros. Os verdadeiros empreendedores precisam estar em permanente estado de alerta, de vigilância e de atenção.

Entenda o que significa dizer que os empreendedores "coordenam as ações dos agentes": quando eles descobrem que podem comprar barato certo recurso para revender esse recurso a um preço maior, eles fazem com que o comportamento que era descoordenado dos donos desse recurso passe a ser coordenado com o comportamento de quem precisa desse recurso. Ao fazer isso, eles estão empreendendo.

Quanto mais forte for a atividade dos empreendedores, maiores serão as novas descobertas de meios e fins, a criatividade e a coordenação e, portanto, mais dinâmica e eficiente será a economia.

Intervencionismo e empreendedorismo são estados contraditórios. Não admitem meios termos, da mesma forma que não há meio termo entre chover e não chover: ou está chovendo ou então não está; ou há empreendedorismo ou intervencionismo. Infelizmente, poucos percebem isso e a imensa maioria das pessoas, incluindo muitos empresários, crê que intervencionismo e empreendedorismo podem conviver na geração do progresso. O empreendedorismo brota do espírito criativo dos indivíduos, que os leva a assumir riscos para criar mais riqueza. Para que possa florescer, depende de quatro atributos: governo limitado, respeito aos direitos de propriedade, leis boas e estáveis e economia de mercado. Quanto mais uma sociedade afastar-se desses pressupostos, mais sufocada ficará a atividade de empreender e mais prejudicada a economia, pois não se conhece exemplo de desenvolvimento econômico sem a presença de empreendedores. Neste artigo, enfatizamos os efeitos do intervencionismo.

Podemos definir empreendedorismo ou função empresarial como o atributo individual de perceber as possibilidades de lucros ou ganhos eventualmente existentes. Ora, como isso se constitui em uma categoria de ação, esta pode ser encarada como um fenômeno empresarial, que põe em destaque as capacidades perceptiva, criativa e de coordenação de cada agente. O empreendedor é aquele indivíduo que percebe que uma determinada idéia poderá lhe proporcionar ganhos e se empenha para desenvolvê-la na prática. O fato de esse indivíduo ser ou não um empresário (no sentido de ser diretor ou dono de uma empresa), no momento em que nasce sua boa idéia, não é, portanto, relevante para que possamos defini-lo como empreendedor.

Um dos aspectos mais importantes do conceito de empreendedorismo ou função empresarial é que o empreendedor não é meramente a mola propulsora de uma economia de mercado, mas um produto exclusivo da economia de mercado. Em outras palavras, só pode existir empreendedorismo onde houver economia de mercado, uma vez que o processo de descoberta que caracteriza os mercados livres e que exige um permanente estado de sagacidade para descobrir as necessidades específicas dos consumidores não pode ser substituído pelo planejamento, por computadores, por reuniões da "sociedade civil", por "movimentos sindicais", por "câmaras setoriais" ou por "soluções" políticas.

Há diferenças entre empresário e empreendedor: diversas categorias de pessoas podem ser consideradas como "empresários": sindicalistas, diretores de "empresas" estatais, herdeiros de empresas que não trabalham, ou envolvidos em "atividades empresariais políticas" (como os lobistas), enquanto o que caracteriza o empreendedor é a percepção da oportunidade de ganho, mesmo que ele não possua um simples centavo ou não detenha qualquer poder.

Para que você compreenda de uma vez por todas o papel dos empreendedores, repito em seguida o exemplo de meu artigo João, Maria, José, Empreendedorismo e Intervencionismo, publicado em 28 de setembro de 2010.


Consideremos dois agentes, João e Maria. Cada um deles possui um conjunto próprio e peculiar de informações que o outro não possui. Ora, um observador externo, por exemplo, um terceiro agente, pode afirmar com razão que existe um conhecimento que ele, como observador, não tem, e que se encontra disperso entre João e Maria, significando com isso que João detém uma parte dele e Maria a outra parte. Há casos em que, para alcançar determinado fim, o agente necessite apenas de seu conjunto pessoal de informações, sem necessidade de ter que relacionar-se com outros agentes.

Mas estes casos são minoria no mundo real, em que a maior parte das ações envolve uma complexidade muito maior. Por exemplo, suponha que João pretende alcançar um fim FJ, para o qual precisa utilizar um meio MJ que não está à sua disposição e que, além disso, ele não saiba como obtê-lo. Admitamos também que Maria pretenda alcançar um fim FM, diferente de FJ e que tenha à sua disposição uma quantidade razoável do meio MJ tão útil para João, mas que para ela não seja importante. Porém, Maria não sabe que esse meio é importante para João e este não sabe que Maria o possui e, ainda, que não pretende utilizá-lo. O que acontece neste exemplo sucede também na maioria das situações reais: o fato dos fins FJ e FM serem contraditórios, ou seja, cada agente busca fins diferentes, com intensidades também diferentes e com um conjunto relativo de informações, no que diz respeito a eles e aos meios utilizáveis. Há, claramente, um desajuste e uma ausência de coordenação, motivados pela dispersão do conhecimento e que só desaparecerão por meio do exercício da função empresarial, ou empreendedorismo.

Suponhamos agora que um terceiro agente — José — percebe a situação de falta de coordenação que foi descrita e se disponha a exercer o empreendedorismo, quando descobre a possibilidade de obter um lucro se procurar Maria, para quem o meio MJ não tem utilidade e propor-lhe que o venda por, suponhamos, R$80.000,00. Sem dúvida, um excelente negócio para Maria, que atribuía ao meio um valor zero ou próximo de zero. Após comprar MJ de Maria, José procura João, que está interessado nele para que possa alcançar o seu fim FJ e lhe propõe vendê-lo por, suponhamos, R$100.000,00. Observe que José não precisa necessariamente possuir recursos para comprar o meio, bastará que tome um empréstimo cujos juros compensem o negócio. Assim, José conseguiu obter do nada — ex nihilo — um lucro empresarial puro de R$ 20.000,00 do meio MJ. Em consequência, a ação empresarial de José produziu três efeitos: primeiro, criou nova informação, novo conhecimento; segundo, transmitiu esse novo conhecimento no mercado; e terceiro, ensinou os outros dois agentes a agirem em um processo de dependência recíproca.

A criação empresarial de conhecimento representa uma transmissão instantânea dessa informação nos mercados. José não apenas transmitiu a Maria a informação de que o recurso MJ, que ela possuía, mas ao qual não atribuía valor, era importante para alguém e que não havia, racionalmente, razão para desperdiçá-lo, mas também transmitiu a João a informação de que poderia prosseguir com a ação para alcançar o seu objetivo FJ e que poderia ter sido abandonada pela falta do meio adequado. O exemplo ilustra também a importância do sistema de preços como um transmissor de informações muito eficiente, que se espalha sucessivamente por todo o processo de mercado, eliminando a falta de coordenação. José, que apenas percebeu que o recurso MJ possuía valor para João, embora não tivesse valor para Maria, nada mais fez do que transmitir ao mercado essa sua percepção, agindo como um empreendedor e auferindo um lucro.

Observemos também que o conjunto relevante de informações tem natureza essencialmente subjetiva, porque depende daqueles agentes empreendedores que sejam capazes intuitivamente de descobri-lo. Mesmo aquele tipo de informações ou de conhecimento que é geralmente encarado como "objetivo", como os próprios preços, por exemplo, é na realidade gerado por informações subjetivas, como a que levou José a procurar Maria, propor-lhe a compra do meio e, depois, a procurar João e dizer-lhe que estava disposto a vendê-lo.

Mas não foram apenas João, Maria e José que ficaram satisfeitos com a ação empreendedora do último. Suponhamos que o fim de João era abrir uma oficina de mecânica de automóveis em uma determinada rua de um bairro, que o meio de que necessitava era um terreno e que Maria tenha herdado de uma tia um terreno baldio nessa mesma rua, que só lhe estava causando custos com as taxas e impostos escorchantes que o município lhe cobrava. Maria e João não se conhecem, mas eis que surge José que, conhecendo os desejos de ambos, percebe uma boa oportunidade de ganho se comprar o terreno de Maria por R$ 80.000,00 (valor que ele possui em uma conta poupança) e revendê-lo para João por um valor maior. Maria vende o terreno para José por aquele valor e José consegue revendê-lo para João por R$ 100.000,00. Admitamos, por fim, que João, de posse do terreno, abra a sua oficina e, com isso, dê emprego para cinco pessoas que se encontravam desempregadas.

Observemos quantos indivíduos ganharam com a idéia que José conseguiu levar adiante. Primeiro, o próprio José, que lucrou R$ 20.000,00; depois, Maria, que, além de ver-se livre das despesas com o terreno, embolsou, em termos brutos, R$ 80.000,00; em terceiro lugar, João, que pode finalmente realizar o seu desejo de ser proprietário de uma oficina mecânica e que poderá obter lucros com o seu funcionamento; e, por fim, os cinco empregados do novo negócio e, obviamente, as suas famílias, que — admitamos - totalizavam, somando as esposas e os três filhos de cada um, vinte pessoas. Portanto, o empreendedorismo de José beneficiou, ao fim e ao cabo, ele mesmo, João, Maria, os cinco mecânicos e mais vinte pessoas, ou seja, vinte e oito pessoas.

Notemos que José, para colocar em prática a sua idéia, nem precisava dispor dos R$ 80.000,00 necessários para comprar o terreno de Maria, bastando que tomasse um empréstimo nesse valor e que o total de juros que teria que pagar pela operação fosse inferior ao ganho obtido com a revenda do terreno para João. Vemos, então, que o empreendedor não precisa ser alguém necessariamente rico, mas alguém que tenha criatividade, inventividade - ideias, enfim.

Ora, se isto acontece em um pequeno negócio como o desse exemplo simples, podemos imaginar a amplitude dos benefícios proporcionados pelos grandes negócios, que envolvem a geração de empregos de centenas e de milhares de pessoas. No entanto, a cultura antiempresarial insiste invariavelmente em associar os grandes negócios a fraudes, negociatas e "maracutaias", em que apenas os "empresários" obtêm lucros e sempre a partir da "exploração" alheia...

Assim, José, o empreendedor inicial (aquele que teve a ideia), conseguiu obter um lucro empresarial bruto de R$ 20.000,00. Mas Maria, de imediato, já ganhou R$ 80.000,00 e poderá, ao longo do tempo, ganhar mais do que o lucro de José, caso aplique bem o seu dinheiro. Da mesma forma, o negócio de João, que lhe custou R$ 100.000,00 pela compra do terreno, fora os custos com máquinas, empregados e a construção de um galpão, entre outros, depois de algum tempo, compensará os seus custos fixos e variáveis de abrir e manter a oficina. A ação empresarial de José produziu vários efeitos: criou nova informação; transmitiu essa informação ao mercado; coordenou os planos de João com os de Maria; deu emprego para cinco mecânicos; beneficiou suas famílias; e aumentou a competição no setor de mecânica de automóveis, porque criou mais uma empresa e, portanto, beneficiou também os proprietários de carros.

Espero que este exemplo simples tenha ajudado você a compreender a importância do empreendedorismo. Note que, no exemplo, tudo deu certo para José, o empreendedor. Mas e se não desse? Se, por exemplo, ele pagasse os R$80.000,00 pelo terreno de Maria, mas não conseguisse revendê-lo para João pelos R$100.000,00, mas apenas por R$76.000,00? Bem, nesse caso, ele incorreria em uma perda ou prejuízo: R$4.000,00 (perda direta, que pode ser medida) mais as perdas representadas pelo tempo que perdeu fazendo os dois negócios (perdas indiretas, que não podem ser calculadas).

A maioria das pessoas só olha para os lucros ganhos pelos empreendedores, mas se esquecem de que eles correm muitos riscos, sendo os principais os riscos de seus empreendimentos não darem bons resultados e isso lhes causar perdas.

Depois de todas essas observações, espero que tenha ficado bastante claro para você que um das condições, talvez a principal delas, para que uma economia se desenvolva é a liberdade de empreender, sem qualquer interferência do estado. Podemos, então encerrar com as palavras de um campeão da lógica e da liberdade, Ludwig von Mises, no artigo citado nas sugestões de leitura em seguida:

Aqueles empreendedores que se mostrarem incapazes de produzir, da melhor e mais barata maneira possível, os bens e serviços que os consumidores estão demandando com mais urgência, sofrerão prejuízos e serão, em última instância, eliminados de sua posição empreendedorial. Outros empreendedores que tenham maior capacidade administrativa e que saibam melhor como servir aos consumidores substituirão estes que fracassaram.

Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).  Visite seu website.