sexta-feira, 26 de outubro de 2012

LENDAS ÁRABES


A rede de mentiras e mitos que a máquina de propaganda árabe criou é parte importante no implacável objetivo de destruir o Estado de Israel. É uma vergonha que o mundo, inclusive israelenses, as tenha aceitado como verdades. A paz no Oriente Médio será impossível até que esses mitos sejam expostos como tais.(*)



Os “palestinos”
Este é o mito principal, na realidade o conceito de ‘povo palestino’ não existia até 1948 quando os árabes que habitavam a região quiseram se diferenciar dos judeus. Até então os palestinos eram os judeus. Os árabes que hoje assim se denominam o fazem para persuadir um mundo desinformado de que pertencem a uma nacionalidade distinta, quando são árabes como os sírios, os libaneses, os jordanianos com os quais partilham a mesma língua e costumes tribais. Enquanto os judeus sionistas construíam de uma terra inóspita um próspero Estado de Israel, os árabes que ali habitavam estavam confabulando com Hitler através do Grão-Mufti Al Husseini para matar judeus.

A “margem ocidental”
Este é um conceito geográfico inexistente antes de 1948 quando o Exército do Reino da Transjordânia e outros cinco exércitos árabes invadiram Israel no mesmo dia de sua fundação. Apesar da forte resistência israelense que obteve miraculosa vitória, a Transjordânia manteve a possessão dos territórios da Judéia e da Samaria e da parte oriental de Jerusalém, expulsando os judeus destas áreas, destruindo instituições, sinagogas e cemitérios. Mesmo após a expulsão dos jordanianos na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o mundo continuou a chamar esta área de ‘margem ocidental’.

Os “terrítórios ocupados”
Após a Guerra dos Seis Dias Israel ocupou permanentemente a Judéia/Samaria, ocupada ilegalmente pela Jordânia durante 19 anos, da Faixa de Gaza ocupada pelos egípcios – embora a centenas de quilômetros longe de seu território - e das Colinas de Golan. As últimas soberanias sobre estes territórios foram do Império Otomano e posteriormente do Mandato Britânico, incluindo as Colinas que foram cedidas à Síria pelo acordo anglo-francês.

“Jerusalém oriental árabe”
A propaganda árabe inventou e propagou com enorme sucesso o mito de que Jerusalém é uma capital árabe e a terceira cidade sagrada do Islã, depois de Meca e Medina e, conseqüentemente é intolerável a permanência de infiéis (judeus) em seus limites. A cidade é mencionada centenas de vezes na Bíblia como o centro da fé Judaica e o objetivo a ser retomado desde a destruição do Templo pelos Romanos. Jamais a cidade é mencionada no Alcorão. A ocupação desta parte da cidade pelos árabes – que jamais foi dividida, nem os Evangelhos cristãos se referem a isto – foi o resultado da invasão jordaniana. Mas os árabes conseguiram convencer a opinião pública mundial de que os Judeus que querem retornar são criadores de caso ou coisa pior.

Os “assentamentos”
Quando a Jordânia tomou a Judéia/Samaria e a parte oriental de Jerusalém as cidades Judias foram totalmente obliteradas e os Judeus expulsos, tornando-a uma área judenrein (livre de Judeus), termo usado inicialmente na Alemanha nazista. Quando os Israelenses recuperaram estes territórios, reconstruíram cidades, construíram outras e criaram novos subúrbios e bairros, especialmente em Jerusalém. Os árabes decidiram chamar estas cidades e vilas de ‘assentamentos’, com a conotação de ilegitimidade e transitoriedade. O mundo inteiro, inclusive os Estados Unidos engoliram a mentira impingida pelos árabes e consideram tais ‘assentamentos’ como fatores que impedem a paz.

Os “refugiados”
Em 1948 quando seis exércitos árabes invadiram Israel os comunicados de rádio das tropas árabes avançadas apelavam aos residentes árabes para deixar suas casas para não atrapalhar o avanço da invasão e poderiam retornar assim que a ‘rápida vitória’ fosse alcançada pelos árabes poderiam retornar a seus lares e ainda poderiam saquear os bens dos Judeus em fuga ou exterminados. As coisas não saíram bem assim. Os árabes que aceitaram a ameaça se tornaram refugiados, os que confiaram nas promessas dos Israelenses ficaram e permanecem pelos último 60 anos cidadãos de Israel gozando todos os direitos e privilégios dos judeus (1). O que aconteceu com estes ‘refugiados’? Foram protegidos e absorvidos pelos países árabes ‘irmãos’ para trabalharem e se tornarem plenos cidadãos? Não, foram e continuam vivendo em miseráveis ‘campos de refugiados’ para serem usados como peões políticos e militares e inflamar o ódio a Israel, e reserva de terroristas.

Incapazes de vencer Israel no campo de batalha onde foram três vezes humilhados, os árabes tentam obter e destruição de Israel pela falsa diplomacia baseada em mentiras, mitos e fábulas. É vergonhoso que grande parte dos ocidentais tenha engolido estas balelas! 
Notas:

(*) Condensação de textos do site FLAME (Facts and Logic About the Middle East) publicados na revistaTownhall na edição de agosto e setembro de 2012.
(1) Sugiro a leitura de meu artigo 'O Terrível Apartheid Israelense'.
Por: POR HEITOR DE PAOLA  Publicado no jornal Visão Judaica, de Curitiba.

A LIVRE INICIATIVA E A LIBERDADE ECONÔMICA SÃO IMPERATIVOS MORAIS


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Todas as considerações sobre justiça social e distribuição justa de riqueza que os intelectuais, a mídia e os políticos gostam de pontificar a respeito, e que constituem o "fundamento ético" de importantes movimentos sociais (de natureza "socialista" ou "social-democrata"), têm sua origem ou fundamento em uma errônea concepção estática em relação à economia.

Com efeito, o paradigma da teoria econômica que por muito tempo foi predominante se baseava, em maior ou menor escala, em considerar que a informação econômica é algo objetivo e se encontra "dada", ou seja, é conhecida por todos (tanto em termos exatos quanto probabilísticos). Consequentemente, seria possível realizar análises de custo-benefício sobre estas informações.

Sendo assim, parecia lógico crer que quaisquer considerações sobre 'maximização de utilidade' fossem totalmente independentes dos aspectos morais, de modo que moralidade e maximização de utilidade fossem coisas que pudessem ser combinadas livremente, nas mais variadas proporções.

Ademais, esta concepção estática inexoravelmente levava à suposição de que, em certo sentido, os recursos escassos da economia também já estavam dados e eram conhecidos por todos. A consequência inevitável deste raciocínio era a de que o problema econômico da distribuição dos recursos era considerado distinto e totalmente independente do problema de sua produção. Com efeito, se os recursos já estão dados, torna-se de excepcional importância definir como serão distribuídos entre os diferentes seres humanos tanto os meios de produção quanto os bens por eles produzidos.

Todo este arcabouço foi demolido pela nova concepção dinâmica dos processos de mercado e pela nova teoria econômica da função empresarial. Esta teoria demonstrou e enfatizou que todo ser humano possui uma inata capacidade criativa que lhe permite avaliar, estimar e descobrir as oportunidades de lucro que surgem ao seu redor, e agir em conformidade para aproveitá-las. O empreendedorismo, portanto, consiste na capacidade tipicamente humana de continuamente criar e descobrir novos fins e novos meios para se alcançar tais fins.

Por esta concepção, além de os recursos não estarem dados e nunca serem conhecidos por todos, tanto os fins quanto os meios para se alcançar estes fins são continuamente descobertos e criados por empreendedores desejosos de alcançar novas realizações que eles julgam ter um maior valor. 

E se os meios, os fins e os recursos nunca são dados e conhecidos por todos, mas são continuamente criados em consequência da ação empreendedorial de seres humanos, então resta claro que o fundamental problema ético não mais é o de como distribuir equitativamente tudo aquilo "que já existe", mas sim o de como promover a criatividade e a coordenação empreendedorial.

Por isso, no campo da ética social, chega-se à conclusão de que, se o ser humano é um agente criativo, então é axiomático reconhecer o princípio ético de que "todo ser humano tem o direito natural de manter para si os frutos da sua própria criatividade empresarial". Ou seja, a apropriação privada dos frutos da descoberta e da criação empreendedorial é um princípio autoevidente das leis naturais. E é assim porque, se um indivíduo empreendedor não pudesse reivindicar para si aquilo que ele criou ou descobriu, ele simplesmente não teria incentivos para colocar em ação sua perspicácia empresarial e criativa inerente à sua condição de ser humano. A sua capacidade de detectar oportunidades de lucro estaria completamente bloqueada, e seu incentivo para agir desapareceria. Adicionalmente, este princípio é universal no sentido de que ele pode ser aplicado a todos os seres humanos em todas as circunstâncias concebíveis.

Considerando-se, portanto, a economia como um processo dinâmico do tipo empreendedorial, o princípio ético que deve regular as interações sociais deve se basear na consideração de que a sociedade mais justa será aquela que, de maneira mais enérgica, promova a liberdade e a criatividade empresarial de todos os seres humanosque a componham, sendo que para isso é imprescindível que cada um deles possa ter de antemão a segurança de que poderá usufruir os resultados de sua criatividade empresarial (os quais, antes de serem descobertos ou criados por cada agente, simplesmente não existiam na sociedade) e de que não será expropriado total ou parcialmente por ninguém, muito menos pelo governo.

Finalmente, esta análise torna evidente o caráter imoral do intervencionismo, o qual deve ser entendido como todo sistema de agressão institucional levado a cabo pelo estado contra o exercício da ação humana ou da função empresarial em qualquer área ou camada social. Com efeito, a coerção ao indivíduo impede que ele desenvolva aquilo que lhe é intrínseco por natureza: sua inata capacidade de almejar novos fins e conceber novos meios para alcançar estes fins, sempre agindo em conformidade para lograr este objetivo. Na medida em que a coerção do estado impede a ação humana do tipo empresarial, sua capacidade criativa estará limitada e ele não descobrirá e nem surgirão as informações ou conhecimentos necessários para coordenar a sociedade.

Exatamente por isso o socialismo é um erro intelectual, pois ele impossibilita que os seres humanos gerem as informações de que o órgão planejador necessita para coordenar a sociedade por meio de suas ordens coercivas. Adicionalmente, essa análise tem a virtude de deixar claro que o sistema socialista e intervencionista é imoral, pois ele se resume a impedir pelo uso da força que os vários seres humanos se apropriem dos resultados de sua própria criatividade empresarial. Desta forma, o socialismo pode ser visto como sendo não apenas um sistema teoricamente errôneo e economicamente impossível (o que significa ineficiente), como também, e ao mesmo tempo, um sistema essencialmente imoral, pois vai contra a mais íntima natureza do ser humano, impedindo que este se realize e usufrua livremente os resultados de sua própria criatividade empresarial.

Por fim, é válido ressaltar que o ímpeto humano à criatividade empresarial também se manifesta no âmbito da ajuda aos mais desvalidos e na busca sistemática por situações em que terceiros estão necessitados, com o intuito de ajudá-los. Com efeito, a coerciva intervenção estatal, por meio dos mecanismos típicos do chamado "estado de bem-estar social", neutraliza e, em grande medida, obstrui o esforço empreendedorial de se ajudar um semelhante que está passando por dificuldades. Os incentivos para o auxílio ao próximo são tolhidos e a tarefa acaba sendo transferida para o aparato estatal, o qual, justamente por funcionar fora de um ambiente de eficiência dinâmica, simplesmente não tem como agir de maneira correta.

A consequência é que a solidariedade e a colaboração voluntária, que são ímpetos naturais do ser humano e que tanta importância possuem para a maioria dos seres humanos, acabam sendo reprimidas e absorvidas pela burocracia estatal, que nada tem de humana e solidária.
Jesús Huerta de Soto , professor de economia da Universidade Rey Juan Carlos, em Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do capitalismo libertário ao redor do mundo. Ele é o autor da monumental obra Money, Bank Credit, and Economic Cycles.

A CONDENAÇÃO DO PT


O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder


O julgamento do mensalão atingiu duramente o Partido dos Trabalhadores. As revelações acabaram por enterrar definitivamente o figurino construído ao longo de décadas de um partido ético, republicano e defensor dos mais pobres. Agora é possível entender as razões da sua liderança de tentar, por todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam a publicização das práticas criminosas, das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no interior do próprio Palácio do Planalto, caso único na história brasileira.

Muito distante das pesquisas acadêmicas — instrumentalizadas por petistas — e, portanto, mais próximos da realidade, os ministros do STF acertaram na mosca ao definir a liderança petista, em 2005, como uma sofisticada organização criminosa e que, no entender do ministro Joaquim Barbosa, tinha como chefe José Dirceu, ex-presidente do PT e ministro da Casa Civil de Lula. Segundo o ministro Celso de Mello: “Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder.” E concluiu: “É macrodelinquência governamental.” O presidente Ayres Brito foi direto: “É continuísmo governamental. É golpe.”

O julgamento do mensalão desnudou o PT, daí o ódio dos seus fanáticos militantes com a Suprema Corte e, principalmente, contra o que eles consideram os “ministros traidores”, isto é, aqueles que julgaram segundo os autos do processo e não de acordo com as determinações emanadas da direção partidária. Como estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais ainda, o que é ser ministro do STF. Para eles, especialmente Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados, a começar do substituto de Ayres Brito, sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT, uma espécie de ministro companheiro. E assim, sucessivamente, até conseguirem ter um STF absolutamente sob controle partidário.

A recepção da liderança às condenações demonstra como os petistas têm uma enorme dificuldade de conviver com a democracia. Primeiramente, logo após a eclosão do escândalo, Lula pediu desculpas em pronunciamento por rede nacional. No final do governo mudou de opinião: iria investigar o que aconteceu, sem explicar como e com quais instrumentos, pois seria um ex-presidente. Em 2011 apresentou uma terceira explicação: tudo era uma farsa, não tinha existido o mensalão. Agora apresentou uma quarta versão: disse que foi absolvido pelas urnas — um ato falho, registre-se, pois não eram um dos réus do processo. Ao associar uma simples eleição com um julgamento demonstrou mais uma vez o seu desconhecimento do funcionamento das instituições — registre-se que, em todas estas versões, Lula sempre contou com o beneplácito dos intelectuais chapas-brancas para ecoar sua fala.

As lideranças condenadas pelo STF insistem em dizer que o partido tem que manter seu projeto estratégico. Qual? O socialismo foi abandonado e faz muito tempo. A retórica anticapitalista é reservada para os bate-papos nostálgicos de suas velhas lideranças, assim como fazem parte do passado o uso das indefectíveis bolsas de couro, as sandálias, as roupas desalinhadas e a barba por fazer. A única revolução petista foi na aparência das suas lideranças. O look guevarista foi abandonado. Ficou reservado somente à base partidária. A direção, como eles próprios diriam em 1980, “se aburguesou”. Vestem roupas caras, fizeram plásticas, aplicam botox a três por quatro. Só frequentam restaurantes caros e a cachaça foi substituída pelo uísque e o vinho, sempre importados, claro.

O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em controle social da imprensa e... do Judiciário. Sabem que a imprensa e o Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição político-partidária.

A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido — depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores — o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de classe. Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi o PT.
Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus adversários.

Mas as decisões do STF dão um alento, uma esperança, de que é possível imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública é uma espécie de lema governamental e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário tenha se transformado em símbolo nacional.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O PT NÃO É QUADRILHA

Fernando Haddad está cercado por José Dirceu e Paulo Maluf. Sobre Dirceu, aparece a palavra "condenado"; sobre Maluf, "procurado". Contaminada pelo desespero, a propaganda eleitoral de José Serra não viola a verdade factual, mas envereda por uma perigosa narrativa política. O candidato tucano está dizendo que eleger o petista equivale a colocar uma quadrilha no comando da prefeitura paulistana. A substituição da divergência política pela acusação criminal evidencia o estado falimentar da oposição no país e, mais importante, inocula veneno no sistema circulatório de nossa democracia.

Demóstenes Torres foi expulso do DEM antes de qualquer condenação, quando patenteou-se que ele operava como despachante de luxo da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. José Dirceu foi aclamado como herói e mártir pela direção do PT depois da decisão da corte suprema de uma democracia de condená-lo por corrupção ativa e formação de quadrilha. O mensalão é um tema legítimo de campanha eleitoral e nada há de errado na exposição dos vínculos entre Haddad e Dirceu. Contudo, a linguagem da política não deveria se confundir com a linguagem da polícia.

Dirceu permanece na alta direção petista pois é um dos artífices de uma concepção da política que rejeita a separação entre o Estado e o partido. No mensalão, a imbricação Estado/partido assumiu o formato de um conjunto de crimes tipificados. Entretanto, tal imbricação manifesta-se sob as formas mais diversas desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto. O código genético do mensalão está impresso no movimento de partidarização da administração pública, das empresas estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos, das políticas sociais e da política externa conduzido ao longo de uma década de lulismo triunfante. Na linguagem da política, Dirceu figuraria como símbolo da visão de mundo do lulo-petismo. Mas a campanha de Serra não é capaz de escapar ao círculo de ferro da linguagem policial.

A Interpol define Paulo Maluf como um foragido da Justiça. Lula e Haddad não se limitaram a firmar um pacto eleitoral com o partido de Maluf, mas peregrinaram até a mansão do fugitivo para desempenhar o papel abjeto de cortejá-lo como liderança política. Faz sentido divulgar, no horário de campanha, as imagens da macabra confraternização. Contudo, uma vez mais, seria indispensável traduzir o evento na linguagem da política, que não é a da Interpol.

Maluf é um caso extremo, mas não um ponto fora da curva. Lula e o PT insuflaram uma segunda vida aos cadáveres políticos de Fernando Collor, Jader Barbalho, José Sarney, Renan Calheiros e tantos outros. As alianças recendem a oportunismo, um vício menor, mas a extensão da prática exige uma explicação de fundo. O paradoxo aparente do encontro entre "esquerda" e "direita" é fruto de um interesse compartilhado: a continuidade da tradição patrimonial de apropriação da "coisa pública" pela elite política. As "estranhas alianças" lulistas funcionam como ferramentas para a repartição do imponente castelo de cargos públicos na administração direta e nas empresas estatais. Até hoje, o Brasil não concluiu o processo de criação de uma burocracia pública profissional. Na linguagem da política, a confraternização de Lula e Haddad com Maluf ajudaria a esclarecer os motivos desse fracasso. Mas a propaganda eleitoral de Serra preferiu operar em outro registro.

A campanha do tucano oscila entre os registros administrativo, moral e policial, sem nunca sincronizar o registro político. De certo modo, ela é um reflexo fiel da falência geral da oposição, que jamais conseguiu elaborar uma crítica sistemática ao lulo-petismo. Entretanto, nas circunstâncias produzidas pelo julgamento do mensalão, a inclinação oposicionista a apelar para a linguagem policial tem efeitos nefastos de largas implicações. Na democracia, não se acusa um dos principais partidos políticos do país de ser uma quadrilha.

O PT não é igual à sua direção eventual, nem é uma emanação da vontade de Dirceu ou mesmo de Lula. O PT não se confunde com o que dizem seus líderes ou parlamentares em determinada conjuntura, nem mesmo com as resoluções aprovadas nesse ou naquele encontro partidário. Embora tudo isso tenha relevância, o PT é algo maior: uma história e uma representação. A trajetória petista de mais de três décadas inscreve-se no percurso da sociedade brasileira de superação da ditadura militar e de construção de um sistema político democrático. O PT é a representação partidária de uma parcela significativa dos cidadãos brasileiros. A crítica ao partido e às suas concepções políticas não é apenas legítima, mas indispensável. Coisa muito diferente é tentar marcá-lo a fogo como uma coleção de marginais.

O jogo do pluralismo depende do respeito à sua regra de ouro: a presunção de legitimidade de todos os atores envolvidos. Nas democracias, eleições se concluem pelo clássico telefonema no qual o derrotado oferece congratulações ao vencedor.

Em 1999, após o terceiro insucesso eleitoral de Lula, o PT violou a regra do jogo, ao desfraldar a bandeira do "Fora FHC". Serra ficou longe disso dois anos atrás, mas seu discurso de derrota continha a estranha insinuação de que a vitória de Dilma Rousseff representaria uma ameaça à democracia. Agora, na eleição paulistana, a propaganda do tucano sugere que um triunfo de Haddad equivaleria à transferência da prefeitura da cidade para uma quadrilha. Na hipótese de derrota, como será o seu telefonema de domingo à noite?

Marqueteiros designam ataques ao adversário eleitoral pela expressão "propaganda negativa". O rótulo dos vendedores de sabonete abrange tudo, desde a crítica política fundamentada até as mais sórdidas agressões pessoais. O problema da campanha de Serra não está no uso da "propaganda negativa", mas na violação da regra do jogo. Não é assim que se faz oposição.
Por: DEMÉTRIO MAGNOLI O GLOBO - 25/10

A HIDRA PETISTA




Como PT nasceu com o "DNA gramsciano" e seu o objetivo final sempre foi estar acima do Estado, seus membros pensam estar além das leis. Por isso, não se sentem na obrigação de defendê-las.

A mitologia grega era riquíssima em personagens. O monstro chamado Hidra possui um corpo de dragão e cabeças de serpente. Os guerreiros que o enfrentavam deparavam-se com uma grande dificuldade: a cada cabeça cortada, logo surgiam duas no lugar.

O guerreiro Hércules foi aquele que venceu a Hidra. Ao invés de tentar decepar as inúmeras cabeças que sempre se multiplicavam, desferiu um ataque fulminante na cabeça principal do monstro, liquidando com um golpe certeiro também as outras cabeças.

A lição da história é clara: certos impasses só são resolvidos atacando diretamente no centro de geração dos problemas. Ataques em zonas periféricas não resolvem: no lugar de uma cabeça cortada, logo nascerá outra tão mortífera como a anterior. 

O julgamento da Ação Penal 470, o Mensalão, vem sendo comemorado como uma grande vitória na luta contra a corrupção. De fato, o STF, em sua maioria, vem se posicionando de forma resoluta contra o terrível esquema de compra de votos e eternização no poder por meios ilícitos. 

Entretanto, de nada adiantará condenar figuras proeminentes se a "cabeça principal" for mantida intacta. O Judiciário, duro com os atos de corrupção, não ataca o centro do partido que nos governa, corroborando a impressão que o PT quer passar de que tais atos seriam meros desvios dos belos ideais proclamados. Essa tática de se limpar na própria sujeira é antiga. 

Leiam o livro ‘New lies for old’ do ex-agente da KGB Anatoliy Golitsyn, sobre os planos de desinformação soviéticos, e entenderão o que se passa no Brasil de hoje.

A verdade é que a origem do Mensalão está na gestação do PT. Ao invés de criar um partido para defender,como alegavam, direitos dos trabalhadores e fazer a necessária pressão sobre os lucros para dividir a prosperidade capitalista, o PT foi criado com a ideia gramsciana de organização.

Um "Partido Príncipe" - que incorporaria a virtu imoral de Maquiavel - deveria crescer, se infiltrar no Estado e dominá-lo até que não haveria diferença entre o que seria o Estado e o que seria o partido. Ou melhor, haveria sim uma grande diferença: o partido estaria acima do Estado. 

Uma vez que o Estado decodifica as leis e regulamentos, quem se coloca acima do Estado, por definição, se posiciona acima das leis. Como PT nasceu com o "DNA gramsciano" e seu o objetivo final sempre foi estar acima do Estado, seus membros pensam estar além das leis. Por isso, não se sentem na obrigação de defendê-las. 

Ao contrário, o grande impulso é o de justamente transgredi-las até que o partido seja a própria lei. Não é preciso ser gênio para entender que um partido assim não tem a intenção de respeitar a democracia, a alternância de poder ou a separação entre governo e Estado. 

Se as lideranças do partido não forem investigadas de nada vai adiantar o julgamento do Mensalão. Não se pode permitir a entrega dos anéis para preservar os dedos.

A não ser que o mal - o "DNA gramsciano" - seja cortado pela raiz, escândalos atrás de escândalos continuaram a ocorrer. E ao lado de cada cabeça petista condenada, duas novas vão surgir, tal como a hidra da mitologia grega. 

A corrupção simbolizada pelo Mensalão é apenas o meio para o alcance dos objetivos. Punir os meios e deixar os fins intactos. Essa é a tática para a manutenção da corrupção endêmica. E para destruir a democracia.

Por: Rodrigo Sias é economista do Instituto de Economia da UFRJ. Publicado no jornal Brasil Econômico.

OITAVA LIÇÃO


Dez lições de economia para iniciantes - Oitava lição: o papel da competição




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Imagine que você queira comprar um tênis e que entre em uma sapataria em umshopping. Com certeza você vai ficar um bom tempo escolhendo o modelo que vai comprar, tamanha a variedade e diversidade com que vai se deparar. Imagine agora que outra pessoa, com a sua idade e exatamente os mesmos gostos (supondo que isso seja possível) queira também comprar um tênis, mas viva na Coreia do Norte, um país comunista. Certamente, ela vai se deparar com um único modelo, quase certamente muito feio e, se estiver mesmo precisando de um tênis novo, vai ter que comprar esse modelo, não importa se tenha ou não gostado dele, desde que, obviamente, a loja disponha do número que calça em estoque, o que, por sinal, não costuma acontecer sempre.

Qual dos dois teve maior satisfação, você ou o consumidor coreano do Norte? Esse exemplo simples, mas que corresponde exatamente ao que acontece no mundo real ilustra com perfeição as vantagens da competição entre os produtores de um determinado produto. Obviamente, o que escrevemos para tênis é válido para qualquer outro produto.

Onde existe competição, onde diferentes empresas tenham que concorrer para ver quem agrada mais aos consumidores, seja pela qualidade, seja pelo preço ou por ambos, quem sai sempre ganhando são os consumidores e, logicamente, as empresas que mais lhes conseguem agradar.

A isto se costuma chamar de soberania do consumidor, que é uma das características principais das economias de mercado, em que vigore a liberdade para empreender e produzir, sem as amarras do governo. A soberania do consumidor, então, é uma consequência exclusiva da economia de mercado. Ou seja, se não existir economia de mercado, isto é, se o governo interfere na economia, quem sai sempre perdendo é o consumidor, que se vê, como o pobre norte-coreano, limitado em suas escolhas. Infelizmente, nós não vivemos em livre mercado atualmente em nenhum país do mundo, porque as intervenções e coerções dos governos são contínuas e implacáveis. 

Jeffrey Tucker, no artigo O comércio, a bênção da civilização, citado nas sugestões de leitura no final desta aula, coloca da seguinte maneira essa questão:


Como seria se tivéssemos o seguinte sistema econômico?

Este sistema inundaria o globo com bens gratuitos diuturnamente, não pedindo nada em troca e dando praticamente tudo para todos. A maior parte de tudo aquilo que ele gerasse consistiria de bens gratuitos, e todos os seres humanos vivos teriam acesso a eles.

Qualquer indivíduo que acumulasse lucros privados o faria unicamente porque serviu com excelência aos outros seres humanos, e tal sistema inevitavelmente faria com que esta pessoa revelasse suas ideias e truques: todas as pessoas do planeta saberiam os motivos do sucesso de alguém.

Este sistema, desta forma, serviria a todas as raças e classes. Ele serviria farta e servilmente ao homem comum e derrubaria as elites quando estas se tornassem soberbas e arrogantes. Ele faria com que fosse benéfico e proveitoso para todos incluir cada vez mais pessoas em seu potencial produtivo e dar a todas elas uma participação nos resultados.

Tal sistema tem um nome. Ele se chama livre mercado. Embora ele tenha se tornado bem mais óbvio na atual era digital, o fato é que a proliferação de bens gratuitos sempre foi uma das principais características do capitalismo. O problema é que as pessoas raramente pensam e falam sobre isso.



No mesmo artigo, Tucker, uma pessoa que mostra em tudo o que faz estar de bem com a vida, para mostrar que, embora o mundo hoje viva longe do que poderíamos chamar de economia de mercado, revela que ainda há alguns sinais desse tipo de economia, ao contar a história verídica de uma barbearia que conheceu em seu país, os Estados Unidos. Quem trabalha naquele salão corta o cabelo e faz a barba dos clientes, evidentemente. Mas, além disso, a casa oferece gratuitamente, para uso de quem lá entrar, sem que seja obrigatório cortar o cabelo ou fazer a barba, mesas de pingue-pongue, alvos para se atirar dardos, mesas de sinuca e, também de graça, cerveja que se pode beber em um balcão.

Algo assim é tudo o que os consumidores sempre desejaram. O que se deve esperar vir a acontecer em uma economia de livre mercado? Bem, um primeiro ponto é que essa barbearia deverá ser um sucesso e estar sempre lotada. Com esse sucesso, novas barbearias oferecendo os mesmos serviços e as mesmas comodidades e mesmo comodidades adicionais, vão aparecer para disputar as preferências dos consumidores. Estes, agora, estão em situação ainda melhor do que antes, porque seu campo de escolhas aumentou.

Mas, do ponto de vista da primeira barbearia, a pioneira, que possuía vantagens competitivas exatamente por ser a primeira, o que vai acontecer agora? Ela está sob uma ameaça, porque vai ter que enfrentar a concorrência de novas barbearias que estão copiando e, possivelmente, aperfeiçoando a sua ideia. Qualquer um poderá copiar sua ideia original, desde que o governo não proíba a abertura de novas barbearias com aquelas características. Para manter os seus consumidores, a primeira barbearia será obrigada a buscar inovações que aumentem sua satisfação.

A competição, portanto, é sempre benéfica para os consumidores, ao mesmo tempo em que obriga os produtores a um permanente esforço para melhor atenderem os seus clientes. Voltemos às palavras de Tucker:

Mas este é o meu ponto: é impossível ser bem-sucedido no mercado e não revelar a "receita secreta" para o sucesso. Se você é bem-sucedido, todos os concorrentes acabarão sabendo qual foi a fórmula adotada e irão copiá-la. Felizmente, não há patentes ou direitos autorais sobre coisas como colocar uma mesa de pingue-pongue em uma barbearia; logo, o governo não pode impedir que o conhecimento e a aprendizagem da concorrência ocorram. E é assim que as coisas funcionariam em um mercado puramente livre, em todos os setores. Ser bem sucedido significa fornecer coisas — fornecer bens e serviços para seus clientes (esta é a chave para a lucratividade) e, como consequência, revelar para todos os concorrentes o método que o tornou bem-sucedido (ou que resultou em seu fracasso). O próprio ato de empreender — que sempre tende a ser uma tarefa livremente copiável — por si só já transforma seus métodos em objeto de estudo.



Patentes e direitos autorais, portanto, tendem a reduzir a competição e a prejudicar os consumidores. No plano da economia internacional, um dos maiores obstáculos à competição e, portanto, à soberania do consumidor, é oprotecionismo que, sob o argumento de que "é preciso proteger a produção nacional", arruína, explora e impõe severas perdas tanto aos consumidores estrangeiros como, principalmente, aos nacionais. Quem ganha com o protecionismo não é a economia do país, pelo contrário, ela perde em termos de eficiência e satisfação dos consumidores; quem ganha são alguns empresários (que não podem ser chamados de empreendedores) privilegiados (geralmente amigos dos políticos que estão no poder), incompetentes, ou seja — como a própria palavra indica —, que não estão aptos para competir. Esses beneficiados, com certeza, não conseguiriam manter-se em atividade se o mercado fosse totalmente livre.

O papel da competição, portanto, é múltiplo. Primeiro, ela revela, mediante o processo de mercado em que há permanentes descobertas, quais atividades e quais produtos o consumidor prefere. Segundo, ela elimina as empresas que não forem eficientes no sentido de atenderem bem aos consumidores. Terceiro, ela é moralmente superior aos mercados em que vigora o protecionismo, porque, contrariamente ao que acontece nesses mercados, ela premia o mérito, a capacidade de atender bem ao consumidor. E quarto, obviamente, é que ela beneficia o consumidor, contrariamente ao que muitos pensam. De fato, muitas pessoas se dizem contrárias ao livre mercado, mas se você fizer algumas poucas perguntas a essas pessoas, verá que elas não entenderam como funciona uma economia de mercado, que elas apenas repetem o que ouviram de pessoas também sem fundamentação.
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O professor Ubiratan Iorio irá inaugurar a sessão de cursos on-line do Instituto Mises Brasil no dia 7 de novembro com a palestra "Por que estudar a Escola Austríaca". Não fique de fora, inscreva-se já.

Se você entendeu o exemplo simples da barbearia inovadora, entenderá também que foi a competição e a imitação em mercados livres que gerou prosperidade contínua nas economias em que existiu. Como a competição e a imitação são características exclusivas das economias de mercado, você entenderá que, quanto mais próximos estivermos das economias de mercado, maior será nosso progresso e maior o nosso bem-estar!



Sugerimos fortemente a leitura do artigo A petição dos fabricantes de velas, de Frédéric Bastiat, um economista francês da primeira metade do século XIX, em que os fabricantes de velas, candeias, lâmpadas, candelabros, lanternas, corta-pavios, apagadores de velas, e dos produtores de sebo, óleo, resina, álcool, e em geral de tudo relativo à iluminação redigem uma petição à Câmara dos Deputados, pedindo uma lei que "ordene o fechamento de todas as janelas, claraboias, frestas, gelosias, portadas, cortinas, persianas, postigos e olhos-de-boi, porque não querem a concorrência de um competidor temível: o sol.

Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

POR QUE AUSTRÍACOS LECIONAM EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS

[Nota: Os três autores são Doutores em Economia: o Prof. Mueller pela Universidade de Erlangen-Nürnberg, na Alemanha, o Prof. Barbieri pela Universidade do Estado de São Paulo, em São Paulo e o Prof. Iorio pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro. São sem dúvida os três acadêmicos austríacos mais conhecidos no Brasil e lecionam, respectivamente, na Universidade Federal de Sergipe (Aracaju), na USP (Ribeirão Preto) e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro — UERJ (Rio de Janeiro).]

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Com crescente frequência ouvimos jovens estudantes, a maioria dos quais aparentemente entusiastas da filosofia política do libertarianismo, expressarem a opinião de que os autores deste artigo não seriam intelectualmente honestos, pois ao mesmo tempo em que defendem a causa da liberdade, estão na folha de pagamentos do estado. Sendo assim, teriam eles base moral para a sua pregação?

O que nos levou a escrever este texto não foi tanto a "acusação" dirigida às nossas pessoas — um argumento ad hominem não merece muita atenção — mas sim a preocupação que temos com um perigo associado aos rumos tomados na batalha pela liberdade. Observamos cada vez mais pessoas que se dizem liberais manifestando opiniões convictas sobre assuntos políticos e econômicos sem que essas opiniões sejam acompanhadas pelo estudo dos debates relevantes. Essa tendência, em nossa opinião, é a antítese do liberalismo e merece ser discutida.

Nutrimos a convicção de que o liberalismo depende de sólida compreensão das teorias econômicas, políticas e filosóficas que o embasam. Como disse Mises, "O liberalismo não tem flor ou cor como símbolo partidário, nem canções ou ídolos, nem símbolos ou slogans. Tem a substância e os argumentos." O poder desses argumentos também depende, de forma crucial, do estudo das teorias contrárias, na medida em que estas trazem à tona aspectos da realidade que não consideramos no nosso modelo original.

Pois bem, achar que os ensinamentos da Escola Austríaca de Economia se submetem às doutrinas políticas do libertarianismo revela preocupante falta de familiaridade com os autores dessa escola. Em primeiro lugar, os economistas austríacos sempre enfatizaram que as teorias econômicas constituem conhecimento científico, independente dos julgamentos de valor de seus proponentes. Um economista austríaco examinaria o mérito dos argumentos empregados e não a motivação de quem o formulou. É melhor que essa última prática seja deixada com os socialistas e os marxistas, especialistas no assunto.

Em segundo lugar, se para sermos considerados economistas austríacos "legítimos" não devemos ser funcionários públicos, então o exame da história dessa escola revelará que provavelmente nenhum economista se qualifica! Carl Menger, seu fundador, era professor da Universidade de Viena, recebendo na prestigiosa instituição pública um salário bem elevado. Além de funcionário público, era tutor do príncipe herdeiro do Império austro-húngaro. Eugen von Böhm-Bawerk, por sua vez, foi ministro das finanças por duas vezes, assim como seu cunhado, Friedrich von Wieser, foi ministro do comércio do mesmo império. Ambos trabalharam em universidades públicas: todos foram funcionários públicos. Mises, professor não assalariado da mesma universidade, seguramente aceitaria o cargo, caso este fosse obtido. Todos eles trabalharam em comissões governamentais que influenciaram as políticas públicas. Se considerarmos as gerações seguintes, dificilmente encontraremos economistas que trabalharam exclusivamente em instituições isentas de qualquer verba pública, de forma que dificilmente teríamos um economista austríaco "legítimo".

Em terceiro lugar, a leitura dos austríacos revela que não existe na escola uma doutrina econômica, filosófica ou política unânime, mas sim grande riqueza de opiniões. A maioria dos economistas austríacos era de liberais clássicos, postura política que não implica em absoluto a rejeição de toda atividade que envolva ação estatal. E mesmo se tomarmos a doutrina política do libertarianismo, tal como defendida por Rothbard e seus seguidores, não necessariamente deveríamos ter, em um mundo intervencionista, a defesa da tese de que todo contato profissional com o estado devesse ser recusado.

Vamos supor agora que todos os austríacos sejam anarquistas (o que não corresponde à verdade). Como eles deveriam se portar em uma sociedade altamente intervencionista? Deveriam eles necessariamente abandonar suas missões como professores e pesquisadores, a menos que tenham fontes alternativas de sustento? Essa seria uma escolha pessoal possível. Seria a alternativa uma hipocrisia? O caso de dizer uma coisa e fazer outra? Vejamos.

O leitor deve se perguntar se o fato de que os três únicos economistas acadêmicos austríacos atuando no país trabalham em universidades públicas seria ou não uma coincidência. Poder-se-ia argumentar que, em um mundo liberal ideal, com separação entre educação e estado, o volume de riqueza seria tal que existiriam indivíduos ricos o bastante para que tivéssemos especialistas em cada campo do conhecimento humano, incluindo aquelas áreas menos demandadas, como literatura húngara, história da Mesopotâmia, musicologia do shakuhachi (a flauta japonesa de bambu) e...economistas especializados em preservar o conhecimento sobre a importância da propriedade privada e liberdade para o futuro da humanidade!

Em uma sociedade intervencionista, porém, algo como "economista austríaco" não é demandado: as poucas faculdades privadas que contratam pesquisadores se interessam por macroeconomistas tradicionais e especialistas em finanças. Nas públicas, apesar da predominância das teorias econômicas intervencionistas, ainda existe liberdade acadêmica: podemos dominar o conhecimento de teorias rivais, passar em concursos públicos, participar dos debates e propor nossas ideias. No sistema atual, poderíamos apenas dar (muitas) aulas em faculdades privadas, sem fazer pesquisa.

Embora existam concursos específicos para Macroeconomia, Microeconomia, Economia Industrial etc., não existem concursos para disciplinas austríacas. Isto não acontece apenas no Brasil: em todo o mundo, a Escola Austríaca é minoritária, embora seja a mais antiga, mas também é a que mais vem crescendo, tudo levando a crer que tal crescimento deverá não apenas se manter, mas também se acentuar nos próximos anos. Nosso papel nesse ambiente de crescimento é muito importante! Será que devemos nos abster de participar do debate em que quase toda a pesquisa acadêmica é realizada? Infelizmente, somos apenas três mosqueteiros dentro da estrutura do estado, mas se amanhã formos quatro, cinco, dez, cem, mil, será muito melhor para a sociedade!

Adicionalmente, ao optar por defender uma teoria econômica liberal, fizemos consideráveis sacrifícios pessoais. Como nosso trabalho é julgado pelos pares (geralmente economistas keynesianos ou marxistas), o reconhecimento na academia é muito mais difícil se defendemos ideais liberais. Além disso, o custo de oportunidade salarial do economista não é pequeno, mas, em vez de ganhar dinheiro no mercado financeiro, ou em outros campos, optamos pela sala de aula, em nome da perseguição de um ideal, da busca de um horizonte melhor para todos — ensinar os valores econômicos, o extraordinário cabedal de conhecimentos dos quais a civilização depende. Como observou Mises no último parágrafo de sua monumental obra Ação Humana, "cabe aos homens decidirem se preferem usar adequadamente esse rico acervo de conhecimento que lhes foi legado ou se preferem deixá-lo de lado. Mas, se não conseguirem usá-lo da melhor maneira possível ou se menosprezarem os seus ensinamentos e as suas advertências, não estarão invalidando a ciência econômica; estarão aniquilando a sociedade e a raça humana".

Cabe perfeitamente, então, a seguinte pergunta: dado que a escolha por carreira universitária implica significativos custos de oportunidade, que sacrifícios ou renúncias pela causa liberal os que nos criticam por lecionarmos em universidades públicas fizeram ou estão dispostos a fazer?

Há vários outros argumentos em nosso favor. Um deles é que em nosso país, infelizmente, as universidades privadas também estão sob o controle do estado, de modo que, sob esse ponto de vista, não faz diferença, na prática, se você é empregado de uma empresa privada ou de universidade pública. Talvez a única diferença seja a de que, na segunda hipótese, como você ingressou na universidade pública por concurso, não poderão demití-lo. Além disso, as atividades de um professor de uma universidade pública não se limitam à universidade, já que muitos podem trabalhar em outras instituições (de ensino ou não), podem manter sites e blogs e podem dedicar-se, por exemplo, ao Instituto Mises.

Um artigo bastante interessante sobre a ingerência do estado na educação e, em especial, no ensino superior éA quem as universidade públicas estão servindo? Nele, o Professor José Maria Alves da Silva, economista (não austríaco) da Universidade de Viçosa, mostra as distorções que tal interferência tem gerado na qualidade do ensino e na produção acadêmica. Que tal pinçarmos dois parágrafos desse interessante artigo?



Em contraste com as atividades produtivas agrícolas e industriais, ou nas áreas de segurança, saúde, transporte e energia, os "inputs" e "outputs" mais essenciais da "função de produção acadêmica" envolvem coisas intangíveis como pensamentos e ideias científicas, políticas ou artística.

Podem-se somar quantidades de diplomas concedidos ou de artigos publicados em revistas indexadas, mas não os conteúdos dos diplomados e das publicações. Além disso, atividades como as filosóficas e científicas são caracterizadas por períodos de gestação longos e variáveis, incompatíveis com os objetivos imediatistas subjacentes à ação dos órgãos avaliadores.

O estado tem o controle sobre o sistema, porque as pessoas precisam de diplomas para conseguir um emprego. Mesmo se você se formar em uma universidade privada, a conferição de seu diploma terá que passar obrigatoriamente pelo crivo dos burocratas do Ministério da Educação. No mundo atual, para sermos bem diretos, alguém pode aprender muito mais no Google e no Youtube do que se frequentar algumas universidades (públicas e privadas).

Em nova autobiografia de Arnold Schwarzenegger, Total Recall, ele faz um relato fascinante de uma reunião com Milton e Rose Friedman. É verdade que Friedman nunca foi um austríaco, mas também é verdade que foi um grande defensor da economia de mercado. Vejamos o que relata Schwarzenegger: "Uma das coisas fascinantes que Friedman me disse foi que ele trabalhou para o governo durante o New Deal, programa do presidente Franklin D. Rossevelt na década de 1930 para a recuperação econômica e reforma social. Não houve outros trabalhos, disse ele. Foi um salva-vidas." Nesse caso então, segundo nossos críticos, Milton Friedman também não teria sido intelectualmente honesto...

A teoria econômica austríaca é uma ciência, não uma ideologia. Este fato inquestionável nos autoriza a trabalhar em qualquer instituição, privada ou pública, onde haja lugar para a investigação econômica. E, como qualquer empreendimento científico que não é ideológico deve também ter em conta as teorias opostas, os economistas austríacos, como economistas em um sentido científico, devem ser capazes de coabitar intelectualmente com quaisquer outros, inclusive marxistas e keynesianos, que devem realmente receber a sua oposição em termos de conhecimentos científicos, pela sede de conhecimento. De fato, parte significativa de tudo que escreveram os economistas austríacos consistiu em críticas das teorias rivais, criticas essas baseadas na atenta leitura dessas teorias. O isolamento autoimposto até que se chegasse a um puro mundo liberal seria inadequado para todos os envolvidos na discussão acadêmica. 

Como economistas austríacos somos a favor de uma metodologia e teoria específica, que está em concorrência com paradigmas alternativos. Podemos ter convicção de que temos as melhores ferramentas, mas a nossa tarefa é principalmente a de tentar convencer os de um paradigma diferente. Assim funciona o processo acadêmico no que tem de melhor, o livre intercâmbio de ideias, o mercado competitivo de ideias onde os produtos às vezes ruins vendem mais do que os melhores, porque as pessoas não têm os recursos intelectuais para convencer as demais. Por exemplo, a McDonald tem um maior volume de negócios do que um restaurante três estrelas em Paris. Bons vinhos são apenas para alguns. Refeições requintadas são apenas para aqueles que podem pagar. Na área de ideias é a capacidade intelectual e também o tempo que contam. Seguindo com a nossa analogia, vemos que, para a maioria dos estudantes, a economia austríaca é "muito cara". Temos que trabalhar para torná-la mais acessível, sem diluir sua substância. Esse é o nosso desafio e é melhor enfrentá-lo entre os nossos colegas (que não são inimigos), que têm pontos de vista diferentes.
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Como observações finais, lembramos que, quando atuamos em uma universidade, seja pública ou privada, abrimos oportunidade para publicar e atuar em outros caminhos acadêmicos — assim, uma "posição" em uma universidade pública serve como "launching pad" ou rampa de lançamento. E sabemos que é muito difícil algum professor, especialmente em países como o Brasil, em que jamais se cultivou essa tradição, ser "reconhecido" como"Privatgelehrter" (estudioso independente).

Vale também mencionarmos uma ironia: Marx queria ser professor de uma universidade pública, mas, como não o conseguiu, acabou sendo mantido por Engels, um capitalista. Isso decerto levaria nossos críticos a afirmarem que o autor de O capital era também intelectualmente desonesto, já que criticava o capitalismo ao mesmo tempo em que era sustentado pelo que tanto atacava...



Antony Mueller, Fabio Barbieri e Ubiratan Jorge Iorio 
Antony Mueller, nascido na Alemanha, é economista e atualmente mora em Aracaju, onde leciona na Universidade Federal de Sergipe.  É acadêmico adjunto do Mises Institute e diretor acadêmico do Instituto Ludwig von Mises Brasil. É o fundador do Continental Economics Institute.
Fabio Barbieri é mestre e doutor pela Universidade de São Paulo.  Atualmente, é professor da USP na FEA de Ribeirão Preto.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

RAIVA E MEDO

“Quando está fraco, finja que está forte”, recomendava Sun Tzu. Obama segue o conselho à risca, elevando o tom de voz sempre que lê nos olhos da platéia a suspeita latente que de um momento para outro pode explodir numa tempestade de acusações irrespondíveis.


Humilhado no primeiro debate, Obama voltou à carga equipado da sua arma psicológica predileta: o ódio camuflado, transmutado em afetação de sentimentos humanitários e patrióticos carregados daquela estranha pungência, daquela “intensidade passional” de que falava W. B. Yeats, fonte da força hipnótica com que a personalidade psicopática dos líderes revolucionários se impõe à credulidade das massas.

Obama defendeu sua posição com a tenacidade feroz de quem luta por algo mais que a mera sobrevivência política; de quem sabe que, se perder o cargo, não terá mais o aparato presidencial para defendê-lo contra a investigação de um passado que ele tem boas razões para manter secreto. “Secreto” é modo de dizer. Ninguém nos EUA ignora que a biografia oficial de Obama é um tecido de lendas, que seus documentos são falsos, e que, pouco importando onde haja nascido, ele subiu à presidência nas asas do maior blefe político de todos os tempos. Como todo blefador, ele sabe que sua posição é frágil. Tão frágil que até seus adversários se esquivam de desmascará-lo, porque sabem que seria tremendamente fácil fazer isso e temem ser os portadores de um escândalo mil vezes mais deprimente que o caso Watergate. “Quando está fraco, finja que está forte”, recomendava Sun Tzu. Obama segue o conselho à risca, elevando o tom de voz sempre que lê nos olhos da platéia a suspeita latente que de um momento para outro pode explodir numa tempestade de acusações irrespondíveis. Como todo psicopata, ele busca transformar suas vítimas em cúmplices, explorando a natural inibição de admitir uma decepção mais funda do que sentem que podem suportar.

Nas entrelinhas, todo o seu discurso é uma confissão involuntária do ódio que esse homem notoriamente desprovido de simpatia pessoal por quem quer que seja sente ao país que o amou e honrou infinitamente acima de seus méritos. O documentário de Dinesh d’Souza, 2016, mostrou isso claramente, e o psiquiatra forense Andrew G. Hodges, que tem uma longa carreira de sucessos na leitura do subtexto camuflado nas falas de criminosos, chegou exatamente à mesma conclusão ao examinar os livros e alocuções públicas de Obama. Leiam The Obama Confession. Secret Fear, Secret Fury (Village Publications, 2012) e digam se é exagero (um breve resumo encontra-se no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=_7UhT3QNnDE&feature=relmfu, em sete partes).

Toda a atuação pública de Obama é uma rede de diversionismos e camuflagens de enorme complexidade. Malgrado a ajuda da mídia e a teimosia obstinada dos devotos, não é nada fácil para ele manter de pé a imagem de bom menino que a sua própria conduta política real desmente dia a dia, dobrando o déficit que prometeu reduzir pela metade, subsidiando indústrias “verdes” inviáveis pertencentes a seus contribuintes de campanha, alimentando generosamente o anti-americanismo internacional, arrogando-se poderes ditatoriais por meio de “executive orders” (o equivalente das nossas “medidas provisórias) e entregando à morte, por um indesculpável vazamento de informações, os executores de bin Laden, de cujo heroísmo continua tirando um proveito político totalmente indecente. Não espanta que em quatro anos ele tenha envelhecido vinte, buscando agora disfarçar a debilidade por meio de performances vocais cada vez mais forçadas e menos persuasivas.

No último debate ele contou ainda com a ajuda da apresentadora Candy Crowley, que chegou a assumir ativamente o papel de coadjuvante do seu favorito, ao contestar o candidato republicano quando este acusava o presidente de adiar desastrosamente o reconhecimento de que o ataque à embaixada na Líbia fôra um ato terrorista. Obama, protestou Candy, havia rotulado o ataque como “ato de terror” menos de 24 horas depois do ocorrido. Puro fingimento, é claro. Obama havia falado muito genericamente de “atos de terror”, mas no contexto de um discurso que lançava a culpa de tudo no filminho anti-islâmico do Youtube – cujo diretor foi, até agora, o único a sentir no próprio couro o peso da “severa punição” que o presidente prometia aos responsáveis pelo ataque.

Não por coincidência, nos três debates realizados até agora os candidatos democratas desfrutaram de mais tempo e ainda cortaram à vontade a fala de seus adversários (Biden 82 vezes, Obama 28), com o evidente beneplácito dos mediadores. No segundo debate, alguns repórteres na sala contígua ao estúdio chegaram a aplaudir Obama, infringindo ostensivamente a regra e o decoro e mostrando uma vez mais que a classe jornalística americana já nem tenta disfarçar o partidarismo que a inspira.

Não obstante todo esse concurso de expedientes, as preferências de voto popular continuam fluindo do campo obamista para o candidato republicano. A grande mídia, é claro, já declarava Obama vencedor antes do segundo debate e continuou a fazê-lo depois. Mas no grupo-controle de eleitores indecisos reunido pela MSNBC a maioria, terminado o confronto, saiu decidida a votar em Mitt Romney. E o Gallup, na primeira sondagem após o debate, assinalava que Romney havia subido de 50 para 51 por cento nas intenções de voto, e Obama baixado de 45 para 44. Talvez mais significativamente ainda, logo em seguida começaram a chover no Youtube ameaças de morte contra Romney, mostrando às claras quem é que está com medo.

Nada disso garante, decerto, a vitória de Romney, pois o Colégio Eleitoral, que decide a parada acima do voto popular, ainda pende fortemente para o candidato democrata, com uma diferença de 271 votos para 201 e um bocado de indecisos no meio.Por: Ovalo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

UM PATRONO À ALTURA



freirestalin

Vivemos atualmente a dissolução de uma sociedade edificada ao longo de milênios. É uma longa e bela construção, fundada na filosofia grega e no personalismo judaico-cristão, e burilada ao longo dos séculos. Essa sociedade nos deu a noção de que todos têm direitos inalienáveis; que a natureza pode e deve ser estudada e, ao mesmo tempo, preservada; que o Belo e o Bom têm valor. Deu-nos as universidades, a democracia representativa, o reconhecimento da dignidade dos mais fracos.

Este imenso patrimônio cultural é a herança a que cada brasileiro tem – ou teria – direito. O que vemos, contudo, é o oposto. Mais de um terço dos universitários são analfabetos funcionais. As escolas servem à doutrinação política e à “desmitificação” dos valores da nossa sociedade, deixando de lado o ensino e a preservação da cultura.

Paulo Freire, um dos maiores culpados deste estado de coisas no Brasil, recebeu, com razão, o título de “Patrono da Educação Brasileira”. É justo que ele seja o patrono de uma “educação” que não é capaz de ensinar a ler e escrever, mas que martela nos alunos uma visão tão deturpada do mundo que é mais fácil encontrar dez estudantes que creiam que a luta de classes é uma lei da natureza que achar um que saiba enunciar a Segunda Lei da Termodinâmica.

A História e a Geografia passam a ser apenas denúncia de supostas monstruosidades; o vernáculo, na melhor das hipóteses, uma tentativa de reproduzir a verbalidade. As ciências – deixadas quase de lado –, uma sucessão de conteúdos “bancários”, no dizer dos seguidores do falso profeta recifense. Faz-se força para enfiar alguma ideologia nas ciências, mas não há luta de classes na Química ou opressão econômica na Física. Fica difícil.

Só o que fez este triste patrono foi descobrir que o aluno é um público cativo para a doutrinação marxista. A educação deixa de ser uma abertura para o mundo, uma chance de tomar posse de nossa herança cultural, e passa a ser apenas a isca com a qual se há de fisgar mais um inocente útil para destruir a herança que não conhece.

As matérias pedagógicas da licenciatura resumem-se hoje à repetição incessante, em palavras levemente diferentes, das mesmas inanidades iconoclastas. Os cursos da área de Humanas, com raras exceções, são mais do mesmo, sem outra preocupação que não acusar aquilo que não se dá ao aluno a chance de conhecer. O que seria direito dele receber como herança.

Paulo Freire é o patrono da substituição de conhecimento por ideologia, de aprendizado por lavagem cerebral. Merece o título.Por: POR CARLOS RAMALHETE

PORQUE ROMNEY DEVE GANHAR

Romney é um Republicano moderado, de centro, e este é o seu problema com os Republicanos que o consideram moderado demais. 

Por isto, ele pegou um Vice bem mais à direita. 

Obama é Democrata bem mais à esquerda do que o usual, por isto também pegou um vice bem mais à direita. 

Comparar Romney com Bush é mostrar ignorância extrema. 

Romney foi um dos melhores alunos da Harvard Business School, Bush um dos piores. 

As duas fotos do álbum de Alunos da Turma de 1975, revela bem esta diferença. 

Voltei agora da minha 40a. Reunião de Harvard, e perguntei a todos os negros com quem eu cruzava em quem votariam. 

Para minha surpresa, a maioria dizia que estava muito decepcionada com Obama, mas como era negro eles dariam uma segunda chance. 

O que, dada as circunstâncias históricas americanas, é mais do que compreensível. 

Mas isto me deixou com uma pulga atrás da orelha. 

Será que negros que respondem estas pesquisas eleitorais estariam dizendo "Claro que votarei para o Obama", mas no dia da eleição ficarão em casa? 

Ninguém parece ter percebido um momento crucial no segundo debate. 

Um negro, não sei se a pergunta foi plantada ou não, disse em bom tom: 

"Obama, votei em você mas fiquei decepcionado. Por que eu deveria votar novamente em você?" 

Esta pergunta pode acarretar 1% a 2% dos votos de outros negros que deixarão de votar em Obama por lealdade. 

"Como, então é lícito um negro ficar na dúvida entre votar num Presidente incompetente, apesar de ser um dos nossos?" 

Claro que é, mas tente comentar num bairro negro que você agora pretende votar em Romney. Nem pensar! 

Mas se um negro na TV teve a coragem de colocar a dúvida no ar, por que não eu? 

Se algumas pesquisas antes da eleição mostrarem que Romney está na frente, a lealdade por Obama ser negro pesará menos ainda, já que a "traição" não seria fatal, Romney estava eleito antes da votação. 

Sou a favor do Romney, porque ele é uma exceção na democracia. 

Na democracia pós moderna, infelizmente, é eleito o mais carismático e não o melhor administrador. 

E o melhor administrador é aquele que sabe administrar, sabe estabelecer prioridades e dizer Não em vez de dizer Sim para agradar a todo mundo e estourar o orçamento da União. 

Lula era carismático mas não sabia administrar, dizia Sim para tudo mundo. 

Dilma não era carismática, jamais seria eleita se não fosse o Lula, mas ela sabe dizer Não. 

Seu problema é que ela acha que Administração e Gestão são a mesma coisa, e está metendo os pés pelas mãos. O país não cresce. 

Romney, para um Administrador, é extremamente carismático, e Obama, para um Lider Carismático, é um péssimo administrador. Quem você prefere? Por: Stephen Kannitz 

EM DEFESA DO PRECONCEITO

Como alguém pode defender o preconceito em pleno século 21? Isso automaticamente nos remete ao racismo, à xenofobia, ao machismo, a todas as formas de sentimentos tribais que tanta desgraça causaram no mundo. Mas será que todo preconceito é mesmo ruim? O que exatamente seria não ter preconceitos? São as questões que Theodore Dalrymple aborda em seu livro In Praise of Prejudice, cujo titulo já mostra sua coragem na era moderna.


O que seria uma pessoa desprovida de preconceitos? O dicionário possui várias definições para a palavra, entre elas: conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. As demais costumam já incorporar o sentido pejorativo da atualidade, como sentimento desfavorável a algum grupo, superstição, discriminação racial etc. Quero focar justamente na primeira delas, que melhor representa sua etimologia.

Alguém sem preconceitos seria, então, alguém cujas opiniões formadas são todas derivadas do devido conhecimento adequado. Estou para conhecer este deus onisciente em forma humana! Basta uma rápida reflexão honesta para constatarmos que temos inúmeras opiniões sobre vários assuntos os quais não possuímos conhecimento tão profundo assim. Pegamos carona em ombros alheios, confiamos em certas autoridades, formamos, enfim, algum tipo de crença cujos pressupostos não dominamos totalmente. Eis o preconceito.

Claro que o ideal é passar as idéias pelo crivo de nossa razão, principalmente aquelas mais importantes e relevantes em nossas vidas. Como disse Sêneca, “Se queres submeter tudo a ti mesmo, submete-te primeiro à razão”. Perfeito. Mas cabe perguntar: quem pode submeter tudo a si mesmo? Essa pessoa teria que dominar profundamente todos os campos da ciência, filosofia, ética, medicina, direito, economia etc. Enfim, teria de ser aquele deus em forma humana citado acima.

Alguns preconceitos serão inevitáveis em nossas vidas. A começar pelas autoridades que escolhemos então para confiar. Isso não coloca todo preconceito em pé de igualdade, tampouco é uma justificativa para os sentimentos mais tribais que vemos por aí. Mas é, sim, um alerta contra certo tipo de gente que alega não ter preconceito algum, que não abraça nenhuma ideologia (visão de mundo), que fala somente em nome da razão prática. Estes, paradoxalmente, costumam ser os mais preconceituosos e ideológicos de todos!

Como disse Jonah Goldberg em The Tyranny of Clichês, “O pragmatismo é o disfarce que os progressistas e outros ideólogos vestem quando querem demonizar ideologias concorrentes”. Todos possuem uma visão de mundo, seja lá como ela foi formada (espera-se que com boa dose de reflexão e questionamentos, assim como bastante foco nos dados empíricos). Se esta visão ou ideologia passa no teste da realidade ou não, isso é outra questão. Pela complexidade da vida, haverá espaço para diferentes interpretações em temas mais polêmicos.

O que parece arrogante é esta visão de que somente o seu ponto de vista possui fundamento empírico e desprovido de preconceito ou ideologia, sendo todos aqueles que discordam de você vítimas dessas armadilhas. Esta arrogância é típica dos progressistas modernos que afirmam ser isentos de viés ideológico, reagindo somente aos fatos e à sua razão.

Um ícone dessa turma é o presidente americano Barack Obama, que repete com freqüência que está blindado de tais preconceitos, agindo somente de acordo com aquilo que funciona na prática. Obama tem claramente uma visão de mundo, aquela alinhada ao socialismo light europeu, especialmente da França. Mas tenta posar como um ser pragmático e acima desses dogmas políticos. Não convence.

Thomas Sowell desnudou os progressistas modernos: “Ninguém é mais dogmaticamente insistente na conformidade do que aqueles que advogam ‘diversidade’”. De fato, basta verificar como a esquerda que prega diversidade e ausência de preconceitos costuma demonstrar ódio aos diferentes, como os capitalistas liberais, por exemplo. “Não somos preconceituosos, desde que não se trate de um capitalista porco e insensível”, eles poderiam dizer, se fossem mais honestos.

Voltando a Dalrymple, ninguém é uma tabula rasa capaz de processar do zero tudo que importa na vida. Todos nós, inevitavelmente, teremos nossa cota de preconceitos. Que saibamos, então, escolher bons preconceitos, ao invés daqueles que alimentam os piores sentimentos que todos nós somos capazes de nutrir no âmago de nosso ser.

Que as autoridades escolhidas, principalmente em aspectos morais, sejam exemplos de decência em suas vidas. Que respeitemos a sabedoria dos antepassados, presente em hábitos e costumes, compilados na tradição. E que possamos julgar tais tradições à luz de nossa própria razão sempre que possível, reconhecendo, porém, os limites evidentes desta empreitada, ou seja, evitando o risco da arrogância, daquilo que os gregos chamavam húbris.   

Por fim, que possamos nos manter sempre cautelosos com aqueles que juram não ter nenhum tipo de preconceito ou ideologia. Desses tipos, eu confesso alimentar profundo preconceito! 
Por: Rodrigo Constantino, para a revista VOTO

PIADA DE SALÃO

Quando o escândalo do mensalão abalou a vida política do país e, particularmente, o governo Lula e seu partido, alguns dos petistas mais ingênuos choraram em plena Câmara dos Deputados, desapontados com o que era, para eles, uma traição. Lula, assustado, declarou que havia sido traído, mas logo acertou, com seus comparsas, um modo de safar-se do desastre.


Escolheram o pobre do Delúbio Soares para assumir sozinho a culpa da falcatrua. Para convencê-lo, creio eu, asseguraram-lhe que nada lhe aconteceria, porque o Supremo estava nas mãos deles. Delúbio acreditou nisso a tal ponto que chegou a dizer, na ocasião, que o mensalão em breve se tornaria piada de salão.

Certo disso, assumiu a responsabilidade por toda a tramoia, que envolveu muitos milhões de reais na compra de deputados dos partidos que constituíam a base parlamentar do governo.
Embora fosse ele apenas um tesoureiro, afirmou que sozinho articulara os empréstimos fajutos, numa operação que envolvia do Banco do Brasil (Visanet), o Banco Rural e o Banco de Minas Gerais, e sem nada dizer a ninguém: não disse a Lula, com que privava nos churrascos dominicais, não disse a Genoino, presidente do PT, nem a José Dirceu, o ministro político do governo.

Era ele, como se vê, um tesoureiro e tanto, como jamais houve igual. Claro, tudo mentira, mas estava convencido da impunidade. A esta altura, condenado pelo STF, deve maldizer a esperteza de seus comparsas. Mas os comparsas, por sua vez, devem amaldiçoar o único que, pelo menos até agora, escapou ileso do desastre --o Lula.

Pois bem, como o tiro saiu pela culatra e o partido da ética na política consagrou-se como um exemplo de corrupção, Lula e sua turma já começaram a inventar uma versão que, se não os limpará de todo, pelo menos vai lhes permitir continuar mentindo com arrogância. O truque é velho, mas é o único que resta em situações semelhantes: posar de vítima.

E se o cara se faz de vítima, tem o direito de se indignar, já que foi injustiçado. Por isso mesmo, vimos José Genoino vir a público denunciar a punição que sofreu, muito embora tenha sido condenado por nove dos dez ministros do STF, quase por unanimidade.

A única hipótese seria, neste caso, que se trata de um complô dos ministros contra os petistas. Mas mesmo essa não se sustenta, uma vez que dos dez membros do Supremo, oito foram nomeados por Lula e Dilma.

Reação como a de Genoino era de se esperar, mesmo porque, alguns dias antes, a direção do PT publicara aquele lamentável manifesto em que afirmava ser o processo do mensalão um golpe semelhante aos que derrubaram Getúlio Vargas e João Goulart. Também a nota posterior à condenação de José Dirceu repete a mesma versão, segundo a qual os mensaleiros estão sendo condenados porque lutam por um Brasil mais justo. O STF, como se sabe, é contra isso.

Não por acaso, Lula --que reside num apartamento duplex de cobertura e veste ternos Armani-- voltou a usar o mesmo vocabulário dos velhos tempos: "A burguesia não pode voltar ao poder". Sim, não pode, porque agora quem nos governa é a classe operária, aquela que já chegou ao paraíso.

Não tenho nenhum prazer em assistir a esse espetáculo degradante, quando políticos de prestígio popular, que durante algum tempo encarnaram a defesa da democracia e da justiça social em nosso país, são condenados por graves atentados à ética e aos interesses da nação. As condenações ocorreram porque não havia como o STF furtar-se às evidências: dinheiro público foi entregue ao PT, mediante empréstimos fictícios, que tornaram possível a compra de deputados para votarem com o governo. Tudo conforme a ética petista, antiburguesa.

Mas não tenhamos ilusões. Apesar de todo esse escândalo, apesar das condenações pela mais alta corte de Justiça, o PT cresceu nas últimas eleições. Tem agora mais prefeituras do que antes e talvez ganhe a de São Paulo. Nisso certamente influiu sua capacidade de mascarar a verdade, mas não só. Com a mesma falta de escrúpulos, tendo o poder nas mãos, manipula igualmente as carências dos mais necessitados e dos ressentidos.
Não vai ser fácil acharmos o rumo certo. Por: Ferreira Gullar, Folha de SP