sábado, 17 de novembro de 2012

OS EUA ADEREM À MACONHA, MAS NÃO COMPLETAMENTE


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A única coisa boa das eleições de 2012 nos EUA — além do fato de tudo ter finalmente acabado — foi que elas trouxeram grandes avanços no que concerne às políticas estatais em relação à maconha. A maconha foi legalizadaem dois estados: Colorado e Washington. Uma legislação para o uso medicinal da maconha foi aprovada em Massachusetts. A maconha foi descriminalizada em várias grandes cidades de Michigan, e a cidade de Burlington, Vermont, aprovou uma resolução que diz que a maconha deve ser legalizada. As únicas derrotas ocorreram no estado do Oregon, que não aprovou a legalização, e no Arkansas, que não aprovou o uso da maconha para fins medicinais.

Tais eventos representam uma estupefaciente reviravolta em relação às eleições de 2010, quando a Proposição 19 na Califórnia não foi aprovada pelos eleitores, não obstante as altas expectativas. Expliquei em detalhes por que a Proposição 19 fracassou neste artigo. Foi uma bizarra coalizão entre Batistas, isto é, pessoas que se opõem ao uso da maconha, e contrabandistas, isto é, pessoas que obtêm altos lucros com a venda da maconha no mercado negro e que, por motivos óbvios, querem que tudo continue como está. Ambos agiram em conjunto para acabar com os esforços de legalização.

Com relação às vitórias da legalização nos estados do Colorado e de Washington, Tom Angell, presidente da LEAP(Law Enforcement Against Prohibition, entidade pró-legalização formada por policiais na ativa aposentados) disse que a eleição foi uma "noite histórica para os reformadores das leis antidrogas". Paul Armentano, diretor adjunto da NORML (National Organization for the Reform of Marijuana Laws, entidade que defende que o uso responsável da cannabis por adultos não esteja sujeito a penalidades), afirmou que as vitórias em Colorado e Washington foram "de significância extrema", e observou que "ambas as medidas fornecem a adultos consumidores de cannabis proteções legais sem precedentes". Ele também notou que, "até hoje, nenhum estado na história moderna havia classificado a própria cannabis como um produto lícito que pode ser legalmente possuído e consumido por adultos." Escrevendo para o Marijuana Policy Project (entidade que defende a regulação e a tributação da venda e da posse de maconha de maneira similar à do álcool), Robert Capecchi disse que as vitória no Colorado e em Washington foram "históricas", acrescentando que elas "representam os primeiros tijolos a serem derrubados do muro de proibição à maconha".A seguir, uma lista fornecida pela LEAP de todas as medidas relacionadas à maconha nas eleições de 2012:

Colorado
Legalização da maconha
Aprovado
Washington
Legalização da maconha
Aprovado
Oregon
Legalização da maconha
Reprovado
Massachusetts
Maconha para fins medicinais
Aprovado
Arkansas
Maconha para fins medicinais
Reprovado
Detroit, MI
Descriminalização da posse de maconha por adultos
Aprovado
Flint, MI
Descriminalização da posse de maconha por adultos
Aprovado
Ypsilanti, MI
Maconha deve ser a menor das prioridades das autoridades
Aprovado
Grand Rapids, MI
Descriminalização da posse de maconha por adultos
Aprovado
Kalamazoo, MI
Autorizadas três farmácias para a venda de maconha para fins medicinais na cidade
Aprovado
Burlington, VT
Recomendação de que a maconha seja legalizada
Aprovado
Montana
Referendo restringindo o uso da maconha para fins medicinais
Provavelmente será aprovado


Alguns leitores podem compreensivelmente não se sentir muito estimulados quanto aos prospectos da legalização, descriminalização e uso da maconha para fins médicos, mas os benefícios são maiores do que se pode imaginar a princípio. Em primeiro lugar, a crise econômica é uma grande oportunidade para fazer com que este tipo de reforma seja aprovado. Há várias dimensões econômicas atuando nesta questão. A mais óbvia de todas é que os governos estão sedentos por receitas, e a legalização da maconha pode ser uma fonte atrativa para os governos, tanto em termos de impostos indiretos quanto em termos de taxas de permissão. A legalização da maconha seria também uma fonte de empregos, embora o ganho líquido em termos de postos de trabalho e renda provavelmente seria pequeno de início.

Um grande benefício seria uma redução no escopo do governo. A proibição da maconha resulta em centenas de milhares de pessoas sendo presas, bem como em um enorme desperdício das atividades do efetivo policial. Em vez de proteger os cidadãos nas ruas, a polícia é utilizada para fazer batidas e encarcerar indivíduos pelo "crime" de estar em posse de uma planta natural. Tribunais e penitenciárias ficam desnecessariamente lotados em consequência desta irracionalidade. Quando a cidade da Filadélfia tomou a decisão de que o combate à maconha teria uma baixa prioridade e que a posse seria tratada como sendo mera intoxicação (multa de US$200), a prefeitura acabou poupando US$2 milhões logo no primeiro ano.

Uma das mais importantes benfeitorias destas medidas é que elas possibilitam uma sociedade mais livre no sentido misesiano. A proibição da maconha é uma violência estatal contra o indivíduo, além de ser um preconceito e uma discriminação. Legalização de substâncias e liberalismo significam propriedade privada e tolerância pública. Como escreveu Ludwig von Mises,


O ensinamento essencial do liberalismo é que a cooperação social e a divisão do trabalho somente podem ser alcançados em um sistema em que haja propriedade privada dos meios de produção, isto é, dentro de uma sociedade de mercado, também chamada de capitalismo. Todos os outros princípios do liberalismo, como a liberdade pessoal do indivíduo, a liberdade de expressão e de imprensa, a tolerância religiosa, e a paz entre as nações são consequências deste postulado básico. Tais princípios podem ser concretizados somente em uma sociedade baseada na propriedade privada. (Omnipotent Government, p. 48)

O elemento essencial, em termos econômicos, é que mais liberdade é algo positivo para empreendimentos, empregos e prosperidade. A legalização da maconha, assim como a união civil entre pessoas do mesmo sexo, pode ser algo à primeira vista pavoroso para algumas pessoas; porém, quando empresas estão fazendo pesquisas para iniciar um empreendimento ou para estabelecer novas operações, estas são algumas das coisas que elas levam em consideração, assim como impostos, escolas, criminalidade etc. Estados que estão competindo para atrair as melhores empresas que oferecem os melhores salários são os mesmo estados que estão liberalizando suas políticas.

Sendo assim, não deveria ser surpresa alguma o fato de um estado como Washington ter legalizado a maconha sem nunca ter apresentado um histórico de ativismo em prol da legalização. Afinal, o estado de Washington tem de concorrer com outros estados por mão-de-obra qualificada — como engenheiros, técnicos e programadores de computadores — para as empresas sediadas em seu território, como a Boeing e a Microsoft. Não se surpreenda caso o que o ocorreu em Colorado e Washington se espalhe para os outros estados americanos nas próximas eleições.

O mais importante aspecto das vitórias no Colorado e em Washington foi que as pessoas desses estados se mantiverem firmes e manifestaram sua oposição ao governo federal e sua política autoritária de proibição da maconha. Elas estão ordenando aos seus governos estaduais para que não mais cooperem com o governo federal. Pode apostar que funcionários públicos federais tentarão intimidar empresas e funcionários municipais, como já fizeram na Califórnia. Eles tentarão utilizar de violência e medo para manter seu poder.

No entanto, em termos demográficos e ideológicos, eles estão lutando uma batalha que não podem vencer. Defensores da legalização são mais jovens, mais espertos, mais bem educados, e possuem renda acima da média nacional. Os líderes dos movimentos reformistas não parecem encarar seus esforços como sendo "pró-maconha", mas sim como antiproibição, e eles sabem das consequências benéficas em termos de segurança pública, saúde e prosperidade.

Quando meu livro The Economics of Prohibition foi publicado 20 anos atrás, frequentemente me perguntavam se a maconha seria ou deveria ser legalizada. Minha resposta de sempre era que a maconha para fins medicinais começaria a ser legalizada dentro de 10 anos e que a maconha para uso individual começaria a ser legalizada dentro de 20 anos, provavelmente durante uma crise econômica. Minha única previsão escrita foi que o processo de reforma começaria por volta da virada do século. E a primeira reforma foi de fato uma lei sobre o uso medicinal da maconha, aprovada na Califórnia em 1996.

Mark Thornton um membro residente sênior do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, e é o editor da seção de críticas literárias do Quarterly Journal of Austrian Economics. Ele é o co-autor do livro Tariffs, Blockades, and Inflation: The Economics of the Civil War e editor de The Quotable Mises e The Bastiat Collection.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O BANCO QUEBROU; E AGORA, COMO RECUPERAR O MEU DINHEIRO?

Recentemente acompanhamos a quebra de dois bancos do sistema financeiro: o BVA e o Cruzeiro do Sul. Como ficam os investidores que tinham dinheiro neles?


Vamos analisar o que acontece com pessoas (ou empresas) que são credoras, detentoras de depósitos a prazo, nas modalidades CDB e DPGE, e os cotistas dos fundos de investimentos administrados pelos bancos falidos.

CDB

Quem compra um CDB "empresta" dinheiro para o banco. Como credor, conta com a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), observados os limites estabelecidos. Além do CDB, os depósitos à vista, em poupança, LCI, LH, Letra de Câmbio e operações compromissadas são garantidos até o limite de R$ 70 mil por CPF ou CNPJ.

Cônjuges e dependentes, legalmente declarados, são considerados pessoas distintas. As garantias são individuais e cada um receberá até R$ 70 mil, respeitando-se o saldo. Consulte o site www.fgc.org.br para conhecer os limites das contas conjuntas e outras informações.

DPGE

Os depósitos em DPGE são depósitos a prazo com garantia especial do FGC. Não permitem resgate total ou parcial antes do vencimento e contam com garantia de até R$ 20 milhões. Para assegurar a garantia, os contratos devem:

a) conter prazo de resgate;
b) ser objeto de registro específico pela Cetip;
c) ser celebrados com um único titular, identificado pelo número do CPF/CNPJ.

FUNDOS

Neste caso, a história é outra. O dinheiro depositado em um fundo de investimento é aplicado em nome do fundo e não se mistura com o patrimônio da instituição financeira administradora.

O fundo tem um CNPJ próprio, credor dos títulos de crédito que compõem sua carteira. Dessa forma, os cotistas individualmente não contam com a garantia do FGC.

Suponha que você seja cotista de um fundo que tenha mil cotistas. A carteira do fundo tem direitos contra um banco que teve sua falência decretada: um CDB de R$ 5 milhões e um DPGE de R$ 30 milhões.

O FGC pagará ao CNPJ do fundo de investimento, credor do banco falido, R$ 70 mil relativo à garantia do CDB e R$ 20 milhões do DPGE.

Como o fundo tem mil cotistas, equivale dizer que cada um deles tem direito a uma garantia de R$ 20.070. Na verdade, os cotistas não recebem diretamente esse valor.

O pagamento será feito ao fundo, agora sob regime especial de administração (intervenção), e o patrimônio refletirá essa entrada de caixa.

Seu risco, como cotista de um fundo de investimento, está diretamente ligado aos ativos que compõem a carteira e também à idoneidade do administrador a quem você confiou seu dinheiro.

Os dois administradores citados, BVA e Cruzeiro do Sul, lamentavelmente não foram éticos na prestação de serviço a seus clientes e quebraram diversas regras previstas na legislação.

O banco BVA usava a Vitória Asset Management para obter liquidez para a instituição financeira. O Patriarca, um fundo de "private equity", ajudou a capitalizar o banco captando mais de R$ 300 milhões para comprar ações do banco.

Dois fundos de crédito privado da gestora, o Ibiza e o Vitória Fidelis, emprestaram alguns milhões a uma empresa, a Cartagena Participações, pertencente aos principais acionistas do BVA, por meio da compra de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs).

Um dos fundos do Cruzeiro do Sul, o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Verax 5 Platinum, tinha no final de maio todo o seu patrimônio aplicado em debêntures da Patrimonial Maragato, empresa dos controladores do Cruzeiro do Sul.

Você deve estar se perguntando: mas pode? Pode, conforme a classificação do fundo, observados os limites definidos pela CVM.

Por isso é tão importante ler o prospecto e concordar (ou não) com a política de investimento do fundo.

QUEM FISCALIZA

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é o órgão regulador e fiscalizador dos fundos de investimentos. Ela monitora e atua sempre que observa conduta irregular das entidades responsáveis.

Além disso, compete a você fiscalizar e zelar pelo seu patrimônio. Acompanhe a composição da carteira e certifique-se de que a política de investimento do fundo está de acordo com o mandato previsto em contrato.

No site da CVM (cvmweb.cvm.gov.br/SWB/defaultCPublica.asp) você pode verificar a composição da carteira de todos os fundos distribuídos no mercado.

O RISCO COMPENSA?

Nem sempre. A rentabilidade prometida nas operações de CDB, DPGE e LCI, por exemplo, que costumam atrair investidores mais agressivos, tende a ser na faixa de 110% da taxa DI.

A cotação, a princípio, impressiona, não é mesmo? Vamos fazer as contas e conferir de quanto estamos falando. Supondo a taxa DI de 7,25% ao ano, uma operação a 110% dessa taxa pagará 7,97%.

O prêmio pelo risco de crédito assumido que pode representar perdas significativas de capital é de 0,72%. Você decide se o "crime" compensa.

Por: Marcia Dessen é sócia do BMI Brazilian Management Institute, professora da Fundação Dom Cabral e cofundadora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros). Escreve às segundas, no caderno 'Mercado'.

OS UNGIDOS

Pelo amor de Deus, não confie em intelectuais pedindo emprego em órgãos executivos. Não estou enterrando meu próprio time, estou apenas dizendo onde devemos jogar.


A função do intelectual é ler, escrever, dar aula, orientar pesquisas, participar do debate público, mas não assumir funções executivas porque somos obcecados por nossas visões de mundo, corretas ou não, somos monstruosamente vaidosos e pouco democráticos, pelo contrário, adoramos o poder, e nos achamos superiores moralmente.

Qualquer um sabe o escândalo de como os intelectuais compactuaram com todo tipo de violência (criadora ou não... risadas?) desde o século 18.
O último lugar onde se deve olhar quando buscarmos líderes é um departamento de humanidades.

As ciências duras geram produtos técnicos, testáveis e que quando erram são mais facilmente identificáveis. E se nem sempre o são, a causa é aquilo que o epistemólogo Imre Lakatos chamava de conteúdos exteriores ao "rational belt", ou cinturão racional, ou seja, componentes exteriores ao próprio método científico, como fatores políticos, econômicos, morais, psicológicos.

Nas ciências humanas se pode dizer tudo, porque nada é testável, e normalmente quando se erra, se inventa alguma hipótese "ad hoc" (basicamente, neste caso, desculpas chiques) para justificar.

Tanto no marxismo quanto no cristianismo, hipóteses "ad hoc" funcionam porque ambas são especulações e nada mais. No cristianismo se diz "a igreja traiu Cristo", no marxismo se diz "a União Soviética traiu a causa da liberdade".

Quando um de nós assume cargos de gestão, começa a inviabilizar qualquer iniciativa que não reze na cartilha de suas teorias salvacionistas.

Torquemada, o grande inquisidor espanhol do século 15, patrono dos intelectuais em ministérios ou secretarias, se sentia moralmente superior queimando hereges.

Concordo com isso tudo que escrevi acima, mas esta crítica não é minha. Ela está na obra de um intelectual americano negro quase desconhecido no Brasil. Friso que ele é negro porque quase todo mundo, devido a nossa atávica ignorância com relação ao pensamento norte-americano que não seja o blá-blá-blá do Partido Democrata e da "new left", pensa que conservador americano em política é sempre branco babão e estúpido.

A razão desta ignorância é porque nossos alunos só podem ler o que achamos que está certo, e sonegamos o resto.

Thomas Sowell é praticamente desconhecido entre nós, apesar de termos a excelente tradução de sua obra capital "Intelectuais e Sociedade", pela É Realizações.

"Ungidos", título da coluna de hoje, é um termo usado por Thomas Sowell no seu "The Vision of The Anointed, Self-Congratulation as Basis for Social Policy", Basic Books, 1995 (a visão do ungido, autocongratulação como base para política social). Esta obra é uma excelente "entrada" para conhecer seu pensamento. Uma das vantagens é que ela é bem menor e menos complexa do que "Intelectuais e Sociedade".

Nela, Sowell mostra como esta classe de ungidos (a esquerda que tem formado a maior parte das políticas públicas nos EUA e Ocidente em geral) falou besteiras nos últimos anos, principalmente em três áreas: 1. "Guerra à pobreza" (suas ideias apenas pioraram a miséria), 2. "Educação sexual" (destruíram a família, os laços afetivos e a relação entre homens e mulheres) e 3. "Justiça e combate ao crime" (criaram um blá-blá-blá que o criminoso é criminoso porque é vítima da sociedade e, portanto, se você é assaltado, a culpa é sua, e não dele, o que só piorou muito a segurança pública).

O padrão de funcionamento deles é basicamente dizer/fazer o seguinte: 1. Catástrofes vão acontecer e não percebemos, só eles. 2. Ação urgente necessária que só eles sabem qual é. 3. Necessidade de medidas drásticas, criadas por eles, uma minoria ungida e mimada, para uma maioria ignorante. 4. Desprezo por todo argumento contrário, acusado de ser coisa de gente malvada, desinformada, irresponsável e motivada por interesses duvidosos (eles, claro, são movidos pela pureza de coração).

Você reconheceu o padrão? Por: Luis Felipe Ponde Folha de SP

FIM DA GERAÇÃO IDEOLÓGICA

Até onde consigo compreender o quadro político brasileiro, percebo que nos aproximamos de uma mudança importante. É como se acabasse uma fase e começasse outra. Aliás, já tentei formular essa minha suposição quando escrevi que a geração ideológica, que lutou contra a ditadura militar, já cumpriu seu papel, e agora dará lugar a uma outra, posterior àquele conflito.


Não sou cientista político nem pretendo estar dizendo algo incontestável. No entanto, parece-me evidente que se inicia um novo período, com outros protagonistas. É claro que essas coisas não se dão com óbvia clareza nem como um corte abrupto, que assinale o fim de uma etapa e o início de outra. Mas a nova etapa já se insinua.

Em artigo aqui publicado há algum tempo, arrisquei afirmar que PT e PSDB --os dois partidos que, no apagar das luzes da ditadura militar, surgiram como oposição clara à política do regime-- já cumpriram seu papel: o PSDB, com o governo Fernando Henrique Cardoso, e o PT, com o de Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro ajustou a economia e criou as condições para a manutenção do regime democrático; o segundo, embora tenha se oposto àquelas medidas, entendeu que o caminho certo era aquele e deu prosseguimento ao que havia sido implantado.

Se o PSDB chegou primeiro ao governo do país, foi porque sua atitude moderada atendia à visão da maioria do eleitorado. Lula, por seu radicalismo, sofreu três derrotas consecutivas e, em face disso, impôs a seu partido a moderação necessária na campanha política de 2002. Com isso, ganhou as eleições e assumiu a Presidência da República.

No governo, decidido a nele ficar para sempre, evitou a aliança com o PMDB, para não dividir com ele o poder, e comprou os deputados de partidos menores, aos quais ditava suas decisões. Como não teria cabimento impor ao país as medidas esquerdistas inviáveis, optou pelo populismo, ou neopopulismo, no estilo de Hugo Chávez.

E como esse, tentou mudar a Constituição, a fim de candidatar-se ao terceiro mandato, mas a pesquisa que encomendou com esse propósito o fez desistir da ideia. Elegeu Dilma Rousseff, que foi uma invenção sua, já que ela jamais disputara qualquer eleição.

O escândalo do mensalão tirou da jogada algumas das figuras mais destacadas do petismo, o que complicou, para Lula, escolher um candidato que lhe garantisse o poder. Por isso, escolheu Dilma como sua substituta eventual, o que torna particularmente inevitável o encerramento dessa etapa pós-ditadura.

Mesmo que a saúde de Lula o garanta, dificilmente voltará ao poder. Sem falar na delação premiada de Marcos Valério, que o apontaria como o verdadeiro chefe do mensalão. Dilma, por sua vez, após o segundo mandato, se houver, terá que se retirar de cena, uma vez que não tem muita vocação para líder.

Por sua vez, Fernando Henrique Cardoso, que prolongara seu governo com a reeleição em 1998, tentou passar o bastão a José Serra e depois a Geraldo Alckmin, que foram derrotados seguidamente por Lula. Na referida crônica em que tratei desse tema, afirmei que José Serra não teria chance de chegar à Presidência da República. Como se viu, não pôde chegar sequer à Prefeitura de São Paulo. Com isso, encerrou-se a possibilidade de o PSDB voltar à Presidência da República.

Assim, daquela geração ideológica, resta Dilma Rousseff, que certamente tentará reeleger-se em 2014. Quer ganhe, quer perca, com isso se encerrará a etapa dessa geração no governo do país.

É impossível determinar em que momento exato isso se consumará, mas parece evidente que novas lideranças políticas começam a se impor no cenário nacional, como Eduardo Campos, Aécio Neves, Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes.

Eles constituem uma geração não ideológica, caracterizada, por isso mesmo, pelo pragmatismo político, como se evidencia em suas respectivas atuações como governantes. A fase da ideologia passou.

É por perceber isso que Lula se preocupa, hoje, em dar força à candidatura de novas figuras do seu partido, com o propósito de não deixar que o lulismo termine com a sua morte e a aposentadoria de Dilma.

A dificuldade reside não apenas no pouco carisma dos candidatos que inventou, mas sobretudo na inconsistência da proposta petista, que só se manteve até aqui graças ao carisma do próprio Lula.Por: Ferreira Gullar

SAIBA COMO A BICICLETA REVOLUCIONOU O SEXO E A GENÉTICA



Bicicleta | Foto: BBC
Bicicleta alterou padrões de comportamento do século 19, afirmam especialistas britânicos
Que invenção pode ter sido mais revolucionária para o sexo do que a pílula anticoncepcional, a camisinha ou o Viagra? Para um dos geneticistas mais renomados da Grã-Bretanha, a resposta é clara: a bicicleta.
Stephen Jones, professor do University College de Londres (UCL), uma das mais respeitadas instituições de ensino e pesquisa do país, destaca que a invenção da bicicleta foi o evento mais importante dos últimos 100 mil anos da história da evolução humana.
Para Jones, em entrevista ao programa da BBC Science Club, a bicicleta "fez com que os homens não se limitassem mais a encontrar sua companheira sexual na porta ao lado, mas, sim, transportar-se a aldeias vizinhas e manter relações sexuais com uma mulher do povoado ao lado".

Transporte barato e eficiente

Embora a bicicleta tenha sido inventada no início do século 19, não foi até pouco mais de um século atrás que se converteu em um fenômeno de massa.
Os primeiros modelos tinham rodas pesadas e pouco confiáveis, mas dois elementos transformaram a bicicleta em um dos milagres da tecnologia moderna: a corrente e as rodas com raios.
A roda com raios feitos de cabos de metal finos e esticados permitiu acelerar o funcionamento da bicicleta.
Biciletas | Foto: BBC
Invenção é a mais importante dos últimos 100 mil anos para a diversidade genética, diz cientista
Antes da criação da corrente dentada, as rodas eram acionadas por meio de pedais acoplados, o que obrigava contar com uma roda frontal de enorme tamanho, que acabava sendo incômoda e instável.
A corrente, além das marchas, permitiu que, com apenas uma volta do pedal, a roda se movesse várias vezes e assim foi como nasceram, há um século, as bicicletas "seguras para damas".
Dessa forma, essa maravilha da engenharia se converteu em um sistema de transporte barato, eficiente, e acessível a homens e mulheres de todas as classes sociais.

Mais 'paqueras' e menos piano

A imprensa da época na Grã-Bretanha reportou que a invenção mudou a forma de cortejo entre os jovens do final do século 19.
Nos jornais britânicos daqueles dias, é possível encontrar notícias de que a bicicleta reduziu a frequência do comparecimento de pessoas à igreja, criou novas tendências de cortejo entre os jovens e até mesmo provocou uma diminuição no uso do piano.
Mas, além das transformações sociais, a ciência destaca que a contribuição mais importante da bicicleta se refletiu nos nossos genes.
Stephen Stearns, professor de ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, defende que a bicicleta ampliou em 48 quilômetros a distância de 'paquera' dos homens ingleses no final do século 19.
Ele diz que a invenção estimulou ainda a pavimentação das ruas, o que facilitou, mais tarde, a incorporação do automóvel ao mundo do transporte.
Bicicleta | Foto: BBC
Bicicletas sem corrente eram mais pesadas; mecanismo facilitou a vida sobre duas rodas
Para os especialistas, deu-se assim o início a um processo de migração que dura até hoje.

Diversidade genética

Jones, do University College de Londres, ressalta que a distância entre o lugar de nascimento dos futuros cônjuges não parou de aumentar desde então.
O cientista pede aos leitores que se façam uma pergunta simples: Quão distante é a origem de seu marido/mulher em comparação com a dos seus pais?
"Se caminharmos por uma cidade como Londres hoje em dia, vemos uma variedade genética que não teríamos visto em outra época".
A bicicleta, segundo Jones, deu início assim a um caminho rumo à diversidade genética sem precedentes, algo que tem um papel primordial no desenvolvimento do nosso sistema imunológico – o que teve repercussões futuras cruciais para a humanidade.
"A diversidade genética é a base da evolução, se não a tivéssemos, ainda seríamos muito parecidos com os primatas", concluiu.

AINDA EXISTE O TRIPÉ MACROECONÔMICO?

O chamado tripé macro é composto pelo regime de metas de inflação, fiscais e pelo câmbio flutuante. Acho que ninguém pode por em dúvida que ele foi fundamental para consolidar a estabilização e o maior crescimento da economia.


Também não se pode por em dúvida que nos dois ou três últimos anos sua forma de operação vem mudando, ainda que se aceite que a estabilidade macro continue sendo vista como essencial.

A questão, portanto, é entender o que mudou, se as mudanças fazem sentido e quais poderão ser suas consequências.

Política monetária. Desde a introdução do tripé, sempre prevaleceu a proposição de que a estabilidade abre a porta do crescimento, que seria complementado por outras políticas; na versão atual, é explícita a ideia que o crescimento tem de ser ativamente buscado em todas as áreas e, neste sentido, não se deve apertar a política monetária para chegar ao centro da meta quando o crescimento no curto prazo anda mais fraco que o desejado, como agora, mesmo quando os sinais de que a inflação está subindo sejam bastante claros. É importante ressaltar que a alta recente da inflação vai muito além dos efeitos do choque agrícola do início do ano. Mais de 25% das categorias de preços do IPCA estão subindo mais de 10%, em doze meses (chamamos na MB de índice de difusão forte).

Pelas mesmas razões a meta central de inflação não deve ser reduzida, para ser mais parecida com a inflação mundial, no horizonte visível. A convergência para 4,5% pode se espalhar no tempo. Na prática, isto significa que uma inflação de 5,5%, como a prevista atualmente, está de bom tamanho, embora as autoridades não digam isso em público. Isso não quer dizer que o BC não se preocupe com a inflação, mas sim que o sistema de metas está sendo operado de forma diferente. Também acredito que, se a inflação ameaçar romper o teto da banda (6.5%), a taxa de juros subirá, como já ocorreu no passado recente.

Então, está tudo bem? Não creio.

Vejo dois grandes problemas: a inflação brasileira está firmemente ancorada neste patamar de 5%-6% há um bom tempo, com o preço dos serviços flutuando ao redor de 8%, neste caso como resultado direto do ganho real dos salários (mínimo e de mercado), resultante da escassez generalizada de mão de obra. Nesta estrutura, um choque de oferta tem mais efeito irradiador do que se imagina. É por isso que, no primeiro semestre, com a economia quase parada, a inflação não recuou.

Ao longo do tempo, os riscos são crescentes, e reforçados pelo segundo problema com o sistema atual: as frequentes intervenções diretas do executivo visando segurar elevações de certos preços, a chamada administração do índice. Por exemplo, no ano passado a inflação só ficou menor que o teto da meta em virtude do adiamento do reajuste dos cigarros. Neste ano, o mesmo ocorreu com o reajuste nas cervejas. Existe ainda a incerteza sobre o eventual encerramento das reduções temporárias de IPI de autos e outras utilidades domésticas, que implicariam em elevações de preços.

O problema aparece quando a administração do índice passa a introduzir distorções que gerem custos para a economia.

O caso atual mais gritante é o dos preços de gasolina e diesel, que obriga a Petrobrás a importar gasolina ao preço internacional e vendê-la aqui dentro mais barato, em razão do controle de preços. Isto está destruindo o fluxo de caixa da Petrobrás, comprometendo seu programa de investimentos e afetando até a oferta de combustíveis, como já coloquei aqui mais de uma vez. Para ganhar 0,2 ou 0,3 no índice de inflação corrente, o futuro da produção de óleo, gás e etanol está sendo prejudicada.

O pior é que, muitas vezes, a tentativa de compensar os efeitos das intervenções pode colocar mais problemas no sistema. Por exemplo, não tenho dúvida que o atropelo para colocar em prática a desejada redução no preço da energia elétrica em janeiro, de sorte a afetar o IPCA de fevereiro e março, tem tudo a ver com a abertura de espaço para algum reajuste dos combustíveis. A questão é que a pressa de mudar pode levar a consequências danosas para as decisões do setor elétrico e seu futuro, coisa que me parece altamente provável.

Câmbio. O mercado de câmbio perdeu muito da sua liquidez, desde a introdução do IOF. Nessas condições o BC é soberano, até porque, além das grandes reservas, também opera no mercado futuro. A cotação do dólar hoje lembra a história do carro pioneiro na produção em massa, o Modelo T: Henry Ford dizia que o veículo poderia ter qualquer cor, desde que fosse preta. Da mesma forma, o dólar no Brasil pode flutuar, desde que pertinho de dois reais, e assim deve continuar até onde a vista alcança ou quando o Banco Central mudar de ideia.

Política fiscal. A aparência é de continuidade, pois existem metas de superávit primário. Entretanto, o regime fiscal está sendo lentamente destruído, a começar das estatísticas: é interminável a lista de truques, que melhoram os números, mas escondem a verdadeira situação econômica. Uma lista rápida, embora incompleta, inclui: a consideração de depósitos judiciais como receita própria, a capitalização da Petrobrás (que transformou dívida em superávit primário), a reclassificação dos subsídios do programa Minha Casa, Minha Vida como investimento, os subsídios envolvidos nas capitalizações do BNDES e agora da Caixa, a consideração dos dividendos das estatais que, simultaneamente, recebem aportes de recursos em montantes maiores, a crescente utilização dos restos a pagar para "fechar" a estatística do superávit (que o excelente Mansueto Almeida chamou de orçamento paralelo). Como resultado, não se sabe exatamente qual é o resultado fiscal que faça sentido econômico. Só sei que ele é menor que o oficial, que o gasto é maior, e que o regime fiscal é pior.

É evidente que o tripé da política econômica está operando de forma diversa daquele do passado. O futuro vai dizer se foi bem-sucedido. De minha parte, acredito que esteja se consolidando um nível desconfortável de inflação, sem que o crescimento se mostre mais robusto. Ao contrário, estamos numa armadilha de crescimento baixo, assunto ao qual voltarei proximamente.Por: JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS O Estado de S.Paulo - 11/11

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A CAMINHO DO BELGISTÃO


Sabe qual é a ironia da história? Os muçulmanos multiplicaram-se graças a defesa árdua do multiculturalismo pelos esquerdistas, que agora saem derrotados nas eleições justamente pelos islâmicos.


Não é de hoje que trazemos notícias preocupantes da Bélgica, hoje num processo de islamização cada vez mais crônico. Desde o ano passado temos denunciado as ações do 4ShariaBelgium, coisa que a mídia ocidental politicamente correta ignora propositalmente.

Agora, pelas vias da democracia, que quando manipulada é traiçoeira, o Partido Islâmico belga se fortalece cada vez mais, e conseguiu importante assentos parlamentares nas últimas eleições. E pasmem: eles chegaram ao poder, não fazendo-se de moderados, mas deixando claro que pretendem transformar a Bélgica em um estado islâmico.

O Partido Islâmico pretende, como primeiras medidas, fazer com que todos os restaurantes sirvam halal, o reconhecimento dos feriados islâmicos, o casamento com meninas (sim, pedofilia) e imposição da Sharia como parte da legislação.


Sabe qual é a ironia da história? Os muçulmanos multiplicaram-se graças a defesa árdua do multiculturalismo da parte dos esquerdistas, que agora saem derrotados nas eleições justamente pelos islâmicos. 


Outro fato interessante: os muçulmanos belgas são tão moderados que levaram ao poder aqueles que há anos vem ameaçando destruir a cultura da Bélgica. Eis a moderação. 


(Por Jaques Nunes, colaborador do blog De Olho na Jihad)

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Bélgica: tradicional árvore de Natal pode ser banida para não ofender muçulmanos

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Árvore de natal no Grote Markt


Em mais uma amostra do processo de suicídio ocidental, a tradicional árvore de natal que ficava todo ano exposta na Grote Markt, a praça central da capital da União Européia, será banida por ser considerada um símbolo (cristão) que pode ser ofensivo a outras crenças; em outras palavras, ofensiva aos muçulmanos. 

De todas as formas que a jihad é aplicada para atingir os infiéis, a jihad cultural é a mais perigosa e fatal. Nela não há armas, não há explosões, mas há destruição. Como dizia Muamar Kadafi "as armas dessa jihad são os ventres de nossas mulheres (no caso as muçulmanas)". Um país derrotado pela jihad cultural, a longo prazo, sofre mais danos do que se tivesse sofrido uma invasão militar, pois não haverá apenas mortes, mas a completa destruição da cultura local, e isso devasta para sempre.

Em 2010 escrevi um artigo para o De Olho na Jihad que tratava dos planos da Irmandade Muçulmana para conquistar os EUA, a partir de dentro. O plano é simples: os muçulmanos deveriam ser inseridos em todas as camadas da sociedade, principalmente nos meio jurídicos, legisltativos e na política, para trabalharem para o triunfo do Islã por meio de pequenas ações. Com a integração dos muçulmanos na sociedade ocidental, seria destruída a imagem do Islã violento, tornando possível levar o islamismo e seus ideais a todos. Podemos notar que essa estratégia tem sido levada a cabo por toda a Europa, com um detalhe a mais, a imigração desenfreada com o apoio da esquerda.

O sheik Abu Imran, do grupo 4ShariaBelgium, declarou: "em breve, a Bélgica vai desmoronar. Vamos fazer da Bélgica um estado islâmico".

Vemos que os planos islamitas estão se concretizando, não só na Bélgica, mas em todo o velho continente.


(Por Jefferson Nóbrega, editor do blog Candango Conservador com informações do Brussel Nieuws.)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A INFLAÇÃO INFINITA NÃO É O BASTANTE


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Já que ninguém parece se importar com o fato de que o Titanic está se enchendo de água, por que não abrir outro buraco no casco? Este parece ser o modus operandi do Federal Reserve sob o comando de Ben Bernanke. Após o anúncio do QE3 (também rotulado de "QE infinito") ter criado mais uma rodada de tagarelice na mídia a respeito de uma "inevitável" recuperação econômica, o Comitê de Política Monetária do Fed decidiu levar o conceito de infinidade um pouco mais além. A última medida envolve a rolagem dos títulos de longo prazo comprados pelo Fed durante aOperação Twist, desta maneira mais do que duplicando o valor original do QE3 (US$40 bilhões mensais) para um influxo mensal de US$85 bilhões, dinheiro esse que será criado do nada a partir de dezembro. Eu rotulo essa operação de "QE3 Mais" — agora com mais inflação!

Inflação por qualquer outro nome

Caso você já tenha perdido as contas de todos os diferentes estratagemas criados pelo Fed com o intuito de distorcer a economia, aqui vai uma recapitulação da Operation Twist: o Fed vende títulos do Tesouro com vencimento de três anos ou menos e utiliza esse dinheiro arrecadado para comprar títulos de prazo mais longo. Ao comprar títulos de longo prazo, ele atua para reduzir os juros desses títulos. Esse "twist" [torção] de seu portfólio tem o intuito de fazer com que a economia americana pareça estar mais forte e que a inflação de preços pareça estar menor do que realmente está.

O Fed alega que a Operation Twist é neutra em termos de inflação monetária porque o seu balancete permanece constante, isto é, ele não comprou mais ativos (apenas trocou títulos de menor maturação por títulos de maior maturação) e não aumentou seus passivos (não emitiu moeda para comprar esses títulos). No entanto, tal processo continua enviando sinais distorcidos para os agentes de mercado, que podem agora tomar emprestado a juros mais baixos para financiar projetos de prazo mais longo pelos quais não há demanda legítima. Eu já havia dito ano passado quando a Operation Twist foi anunciada e continuarei dizendo: taxas de juros baixas são parte do problema, e não a solução.

Intervenções nunca são neutras

Assim como o Fed utilizou seu poder de manipular os juros para fazer com que as empresas pontocom e depois o setor imobiliário parecessem investimentos de longo prazo viáveis, ele está hoje utilizando o QE3 Mais para ocultar o precipício fiscal com o qual o governo americano irá se defrontar no futuro próximo. 

À medida que o Fed expande o prazo médio de vencimento dos títulos em seu portfólio, ele vai se prendendo cada vez mais à inflação monetária que ele próprio criou na esteira da crise do crédito de 2008, tornando cada vez mais difícil retroceder e retirar toda essa liquidez da economia. Naquela época, prometeu-se que o Fed iria "desfazer" toda essa injeção monetária quando chegasse a época certa. Mas como ele fará isso agora? Títulos de vencimento mais longo reduzem a qualidade e a liquidez do balancete do Fed, fazendo com que o prometido "pouso suave" seja muito mais difícil de ser alcançado.

O Fed não pode continuar imprimindo de maneira indefinida sem que os preços ao consumidor disparem. De várias formas, isso já começou a ocorrer nos EUA. É só olhar para o preço da gasolina ou para o preço de um hambúrguer. Se o Fed ainda tem a esperança de manter estes preços sob controle, inevitavelmente chegará o dia em que ele terá de vender seu portfólio de títulos de longo prazo. Ao passo que títulos de curto prazo podem ser facilmente vendidos, títulos de longo prazo terão de ser vendidos a preços extremamente baixos, o que significa juros bastante altos, gerando efeitos devastadores sobre a curva de juros. Não será sequer possível escolher entre taxas de juros um pouco menores hoje em troca de taxas de juros um pouco maiores no futuro.

A questão é que Bernanke & Cia. se recusam a confessar que os EUA estão fundamentalmente insolventes. Tal recusa é um incentivo extremamente forte para se continuar suprimindo as taxas de juros até que uma mega crise os obrigue a isso. 

Adicionalmente, quando os juros finalmente voltarem a subir — tal subida sendo ainda mais forte por causa das vendas de títulos que terão de ser feitas pelo Fed —, o Fed terá enormes prejuízos em seu portfólio, pois os títulos em sua posse agora valerão menos. O que isso acarretará? Graças a uma nova lei federal, prejuízos incorridos pelo Fed agora são um passivo que deve ser coberto diretamente pelo Tesouro americano, isto é, pelos pagadores de impostos dos EUA.

É claro que o Fed se recusa a aceitar esta realidade. Mesmo que uma dolorosa correção seja necessária, nenhum indivíduo quer que isso realmente aconteça quando ele está no comando das coisas. Sendo assim, Bernanke irá se limitar a continuar proferindo suas falas bem ensaiadas: o dinheiro continuará fluindo até que haja uma "melhora substantiva" no desemprego.

Bernanke realmente acredita nisso?

Até mesmo Bernanke deve saber que não haverá uma "melhora substantiva" no curto prazo. Eu havia dito, ainda antes do anúncio do QE3, que uma nova rodada de estímulos seria a única maneira de Bernanke assegurar seu emprego. Porém, recentes especulações garantem que ele realmente irá sair de seu cargo assim que seu mandato terminar em janeiro de 2014. Talvez ele seja mais esperto do que imaginei. Ele deixará um tijolo no acelerador de uma economia que se direciona velozmente para um precipício fiscal, e pulará assim que ela estiver próxima da beira do penhasco. Quem quer que assuma o assento, terá de juntar os cacos e arcar com a culpa pela crise que Bernanke e seu antecessor inflamaram.

Peter Schiff 
é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear MarketsCrash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes.  Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico.  Veja o vídeo.  Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português 
Tradução de Leandro Roque

POR QUE PRIVATIZAR A PETROBRAS

Nenhum outro setor da economia desperta tantas paixões e controvérsias quanto o do petróleo. A Petrobras é motivo de orgulho para muitos brasileiros – e pesquisas recentes mostram que quase 80% da população é contra a privatização da estatal que explora nosso “ouro negro”. Em quase todos os debates, os argumentos são os mesmos: é preciso proteger nossas riquezas naturais, o governo precisa cuidar de um setor tão estratégico. “O petróleo é nosso”, dizem os nacionalistas.

É claro que o petróleo é fundamental para a economia moderna. Ele é a energia que faz a roda da economia girar. Mas será que isso é suficiente para considerá-lo tão diferente assim dos demais produtos? Será que é uma justificativa para preservar uma estatal quase monopolista? Mais ainda: assumindo que o petróleo é mesmo especial e, portanto, estratégico, será que devemos manter um recurso tão importante sob os cuidados do Estado?

Ao contrário do que muita gente acredita, a privatização da Petrobras não apenas não faria mal algum ao país, como tornaria um setor estratégico mais eficiente e daria aos brasileiros o que eles merecem: a posse de suas riquezas naturais. Não vamos esquecer o alerta do economista americano Milton Friedman (1912-2006): “Se o governo assumisse a gestão do Deserto do Saara, em cinco anos faltaria areia por lá”.

Nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo, houve um crescimento incrível do setor petrolífero a partir da competição de várias empresas privadas, desde a primeira prospecção feita por Edwin Drake, na Pensilvânia, em 1859. A Standard Oil, criada por John D. Rockfeller, maior empresário do ramo, era uma máquina de fazer dinheiro e gerar empregos. Seu grupo ficou tão grande que o governo americano decidiu fatiá-lo em 1911. Assim, surgiram as empresas que dominam até hoje essa área nos EUA. Elas concorrem em igualdade de condições com empresas estrangeiras como British Petroleum, Shell, Lukoil, a própria Petrobras e várias outras. O mercado funciona – e nenhum país considera o petróleo mais estratégico que os EUA.

No Brasil, o Estado nunca deixou o setor de petróleo funcionar livremente. Um dos pensadores brasileiros que mais lutaram contra o monopólio e o controle estatal da Petrobras foi o economista e ex-ministro Roberto Campos (1917-2001). Em sua autobiografia, A lanterna na popa, vemos sua batalha inglória para trazer mais racionalidade para o debate, contra grupos de interesse muito bem organizados e um nacionalismo ideológico mal calibrado.

Apelidado de Bob Fields por seus detratores, Campos nunca foi um “entreguista”. Ao contrário. Queria apenas a adoção de um modelo de exploração do petróleo que fosse mais vantajoso para os brasileiros. Para ele, deixar empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, competir no setor seria a melhor forma de beneficiar o próprio povo brasileiro. “Mais importante que as riquezas naturais são as riquezas artificiais da educação e da tecnologia”, afirmava. Infelizmente, uma barreira ideológica impedia a escolha desse modelo. Como disse Campos, “os esquerdistas, contumazes idólatras do fracasso, recusam-se a admitir que as riquezas são criadas pela diligência dos indivíduos, e não pela clarividência do Estado”.

A POLÍTICA DO ÓLEO (Foto: Diego Vara/Ag. RBS/Folhapress, Arquivo EM/D.A Press, Folha Press, Acervo/Sindipetro RJ,  Ricardo Stuckert/PR e divulgação)

    No governo FHC, ocorreu uma profissionalização maior na Petrobras. Infelizmente, isso acabou com a chegada do PT ao poder, em 2003. Em vez de o governo manter um quadro mais técnico, políticos como José Dutra e Sérgio Gabrielli assumiram a presidência.

A presidente Dilma reverteu isso em parte, empossando Graça Foster no comando da estatal no início de 2012, mas os resultados ainda não se refletiram nos números da empresa. O crescimento da produção total de óleo e gás da Petrobras desde que o PT assumiu o governo, em 2003, foi medíocre. A empresa, em seus planos estratégicos de cinco anos, costuma prometer aos analistas um crescimento acima de 5% ao ano na produção. De janeiro de 2003 a janeiro de 2012, a produção cresceu somente 2,4% ao ano – um resultado lamentável. Só que, para chegar a esse resultado ainda medíocre, ela teve de investir cerca de R$ 100 bilhões apenas em exploração e produção. Alguém acha realmente que essa montanha de recursos em mãos privadas teria levado a um resultado pior?

Para agravar a situação, boa parte desse programa de investimento teve de ser financiada no mercado, aumentando o endividamento da empresa, pois a geração própria de caixa não era suficiente para viabilizá-lo. A Petrobras, que tinha R$ 26,7 bilhões de dívida líquida em 2007, acumulava um endividamento líquido superior a R$ 130 bilhões no fim do primeiro semestre de 2012 – um aumento de 400% em menos de cinco anos. Eis aí algo que cresce a taxas elevadas na Petrobras, ao contrário da produção. Isso mesmo depois do enorme aumento de capital que promoveu, de R$ 100 bilhões – uma operação no mínimo controversa, que diluiu a participação dos acionistas minoritários, na qual o governo usou até os ativos do pré-sal da União para reforçar sua fatia na empresa.

Se comparada a seus pares internacionais, a rentabilidade da Petrobras nos últimos 12 meses está muito abaixo da média. Para ser mais exato, o retorno sobre o patrimônio líquido da “nossa” estatal foi um terço da média global do setor. E seu uso político custa cada vez mais aos milhões de investidores. No segundo trimestre de 2012, a Petrobras divulgou o primeiro prejuízo em 13 anos. Perdeu R$ 1,35 bilhão, fruto principalmente da enorme defasagem dos preços dos combustíveis e da alta do dólar em relação ao real. O fato de o preço do combustível não seguir as forças de mercado no Brasil representa enorme perda de eficiência do setor.

Em 2011, os cerca de 80 mil funcionários da estatal custaram para a empresa mais de R$ 18 bilhões. Isso dá uma média anual de custo acima de R$ 230 mil por empregado. Claro que há gente séria e qualificada ali, mas estes não teriam nada a perder com uma gestão privada focada no lucro. Ao contrário: como já cansamos de ver, os empregados mais eficientes que permanecem nas empresas privatizadas costumam melhorar bastante de vida. Naturalmente, a turma encostada e sem capacidade para ganhar o que ganha fica apavorada com a ideia de privatizar e colocar um fim na vida mansa. São esses que fazem de tudo para preservar o statu quo e a caixa-preta em torno da estatal.

Qualquer reformista encontrará enorme pressão dos grupos reacionários interessados em preservar privilégios e mamatas na Petrobras. Boa parte do próprio corpo de funcionários reagirá contra mudanças. O ex ministro Antônio Dias Leite chegou a cunhar a expressão “República Independente da Petrobras” para se referir à estatal. São muitos bilhões em jogo e muito poder para o governo simplesmente focar na maior eficiência da empresa e nos interesses dos consumidores. Parece natural a luta permanente pela captura da empresa por feudos políticos.

A Petrossauro, como a chamava Roberto Campos, possui infindáveis tetas para atrair vários grupos de interesse distintos. Como se costuma dizer, o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada. Mesmo ineficiente e palco de abusos políticos, a Petrobras gera enorme quantidade de caixa, despertando o olho grande de muita gente, que passa a defender sua manutenção como estatal.

O fundo de pensão da Petrobras agradece, recebendo quantias relativas aos dividendos dos acionistas jamais vistas na esfera privada. Os membros poderosos dos sindicatos agradecem, protegendo seu emprego da livre concorrência. Os empresários corruptos agradecem, podendo fechar ótimos negócios com a estatal graças ao suborno, e não à eficiência de seus serviços e produtos. Silvinho “Land Rover” Pereira e outros tantos como ele estão aí como prova.

Artistas engajados que cedem à doutrinação ideológica comandada pelo governo também agradecem, pois recebem verbas para o avanço da “cultura nacional” sem qualquer critério de mercado, ou seja, de preferência dos consumidores. De 2008 a 2011, a estatal destinou a bagatela de R$ 652 milhões a patrocínios culturais. É uma montanha de dinheiro capaz de transformar o mais liberal dos artistas num ferrenho defensor da estatização. Bastou a nova gestão de Graça Foster dar sinais de que poderia cortar a verba cultural em 2012 que a reação foi imediata e estridente.

Os políticos regozijam se também, podendo usar uma empresa gigantesca para leilão de votos e cabide de emprego. Como fica claro, toda uma cadeia da felicidade é alimentada pela Petrobras. No pôquer, há uma máxima que diz: “Se você está no jogo há 30 minutos e ainda não sabe quem é o pato, então você é o pato”. Se você, estimado leitor, não faz parte dessa farra toda que mama nas tetas da Petrobras, pode estar certo de que faz parte do grupo dos que pagam a conta. Bem-vindo ao clube.

Mesmo ineficiente e palco de abusos políticos, a Petrobras gera enorme caixa e desperta o olho grande de muita gente

O governo ainda usa a empresa como instrumento de política econômica, mantendo os preços artificialmente baixos para não aumentar a inflação. Para piorar, aplica cota nacionalista na compra de insumos importantes, na tentativa de estimular a indústria nacional. O problema é que isso afeta o caixa da empresa. Como o programa de investimentos é enorme, a rentabilidade mais baixa destrói o valor da empresa, prejudicando seus milhões de acionistas. Numa nota em sua coluna de 15 de julho de 2012, o jornalista Ancelmo Gois, de O Globo, revelou: “Um ex diretor da Petrobras diz que os R$ 360 milhões gastos com a P 59, na Bahia, dariam para comprar duas plataformas no exterior. O ‘Bolsa Navio’ já tem dez anos. Ou seja, o tempo passa, o tempo voa, e nossa indústria naval nunca fica competitiva”.


Resultado: a Petrobras foi o “patinho feio” da Bolsa nos últimos anos. Segundo consta no próprio relatório anual de 2011 da empresa, as ações da Petrobras tiveram queda de 15% nos últimos cinco anos, em comparação a uma alta de quase 30% no Índice Bovespa, que reflete o desempenho das principais ações negociadas nos pregões. A Petrobras chegou inclusive a perder por alguns dias o posto de maior empresa latino-americana por valor de mercado para a colombiana Ecopetrol, bem menor que a estatal brasileira. Detalhe: o patrimônio da Ecopetrol é sete vezes menor que o da Petrobras. Como milhões de pequenos investidores tornaram se acionistas da Petrobras por meio do FGTS no passado recente, o descaso e a incompetência das últimas gestões trouxeram perdas significativas para inúmeros brasileiros, inclusive de classes mais baixas, e também para os investidores estrangeiros que apostaram na empresa.

O valor de mercado da Petrobras oscila bastante e caiu muito nos últimos anos. Atualmente, ele está na faixa dos R$ 250 bilhões. A União é dona de quase metade do capital total, sem contar o BNDES. Mesmo considerando a perda de valor por causa da incompetência estatal, a Petrobras valeria uns R$ 120 bilhões para o povo brasileiro.

Isso daria quase R$ 10 mil para cada uma dos 13 milhões de famílias assistidas pelo Bolsa Família, por exemplo. Que tal doar ações da Petrobras para essa gente? Será que essas pessoas mais pobres preferem repetir que o petróleo é nosso, ou receber um título ou um cheque desse valor para fazer o que bem entender com os recursos?

Da próxima vez que o leitor escutar por aí que “o petróleo é nosso”, talvez fique mais claro o que eles realmente querem dizer com isso. Sim, o petróleo é mesmo deles, e não seu ou meu. Talvez devêssemos sair às ruas gritando “o petróleo é vosso” e demandando nossa parte. Se o petróleo for de fato nosso, do povo brasileiro, então é simples resolver a questão: basta o Estado distribuir para cada brasileiro (ou para a faixa mais pobre) sua parte da empresa, por meio de vales ou ações. Cada um poderá, então, sentir se efetivamente dono de um pedaço da Petrobras e fazer com sua parte o que lhe aprouver. Afinal, o petróleo é nosso ou não é?

Ineficiência estatal (Foto: Reprodução/Revista ÉPOCA)


Esse texto é um extrato do capítulo “O petróleo deve ser nosso”, do livro Privatize já (editora Leya)