sexta-feira, 17 de maio de 2013

LUGARES COMUNS QUE SUBSTIUEM O RACIOCÍNIO CRÍTICO

Se algum dia criarem um concurso para aquelas palavras que se passam por pensamento profundo e crítico, "diversidade" e "pluralidade" facilmente iriam para a final e teriam um embate duríssimo.

A beleza destas duas palavras mágicas e encantadoras é que você não necessita de nenhuma nódoa de evidência e de nenhum processo de encadeamento lógico quando você quer recitar rapsódias sobre os supostos benefícios da diversidade e do pluralismo. A própria ideia de querer testar estes belos termos em relação a algo tão feio quanto a realidade é em si vista como um ato sórdido.

Diversidade e pluralidade são termos que, justamente por englobarem de tudo, dispensam seus promovedores de explicar especificamente o que defendem. Há diversidade e pluralidade de gênero, de cor, de preferências sexuais, de renda, de inteligência, de etnia etc. Sendo assim, perguntar se aquelas instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia e sete dias por semanas apresentam melhores resultados do que as instituições que não dão a mínima para estes "pré-requisitos" fará apenas com que você seja visto como um reacionário insensível, malicioso, racista, misógino e homofóbico. 

Citar evidências empíricas que mostram que aquelas localidades obcecadas com pluralidade e diversidade geram relações ruins entre as pessoas forçadas a conviver sob o mesmo ambiente é se arriscar a ser rotulado e marginalizado. O livre pensamento e a liberdade de expressão não são livres.

A moda agora ao redor do mundo é afirmar que os governos devem promover a diversidade e a pluralidade — o que na prática significa que alguns grupos organizados têm mais direitos do que outros, o que por sua vez significa a abolição da ideia de "igualdade perante a lei".

Neste cenário, algumas perguntas se fazem necessárias. Como é possível que um país racialmente homogêneo como o Japão consiga apresentar uma educação de alta qualidade sem ter de recorrer ao essencial ingrediente da diversidade e do pluralismo, uma necessidade "premente" segundo os sociólogos da atualidade?

Inversamente, por que a Índia, uma das mais plurais e diversas nações da terra, apresenta um histórico de intolerância e de violência letal entre seus diversos grupos de pessoas pior do que aquele observado no sul dos EUA durante a vigência da segregação racial?

O simples ato de fazer tais perguntas já é garantia de ser acusado de recorrer a táticas desonestas e de possuir motivações torpes demais para serem dignificadas com uma resposta. Não que os genuínos defensores da pluralidade tenham alguma resposta, é claro.

Dentre os candidatos que disputam a segunda colocação no torneio dos lugares comuns que tornam o pensamento algo obsoleto está o termo "socialmente excluído" e todas as suas variáveis.

Pessoas que não se encaixam nos pré-requisitos básicos exigidos por determinados objetivos e funções, desde admissão em uma universidade a um empréstimo bancário, passando por empregos em cargos que exigem diversas habilidades, são tidas como pessoas socialmente excluídas cuja ascensão social lhes foi "negada pela sociedade". Donde surgem as desculpas de que tais pessoas estão moralmente eximidas de seguirem uma vida pautada pelas mesmas regras aplicáveis ao restante da população — como, por exemplo, não recorrerem à criminalidade.

Tanto o 'pluralismo' quanto a 'exclusão social' devem ser corrigidos por políticas públicas, como por exemplo as cotas. Segundo os teóricos, tais políticas equalizariam as "oportunidades de acesso". O problema é que os defensores dessa tese sempre refugam quando instados a explicar por que uma igual oportunidade de acesso seria sinônimo de igual probabilidade de sucesso.

Há um exemplo interessante disso na própria política. Peguemos um estado americano conhecido mundialmente: a Califórnia. Trata-se de um estado majoritariamente progressista. Neste estado, eleitores conservadores e eleitores progressistas têm exatamente a mesma oportunidade de votar. No entanto, as chances de um candidato conservador ser eleito na Califórnia são muito menores do que as chances de um candidato progressista. Será que os progressistas defenderiam cotas e uma lei de "igual oportunidade de acesso" para políticos conservadores na Califórnia?

Similarmente, todas as pessoas podem tentar adentrar uma universidade, pedir um empréstimo bancário ou disputar um determinado emprego. Se todas essas solicitações forem julgadas pelos mesmos critérios, então todos tiveram uma igual oportunidade de acesso. Se aquele sujeito com pouquíssimas qualificações intelectuais não conseguiu o emprego na multinacional ou o ingresso em uma universidade, ou se um sujeito de histórico creditício duvidoso não conseguiu o empréstimo bancário, isso não significa que lhe foi negada a mesma oportunidade de acesso. Simplesmente nunca houve uma igual probabilidade de sucesso.

A 'diversidade' e a 'exclusão social' geram um terceiro lugar comum: 'redistribuição de renda' — ou, sua variável próxima, 'justiça social'.

Aparentemente, todas as pessoas têm direito a receber uma "fatia justa" da prosperidade da sociedade, não importa se elas trabalharam 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade ou se não fizeram nada mais do que viver na mendicância ou recorrer ao crime. No final, tudo indica que devemos alguma coisa a estas pessoas pelo simples fato de elas nos agraciarem com sua existência. Tudo indica que elas "têm o direito" de viver à custa dos pagadores de impostos, mesmo que sintamos que poderíamos viver muito bem sem elas.

No outro extremo da escala da renda, os ricos supostamente devem pagar sua "fatia justa" em altos impostos. Mas para nenhum dos dois extremos da escala da renda há uma definição concreta do que é uma "fatia justa". Há um determinado número ou uma proporção exata? Nunca se soube. 'Justiça social' e 'redistribuição de renda' são apenas sinônimos políticos para "mais poder arbitrário para o governo", cuidadosamente adornado por uma retórica sonoramente moralista. 

A intelligentsia vem há décadas promovendo a ideia de que não deve haver nenhum estigma em se aceitar auxílios do governo. Viver à custa dos pagadores de impostos é retratado como um "direito", ou, mais ponderadamente, como parte de um "contrato social".

É claro que você não se lembra de ter assinado qualquer contrato desse tipo, mas tal lugar comum soa poético e pomposo. Ademais, e isso é o que interessa, ele rende muitos votos entre os ingênuos, e este é exatamente o objetivo de políticos que defendem assistencialismo.

Por fim, "acessível" é outro termo popular que substitui toda e qualquer necessidade de pensamento crítico. Dizer que todo mundo tem direito a "moradia acessível" é bem diferente de dizer que todo e qualquer indivíduo deve poder decidir qual tipo de casa quer ter.

Programas governamentais que distribuem "moradias a preços acessíveis" nada mais são do que programas que dão a algumas pessoas o poder de não apenas decidir qual imóvel elas querem ter como também o de obrigar outras pessoas — os pagadores de impostos, os donos dos imóveis etc. — a absorver uma fatia do custo desta decisão, uma decisão da qual elas nunca foram convidadas a participar.

E, ainda assim, a crença de que pessoas que preferem que as decisões econômicas sejam feitas voluntariamente por indivíduos no mercado não são tão compassivas quanto aquelas pessoas que preferem que tais decisões sejam tomadas coletivamente por políticos nunca é vista como uma crença que deveria ser comprovada por fatos.

Mas, por outro lado, isso não é algo recente. A crença na compaixão superior dos políticos é um fenômeno mundial que data ainda do século XVIII. E, em todas as épocas e em todos os locais, nunca houve nenhum esforço genuíno dos progressistas para verificarem se esta pressuposição crucial é sustentada por fatos.

A realidade econômica, no entanto, é que o governo fazer, por meio de decretos, com que várias coisas sejam mais "acessíveis" de modo algum aumenta a quantidade de riqueza na sociedade. Colocar o governo para redistribuir propriedade e determinar seu "valor justo" não faz com que a sociedade seja mais rica do que seria caso os preços dos imóveis fossem "proibitivos". Ao contrário: tais políticas, que nada mais são do que controles de preços e redistribuição de propriedade, reduzem os incentivos para se produzir.

Nada do que aqui foi dito é uma ciência obscura e inacessível. Porém, se você é do tipo que jamais se põe a pensar criticamente e se contenta com a mera repetição de lugares comuns, então não importa se você é um gênio ou um deficiente mental. Palavras fáceis que impedem as pessoas de pensar criticamente reduzem até mesmo o mais reconhecido gênio ao nível de um completo idiota.

Thomas Sowell , um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford.  Seu website: www.tsowell.com.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A HIPERINFLAÇÃO MAIS NEGLIGENCIADA DA HISTÓRIA

Ao contrário do que afirma a maioria dos historiadores, a hiperinflação ocorrida na Alemanha no período 1922-23, na qual a taxa mensal de inflação de preços chegou a um pico de 29.500% no mês de outubro de 1923, não foi a mais alta da história. 

A maior taxa de hiperinflação mensal da história foi registrada na Hungria, em julho de 1946, e foi 12 ordens de magnitude maior do que esta apresentada pela República de Weimar: 41.900.000.000.000.000% (quase 42 quatrilhões por cento). Para se ter uma ideia mais exata, isso representa uma taxa de inflação diáriade 207%, o que significa que os preços dobravam a cada 15 horas.

Como sempre ocorre com vários dados econômicos e financeiros, esse histórico húngaro simplesmente foi relegado àquilo que George Orwell chamou de "buraco da memória".

O que nos remete a um outro caso de hiperinflação que também foi muito mais virulento do que o sempre citado episódio de Weimar, mas que infelizmente já foi quase que completamente esquecido. Tal episódio ocorreu na Iugoslávia durante a década de 1990 e simplesmente não ficou registrado na consciência do público. Na condição de conselheiro do vice-presidente da Iugoslávia Živko Pregl, de 1990 a junho de 1991, eu havia alertado sobre a iminência deste fenômeno. E foi sem nenhuma surpresa que registrei os eventos decorrentes.

Como tudo ocorreu? De 1971 a 1991, a taxa média de inflação anual da Iugoslávia foi de 76%. Durante este mesmo período, apenas Zaire, Argentina e Brasil superaram esta pavorosa marca. Mas as coisas pioraram — e muito. No dia 7 de janeiro de 1991, o governo federal do primeiro-ministro Ante Markovic descobriu que o parlamento sérvio, sob o controle de Slobodan Milosevic, havia secretamente ordenado ao Banco Nacional Sérvio (um banco central regional) que emitisse dinares equivalentes a US$1,4 bilhão para financiar os amigos de Milosevic.

Esta pilhagem ilegal equivalia a mais da metade de todo o dinheiro que o Banco Nacional da Iugoslávia pretendia criar em 1991. Este golpe sabotou os já hesitantes planos de reforma econômica do governo Markovic, e solidificou a determinação dos líderes da Croácia e da Eslovênia de se separar da República Federal Socialista da Iugoslávia.

Sem os croatas e os eslovenos para espoliar, Milosevic recorreu diretamente à impressora do banco central. E com fúria. Começando em janeiro de 1992, o que restou da Iugoslávia sofreu a segunda maior e a segunda mais longa hiperinflação da história mundial.

A inflação de preços chegou ao ápice em janeiro de 1994, quando a taxa mensal de inflação foi de 313 milhões por cento — quatro ordens de magnitude maior que a hiperinflação de Weimar, mas bem abaixo do recorde húngaro. Uma inflação de preços desta magnitude representa uma taxa diária de 64,6%, o que significa que os preços dobravam a cada 34 horas. 

A hiperinflação iugoslava durou 24 meses, apenas dois meses mais curta do que a hiperinflação soviética do início da década de 1920.

Os resultados foram devastadores. Muito antes da OTAN bombardear a Iugoslávia em 1999, a insensatez monetária de Milosevic já havia destruído a economia. Arruíne uma economia e então comece uma guerra: um antiquíssimo truque de preservação do poder.

Durante o período de 24 meses de hiperinflação, a renda per capita da população despencou mais de 50%. Os cidadãos comuns foram forçados a utilizar e exaurir toda a poupança que mantinham em outras moedas mais fortes. Tendo exaurido essa poupança, as pessoas não mais conseguiam comprar comida no mercado negro (no caso, o livre mercado). Para não morrerem de fome, elas se alinhavam em enormes filas à porta de mercearias estatais à espera de rações de baixa qualidade que eram ofertadas irregularmente. Os mais sortudos recorriam a alguns parentes que viviam no interior do país.

Todos os postos de gasolina de Belgrado ficaram fechados por um longo tempo, com a exceção de um único posto que atendia exclusivamente estrangeiros e funcionários das embaixadas. A população acabou sendo obrigado a, diariamente, gastar uma enorme quantidade de tempo no mercado negro de câmbio, que era a única maneira de conseguir alguma moeda forte com a qual comprar alimentos no mercado paralelo. Era comum trocaram enormes pilhas de dinares praticamente inúteis por uma única cédula de marco alemão ou dólar americano.

Naquilo que se tornou um procedimento padrão de chefes de estado belicosos e sob pressão, Milosevic afirmou que os iugoslavos estavam sendo vítimas de influências externas. Sua tese era a de que a hiperinflação e as subsequentes privações haviam sido causadas pelos embargos impostos pelas Nações Unidas em maio de 1992 e abril de 1993.

Na realidade, a máquina de criar dinheiro de Milosevic foi colocada em rotação máxima para financiar sua máquina de guerra e sua limpeza étnica. Mais de 80% do orçamento da Iugoslávia era destinado às forças armadas e à polícia. Em dezembro de 1993, quase 95% de todos os gastos do governo eram financiados diretamente pela simples impressão de dinares.

A orgia monetária da Iugoslávia só foi interrompida porque a Casa da Moeda simplesmente não mais conseguiu acompanhar a demanda de Milosevic por mais dinheiro. A hiperinflação estava transformando cédulas de 500 bilhões de dinares em meros trocados antes de a tinta das cédulas secar. Felizmente, a capacidade produtiva da impressora se esgotou, e as autoridades não mais conseguiram manter o ritmo das impressões.

No dia 6 de janeiro de 1994, o dinar oficialmente entrou em colapso. O governo então criou um pseudo-Currency Board tendo o marco alemão como moeda de reserva. De início, o sistema funcionou. A inflação caiu de 312 milhões por cento em janeiro para 2.143% em fevereiro e para -6,2% em março. Porém, já no final de 1995, todas as brechas deste pseudo-Currency Board já estavam visíveis para todos, e a inflação voltou. O dinar foi desvalorizado em 62,6% em novembro daquele ano e depois em 57,9% em abril de 1998. E então o câmbio passou a flutuar. Após a guerra do Kosovo e com a saída de Milosevic, e com a eleição de um novo presidente em 2000, as coisas se estabilizaram.

Para ilustrar esta horrenda história, nada mais eficaz do que observar as devastadoras desvalorizações que repetidamente dizimaram o dinar. Entre 1º de janeiro de 1991 e 1º de abril de 1998, o dinar foi oficialmente desvalorizado 18 vezes. Dentre essas 18 vezes, em três ocasiões a desvalorização excedeu 99,99%. Ao todo, nada menos que 22 zeros foram cortados da unidade de conta.

Para se ter uma ideia do impacto sobre a população local, pense no atual valor da sua conta bancária e então desloque a vírgula 22 casas decimais para a esquerda. Agora tente comprar algo com esse valor.

Por: Steve Hanke é professor de Economia Aplicada e co-diretor do Institute for Applied Economics, Global Health, and the Study of Business Enterprise da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA. O Professor Hanke também é membro sênior do Cato Institute em Washington, D.C.; professor eminente da Universitas Pelita Harapan em Jacarta, Indonésia; conselheiro sênior do Instituto Internacional de Pesquisa Monetária da Universidade da China, em Pequim; conselheiro especial do Center for Financial Stability, de Nova York; membro do Comitê Consultivo Internacional do Banco Central do Kuwait; membro do Conselho Consultivo Financeiro dos Emirados Árabes Unidos; e articulista da Revista Globe Asia.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

RIQUEZA É FELICIDADE

Ah, o reino do Butão. Toda a gente conhece: é o país mais feliz do mundo, dizem os sábios. Tudo porque o tiranete local, em 1972, decidiu renunciar ao "Produto Interno Bruto" (que era, digamos, típico de brutos) e passou a calcular a riqueza com a "Felicidade Interna Bruta". Mais importante que a riqueza criada era a sensação de bem-estar dos respectivos súditos.


E esse bem-estar não está dependente de coisas filistinas como o consumo e o vil metal. Riqueza não traz felicidade. Nem sequer paga o que ela gasta, como dizia o saudoso Millôr Fernandes.

A fantasia ficou. E, na mesma década de 1970, o economista Richard Easterlin deu tratamento científico (e empírico) ao fenômeno.

Dizia Easterlin que a riqueza de um país não garante necessariamente felicidade ao seu povo. Isso porque o bem-estar é determinado pelo rendimento relativo, não absoluto. Tradução: sempre que o meu vizinho enriquece, eu gemo um bocadinho.

O país pode ficar cada vez mais rico. Mas isso só irá trazer frustração cada vez maior também. Em termos absolutos (e comparativos), um norueguês não é mais feliz que um etíope.

Nunca comprei o "paradoxo de Easterlin". Muito menos a "Felicidade Interna Bruta" do reino do Butão. Não por motivos "científicos". A minha desconfiança era meramente intuitiva: entre a Etiópia ou a Noruega, eu não hesitaria na escolha.

Pois bem: parece que a ciência vem ao encontro das minhas intuições. O analista financeiro Allister Heath revela no "Telegraph" dois estudos recentes que apontam no mesmo sentido: o "paradoxo de Easterlin" está errado. Riqueza, afinal, é felicidade.

Fui ler os dois estudos. Recomendo.

O primeiro, da Universidade da Pennsylvania, analisou dados de 140 países e chegou a três conclusões.

Primeira: os mais ricos de um país têm maiores níveis de satisfação do que os mais pobres.

Segunda: países com maior PIB per capita apresentam níveis de satisfação maiores do que países com riqueza mais modesta.

Terceira: o nível de satisfação de um povo cresce na exata proporção do seu processo de enriquecimento. E uma subida de 20% no rendimento de um indivíduo que recebe US$ 500 tem o mesmo impacto hedônico que uma subida similar naquele que recebe US$ 5.000. Podemos gemer de inveja com a Mercedes do vizinho. Gememos menos se tivermos uma Volkswagen.

Ruut Veenhoven e Floris Vergunst, por sua vez, introduzem uma observação adicional --e qualitativa: sim, o bem-estar aumenta com a riqueza de um país. Mas esse bem-estar aumenta consideravelmente nos países em que a riqueza aumenta também consideravelmente.

Moral da história?

Chega de paternalismo autoritário e romântico: da próxima vez que alguém disser que riqueza não traz felicidade, o melhor é convidar esse sábio a ir morar para o reino do Butão. E sem Volkswagen. João Pereira Coutinho  Folha de SP

O PT NÃO GOSTA DE DEMOCRACIA

O PT não gosta da democracia. E não é de hoje. Desde sua fundação foi predominante no partido a concepção de que a democracia não passava de mero instrumento para a tomada do poder. Deve ser recordado que o partido votou contra a aprovação da Constituição de 1988 – e alguns dos seus parlamentares não queriam sequer assinar a Carta. Depois, com a conquista das primeiras prefeituras, a democracia passou a significar a possibilidade de ter acesso aos orçamentos municipais. E o PT usou e abusou do dinheiro público, organizando eficazes esquemas de corrupção. O caso mais conhecido – e sombrio – foi o de Santo André, no ABC paulista. Lá montaram um esquema de caixa 2 que serviu, inclusive, para ajudar a financiar a campanha presidencial de Lula em 2002. Deve ser recordado, que auxiliares do prefeito Celso Daniel, assassinado em condições não esclarecidas, hoje ocupam posições importantíssimas no governo (como Gilberto Carvalho e Míriam Belchior).


Antes da vitória eleitoral de 2002, os petistas já gozavam das benesses do capitalismo, controlando fundos de pensão de empresas e bancos estatais; e tendo participação no conselho gestor do milionário Fundo de Amparo ao Trabalhador. Os cifrões foram cada vez mais sendo determinantes para o PT. Mesmo assim, consideravam que a “corrupção companheira” tinha o papel de enfrentar o “poder burguês” e era o único meio de vencê-lo. Em outras palavras, continuavam a menosprezar a democracia e suas instâncias.

Chegaram ao poder em janeiro de 2003. Buscaram uma aliança com o que, no passado, era chamado de burguesia nacional. Mas não tinham mudado em nada sua forma de ação. Basta recordar que ocuparam mais de 20 mil cargos de confiança para o partido. E da noite para o dia teve um enorme crescimento da arrecadação partidária com o desconto obrigatório dos salários dos assessores. Foi a forma petista, muito peculiar, de financiamento público, mas só para o PT, claro.

Não satisfeitos, a liderança partidária – com a ativa participação do presidente Lula – organizou o esquema do mensalão, de compra de uma maioria parlamentar na Câmara dos Deputados. Afinal, para um partido que nunca gostou da democracia era desnecessário buscar o debate. Sendo coerente, através do mensalão foi governando tranquilamente e aprovando tudo o que era do seu interesse.

O exercício do governo permitiu ao PT ter contato com os velhos oligarcas, que também, tão qual os petistas, nunca tiveram qualquer afinidade com a democracia. São aqueles políticos que se locupletaram no exercício de funções públicas e que sempre se colocaram frontalmente contrários ao pleno funcionamento do Estado democrático de Direito. A maior parte deles, inclusive, foram fieis aliados do regime militar. Houve então a fusão diabólica do marxismo cheirando a naftalina com o reacionarismo oligárquico. Rapidamente viram que eram almas gêmeas. E deste enlace nasceu o atual bloco anti-democrático e que pretende se perpetuar para todo o sempre.

As manifestações de desprezo à democracia, só neste ano, foram muito preocupantes. E não foram acidentais. Muito pelo contrário. Seguiram e seguem um plano desenhado pela liderança petista – e ainda com as digitais do sentenciado José Dirceu. Quando Gilberto Carvalho disse, às vésperas do Natal do ano passado, que em 2013 o bicho ia pegar, não era simplesmente uma frase vulgar. Não. O ex-seminarista publicizava a ordem de que qualquer opositor deveria ser destruído. Não importava se fosse um simples cidadão ou algum poder do Estado. Os stalinistas não fazem distinção. Para eles, quem seu opõem às suas determinações, não é adversário, mas inimigo e com esse não se convive, se elimina.

As humilhações sofridas por Yoani Sánchez foram somente o começo. Logo iniciaram a desmoralização do Supremo Tribunal Federal. Atacaram violentamente Joaquim Barbosa e depois centraram fogo no ministro Luiz Fux. Não se conformaram com as condenações. Afinal, o PT está acostumado com os tribunais stalinistas ou com seus homólogos cubanos. E mais, a condenação de Dirceu como quadrilheiro – era o chefe, de acordo com o STF – e corrupto foi considerado uma provocação para o projeto de poder petista. Onde já se viu um tribunal condenar com base em provas, transmitindo ao vivo às sessões e com amplo direito de defesa? Na União Soviética não era assim. Em Cuba não é assim. E farão de tudo – e de tudo para o PT tem um significado o mais amplo possível – para impedir que as condenações sejam cumpridas.

Assim, não foi um ato impensado, de um obscuro deputado, a apresentação de um projeto com o objetivo de emparedar o STF. Absolutamente não. A inspiração foi o artigo 96 da Constituição de 1937, imposta pela ditadura do Estado Novo, honrando a tradição anti-democrática do PT. E o mais grave foi que a Comissão de Constituição e Justiça que aprovou a proposta tem a participação de dois condenados no mensalão e de um procurado pela Interpol, com ordem de prisão em mais de cem países.

A tentativa de criar dificuldades ao surgimento de novos partidos (com reflexos no tempo de rádio e televisão para a próxima eleição) faz parte da mesma estratégia. É a versão macunaímica do bolivarianismo presente na Venezuela, Equador e Bolívia. E os próximos passos deverão ser o controle popular do Judiciário e o controle (os petistas adoram controlar) social da mídia, ambos impostos na Argentina.

O PT tem plena consciência que sua permanência no poder exigirá explicitar cada vez mais sua veia anti-democrática.

Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP)

APEQUENANDO O FUTURO

Um ministério macro, com 39 membros, é o triste retrato de uma política micro, que vai apequenando o futuro de nosso país

Interrogado por jornalista sobre a nomeação do vice-governador de São Paulo para ministro da Micro e Pequena Empresa, respondi que não me parecia houvesse o impedimento que se alega, tendo em vista que ele não é titular de cargo nem exerce função, aliás, nem tem função a exercer; não passa de mera expectativa do poder. Havendo impedimento do presidente (doença, viagem ao exterior) o vice é chamado a assumir a presidência transitoriamente; ocorrendo a vacatura da presidência (renúncia, morte) o, até então, vice assume a presidência como tal até o fim do mandato. Houve tempo em que o vice-presidente presidia o Senado, embora não fosse senador. A propósito, houve entre nós episódio ilustrativo que está na memória de todos. Impedido de assumir a presidência da República, por uma crise que levou o presidente eleito Tancredo Neves a ser hospitalizado e operado na véspera da posse, o vice-presidente José Sarney assumiu a presidência enquanto perdurasse o impedimento do presidente e vindo esse a falecer, o vice-presidente, sem solução de continuidade, deixou de ser vice no exercício da presidência para passar a ser o presidente, em caráter definitivo. Aliás, mutatis mutandis foi o que aconteceu quando do impeachment do presidente Collor e que com seu afastamento Itamar Franco assumiu a presidência por ser o vice-presidente, mas decretado o impeachment com a vacância presidencial passou ele a condição de presidente e exerceu-a até o derradeiro dia do mandato. De modo que me parece simples a situação do atual secretário com galas de Ministro da Micro e Pequena Empresa, em caso de impedimento do atual governador do Estado de São Paulo ou de vacância do cargo, ao atual ministro caberá escolher o rumo e conforme for ele terá de deixar de ser o 39º Ministro da República, ou deixar de ser o vice-governador de seu Estado.

Existe até um precedente. Na fase crepuscular do segundo governo Vargas, curiosamente, o chefe de governo voltou os olhos para o início de seu governo e nele divisou o governador José Américo, que fora Ministro da Viação de 1930 a 1934; passados vinte anos, em 1953, sendo governador da Paraíba, nomeado outra vez, no ministério permaneceu até 1954; ocorrendo então o termo do governo Vargas nas circunstâncias conhecidas, José Américo retornou ao governo do seu Estado. Estas lembranças podem ser interessantes, mas não irrelevantes para a situação.

O caso estava anunciado fazia muito, agora ele está consumado. O vice-governador do Estado de São Paulo foi nomeado secretário de Micro e Pequena Empresa, com status do ministro; com isso a senhora presidente acumula mais um elo no extenso rosário de legendas que lhe dão apoio parlamentar, 17 ou 18, salvo engano, e adiciona o que realmente importa, 1 minuto e 39 segundos ao tempo de televisão quando da campanha eleitoral da reeleição. Tudo sob a luz da maior publicidade.

O que me parece relevante é que o provimento de um cargo de ministro da República seja utilizado como moeda de troca, usado por titular do poder Executivo para contar com o apoio de mais um partido e o conforto que lhe possa dar o 18º elo de uma cadeia jamais vista em nosso país e suponho seja qualquer outro.

Este é o efeito da reeleição. Na segunda metade do primeiro ano, a senhora presidente deixa de ser a presidente de todos os brasileiros, para ser a candidata da maioria ou não do eleitorado, usando e abusando dos imensos poderes da presidência, para permanecer na chefia do Estado, a todo o preço, sem excluir o diabo, se é que o diabo tem preço.

Um ministério macro, com 39 membros, é o triste retrato de uma política micro, que vai apequenando o futuro de nosso país. Por: Paulo Brossard Zero Hora

terça-feira, 14 de maio de 2013

IMPOSTOS SOBRE O CONSUMO NÃO SUBSTITUEM A TIRANIA DOS IMPOSTOS SOBRE A RENDA

Embora todos os meses tenhamos de lidar com o monstro "retendo na fonte" uma considerável fatia da nossa renda, é no final do mês de abril que o imposto de renda se torna uma forma de espoliação ainda mais explícita e ainda mais insultuosa para o cidadão, que é obrigado a entregar ao governo — tal qual um cidadão da Alemanha Oriental perante o STASI — um relato minucioso de todas as suas movimentações e fontes de renda. 

A declaração do imposto de renda tanto de pessoa física quanto de pessoa jurídica é um exercício que mostra perfeitamente por que somos duplamente escravos do governo: além de termos de entregar parte da nossa renda para os burocratas, o governo ainda nos força a fazer todo o trabalho de declaração gratuitamente, sob ameaça de encarceramento caso algum detalhe seja esquecido.

Exatamente por isso, é compreensível que alguns economistas pró-livre mercado defendam a abolição de todas as formas de imposto sobre a renda, substituindo essa modalidade de espoliação por um imposto sobre o consumo, algo supostamente menos tirânico. Afinal, com um imposto sobre o consumo, diz o argumento, você pelo menos pode evitar a tributação: basta não consumir determinado produto.

Recentemente, fui perguntado por um jornalista sobre essa questão de uma alternativa aos impostos sobre a renda. Eis a minha resposta.

A alternância de impostos é um dos truques favoritos do governo. Sendo assim, economistas que defendem esta política estão atuando exatamente como o governo deseja. 

Quando incorre neste engodo, o governo se utiliza do prospecto de reduzir um determinado tipo de imposto para ganhar apoio popular para elevar outro tipo de imposto. Frequentemente, ele reduz alguns impostos sobre o consumo com o intuito de elevar outros impostos sobre a renda do cidadão e a receita das empresas [no Brasil, há o truque de reduzir o IPI, a CIDE e o IOF e elevar a COFINS e a CSLL]. Mas há também exemplos da medida inversa: uma redução de impostos sobre a renda do cidadão e a receita das empresas e uma subsequente elevação de impostos que incidem sobre o valor final dos bens de consumo. [Como quando o governo concede uma redução da contribuição para o INSS, ou uma redução das alíquotas do imposto de renda de pessoa jurídica ou alguma outra isenção fiscal para um determinado setor em troca de um aumento do IPI e da CIDE em outros setores].

O segredo para entender o real objetivo desta trapaça é saber que o governo está sempre atrás de mais dinheiro, e ele irá conseguir este dinheiro adicional de um jeito ou de outro. Fazer um zigue-zague entre um método e outro não altera a realidade. Mas é indiscutivelmente um método que pode enganar os mais tolos. E pode também arrancar uma substancial quantia de dinheiro dos grupos afetados durante o período de transição.

Uma maneira particularmente útil de entender esse processo é imaginando um ladrão que promete que irá parar de arrombar a sua casa pela porta da frente se você deixar aberta a porta dos fundos. Quando o estado promete reduzir a tributação da sua renda em troca de um aumento da tributação do seu consumo, ele está agindo de maneira idêntica a este assaltante. A questão não é o método do assalto, mas sim a quantia auferida pelo roubo.

O argumento dos economistas em prol de os impostos incidirem majoritariamente sobre o consumo em vez de sobre a renda dos indivíduos e das empresas se baseia nestas cinco alegações:

1. O imposto sobre o consumo ao menos é voluntário: só paga quem consome

Embora a afirmação seja verdadeira, o fato é que um imposto sobre o consumo é tão coercivo quanto qualquer outro imposto. Com um imposto sobre a renda, se eu tenho uma receita e não pago o imposto sobre ela, posso ser multado e encarcerado. Com um imposto sobre o consumo, se eu consumir um item tributado e o comerciante não pagar o tributo, ele será multado e encarcerado. Em ambos os casos, um cidadão está sendo punido pelo estado.

É verdade que eu posso optar por não consumir aquele item. Mas, pelo mesmo raciocínio, com um imposto sobre a renda, eu posso optar por não ter renda nenhuma.

O fato é que nada é voluntário se eu não posso me eximir de participar. Não existe esse negócio de 'imposto voluntário'. Se existisse, seria chamado por algum outro nome. [No Brasil, país em que o governo é mais avançado, o termo 'contribuição' já é corriqueiro, o que mostra que a população caiu no engodo do governo].

2. Impostos sobre o consumo não oneram a produção.

Falso. Oneram sim. As empresas — principalmente as pequenas, que operam em ambiente concorrencial — não determinam seus próprios preços, o que significa que elas não podem simplesmente repassar integralmente o imposto sobre o consumo para o consumidor. Se elas pudessem aumentar seus preços sem que isso afetasse seus lucros, elas já teriam feito isso; não seria necessário utilizar a desculpa do imposto para encarecer seus produtos.

Quando o governo impõe um novo tributo sobre os produtos de uma empresa, tudo o mais constante, essa empresa terá de absorver em suas operações o custo deste novo imposto. Desta forma, o imposto sobre o consumo é um imposto sobre a produção, sobre os salários, sobre o investimento, sobre a pesquisa e sobre todos os outros aspectos da vida econômica.

3. O imposto sobre o consumo é mais simples e menos oneroso para ser coletado

Supondo que isso seja verdade, por que isso seria algo bom? Um imposto difícil de ser coletado significa que a tentação para se elevá-lo é menor. No que mais, um imposto sobre o consumo pode ser fácil de ser coletado a uma alíquota de 1%. No entanto, substituir o imposto de renda por um imposto nacional sobre o consumo exigiria uma alíquota acima de 20%. Isso jogaria os mercados no caos e criaria da noite para o dia um mercado paralelo em absolutamente todos os bens e serviços, o que daria ao governo uma perfeita desculpa para aumentar maciçamente seu despotismo e seus controles, o que certamente levaria à imposição de um registro compulsório de informações de transações.

4. Um imposto sobre o consumo não tributa a poupança

No geral, isso é verdade. Mas o governo não tem de assumir para si o papel de incitar a população a um determinado padrão de consumo e de poupança. Isso cabe a cada indivíduo decidir para si próprio. Poupar é ótimo quando tal ato reflete uma preferência individual. O mesmo pode ser dito para o consumo. Mas não há como saber a priori qual deve ser a proporção correta entre poupança e consumo.

E vale a pena refletir o seguinte: o grau em que um imposto sobre o consumo desestimula o consumo é o mesmo em que ele reduz as receitas do governo. Como é que um governo ávido por arrecadação vai lidar com esse paradoxo?

5. O imposto sobre o consumo, quaisquer que sejam seus problemas, ao menos não é progressivo.

Muito barulho é feito com essa questão das alíquotas progressivas do imposto de renda, de modo que vários economistas liberais se dizem a favor de uma alíquota única para o imposto de renda. Mas pense desta forma: você preferiria pagar um imposto de renda com uma alíquota única de 40% ou preferiria tentar encontrar brechas em um sistema que possuísse 20 alíquotas diferentes indo de 1% a 39% (tudo o mais constante)? Se você soubesse que pagaria menos sob um sistema progressivo, é este que você iria preferir.

Os defensores do imposto sobre o consumo, principalmente aqueles que alegam defender o livre mercado, devem urgentemente redirecionar suas energias: esqueçam o método da tributação e concentrem-se no nível da tributação. Adotem aquele princípio geral e universal que diz que, quaisquer que sejam os impostos existentes, eles têm de ser reduzidos. Voltando àquela analogia do assaltante de residências, o sistema ideal é aquele que deixaria todas as portas e janelas completamente lacradas.

Defensores da liberdade e do livre mercado não devem querer reformar impostos. Nossa batalha deve se concentrar na redução — e posterior eliminação — de todos eles, começando pelo imposto de renda. Isso não é nada irrealista. Uma abolição do imposto de renda de pessoa física e jurídica deixaria o governo [do Brasil] com a mesma arrecadação total de 2006. Por acaso o governo era tão intoleravelmente pequeno naquela época?



Lew Rockwell é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.


Tradução de Leandro Roque

QUEM QUER VIVER PARA SEMPRE?

Se me dissessem que o meu futuro duraria uma eternidade, seria o primeiro a pular da janela sem hesitar


Eu já deveria estar morto. Ou a caminho de. Para alguns leitores, nunca uma frase soou tão verdadeira.

Mas eu falo de história, não de afetos. Se tivesse nascido em Portugal cem anos atrás, já haveria lápide e caixão. Dá para acreditar que, em inícios do século 20, a esperança média de vida para os homens portugueses rondasse os 35-40 anos?

Hoje, andará pelos 80. O que significa que, com sorte e algum bom humor do Altíssimo, eu estou apenas no meio da viagem.

Se juntarmos os progressos da medicina no futuro próximo, é possível que a viagem seja alargada mais um pouco. Cem anos, cento e tal. Nada mau.

Um artigo recente da "Nature", aliás, promete revoluções para a minha pobre carcaça. O segredo está no hipotálamo cerebral e numa proteína do dito cujo que regula o envelhecimento humano.

Não entro em pormenores, até porque eu próprio não os entendo. Mas eis o negócio: se a proteína é estimulada, os ratinhos morrem mais depressa. Se a proteína é inibida, acontece o inverso.

Falamos de ratos, por enquanto, o que significa que a descoberta só terá aplicação imediata entre a classe política.

Mas o leitor entende onde eu quero chegar. E eu quero chegar à maior promessa de todas: o dia em que seremos finalmente imortais.

Na história da cultura ocidental, esse dia pode estar no passado distante (ler o poeta grego Hesíodo, ler a Bíblia).

Ou pode estar no futuro, como garantem os "transumanistas". Falo de uma corrente bioética perfeitamente respeitável que se dedica a essa causa: o destino da humanidade não está em morrer aos cem. Está em viver indefinidamente depois dos cem. Como?

Através dos avanços da tecnologia, claro. Porque só a tecnologia permitirá aos homens suplantar a sua infantil condição mortal.

O nosso corpo é apenas a primeira casca de todas as cascas que estarão para vir. E quem, em juízo perfeito, não gostaria de viver para sempre?

Curiosamente, há quem não queira. O filósofo inglês Roger Scruton, em ensaio recente, dedica um capítulo específico aos transumanistas. O livro intitula-se "The Uses of Pessimism and the Dangers of False Hope" (os usos do pessimismo e os perigos da falsa esperança). Segundo sei, será publicado no Brasil em breve. Recomendo.

Primeiro, porque é uma súmula perfeita do pensamento de Scruton, escrito com a elegância habitual do autor.

Mas sobretudo porque é a mais brilhante refutação do pensamento utópico --e em particular do pensamento utópico transumanista de autores como o norte-americano Ray Kurzweil ou o britânico Max More--, que me lembro de ter lido.

Isso deve-se, em grande parte, ao fato corajoso de Scruton ter sido capaz de virar o debate do avesso e perguntar: por que motivo a doença e a morte devem ser vistos como males intoleráveis que devemos erradicar? Não será possível olhar para eles como bens necessários?

Certo, certo: ninguém ama a doença e, tirando casos extremos, ninguém deseja morrer. Só que esse não é o ponto.

O ponto é que, sem a doença e a morte, a vida não teria qualquer valor em si mesma.

Os projetos que fazemos; as viagens com que sonhamos; os amores que temos, perdemos, procuramos; e até a descendência que deixamos --tudo isso parte da mesma premissa: o fato singelo de não termos todo o tempo do mundo.

Vivemos, escolhemos, amamos --porque temos urgência em viver, escolher e amar. Se retirarmos a urgência da equação, podemos ainda viver eternamente.

Mas viveremos uma eternidade de tédio em que nada tem sentido porque nada precisa ter sentido. Sem a importância do efêmero, nada se torna importante.

Os transumanistas sonham com um mundo pós-humano. É provável que esse mundo seja possível no futuro, quando a técnica suplantar a nossa casca primitiva.

Mas esse mundo, até pela sua própria definição, será um filme diferente. Não será um filme para seres humanos tal como os conhecemos e reconhecemos.

Viver até os cem? Agradeço. Cento e vinte também servem. Mas se me dissessem hoje mesmo que o meu futuro duraria uma eternidade, eu seria o primeiro a pular da janela sem hesitar. Por: João pereira Coutinho Folha de SP

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A DEFESA MORAL DO CAPITALISMO

Uma das razões de nossa moral estar hoje tão deturpada é porque, vários anos atrás, nossos pais, avós e bisavós fizeram várias concessões aos inimigos da liberdade justamente em termos morais. Para ser mais específico, eles permitiram que os inimigos da liberdade pudessem se arvorar os únicos detentores da superioridade moral.

Aqueles que defendiam o socialismo, o comunismo e o fascismo ganharam credibilidade perante o nascente movimento progressista, e o movimento progressista ganhou credibilidade perante todas as gerações de lá pra cá.

Essas ideias, cujo centro irradiador foi a Alemanha do século XIX, afirmavam defender a compaixão e o esclarecimento. O objetivo, obviamente, era transformar a estrutura do mundo, o que levou àquele pensamento mais moderno e progressista de que poderes totais deveriam ser dados ao governo para que este — desde que, obviamente, sob o comando destes progressistas iluminados — controlasse, direcionasse e alterasse as pessoas, tudo para torná-las seres humanos melhores.

Obviamente, o que eles fizeram foi substituir o mais benevolente e radical sistema que o mundo já viu pelo mais diabólico e destrutivo dos ideais — a ser implementado pela mais antiga das ferramentas: a força bruta.

Se quisermos recuperar a superioridade política na batalha pela liberdade, temos também de resgatar, de maneira clara e inequívoca, a superioridade moral. Eis a seguir, portanto, parte do que vejo como a defesa moral do capitalismo e daqueles princípios de livre mercado que permitem que as forças produtivas e criativas do capitalismo floresçam e prosperem em sua totalidade.

1) O capitalismo cria valor

Toda a função e finalidade do capitalismo é facilitar a criação e produção de valor — bens e serviços que contribuem para a vida de uma pessoa e para seu bem-estar. O capitalismo estimula que os esforços criativos e produtivos sejam direcionados para a satisfação dos desejos e das necessidades dos outros.

Costumamos aceitar como natural, como um presente da natureza, o formidável processo de criação de valor — algo que nos foi legado por gerações anteriores — que ocorre por meio da livre troca de bens e serviços. Nós nos acostumamos de tal modo às nossas atuais condições de vida, que a maioria das pessoas jamais parou para considerar como tudo seria caso não houvesse capitalismo.

Se o fizessem, constatariam o óbvio: ainda estaríamos vivendo e manuseando uma única ferramenta de pedra, a mesma que os ancestrais da humanidade utilizaram por milhões de anos. E o nosso único modo de adquirir riqueza seria por meio de guerras, as quais seriam mais brutais do que a maioria de nós poderia imaginar.

2) O capitalismo estimula o planejamento de longo prazo, desestimula a impulsividade e não permite que os indivíduos se entreguem ao deleite excessivo de suas tentações e desejos. Isso facilita o desenvolvimento da civilização, da paz e da prosperidade

Se você quer criar algo de valor, você tem de pensar, tem de utilizar suas faculdades mentais. Você tem de estar disposto a dedicar muito tempo para aprender novas habilidades e saber como praticá-las; tem de saber conectar longas relações de causa e efeito a fim de trazer ao mundo algo que não existia antes. E esse algo de tem de ser proveitoso ou desejável para outras pessoas.

Como você tem de considerar as necessidades e desejos de terceiros, isso significa que você tem de criar empatia. Você tem de se tornar capaz de perceber e entender o que vai dentro das outras pessoas, o que significa que você tem de desenvolver habilidades que lhe permitam entrever o que outras pessoas pensam, sentem e desejam.

Você tem ser capaz de estabelecer contato com outras pessoas de maneira pacífica, o que significa que você deve saber ter bons modos e desenvolver outras habilidades sociais. O capitalismo estimula um comportamento mais extrovertido, uma maior cautela quanto aos seus modos e mais atenção a como seu comportamento afeta os outros.

O capitalismo também estimula a transmissão de habilidades intelectuais, emocionais e sociais que foram duramente conquistadas ao longo de gerações. O que você aprendeu, você quer repassar aos seus filhos e netos, alunos, amigos e colegas, de modo que eles continuem a desenvolver no futuro tudo o que você aprendeu.

É sobre esses fundamentos que se constrói a civilização, e esta é exatamente a definição de cultura. A humanidade possui uma característica singular em todo o mundo: ela possui cultura. Lobos, uma manada de búfalos e um conjunto de golfinhos também são organizações sociais; mas somente nós humanos transferimos conhecimento e expressões tangíveis desse conhecimento ao longo de gerações.

Fazemos isso porque temos a capacidade mental para fazê-lo. Porém, é o capitalismo que nos estimula a utilizar essa capacidade mental, e a utilizá-la de tal maneira que sabemos como aperfeiçoar tudo o que já foi criado anteriormente.

3) O capitalismo facilita o incremento da satisfação pessoal de longo prazo, bem como a capacidade de se ter felicidade na vida. Isso, por sua vez, estimula as pessoas a se empenharem na excelência pessoal — que é a virtude da felicidade. 

Temos dentro de nós os impulsos e os desejos que podem nos levar a prazeres de curto prazo e a ações que podem causar grandes danos para nós mesmos e para outros. Podemos ser violentos, podemos ser insultuosos, podemos ser absortos, e podemos ser totalmente desatentos para com os efeitos que temos sobre os outros.

Ceder a estes impulsos e desejos regularmente significa criar uma vida destrutiva, perigosa, dolorosa e curta. Estimular tal estilo de vida como cultura é criar um autêntico inferno na terra.

O capitalismo faz com que seja supremamente recompensador e lucrativo fazermos algo completamente diferente. Afinal, também temos dentro de nós a capacidade de pensar, de planejar, de antever as potenciais consequências de nossas ações, de aprender com nossos erros e com as respostas de terceiros.

Quanto mais utilizamos essa capacidade, mais desenvolvemos uma apreciação pela grande felicidade e satisfação pessoal que pode advir do fato de sermos muito atentos ao que fazemos; e aprendemos, com uma profundidade continuamente maior, como aquilo que nós fazemos afeta a nós mesmos e aos outros.

O capitalismo cria as circunstâncias externas que faz com que utilizar essa capacidade seja um benefício. São essas qualidades empáticas, recíprocas, de longo prazo e voltadas para o nosso exterior que tornam possível uma grande diversidade de virtudes — gratidão, coragem, empatia, produtividade, criatividade, perdão, bondade, integridade, compaixão e perseverança, para citar apenas algumas.

4) O capitalismo nos estimula a cooperar

A noção da "competição selvagem", em que impera a "lei do mais forte", é uma antiga, duradoura e permanente imagem criada pelos inimigos do capitalismo. No entanto, é justamente o tipo de força bruta empregada pelo estado e pelos defensores do estatismo que estimula tal comportamento violento.

A competição dentro do capitalismo pode ser intensa e difícil, e insucessos (como falências) são parte integrante deste sistema. Porém, para ser bem sucedido em qualquer empreendimento, você tem de aprender a cooperar com outras pessoas, saber trabalhar em conjunto com elas e aprender com seus próprios erros e fracassos. Quanto melhor você se tornar nisso, maior será o potencial que você criará para o futuro.

São os seus concorrentes que lhe obrigarão a aprimorar suas habilidade, a preservar suas melhores práticas e a fornecer os melhores produtos e serviços para os seus consumidores. Neste sentido, seus concorrentes são seus aliados — eles não estão no ramo para destruir você pessoalmente; eles estão concorrendo com você, envolvidos em uma relação ativa que irá manter cada um de vocês dentro de suas margens de crescimento.

Nossos antepassados cometeram o erro de aceitar as reivindicações morais do socialismo. Eles aceitaram as virtuosas reivindicações de compaixão feitas pelos progressistas, e foram seduzidos pela visão que lhes foi apresentada de um mundo melhor, com pessoas melhores. Mas podemos perdoá-los por isso, uma vez que eles não tiveram — ao contrário de nós — o benefício de poder olhar para os últimos cem anos e testemunhar os resultados de tais visões idealistas.

Recordo-me vivamente de minha (conservadora) avó dizendo que "o socialismo pode ser uma boa ideia na teoria, mas ele simplesmente não funciona." O que ela — e milhões de outras pessoas — não entenderam é que a teoria é também igualmente péssima e nojenta.

O que eles não entenderam é que os progressistas, os socialistas, os comunistas, os fascistas... os estatistas de todas as matizes — aqueles que defendem o uso da força do governo para moldar e construir os seres humanos à imagem e semelhança daqueles que detêm o poder — não tinham absolutamente nada que pudesse ser comparado ao poder benevolente das trocas voluntárias.

O contraste entre o capitalismo e todas as formas de estatismo é tão nítido quanto a diferença entre o que acontece quando uma madeireira é dona de sua própria terra vis-à-vis quando ela faz uma locação de curto prazo para explorar uma terra cujo dono é o estado.

Quando uma empresa é dona de sua própria terra, ela possui vários incentivos para cuidar muito bem daquela terra. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, ela vai ceifar apenas um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.

Já quando a madeireira possui um arrendamento de curto prazo, seu incentivo é ceifar o máximo de árvores o mais rápido possível antes que o período de locação expire.

O capitalismo leva à civilização, ao planejamento de longo prazo, à empatia e à contínua e crescente criação de valores.

O estatismo gera em termos pessoais e culturais algo comparável a uma devastação florestal.

O capitalismo estimula o homem ambicioso a pensar: "O que eu posso criar ou produzir que viria a ser de grande valor e benefício para as outras pessoas, de modo que elas iriam voluntariamente e com prazer abrir mão de seu dinheiro arduamente ganho em troca desta minha criação? Como eu poderia me comunicar com elas e persuadi-las de que minha criação possui esse valor? Como elas poderiam fazer o melhor uso possível desta minha criação?"

Já o estatismo estimula o homem ambicioso a pensar: "Como eu posso adquirir mais poder para satisfazer minhas vontades, para utilizar a força para impor meus ideais — bem intencionados ou perversos — sobre as outras pessoas?"

Em uma disputa honesta para se determinar qual arranjo possui uma superioridade moral incontestável — o capitalismo ou qualquer outra forma de estatismo —, simplesmente não haveria disputa. Foi o capitalismo o que nos tornou humanos.

É o capitalismo que nos estimula a apresentarmos nossas melhores qualidades, a utilizar o que há de melhor em nossa natureza humana, a considerar e respeitar toda a experiência de terceiros e a trabalhar conjuntamente, e de maneira pacífica, para fazer com que as boas coisas aconteçam.

A defesa moral do capitalismo não é ambígua. Muito menos se trata de uma questão de opinião. Ela é tão clara e nítida quanto a diferença entre guerra e paz, liberdade e escravidão, sacrifício humano e empatia e amor.

Aprendamos com os erros de nossos antepassados e corajosamente passemos a afirmar a benevolência desta que é a maior força social que transforma para o bem: as relações de troca possibilitadas pelo capitalismo.


Joel F. Wade , Ph.D., é especialista em psicoterapia e treinador de motivação e desenvolvimento pessoal.  Também presta consultoria a empresas sobre como aprimorar a confiança, a comunicação e o bem-estar.  É o autor de Mastering Happiness: Ten Principles for Practicing a More Fulfilling Life e A Pocket Guide to Mastering Happiness.

PRATO DE FARINHA PARA JECAS

Só duas coisas são certas na vida, "morte e impostos". Estamos nos últimos dias para você declarar seu IR. Imagino que esteja super feliz por ter essa chance de cumprir sua cidadania. Risadas?


O Estado brasileiro se arma até os dentes em tecnologias de arrecadação, mas continua a não entregar serviços. Avançamos pouco desde as capitanias hereditárias.

O Bolsa Família (coronelismo de esquerda) é um pouquinho melhor do que o prato de farinha que o "coroné" dava no Nordeste no dia da eleição.

Mas, se o governo é um leão em TI, um sócio sanguessuga, e nada nos dá em troca, o problema aqui é antes de tudo uma mentalidade miserável tanto do Estado brasileiro quanto duma cultura jeca que diz não gostar de dinheiro e abominar o lucro.

Com a advento do terrorismo de quintal em Boston, muita gente volta a ladainha de que os americanos são caipiras paranoicos. Errado!

Os americanos inventaram o país mais rico do mundo, no espaço de tempo mais curto da história, para uma população gigantesca e na maior liberdade política conhecida. E isso tudo porque é rico. Isso mesmo: o que faz os EUA não são os "obaminhas", mas sim a cultura de trabalho e empreendedorismo da América profunda, dos americanos pequenos e invisíveis.

Nos EUA, "justiça social" é uma oferta gigantesca de empregos. Aqui nos afogamos num misto de inhaca coronelista de esquerda, travestida de menina virgem de dez anos, e ódio "fake" ao lucro e ao dinheiro.

Lamento que a guerrilha no Brasil, no tempo da ditadura, não tenha saído vitoriosa. Assim, eles teriam revelado o que de fato queriam, fazer do Brasil uma (outra) ditadura de pobres.

Agora estaríamos livres da palhaçada contínua que ainda reina entre nós: a esquerda se dizendo vítima e fingindo que é democrática. Teríamos falido, como todo país comunista faliu, eles teriam matado milhares de pessoas, como todo país comunista matou, e agora, como nos países do Leste Europeu, ninguém ficaria brincando de ser de esquerda.

E a direita? No Brasil não há a direita que interessa, a liberal de mercado, que defende que as pessoas devem ser responsáveis pelo que fazem. Aquela dos "americanos pequenos e invisíveis".

Engana-se quem acredita que defender a sociedade de mercado seja defender grandes grupos capitalistas.

O "grande capital" nada tem a ver com a ideia de sociedade de mercado de Adam Smith, pois este "grande capital" convive muito bem com regimes autoritários e, pasme você, adora países sem sociedade de mercado, basta ver como qualquer grande banco vive bem com nossa inhaca coronelista de esquerda. O "grande capital" odeia competição e meritocracia.

Não, o que falta entre nós é uma visão de mundo que não seja pautada pelo culto da incapacidade das pessoas cuidarem de si mesmas. A sociedade de mercado é uma sociedade de pequenos e médios empresários e profissionais liberais que lutam corajosamente para dar emprego e pagar impostos imorais.

O governo brasileiro persegue esta classe de empresários e profissionais liberais a pauladas, cobrindo-os de obrigações tributárias impagáveis para que sejam obrigados a corromper o próprio governo. Um fascismo fiscal.

Por exemplo: por que alguém deve pagar 40% de multa do FGTS quando demite um funcionário? Qual a infração que mereceria esta multa de 40%? Eu digo qual: para a mentalidade jeca brasileira, dar emprego é crime, empregador é bandido que deve ser punido. Eis um exemplo de pauladas.

No Brasil só bobo e quem não tem jeito dá emprego. Uma saída é exigir pessoa jurídica de todo mundo e enterrar todo mundo em centenas de tributos. Eis o fascismo fiscal.

Quero ver os bonzinhos, bonitinhos e melosos continuarem bonzinhos, bonitinhos e melosos quando tiverem que pagar a multa de 40% do FGTS (depois de 10 anos) quando quiserem demitir uma empregada que maltrata seu filho.

Pequenos e médios empresários e profissionais liberais é que fundam a riqueza de um país e enquanto os caçarmos, inclusive considerando-os bandidos, o Brasil não sairá da miséria. Adam Smith, e não Marx, deveria estar em nossas cartilhas.

Por: Luiz Felipe Pondé Folha de SP

PENSAR ESTÁ SE TORNANDO ALGO OBSOLETO


Embora seja humanamente impossível responder a todos os e-mails e cartas que os leitores me enviam, muitos deles são bastante interessantes e intelectualmente instigantes, tanto no sentido positivo quanto no sentido negativo.

Por exemplo, um jovem me enviou um e-mail pedindo as fontes em que eu havia me baseado para citar alguns fatos negativos sobre o desarmamento em um artigo recente. É sempre bom checar os fatos — especialmente se você checar os fatos de ambos os lados da questão. 

Em contraste, um outro sujeito simplesmente me criticou por tudo o que eu havia dito nesse artigo. Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber se elas existiam; ele simplesmente saiu fazendo afirmações em contrário, como se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas pelo simples fato de estarem sendo pronunciadas por ele, algo que, em sua mente, invalidaria automaticamente tudo o que eu havia escrito.

Ele se identificou como médico, e as alegações que ele fez sobre armas eram as mesmas que haviam sido feitas anos atrás em uma revista médica — alegações que já foram inteiramente desacreditadas desde sua publicação. Ele poderia ter aprendido isso caso houvesse me dado a oportunidade de responder às suas provocações, de um modo que nos engajássemos em um debate. Porém, ele próprio deixou claro desde o início que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim apenas de me acusar e me denunciar. 

Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo atual.

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo. A educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades — estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula. Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade. Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante. Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares. Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é predominante no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema educacional. Se professores universitários — teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos? 

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos. 

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original. 

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você.

Por: Thomas Sowell , um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford. Seu website: www.tsowell.com.

domingo, 12 de maio de 2013

POBRE AMÉRICA LATINA

Uma das maiores virtudes das nações democráticas é o modo transparente como interesses de pessoas ou de grupos se defrontam com o interesse geral.

Em regimes fechados ou nos sistemas políticos capturados por interesses específicos que não contemplam o conjunto da sociedade, esse debate é travado a portas fechadas, longe dos olhos do cidadão.

Questões que são resolvidas na esfera pública exigem a busca do equilíbrio, colocando-se na balança os prós e contras dos interesses em jogo. É preciso que se diga que interesses específicos podem, perfeitamente, ser legítimos. E, nesse caso, devem ser considerados. Ao final, no entanto, é o interesse público que deve prevalecer.

Faço essa reflexão para analisar o presente debate em torno da medida provisória que trata da reforma e da abertura do sistema portuário brasileiro. Mais uma vez, confirma-se que mudar é muito difícil, por mais evidente que possam parecer as vantagens e a necessidade de mudança.

Se a mudança é verdadeiramente virtuosa e justa, ela vai beneficiar de modo indistinto a todos. Em contrapartida, porém, prejudicará o interesse concreto de uns poucos.

Quem vai ganhar não sabe com precisão o que ganhará, mas quem vai perder sabe exatamente o que está perdendo. E não há força mais poderosa que o interesse pessoal contrariado.

Os governos tratam de questões complexas, de difícil compreensão por aqueles que não estão familiarizados com os temas. De forma geral, o modo como as informações são produzidas e consumidas no mundo de hoje não contribui para que se forme uma opinião bem fundamentada.

Daí a tentação do populismo, da manipulação da informação e da fabricação de emoções, de que está repleta a história, de hoje e de sempre, de nossa pobre América
Latina.

A distorção da realidade é ainda maior quando conflita com interesses econômicos bem articulados e com grande liberdade de ação. Nesses momentos, torna-se mais dramática a solidão do bom governante, que se vê impotente diante da incompreensão da opinião pública.

A história real de um governo não é a história dos índices econômicos do período nem das obras físicas que levam sua marca.

A verdade histórica está nas lutas e no sofrimento que o governante teve de enfrentar para fazer o certo, em benefício de todos.

Hoje, o excesso de informações sobre crimes, esporte, escândalos e celebridades satura o cidadão a tal ponto, que não sobra espaço para saber que o Brasil tem um dos piores sistemas portuários do mundo.

Numa lista sobre qualidade dos portos em 142 países, estamos situados na miserável 130ª posição, à frente apenas do Timor Leste, do Haiti, da Venezuela, do Tajiquistão e de mais meia dúzia de países de economia modesta.

Desde a abertura dos nossos portos ao comércio internacional em 1808, o Brasil ainda não foi capaz de construir estruturas portuárias iguais ou superiores às da Índia, Rússia ou China. Mas, se o país quiser crescer e se tornar uma potência econômica, precisará de muito mais comércio internacional.

Por incrível que pareça, depois das mudanças na MP dos Portos, por forças contrárias e não republicanas que acabaram desfigurando a proposta, o que seria uma aparente derrota do governo --a derrubada da MP-- pode se converter em vitória do interesse público.

Enganam-se os que pensam que o governo não pode resolver a questão em favor do Brasil, por decreto, como fizeram outros por razões menos nobres.

Se tudo continuar como está, teremos um completo apagão portuário em seis ou sete anos.

O que está em discussão não é apenas a mudança no regime de portos, mas nosso futuro econômico. E com atraso, pois essas mudanças deveriam ter ocorrido há décadas, se o interesse geral tivesse sido posto acima de tudo.

Apesar disso, os que se beneficiam do sistema atual não têm sequer constrangimento de vir a público protestar contra a mudança no sistema portuário e defender o que está aí.

Deveriam, isto sim, pedir desculpas ao povo brasileiro pelo estrago que fizeram até agora.

E sair em silêncio. Por: Kátia Abreu Folha de SP

sábado, 11 de maio de 2013

DECADÊNCIA E ECONOMIA

A verdadeira aferição de sucesso econômico pode pedir uma abordagem mais filosófica. Será que os "indicadores econômicos usuais" significam mesmo aquilo que acreditamos significar?

Indicadores estatísticos positivos não são necessariamente sinais de saúde econômica. Ignorando o contexto em larga escala, indicadores positivos podem significar surtos momentâneos de produtividade, enquanto a situação geral permanece como um caso perdido. Tais estatísticas podem refletir condições temporárias que não têm auto-sustentabilidade. Ainda assim, há aqueles que querem acreditar na recuperação. Há aqueles que querem mostrar – apesar de todo ceticismo – que uma recuperação está tomando forma. Por exemplo, veja "Charles Evans diz que a economia americana está'definitivamente melhorando'", ou a matéria de 14 de março intitulada "Economia americana está se recuperando mais rápido que o esperado, diz pesquisa". Ou que tal o artigo de Jennifer Booton para a Fox Business que diz "Aumento nas vendas de veículos estão acelerando a economia americana"? Ao invés de levarmos em conta essa abordagem matemática, que faz um julgamento econômico apenas com base nos humores momentâneos, devemos julgar a economia com base naquilo que está por vir.

Há de se perguntar se pode existir estabilidade econômica quando os trabalhadores não aparecem para trabalhar na hora ou até mesmo folgam toda segunda-feira – ou quando empregados que furtam se torna uma prática endêmica. Como medimos o caráter moral que define a produtividade real da falsa prosperidade trazida por práticas financeiras desonestas? A verdadeira aferição de sucesso econômico pode pedir uma abordagem mais filosófica. Será que os "indicadores econômicos usuais" significam mesmo aquilo que acreditamos significar? Podemos sequer confiar nas estatísticas econômicas se levarmos em conta essa recente propensão para mentir?

É importante, sobretudo, julgar a situação pelo que ela está se tornando; e o melhor modo de julgar o rumo das coisas, em geral, é consultar a história. Precisamos olhar para as outras épocas e civilizações. Imagine uma meditação que tome como objeto uma série de eventos interligados até 2500 anos atrás. Esses eventos revelam padrões que estão destinados a ocorrerem sazonalmente: guerra e paz, ascendência e declínio, bolhas e recessões. E se entrarmos nessa meditação, acredito que encontraremos fortes evidências de que nossa civilização — e a nossa economia — entraram em um período de declínio de longo prazo.

No século II a.C., o escritor e historiador grego Políbio ofereceu sua própria meditação baseada em um profundo estudo daquilo que nós atualmente chamamos de "história antiga", embora para ele, naquele tempo, fosse "história moderna". Após discutir a necessidade de equilíbrio dentro do estado em sua História de Roma e a importância de freios e contrapesos, Políbio entrou em uma discussão sobre a decadência. Ele disse que há duas "fontes de declínio provenientes de causas naturais" no estado. Uma dessas causas era externa e a outra era interna. A causa externa do declínio "não tem uma definição fixa", admitiu Políbio, "mas a interna segue uma ordem definida".

O que Políbio disse em seguida é de grande importância àqueles que pretendem entender a situação dos Estados Unidos na época pela qual passamos. Segundo Políbio, 

"Quando uma comunidade, depois de afastar muitos perigos, chegou a um patamar alto de prosperidade, é evidente que, pela permanência prolongada de grande riqueza, o modo de vida dos seus cidadãos se torne mais extravagante...". 

Mais adiante ele sugeriu que essa "extravagância no modo de vida sinalizará o início da deterioração". Lisonjeado por titulares de cargos públicos que dizem que as pessoas estão sendo "enganadas" por um pequeno grupo avarento, o público vai direcionar seu "ressentimento apaixonado" e raiva para esses mesmos líderes naturais que outrora trouxeram prosperidade para o Estado. Instigado por demagogos, as pessoas se recusarão a seguir as leis e tampouco ficarão satisfeitos com a igualdade da Lei.

Quando tudo isso acontecer, escreveu Políbio, "a constituição receberá um novo nome, que soa melhor do que qualquer outro no mundo – liberdade ou democracia – mas, na verdade, tornar-se-á o pior de todos os governos, uma cleptocracia". E assim Políbio previu o futuro da ruína de Roma. Em tempos recentes, o historiador Gulielmo Ferrero descreve a ruína de Roma em detalhes. Em sua famosa conferência sobre "Corrupção na Roma Antiga", Ferrero disse à plateia americana em 1909 sobre uma geração romana vivendo melhor que a anterior até que chegou uma que acreditou poder viver melhor mesmo devendo. 

"Deste modo", disse Ferrero, 

"difundindo de modo natural, paulatino e quase imperceptível (...) vemos a obsessão pelo luxo e o apetite por prazer que começaram a crescer e foram se agravando geração após geração em toda sociedade romana durante dois séculos, de modo que foi mudada a mentalidade e a moralidade do povo; vemos que as instituições e as políticas públicas foram sendo alteradas (...) Quebrou-se todos os obstáculos que foram postos a essa bancarrota..."

Nada pode impedir o "aumento das necessidades e do luxo", alertou Ferrero à audiência americana. O endividamento maciço inevitavelmente tomará a sociedade. "Para satisfazer suas necessidades e para pagar suas dívidas", disse Ferrero, "as classes então tentam prevalecer umas sobre as outras, o que acaba por ser a mais cruel guerra civil que se tem notícia na história". O corrupção através do luxo é uma "lei universal da história", ele explicou; "Os Estados Unidos estão sujeitos a essa lei nos dias de hoje, assim como a velha Europa; assim será nas próximas gerações, da mesma forma que foi em épocas passadas". Para ele, o principal problema é que os americanos não reconheciam essa lei da história. Eles não eram capazes de ver a "malevolente força da dissolução (...) que é sinistra e medonha, um sinal certo de incurável declínio", lamentado pelos antigos romanos como sendo "a corrupção dos costumes". Hoje em dia, disse o historiador, os americanos tomam erroneamente a corrupção dos costumes como um "processo universal e beneficente de transformação..." Assim, acrescentou, a mesma coisa "que chamamos de 'progresso' é atribuído a muitos fatos que os antigos tinham como sendo 'corrupção'".

Segundo Ferrero, 

"é certo que no mundo moderno todo aumento no consumo, todo esbanjamento e todo vício parece ser permitido, quando não meritório, pois os homens da indústria e do comércio, empregados nas indústrias — isto é, todas as pessoas que ganham com a difusão de luxos e com a disseminação de vícios e novas necessidades — adquiriram, graças à todas as instituições democráticas e ao progresso das cidades, um imenso poder político que em épocas passadas eles careciam".

Podemos chamar de "pessimismo" o fato de os antigos verem corrupção no progresso. Nisso, disse Ferrero, "residia a base da verdade". Há tempos, alertou, em que o egoísmo "usurpa o lugar (...) que representa na sociedade o interesse da espécie, o dever nacional, a abnegação de cada um em prol do bem comum". Nesses tempos constatamos um crescimento na prática de certos vícios e na proeminência de certos defeitos:

"o enfraquecimento do espírito da tradição, o relaxamento generalizado da disciplina, a perda de autoridade, a confusão ética e a desordem. Ao mesmo tempo, certos sentimentos morais se refinam e o individualismo se torna mais forte do que antes".

Ferrero acrescentou que nesses tempos, "a disciplina familiar é afrouxada; as novas gerações se livram da influência fundamental do passado; o sentimento de honra e rigor moral, religiosidade e os princípios políticos são enfraquecidos por um espírito de utilidade..." .

E assim fizemos uma reflexão da nossa própria época por meio da Roma antiga. Essa reflexão não é lisonjeira, mas alarmante. Não vemos nesse distante espelho uma imagem saudável, mas uma imagem dotada de um vigoroso declínio. Os romanos foram em descida de Scipio até Nero. A economia romana tornou-se uma economia cuja base era as pilhagens, ou seja, dependia da força das legiões romanas para poder funcionar. O nosso próprio declínio deve se cumprir de modo similar. A produtividade real dos anos 1940 e 50 deu lugar a uma economia de importação que exporta papel-moeda (ou dinheiro digital), isto é, o dólar, que mantém seu valor graças a frotas navais e mísseis nucleares. A substância mesma foi suplantada para dar lugar a uma casca fina. E então nós devemos nos perguntar: qual estatística melhor pinta nosso retrato econômico? É a estatística dos nascimentos de crianças de mães solteiras? É a estatística dos abortos? Ou poderia ser, até mesmo, o número de americanos sendo subsidiados pelo governo?

A economia está em declínio. Ela continua a cair independentemente dos espasmos momentâneos. Isso é que deve ser levado em conta.

Por: Jeffrey Nyquist Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior