sábado, 11 de maio de 2013

DECADÊNCIA E ECONOMIA

A verdadeira aferição de sucesso econômico pode pedir uma abordagem mais filosófica. Será que os "indicadores econômicos usuais" significam mesmo aquilo que acreditamos significar?

Indicadores estatísticos positivos não são necessariamente sinais de saúde econômica. Ignorando o contexto em larga escala, indicadores positivos podem significar surtos momentâneos de produtividade, enquanto a situação geral permanece como um caso perdido. Tais estatísticas podem refletir condições temporárias que não têm auto-sustentabilidade. Ainda assim, há aqueles que querem acreditar na recuperação. Há aqueles que querem mostrar – apesar de todo ceticismo – que uma recuperação está tomando forma. Por exemplo, veja "Charles Evans diz que a economia americana está'definitivamente melhorando'", ou a matéria de 14 de março intitulada "Economia americana está se recuperando mais rápido que o esperado, diz pesquisa". Ou que tal o artigo de Jennifer Booton para a Fox Business que diz "Aumento nas vendas de veículos estão acelerando a economia americana"? Ao invés de levarmos em conta essa abordagem matemática, que faz um julgamento econômico apenas com base nos humores momentâneos, devemos julgar a economia com base naquilo que está por vir.

Há de se perguntar se pode existir estabilidade econômica quando os trabalhadores não aparecem para trabalhar na hora ou até mesmo folgam toda segunda-feira – ou quando empregados que furtam se torna uma prática endêmica. Como medimos o caráter moral que define a produtividade real da falsa prosperidade trazida por práticas financeiras desonestas? A verdadeira aferição de sucesso econômico pode pedir uma abordagem mais filosófica. Será que os "indicadores econômicos usuais" significam mesmo aquilo que acreditamos significar? Podemos sequer confiar nas estatísticas econômicas se levarmos em conta essa recente propensão para mentir?

É importante, sobretudo, julgar a situação pelo que ela está se tornando; e o melhor modo de julgar o rumo das coisas, em geral, é consultar a história. Precisamos olhar para as outras épocas e civilizações. Imagine uma meditação que tome como objeto uma série de eventos interligados até 2500 anos atrás. Esses eventos revelam padrões que estão destinados a ocorrerem sazonalmente: guerra e paz, ascendência e declínio, bolhas e recessões. E se entrarmos nessa meditação, acredito que encontraremos fortes evidências de que nossa civilização — e a nossa economia — entraram em um período de declínio de longo prazo.

No século II a.C., o escritor e historiador grego Políbio ofereceu sua própria meditação baseada em um profundo estudo daquilo que nós atualmente chamamos de "história antiga", embora para ele, naquele tempo, fosse "história moderna". Após discutir a necessidade de equilíbrio dentro do estado em sua História de Roma e a importância de freios e contrapesos, Políbio entrou em uma discussão sobre a decadência. Ele disse que há duas "fontes de declínio provenientes de causas naturais" no estado. Uma dessas causas era externa e a outra era interna. A causa externa do declínio "não tem uma definição fixa", admitiu Políbio, "mas a interna segue uma ordem definida".

O que Políbio disse em seguida é de grande importância àqueles que pretendem entender a situação dos Estados Unidos na época pela qual passamos. Segundo Políbio, 

"Quando uma comunidade, depois de afastar muitos perigos, chegou a um patamar alto de prosperidade, é evidente que, pela permanência prolongada de grande riqueza, o modo de vida dos seus cidadãos se torne mais extravagante...". 

Mais adiante ele sugeriu que essa "extravagância no modo de vida sinalizará o início da deterioração". Lisonjeado por titulares de cargos públicos que dizem que as pessoas estão sendo "enganadas" por um pequeno grupo avarento, o público vai direcionar seu "ressentimento apaixonado" e raiva para esses mesmos líderes naturais que outrora trouxeram prosperidade para o Estado. Instigado por demagogos, as pessoas se recusarão a seguir as leis e tampouco ficarão satisfeitos com a igualdade da Lei.

Quando tudo isso acontecer, escreveu Políbio, "a constituição receberá um novo nome, que soa melhor do que qualquer outro no mundo – liberdade ou democracia – mas, na verdade, tornar-se-á o pior de todos os governos, uma cleptocracia". E assim Políbio previu o futuro da ruína de Roma. Em tempos recentes, o historiador Gulielmo Ferrero descreve a ruína de Roma em detalhes. Em sua famosa conferência sobre "Corrupção na Roma Antiga", Ferrero disse à plateia americana em 1909 sobre uma geração romana vivendo melhor que a anterior até que chegou uma que acreditou poder viver melhor mesmo devendo. 

"Deste modo", disse Ferrero, 

"difundindo de modo natural, paulatino e quase imperceptível (...) vemos a obsessão pelo luxo e o apetite por prazer que começaram a crescer e foram se agravando geração após geração em toda sociedade romana durante dois séculos, de modo que foi mudada a mentalidade e a moralidade do povo; vemos que as instituições e as políticas públicas foram sendo alteradas (...) Quebrou-se todos os obstáculos que foram postos a essa bancarrota..."

Nada pode impedir o "aumento das necessidades e do luxo", alertou Ferrero à audiência americana. O endividamento maciço inevitavelmente tomará a sociedade. "Para satisfazer suas necessidades e para pagar suas dívidas", disse Ferrero, "as classes então tentam prevalecer umas sobre as outras, o que acaba por ser a mais cruel guerra civil que se tem notícia na história". O corrupção através do luxo é uma "lei universal da história", ele explicou; "Os Estados Unidos estão sujeitos a essa lei nos dias de hoje, assim como a velha Europa; assim será nas próximas gerações, da mesma forma que foi em épocas passadas". Para ele, o principal problema é que os americanos não reconheciam essa lei da história. Eles não eram capazes de ver a "malevolente força da dissolução (...) que é sinistra e medonha, um sinal certo de incurável declínio", lamentado pelos antigos romanos como sendo "a corrupção dos costumes". Hoje em dia, disse o historiador, os americanos tomam erroneamente a corrupção dos costumes como um "processo universal e beneficente de transformação..." Assim, acrescentou, a mesma coisa "que chamamos de 'progresso' é atribuído a muitos fatos que os antigos tinham como sendo 'corrupção'".

Segundo Ferrero, 

"é certo que no mundo moderno todo aumento no consumo, todo esbanjamento e todo vício parece ser permitido, quando não meritório, pois os homens da indústria e do comércio, empregados nas indústrias — isto é, todas as pessoas que ganham com a difusão de luxos e com a disseminação de vícios e novas necessidades — adquiriram, graças à todas as instituições democráticas e ao progresso das cidades, um imenso poder político que em épocas passadas eles careciam".

Podemos chamar de "pessimismo" o fato de os antigos verem corrupção no progresso. Nisso, disse Ferrero, "residia a base da verdade". Há tempos, alertou, em que o egoísmo "usurpa o lugar (...) que representa na sociedade o interesse da espécie, o dever nacional, a abnegação de cada um em prol do bem comum". Nesses tempos constatamos um crescimento na prática de certos vícios e na proeminência de certos defeitos:

"o enfraquecimento do espírito da tradição, o relaxamento generalizado da disciplina, a perda de autoridade, a confusão ética e a desordem. Ao mesmo tempo, certos sentimentos morais se refinam e o individualismo se torna mais forte do que antes".

Ferrero acrescentou que nesses tempos, "a disciplina familiar é afrouxada; as novas gerações se livram da influência fundamental do passado; o sentimento de honra e rigor moral, religiosidade e os princípios políticos são enfraquecidos por um espírito de utilidade..." .

E assim fizemos uma reflexão da nossa própria época por meio da Roma antiga. Essa reflexão não é lisonjeira, mas alarmante. Não vemos nesse distante espelho uma imagem saudável, mas uma imagem dotada de um vigoroso declínio. Os romanos foram em descida de Scipio até Nero. A economia romana tornou-se uma economia cuja base era as pilhagens, ou seja, dependia da força das legiões romanas para poder funcionar. O nosso próprio declínio deve se cumprir de modo similar. A produtividade real dos anos 1940 e 50 deu lugar a uma economia de importação que exporta papel-moeda (ou dinheiro digital), isto é, o dólar, que mantém seu valor graças a frotas navais e mísseis nucleares. A substância mesma foi suplantada para dar lugar a uma casca fina. E então nós devemos nos perguntar: qual estatística melhor pinta nosso retrato econômico? É a estatística dos nascimentos de crianças de mães solteiras? É a estatística dos abortos? Ou poderia ser, até mesmo, o número de americanos sendo subsidiados pelo governo?

A economia está em declínio. Ela continua a cair independentemente dos espasmos momentâneos. Isso é que deve ser levado em conta.

Por: Jeffrey Nyquist Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior

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