terça-feira, 7 de maio de 2013

AS BOAS INTENÇÕES DO A.A.


O livro As boas intenções, do escritor espanhol Max Aub, ilustra de forma sarcástica como medidas repletas de bons sentimentos podem acarretar efeitos catastróficos, inclusive na vida daqueles que tais ações mais visavam a ajudar.


Trata-se da história de Agustín Alfaro (A.A.), “o que normalmente se chama um bom rapaz”, nas palavras do autor. O livro retrata uma série de acontecimentos trágicos que vão ocorrendo à medida que Agustín tenta proteger sua mãe do sofrimento.


Tudo começa quando surge na casa da família uma moça chamada Remedios, que alega ser mãe de um filho de Agustín. O problema é que o rebento não era de Agustín, e sim de seu pai, que usara o nome do filho com a amante.


No afã de poupar sua querida mãe de tamanho sofrimento, uma vez que ela considerava o marido um homem exemplar, Agustín acaba aceitando a farsa. O que se segue é uma verdadeira comédia de enganos que, naturalmente, acaba por desgraçar ainda mais a vida de sua mãe, sem falar das demais pessoas envolvidas, começando pelo próprio Agustín.


Pessoas repletas de boas intenções, mas desfalcadas na razão, podem se proteger das desgraças do mundo criando a ilusão de que basta a boa vontade para acabar com o mal. Lembrei dessa história quando vi as declarações de outro Augustin, o secretário do Tesouro Nacional, sobre o superávit primário. Para Arno Augustin (A.A.), a meta fiscal não é tão importante e deve ficar à mercê do comportamento da economia.


Em outras palavras, o governo não deve poupar para abater o endividamento público, e sim mirar no crescimento econômico. Claro que ninguém ousaria duvidar das boas intenções do secretário A.A., que não poderia ser acusado de interesse eleitoreiro de curto prazo. Suas intenções são puras, as melhores possíveis. Caso contrário a presidenta Dilma jamais o escolheria para cargo tão importante.


Mas é que, faltando-lhe conhecimento econômico, suas lindas intenções vão levar a uma comédia de enganos, no final altamente prejudicial aos mais pobres, que ele certamente quer ajudar. São pessoas assim, como o A.A. do livro e o nosso A.A., que reforçam a máxima de que o inferno está cheio de boas intenções...
Por: Rodrigo Constantino



Nenhum comentário: